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CQ167, Aula #2 * Atomismo e a Ciência Química Joaquim Delphino Da Motta Neto Departamento de Química, Cx. Postal 19081 Centro Politécnico, Universidade Federal do Paraná (UFPR) Curitiba, PR 81531-990, Brasil CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * O Atomismo é o pilar filosófico da Química. Nesta parte da disciplina estudaremos duas manifestações principais do Atomismo: a estequeometria e a teoria quântica. Antes de começarmos, é interessante usarmos uma aula para rever a História do desenvolvimento destas idéias... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Resumo Atomismo (Leucipo e Demócrito, séc. V A.C.) Alquimia do século XVII: Boyle e Newton Hipótese do flogisto (Becher, 1669) Lei das Proporções Definidas (Proust, 1794) Novo Sistema de Filosofia Química (1808) Periodicidade (Mendeleev, 1869) Mecânica Quântica (1905-1926) Conclusões CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * O que é Química ?... É uma ciência de descrição da Natureza. Como Geologia, Música, Filosofia, Botânica, Astrofísica, Medicina etc. De onde ela veio? Quais são suas bases filosóficas? CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Babilônia CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A primeira pergunta que devemos responder é, qual é o interesse que tinham aqueles povos para estudar Ciência (Física ou Química ou Matemática) ? Para que estudar a Natureza? CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A resposta é tão simples quanto inesperada: Para prever o futuro! CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Os sacerdotes babilônios e seus mestres acreditavam que os movimentos do Sol, da Lua e dos planetas prediziam o que aconteceria na Terra. Eles observaram estes movimentos acumularam registros notaram padrões periódicos tentaram exprimir estes padrões em fórmulas matemáticas simples. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Grécia, séculos VI e V A.C. Tales de Mileto, Anaximander e Anaximenes tentaram um novo estilo de Cosmologia. A tentativa de expurgar arbitrariedade e incoerência das explicações levou à concepção de um Universo uniforme, infinito no espaço e no tempo, isotrópico e homogêneo. Começando com Heráclito, o empreendimento cosmológico original foi submetido a críticas e consequentemente foi retrabalhado... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Parmênides (510 A.C. - ?) O fundador da Filosofia Metafísica, argumentou que por sua própria definição a não-existência kenóthta (o “vazio”) ou tipota (o “nada”) não pode existir. E como kenó cwro (o espaço vazio) é nada, o espaço também não pode existir. Como a existência de múltiplas coisas separadas exige um espaço entre elas, então “tudo é um”. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Zeno (450 A.C. - ?) de “estar em um lugar” para a situação de “não estar mais naquele lugar”, então o movimento não existe. Isto é importante porque em conseqüência não existem o tempo, a velocidade e o espaço! O discípulo mais próximo de Parmênides, negou a idéia de movimento completamente. Se kinhsh (o “movimento”) é definido como a passagem de um corpo da situação CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Aquiles e a tartaruga CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A principal conclusão da Escola Eleática foi a de que não podemos confiar nos aisqhsh (sentidos) para avançar na gnwsewn (conhecimento), por isso nem valeria a pena realizar qualquer experimento! CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Este era um problema sério para os filósofos da época. Este impasse ameaçou o progresso da nascente Filosofia Natural até que... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Leucipo Resolveu o problema quando reconheceu que a proposta de Parmênides era ambígua. Se significa que não existe “parte do que é” que “não é”, tudo bem. É claramente verdade. Mas se significa que não existe “parte do que é” que “está vazia”, então a conclusão não é mais tão óbvia. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Demócrito (460 – 370 A.C.) Um aluno de Leucipo, sistematizou e propagou as idéias do mestre. Foi ignorado em Atenas, embora sua obra tenha sido bastante comentada por Aristóteles. Negou a premissa original de que tou (“ser”) é idêntico a plhróthta (“ocupação completa”, ou no inglês fullness ). CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Alegoria da maçã A maçã pode ser “cortada” por que existem kenó cwro (“espaços vazios” ) entre seus pedaços. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Atomismo Átomos e vazio são tudo o que existe. Existe um número muito grande de minúsculas partículas que não podem ser cortadas, daí a palavra átomo ( indivisível). Átomos se movimentam caoticamente, e são pequenos demais para serem vistos. Esta idéia poderosa atravessou os séculos até os nossos dias. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * O Universo dos atomistas CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A chamada “hipótese atomística” atravessou os séculos e foi repetidamente explorada por diversos filósofos, inclusive hindus e árabes. Como não podia ser testada, permaneceu quase inalterada até o começo do século XIX. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Renascença Além do interesse no oculto e no fantástico, havia um crescente interesse no Platonismo. A visão Platônica de que a Natureza é na essência matemática, e portanto construída de acordo com relações matemáticas definidas, se tornou rapidamente aceita. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Muito bem. Então toda a matéria do Universo é feita de pequenos bloquinhos, os “átomos”. Como são eles? Quantos tipos há? São todos iguais ou diferentes? CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Alquimia dos Séculos XV e XVI Os trabalhos eram restritos aos mosteiros e laboratórios particulares. Os alquímicos eram freqüentemente perseguidos por bruxaria ou heresia... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Os elementos Seguindo os gregos, os alquimistas em geral distinguiam os quatro tipos de elementos primordiais Aristotélicos, “água”, “terra”, “ar” e “fogo”. Rapidamente ficou claro que apenas estes não eram suficientes para explicar a diversidade de materiais existente na Natureza... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Philippus von Hohenheim (1473-1541) Paracelso insistiu que o principal propósito da Química não era a simples transmutação dos metais, mas a preparação e a purificação de substâncias para uso em Medicina. Seu arcabouço teórico era hermético, cabalístico e mágico. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Paracelso concebeu todas as substâncias como compostas de três princípios: Mercúrio ativo, espiritual Enxôfre mediador Sal passivo corpóreo Estes três princípios permaneciam inalterados num composto, mas unificados e organizados por um quarto elemento, o Arqueu (a força vital). CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Johann van Helmont (1577-1644) Em 1609 formou-se em Medicina em Louvain. Inventou a palavra “gás”, muito provavelmente de ς caos. Foi um dos primeiros a usar sistematicamente a balança. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Em 1648... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Robert Boyle (1626-1691) Baniu da Química as teorias peripatéticas e spagíricas. Modificou o corpuscularia- nismo dos antigos atomistas para remover as implicações ateístas e materialistas. Segundo Boyle, Deus teria dividido a matéria em “partículas” e “movimento” no momento da criação. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula#2 * Isaac Newton (1642-1727) A matéria era constituída de partículas sólidas indivisíveis. Forças repulsivas e atrativas entre tais partículas eram usadas para explicar a ação química. Newton aceitou a possível existência de vácuo entre as partículas e entre os planetas. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Um problema adicional era o da evolução de calor que acompanhava reações químicas. Ninguém sabia o que era aquilo, por isso algumas hipóteses começaram a ser elaboradas. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Hipótese do flogisto (1669) J.J. Becher rejeitou todos os elementos e princípios originais exceto água e terra. Ele distinguiu três tipos de terra, um dos quais (“terra oleosa”) existia em todos os corpos combustíveis. G.E. Stahl cunhou o termo “flogisto”. Ar livre era necessário à combustão, mas apenas para absorver flogisto. Plantas extraiam flogisto do ar, e a respiração e as chamas o cediam ao ar. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A verificação experimental da hipótese enfrentou sérios problemas, em particular o ganho de massa dos materiais durante a combustão. Será que o tal “flogisto” teria uma massa negativa ??? CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A Revolução As falhas da hipótese do flogisto levaram Lavoisier a racionalizar as reações químicas em bases mais científicas (o Empiricismo). Lavoisier e Black apenas usaram uma balança para pesar os vários materiais antes e depois da combustão. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A emergência da Química como ciência líder acenou com o prospecto de uma teoria atômica da matéria que era testável em detalhe! CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Joseph L. Proust (1754-1826) Em 1794, enunciou a Lei das Proporções Definidas, que forma a base da estequeometria. Em 1815, Proust propôs que os pesos atômicos são todos múltiplos do peso do átomo de hidrogênio. A hipótese de Proust é a de que “o hidrogênio é a matéria primordial que forma os outros elementos, por condensações sucessivas.” CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Lei das Proporções definidas ou Lei da Composição Constante Qualquer substância química é composta de proporções exatas em massa de elementos, independentemente de como o composto foi criado. Todas as amostras da substância apresentam esta proporção particular. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * John Dalton (1766-1844) Interessado em Meteorologia, entre 1799 e 1801 leu uma série de papers sobre tópicos meteorológicos perante a Literary and Philosophical Society. Nestes papers há uma declaração independente da lei de Charles, mais a hoje famosa lei das pressões parciais. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Lei das pressões parciais (1802) Dada uma mistura de gases, cada um numa quantidade ni , a pressão total é dada por Ref.: J. Dalton, Mem. Liter. Phil. Soc. Manchester 5, 535 (1802). CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Amadeo Avogadro (1776-1856) Em 1811, publicou um artigo no Journal de Physique em que claramente distinguia os átomos das moléculas. Chamou a atenção para o fato de que Dalton tinha confundido os dois conceitos. Hipótese de Avogadro (1813): volumes iguais de quaisquer gases, à mesma temperatura e pressão, contêm o mesmo número de moléculas. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Jöns Berzelius (1779-1848) Um aluno de Dalton, em 1811 introduziu o sistema clássico de símbolos químicos (a abreviação em 2 letras do nome em latim). Sistematizou o atomismo de Dalton e a teoria elétrica de Davy. Desenvolveu uma teoria de combinações químicas: grupos estáveis de átomos (os “radicais”) eram trocados por moléculas durante as reações. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * O velho atomismo Newtoniano parecia ter sido descartado — ou se tornado irrelevante. O debate era entre os atomistas e os céticos, que duvidavam da viabilidade de qualquer teoria atômica... CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Eilhard Mitscherlich (1794-1863) Em 1819 descobriu que muitos sais diferentes formam cristais muito parecidos (isomorfismo), e que a mesma substância podia formar dois tipos diferentes de cristal (dimorfismo). Em 1827 isolou ácido selênico, e mostrou que seus sais eram isomórficos aos sulfatos. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A descoberta de uma enorme quantidade de novos elementos no decorrer do século XIX levou a uma curiosidade a respeito da estrutura atômica. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Dmitri Mendeleev (1834-1907) Por volta de 1860, pouco mais de 70 elementos químicos eram conhecidos... Dimitri I. Mendeleev era um professor de Química Geral em São Petersburgo. Ele havia descoberto o fenômeno do ponto crítico durante um período em Heidelberg. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Periodicidade (1869) Ao examinar um grande número de propriedades de um grande número de compostos, Mendeleev descobriu um padrão de repetição que ele exprimiu numa tabela. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Os Químicos se viram na situação de que não podiam fazer ciência sem uma teoria atômica, e não havia nenhuma prova dela. Alguns (como Kekulé) se refugiaram na idéia de que a teoria atômica não era realmente uma teoria da matéria. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Mecânica Quântica (1905-1926) Cientistas alemães extenderam as iniciativas dos filósofos do século XIX para alcançar uma nova descrição matemática do Universo. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Em 1926 Schrödinger chegou à famosa equação H = E Com a qual em princípio devemos poder descrever o comportamento de qualquer sistema físico em termos dos espaços de Hilbert. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * A Mecânica Quântica foi então usada para confirmar as idéias de ligação química como tinham sido propostas em 1909 por G. Lewis (a regra do octeto). CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Conclusão Nesta disciplina estudaremos as duas principais manifestações do atomismo (Estequeometria e Teoria Quântica). Isto é fundamental para desenvolver todos os trabalhos posteriores em Química ou Engenharia Química. CQ167, Aula #2 CQ167, Aula #2 * CQ167, Aula #2 * Próxima aula: Lei das proporções definidas Equações químicas Cálculos de estequeometria CQ167, Aula #2
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