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Ca´lculo Vetorial e Sistemas de Coordenadas — Uma Revisa˜o — Departamento de F´ısica e Qu´ımica Instituto de Cieˆncias Exatas Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek 1o Semestre de 2010 Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 1 1 Introduc¸a˜o No domı´nio da f´ısica elementar (cla´ssica) encontramos diversos tipos de quantidades. Dentre elas, estaremos interessados na distinc¸a˜o entre quantidades escalares e vetoriais. Visando estritamente nossos interesses futuros, e´ suficiente defin´ı-las da seguinte forma: Escalares: grandezas que sa˜o completamente caracterizadas por suas magnitudes. Ex- emplos: massa, volume, temperatura, tempo, etc. Vetores: grandezas que sa˜o completamente caracterizadas por seus mo´dulos, direc¸o˜es e sentidos. Exemplos: velocidade, forc¸a, acelerac¸a˜o, posic¸a˜o a partir de uma origem fixa, etc. A partir da´ı introduzimos os conceitos de campos escalares e vetoriais. Um campo e´ basicamente uma func¸a˜o de ponto, isto e´, depende da posic¸a˜o no espac¸o e/ou no tempo. Assim, campos escalares sa˜o especificados fornecendo-se suas magnitudes em todos os pontos do espac¸o; campos vetoriais exigem, ale´m do mo´dulo, a especificac¸a˜o da direc¸a˜o e sentido em todos os pontos do espac¸o. Estas definic¸o˜es sa˜o na˜o rigorosas e um tanto limitadas, mas sera˜o adequadas aos nossos propo´sitos.1 Como todos ja´ esta˜o devidamente familiarizados com a a´lgebra de escalares, passamos ao estudo da a´lgebra vetorial. 2 A´lgebra Vetorial Como vimos, um vetor A sera´ completamente caracterizado por seu mo´dulo, direc¸a˜o e sentido. Rep- resentamos o mo´dulo de A por |A| ou, a`s vezes, simplesmente A. Sendo B e C outros vetores, sa˜o va´lidas as seguintes propriedades: A + B = B + A A + (B + C) = (A + B) + C = (A + C) + B = A + B + C, ou seja, a soma de vetores e´ definida, resulta em outro vetor e obedece a`s propriedades da comutativi- dade e distributividade. Por outro lado, sendo α um escalar (α ∈ R), αA e´ tambe´m um vetor, B = αA, com as seguintes caracter´ısticas: mo´dulo: |B| = |α| |A| direc¸a˜o: a mesma de A sentido: { o mesmo de A, se α > 0 o oposto ao de A, se α < 0 Versor (ou vetor unita´rio) de uma direc¸a˜o e´ um vetor desta direc¸a˜o cujo mo´dulo e´ igual a 1 (um). Dado um vetor A, e´ fa´cil determinar o versor de sua direc¸a˜o. Consideramos: B = αA, pois A e seu versor teˆm a mesma direc¸a˜o, sendo que |B| = 1. Assim, |B| = |α| |A| = 1 =⇒ |α| = 1|A| , ou α = ± 1 |A| , 1Definic¸o˜es rigorosas envolvem propriedades de transformac¸a˜o sob mudanc¸a do sistema de coordenadas. