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A Evolução da Terapia Familiar Álvaro Rebouças Fernandes Introdução � Hospitais Psiquiátricos como lugares de salvação dos insanos da perseguição e maus tratos dos familiares; � Objetivo da instituição: Manter as famílias afastadas do convívio do parente adoecido; � Na década de 1950 os terapeutas começaram a reconhecer a influência da família no período de tratamento do parente; � “Os terapeutas começaram a notar que, com muita freqüência, quando um paciente melhorava, alguém na família piorava, quase como se a família precisasse de um membro sintomático” (Nichols e Schwartz, 2007, p.29). Descobertas Iniciais � Primeiro: “As famílias são constituídas por uma estranha cola – esticam, mas nunca se soltam; � Segundo: Famílias como inimigos da liberdade; � Terceiro: As mudanças podem ser positivas ou negativas para as interações dos membros da família; � Quarto: A mudança em uma pessoa provoca repercussões e alterações nas relações no sistema familiar. � Sistema familiar: Globalidade, não- somatividade, Retroalimentação, homeostase, calibração e funções escalonadas (Watzlawick, 2003). Trabalho Terapêutico com Grupos � Dinâmica dos pequenos grupos; � A Psicologia Social começou a estudar os grupos naturais na sociedade na década de 1920; � William McDougall psicólogo social publicou o livro “The Group Mind”; � “Descrevia como a continuidade do grupo depende de o mesmo ser uma idéia importante na mente dos membros, da necessidade de fronteiras e estruturas que permitam a diferenciação de funções e da importância dos costumes e hábitos, para que os relacionamentos possam ser fixos e definidos” (Nichols e Schwartz, 2007, p.30). Trabalho Terapêutico com Grupos � Kurt Lewin fundamentado na teoria da Gestalt escreveu nos anos 1940 “A Teoria de Campo” afirmou que “o grupo é mais do que a soma de suas partes”; � Desenvolveu o conceito de “Equilíbrio Social Quase-Estacionário”; � “Lewin salientou que a mudança no comportamento grupal requer ‘descongelamento’. Só depois que algo sacode as crenças de um grupo é que seus membros estarão preparados para aceitar a mudança” (Nichols e Schwartz, 2007, p.30). Trabalho Terapêutico com Grupos � Wilfred Bion escreveu em 1948 “A Experiência em Grupo”; � “Segundo Bion, a maioria dos grupos se desvia de suas tarefas primárias, engajando-se em padrões de luta-fuga, dependência ou formação de pares” (Nichols e Schwartz, 2007, p.31); � A distinção processo/conteúdo: como se faz e o que se faz. Trabalho Terapêutico com Grupos � A Teoria dos papéis na terapia de família: � Definição de Papéis: Pessoa imaginária, personagens, funções ou aspectos do eu de uma pessoa (Moreno, 1946 [1997]); � Virginia Satir (1972) descreveu os papéis familiares como o apaziguador, o chato, o quietinho, o engraçado, o conselheiro, o rebelde, o bem sucedido; � Terapia psicanalítica de grupo trabalha com a recriação da família, instigando o surgimento dos afetos positivos e negativos, tornando o grupo terapêutico uma “família substituta”. � Na dinâmica de grupos desenvolvida por Foulkes, Bion, Ezriel e Anthony, o foco mudou do indivíduo para o grupo, em que era estudado o processo do grupo descobrindo temas e dinâmicas comuns; Trabalho Terapêutico com Grupos � Modelo experiencial de grupo criada pelos psiquiatras Ludwig Binswanger, Medard Boss, Rollo May, Carl Rogers, Carl Whitaker e Thomas Malone, enfatizou o envolvimento empático com as pessoas do grupo na experiência emocional imediata que favorecia o crescimento pessoal e grupal; � O psicodrama de Jacob Moreno “são encenações dramatizadas a partir da vida dos participantes, empregando técnicas para estimular a expressão emocional e esclarecer conflitos”. � A Gestalt-terapia de Fritz Perls “tem por objetivo ampliar a consciência para proporcionar um melhor ajustamento criativo e uma maior responsabilidade pessoal” (Nichols e Schwartz, 2007, p.33). Terapia de Grupo x Terapia de Família � Semelhanças: 1. Ambas envolvem várias pessoas; 2. Ambas são complexas e amorfas; 3. São mais parecidas com a realidade cotidiana social do que a terapia individual; 4. Nos grupos e nas famílias os envolvidos precisam interagir constantemente; 5. Os terapeutas de grupo e familiares buscam na postura descentralizada e facilitadora promover maior