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DIABETES MELLITUS Conceito: distúrbio crônico dado pelo aumento dos níveis de glicemia Tipos: tipo 1; tipo 2; secundaria; e gestacional EPIDEMIOLOGIA Relacionado à industrialização e ao estilo de vida ocidental Incidência crescente especialmente em países em desenvolvimento Causa mais frequente de mortalidade por problemas cardiovasculares. → DM aumenta em 7 vezes o risco de doença cardíaca, cerebral e vascular periférica. Cerca da metade dos pacientes desconhece sua doença Uma das principais causas de mortalidade e incapacidade precoce 6ª causa mais frequente de internação hospitalar. Principal causa de amputação não traumática de membros inferiores, cegueira adquirida e doença renal. Obs.: 26% dos pacientes que ingressam em programas de diálise são diabéticos. (DM prolongada lesiona as artérias renais, gerando uma doença glomerular importante, resultando em uma doença renal) FISIOLOGIA A insulina é inicialmente produzida pelas céls B do pâncreas como a pró-insulina. A clivagem desta promove a formação de dois ligamentos: insulina e peptídeo C. Ambos são armazenados em grânulos ligados à membrana da célula. O estímulo da secreção de insulina resulta na liberação de quantidades iguais de insulina e peptídeo C na circulação porta. O pep. C escapa do metabolismo hepático (diferente da insulina), por isso ele é o marcador mais preciso da secreção endógena de insulina. Para ativação da secreção, a glicose é transportada pelo GLUT 2 para dentro da cél B-pancreática, que ativa vias de sinalização e libera insulina. Uma vez secretada no sistema porta, 50% ou mais da insulina é removida pela 1ª passagem pelo fígado. Logo, níveis de insulina na veia porta são, pelo menos, 2 a 4 vezes mais altos que os níveis na circulação periférica. Ação insulínica A insulina age sobre os tecidos alvos (fígado, músculos e tecido adiposo) através de um receptor insulínico específico. Após essa ligação receptor-insulina, várias reações pós-receptoras são ativadas para a translocação da GLUT 4 para a superfície celular. Estado de jejum Jejum noturno: diminuição dos níveis de insulina geram diminuição da captação da glicose nos tecidos dependentes de insulina No jejum, a maior parte da captação ocorre em tecidos não dependentes de insulina, como o cérebro A manutenção da glicemia basal depende do fígado (glicólise e gliconeogênese) Níveis portais reduzidos de insulina levam à diminuição da síntese de glicogênio → Prevalecimento da ação do glucagon estimulando a glicogenólise Estado alimentado Ingestão de grande carga de glicose leva: Supressão da produção endógena de glicose Estímulo do armazenamento hepático Aceleração da captação de glicose pelo músculo e outros tecidos Incretinas O sistema de incretinas consiste em uma molécula principal, a GLP (glucagon like peptide). O sistema sinaliza ao pâncreas para que ele comece a produzir insulina a partir da chegada de glicose no duodeno. No diabético esse sistema não funciona bem. Existem medicações que estimulam esse sistema, seja com análogos da GLP ou com substâncias que inibem a degradação dessas incretinas. As incretinas estimulam a mitogênese das céls B e só valem para DM tipo 2 (uma vez que no tipo 1 ocorre destruição das céls B) NÍVEL GLICÊMICO NORMAL EM NÃO DIABÉTICOS: 70 a 100 mg/dL DEFEITOS METABÓLICOS NA DIABETES Hiperglicemia de jejum Resulta do aumento inadequado da produção hepática da glicose (efeito ampliado na DM1 devido ao déficit absoluto de insulina) A deficiência de insulina também gera hipersecreção de GH, o que acentua a hiperprodução de glicose Hiperglicemia pós-prandial No DM2, a secreção retardada de insulina e a resistência à insulina contribuem para comprometimento tanto da supressão da produção hepática quanto a capacidade de armazenamento de glicose no fígado. Os pacientes tipo 1 apresentam elevações mais acentuadas e prolongadas da glicemia pós-prandial Ácidos graxos livres Níveis de ác. Graxos de jejum também elevados devido à mobilização aceleradas dos depósitos adiposos A secreção endógena de insulina no DM2 fornece níveis portais suficientes para impedir a conversão de ác graxos livres em cetonas no fígado. No DM1, os