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 2 sendo { +→ versor com direc¸a˜o e sentido de A − → versor com direc¸a˜o de A mas sentido oposto. � � � � ��> � �>ˆa A Fig. 1 Denotando por aˆ o versor de A, temos enta˜o: aˆ = A |A| Tambe´m podemos escrever A = |A|aˆ, isto e´, todo vetor pode ser escrito como o produto de seu mo´dulo pelo versor de sua direc¸a˜o e sentido. Para melhor visualisarmos os vetores introduzimos um sistema de coordenadas tridimensional, dotado de uma origem O e treˆs eixos perpendiculares entre si, denotados por x, y, z ou x1, x2, x3. Um vetor V pode enta˜o ser especificado por suas componentes em relac¸a˜o a este sistema de coordenadas: - 6 � � � � � � � ��= - 6 � �= yˆxˆ zˆ x y z ffi V - Vy 6Vz � � � ��=Vx α (α1) β (α2) γ (α3) Fig. 2 Vx = |V| cosα Vy = |V| cosβ Vz = |V| cos γ, ou, Vi = |V| cosαi, i = 1, 2, 3, onde α, β, γ, sa˜o os aˆngulos formados por V com os eixos x, y, z, respectivamente (ou, αi e´ o aˆngulo formado por V com o eixo xi, i = 1, 2, 3). No caso de campos vetoriais, cada uma das componentes e´ uma func¸a˜o de x, y, z. Os versores dos eixos coordenados sa˜o comumente denotados pelos seguintes s´ımbolos: Eixo x: xˆ, i, xˆ1, eˆ1 Eixo y: yˆ, j, xˆ2, eˆ2 Eixo x: zˆ, k, xˆ3, eˆ3 Em termos das componentes, podemos escrever: V = Vxxˆ + Vyyˆ + Vzzˆ ou V = 3∑ i=1 Vixˆi Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 3 Dados dois vetores A = ∑ iAixˆi e B = ∑ iBixˆi e α ∈ R, as propriedades de soma e multiplicac¸a˜o por escalar se escrevem em termos de componentes, da seguinte forma: A + B = (Ax +Bx)xˆ + (Ay +By)yˆ + (Az +Bz)zˆ αA = (αAx)xˆ + (αAy)yˆ + (αAz)zˆ 3 Produtos entre Vetores Sa˜o definidos basicamente dois tipos de produtos entre vetores: o produto escalar e o produto vetorial. Podemos formar ainda outros tipos atrave´s de composic¸o˜es destes dois produtos ba´sicos. 3.1 Produto Escalar Como o nome ja´ deixa a entender, o resultado deste tipo de produto entre dois vetores A e B dados na˜o sera´ um outro vetor, mas um escalar: A·B = AxBx +AyBy +AzBz = 3∑ i=1 AiBi. Pode-se mostrar facilmente que esta definic¸a˜o e´ equivalente a A·B = |A| |B| cos θ, onde θ e´ o menor aˆngulo entre A e B. Exerc´ıcio Demonstre esta equivaleˆncia. Podemos observar que2 A·A = |A|2 = A2x +A2y +A2z = 3∑ i=1 A2i ≥ 0 A·A = 0⇐⇒ A = 0 (αA)·B = A·(αB) = αA·B A·B = B·A (A + B)·C = A·C + B·C 3.2 Produto Vetorial Neste tipo de produto entre vetores o resultado e´ um outro vetor: A×B = ∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ Ax Ay Az Bx By Bz ∣∣∣∣∣∣∣ = (AyBz −AzBy)xˆ + (AzBx −AxBz)yˆ + (AxBy −AyBx)zˆ Esta definic¸a˜o, como tambe´m pode ser mostrado, e´ equivalente a` conhecida regra do produto vetorial: C = A×B e´ um vetor (i) perpendicular ao plano formado por A e B (ou seja, perpendicular a ambos os vetores); (ii) de mo´dulo igual a |C| = |A| |B| sen θ (iii) de sentido dado pela regra da ma˜o direita: gire A em direc¸a˜o a B com os dedos da ma˜o direita segundo o menor aˆngulo entre eles: o sentido de C = A×B e´ o indicado pelo polegar desta ma˜o. 2Muitas vezes denominamos a operac¸a˜o A·A de elevar o vetor A ao quadrado. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 4 - A � � � � � � � ��� B A A A A A A A A A A AAK C θ��\\ .