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Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 O problema da velocidade instantaˆnea Suponha que um carro move-se com velocidade constante e igual a 60 km/h. Se no instante t = 0 ele estava no marco zero da estrada, na˜o e´ dif´ıcil notar que a func¸a˜o que fornece a posic¸a˜o em um instante t > 0 e´ dada por s(t) = 60t. De uma maneira mais geral, se a posic¸a˜o inicial e´ s0 ∈ R e a velocidade (constante) e´ igual a v0 ∈ R, enta˜o a posic¸a˜o e´ dada por s(t) = s0 + v0t. Voceˆ certamente ja´ se deparou com o problema acima. Nos seus estudos do ensino me´dio, considerava-se uma situac¸a˜o mais geral, com o carro tendo uma acelerac¸a˜o constante e igual a a ∈ R. Neste caso, a posic¸a˜o e´ dada por s(t) = s0 + v0t + 1 2 at2, t > 0, que e´ exatamente a equac¸a˜o do espac¸o para o movimento uniformemente variado. Como a acelerac¸a˜o e´ igual a a, podemos facilmente deduzir que a velocidade do carro e´ dada pela func¸a˜o v(t) = v0 + at, t > 0. Estamos interessados aqui no seguinte problema: supondo que conhecemos a posic¸a˜o do carro s(t), queremos determinar a sua velocidade v(t) em um dado instante t > 0. No caso em que s(t) e´ um polinoˆmio de grau 1 ou 2, a soluc¸a˜o ja´ foi dada nos dois para´grafos anteriores. O que queremos agora e´ obter uma forma de calcular a velocidade para func¸o˜es s(t) mais gerais. As ideias que vamos desenvolver servem para muitas expresso˜es da func¸a˜o s(t). Pore´m, para simplificarmos a exposic¸a˜o, vamos supor que s(t) = t3. Tambe´m por simplicidade, vamos supor que queremos encontrar a velocidade do carro no instante t = 2. Sumarizando, vamos tratar do problema seguinte: Problema: se a posic¸a˜o do carro e´ dada por s(t) = t3, qual e´ a velocidade do carro no instante t = 2 ? A primeira coisa que deve ser observada e´ que as fo´rmulas aprendidas no ensino me´dio na˜o sa˜o suficientes para obtermos a resposta. De fato, elas so´ se aplicam para aos casos em que a func¸a˜o s(t) e´ um polinoˆmio de grau 1 (velocidade constante) ou um polinoˆmio de grau 2 (acelerac¸a˜o constante). Logo, precisamos desenvolver uma nova te´cnica para resolver o problema. 1 Ainda que na˜o saibamos calcular a velocidade v(t), podemos usar a expressa˜o de s(t) para calcular a velocidade me´dia entre os instante t = 2 e t = 4, por exemplo. Ela e´ dada pela expressa˜o s(4)− s(2) 4− 2 = 43 − 23 4− 2 = 64− 8 2 = 28. Logo, como na˜o sabemos calcular v(2), podemos aproximar esse valor usando a velocidade me´dia calculada acima. Naturalmente, essa aproximac¸a˜o conte´m algum tipo de erro, porque estamos deixando um intervalo de 2 horas em que o motorista poderia, eventualmente, efetuar mudanc¸as de velocidade, sem com isso mudar o valor de v(2). Parece natural que, se diminuirmos esse intervalo de tempo para 1 hora somente, a aproximac¸a˜o pela velocidade me´dia seria melhor. Assim, podemos considerar agora a seguinte aproximac¸a˜o: s(3)− s(2) 3− 2 = 27− 8 1 = 19. Procedendo como acima, podemos construir uma tabela que fornece, para cada valor h ̸= 0, a velocidade me´dia do carro entre o instante inicial t = 2 e o instante final t = 2+ h. Listamos abaixo alguns valores dessa tabela: h ̸= 0 instante final velocidade me´dia t = 2 + h s(2+h)−s(2)(2+h)−2 2 4 28 1 3 19 0,5 2,5 15,25 0,1 2,1 12,61 0,01 2,01 12,0601 0,001 2,001 12,006001 Do ponto de vista f´ısico, parece claro que a aproximac¸a˜o que estamos usando (velocidade me´dia) fica mais precisa a` medida em que o intervalo de tempo h se torna mais pro´ximo de zero. Assim, a tabela parece indicar que a velocidade no instante 2 e´ igual a 12. Para melhor justificar a afirmac¸a˜o acima, vamos criar uma nova func¸a˜o. Seja enta˜o vm2(h) a func¸a˜o que associa, para cada h ̸= 0, a velocidade me´dia entre os instantes t = 2 e t = 2 + h. Formalmente, vm2(h) = s(2 + h)− s(2) (2 + h)− 2 = (2 + h)3 − 28 h . (1) Observe que o valor de h nunca pode ser igual a zero. Mais especificamente, como estamos falando de dois instantes distintos t = 2 e t = 2 + h, os valores possiveis para h sa˜o todos aqueles em que h ̸= 0 e h ≥ −2. Essa u´ltima restric¸a˜o surge porque, se h < −2, enta˜o 2 2+h < 0, e na˜o faz sentido falarmos em instante de tempo negativo. Em resumo, o domı´nio da func¸a˜o vm2 e´ dado por Dom(vm2) = [−2, 0) ∪ (0,+∞) = {h ∈ R : h ≥ −2 e h ̸= 0}. Precisamos descobrir o que acontece com o valor de vm2(h) quando h fica pro´ximo de zero. Se olharmos para o u´ltimo quociente da definic¸a˜o de vm2 em (1), percebemos que, a` medida em que h se aproxima de zero, tanto o numerador quanto o denominador desse quociente se aproximam de zero. Para entender melhor o comportamento do quociente, vamos lembrar que, para todo a, b ∈ R, temos (a+ b)3 = a3 +3a2b+3ab2 + b3. Deste modo, a expressa˜o de vm2(h) em (1) pode ser escrita como vm2(h) = (2 + h)3 − 23 h = (23 + 3 · 22 · h + 3 · 2 · h2 + h3)− 23 h = h(12 + 6h+ h2) h , ou ainda vm2(h) = 12 + 6h+ h 2. Vale ressaltar que, ainda que a expressa˜o do lado direito da equac¸a˜o acima possa ser calculada para qualquer valor de h, o domı´nio da func¸a˜o vm2 continua sendo [−2, 0) ∪ (0,+∞). Usando a expressa˜o acima, os valores de vm2(h) da tabela anterior podem ser facilmente calculados. Ale´m disso, fica muito simples perceber o que acontence com vm2(h) quando h se aproxima de zero. De fato, como os termos 6h e h2 ficam pro´ximos de zero, conclu´ımos que vm2(h) se aproxima de 12, conforme espera´vamos. Usamos a seguinte notac¸a˜o para escrever isso de maneira sucinta: lim h→0 vm2(h) = lim h→0 s(2 + h)− s(2) h = 12. Observe que todas estas considerac¸o˜es nos permitem concluir que a velocidade do carro no instante t = 2 e´ igual a 12. Na˜o existe nada de especial no instante t = 2, escolhido para a exposic¸a˜o acima. Para qualquer t > 0, podemos calcular a velocidade no instante t > 0 como sendo v(t) = lim h→0 s(t + h)− s(t) (t + h)− t = lim h→0 (t+ h)3 − t3 h . Usando novamente a expressa˜o do cubo de uma soma, obtemos (t+ h)3 − t3 = (t3 + 3t2h+ 3th2 + h3)− t3 = h(3t2 + 3th+ h2), de modo que v(t) = lim h→0 h(3t2 + 3th+ h2) h = lim h→0 (3t2 + 3th+ h2) = 3t2 + 0 + 0 = 3t2. 3 Na penu´ltima igualdade acima, usamos o fato de, para cada t > 0 fixado, os termos 3th e h2 se aproximarem de zero quando h se aproxima de zero. Assim, podemos enunciar a soluc¸a˜o do nosso problema como se segue: Soluc¸a˜o do problema: Se a posic¸a˜o do carro e´ dada pela func¸a˜o s(t) = t3, enta˜o a velocidade e´ v(t) = 3t2, para todo t > 0. Em particular, a velocidade no instante 2 e´ igual a 12. Finalizamos com algumas observac¸o˜es importantes: 1. O me´todo desenvolvido aqui nos permite considerar va´rias expresso˜es diferentes para a func¸a˜o s(t). Tudo o que deve ser feito e´ uma manipulac¸a˜o alge´brica da expressa˜o s(t+ h)− s(t) h , de modo a descobrir o que acontece com o quociente quando h se aproxima de zero. 2. A expressa˜o acima na˜o esta´ definida quando h = 0. Isso na˜o e´ importante na aplicac¸a˜o do me´todo, visto que queremos estudar o comportamento do quociente para valores h que sa˜o pro´ximos, mas diferentes de zero. 3. Estas ideias sera˜o desenvolvidas a` exausta˜o nas pro´ximas semanas, quando introduzire- mos o conceito de derivada. Contudo, se voceˆ chegou vivo ate´ aqui, na˜o tera´ nenhuma dificuldade para entender o que esta´ por vir. 4. O que foi feito aqui depende somente de sabermos a definic¸a˜o de velocidade me´dia. Assim, voceˆ pode agora tentar explicar isso tudo para aquele seu primo que cursa o primeiro ano do ensino me´dio! Como um bom exerc´ıcio, vale a pena refazer as contas acima para o caso em que s(t) = s0 + v0t+ (a/2)t2, com s0,a ∈ R, para verificar que, nesse caso, o limite da velocidade me´dia quando h se aproxima de zero e´ exatamente v(t) = v0 + at. 4 Tarefa Nesta tarefa vamos usar a mesma estrate´gia adotada no texto para determinar a velocidade do carro, supondo agora que a posic¸a˜o e´ dada pela func¸a˜o s(t) = 1 t , t > 0. Vamos inicialmente calcular a velocidade no instante t = 3. Para tanto, siga os passos abaixo: 1. Com o aux´ılio de uma calculadora, complete a tabela abaixo: h ̸= 0 instante final velocidade me´dia t = 3 + h s(3+h)−s(3)(3+h)−3 1 4 −0, 0833 (aproximadamente) 0,1 3,1 0,01 0,001 2. Verifique que, apo´s as devidas simplificac¸o˜es, temos s(3 + h)− s(3) h = 1 3 + h − 1 3 h = · · · = − 1 (3 + h)3 . 