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L. M. Vaz Page 1 UNIVERSIDADE ZAMBEZE FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS ENGENHARIA DE PROCESSOS DISCIPLINA: Química Inorgânica CURSO: Engenharia de Processos Compostos complexos ou de coordenação Introdução a Química de Coordenação Até o fim do século XIX, os compostos de coordenação não tinham suas estruturas completamente elucidadas. Suas propriedades ―estranhas‖ tais como desafiar as leis de valência empregadas na época, lhes conferiram o nome usual de iões complexos. Um estudo sistemático e aprofundado sobre o assunto recebeu a atenção de dois cientistas que trabalharam de forma independente: Alfred Werner (alemão) e Sophus Jørgensen (dinamarquês). As ideias propostas por Werner foram melhor aceitas pela comunidade científica da época e assim, em 1913 foi o primeiro químico inorgânico laureado com o Prémio Nobel de Química. Ao fim do séc. XIX, era sabido entre os químicos que: Alguns elementos eram tidos com valências fixas. Ex.: Na (1+); O (2-); dentre outros. Alguns elementos podiam exibir duas ou três valências distintas. Ex.: Cu (1+ ou 2+); P (3-, 3+ ou 5+); dentre outros. Alguns elementos entretanto, exibiam ―poderes de combinação‖ que eram difíceis de conciliar com suas valências usuais. Ex.: compostos de cromo e de platina. CrCl3 . 6NH3 e PtCl2 . 4NH3 O Cromo (3+) e iões platina (2+ e 4+) reagiam com iões cloreto (Cl-) para completar suas respectivas camadas de valência porém, ainda assim, reagiam com moléculas de amoníaco que já possuía todos seus átomos satisfeitos electronicamente. Com base nestes experimentos, Jørgensen tentou expressar uma possível fórmula estrutural usando princípios da química orgânica: L. M. Vaz Page 2 Já Werner estudando compostos de cobalto(III) com amoníaco e iões cloreto foi capaz de isolar 4 espécies com cores distintas. Mas apesar da mesma composição química, as propriedades destes compostos eram distintas. Exemplo: Teste de precipitação com nitrato de prata. Werner conclui que compostos M(NH3)5X3 (onde M = Cr ou Co e X = Cl ou Br) são derivados dos compostos M(NH3)6X3 pela perda de uma molécula de amoníaco. Postulados de Werner 1- A referida série de compostos de cobalto exibem um constante número de coordenação (6), onde as moléculas de amoníaco podem ser substituídas por iões cloreto que se ligam covalentemente ao metal. 2- A química complexa do cobalto deve levar em conta não só o NOX do metal, mas também seu número de coordenação. Desta forma Werner reescreveu as fórmulas químicas dos compostos estudados como: [Co(NH3)5Cl]Cl [Co(NH3)6]Cl3 [Co(NH3)4Cl2] - A formação de complexos A maioria dos iões metálicos reage com doadores de pares de electrões para formar compostos de coordenação ou complexos. As espécies doadoras, ou ligantes, devem ter pelo menos um par de electrões desemparelhados disponível para a formação da ligação. A água, o amoníaco e os iões haletos são ligantes inorgânicos comuns. De fato, a maioria dos iões metálicos em solução aquosa existe, na verdade, como um aquocomplexo. O cobre(II) em solução aquosa, por exemplo, é imediatamente complexado por moléculas de água para formar espécies como Cu(H2O)4 2+ . L. M. Vaz Page 3 Frequentemente simplificamos complexos nas equações químicas escrevendo o ião metálico como se fosse o Cu 2+ não complexado. Lembre-se de que, entretanto, esses iões são na verdade aquocomplexos em soluções aquosas. O número de ligações covalentes que o catião tende a formar com os doadores de electrões é seu número de coordenação. Os valores típicos para os números de coordenação são 2, 4 e 6. As espécies formadas como resultado da coordenação podem ser