��\\ . Fig. 3 Exerc´ıcios 1) Os vetores da origem de um sistema de coordenadas ate´ os pontos A, B, C, D sa˜o: A = xˆ + yˆ + zˆ B = 2xˆ + 3yˆ C = 3xˆ + 5yˆ − 2zˆ D = zˆ− yˆ Mostre que as linhas AB e CD sa˜o paralelas e determine a raza˜o de seus comprimentos. 2) Mostre que os vetores A = 2xˆ− yˆ + zˆ, B = xˆ− 3yˆ − 5zˆ, C = 3xˆ− 4yˆ − 4zˆ formam os lados de um triaˆngulo retaˆngulo, e determine os demais aˆngulos deste triaˆngulo. 3) Mostre que, sendo xˆi os versores dos eixos x1 ≡ x, x2 ≡ y, x3 ≡ z, xˆi·xˆj = δij , onde δij = { 1, se i = j 0, se i 6= j . 4) Considere a relac¸a˜o entre treˆs vetores A, B, C: C = A−B. Demonstre, quadrando esta relac¸a˜o e interpretando geometricamente o resultado, a lei dos cossenos. 5) Sendo a um vetor constante e r o vetor posic¸a˜o de um ponto P (x, y, z) gene´rico (o vetor que vai da origem do sistema de coordenadas ate´ P ), determine qual a superf´ıcie representada pelas seguintes equac¸o˜es: a) (r− a)·a = 0 b) (r− a)·r = 0 Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 5 6) Mostre que xˆ×xˆ = yˆ×yˆ = zˆ×zˆ = 0 xˆ×yˆ = zˆ, yˆ×zˆ = xˆ, zˆ×xˆ = yˆ yˆ×xˆ = −zˆ, zˆ×yˆ = −xˆ, xˆ×zˆ = −yˆ 7) Determine um vetor unita´rio perpendicular simultaneamente aos vetores a e b, sendo a = 2i + j− k b = i− j + k 8) Mostre que A = xˆ cosα+ yˆ senα B = xˆ cosβ + yˆ senβ sa˜o vetores unita´rios no plano xy formando aˆngulos iguais a α e β, respectivamente, com o eixo x. Obtenha por meio do produto escalar entre esses dois vetores, a fo´rmula para cos(α− β). 9) Deduza a lei dos senos: senα |A| = senβ |B| = sen γ |C| ��� ��� ��� ���: � � � � � � � � �� ��� J J J J J J J JJ] A B C γ α β Fig. 4 10) A forc¸a magne´tica sofrida por uma part´ıcula de carga q em movimento com velocidade v num campo de induc¸a˜o magne´tica B e´ dada por F = qv×B. Atrave´s de treˆs experimentos, encontrou-se que se v = 1,0 xˆ, F q = 2,0 zˆ− 4,0 yˆ se v = 1,0 yˆ, F q = 4,0 xˆ− 1,0 zˆ se v = 1,0 zˆ, F q = 1,0 yˆ − 2,0 xˆ (unidades MKS). A partir desses resultados, determine B na regia˜o do espac¸o considerada. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 6 4 Ca´lculo Diferencial e Integral com Vetores Consideraremos agora a extensa˜o das ide´ias anteriormente introduzidas ao ca´lculo diferencial e integral. Estudaremos nesta sec¸a˜o os conceitos de derivada direcional, gradiente, divergente e rotacional de uma func¸a˜o vetorial, bem como os de integrac¸a˜o ao longo de uma trajeto´ria, de uma superf´ıcie ou volume, quando introduziremos as ide´ias de fluxo e circulac¸a˜o (ou circuitac¸a˜o) de um vetor. 