ácidos graxos livros mobilizados são convertidos em corpos cetônicos. PATOGÊNESE O DM1 produz uma falência profunda das céls B com resistência insulínica secundária O DM2 produz deficiência insulina menos grave e um maior comprometimento da ação insulínica (resistência à insulina) DIABETES TIPO 1 Início abrupto, quadro clínico com muitos sintomas. Crianças ou adultos jovens previamente saudáveis, não obesos Resulta de uma interação de: Fatores genéticos Fatores ambientais (Dieta? Toxinas? Vírus?) Autoimunidade com destruição das céls B (anti-insulina, anti-GAD) Também podem se apresentar com cetoacidose DIABETES TIPO 2 Início lento, com sinais e sintomas leves (acomete adultos, geralmente após 45 anos) Tendência familiar importante Obesidade e falta de atividade física são importantes fatores de risco Maioria dos casos de DM Começa com síndrome metabólica (pré-diabetes) Sem insulina, a produção hepática de glicose aumenta (gliconeogênese) e a captação de glicose é diminuída tanto pelo tecido muscular quanto pelo tecido adiposo. Fatores de risco: Idade > 45 anos História familiar de Diabetes Mellitus Obesidade (IMC maior ou igual a 30) Sedentarismo Diabetes Mellitus gestacional prévio (mulher que durante a gestação teve a glicemia elevada) Macrossomia (> 4kg) ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal Uso de medicações hiperglicemiantes (corticoides, betabloqueadores, diuréticos de alça, tiazídicos). DIABETES GESTACIONAL Mulheres com tolerância a glicose anormal, mas nas quais a diabetes aparece ou foi detectada durante a gravidez. Geralmente aparece no 2º ou 3º trimestre quando fatores antagonistas da insulina associados à gravidez atingem seu pico. Após o parto, geralmente a tolerância a glicose volta ao normal (nem sempre). No entanto, em 10 anos, a DM2 (às vezes a DM1) se desenvolve nessas mulheres. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sintomas surgem abruptamente (principalmente do diabetes tipo 1 ou na fase avançada do diabetes tipo 2) Podem ter parentes próximos com a doença, mas, mais comumente, não os tem Sintomas mais comuns: poliúria (>1500 mL → glicosúria quando glicemia > 190 mg/dL), polidipsia, polifagia e perda de peso (no DM1) Outros sintomas: fraqueza, sonolência, parestesias (alt na sensibilidade), baixa resistência a infecções (mulheres, principalmente, costumam ter candidíase vaginal recorrente), disfunção erétil, má cicatrização Fase pré-clínica prolongada (às vezes durando anos) assintomática (DM2) O pâncreas não produz insulina. A FALTA de insulina impede que a GLICOSE penetre na célula. HIPERGLICEMIA (quando descoberta, a glicemia está em torno de 300- 500mg/dL) O pâncreas produz insulina (com a progressividade da DM, em menor quantidade do que o normal). A insulina não consegue atuar nos tecidos alvos. HIPERGLICEMIA (quando descoberta, a glicemia está em torno de 150-200 mg/dL) No DM1, a maior parte dos pacientes necessita de terapia com altas doses de insulina, inicialmente, para restaurar o metabolismo desordenado. No DM2, até certo ponto, pode-se tratar com drogas antidiabéticas. DIAGNÓSTICO Concentraçãoplasmática de glicose de jejum acima de 125 mg/dL Concentração “casual” (aleatória, sem relação com refeições) ou durante teste oral de tolerância à glicose (concentração plasmática de duas horas) igual ou acima de 200 mg/dL Na maioria dos pcts com DM1, a hiperglicemia é grave no momento da apresentação, algumas vezes em conjunto com uma descompensação metabólica manifesta. Após a ingestão de um alimento, a glicose pode alcançar até 140 mg/dL após duas horas, até que o organismo começa a produzir insulina para diminuir esse valor. No indivíduo pré-diabético, a glicemia sobe muito mais, mas não alcança valores acima de 200 mg/dL, diminuindo após duas horas. Se, após 2 horas, o paciente estiver com uma glicemia de 180 mg/dL, considera-se que ele tem intolerância à glicose. Se a glicemia pós-prandial for acima de 200, é considerado diabetes. No entanto, geralmente a glicemia pós-prandial não é utilizada como parâmetro. Faz-se o Teste de Tolerância Oral à Glicose (TOTG) quando o paciente tem uma glicemia de jejum alterada (100-125 mg/dL para pré-diabetes; acima de 125 é considerado