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7 - Empirismo

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EMPIRISMO
Vicente Keller
“No século XVII, a partir dos problemas gnosiológicos (relativos aoconhecimento), surgem duas correntes opostas:o racionalismo e o empirismo. Exagerando. poderíamos dizer que o racionalismoé o sistema que consiste em limitar o homem ao âmbito da própria razão, e oempirismo é o que o limita ao âmbito da experiência sensível. Isso não quer dizer que oracionalismo exclua a experiência sensível, mas esta é apenas a ocasiãodo conhecimento e está sujeita a enganos. A verdadeira ciência se perfaz no espírito. Para o empirismo, ao contrário, a experiência é fundamental, e o trabalhoposteriorda razão está a ela subordinado. Como consequência, os racionalistas confiam na capacidade do homem de atingir verdades universais, eternas, enquanto os empiristasterminam por questionar o caráter absoluto da verdade, já que o conhecimento parte de uma realidade in fieri (isto é, em transformação constante), sendo tudo relativoao espaço, ao tempo, ao humano”. (Maria L. A. Aranha; Maria H.P. Martins)
Principais representantes do empirismo: Francis Bacon e John Locke 
FRANCIS BACON (1561-1626) – Nascido em Londres, estudou em Cambridge. Homem de poucos escrúpulos, conseguiu importantes postos públicos durante o reinado da rainha Elisabeth e chegou a ser chanceler de Jaime I. Acusado de corrupção (venalidade) foi processado, preso e destituído do cargo. Indultado pelo rei, retirou-se da vida pública, dedicando-se aos estudos. 
Obras – Projetou uma obra monumental, a “Instauratio magna scientiarum” (A grande instauração das ciências), que devia constar de seis partes. Bacon acabou somente a segunda parte por completo: “Novumorganon” e a primeira parte quase completa: “De dignitate et augmentisscientiarum” (Sobre a dignidade e o aumento das ciências). Das outras partes só há fragmentos (inacabados). Além disso, deixou ainda alguns outros ensaios.
Pensamento
Fim do saber – introduziu na ciência o conceito de utilidade. A ciência não deve ser cultivada por si mesma. O saber não é teorético, como era considerado no passado e sim prático, guia da ação e não contemplação. O fim do saber humano não é instaurar o reino da verdade entre os homens, mas o domínio ou reino do homem sobre a natureza. “Saber é poder” e o ser humano pode quanto sabe. Para Bacon, é mais importante a aplicação prática ou a técnica do que a ciência. Para atingir este escopo é preciso um novo método, novo órgão ou novo instrumento de investigação.
O novo método – Até lá, diz Bacon, predominava o método dedutivo. Este método é válido para a demonstração, mas é ineficaz como instrumento de descoberta. Ele serve para demonstrar o que já se conhece. A dedução não nos dá nada de novo. Fez tanto sucesso por causa de Aristóteles, “detestável sofista ofuscado por uma vã sutileza”. O método dedutivo foi o responsável pelo atraso das ciências. Este instrumento não serve, por isso opõe a Aristóteles o “Novumorganon” que é a indução. Este método foi descurado praticamente por Aristóteles. Este é o instrumento da descoberta, pois o processo indutivo, partindo de fatos particulares observados, nos leva a descobrirmos uma verdade que antes ignorávamos. Ele servirá para, por meio da observação e da experiência, podermos descobrir os segredos da natureza, suas causas e assim dominá-la. O método indutivo tem duas fases:
Fase negativa ou destrutiva – o primeiro esforço do espírito consiste em se desfazer dos preconceitos ou os “ídolos” que dificultam o verdadeiro conhecimento das coisas. Estes preconceitos são devidos ao método dedutivo, o qual prescinde das experimentações e das coisas particulares e trabalha com afirmações universais, aceitando-as como princípios verdadeiros. Há quatro preconceitos:
“idolatribus” – estes preconceitos são comuns a toda a humanidade (“tribo humana”). O espírito humano é comodista e está inclinado a projetar as coisas, não como elas são em si, mas conforme as relações que ela tem com ele. Com isso ele deforma as imagens das coisas, e dá mais importância a certas coisas que a outras, a imaginar a atividade da natureza de modo análogo ao do ser humano (interpretação antropomórfica da natureza) como por exemplo, a tendência de ver e por ordem, uniformidade nas coisas, o que realmente não existe.