3. Fazendo h se aproximar de 0 na u´ltima expressa˜o acima, determine v(3). Repetindo o argumento do item 2 acima verifique que v(t) = lim h→0 s(t+ h)− s(t) h = · · · = lim h→0 −1 (t+ h)t , e obtenha a expressa˜o para v(t). O que significa o sinal de menos que aparece nessa ex- pressa˜o? 5 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 O ca´lculo do imposto de renda Nesse pequeno texto vamos explorar os conceitos de limites laterais e continuidade atrave´s de um exemplo simples, relacionado ao ca´lculo do imposto de renda. A fim de simplificar a exposic¸a˜o e os ca´lculos, vamos considerar a situac¸a˜o de um pa´ıs imagina´rio, onde a moeda se chama cruzeta e o imposto e´ taxado segundo a regra abaixo. Regra do imposto: quem ganha ate´ 10 mil cruzetas e´ isento; quem ganha mais de 10 mil e ate´ 20 mil cruzetas paga 10% da renda de imposto; os demais pagam 20% da renda. A partir das informac¸o˜es acima, queremos definir uma func¸a˜o que fornece o valor I(r) de milhares de reais pago por um contribuinte que ganha r mil cruzetas por meˆs. Antes de apresentar a expressa˜o da func¸a˜o I vamos observar que o domı´nio dessa func¸a˜o e´ dom(I) = {r ∈ R : r ≥ 0} = [0,+∞). De fato, como r denota a renda do contribuinte, e´ evidente que essa varia´vel na˜o pode assumir valores negativos. Estamos incluindo no domı´nio o ponto r = 0 para contemplar todas as pessoas que na˜o possuem renda. Lembrando agora que a maneira anal´ıtica de calcularmos 10 por cento de um nu´mero e´ multiplica´-lo por 0, 1, podemos escrever a expressa˜o da func¸a˜o I como se segue: I(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20. Note que a expressa˜o que define I em cada uma das 3 faixas e´ uma func¸a˜o linear. Contudo, a func¸a˜o I como um todo na˜o e´ uma func¸a˜o linear. Embora o gra´fico de I possa ser facilmente esboc¸ado, vamos continuar a nossa exposic¸a˜o analisando as propriedades da func¸a˜o I sem o seu gra´fico. Inicialmente, vamos tentar responder a` seguinte pergunta: Pergunta 1: Qual o valor aproximado do imposto pago por um contribuinte que ganha aproximadamente 15 mil cruzetas? Do ponto de vista matema´tico, uma maneira de responder a` essa pergunta e´ tentar calcular o limite lim r→15 I(r). Uma dificuldade inicial neste ca´lculo e´ que a func¸a˜o I e´ definida 1 por mais de uma sentenc¸a, de modo que precisamos decidir qual das sentenc¸as utilizar no ca´lculo do limite. Para decidir isso vamos lembrar que, no ca´lculo de limx→a f(x), importa somente o que acontece com f(x) para valores de x pro´ximos, e diferentes, de a. Ora, como r → 15, devemos utilizar a expressa˜o de I(r) fornecida quando r esta´ pro´ximo de 15, que e´ exatamente a expressa˜o da 2a faixa do imposto. Assim lim r→15 I(r) = lim r→15 (0, 1r) = 0, 1× 15 = 1, 5. Logo, um contribuinte que ganha aproximadamente 15 mil cruzetas vai pagar, aproximada- mente, 1500 cruzetas de imposto. De fato, se a renda for de 15 mil cruzetas o valor do imposto e´ exatamente I(15) = 1, 5 mil cruzetas. Vamos prosseguir a exposic¸a˜o considerando agora uma nova pergunta: Pergunta 2: Qual o valor aproximado do imposto pago por um contribuinte que ganha aproximadamente 10 mil cruzetas? A resposta agora e´ um pouco mais delicada. Na verdade, ela depende de uma informac¸a˜o extra, que e´ saber se o indiv´ıduo ganha mais ou menos de 10 mil. De fato, se o contribuinte ganha um valor um pouco menor do que 10 mil, enta˜o e´ isento. Por outro lado, se ganha um pouco mais de 10 mil, enta˜o sera´ taxado em 10 por cento. Esse tipo de restric¸a˜o nos leva ao conceito de limites laterais. Considerando primeiro os que ganham um pouco de menos de 10 mil temos lim r→10− I(r) = lim r→10− 0 = 0. Note que, no ca´lculo do limite acima, a notac¸a˜o r → 10− indica que o nu´mero r esta´ se aproximando de 10 por valores menores que 10 ou, equivalentemente, pela esquerda de 10. Como para valores menores (e pro´ximos) de 10 a func¸a˜o I e´ identicamente nula, substituimos I(r) por 0 apo´s a primeira igualdade. Para contribuintes que ganham um pouco mais de 10 mil, temos o seguinte limite lateral lim r→10+ I(r) = lim r→10+ (0, 1r) = 0, 1× 10 = 1. No ca´lculo do limite lateral acima temos uma observac¸a˜o importante: ainda que a func¸a˜o I seja igual a zero em r = 10, a expressa˜o de I(r) que usamos apo´s a primeira igualdade foi 0, 1r. Isso porque, no ca´lculo do limite acima, importa somente o que acontece com a func¸a˜o I para valores pro´ximo e maiores que 10. O valor de I no ponto r = 10 na˜o interfere no valor deste limite lateral. Observe que os limites laterais no ponto r = 10, apesar de existirem, sa˜o diferentes. Isso nos indica que o limite limr→10 I(r) na˜o existe. Aqui, estamos usando o seguinte resultado, que caracteriza a existeˆncia de um limite. 2 Teorema. O limite lim x→a f(x) existe se, e somente se, os limites laterais lim x→a− f(x) e lim x→a+ f(x) existem e sa˜o iguais. Nesse caso, o valor comum desses limites laterais e´ igual ao valor do limite lim x→a f(x) No exemplo anterior temos lim r→10− I(r) = 0 ̸= 1 = lim r→10+ I(r), e portanto o limite na˜o existe. A na˜o exiseˆncia desse limite pode ser facilmente percebida quando analisamos o gra´fico da func¸a˜o I, que esta´ esboc¸ado abaixo. Note que existe um salto no gra´fico no ponto r = 10. Quando nos aproximamos de 10 pela esquerda a func¸a˜o se aproxima de 0, porque e´ sempre nula. Quando nos aproximamos pela direita, a func¸a˜o se aproxima de 1. Do ponto de vista matema´tica isso pode ser observado a partir do fato de que os limites laterais sa˜o dis- tintos. A consequeˆncia disso e´ a na˜o existeˆncia do limite de I(r) quando r → 10. Nesse ponto vale notar que o salto observado no gra´fico acima causa uma injustic¸a no ca´lculo do imposto. Para exemplificar, suponha que um contribuinte tenha uma renda de 10 mil cruzetas. Nesse caso, como e´ isento de imposto de renda, ele receberia uma valor l´ıquido de 10 mil cruzetas. Pore´m, um outro contribuinte que tem uma renda de 11 mil cruzetas (e que eventualmente trabalha melhor do que o primeiro) paga 1,1 mil cruzetas de imposto de renda, tendo enta˜o uma renda l´ıquida de 9,9 mil cruzetas! A fim de corrigir a injustic¸a acima vamos fazer uma pequena mudanc¸a na regra da 2a faixa do imposto: Nova regra do imposto: quem ganha ate´ 10 mil cruzetas e´ isento; quem ganha mais de 10 mil e ate´ 20 mil cruzetas paga 10% da renda de imposto menos uma parcela fixa de c cruzetas; os demais pagam 20% da renda. Com essa nova regra, a func¸a˜o que calcula o imposto passa a ser I1(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r − c , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20, 3 onde estamos denotando por I1 a func¸a˜o que calcula esse novo imposto. Observe que, para cada escolha do valor da deduc¸a˜o c, temos uma func¸a˜o diferente. Gostar´ıamos de escolher o paraˆmetro c de modo quea injustic¸a citada acima na˜o exista mais. Mais especificamente, queremos escolher o valor de c de modo a eliminar o salto no gra´fico de I1 no ponto r = 10. Para tanto, vamos calcular os limites laterais: lim r→10− I1(r) = lim r→10− 0 = 0, lim r→10+ I1(r) = lim r→10+ (0, 1r − c) = 1− c. De acordo com o teorema enunciado anteriormente, para que exista o limite no ponto r = 10, os limites laterais devem existir e serem iguais. Logo, o valor da deduc¸a˜o c deve ser tal que 0 = 1− c, ou seja, c = 1. Portanto, os contribuintes que esta˜o na 2a faixa devem pagar 10% de sua renda menos 1 mil cruzetas, e a expressa˜o final da nova func¸a˜o que calcula o imposto fica como se segue: I1(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r − 1 , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20, Abaixo voceˆ encontra o gra´fico dessa nova func¸a˜o. Observe que na˜o ocorre mais aquele salto no ponto r = 10. O conceito matema´tico de continuidade serve para identificarmos poss´ıveis saltos ou quebras no gra´fico de func¸o˜es. Antes de prosseguir, vamos lembrar esse importante conceito: Definic¸a˜o. Dizemos que a func¸a˜o f e´ cont´ınua no ponto a ∈ dom(f) se lim x→a f(x) = f(a). 4 Observe que, para que f seja cont´ınua em x = a, e´ necessa´rio que o ponto a esteja no domı´nio de f . Mais do que isso, como precisamos calcular limx→a f(x), e´ necessa´rio que o domı´nio de f contenha todo um intervalo aberto centrado no ponto x = a. Ale´m disso, e´ preciso que o limite exista e coincida com o valor da func¸a˜o f no ponto x = a. O conceito de continuidade se estende para pontos que esta˜o no extremos do domı´nio atrave´s do uso de limites laterais. A func¸a˜o I1 cujo gra´fico esta´ esboc¸ado acima e´ cont´ınua em todos os pontos do seu domı´nio, exceto no ponto r = 20. De fato, nesse ponto ocorre um salto no gra´fico, porque os limites laterais sa˜o diferentes. Assim, a inexisteˆnca do limite lim r→20 I1(r) implica que I1 na˜o e´ cont´ınua em r = 20. Procedendo como acima, na˜o e´ dif´ıcil introduzir uma parcela de deduc¸a˜o na 3a faixa de modo a tornar a func¸a˜o cont´ınua (veja a tarefa). Para finalizar o texto, vamos considerar o caso do ca´lculo do imposto de renda no Brasil. A metodologia e´ ana´loga com a descrita acima, com a diferenc¸a que temos aqui 5 faixas, ao inve´s de 3. A tabela abaixo (que reflete o ano base de 2013 e esta´ expressa em reais) apresenta os valores referentes a cada uma dessas faixas. Deixamos como exerc´ıcio para o leitor obter a expressa˜o da func¸a˜o I(r) que calcula o imposto em func¸a˜o da renda, bem como a verificac¸a˜o de que as parcelas de deduc¸a˜o foram escolhidas pelo governo de modo a tornar a func¸a˜o cont´ınua em todos os pontos, evitando assim os saltos no gra´fico e as decorrentes injustic¸as. Renda Al´ıquota Deduc¸a˜o Ate´ R$ 1.673,11 (isento) (isento) De R$ 1.673,12 ate´ R$ 2.453,50 7,5% R$ 122,78 De R$ 2.453,51 ate´ R$ 3.271,38 15% R$ 306,80 De R$ 3.271,39 ate´ R$ 4.087,65 22,5% R$ 552,15 Acima de R$ 4.087,65 27,5% R$ 756,53 5 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 O limite de uma func¸a˜o Se s(t) denota a posic¸a˜o de um carro no instante t > 0, enta˜o a velocidade instantaˆnea v(t) pode ser obtida calculando-se a velocidade me´dia (s(t + h)− s(t))/h para valores de h cada vez mais pro´ximos de zero. Isto pode ser escrito, sucintamente, da seguinte forma v(t) = lim h→0 s(t+ h)− s(t) h . Note que o quociente acima na˜o esta´ definido para h = 0. De fato, isto na˜o e´ importante para o ca´lculo da velocidade. Precisamos somente saber o que ocorre com o quociente quando h esta´ muito perto de zero. A ideia de proximidade