diabetes). TOTG -Dieta sem restrições por 3 dias -Jejum mínimo de 8-10h na véspera do teste -Ingestão de 75g de glicose em 250 ml de água -Tempos: jejum e 2h após. Indicações: -Indivíduos com glicemia de jejum entre 100-125 mg/dl -Indivíduos com glicemia normal, mas com pelo menos 2 fatores de risco -Diabetes gestacional prévio. Hemoglobina glicada Quando a HbG é maior ou igual a 6,5%, o indivíduo é diabético. Esse exame é muito caro para fazer o rastreamento, por isso só é utilizado para acompanhamento. Como funciona? Essa HbG é a hemoglobina que se liga a glicose quando a glicemia está alta (mede a média glicêmica de 8-12 semanas). TRATAMENTO Mudanças no estilo de vida: dieta; exercício; suspensão do tagabismo/alcoolismo Tratamento farmacológico No DM1 o foco primário é a reposição da insulina “perdida”. Em curto prazo, os objetivos do tratamento são: a otimização do controle metabólico; a melhora do sentimento de bem-estar clínico do pct Em longo prazo, os objetivos se concentram na prevenção de complicações (doença cardiovascular, neuropatia, retinopatia e nefropatia). Preparados insulínicos De ação curta: Insulina regular (R) Começa a agir em 30 min → logo, deve ser administrada 30 a 20 min antes da refeição. Duração curta (5 a 8 horas) Especialmente úteis no controle das elevações de glicose que ocorrem durante a doença ou após o consumo de grandes refeições. Administração subcutânea Quando administrada intravenosamente, é eficaz no período perioperatório e no controle de pcts gravemente doentes hospitalizados e nas complicações hiperglicêmicas agudas. Antes de ser absorvida, a Insulina Regular deve ser diluída no líquido intersticial subcutâneo e depois dissociada em moléculas isoladas → absorção levemente retardada a partir dos pontos de injeção subcutânea De ação curta e rápida: Insulina Lispro; Insulina Aspart; Insulina Glulisina Absorção mais rápida a partir dos pontos de injeção Agem em 10 a 15 minutos após administração Duração curta (3 a 4 horas) Podem ser administrados exatamente antes da refeição Como os efeitos diminuem rapidamente, o risco de uma hipoglicemia “tardia” é menor caso o pct atrase a próxima refeição. A redução da glicose pós-prandial e da glico-hemoglobina (HbA1c) são iguais ou melhores que as obtidas pela insulina regular De ação intermediária: Insulina neutra protamina Hagedorn (NPH); Insulina Lenta; Modificados para retardar sua absorção a partir dos locais de injeção → duração mais prolongada da atividade insulínica Têm tempo de ação semelhante: 2 a 4 horas Administradas 2 vezes ao dia Cobre as refeições e promove níveis de insulina basal De ação prolongada: Insulina Ultralenta; Insulina Glargina; Insulina Detemir Duração mais longa e picos de concentração menos evidentes (às vezes ausentes) Fornecem níveis insulínicos basais Pode ser administrada 1 vez por dia em muitos pacientes. Em alguns casos, a farmacocinética da ultralenta é imprevisível, podendo diminuir efeitos em menos de 24 horas e é necessário tomar 2 doses ao dia. Desvantagens: Têm custo elevado; maior incidência de desconforto moderado no local de injeção; impossibilidade de misturar insulina Glargina com outras insulinas Obs.: estudos mostram que há uma incidência reduzida tanto da hipoglicemia sintomática quanto da hipoglicemia noturna quando a Glargina é utilizada. Obs.: A lenta e a ultralenta não se encontram mais amplamente disponíveis ANTIDIABÉTICOS ORAIS Biguanidas (Metformina): 1ª escolha! Diminuem a produção de glicose hepática, aumentam a sensibilidade à insulina no fígado, músculo e tecido adiposo. Têm efeito anti-hiperglicemiante (não secretam insulina). Indicada para pacientes obesos e diabéticos, uma vez que melhora o perfil lipídico. Para glicemias acima de 200 mg/dL, pode fazer associação com um inibidor da DPP4 ou incretinas sintéticas. Têm o possível efeito de acidose lática, mas é devido ao uso inadequado. Usos terapêuticos: DM (Monoterapia e associação), obesos; “prevenção de DM”; melhora do perfil lipídico, da esteatose hepática e de comorbidades com resistência insulínica (ex. síndrome de ovários policísticos; esteatose hepática...) CI: ICC, hipóxia, idosos em uso de medicamentos com risco de