“idolaspecus” – são os preconceitos próprios a cada ser humano e são provenientes de sua formação mental, de sua constituição, de seu temperamento, de seus gostos, de sua vida social, de seus hábitos. Isso forma a “caverna” de cada um. O ser humano vive enclausurado em seus preconceitos e vê tudo através de seus “óculos coloridos ou escuros”. Por exemplo, Aristóteles quer ver lógica em tudo.
“idolafori” (da praça púbica) – são os preconceitos provenientes das relações sociais e especialmente da convencionalidade da linguagemO ser humano está acostumado a crer em fórmulas e a repetí-las como infalíveis, as melhores, etc... A convenção da linguagem gera disputas inúteis e intermináveis. A linguagem vulgar é, além de tudo, um obstáculo para a ciência. Basta ver a leviandade com que se fala em acaso e se acha inútil falar em causa.
“idolatheatri” – são os preconceitos que provêm das teorias, dos sistemas filosóficos, que são construções fictícias como os enredos teatrais. É o preconceito da autoridade, o prestígio que gozam os cientistas, os filósofos, o respeito exagerado pelos mestres... A verdade se manifesta pelo esforço humanoe através do processo histórico (em evolução) e não pela autoridade. O espírito que procura conhecer a natureza deve quebrar antes estes ídolos e estabelecer-se na dúvida metódica. Se se começa a ciência com certezas, diz Bacon, acabar-se-á na dúvida; mas se se começa pela dúvida, surgirão certezas.
Fase positiva ou construtiva – a indução – a ciência consiste em descobrir as causas (“verescire per causas scire”). A ciência deve levar o homem a conhecer a natureza, para dominá-la. Isso só se obtém obedecendo-lhe (“non vincitur natura nisiparendo”). A ciência não progrediu suficientemente por culpa única dos maus métodos de que se servia. Bacon faz comparações cheias de fineza e bom humor: os empíricos se assemelham às formigas: eles ajuntam fatos sem ordem e sem escolha, sem tirar partido nenhum. Os racionalistas são como as aranhas: tecem admiravelmente, mas sem solidez alguma. O modelo do verdadeiro sábio é a abelha, que suga o néctar de flor em flor nos campos e nos jardins, depois o digere, para transformá-lo em mel. A única esperança do progresso da ciência é a indução verdadeira (“spes una inductio vera”). 
O primeiro momento do método consiste em recolher fatos em grande número. Todas as observações devem ser anotadas por escrito. Mas para que se possa recolher sempre mais fatos é preciso “fazer perguntas à natureza”, isto é, fazer experiências. A indução propriamente dita consiste em descobrir a forma ou a causa formal. Para a classificação das ciências, Bacon serve-se das quatro causas aristotélicas; ele deixa praticamente de lado as causas materiais, eficientes e finais e dá toda importância à causa formal. Descobrir a forma é descobrir a lei. Compreender a forma é compreender a natureza. Para Bacon, a forma é o princípio de atividade dos agentes físicos, a essência íntima de cada coisa. Mas ela não é de ordem metafísica e sim de ordem fenomenal e, portanto, observável. Ela (a forma) é uma certa organização da matéria. No entanto, ela é latente, de sorte que não aparece à observação ordinária,, mas deve ser descoberta pela indução. Para descobrir a forma ou a essência do fenômeno, é preciso repartir os fatos em três tábuas (“tabulae”):
Na primeira tábua (“tabulaepraesentiae”) – anotam-se todos os casos positivos, ou seja, todos os casos em que o fenômeno em questão se dá a despeito de todas as variações acidentais (ex.: para achar a forma do calor
Na segunda tábua (“tabulaeabsentiae”) – anotam-se os casos negativos, ou seja, os casos em que determinada propriedade ou fenômeno não se verificam.