4.1 Derivada Direcional e Gradiente A derivada direcional de uma func¸a˜o escalar φ(x, y, z) no ponto P (x, y, z) nada mais e´ que a taxa de variac¸a˜o de φ com respeito a` distaˆncia, medida segundo uma certa orientac¸a˜o (direc¸a˜o), no ponto P considerado. � � � � � � � � � �� ∆l � � � � � � � � � � ��� � � � ���nˆ ∆l cos θ θ φ = φ0 + ∆φ φ = φ0 �� . P `` `` `` `` `` Fig. 5 A equac¸a˜o φ(x, y, z) = φ0 sendo φ0 uma constante, representa o lugar geome´trico de todos os pontos (x, y, z) tais que φ = φ0, portanto uma superf´ıcie. Se a par- tir do ponto P ∈ φ0 imprimirmos um deslocamento ∆l numa direc¸a˜o qualquer, o ponto P ′ da´ı resultante pertencera´ a uma outra superf´ıcie da mesma famı´lia, definida pela equac¸a˜o φ = φ0+∆φ. E´ ev- idente que, considerando o deslocamento entre as duas superf´ıcies, |∆l| = ∆l sera´ mı´nimo quando a direc¸a˜o de ∆l for per- pendicular a` superf´ıcie φ = φ0 (θ = 0). De acordo com a definic¸a˜o de derivada direcional e com a figura 5, podemos enta˜o escrever para o ponto P : dφ dl : derivada direcional segundo a direc¸a˜o de ∆l, no limite em que ∆l→ 0; dφ dl cos θ : derivada direcional segundo a direc¸a˜o de ma´xima variac¸a˜o de φ. Definimos pois o gradiente da func¸a˜o escalar φ no ponto P como o vetor com as seguintes caracter´ısticas: (i) intensidade: igual a` da derivada direcional ma´xima de φ em P ; (ii) direc¸a˜o: a da derivada direcional ma´xima de φ naquele ponto, ou seja, perpendicular a` superf´ıcie φ = φ0 que contem o ponto P ; (iii) sentido: o dos φ crescentes. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 7 � � � � � � � � � �� dl � � � � � � ��� � � � ���nˆ ∇φ θ φ = φ0 + dφ φ = φ0 �� . P Fig. 6 Representamos o gradiente por ∇φ ou gradφ. Da definic¸a˜o, podemos escrever: |∇φ| = dφ dl cos θ Enta˜o: dφ =∇φ·dl ou dφ dl =∇φ·dl dl Esta equac¸a˜o define φ matematicamente. A partir dela, podemos determinar ∇φ em qualquer sistema de coordenadas em que conhec¸amos a forma de dl. Por exemplo, em se tratando de coordenadas cartesianas: dl = xˆ dx+ yˆ dy + zˆ dz =⇒∇φ·dl = (∇φ)xdx+ (∇φ)ydy + (∇φ)zdz Por outro lado: dφ dl = ∂φ ∂x dx dl + ∂φ ∂y dy dl + ∂φ ∂z dz dl dφ = ∂φ ∂x dx+ ∂φ ∂y dy + ∂φ ∂z dz Assim, com a definic¸a˜o de ∇φ, ∂φ ∂x dx+ ∂φ ∂y dy + ∂φ ∂z dz = (∇φ)xdx+ (∇φ)ydy + (∇φ)zdz. Como as diferenciais dx, dy, dz sa˜o independentes, podemos igualar os coeficientes correspondentes a`s diferenciais nos dois membros desta expressa˜o, resultando (∇φ)x = ∂φ ∂x , (∇φ)y = ∂φ ∂y , (∇φ)z = ∂φ ∂z , ou ∇φ = ∂φ ∂x xˆ + ∂φ ∂y yˆ + ∂φ ∂z zˆ. Exemplo Determinar o gradiente de f = f(r) = f( √ x2 + y2 + z2). Soluc¸a˜o De acordo com a expressa˜o obtida para ∇f , ∇f(r) = xˆ∂f(r) ∂x + yˆ ∂f(r) ∂y + zˆ ∂f(r) ∂z Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 8 Mas ∂f(r) ∂x = df(r) dr ∂r ∂x = df(r) dr x√ x2 + y2 + z2 = df(r) dr x r . Analogamente: ∂f(r) ∂y = df(r) dr y r , ∂f(r) ∂z = df(r) dr z r Enta˜o: ∇f(r) = df dr (xxˆ + yyˆ + zzˆ) 1 r ∇f(r) = df dr rˆ 4.2 Integrac¸a˜o Vetorial Antes de continuarmos a discutir outros aspectos relativos a diferenciac¸a˜o de vetores, e´ conveniente estudarmos alguns to´picos referentes a integrac¸a˜o envolvendo vetores. 