Insuf. Renal; DPOC; Complicações renais; alcoolismo (inibe gliconeogênese) Inibidor da a-glicosidase (Acarbose): impede a absorção de carboidratos no intestino. Causa muitos efeitos colaterais no TGI. Deve ser tomado junto com a alimentação. Uso Terapêutico: Hiperglicemia pós-prandial (DM2) CI: Gravidez (insulina quando necessário); Lactação; Transtornos crônicos da digestão e absorção intestinal (formação de gases e outros); Úlceras de intestino grosso. Sulfonilureias (Glibenclamida, Gliclazida, Glipizida; Clorpropamida): secretagogos de ação lenta no pâncreas, aumentam a produção e excreção de insulina pelo pâncreas, independente das refeições. Isso pode levar à hipoglicemia. Usos terapêuticos: DM tipo 2 (Monoterapia ou em associação) CI: gravidez e lactação; insuficiência renal; insuficiência hepática; alergia às sulfas Análogos do GLP1 (Incretinas sintéticas) Inibidor da DPP4 (Sitagliptina e Vildagliptina): Aumentam a meia-vida da insulina, pois aumentem o efeito das incretinas. Uso terapêutico: DM2 CI: DM1 e DM2 instável Inibidor da SGLT2: Inibe a enzima que faz a receptação de glicose na urina (promove glicosúria) Uso terapêutico: DM 1 (meio perigoso, pelo risco de gerar cetoacidose) e DM2 CI: Cetoacidose diabética (até em suspeita) Meglitinidas/Glinidas (Nateglinidas e Repaglinida): Secretagogos de insulina de ação rápida; ao ser tomado, faz um pico de excreção de insulina. Por isso deve ser administrado junto à alimentação. Uso terapêutico: DM2 CI: Insuficiência renal; insuficiência hepática; menores de 18 anos; ICC Tiazolidinedionas/Glitazonas (Pioglitazona e Rosiglitazona): Aumenta a captação periférica de glicose pelo aumento da produção de GLUT4. São hepatotóxicos, por isso deve-se ter uma ideia do perfil hepático das transaminases para avaliação do uso. Uso terapêutico: DM tipo 2 (pode ser associado à metformina, devido ao efeito de ganho de peso) CI: Gravidez e lactação; Insuficiência renal; Insuficiência hepática; Insuficiência cardíaca. COMPLICAÇÕES METABÓLICAS AGUDAS Cetoacidose diabética (pacientes com DM1; muito raro em DM2) Taxas de mortalidade altas Ocorre mais frequentemente como resultado de uma doença intercorrente (ex: infecções); redução inadequada da dosagem de insulina; ou injeções de insulina esquecidas (geralmente adolescentes) Outros precipitantes comuns: IAM; AVE; intoxicação; abuso alcoólico Três características bioquímicas fundamentais: hiperglicemia, cetose e acidose Desequilíbrios hormonais (Aumento dos hormônios contrarreguladores: glucagon, catecolaminas, cortisol e GH) mobilizam a liberação de substratos dos músculos e tecido adiposo para o fígado, onde são convertidos em glicose ou corpos cetônicos, que são liberados no sangue Resultado: hiperglicemia (>250 mg/dL), cetoacidose (pH <7,3) e diurese osmótica (promove desidratação e perda eletrolítica) Manifestações clínicas: poliúria, polidipsia, fraqueza, letargia, náusea e anorexia; dor abdominal periumbilical (simula abdome agudo); pele seca, taquicardia, hipotensão ortostática, respiração de kussmaul (profundas e rápidas); hálito adocicado, enjoativo; coma Diagnóstico Exames laboratoriais: Química sérica de rotina (incluindo cátions divalentes) Hemograma completo com análise ácido-básico Análise de urina Testes de função pancreática Tratamento Melhorar o volume circulatório e a perfusão tecidual; Diminuir os níveis de glicemia; Corrigir a acidose e os desequilíbrios eletrolíticos (reidratação vigorosa) → Adicionar K+ Insulina regular IV: dose de ataque inicial e infusão contínua em baixas doses. Fisiopatologia da cetoacidose Quando a insulina está em extrema falta no sangue, a glicose não consegue 'entrar' nas células e fornecer energia. O organismo não entende que está faltando insulina e para não ficar sem energia promove outras maneiras de produzir glicose. Os hormônios cortisol, adrenalina e glucagon promovem a formação de mais glicose pelo fígado através da utilização do tecido adiposo. Nesse processo de quebra da gordura, são produzidos corpos cetônicos que também fornecem energia, juntamente com os ácidos B- hidroxibutírico e o ácido acetoacético. Esses dois últimos acidificam o sangue e é isso que traz enorme risco a vida. Hipoglicemia