Na terceira tábua (“tabula graduum”) – anota-se a graduação dos casos, ou seja,os casos em que o fenômeno ou a propriedade se verifica em seus graus diversos, crescentes ou decrescentes.
A forma de um fenômeno consistirá na propriedade sempre presente na primeira tábua, sempre ausente na segunda,com variações na terceira. Com isso não há ainda demonstração, mas apenas a pista para a formulação de uma hipótese provisória. Desta se parte para a experiência que serve para confirma-la ou não. A mais importante. É a que ele chama de “instância crucial”. Esta estabelece a forma ou a causa verdadeira de um fenômeno. 
Assim, a indução baconiana se distingue da indução aristotélica que não vai além da enumeração dos casos em que se verifica um determinado fenômeno. No entanto, Bacon está ainda longe de apresentar um método realmente satisfatório. De um lado nunca se lembrou de discutir as condições de uma boa observação e experiência. De outro lado, Bacon fecha-se no empirismo, ou seja,a passagem da hipótese à lei é sempre operada pela experiência sensível e. por isso, a lei não pode ser necessária. Só pela experiência não se pode descobrir verdades de ordem necessária. A justificação da indução está no intelecto e não nos sentidos e por isso é preciso servir-se de uma boa indução unida à dedução.
JOHN LOCKE (1632-1704) – Filósofo inglês, considerado o pai do empirismo filosófico moderno, cuja doutrina ensinava quetodos os conhecimentos, com exceção do lógico e do matemático são derivados da experiência.
Começou sua vida como eclesiástico, depois estudou filosofia escolástica em Oxford, decepcionando-se logo com as duas coisas. Com estudos de ciências, tornou-se médico. Praticou durante algum tempo sua profissão e em 1667 passou a ser secretário de Lord Ashley, Toda a sua vida se resume na luta incessante pela liberdade civil, religiosa e política. Suas ideias neste sentido foram expressas pela primeira vez no “Ensaio sobre a tolerância”. Sua principal obra é “Ensaio sobre o entendimento humano”, composta de quatro livros. No primeiro argumenta contra Platão, Descartes e os escolásticos, visando demonstrar que não há ideias inatas; afirma que se houvesse ideias inatas ninguém as perceberia; pelo menos as de Descartes são inteiramente desconhecidas dos populares. Nos outros livros formula sua teoria positiva: “As ideias vem de nossa experiência, que é dupla: sensitiva e reflexiva. Pela sensação vamos conhecendo os objetos exteriores e formando, assim, as ideias sobre os mesmos. Conhecemos as coisas através de suas qualidades sensíveis, tais como o peso, extensão, cor, forma,... pois estas qualidades sensíveis são de certo modo produto dos sentidos. Portanto, não devemos ter confiança absoluta nos dados oferecidos pelo nosso conhecimento sensível. Nesta obra Locke se propõe a investigar a origem, a certeza e âmbito do conhecimento humano, bem como os fundamentos e os graus da fé, da opinião e do assentimento.
Método de Locke – No início do “Ensaio...” Locke se propõe a narrar, com toda simplicidade de que maneira o ser humano chega à suas representações. Para assim atingir uma medida da certeza do nosso conhecimento. Portanto, ele se restringe a uma descrição e análise dos conteúdos de nossa consciência e a reduzí-los a seus aspectos mais elementares e assim resolver o problema do conhecimento. Locke adota o método de observação de Bacon, transferindo-o, porém, para a esfera psicológica, o que não o impediu de admitir muitas atitudes racionalistas em sua obra.
Origem e classificação das ideias – designa por ideia tudo o que é objeto de nosso entendimento quando pensamos. Diz ele: “Servi-me deste termo para exprimir tudo o que se entende por fantasma, noção, espécie, ou o que ocupe o espírito quando pensa”. Esta noção não é absolutamente clara, porque reúne muitos aspectos bastante diferentes. Ex.: sensação, intelecção, aspecto subjetivo, objetivo... Entretanto, a melhor interpretação, segundo parece, é dizer que Locke chama “ideia” ao que Descartes chamava “pensamento”: “qualquer fato da consciência”. Mas diz que não há ideias inatas e que todas, sem exceção, vem da experiência o que vai contra Descartes.