acima pode ser considerada em situac¸o˜es mais gerais. Suponha que uma func¸a˜o f esta´ definida em intervalo aberto contendo a, exceto possivelmente em x = a. Escrevemos lim x→a f(x) = L, (1) para representar o fato de que, quando x vai se tornando pro´ximo de a, os valores f(x) se aproximam de L. A expressa˜o acima deve ser lida da seguinte maneira: o limite de f(x) quando x tende para a e´ igual a L. E´ importante destacar que o conceito de proximidade e´ relativo. De fato, se dois carros viajam para uma mesma cidade e esta˜o a 300 metros um do outro, podemos dizer que eles esta˜o pro´ximos. Por outro lado, se estes carros esta˜o em uma corrida de Fo´rmula 1, essa mesma distaˆncia na˜o pode ser considerada pequena. Tudo que voceˆ precisa saber agora e´ que e´ poss´ıvel definir o conceito de limite usando uma terminologia que na˜o dependa de relativizac¸o˜es, embora este na˜o seja o objetivo deste texto. De fato, o que pretendemos agora e´ entender o conceito e considerar alguns exemplos simples. Antes de apresentar os exemplos vale reforc¸ar que, no ca´lculo do limite em (1), na˜o importa o valor da func¸a˜o f no ponto x = a. A func¸a˜o na˜o precisa estar definida neste ponto, isto e´, o ponto x = a pode na˜o pertencer ao domı´nio de f . Para ilustrar isto considere os dois gra´ficos abaixo: 1 2 1 1, 5 Figura 1 2 7 Figura 2 Se denotarmos por f a func¸a˜o cujo gra´fico esta´ esboc¸ado na Figura 1, temos que o limite limx→2 f(x) e´ igual a 1, apesar de que f(2) = 1, 5. Na Figura 2, temos uma func¸a˜o cujo limite quando x tende para 2 e´ igual a 7, mas a func¸a˜o na˜o esta´ definida no ponto x = 2. Vamos na sequeˆncia considerar alguns exemplos de ca´lculo de limites. Exemplo 1. Vamos calcular o limite lim x→2 x3 + x2 − 2x x2 − 1 . Observe que, quando x fica pro´ximo de 2, o termo x2 fica pro´ximo de 22 = 4. De uma maneira geral, a poteˆncia xn se aproxima de 2n, quando x → 2. Deste modo, o numerador da frac¸a˜o acima se aproxima de (23 + 22 − 2 · 2) = 8, enquanto o denominador se aproxima de (22 − 1) = 3. Ora, se dividimos um nu´mero pro´ximo de 8 por outro pro´ximo de 3, o resultado deve ficar perto de 8/3. Assim, conclu´ımos que o limite existe e e´ igual a 8/3. ! Neste ponto cabe observar que, no ca´lculo acima, bastaria fazer x = 2 na frac¸a˜o (x3 + x2− 2x)/(x2− 1) para obter o resultado 8/3. Contudo, este procedimento na˜o vai funcionar sempre, especialmente porque em muitos casos a func¸a˜o na qual o limite e´ calculado pode na˜o estar definida no ponto em que se estuda o limite. As figuras 1 e 2 apresentadas anterior- mente sa˜o situac¸o˜es onde na˜o basta calcular (ou tentar calcular) f(2). No pro´ximo exemplo utilizamos a mesma func¸a˜o do Exemplo 1 para ilustrar este fato, bem como estabelecer uma estrate´gia que pode funcionar em alguns casos. Exemplo 2. Vamos calcular o limite lim x→1 x3 + x2 − 2x x2 − 1 . Seja f(x) a frac¸a˜o acima e observe que, neste caso, na˜o podemos simplesmente calcular f(1), porque x = 1 na˜o esta´ no domı´nio da func¸a˜o. Mesmo assim o limite acima pode existir. A estrate´gia de analisar o que acontece com numerador e denominador tambe´m na˜o vai 2 funcionar aqui. De fato, ambos se aproximam de zero, e na˜o podemos dizer que o limite e´ igual a 0/0, porque na˜o podemos nunca fazer o denominador de uma frac¸a˜o ser igual a zero. Vamos calcular f(x) para alguns valores de x pro´ximos de 1 (maiores do que 1, menores do que 1, mas nunca iguais a 1). Fazendo isto com o aux´ılio de uma calculadora, e considerando os ca´lculos ate´ a quarta casa decimal, constru´ımos a tabela abaixo. x ∼ 1 0,95 1,05 0,99 1,01 0,999 1,001 0,9999 1,0001 f(x) 1,4372 1,5622 1,4875 1,5129 1,4987 1,5012 1, 4999 1,50001 A tabela sugere que o valor do limite e´ 1, 5. Contudo, qualquer tabela como a feita acima teria somente um nu´mero finito de termos, embora a quantidade de nu´meros pro´ximos de x = 1 seja infinita. Como saber se, a partir de um determinado x pro´ximo de 1, os valores f(x) na˜o va˜o comec¸ar a se afastar de 1,5? Pararesponder esta pergunta vamos tentar escrever f(x) de uma outra maneira, de modo que possamos olhar para a nova expressa˜o e entender claramente o que ocorre com ela quando x→ 1. Vamos inicialmente denotar por p(x) = (x3 + x2 − 2x) o numerador da frac¸a˜o que define f(x). Conforme ja´ hav´ıamos observado p(1) = 0, isto e´, x = 1 e´ uma raiz de p(x). Por conta disto, podemos fatorar o polinoˆmio p(x), escrevendo-o na forma p(x) = (x− 1)q(x), em que q(x) e´ um polinoˆmio de grau 2. Isso pode ser feito efetuando-se a divisa˜o de p(x) por (x−1) e trara´ como resultado x3 + x2 − 2x = (x− 1)(x2 + 2x). Se voceˆ na˜o se lembra como efetuar divisa˜o de polinoˆmios este e´ um excelente momento para recordar este importante to´pico! Lembrando do produto nota´vel (x2−a2) = (x−a)(x+a), podemos fatorar o denominador de f(x) como x2 − 1 = (x− 1)(x+ 1). Utilizando as duas expresso˜es acima conclu´ımos que f(x) = x3 + x2 − 2x x2 − 1 = (x− 1)(x2 + 2x) (x− 1)(x+ 1) = x2 + 2x x+ 1 , de modo que lim x→1 x3 + x2 − 2x x2 − 1 = lim x→1 x2 + 2x x+ 1 = 12 + 2 · 1 1 + 1 = 3 2 , 1 3/2 Gra´fico de f(x) conforme espera´vamos. Note que, no ca´lculo do u´ltimo limite, reca´ımos na situac¸a˜o do exemplo anterior, em que numerador tem limite e o denominador se aproxima de um nu´mero diferente de zero. ! 3 Exemplo 3. Vamos tentar agora calcular o limite lim x→2 x− 2 |x− 2| . Como no exemplo anterior, numerador e denominador se aproximam de zero. Para melhor entender o que ocorre neste caso vamos denotar g(x) = x−2|x−2| , para x ̸= 2. Observe que, se x > 2, enta˜o x − 2 > 0, de modo que |x − 2| = x − 2. Assim, g(x) = 1 para todo x > 2. Quando x < 2, temos x − 2 < 0, e portanto |x− 2| = −(x − 2), implicando que g(x) = −1 para todo x < 2. Assim, o gra´fico de func¸a˜o g e´ como abaixo: 2 1 −1 Gra´fico de g(x) Olhando para o gra´fico vemos que na˜o existe um nu´mero L tal que g(x) se aproxima de L quando x se aproxima de 2. De fato, para valores de x pro´ximos e maiores que 2 a func¸a˜o se aproxima de 1, enquanto para valores de x pro´ximos e menores que 2 a func¸a˜o se aproxima de −1. Neste caso dizemos que na˜o existe o limite lim x→2 g(x). ! Vamos olhar com mais cuidado o exemplo anterior. Ainda que o limite na˜o exista temos informac¸o˜es suficientes para descrever o comportamento da func¸a˜o pro´ximo ao ponto x = 2. De fato, conforme vimos, ela se aproxima de 1 quando x se aproxima de 2 pela direita. Quando nos aproximamos pela esquerda de 2, a func¸a˜o se aproxima de −1. Isso motiva as definic¸o˜es que apresentamos na sequeˆncia. Suponha que a func¸a˜o f esta´ definida em um intervalo aberto do tipo (a, b). Escrevemos lim x→a+ f(x) = L, se f(x) se aproxima de L a` medida em que x se aproxima de a pela direita. A expressa˜o acima deve ser lida da seguinte maneira: o limite de f(x) quando x tende para a pela direita e´ igual a L. De maneira ana´loga, se o domı´nio de f conte´m um intervalo do tipo (c, a), escrevemos lim x→a− f(x) = M, se f(x) se aproxima de M a` medida em que x se aproxima de a pela esquerda. A expressa˜o acima deve ser lida da seguinte maneira: o limite de f(x) quando x tende para a pela esquerda e´ igual a M . Estes dois u´ltimos conceitos sa˜o conhecidos como limites laterais. O ca´lculo de um limite lateral se faz da mesma maneira que o de um limite normal. A diferenc¸a e´ que considera-se o que ocorre com os valores de f(x) somente de um dos lados do ponto a. 4 Por exemplo, se o gra´fico da func¸a˜o f e´ como na figura ao lado, enta˜o os limites laterais no ponto x = sa˜o dados por lim x→3− f(x) = 2, lim x→3+ f(x) = 5. Note que na˜o existe o limite lim x→3 f(x). Isto pode ser visto no gra´fico e e´ tambe´m uma consequeˆncia do Teo- rema 1 que veremos logo mais. 3 5 2 Figura 3 Exemplo 3 (revisitado). Vamos calcular limites laterais em x = 2 para a func¸a˜o g(x) = x− 2 |x− 2| . Temos que lim x→2+ g(x) = lim x→2+ x− 2 |x− 2| = lim x→2+ x− 2 x− 2 = 1 e lim x→2− g(x) = lim x→2− x− 2 |x− 2| = lim x→2+ x− 2 −(x− 2) = −1, onde usamos, na penu´ltima igualdade, o fato de que |x−2| = −(x−2) sempre que x−2 < 0, ou equivalentemente, x < 2. ! Finalizamos observando que, no Exemplo 3, apesar de existirem os limites laterais, na˜o existe o limite quando x → 2. Isso ocorre porque os limites laterais sa˜o diferentes. De fato, os limites laterais nos permitem caracterizar completamente a existeˆncia ou na˜o de um limite, conforme estabelece o teorema seguinte. Teorema 1. O limite lim x→a f(x) existe se, e somente se, os limites laterais lim x→a+ f(x) e lim x→a− f(x) existem e sa˜o iguais. Neste caso, o limite e´ igual ao valor comum dos limites laterais. Vale a pena entender direito o que o teorema acima estabelece. Ele diz que, quando o limite existe, enta˜o os dois limites laterais existem e sa˜o iguais. Reciprocamente, se os dois limites laterais (pela direita e pela esquerda) existem e sa˜o iguais, enta˜o o limite existe. No caso do Exemplo 3 acima, ou mesmo da Figura 3 acima, o que ocorre e´ que, apesar dos limites laterais existirem, eles sa˜o diferentes, o que implica a na˜o existeˆncia do limite. 5 Tarefa Nesta tarefa vamos investigar a existeˆncia do limite lim x→1 f(x) para a func¸a˜o f(x) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 5x− 7, se x ≤ 1, x2 − 3x+ 2 x− 1 , se x > 1. Observe que f(1) = −2, embora este valor na˜o tenha nenhuma influeˆncia no valor do limite. Como vimos, ele na˜o interfere sequer na existeˆncia ou na˜o do limite limite limx→1 f(x). Outro ponto importante e´ que a func¸a˜o tem uma expressa˜o de definic¸a˜o diferente dependendo se estamos a` esquerda ou a` direita de x = 1. Isto sugere que devemos utilizar limites laterais na investigac¸a˜o do comportamento de f pro´ximo ao ponto x = 1. 