Complicação mais frequente da insulinoterapia do DM1 Também afeta DM2 – mais recorrente durante o tratamento com insulina ou secretagogos (principalmente sulfonilureias de ação prolongada) Sintomas resultam de uma alteração na atividade autonômica e da função cerebral Sintomas de alteração do sistema autônomo: sudorese, tremor, palpitações Outros sintomas: fadiga, fraqueza, visão dupla, parestesias orais, gaguejar da fala, apraxia; alterações de personalidade; convulsão, coma; cefaleia Obs.: hipoglicemia prolongada e grave pode causar lesão cerebral irreversível Tratamento • Administração imediata de 15 a 20g de glicose; • Não tratar de modo excessivo; • Glucagon IM ou subcutâneo; • Glicose IV (20 a 50 mL de solução a 50%). Prevenção da hipoglicemia • Monitoramento glicêmico contínuo Obs.: Os pacientes com DM1 perdem a resposta ao glucagon à hipoglicemia (por motivos não estabelecidos) e também tem uma diminuição estímulo-específica da resposta à epinefrina, diferente da DM2 que ainda possui resposta para os dois hormônios contrarregulatórios. Síndrome Hiperglicêmica Hiperosmolar (SHH) É descompensação grave do estado diabético com uma taxa de mortalidade ainda muito significativa Ocorre em pacientes com DM2, e nesse estado, a cetose pode estar presente em graus variáveis (mas não grave, como ocorre na DM1) e alterações do sensório na ausência de coma. Apenas 10% dos pacientes apresentam coma manifesto Apenas 10% não mostra sinais de qualquer alteração do estado mental Nessa síndrome ocorre hiperosmolaridade (>220 mOsm/L) e hiperglicemia (>600 mg/dL). A hiperglicemia grave ocorre porque os pcts não podem ingerir liquido suficiente para acompanhar a diurese osmótica vigorosa. Quadro clínico: sintomas de hiperglicemia e hiperosmolaridade acentuadas, desidratação grave, com envolvimento, em grau variável, do sistema nervoso central. O paciente típico de tal complicação é, geralmente, idoso e adentra as unidades de emergência por acentuação das alterações de consciência, crises convulsivas e sintomas sugestivos de acidentes vasculares cerebrais. Exames indicados antes do início do tratamento (TANTO PARA CETOACIDOSE QUANTO PARA SHH): glicemia; hemograma completo (importante para determinar fatores infecciosos que podem ter precipitado os estados); glicosúria/cetonúria (no SHH, é negativo ou fracamente positivo. No CAD, positivo); eletrólitos (mostra deficiências eletrolíticas); gasometria arterial; ureia/creatinina (podem estar altas no CAD, mas valores significamente aumentados podem sugerir insuficiência renal prévia ou desencadeada pelo CAD/SHH). Tratamento: correção dos distúrbios endocrinometabólicos, hidroeletrolíticos e acidobásicos do paciente. Logo: Hidratação com soro fisiológico; insulina IM, iniciando com dose de ataque; reposição de potássio; administração de bicarbonato Obs.: Se o paciente for idoso e/ou apresentar doença cardiovascular, a reposição hídrica deve ser feita com controle de P.V.C. Se o Na+ plasmático for maior que 155mEq/l, trocar o S.F. (0,9%) por S.F. hipotônico (0,45%). Quando a glicemia cair abaixo de 250 mg/dl, trocar o S.F. (0,9%) para solução glicosilada 5% ou glicofisiológica 5%, se o Na+ plasmático ainda estiver baixo. COMPLICAÇÕES CRÔNICAS 1. Microangiopatia (maior causa de morte em DM1) Retinopatia diabética: alterações progressivas na microvasculatura da retina, produzindo áreas de não perfusão, aumento da permeabilidade vascular e proliferação patológica dos vasos da retina. No tipo 1 mal controlado ocorre em cerca de 25% dos pcts em 5 anos após diagnóstico, em 60% aos 10 anos e mais de 95% aos 15 anos. Exame de investigação: fundoscopia com pupila dilatada Retinopatia diabética não proliferativa: os primeiros sinais são microaneurismas que surgem com mais frequência em área de oclusão capilar. O aumento da permeabilidade vascular produz manchas hemorrágicas na retina e presença de exsudatos. Retinopatia diabética proliferativa: envolve neovascularização. Estes novos vasos são extremamente frágeis e também podem sangrar. Além do sangramento, podem proliferar para o interior do olho causando graus variados de destruição da retina e dificuldades de visão. A proliferação dos neovasos também pode causar