Ideias simples – estas nos vem de duas fontes: 
A sensação – é a experiência externa que nos dá as ideias de objetos fora de nós: as de branco, de amarelo, de frio, de mole, de amargo. As ideias de sensação que representam as qualidades dos corpos dividem-se em dois grupos: 
- as qualidades primeiras – qualidades do corpo, do qual não podem ser separadas. Ex.: extensão;
- as qualidades segundas – as que no corpo são apenas o poder de produzir certas sensações em nós, por meio das qualidades primeiras. Ex.: o gosto.
A reflexão – é uma “intuição” de fenômenos. Diz Locke: “Conquanto esta faculdade não seja um sentido porque ela nada tem que ver com os objetos exteriores, aproxima-se muito e o nome de sentido não lhe ficaria mal”.
Ideias complexas – Na recepção das ideias simples, a alma é puramente passiva; mas ela pode combinar estas ideias por sua própria força (isto é, pelo intelecto), ajuntá-las em representações conscientes de natureza superior. Isto pressupõe a memória que conserva as impressões recebidas. É a faculdade de reter as percepções anteriores, de evocá-las, de reconhecê-las como representações que tivemos anteriormente. As reproduções, ou seja, representações reproduzidas se ajuntam por si mesmas sem a nossa vontade em muitas e variadas combinações (associações de ideias). Neste grupo geral, distinguem-se três categorias. Os atos do espírito consistem em:
Combinar as várias ideias simples numa só e é por este meio que formam-se as ideias complexas;
Juntar duas ideias, sejam elas simples ou complexas, coloca-las uma perto da outra de sorte que sejam ao mesmo tempo sem as combinar numa só ideia; é assim que o espírito forma todas as ideias de relação;
Separar as ideias de todas as outras que existem realmente com elas: é o que se chama de “abstração” e é por esta via que o espírito forma todas as suas ideias gerais.
O problema da substância – Locke foi um dos primeiros filósofos que examinaram criticamente o conceito da substância. Ele se perguntava se aquilo que chamamos de “substância” tem uma existência real. A base empírica da ideia de substância não é outra coisa que a coexistência constante de certas ideias simples. E é por causa desta coexistência habitual que consideramos estas ideias como reunidas numa coisa e a denominamos por um nome. Assim, por exemplo, a ideia a que demos o nome de “cisne” é a cor branca, o pescoço comprido, o bico vermelho...e tudo isto combinado com um certo tamanho, com a faculdade de nadar e de produzir um certo ruído característico. No entanto, o nosso conceito de substância vai além destes dados empíricos. Pois sendo que não podemos imaginar aquelas propriedades e atividades como existentes por si mesmas, nós as conhecemos que se inerissem na “coisa”, cujas propriedades elas representariam. Somente por este movimento do pensamento é que a “coisa” cujo nome, originariamente, representava a soma de suas qualidades, torna-se uma “substância” que é agora concebida como substrato daquelas determinações modais, que por sua vez passam a ser chamadas “acidentes”. Por outras palavras, o conceito empírico da “coisa” torna-se conceito metafísico de substância. Solucionando este problema, Locke deu um passo decisivo no que diz respeito à crítica do conceito de substância. O problema da substância era o problema fundamental da metafísica de seu tempo; a ninguém ocorrera por em dúvida o conceito de substância como tal; toda especulação se restringia a investigar a natureza da substância. Claro é que a crítica de Locke não pode deixar de causar estranheza; ela mesma lhe mereceu não pouca oposição, especialmente em vista da inevitável aplicação da mencionada crítica ao conceito de Deus. Podemos ter três ideias de substâncias:
Das simples ideias de reflexão formamos o conceito de substância espiritual, ou dos espíritos finitos, sobretudo de nossa alma. 