electricamente positivas, neutras ou negativas. Por exemplo, o cobre(II), cujo número de coordenação é 4, forma um complexo amínico catiônico, Cu(NH3)4 2+ ; um complexo neutro como a glicina, Cu(NH2CH2COO)2; e um complexo aniônico com o ião cloreto, CuCl4 2- . Definição Compostos de Coordenação ou Complexos Metálicos são compostos formados através de interacções ácido-base de Lewis. Iões complexos são formados por um átomo central rodeado por um grupo de ligantes. Exemplos: [Ag(CN)2] - ; [Co(NH3)6] 3+ ; [Pt(NH3)4] 2+ Cada NH3 atua como uma base de Lewis (doa um par de electrões) e contribui com seu par de electrões na formação de uma ligação covalente coordenada entre o nitrogénio e o cobre. O ião complexo resultante, [Cu(NH3)4] + , é algumas vezes descrito como contendo quatro moléculas de NH3 coordenadas ao átomo de cobre central. O número de coordenação é definido como o número de ligações formadas pelos ligantes ao átomo central em um complexo. Assim, o número de coordenação do Cu no complexo acima é 4. Números de coordenação de 2 até superiores a 8 têm sido observados, sendo os mais comuns 2, 4, e 6. O número de coordenação e a geometria em um complexo estão obviamente inter- relacionados. No complexo [Ag(NH3)2] 2+ o número de coordenação da prata é 2 e o ião complexo é linear. No [Zn(NH3)4] 2+ o número de coordenação do zinco é 4, e o complexo é tetraédrico. Uma geometria quadrado-planar também é possível para um número de coordenação igual a 4; esta é encontrada no [Cu(NH3)4] 2+ . No [Cr(NH3)6 3+ , o número de coordenação do crómio é 6, e o L. M. Vaz Page 4 complexo é octaédrico. Entre os complexos dos metais de transição, a geometria octaédrica é, de longe, a mais comum. Número de coordenação 2 Os complexos mais comuns com número de coordenação 2 são os de Ag (I) e Cu (I). Estes são lineares e incluem [Ag(NH3)2] + , [AgCl2] – , [Ag(CN)2] – e [CuCl2] – . Número de coordenação 4 Os complexos mais comuns com número de coordenação 4 são os que o átomo central possuí valência 2, por exemplo [Ni(CN)4] 2– , (PdCl4] 2– , [Cu(NH3)4] 2+ , e [AgF4] – , [ZnCl4] 2– , [Co(CN)4] – e [MnO4] – . Existem duas geometrias comuns associadas com um número de coordenação igual a 4: quadrado-plana e tetraédrica. Número de coordenação 6 Os complexos mais comuns com número de coordenação 6 são os que o átomo central possuí valência 3 e 4. A geometria de complexos hexacoordenados é quase sempre baseada na geometria octaédrica. Fórmulas dos complexos 1. Na fórmula de um complexo, o átomo central aparece primeiro e é seguido pelos ligantes. O complexo é geralmente escrito entre parênteses retos com a carga colocada fora dos mesmos. (Especialmente para os complexos mais comuns não é usual omitir parênteses retos na fórmula.) Exemplo: [CrCl6] 3– 2. Quando um ligante contém mais de um átomo, este é escrito entre parênteses. Exemplo: [Cu(NH3)4] 2+ L. M. Vaz Page 5 3. Quando um complexo contém mais de um tipo de ligante, os ligantes aniônicos são escritos antes dos neutros (ligantes catiônicos são raros). Dentro de cada classe, os ligantes são escritos em ordem alfabética. Exemplos: [CrCl2(NH3)4] + (ligantes aniônicos antes dos neutros) [CoBrCl(H2O)4] + (ligantes aniônicos antes dos neutros; ligantes aniônicos ordenados alfabeticamente) Os ligantes Os ligantes podem doar 1 (um) ou mais pares electrónicos ao centro metálico. Ligantes que doam mais de um par electrónico são ditos polidentados. Ligantes polidentados podem produzir compostos ditos quelatos que são altamente estáveis devido a formação de anéis de 5 ou 6 membros e factores termodinâmicos (aumento de entropia do sistema). Nomes dos ligantesObservação: Na fórmula de cada ligante