1. Calcule o limite lateral pela esquerda lim x→1− f(x). 2. Calcule o limite lateral pela direita lim x→1+ f(x). Neste caso, temos numerador e deno- minador se aproximando de zero, de modo que sera´ necessa´rio fazer fatorac¸o˜es para calcular o limite. 3. Usando os itens acima, decida sobre a existeˆncia do limite lim x→1 f(x), justificando sua resposta. 6 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Propriedades do limite Neste texto apresentamos as propriedades ba´sicas dos limites. Consideramos sempre que f e g sa˜o func¸o˜es definidas em um intervalo aberto contendo o ponto x = a, exceto possivelmente no ponto x = a. Teorema 1. Se lim x→a f(x) = L, lim x→a g(x) = M, enta˜o 1. lim x→a [f(x) + g(x)] = lim x→a f(x) + lim x→a g(x) = L+M ; 2. lim x→a [f(x)− g(x)] = lim x→a f(x)− lim x→a g(x) = L−M ; 3. lim x→a [f(x) · g(x)] = lim x→a f(x) · lim x→a g(x) = L · M ; 4. lim x→a [ f(x) g(x) ] = lim x→a f(x) lim x→a g(x) = L M , desde que M ̸= 0; 5. lim x→a n √ f(x) = n √ lim x→a f(x) = n √ L, desde que L > 0 se n for par. Em outras palavras o limite de uma soma e´ a soma dos limites, o mesmo valendo para subtrac¸a˜o e para o produto. Na˜o e´ muito dif´ıcil acreditar na veracidade das afirmac¸o˜es acima e, de fato, elas ja´ foram utilizadas em textos anteriores. Todas elas podem ser pro- vadas rigorosamente, mas este na˜o sera´ o nosso foco aqui. Estamos interessados em usar as propriedades para calcular limites de func¸o˜es. Destacamos que a propriedade 4 so´ pode ser usada quando M ̸= 0. Isso ocorre porque queremos dizer o que o limite vale L/M , e isso na˜o faz sentido no caso em que M = 0, pois na˜o podemos dividir por zero. Isto na˜o significa que na˜o e´ poss´ıvel calcularo limite de uma frac¸a˜o quando o denominador se aproxima de zero. De fato, vimos no caso da velocidade do carro e da reta tangente que, nesta situac¸a˜o, podemos tentar algum tipo de simplificac¸a˜o na frac¸a˜o de modo a saber o que ocorre quando x→ a. Na propriedade 5, quando n e´ par, temos a restric¸a˜o L > 0. Ela e´ importante para garantir que o nu´mero n √ L esteja bem definido. Por exemplo, se lim x→a f(x) = −1, na˜o faz sentido tentar usar a propriedade para calcular lim x→a √ f(x). De fato, como a func¸a˜o f(x) se 1 aproxima de −1, na˜o podemos calcular √f(x) para valores x pro´ximos de a, visto que na˜o existe raiz quadrada de nu´mero negativo. Exemplo 1. Para todo a ∈ R, temos que lim x→a x2 = lim x→a x · x = lim x→a x · lim x→a x = a · a = a2. Aplicando a mesma propriedade repetidas vezes, vemos que lim x→a xn = an, para todo n ∈ N. ! Exemplo 2. Se p(x) = b0 + b1x+ · · · + bnxn e´ um polinoˆmio, enta˜o lim x→a p(x) = lim x→a (b0 + b1x+ · · · + bnxn) = b0 + b1a+ · · · + bnan = p(a). No exemplo acima usamos a propriedade da soma, do produto e o Exemplo 1. A conclusa˜o e´ que, para calcular o limite de um polinoˆmio quando x→ a, basta calcular p(a). ! Exemplo 3. Se p(x) e q(x) sa˜o polinoˆmios e q(a) ̸= 0, enta˜o podemos aplicar a regra do quociente para obter lim x→a p(x) q(x) = p(a) q(a) . ! No pro´ximo resultado vamos considerar o caso em que temos 3 func¸o˜es que esta˜o “ordenadas” na vizinhanc¸a do ponto x = a. Isso significa que temos uma delas entre as outras duas, em uma espe´cie de sandu´ıche, com a func¸a˜o do meio funcionando como um presunto entre duas fatias de pa˜o. A partir do desenho e´ natural inferir que, se as duas fatias de pa˜o va˜o sendo apertadas e se aproximam de um nu´mero L, o mesmo deve ocorrer com o presunto, que e´ a func¸a˜o do meio. a L Mais especificamente, temos o seguinte resultado. 2 Teorema 2 (Teorema do Confronto). Suponha que f(x) ≤ h(x) ≤ g(x) para todo os valores de x pro´ximos de a, exceto possivelmente em a. Se lim x→a f(x) = L = lim x→a g(x) enta˜o lim x→a h(x) = L. Antes de aplicar o resultado vamos lembrar que a estrutura de “sandu´ıche” e´ necessa´ria somente perto do ponto a, na˜o importando o que ocorre com as func¸o˜es para valores x distantes de a. Novamente, a figura acima ilustra bem esta observac¸a˜o. Exemplo 4. Vamos estudar o seguinte limite lim x→0 x2 sen ( 1 x ) . Observe que na˜o podemos usar a regra do produto aqui pois, apesar de x2 se aproximar de zero, na˜o sabemos o que acontece com o termo sen(1/x). De fato, este u´ltimo termo na˜o possui limite porque o termo 1/x vai ficando cada vez maior em mo´dulo, de modo que o seu seno fica oscilando entre −1 e 1. O fato de na˜o podermos usar a regra do produto na˜o implica que na˜o e´ poss´ıvel calcular o limite. O comporta- mento da func¸a˜o h(x) = x2 sen(1/x) pode ser descrito da seguinte maneira: o termo que envolve o seno fica oscilando, enquanto o termo x2 faz com que a amplitude desta oscilac¸a˜o se modifique quando x varia. O gra´fico ao lado ilustra o que estamos dizendo. A partir do gra´fico somos levados a crer que limx→0 h(x) = 0. Para comprovar isto, vamos utilizar o Teorema 2, observando inicialmente que −1 ≤ sen(1/x) ≤ 1, ∀ x ∈ R. Multiplicando a desigualdade acima por x2 > 0, conclu´ımos que −x2 ≤ x2 sen(1/x) ≤ x2, ∀ x ∈ R. Fazendo x→ 0 e usando o Teorema 2 conclu´ımos que lim x→0 x2 sen ( 1 x ) = 0. ! 3 Finalizamos este texto observando que os Teoremas 1 e 2 valem tambe´m para limites laterais. Assim, se substituirmos x→ a, por x→ a+ ou x→ a−, todas as afirmac¸o˜es destes teoremas permanecem va´lidas. No caso do Teorema 2, quanto tratamos de limites laterais, a ”estrutura de sandu´ıche” das 3 func¸o˜es precisa valer somente do lado em que estamos fazendo o limite lateral. Tarefa Uma func¸a˜o f e´ limitada se existe M > 0 tal que |f(x)| ≤M, ∀ x ∈ dom(f). 1. Suponha que f esteja definida um pouco a` esquerda e um pouco a` direita de x = a. Se lim x→a g(x) = 0 e f e´ limitada, mostre que lim x→a f(x)g(x) = 0. Explique por que a limitac¸a˜o de f e´ necessa´ria somente pro´ximo ao ponto x = a. 2. Use o item acima para concluir que, se r > 0 e´ um nu´mero racional, enta˜o lim x→0 xr sen ( 1 x ) = 0. 4 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Limite trigonome´trico fundamental Neste texto vamos nos concentrar em calcular o limite lim θ→0 sen(θ) θ . (1) O limite acima apareceu em um texto anterior, quando quer´ıamos determinar o per´ımetro de um c´ırculo. Naquela oportunidade fizemos a tabela θ = 1 θ = 0, 5 θ = 0, 1 θ = 0, 01 sen(θ)/θ 0,84147 0,95885 0,99833 0,99998 e deixamos nossa intuic¸a˜o livre para concluir que o limite era igual a 1. Queremos agora usar o Teorema do Confronto para confirmar a nossa intuic¸a˜o. O primeiro passo e´ verificar as seguinte igualdades lim θ→0 sen(θ) = 0, lim θ→0 cos(θ) = 1. (2) Deixaremos para voceˆ a verificac¸a˜o da primeira delas (veja a tarefa ao final do texto). Para a segunda, vamos lembrar que sen2 θ + cos2(θ) = 1, de modo que cos(θ) = ± √ 1− sen2(θ). Se θ ∈ (−π/2, π/2), enta˜o cos(θ) e´ positivo. Assim, para tais aˆngulos, vale cos(θ) = √ 1− sen2(θ). Como limθ→0 sen(θ) = 0, obtemos lim θ→0 cos(θ) = lim θ→0 √ 1− sen2(θ) = √ lim θ→0 (1− sen2(θ)) = √ 1− 02 = 1. Vamos agora calcular o limite em (1) com a ajuda da figura ao lado. Observe que o triaˆngulo retaˆngulo OAB esta´ contido no setor circular determinado pelo aˆngulo θ, que por sua vez esta´ contido no triaˆngulo retaˆngulo OTB. Deste modo, temos que a´rea(∆OAB) < a´rea(setor circular) < a´rea(∆OTB). O A T B θ 1 A altura do primeiro triaˆngulo e´ exatamente sen(θ) e a sua base tem a mesma medida do raio do c´ırculo, ou seja, mede 1. Assim, a primeira a´rea acima vale sen(θ)/2. Para o outro triaˆngulo temos altura igual a tan(θ) e mesma base, de modo que sen(θ) 2 < a´rea(setor circular) < tan(θ) 2 . Pode-se mostrar que a a´rea do setor e´ proporcional ao aˆngulo central θ. Quando este aˆngulo vale 2π, a a´rea e´ total e´ π, pois o c´ırculo tem raio igual a 1. Deste modo, se denotarmos por Aθ a a´rea do setor circular, temos que π Aθ = 2π θ , ou ainda Aθ = θ/2. Conclu´ımos enta˜o que sen(θ) 2 < θ 2 < tan(θ) 2 . Lembre agora que, se 0 < x < y, enta˜o (1/x) > (1/y). Assim, segue da expressa˜o acima que 2 tan(θ) < 2 θ < 2 sen(θ) . Multiplicando todos os termos por sen(θ)/2 > 0, conclu´ımos que cos(θ) < sen(θ) θ < 1, para todo θ ∈ (0, π/2). Passando a expressa˜o acima ao limite, usando (2) e o Teorema do Confronto conclu´ımos que lim θ→0+ sen(θ) θ = 1. Para o ca´lculo do limite pela esquerda, vamos lembrar que a func¸a˜o seno e´ ı´mpar e usar a mudanc¸a de varia´veis β = −θ para obter lim θ→0− sen(θ) θ = lim β→0+ sen(−β) −β = limβ→0+ − sen(β) −β = limβ→0+ sen(β) β = 1. Como os dois limites laterais existem e sa˜o iguais a um, conclu´ımos que lim θ→0 sen(θ) θ = 1, conforme espera´vamos. O limite acima e´ conhecido como Limite Trigonome´trico Fundamental. Ele possui va´rias aplicac¸o˜es. Apresentamos duas delas nos exemplos a seguir. 