interação entre os participantes. Terapia de Grupo x Terapia de Família � Diferenças: 1. Os membros das famílias têm uma longa história e um futuro juntos; 2. Revelar-se para desconhecidos é mais seguro do que expor-se para os familiares; 3. Na terapia de família as exposições completamente honestas e abertas podem produzir mais conflitos do que resoluções; 4. As interações familiares só podem ser compreendidas a partir da história da família; Terapia de Grupo x Terapia de Família 5. Na terapia com a famílias o ambiente e as interações que proporcionam estresse e conflitos são trazidos para os atendimentos; 6. Na terapia com as famílias a igualdade democrática como condição não favorece o processo devido a existência de uma hierarquia entre os papéis familiares; 7. A leitura em grande parte é sistêmica, pois considera a complexidade relacional, a globalidade e a homeostase comunicacional do próprio sistema familiar. Orientação Infantil e Terapia Familiar � Os influenciadores mais importantes do movimento de orientação infantil: � Sigmund Freud: Os transtornos psicológicos são problemas infantis não resolvidos; � Alfred Adler: Elaborou o tratamento de crianças para prevenir as neuroses na vida adulta. Trabalhava os sentimentos de inferioridade nas crianças; � William Healy: Em 1909 nos EUA criou o Juvenile Psychopathic Institute, clínica precursora na orientação infantil e tratamento dos casos de delinqüência em crianças; � Rudolph Dreikurs: aluno de Alfred Adler destacou criando a Associação Americana de Ortopsiquiatria que foi organizada para trabalhar com a prevenção de transtornos emocionais em crianças; Orientação Infantil e Terapia Familiar � David Levy: Afirmou que os problemas psicológicos na infância eram decorrentes da superproteção materna; � Frieda Fromm-Reichmann: Criou o conceito da mãe esquizofrenizante; � Adelaide Johnson: Criou o conceito da transmissão das lacunas de superego; � John Bowlby: Realizou a transição de uma terapia eminentemente individual para uma familiar ao chamar pais e filhos em atendimentos conjuntos. � Nathan Ackerman: Utilizou a terapia de família como a principal forma de atendimento. Conceituou a família como unidade estudando a dinâmica familiar para compreender a criança. Desenvolveu o diagnóstico e tratamento familiar. Trabalho Social e Terapia Familiar � Paradigma central do trabalho social é tratar a pessoa em seu ambiente; � Assistente social atendia as famílias em suas residências; � Método utilizado: a entrevista e o estudo de caso familiar; � Mary Richmond destacada assistente social no começo do séc. XX, criou os conceitos de coesão familiar que antecipou o conceito de família como sistema dentro de sistemas. Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar e Etiologia da Esquizofrenia � Gregory Bateson – Palo Alto � Psiquiatra originador da terapia familiar que estudou o comportamento animal, a teoria da aprendizagem, a evolução e a ecologia. Interessou-se pela síntese entre Cibernética e Antropologia; � Dirigiu o projeto de Palo Alto que em 1952 recebeu recursos da Fundação Rockefeller para estudar a natureza da comunicação animal e humana em termos de níveis; � Ele dividiu a comunicação em dois níveis ou funções: Relato e comando. Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar e Etiologia da Esquizofrenia � Em 1953 Jay Haley, John Weaklande William Fry juntaram-se a Bateson; � Em 1954, recebeu subsídios da Fundação Macy para estudar a comunicação esquizofrênica sua origem e a natureza do comportamento do esquizofrênico na família. O psiquiatra Don Jackson reuni-se ao grupo; � Teorizaram sobre os conceito de feedback (retroalimentação), homeostase (estabilização do sistema) e duplo vínculo (comunicação paradoxal); � “O que torna uma família patológica é a comunicação patológica” (Nichols e Schwartz, 2007, p.39). Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar e Etiologia da Esquizofrenia � Theodore Lidz – Yale � Como psiquiatra e psicanalista investigou a dinâmica familiar (relação parental) na esquizofrenia. Descobriu que a influência mais destrutiva era do pai e não da mãe como se acreditava; � Cinco padrões de paternagem: 1. Dominador e autoritário em constante conflito com a esposa; 2. Hostil na relação com os filhos, mas não com a esposa; 3. Grandiosidade Paranóides; 4. Fracassados na vida e nulidade em casa; 5. Passivos e submissos. Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar � Lidz também investigou as dificuldades de relacionamento conjugal (ausência de reciprocidade dos papéis maritais); � Lidz identificou dois tipos gerais de discórdia matrimonial: 1. Cisma conjugal – Há um fracasso crônico em acomodar-se ao outro ou chegar à reciprocidade de papéis; 2. Desvio conjugal - Séria psicopatologia em um dos parceiros que domina o outro cônjuge. � Neste contexto conjugal Lidz descobriu os filhos estabelecem lealdades conflitantes e exercem a função de equilibrar o casamento precário dos pais. Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar � Lyman Wynne – National Institute of Mental Health � Como psiquiatra e psicólogo pesquisou os efeitos da comunicação e dos papéis familiares na transmissão patológica nas famílias. Ingressou em 1952 no NIMH; � Desenvolveu os conceitos de: 1. Pseudomutualidade (fachada de união que mascara conflitos e bloqueia a intimidade); 2. Pseudohostilidade (fachada de conflitos que obscurece alianças e cisões); 3. Cerca de borracha (é uma barreira invisível que estica para permitir o envolvimento extra familiar ou encolhe se o envolvimento for muito distante). Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar � Teóricos do Papel (John Spiegel e Ronald D. Laing) � “Em 1954, Spiegel salientou que o sistema, na terapia inclui o terapeuta tanto como a família” (Nichols e Schwartz, 2007, p.41); � Distinguiu interações (contato com mudança de trajetória sem alterações) e transações (contato com mudança de rumo e com mudanças internas); � Descobriu que os papéis familiares não são independentes uns dos outros, desenvolvem uma relação (transação) de reciprocidade; � Spiegel explicou que os papéis familiares são influenciados pelas funções sociais e pelas necessidades internas. Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar � Spiegel descobriu ao trabalhar os papéis em famílias patológicas que os filhos sintomáticos tendiam a ser envolvidos diretamente nos conflitos dos pais; � Crianças usadas como defesas para evitar o enfrentamento pelos pais de seus próprios conflitos. � Ronald Laing formulou o conceito de mistificação “que se refere ao processo de distorcer a experiência da criança negando-a ou re-rotulando-a”. � “ A mistificação contradiz percepções e sentimentos e, mais sinistramente a realidade. (...) Como seus sentimentos não são aceitos, essas crianças projetam um falso self, mantendo o seu self real”. (Nichols e Schwartz, 2007, p.42). Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar � Aconselhamento de Casal � Os primeiros centros profissionais de aconselhamento de casais foram estabelecidos em 1930-1945. Os aconselhadores formaram a American Association of Marriage; � Os psicanalistas americanos começaram a utilizar terapia concomitante e conjunta para os casais; � Clarence Oberndorf em 1931 propôs que os casais tem neurose interligadas; � Em 1948, o psicanalista Bela Mitleman em Nova York publicou o primeiro relato sobre terapia conjugal. � Bela Mitleman sugeriu que os casais podiam ser atendidos pelo mesmo analista e ao ser atendidos juntos poderiam reexaminar suas percepções mútuas sobre seu casamento; Pesquisa sobre a Dinâmica Familiar � Na Inglaterra, na clínica Tavistock, Henry Dicks e colegas atendiam casais encaminhados pelos tribunais de divórcio e eram ajudados a negociar suas diferenças; � Em 1956, Bela Mitleman apresentou uma descrição de suas idéias sobre diagnóstico e tratamento dos transtornos conjugais. � Ele descreveu dois padrões conjugais complementares: os casais agressivo/submissos e os desligados/exigentes; � Estes padrões podem ser influenciados pela ilusão apaixonada e/ou pela relação com os pais na infância. Bibliografia AUN, J., VASCONCELLOS, M.J. E., Coelho, S.V. Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais. Belo Horizonte: Oficina Arte e Prosa, 2005. ELKAIM, M. (Org.) Panorama das Terapias Familiares. 2a edição. Vol. 1 e 2. São Paulo: Summus, 1998. ELKAIM, M. Terapia em Transformação. São Paulo: Summus, 2000. NICHOLS, M.P e SHWARTZ, R.C.. Terapia Familiar: Conceitos e Métodos. 7ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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