Das ideias de sensação formamos a ideia de substância extensa ou dos corpos reais.Das ideias que resultam da sensação e da reflexão, isto é, das ideias de existência, de poder, de força, de ciência, de felicidade e da combinação destas com a ideia de infinidade formamos o conceito de uma substância espiritual infinita: Deus. Trata-se agora de determinar qual é a base ou o fundamento de nossa convicção da existência destas três espécies de substância.
A existência dos espíritos finitos (da alma) – quanto à nossa própria existência devemos dizer que temos dela umacerteza imediata pela percepção direta que temos de nós mesmos como seres pensantes e conscientes. Se eu quisesse duvidar disso, a própria dúvida serviria para me convencer de minha existência. Quanto à existência de um substrato de ideias, devemos admití-la porque as ideias de reflexão devem inerir em alguma substância espiritual. Embora não admita, Locke não rejeita de todo a possibilidade de o nosso espírito ser uma substância material.
A existência dos corpos – A realidade de um mundo independente da consciência parece ser uma consciência imediata para os espíritos não críticos. De fato, tal certeza não existe. Pois o conhecimento intuitivo limita-se às representações de coisas corporais, as quais temos em nós; ele não atinge as próprias coisas. “A presença da representação da alma não prova a existência da coisa, tampouco que a pintura de um homem prova a sua existência real no mundo”. Só podemos concluir do mundo interno para o mundo externo se pudermos provar que as nossas representações são efeitos das coisas sobre nós; então podemos concluir do efeito para a causa. Isto se torna possível, porquanto as nossas percepções sensitivas são involuntárias e elas não dependem dos órgãos nos quais são produzidas: do contrário seria impossível ver no escuro, cheirar rosas no inverno...
A existência de Deus – em contraste ao mundo dos corpos, cuja existência não é mais que uma convicção instintiva, a existência de Deus pode ser estabelecida por um argumento certo, isto é, por um argumento que procede de um fundamento intuitivo. Portanto, podemos demonstrar a existência de Deus. Ao argumento ontológico, Locke prefere um argumento que parte da realidade. Com efeito uma existência real não pode ser provada senão por outra existência real. Logo, também a existência real de uma divindade só pode ser provada a partir da existência indubitavelmente real de outras coisas. Como Santo Agostinho concluía do fato de qualquer verdade para a existência de uma verdade em si, assim Locke conclui do fato certo de qualquer existência para Deus como originador necessário daquela existência. Ora, temos uma perfeita certeza, ao menos de nossa própria existência, sendo que dela temos certeza intuitiva. A nossa existência, porém, tem um começo. E o que tem um começo, deve ter uma causa, uma vez que do nada, nada pode provir. Ora, a cadeia destas causas não pode ser infinita, e na investigação da origem do existente não podemos parar senão numa existência que não tenha começo, isto é, numa primeira causa que exista desde a eternidade. Assim, a necessidades desta causa está demonstrada. Esta causa deve possuir todas as perfeições que ela comunica às criaturas, pois é a origem e fonte de todas as coisas. Deus deve ser fonte de todo poder e, por isso, todo poderoso. A existência de Deus é mais certa que a do mundo exterior, pois a existência de Deus se baseia numa premissa absolutamente certa e a do mundo não. “A existência de Deus é tão certa como é certo que os ângulos opostos de duas linhas retas que se cruzam são ângulos iguais.
Teorias do Estado – o pensamento de Locke a respeito do estado é idêntico em alguns pontos aos de vários escolásticos. E ao mesmo tempo se opõe a Hobbes, apresentando uma teoria liberal. “O homem é um ser livre, agregando-se em sociedade, para conseguir a segurança pessoal e a defesa de seus direitos”. Segundo Locke, “o Estado e a Igreja, tendo cada um sua missão própria, devem ficar inteiramente separados; cada uma das duas sociedades legisla e atua em plena independência”. Sabemos, além disso, que as verdades dogmáticas nos são inacessíveis: é o campo da fé e das opiniões livres, onde é de regra a mais larga tolerância. O Estado conserva, porém, o direito de perseguir e contradizer tudo o que interferisse com os seus poderes; eis porque não se deve tolerar o ateísmo: porque a crença em deus é o fundamento de toda a lei moral e social.

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