2 Exemplo 1. Vamos determinar a reta tangente ao gra´fico da func¸a˜o cos(θ) no ponto P = (0, cos(0)). Para isto, vamos primeiro lembrar que a inclinac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico da func¸a˜o f(x) no ponto (a, f(a)) e´ dada pelo limite lim x→a f(x)− f(a) x− a . Fazendo f(θ) = cos(θ) e a = 0, somos levados a considerar lim θ→0 cos(θ)−cos(0) θ − 0 = limθ→0 cos(θ)− 1 θ . Observe que, no limite acima, numerador e denominador se aproximam de zero. Para elimi- nar a indeterminac¸a˜o, vamos multiplicar ambos pelo conjugado do numerador: cos(θ)− 1 θ = (cos(θ)− 1) θ (cos(θ) + 1) (cos(θ) + 1) = cos2(θ)− 1 θ(cos(θ) + 1) = − sen 2(θ) θ(cos(θ) + 1) , em que usamos a relac¸a˜o sen2(θ) + cos2(θ) = 1 na u´ltima igualdade. Assim, lim θ→0 cos(θ)− 1 θ = lim θ→0 [ −1 · sen(θ) θ · sen(θ) (cos(θ) + 1) ] = (−1) · 1 · 0 1 + 1 = 0. Portanto, a reta tangente tem inclinac¸a˜o nula. Uma vez que ela passa pelo ponto (0, cos(0)) = (0, 1), con- clu´ımos que ela e´ exatamente a reta horizontal y = 1, conforme ilustra a figura ao lado. ! Exemplo 2. Vamos calcular o limite lim x→0 sen(5x) x . Embora sejamos tentados a afirmar que ele vale 1, note que o numerador da frac¸a˜o e´ sen(5x), e na˜o sen(x). Para poder usar (1) vamos fazer a mudanc¸a y = 5x e observar que, quando x→ 0, temos que y → 0. Deste modo, podemos escrever lim x→0 sen(5x) x = lim x→0 5 · sen(5x) 5x = 5 · lim x→0 sen(5x) 5x = 5 · lim y→0 sen(y) y = 5 · 1 = 5. Note que o limite trigonome´trico fundamental foi utilizado na penu´ltima igualdade. ! 3 Tarefa Nesta tarefa vamos mostrar que lim θ→0 sen(θ) = 0, utilizando a a figura ao lado. 1. Lembrando que sen(θ) = AC, argumente como no texto para verificar que, se θ ∈ (0, π/2), enta˜o O A C B θ 0 < sen(θ) < θ. 2. Use o Teorema do Confronto para mostrar que lim θ→0+ sen(θ) = 0. 3. Lembrando que o seno e´ uma func¸a˜o ı´mpar, calcule o limite pela esquerda. 4. Use os dois itens acima para concluir que lim θ→0 sen(θ) = 0. 4 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Limite trigonome´trico fundamental Neste texto vamos nos concentrar em calcular o limite lim θ→0 sen(θ) θ . (1) O limite acima apareceu em um texto anterior, quando quer´ıamos determinar o per´ımetro de um c´ırculo. Naquela oportunidade fizemos a tabela θ = 1 θ = 0, 5 θ = 0, 1 θ = 0, 01 sen(θ)/θ 0,84147 0,95885 0,99833 0,99998 e deixamos nossa intuic¸a˜o livre para concluir que o limite era igual a 1. Queremos agora usar o Teorema do Confronto para confirmar a nossa intuic¸a˜o. O primeiro passo e´ verificar as seguinte igualdades lim θ→0 sen(θ) = 0, lim θ→0 cos(θ) = 1. (2) Deixaremos para voceˆ a verificac¸a˜o da primeira delas (veja a tarefa ao final do texto). Para a segunda, vamos lembrar que sen2 θ + cos2(θ) = 1, de modo que cos(θ) = ± √ 1− sen2(θ). Se θ ∈ (−π/2, π/2), enta˜o cos(θ) e´ positivo. Assim, para tais aˆngulos, vale cos(θ) = √ 1− sen2(θ). Como limθ→0 sen(θ) = 0, obtemos lim θ→0 cos(θ) = lim θ→0 √ 1− sen2(θ) = √ lim θ→0 (1− sen2(θ)) = √ 1− 02 = 1. Vamos agora calcular o limite em (1) com a ajuda da figura ao lado. Observe que o triaˆngulo retaˆngulo OAB esta´ contido no setor circular determinado pelo aˆngulo θ, que por sua vez esta´ contido no triaˆngulo retaˆngulo OTB. Deste modo, temos que a´rea(∆OAB) < a´rea(setor circular) < a´rea(∆OTB). O A T B θ 1 A altura do primeiro triaˆngulo e´ exatamente sen(θ) e a sua base tem a mesma medida do raio do c´ırculo, ou seja, mede 1. Assim, a primeira a´rea acima vale sen(θ)/2. Para o outro triaˆngulo temos altura igual a tan(θ) e mesma base, de modo que sen(θ) 2 < a´rea(setor circular) < tan(θ) 2 . Pode-se mostrar que a a´rea do setor e´ proporcional ao aˆngulo central θ. Quando este aˆngulo vale 2π, a a´rea e´ total e´ π, pois o c´ırculo tem raio igual a 1. Deste modo, se denotarmos por Aθ a a´rea do setor circular, temos que π Aθ = 2π θ , ou ainda Aθ = θ/2. Conclu´ımos enta˜o que sen(θ) 2 < θ 2 < tan(θ) 2 . Lembre agora que, se 0 < x < y, enta˜o (1/x) > (1/y). Assim, segue da expressa˜o acima que 2 tan(θ) < 2 θ < 2 sen(θ) . Multiplicando todos os termos por sen(θ)/2 > 0, conclu´ımos que cos(θ) < sen(θ) θ < 1, para todo θ ∈ (0, π/2). Passando a expressa˜o acima ao limite, usando (2) e o Teorema do Confronto conclu´ımos que lim θ→0+ sen(θ) θ = 1. Para o ca´lculo do limite pela esquerda, vamos lembrar que a func¸a˜o seno e´ ı´mpar e usar a mudanc¸a de varia´veis β = −θ para obter lim θ→0− sen(θ) θ = lim β→0+ sen(−β) −β = limβ→0+ − sen(β) −β = limβ→0+ sen(β) β = 1. Como os dois limites laterais existem e sa˜o iguais a um, conclu´ımos que lim θ→0 sen(θ) θ = 1, conforme espera´vamos. O limite acima e´ conhecido como Limite Trigonome´trico Fundamental. Ele possui va´rias aplicac¸o˜es. Apresentamos duas delas nos exemplos a seguir. 2 Exemplo 1. Vamos determinar a reta tangente ao gra´fico da func¸a˜o cos(θ) no ponto P = (0, cos(0)). Para isto, vamos primeiro lembrar que a inclinac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico da func¸a˜o f(x) no ponto (a, f(a)) e´ dada pelo limite lim x→a f(x)− f(a) x− a . Fazendo f(θ) = cos(θ) e a = 0, somos levados a considerar lim θ→0 cos(θ)− cos(0) θ − 0 = limθ→0 cos(θ)− 1 θ . Observe que, no limite acima, numerador e denominador se aproximam de zero. Para elimi- nar a indeterminac¸a˜o, vamos multiplicar ambos pelo conjugado do numerador: cos(θ)− 1 θ = (cos(θ)− 1) θ (cos(θ) + 1) (cos(θ) + 1) = cos2(θ)− 1 θ(cos(θ) + 1) = − sen 2(θ) θ(cos(θ) + 1) , em que usamos a relac¸a˜o sen2(θ) + cos2(θ) = 1 na u´ltima igualdade. Assim, lim θ→0 cos(θ)− 1 θ = lim θ→0 [ −1 · sen(θ) θ · sen(θ) (cos(θ) + 1) ] = (−1) · 1 · 0 1 + 1 = 0. Portanto, a reta tangente tem inclinac¸a˜o nula. Uma vez que ela passa pelo ponto (0, cos(0)) = (0, 1), con- clu´ımos que ela e´ exatamente a reta horizontal y = 1, conforme ilustra a figura ao lado. ! Exemplo 2. Vamos calcular o limite lim x→0 sen(5x) x . Embora sejamos tentados a afirmar que ele vale 1, note que o numerador da frac¸a˜o e´ sen(5x), e na˜o sen(x). Para poder usar (1) vamos fazer a mudanc¸a y = 5x e observar que, quando x→ 0, temos que y → 0. Deste modo, podemos escrever lim x→0 sen(5x) x = lim x→0 5 · sen(5x) 5x = 5 · lim x→0 sen(5x) 5x = 5 · lim y→0 sen(y) y = 5 · 1 = 5. Note que o limite trigonome´trico fundamental foi utilizado na penu´ltima igualdade. ! 3 Tarefa Nesta tarefa vamos mostrar que lim θ→0 sen(θ) = 0, utilizando a a figura ao lado. 1. Lembrando que sen(θ) = AC, argumente como no texto para verificar que, se θ ∈ (0, π/2), enta˜o O A C B θ 0 < sen(θ) < θ. 2. Use o Teorema do Confronto para mostrar que lim θ→0+ sen(θ) = 0. 3. Lembrando que o seno e´ uma func¸a˜o ı´mpar, calcule o limite pela esquerda. 4. Use os dois itens acima para concluir que lim θ→0 sen(θ) = 0. 4 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Continuidade e o ca´lculo do imposto de renda Neste texto vamos introduzir um importante conceito, utilizando como motivac¸a˜o o ca´lculo do imposto de renda. Para simplificar a exposic¸a˜o e os ca´lculos, consideramos a situac¸a˜o de um pa´ıs imagina´rio, onde a moeda se chama cruzeta e o imposto e´ taxado segundo a regra abaixo. Regra do imposto: quem ganha ate´ 10 mil cruzetas e´ isento; quem ganha mais de 10 mil e ate´ 20 mil cruzetas paga 10% da renda de imposto; os demais pagam 20% da renda. Como a maneira de calcular 10 por cento de um nu´mero e´ multiplica´-lo por 10/100 = 0, 1, segue da regra acima que I(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20. Note que a expressa˜o que define I em cada uma das 3 faixas e´ uma func¸a˜o linear. Contudo, a func¸a˜o I comoum todo na˜o e´ uma func¸a˜o linear. Embora o gra´fico de I possa ser facilmente esboc¸ado, vamos continuar a nossa exposic¸a˜o analisando as propriedades da func¸a˜o I sem o seu gra´fico. Suponha que queremos saber o valor aproximado do imposto pago por um contribuinte que ganha aproximadamente 10 mil cruzetas. Olhando para a func¸a˜o fica claro que a resposta depende de uma informac¸a˜o extra, que e´ saber se o indiv´ıduo ganha mais ou menos de 10 mil. Se o contribuinte ganha um valor um pouco menor do que 10 mil, enta˜o e´ isento. Por outro lado, se ganha um pouco mais de 10 mil, enta˜o sera´ taxado em 10 por cento. Como a func¸a˜o do imposto tem comportamento diferente a` direita e a` esquerda de r = 10, vamos ter que lanc¸ar ma˜o de limites laterais: lim r→10− I(r) = lim r→10− 0 = 0, lim r→10+ I(r) = lim r→10+ (0, 1r) = 0, 1× 10 = 1. No primeiro limite acima consideramos a primeira faixa, porque r se aproxima por valores menores que 10. Ja´ no segunda, a faixa considerada foi a segunda, que e´ aquela de quem ganha um pouco mais de 10 mil. No ca´lculo do segundo limite lateral acima temos uma observac¸a˜o importante: ainda que a func¸a˜o I seja igual a zero em r = 10, a expressa˜o de 1 I(r) que usamos apo´s a primeira igualdade foi 0, 1r. Isso porque, no ca´lculo do limite pela direita, importa somente o que acontece com a func¸a˜o I para valores pro´ximos e maiores que 10. O valor de I no ponto r = 10 na˜o interfere no valor deste limite lateral. Conclu´ımos enta˜o que o o limite limr→10 I(r) na˜o existe, pois os limites laterais sa˜o diferentes. Esta na˜o existeˆncia pode ser facilmente percebida quando analisamos o gra´fico da func¸a˜o I, que esta´ esboc¸ado abaixo. Note que existe um salto no gra´fico no ponto r = 10. Quando nos aproximamos de 10 pela esquerda a func¸a˜o se aproxima de 0, porque e´ sempre nula. Quando nos aproxi- mamos pela direita, a func¸a˜o se aproxima de 1. Do ponto de vista matema´tico isso pode ser observado a partir do fato de que os limites laterais sa˜o distintos. A consequeˆncia disso e´ a na˜o existeˆncia do limite de I(r) quando r → 10. 