seguinte, o traço indica qual átomo está ligado ao átomo central complexo: 1- Ligantes aniônicos (a) Um anião com terminação eto ou ido, quando actuando como um ligante, tem estes sufixos substituídos por o. Exemplos: L. M. Vaz Page 6 Anião Nome do anião Ligante Nome do ligante Cl – Cloreto —Cl Cloro Br – Brometo —Br Bromo OH – Hidróxido —OH Hidroxo CN – Cianeto –CN Ciano (b) Um anião com terminação ato, quanto actuando como um ligante tem este sufixo inalterado. Exemplos: Anião Nome do anião Ligante Nome do ligante SO4 2– Sulfato —OSO3 Sulfato S2O3 2– Tiossulfato –SSO3 Tiossulfato C2O4 2– Oxalato –O(CO)2O– Oxalato (c) Outros ligantes aniônicos: Anião Nome do anião Ligante Nome do ligante SCN – Tiocianato –SCN Tiocianato SCN – Tiocianato –NCS Isotiocianato NO2 – Nitrito –NO2 Nitro NO2 – Nitrito –ONO Nitrito 2- Ligantes neutros (moleculares) e catiônicos Na maior parte dos casos, os nomes das moléculas e catiões (raros) não sofrem alteração quando atuam como ligantes (há algumas excepções para esta regra). Os mais importantes entre estes são: Molécula Nome da molécula Ligante Nome do ligante H2O Água –OH2 Aquo NH3 Amônia –NH3 Amino CO Monóxido de carbono –CO Carbonilo Alguns ligantes (moléculas) podem receber nomes próprios que são comummente utilizados em química de coordenação. L. M. Vaz Page 7 Nomes dos complexos 1- No nome de um complexo os nomes dos ligantes são escritos em primeiro lugar, seguido pelo nome do átomo central. (Observação: trata-se do contrário da ordenação na fórmula.) Exemplo: [Cr(H2O)6] 3+ é o ião hexaaquocrômio (III). 2- O número de oxidação do átomo central é indicado com um numeral romano entre parênteses logo após seu nome. (Observação: não se usa espaço.) Exemplo: [Co(H2O)4] 2+ é o ião tetraaquocobalto (II). 3- O número de cada tipo de ligante é indicado mediante uso de prefixos gregos, di-, tri-, tetra- etc. Exemplo: [FeCl2(H2O)4] + é ião tetraaquodicloroferro (III). 4- No nome de um complexo que contém mais de um tipo de ligante, os ligantes são escritos na ordem alfabética de seus nomes. (Na determinação desta ordem os prefixos devem ser ignorados, assim como a distinção entre ligantes aniônicos e neutros.) Exemplo: [CuBr(H2O)3] + é o ião triaquobromocobre (II). (Aquo é escrito antes do bromo) 5- Complexos que são aniões têm terminação -ato após o nome em português do átomo central. Excepção: Quando o símbolo do átomo central é derivado do nome do elemento em latim, o sufixo -ato é escrito após este nome. Exemplos: [CrCl6] 3– é o ião hexaclorocromiato (III). [CuBr4] 2– é o ião tetrabromocuprato (II). L. M. Vaz Page 8 Nomes e fórmulas de compostos contendo iões complexos Finalmente deve ser observado que, como nos compostos iônicos, ocorre o mesmo para os compostos contendo complexos: o catião é escrito antes do anião na fórmula, e depois do anião quando se dá nome ao composto, sendo as cargas iônicas omitidas. Exemplos: [Cr(H2O)6] [Fe(CN)6] é o hexacianoferrato (III) de hexaaquocrômio (III). Tabela 1: Nomes de alguns complexos. [Co(H2O)6] 2+ Ião hexaaquocobalto (II) [CoCl4] 2– Ião tetraclorocobaltato (II) [Ni(CN)4] 2– Ião tetracianoniquelato (II) [Cr(OH)2(H2O)4] + Ião tetraaquohidroxocrômio (III) [Cr(OH)3(H2O)3] Ião triaquotrihidroxocrômio (III) [Cr(OH)4(H2O)2] – Ião diaquotetrahidroxocromiato (III) [CoCl4(NH3)2] – Ião diamintetrac1orocobaltato (III) [FeBr2(CO)4] + Ião dibromotetracarbonilferro (III) [FeI2(CO)4] + Ião tetracarbonildiiodoferro (III) [FeCl2(CN)2(NH3)2] – Ião diamindicianodicloroferrato (III) Ligação química nos complexos Qual é a natureza da força que liga um ligante ao ião central em um complexo? Somos tentados a considerar que no ião [Fe(CN)6] 3– , os seis ligantes CN – estão ligados a um ião central Fe 3+ por seis ligações iônicas. E no [Cr(H2O)6] 3+ poderíamos supor que as seis moléculas de água estão presas ao ião central Cr 3+ por forças do tipo ião-dipolo. Tal modelo puramente electrostático de ligação nos complexos é atraente devido a sua simplicidade, porém é inconsistente com várias observações experimentais. Em vez disso, a ligação metal-ligante em um complexo é melhor entendida como sendo predominantemente covalente; como resultado as teorias da ligação pela valência e do orbital molecular são úteis para explicar a natureza dos complexos de metais de transição. Teoria da ligação pela valência A primeira descrição com razoável sucesso sobre ligação nos iões complexos foi estabelecida pela teoria da ligação pela valência, ou formação dos orbitais híbridos. De acordo com este modelo, o átomo central em um complexo forma uma ligação covalente coordenada com cada ligante no complexo, sendo os dois electrões do par envolvido na ligação doados pelo ligante. Para realizar tal intento, o átomo central utiliza um conjunto apropriado de orbitais híbridos formados pela combinação de alguns de seus orbitais (n – 1)d, seu orbital ns, e alguns de seus np. Considere, por exemplo, a formação de seis ligações pelo Fe 3+ para formar o ião complexo octaédrico [Fe(CN)6] 3– , o hexacianoferrato (III), comummente chamado ião ferricianeto: Fe 3+ + 6CN – [Fe(CN)6] 3– L. M. Vaz Page 9 Um átomo de ferro isolado, em estado fundamental, tem a seguinte configuração: A remoção de três electrões produz o ferro (III), ou ião férrico: Considere agora que os cinco elétrons d tornam-se "empacotados" e passam a ocupar somente três dos orbitais 3d (os 3dxy, 3dyz e 3dxz). Isto deixa desocupados os orbitais 3dx 2 – y 2 , 3dz 2 , 4s, e os três orbitais 4p. Estes orbitais vazios se combinam para formar seis orbitais híbridos equivalentes d 2 sp 3 : Agora, o ião férrico atua como um ácido de Lewis, recebendo seis pares de electrões dos seis aniões cianeto e formando assim seis ligações covalentes coordenadas com estes, que passam agora a serem denominados ligantes dano. Foi demonstrado que quando o ião cianeto: [ : C : : : N :] – Torna-se um ligante em um complexo, é o átomo de carbono que se liga ao átomo central, ou seja, é o par solitário do carbono que é doado para formar uma ligação covalente coordenada. Quando seis iões CN – ligam-se ao ferro deste modo, a configuração resultante no complexo é: Onde as setas dentro do rectângulo representam os seis pares de electrões doados pelos seis ligantes dano. A mecânica quântica mostra que os seis orbitais d 2 sp 3 constituem um conjunto octaédrico, ou seja, os seis maiores lobos dos orbitais apontam em direcção aos vértices de um octaedro regular. L. M. Vaz Page 10 Configurações electrónicas do ião níquel isolado, no estado fundamental, e do níquel no complexo quadrado-planar [Ni(CN)4] 2– , o ião tetracianoniquelato (II), são mostrados abaixo: As setas dentro do rectângulo representam os pares de electrões doados pelos ligantes ciano. A geometria tetraédrica em um complexo é conseguida por intermédio de uma hibridação sp 3 , tal como o carbono em muitos de seus compostos. Esta geometria, por exemplo, é exibida por virtualmente todos os complexos de Zn 2+ , um ião d 10 . Devido ao ião zinco não possuir orbitais d desocupados, apenas os orbitais 4s e os três 4p são disponíveis para hibridação e subsequenteaceitação dos pares de electrões doados pelos ligantes: No [Zn(CN)4] 2– , o ião tetracianozincato (II), os orbitais híbridos sp 3 são utilizados pelo átomo de zinco para formar ligações com quatro ligantes CN – :
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