cegueira em consequência de descolamento de retina. Nefropatia diabética: importante causa de morbidade e mortalidade quando desenvolve para doença renal terminal (DRT). Os níveis aumentados de glicose geram hiperfiltração glomerular, provocando uma hipertrofia renal, aumento do fluxo sanguíneo renal, aumento do volume glomerular, etc., elevando a taxa de filtração glomerular. Em 3 a 5 anos após diagnóstico, aparecem lesões glomerulares iniciais (espessamento das membranas basais glomerulares, expansão da matriz mesangial e arteriosclerose). A permeabilidade do glomérulo vai aumentando e a excreção de albumina fica cada vez mais alta, surgindo a microalbuminúria (30 a 300 mg/dia) e, em estados mais graves, albuminúria (>300). Após vários anos, a maioria dos diabéticos apresenta glomeruloesclerose difusa e uma pequena minoria, nódulos patognomônicos de Kimmelstiel-Wilson (Glomeruloesclerose nodular). Os mecanismos associados à nefropatia diabéticaainda não estão totalmente esclarecidos. Contudo, sabe-se que no estado hiperglicêmico ocorre a formação dos produtos finais de glicação avançada (associação de glicose com proteínas), que contribuem para o aparecimento e a progressão da nefropatia em pacientes diabéticos. Exames: Microalbuminúria (24h ou amostra isolada); Exame comum de urina Neuropatia diabética: neuropatia sintomática potencialmente incapacitante afeta 50% dos diabéticos. Normalmente simétrica, mas pode ser focal e frequentemente envolve igualmente o SN autônomo. As síndromes focais são mais comuns no DM2. Os altos níveis de glicose no sangue mantidos provocam danos nos vasos sanguíneos (vasa nervorum) e reduzem o fluxo de sangue que vai para as pernas e pés. Isto pode fazer com que os nervos não recebam os nutrientes necessários para funcionarem adequadamente. Os sintomas mais frequentes são as dores em queimor e formigamento em ambos os pés e ocasionalmente também nas mãos. Sintomas neurovegetativos também podem estar presentes, como hipotensão postural (queda repentina da pressão arterial ao levantar), tonturas, impotência sexual, disfunção de transpiração e até mal funcionamento da mobilidade do estomago (gastroparesia) ocasionando sensação prolongada de repleção abdominal. Exames: exame neurológico completo, estudos eletrofisiológicos (ex.: eletromiografia) Pé diabético: úlceras plantares de cicatrização lenta que resultam de trauma aparentemente insignificante. Sem tratamento, as úlceras podem penetrar nos tecidos subjacentes produzindo complicações como celulite, formação de abcessos, sepse articular, osteomielite. Pode ocorrer gangrena e a amputação pode ser necessária. Fatores de risco: DM de longa duração, controle glicêmico deficiente e complicações concomitantes do DM. Sintomas: combinação de neuropatia sensoriomotora crônica, doença vascular, neuropatia autonômica e comprometimento da função imune. A neuropatia sensorial impede a detecção de traumas pequenos. Essa neuropatia também produz anomalias na propriocepção e função motora, alterando a distribuição de peso entre os metatarsos. Com essa carga anormal de peso, pode ocorrer fraturas indolores repetidas. Da mesma forma, a redução de débito cardíaco (pela doença aórtica) ou distúrbios dos mecanismos autorregulatórios da microcirculação podem contribuir adicionalmente para o comprometimento do fluxo sanguíneo e para o retardo na cicatrização. Por fim, uma função imune anormal (pela hiperglicemia) pode predispor à inflamação prolongada e à infecção, reduzindo ainda mais a velocidade de cicatrização. RASTREAMENTO DE COMPLICAÇÕES CRÔNICAS A CADA 3 MESES: Pé diabético: • Exame do Pé Hipertensão Arterial: • Pressão Arterial Controle Glicêmico: • Hemoglobina glicada Obesidade: • Peso, IMC ANUALMENTE Neuropatia Periférica: • Exame neurológico (monofilamento – para testar sensibilidade periférica no pé. São mais ou menos 9 pontos de sensibilidade periférica no pé) Nefropatia: • Microalbuminúria (24h ou amostra isolada) Exame comum de urina Retinopatia: • Fundo de olho com pupila dilatada Cardiopatia (fatores de risco ao lado) • ECG e ou teste de esforço • Colesterol, HDL, LDL, triglicérides, ácido úrico.
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