10 20 1 4 Nesse ponto vale notar que o salto observado no gra´fico acima causa uma injustic¸a no ca´lculo do imposto. Para exemplificar, suponha que um contribuinte tenha uma renda de 10 mil cruzetas. Nesse caso, como e´ isento de imposto de renda, ele receberia uma valor l´ıquido de 10 mil cruzetas. Pore´m, um outro contribuinte que tem uma renda de 11 mil cruzetas (e que eventualmente trabalha melhor do que o primeiro) paga 1,1 mil cruzetas de imposto de renda, tendo enta˜o uma renda l´ıquida de 9,9 mil cruzetas! Para tentar corrigir a injustic¸a acima vamos fazer uma pequena mudanc¸a na regra da 2a faixa do imposto: Nova regra do imposto: quem ganha ate´ 10 mil cruzetas e´ isento; quem ganha mais de 10 mil e ate´ 20 mil cruzetas paga 10% da renda de imposto menos uma parcela fixa de c mil cruzetas; os demais pagam 20% da renda. Com essa nova regra, a func¸a˜o que calcula o imposto passa a ser I1(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r − c , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20, onde estamos denotando por I1 a func¸a˜o que calcula esse novo imposto. Observe que, para cada escolha do valor da deduc¸a˜o c, temos uma func¸a˜o diferente. Gostar´ıamos de escolher o paraˆmetro c de modo que a injustic¸a citada acima na˜o exista mais. Mais especificamente, queremos escolher o valor de c de modo a eliminar o salto no gra´fico de I1 no ponto r = 10. Para tanto, vamos calcular os limites laterais: lim r→10− I1(r) = lim r→10− 0 = 0, lim r→10+ I1(r) = lim r→10+ (0, 1r − c) = 1− c. 2 Para que exista o limite no ponto r = 10, os limites laterais devem existir e serem iguais. Logo, o valor da deduc¸a˜o c deve ser tal que 0 = 1 − c, ou seja, c = 1. Portanto, os contribuintes que esta˜o na 2a faixa devem pagar 10% de sua renda menos 1 mil cruzetas. 10 20 4 O gra´fico ao lado representa o novo imposto, cuja expressa˜o pode ser descrita como se segue: I1(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r − 1 , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r , se r > 20. Observe que na˜o ocorre mais aquele salto no ponto r = 10. Introduzimos abaixo um conceito matema´tico que serve para garantirmos que na˜o existem saltos ou quebras no gra´fico de func¸o˜es. Definic¸a˜o 1. Seja f uma func¸a˜o definida em um intervalo aberto contendo o ponto x = a. Dizemos que ela e´ cont´ınua neste ponto se lim x→a f(x) = f(a). Para que f seja cont´ınua em x = a, e´ necessa´rio que o ponto a esteja no domı´nio de f . Mais do que isso, como precisamos calcular limx→a f(x), e´ necessa´rio que o domı´nio de f contenha todo um intervalo aberto centrado no ponto x = a. Ale´m disso, e´ preciso que o limite exista e coincida com o valor da func¸a˜o f no ponto x = a. Exemplo 1. Vamos mostar que I1 e´ cont´ınua em r = 10. Para isto, primeiro temos que checar se o limite existe no ponto r = 10: lim r→10− I1(r) = lim r→10− 0 = 0, lim r→10+ I1(r) = lim r→10+ (0, 1r − 1) = 1− 1 = 0. Como os limites laterais existem e sa˜o iguais, conclu´ımos que o limite existe e e´ igual a 0. Ale´m disso, como I(10) = 0, temos que lim r→10 I1(r) = 0 = I(10), o que mostra que I1 e´ cont´ınua em r = 10. ! Exemplo 2. A cointinuidade em r = 15 e´ mais simples de ser verificada, pois nem precisamos de limites laterais: lim r→15 I1(r) = lim r→15 (0, 1r − 1) = 0, 5 = I1(15). 3 Por outro lado, no ponto r = 20 a func¸a˜o na˜o e´ cont´ınua. De fato, lim r→20− I1(r) = lim r→20− (0, 1r − 1) = 1, lim r→20+ I1(r) = lim r→20+ 0, 2r = 4. Como os limites laterais sa˜o diferentes na˜o existe o limite. Assim, I1 na˜o e´ cont´ınua em r = 20. ! Poder´ıamos nos questionar sobre a continuidade no ponto r = 0. Neste caso, na˜o podemos calcular o limite quando r → 0, pois a func¸a˜o na˜o esta´ definida a` esquerda de r = 0. Vamos precisar de um conceito que deˆ conta de casos como este. A definic¸a˜o de continuidade apresentada acima na˜o se aplica em pontos que sa˜o a extre- midade de intervalos do tipo [a, b), (a, b], (−∞, b] ou [a,+∞). Para contornar este problema, dizemos que a func¸a˜o e´ cont´ınua numa extremidade de um intervalo se o valor da func¸a˜o nessa extremidade for igual ao limite lateral adequado naquele ponto. Exemplo 3. A func¸a˜o I1 e´ cont´ınua no ponto r = 0, pois lim r→0+ I1(r) = lim r→0+ 0 = 0 = I(0). Destacamos novamente que, aqui, so´ podemos calcular o limite no ponto r = 0 pela direita, pois a func¸a˜o na˜o esta´ definida para r < 0. ! Os argumentos apresentados nos exemplos acima nos permitem concluir que a func¸a˜o I e´ cont´ınua em todos os pontos do seu domı´nio, exceto no ponto r = 20. Na sua tarefa voceˆ vai introduzir uma deduc¸a˜o na 3a faixa para eliminar esta descontinuidade. Finalizamos considerando o ca´lculo do imposto de renda no Brasil. A metodologia e´ ana´loga a` descrita acima, com a diferenc¸a que temos aqui 5 faixas, ao inve´s de 3. A tabela abaixo (que reflete o ano base de 2014 e esta´ expressa em reais) apresenta os valores referentes a cada uma dessas faixas. Deixamos como exerc´ıcio para o leitor obter a expressa˜o da func¸a˜o I(r) que calcula o imposto em func¸a˜o da renda, bem como a verificac¸a˜o de que as parcelas de deduc¸a˜o foram escolhidas pelo governo de modo a tornar a func¸a˜o cont´ınua em todos os pontos, evitando assim os saltos no gra´fico e as decorrentes injustic¸as. Renda Al´ıquota Deduc¸a˜o Ate´ R$ 1.787,77 (isento) (isento) De R$ 1.787,78 ate´ R$ 2.679,29 7,5% R$ 134,08 De R$ 2.679,30 ate´ R$ 3.572,43 15% R$ 335,03 De R$ 3.572,44 ate´ R$ 4.463,81 22,5% R$ 602,96 Acima de R$ 4.463,81 27,5% R$ 825,15 4 Tarefa Vimos no texto que afunc¸a˜o I1 na˜o e´ cont´ınua no ponto r = 20. Essa descontinuidade causa, novamente, uma injustic¸a para com os contribuintes que ganham um pouco mais de 20 mil cruzetas. Nessa tarefa vamos introduzir uma parcela de deduc¸a˜o na 3a faixa de modo a compensar essa injustic¸a. Considerando enta˜o a (nova) func¸a˜o para o ca´lculo do imposto definida abaixo I2(r) = ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 0 , se 0 ≤ r ≤ 10, 0, 1r − 1 , se 10 < r ≤ 20, 0, 2r − b , se r > 20, resolva os itens a seguir: 1. Calcule os limites laterais no ponto r = 20; 2. Determine o valor de b ∈ R, de modo que I2 seja cont´ınua no ponto r = 20; 3. Fac¸a um esboc¸o do gra´fico de I2. 5 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Exemplos de func¸o˜es cont´ınuas Comec¸amos lembrando que a func¸a˜o f e´ cont´ınua em um ponto a no interior do seu domı´nio quando lim x→a f(x) = f(a). Se a func¸a˜o e´ definida em um intervalo do tipo [a, b], dizemos que ela e´ cont´ınua em x = a e/ou x = b se lim x→a+ f(x) = f(a) e/ou lim x→b− f(x) = f(b), pois, neste caso, na˜o faz sentido fazer x→ a ou x→ b, visto que so´ podemos nos aproximar destes pontos por um dos lados. Quando a func¸a˜o f e´ cont´ınua em todos os pontos do seu domı´nio dizemos somente que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua. No que se segue, apresentamos alguns exemplos de func¸o˜es cont´ınuas. Exemplo 1. Para qualquer c ∈ R temos que lim x→a c = c, e portanto a func¸a˜o constante f(x) = c e´ cont´ınua. ! Exemplo 2. Se p(x) = b0 + b1x+ · · ·+ bnxn e´ um polinoˆmio, enta˜o lim x→a p(x) = lim x→a (b0 + b1x+ · · ·+ bnx n) = b0 + b1a+ · · ·+ bna n = p(a), o que mostra que todo polinoˆmio e´ uma func¸a˜o cont´ınua. ! Exemplo 3. Uma func¸a˜o racional e´ uma func¸a˜o definida como o quociente de dois po- linoˆmios. Se p(x) e q(x) sa˜o polinoˆmios e q(a) ̸= 0, enta˜o podemos aplicar a regra do quociente para obter lim x→a p(x) q(x) = p(a) q(a) . Uma vez que dom(p/q) = {x ∈ R : q(a) ̸= 0}, conclu´ımos que toda func¸a˜o racional e´ cont´ınua. ! O resultado a seguir e´ uma consequeˆncia das propriedades de limite. Ele nos permite construir va´rios outros exemplos de func¸o˜es cont´ınuas a partir dos 3 acima. 1 Teorema 1. Se f e g sa˜o cont´ınuas no ponto x = a, enta˜o sa˜o tambe´m cont´ınuas neste ponto as func¸o˜es 1. (f + g)(x) = f(x) + g(x); 2. (f − g)(x) = f(x)− g(x); 3. (f · g)(x) = f(x) · g(x); 4. (f/g)(x) = f(x) g(x) , desde que g(a) ̸= 0. Em resumo, as operac¸o˜es ba´sicas entre func¸o˜es cont´ınuas resultam em func¸o˜es cont´ınuas. Uma vez que a prova do teorema e´ bem simples, vamos considerar somente o item 1, deixando os demais para o leitor. Como f e g sa˜o cont´ınua em x = a temos que lim x→a f(x) = f(a), lim x→a g(x) = g(a). Assim lim x→a [f(x) + g(x)] = lim x→a f(x) + lim x→a g(x) = f(a) + g(a) = (f + g)(a), o que mostra que f + g e´ cont´ınua em x = a. A prova dos outros itens pode ser feita de maneira ana´loga. Destacamos somente que, no item 4, estamos supondo g(a) ̸= 0 para que possamos aplicar a regra do quociente para limites. De fato, se g(a) = 0, a func¸a˜o f/g na˜o esta´ definida no ponto x = a. Exemplo 4. Lembremos que lim θ→0 sen(θ) = 0 = sen(0), lim θ→0 cos(θ) = 1 = cos(0), o que mostra que o seno e o coseno sa˜o cont´ınuos no ponto θ = 0. Considerando agora um ponto qualquer a ∈ R, podemos usar o fo´rmula do seno de uma soma e a mudanc¸a de varia´veis θ = x− a, para obter lim x→a sen(x) = lim θ→0 sen(θ + a) = lim θ→0 [sen(θ) cos(a) + sen(a) cos(θ)] = sen(0) · cos(a) + sen(a) cos(0) = sen(a), e portanto o seno e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Voceˆ vai verificar na sua tarefa que as demais func¸o˜es trigonome´tricas sa˜o tambe´m cont´ınuas. ! 2 Exemplo 5. Embora na˜o possamos ainda demonstrar, vamos registrar aqui que as func¸o˜es exponencial e logaritmo sa˜o tambe´m cont´ınuas. Isso significa que lim x→a ex = ea, lim x→b ln(x) = ln(b), para todos a ∈ R e b > 0. ! O pro´ximo resultado mostra que a composic¸a˜o de func¸o˜es cont´ınuas e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Teorema 2. Se g e´ cont´ınua no ponto x = a, e f e´ cont´ınua no ponto y = g(a), enta˜o a func¸a˜o composta (f ◦ g)(x) = f(g(x)) e´ cont´ınua no ponto x = a. Intuitivamente, o que ocorre no teorema acima e´ o seguinte: quando x se aproxima de a, os valores y = g(x) se aproximam de g(a), porque g e´ cont´ınua em x = a. Por outro lado, como f e´ cont´ınua em g(a), a` medida em que os valores y = g(x) se aproximam de g(a), os valores f(y) = f(g(x)) se aproximam de f(g(a)). Portanto, a composic¸a˜o de func¸o˜es cont´ınuas e ainda uma func¸a˜o cont´ınua. Exemplo 6. Neste exemplo final vamos considerar a func¸a˜o f(x) = { x2 sen(1/x), se x ̸= 0, 0, se x = 0, que ja´ foi alvo de nosso estudo em um texto anterior. Observe que ela esta´ definida em toda a reta. Dado a ̸= 0, sabemos qua a func¸a˜o 1/x e´ cont´ınua em x = a. Como o seno e´ cont´ınuo, conclu´ımos que sen(1/x) e´ cont´ınua em x = a. O mesmo ocorre para x2, de modo que f e´ cont´ınua em todo ponto a ̸= 0 por ser o produto de duas func¸o˜es cont´ınua neste ponto. A parte mais delicada e´ o estudo da continuidade no ponto x = 0. Observe que lim x→0 f(x) = lim x→0 x2 sen(1/x) = 0 = f(0), o que mostra que f e´ tambe´m cont´ınua em x = 0. Na penu´ltima desigualdade acima o ca´lculo do limite foi feito utilizando-se o Teorema do Confronto, conforme o texto em que apresentamos as propriedades ba´sicas do limite. ! 3 Tarefa Vimos no texto que a func¸a˜o seno e´ cont´ınua. Nesta tarefa vamos provar a continuidade das demais func¸o˜es trigonome´tricas. 1. Utilize a fo´rmula cos(θ + a) = cos(θ) cos(a)− sen(θ) sen(a) e a mesma mudanc¸a de varia´veis do Exemplo 4 do texto para verificar que lim x→a cos(x) = cos(a), e concluir que a func¸a˜o coseno e´ cont´ınua em todo ponto a ∈ R. 2. Use agora o Teorema 1 do texto para mostra que sa˜o cont´ınua as demais func¸o˜es trigonome´tricas, a saber tan(x) = sen(x) cos(x) , sec(x) = 1 cos(x) , csc(x) = 1 sen(x) , cot(x) = 1 tan(x) . 4 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 O Teorema do Valor Intermedia´rio Suponha que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua em todo o intervalo fechado [a, b]. Isto significa que, para todo c ∈ (a, b), temos que limx→c f(x) = f(c). Nas extremidades do intervalo o conceito de continuidade se expressa atrave´s de limites laterais: lim x→a+ f(x) = f(a), lim x→b− f(x) = f(b). Para fixar ideias vamos supor que f(a) < f(b) e considerar um nu´mero y0 tal que f(a) < y0 < f(b). A reta horizontal y = y0 divide o plano cartesiano em dois pedac¸os disjuntos: um deles, que chamaremos de R+, conte´m todos os pontos que ficam acima da reta e o outro, que chamaremos R−, conte´m os pontos que ficam abaixo da reta. Como f(a) < y0 < f(b), devemos ter A = (a, f(a)) ∈ R−, B = (b, f(b)) ∈ R+. O gra´fico de f e´ uma curva cont´ınua ligando estes pontos. Assim, e´ natural afirmar que esta curva precisa tocar a reta horizontal em algum ponto (x0, y0). Este ponto pertence ao gra´fico, de modo que f(x0) = y0 (veja a Figura 1 a seguir). Em outras palavras, ”se voceˆ esta´ dentro de uma sala que na˜o tem janelas e tem somente uma porta, a u´nica maneira de sair da sala e´ passando pela porta...” O argumento geome´trico que usamos acima pode ser formalizado matematicamente. A sua conclusa˜o e´ um importante resultado que enunciamos abaixo. Teorema 1 (Teorema do Valor Intermedia´rio). Suponha que f e´ uma func¸a˜o cont´ınua no intervalo fechado [a, b]. Se y0 e´ um valor entre f(a) e f(b), enta˜o existe pelo menos um x0 ∈ [a, b] tal que f(x0) = y0. a x0 b f(a)y0 f(b) Figura 1: f(a) < f(b) a x0 b f(b) y0 f(a) Figura 2: f(a) > f(b) 1 No enunciado acima, como na˜o estamos supondo f(a) < f(b), a frase “entre f(a) e f(b)” deve ser entendida como entre o menor e o maior deles. As figuras acima ilustram primeiro os casos f(a) < f(b) e, em seguida, o caso f(a) > f(b). Se tivermos f(a) = f(b), enta˜o a u´nica opc¸a˜o seria y0 = f(a), e neste caso o teorema claramente e´ verdadeiro bastando tomarmos x0 = a, por exemplo. Antes de apresentar aplicac¸o˜es vamos destacar que a conclusa˜o do teorema pode ser falsa se a func¸a˜o f na˜o for cont´ınua. Um exemplo simples e´ a func¸a˜o f(x) = { x, se x ∈ [0, 2] \ {1}, 2, se x = 1. Esta func¸a˜o (descont´ınua) esta´ definida no intervalo [0, 2] e cumpre f(0) = 0 < 1 < 2 = f(2). No entanto, na˜o existe nenhum elemento x0 ∈ [0, 2] tal que f(x0) = 1. 1 2 1 2 No que se segue apresentamos alguns exemplos ilustrando a aplicac¸a˜o do TVI-Teorema do Valor Intermedia´rio. Exemplo 1. Vamos usar o TVI para encontrar aproximac¸o˜es para uma raiz da func¸a˜o f(x) = x3 − 2x2 − 4x− 2. Uma conta simples mostra que f(2) = −10, de modo que o ponto (2, f(2)) esta´ abaixo do eixo Ox. Por outro lado, como f(6) = 118, o ponto (6, f(6)) se situa acima do eixo Ox. Sendo f cont´ınua, o seu gra´fico deve ligar esses dois pontos com uma curva suave, sem saltos. A curva deve enta˜o interceptar o eixo Ox em um ponto cuja abscissa e´ uma raiz de f(x). Vamos colocar as coisas na notac¸a˜o do teorema: a func¸a˜o f e´ cont´ınua no intervalo [2, 6], por ser um polinoˆmio. Ale´m disso, se considerarmos d = 0, temos que f(2) = −10 < d < 118 = f(6). Segue do Teorema 1 que existe x0 ∈ [2, 6] tal que f(x0) = d = 0. Logo, a func¸a˜o f possui pelo menos uma raiz no intervalo [2, 6]. Observe que o teorema na˜o nos permite encontrar a raiz. Contudo, como sabemos que no intervalo [2, 6] existe uma raiz, podemos dizer que x = 4 e´ uma raiz aproximada. Nesta aproximac¸a˜o, estamos cometendo um erro de no ma´ximo 2. Isso significa que, partindo da posic¸a˜o x = 4, se andarmos 2 unidades para a esquerda ou 2 unidades para o direita 2 certamente encontraremos uma raiz. Para a aproximac¸a˜o, escolhemos o ponto me´dio do intervalo [2, 6], que e´ exatamente x = 4. Se voceˆ considera que um erro de tamanho 2 na˜o e´ aceita´vel, pode melhorar a aproximac¸a˜o usando o TVI mais uma vez: calculamos f(4) = 14 e percebemos que x = 4 na˜o e´ uma raiz. Se considerarmos o intervalo [4, 6], temos que f(4) e f(6) sa˜o positivos. Assim, pode ser que o gra´fico na˜o cruze o eixo Ox quando ligamos os pontos (4, (f4)) e (6, f(6)). Pore´m, olhando para o outro extremo do intervalo [2, 6], temos que f(2) = −10 < 0 < 14 = f(4), e portanto o TVI nos garante que existe uma raiz no intervalo [2, 4]. Procedendo como antes, podemos considerar x = 3 (que e´ o ponto me´dio do intervalo [2, 4]) como raiz aproximada. O erro cometido agora e´ de no ma´ximo 1. 1 2 3 4 5 6 O processo acima pode ser continuando de modo a diminuir o erro o tanto que quisermos. A cada novo passo, o erro se reduz pela metade. Por exemplo, se fizermos mais um passo, temos que f(3) = −5 < 0 < 14 = f(4), e portanto existe raiz no intervalo [3, 4]. A raiz aproximada seria x = 3+ 1/2 e o erro ma´ximo seria igual a 1/2. Na figura abaixo voceˆ pode conferir o gra´fico da func¸a˜o no intervalo [0, 6]. Finalizamos o exemplo observando que, para o passo inicial do processo acima, e´ ne- cessa´rio descobrir valores a e b tais que os sinais de f(a) e f(b) sa˜o contra´rios. Embora isto possa parecer complicado e arbitra´rio, voceˆ deve concordar que e´ mais fa´cil do que tentar encontrar a raiz diretamente, ainda mais no caso em que a expressa˜o da func¸a˜o f e´ muito complicada. ! Exemplo 2. Vamos verificar que a equac¸a˜o 3 √ x = 1− x possui pelo menos uma soluc¸a˜o. Para tanto, observe inicialmente que as soluc¸o˜es da equac¸a˜o acima sa˜o precisamente as ra´ızes da func¸a˜o f(x) = 3 √ x− 1 + x. Como f(0) = −1 < 0 < 1 = f(1), o TVI implica a existeˆncia de uma raiz no intervalo [0, 1], ou seja, a equac¸a˜o em questa˜o possui uma soluc¸a˜o neste intervalo. Se quisermos, podemos fazer aproximac¸o˜es desta soluc¸a˜o procedendo como no Exemplo 1. ! 3 Exemplo 3. Suponha que a Terra seja redonda e considere P0 um ponto qualquer na sua superf´ıcie. A semi-reta que liga P0 ao centro da terra fura a superf´ıcie em outro ponto P ′0, que chamamos de ant´ıpoda do ponto P0. Vamos usar o TVI para provar o seguinte fato curioso: em qualquer instante de tempo, existe um ponto sobre o equador da Terra cuja temperatura e´ a mesma do seu ponto ant´ıpoda. Seja enta˜o P0 um ponto fixo em cima do equador e O o centro da terra. Dado outro ponto Pθ sobre o equador, os segmentos OP0 e OPθ formam um aˆngulo θ ∈ (0, 2π), que vamos associar ao ponto Pθ. Desta forma, podemos construir uma func¸a˜o T : [0, 2π]→ R da seguinte forma T (θ) = { temperatura no ponto Pθ, se 0 < θ < 2π, temperatura no ponto P0, se θ ∈ {0, 2π}. P0 P ′0 Pθ θ O A intuic¸a˜o f´ısica nos permite afirmar que a func¸a˜o T e´ cont´ınua, porque pontos pro´ximos na superf´ıcie da terra teˆm temperaturas pro´ximas. Vamos considerar agora a func¸a˜o cont´ınua g(θ) = T (θ)− T (θ + π), ∀ θ ∈ [0, π], que mede a diferenc¸a de temperatura entre dois pontos ant´ıpodas. Note que g(0) = T (0)− T (π), g(π) = T (π)− T (2π) = T (π)− T (0) = −g(0). Se g(0) = 0, enta˜o a temperatura nos pontos P0 e Pπ sa˜o guais. Caso contra´rio, devemos ter g(0) ̸= 0. Neste caso, como g(π) = −g(0), os sinais de g(0) e g(π) sa˜o opostos. Segue enta˜o do TVI que g(θ0) = 0 par algum θ0 ∈ (0, π). Assim, os pontos Pθ0 e Pθ0+π esta˜o sob a mesma temperatura. O argumento acima permanece va´lido para qualquer outra medida escalar que varia continuamente sobre a superf´ıcie da Terra, por exemplo, a pressa˜o, ou a elevac¸a˜o. Ale´m disso, na˜o precisamos nos deslocar sobre o equador, mas sim sobre qualquer c´ırculo ma´ximo, por exemplo todas aquelas imagina´rias que determinam a longitude de um ponto na superf´ıcie terrestre. ! 4 Tarefa Um ponto fixo de uma func¸a˜o e´ um ponto x0 ∈ dom(f) tal que f(x0) = x0. Nem toda func¸a˜o possui pontos fixos, e o leitor esta´ convidado a exibir uma que na˜o possua. O resultado abaixo exibe uma classe de func¸o˜es para os quais podemos afirmar que eles existem. Teorema 2. Se f : [0, 1]→ [0, 1] e´ cont´ınua, enta˜o f possui pelo menos um ponto fixo. O resultado acima e´ um caso particular do importante Teorema do Ponto Fixo de Brower. Nesta tarefa, vamos provar este caso particular atrave´s dos seguintes passos. 1. Desenhe, em um mesmo plano cartesiano, o gra´fico da func¸a˜o h(x) = x e de uma poss´ıvel func¸a˜o cont´ınua f : [0, 1] → [0, 1], para se convencer graficamente da veraci- dade do teorema; 2. Explique por que a func¸a˜o g(x) = x − f(x) e´ cont´ınua em [0, 1] e por que as suas (poss´ıveis) ra´ızes sa˜o exatamente os pontos fixos de f ; 3. Apo´s verificar que g(0) ≤ 0 ≤ g(1), use o TVI para concluir que f possui pelo menos um ponto fixo. 5 Universidade de Bras´ılia Departamento de Matema´tica Ca´lculo 1 Volume de um ga´s em um pista˜o Suponha que um ga´s e´ mantido a uma temperatura constante em um pista˜o. A` medida que o pista˜o e´ comprimido, o volume do ga´s decresce com a func¸a˜o V (p) = 200/p litros, ate´ atingir a pressa˜o cr´ıtica de 100 torr, quando ele se liquidifica, havendo nesse momento uma variac¸a˜o brusca de volume. Em seguida, o seu volume passa a ser dado pela func¸a˜o V (p) = −0, 01p+2, ate´ que seja atingida a nova pressa˜o cr´ıtica de 150 torr, a partir da qual o volume permanece constante e igual a 0, 5 litro. A partir das informac¸o˜es acima, podemos concluir que V (p)= ⎧⎪⎨ ⎪⎩ 200/p, se 0 < p ≤ 100, −0, 01p+ 2, se 100 < p ≤ 150, 1/2, se 150 < p. Queremos estudar o comportamento de V quando p esta´ pro´ximo de zero. Para tanto, precisamos estudar o limite lim p→0+ V (p). Note que so´ faz sentido tomar o limite lateral pela direita, pois a func¸a˜o na˜o esta´ definida para valores negativos de p. Observe ainda que, no ca´lculo do limite lim p→0+ 200/p, na˜o podemos simplesmente substituir o valor p = 0, pois isso anularia o denominador. Ale´m disso, a expressa˜o de V na˜o sugere nenhum tipo de fatorac¸a˜o ou simplificac¸a˜o que nos permita contornar o fato do denominador aproximar-se de zero. De fato, o problema aqui e´ que o denominador se aproxima de zero, enquanto o numerador se aproxima de uma nu´mero na˜o nulo (que e´ 200). Para entender o que acontece com a frac¸a˜o vamos olhar para a tabela abaixo, que apre- senta o valor da pressa˜o V (p) alguns valores p pro´ximos de zero: p 1 0, 1 0, 01 0, 001 10−n V (p) 200 2.000 20.000 200.000 2× 10n+2 em que n ∈ N e´ um nu´mero natural. Observe que, a` medida em que p se aproxima de 0 (pela direita), os valores V (p) se tornam cada vez maiores. Escrevemos enta˜o lim p→0+ V (p) = lim p→0+ 200 p = +∞. A expressa˜o acima indica que a func¸a˜o V assume valores arbitrariamente grandes desde que p esteja suficientemente pro´ximo de 0. Para ilustrar isso, suponha que queremos garantir que o volume fique maior do que 1 bilha˜o de litros. Para tanto, devemos ter V (p) = 200 p > 109 ⇐⇒ p× 109 < 2× 102 ⇐⇒ p < 2× 10−7. 1 Assim, o volume ultrapassa o valor de 1 bilha˜o de litros sempre que a pressa˜o p satisfaz 0 < p < 2× 10−7. O comportamento de V pro´ximo aos pontos p = 100 e p = 150 pode ser facilmente determinado a partir dos limites laterais nestes pontos: lim p→100− V (p) = 2, lim p→100+ V (p) = 1, lim p→150− V (p) = 1/2, lim p→150+ V (p) = 1/2. Note que na˜o existe o limite em p = 100, e portanto V na˜o e´ cont´ınua neste ponto. Este fato esta´ relacionado com a variac¸a˜o brusca de volume citada no texto. Para fazer um esboc¸o do gra´fico de V vamos observar que, para 0<p≤100, a func¸a˜o tem a expressa˜o de uma hipe´rbole. Nas demais sentenc¸as da definic¸a˜o de V , temos equac¸o˜es de retas. Recordando os conhecimentos de geometria anal´ıtica do ensino me´dio e usando as informac¸o˜es acima, podemos esboc¸ar o gra´fico de V como na figura ao lado. 100 150 p 1 2 V De uma maneira geral, suponha que uma func¸a˜o f esta´ definida em um intervalo aberto contendo a, exceto possivelmente em x = a. Escrevemos lim x→a f(x) = +∞, (1) para representar o fato de que, quando x vai se tornando pro´ximo de a, os valores f(x) va˜o se tornando cada vez maiores. A expressa˜o acima deve ser lida da seguinte maneira: o limite de f(x), quando x tende para a, e´ infinito. De maneira ana´loga, podemos definir lim x→a f(x) = −∞, lim x→a± f(x) = ±∞, lim x→a± f(x) = ∓∞. Quando ocorre (1) ou qualquer um dos casos acima, dizemos que a reta x = a e´ uma ass´ıntota vertical da func¸a˜o f . Vale observar que, quando escrevemos lim x→a f(x) = +∞ (ou qualquer outra das igualdades acima), na˜o estamos falando que o limite existe. Para que ele exista e´ preciso que a func¸a˜o se aproxime de um nu´mero. O que ocorre neste caso e´ que o limite na˜o existe mas, apesar disso, sabemos que a func¸a˜o toma valor muito grandes quando x esta´ pro´ximo de a. Outra observac¸a˜o importante e´ que, se uma func¸a˜o e´ cont´ınua no ponto a, a reta x = a na˜o pode ser uma ass´ıntota vertical da func¸a˜o, pois lim x→a f(x) = f(a). Assim, quando vamos procurar as ass´ıntota verticais de uma func¸a˜o, temos que descartar todos os valores onde a func¸a˜o e´ cont´ınua. 2 Exemplo 1. Para a func¸a˜o V (p) do in´ıcio do texto temos que a reta x = 0 e´ uma ass´ıntota vertical, visto que limp→0+ V (p) = +∞. Geometricamente, o que acontece e´ que o gra´fico de V se aproxima do eixo das ordenadas quando p → 0+, conforme pode ser observado no gra´fico da pa´gina anterior. Vale notar que, mesmo que na˜o possamos calcular o limite limp→0− V (p), o fato do limite pela direita ser infinito ja´ implica que a reta x = 0 e´ uma ass´ıntota vertical. ! Exemplo 2. Sejam f e g as func¸o˜es cujos gra´ficos esta˜o indicados pelas Figuras 1 e 2 abaixo, respectivamente. x y −1 Figura 1 x y −1 1 π/2 −π/2 Figura 2 Observe que lim x→0− f(x) = −∞, de modo que a reta x = 0 e´ uma ass´ıntota vertical da func¸a˜o f . No caso desta func¸a˜o, temos tambe´m que lim x→0+ f(x) = +∞. Pore´m, somente a informac¸a˜o do limite pela esquerda ja´ seria suficiente para determinar a ass´ıntota vertical. Para a func¸a˜o g da Figura 2 temos que lim x→−π/2 g(x) = −∞ e lim x→π/2 g(x) = +∞, e portanto a func¸a˜o possui as ass´ıntotas verticais x = −π/2 e x = π/2. ! Suponha que lim x→a f(x) = L e lim x→a g(x) = M . Se M ̸= 0 segue facilmente da regra do quociente que lim x→a f(x)/g(x) = L/M . Se M = 0 temos duas possibilidade: quando L = 0 ocorre uma indeterminac¸a˜o do tipo 0/0 e, conforme ja´ vimos, o ca´lculo do limite exige algum tipo de manipulac¸a˜o alge´brica. O caso complementar, em que L ̸= 0 e M = 0, nos fonece uma ass´ıntota vertical, desde que o denominador tenha sinal definido nas proximidades de x = a. Quando isto ocorre, este sinal vai determinar se o limite e´ +∞ ou −∞. O exemplo seguinte esclarece como isso pode ser feito. Exemplo 3. Vamos estudar o comportamento da func¸a˜o f(x) = (x2 + x − 3)/(1 − x) nas vizinhanc¸as do ponto x = 1. Quando x→ 1−, o numerador se aproxima de 12+1− 3 = −1, enquanto o denominador se aproxima de zero por valores positivos, pois devemos considerar 3 x < 1. Deste modo, a frac¸a˜o deve ter sinal negativo, o que nos leva a concluir que lim x→1− x2 + x− 3 1− x = −∞. Por outro lado, quando x→ 1+, o denominador se aproxima de zero por valores positivos. 1 x y A frac¸a˜o enta˜o torna-se positiva, de modo que lim x→1+ x2 + x− 3 1− x = +∞. Qualquer dos limites laterais acima implicam que a reta x = 1 e´ uma ass´ıntota vertical, conforme pode-se perceber do gra´fico ao lado. ! Pode ocorrer de, quando x → a, oo numerador se aproximar de um nu´mero na˜o nulo, o denominador de zero e mesmo assim na˜o termos uma ass´ıntota vertical em x = a. Um exemplo curioso deste fato e´ a func¸a˜o f(x) = 1 x2 sen( 1x) . O denominador se aproxima de zero mas o seu sinal fica oscilando entre negativo e positivo, por causa do termo que envolve o seno. Deste modo, a func¸a˜o assume valor que, em mo´dulo, va˜o ficando muito grande. Mas o seu sinal tambe´m oscila entre negativo e positivo. E´ importante notar que encontrar ass´ıntotas verticais na˜o e´ o mesmo que igualar o denominador de uma frac¸a˜o a zero! Ao fazer isso, encontrarmos somente os can- didatos a` ass´ıntotas verticais. E´ necessa´rio checar se, de fato, a func¸o˜es tem algum limite lateral infinito quando x tende para a raiz do denominador. O exemplo abaixo ilustra esta importante observac¸a˜o. Exemplo 4. O denominador da func¸a˜o g(x) = (x+1)/(x2− x− 2) se anula para x = −1 e x = 2. Logo, temos dois candidatos a` ass´ıntotas verticais. Para x = −1 temos que lim x→−1 g(x) = lim x→−1 x+ 1 x2 − x− 2 = limx→−1 (x+ 1) (x− 2)(x+ 1) = − 1 3 , de modo que x = −1 na˜o e´ ass´ıntota vertical! 4 Por outro lado, procedendo como no exemplo anterior, podemos calcular lim x→2± g(x) = lim x→2± 1 (x− 2) = ±∞, e portanto x = 2 e´ ass´ıntota vertical. O gra´fico de f esta´ esboc¸ado ao lado. ! 1 2 x y Tarefa Determine todas as ass´ıntotas verticais da func¸a˜o f(x) = ⎧⎪⎪⎨ ⎪⎪⎩ x− 4√ x− 2 , se x ≥ 0, x ̸= 4, x+ 1 3 √ x , se x < 0. 5
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