4.2.1 Integral de Linha A integral de linha de um campo vetorial F = F(r) = F(x, y, z) desde um ponto a ate´ um ponto b dados, ao longo de uma trajeto´ria C e´ um escalar representado por b∫ a C F· dl, onde dl e´ um vetor deslocamento infinitesimal ao longo da curva C. O ca´lculo da integral e´ efetuado como o de uma integral Riemanniana ordina´ria: dividimos a porc¸a˜o ���� � � ��� θi ∆li Fi C a b Fig. 7 da curva C entre a e b em N partes, calculamos Fi·∆li para cada uma delas e somamos tudo, tomando o lim- ite em que N →∞ (ou ∆li → 0). b∫ a C F· dl = lim N→∞ N∑ i=1 Fi·∆li = = lim N→∞ N∑ i=1 Fi ∆li cos θi Em geral, o resultado depende na˜o somente dos pon- tos extremos a e b, mas tambe´m da curva C que os une. O caso particular de integrac¸a˜o ao longo de uma curva fechada e´ denotado de forma especial como∮ C F· dl, e denominado circulac¸a˜o ou circuitac¸a˜o de F em torno (ou ao longo) de C. O resultado pode ou na˜o ser nulo. A classe dos campos vetoriais para os quais a integral acima se anula para qualquer que seja a curva fechada C e´ de especial importaˆncia na f´ısica matema´tica. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 9 4.2.2 Integral de Superf´ıcie — Fluxo Dado um campo vetorial F numa regia˜o do espac¸o, definimos o fluxo ΦF do campo atrave´s de uma superf´ıcie S como a integral ΦF = ∫ S F·nˆ dS, onde dS e´ um elemento infinitesimal de a´rea e nˆ um vetor unita´rio normal a dS. E´ claro que ΦF e´ um escalar. O sentido de nˆ e´ para fora da superf´ıcie, se S for uma superf´ıcie fechada; r ��3 nˆ l → ← S Fig. 8 se S for aberta e finita, ela possui um contorno l; por convenc¸a˜o o sentido de nˆ e´ indicado pelo polegar da ma˜o direita quando os demais dedos abrac¸am l no sentido escolhido com positivo para sua orientac¸a˜o (ver Figura 8) 6 nˆ1 dS1 J J] � � ��7 nˆi θi Fi l dSi Fig. 9 O ca´lculo da integral e´ semelhante ao caso anteri- ormente considerado da integral de linha: ∫ S F·nˆ dS = lim N→∞ N∑ i=1 Fi·nˆi ∆Si = lim N→∞ N∑ i=1 Fi cos θi ∆Si = ∫ S F cos θ dS De forma ana´loga, o fluxo de F atrave´s de uma superf´ıcie fechada S e´ denotado por∮ S F·nˆ dS. 4.2.3 Integral de Volume Aqui na˜o ha´ nada de especial: a integral de volume de um vetor F atrave´s de um volume V definido por uma superf´ıcie fechada S, ∫ V F dv reduz-se simplesmente a treˆs integrais escalares, uma para cada direc¸a˜o do espac¸o. Se F for expresso em coordenadas cartesianas, por exemplo, teremos∫ V F dv = xˆ ∫ V Fx dv + yˆ ∫ V Fy dv + zˆ ∫ V Fz dv. 4.3 Divergeˆncia Um outro importante operador, essencialmente uma derivada, e´ o operador divergente. O divergente (ou a divergeˆncia) de um campo vetorial F, denotado por ∇·F ou div F e´ definido como o limite do Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 10 fluxo de F atrave´s de uma superf´ıcie fechada S por unidade de volume, quando o volume V delimitado por S tende a zero: ∇·F = lim V→0 1 V ∮ S F·nˆ dS Vemos claramente que o divergente e´ uma func¸a˜o escalar de ponto(campo escalar) — ele representa, em cada ponto, o fluxo por unidade de volume que nasce de um elemento de volume coincidente com o ponto. � � � � � �� � � � � � �� � � � � � �� �� �� �� �� (x0, y0, z0) ∆y ∆x ∆z Fig. 10 A definic¸a˜o acima e´ independente da escolha do sistema de coordenadas, podendo pois ser usada para encontrar a forma espec´ıfica de ∇·F em qualquer sistema de coordenadas par- ticular. Em coordenadas cartesianas retangu- lares, por exemplo, tomamos um elemento de volume ∆v = ∆x∆y∆z, localizado no ponto (x0, y0, z0). O fluxo ΦF de um campo veto- rial F atrave´s deste paralelep´ıpedo sera´, de- sprezando infinite´simos de ordem superior: ∮ S F·nˆ dS = ∫ Fx(x0 + ∆x, y, z) dy dz − ∫ Fx(x0, y, z) dy dz + ∫ Fy(x, y0 + ∆y, z) dx dz − ∫ Fy(x, y0, z) dx dz + ∫ Fz(x, y, z0 + ∆z) dx dy − ∫ Fz(x, y, z0) dx dy, De acordo com o teorema de Taylor, desprezando novamente infinite´simos superiores: Fx(x0 + ∆x, y, z) = Fx(x0, y, z) + ∆x ∂Fx ∂x ∣∣∣∣ (x0,y,z) Fy(x, y0 + ∆y, z) = Fy(x, y0, z) + ∆y ∂Fy ∂y ∣∣∣∣ (x,y0,z) Fz(x, y, z0 + ∆z) = Fz(x, y, z0) + ∆z ∂Fz ∂z ∣∣∣∣ (x,y,z0) , de modo que ∇·F = lim V→0 1 ∆x∆y∆z { ∆x ∫ ∂Fx ∂x ∣∣∣∣ (x0,y,z) dy dz +∆y ∫ ∂Fy ∂y ∣∣∣∣ (x,y0,z) dx dz + ∆z ∫ ∂Fz ∂z ∣∣∣∣ (x,y,z0) dx dy } . Assim, tomando o limite e simplificando ∇·F = ∂Fx ∂x + ∂Fy ∂y + ∂Fz ∂z Podemos agora enunciar um teorema extremamente importante da ana´lise vetorial envolvendo o divergente: Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 11 Teorema do Divergente (Gauss): a integral do divergente de um campo vetorial sobre um volume V e´ igual ao fluxo deste vetor atrave´s da superf´ıcie S que limita V :∫ V ∇·F dv = ∮ S F·nˆ dS Exemplo Determine ∇·r e ∇·[rf(r)]. Soluc¸a˜o Aplicando diretamente a expressa˜o encontrada acima, ∇·r = ( xˆ ∂ ∂x + yˆ ∂ ∂y + zˆ ∂ ∂z ) ·(xxˆ + yyˆ + zzˆ) = ∂x ∂x + ∂y ∂y + ∂z ∂z =⇒∇·r = 3 De modo mais gene´rico: ∇·[rf(r)] = ∂ ∂x [xf(r)] + ∂ ∂y [yf(r)] + ∂ ∂z [zf(r)] = 3f(r) + x2 r df(r) dr + y2 r df(r) dr + z2 r df(r) dr = 3f(r) + r df dr . Em particular, se f(r) = rn−1, ou seja, rf(r) = rn, ∇·(rˆrn) = 3rn−1 + (n− 1)rn−1 = (n+ 2)rn−1. Vemos que o divergente se anula para n = 2, fato que sera´ importante futuramente: ∇· ( rˆ r2 ) = 0, para r 6= 0 4.4 Rotacional Outro importante operador diferencial da ana´lise vetorial e´ o rotacional , denotado por∇×F ou rot F, quando aplicado a um vetor F. Analogamente ao modo como definimos o divergente, na sec¸a˜o anterior, por ∇·F = lim V→0 1 V ∮ S nˆ·F dS, definimos o rotacional de um campo vetorial F, nas mesmas condic¸o˜es, por: ∇×F = lim V→0 1 V ∮ S nˆ×F dS. Esta definic¸a˜o, entretanto, e´ equivalente, pode-se mostrar, a uma outra que nos sera´ mais u´til: con- sidere no ponto P uma trajeto´ria l fechada e contida num plano cuja normal e´ nˆ (o sentido de nˆ e´, como sempre, definido pela regra da ma˜o direita aplicada ao sentido convencionado como positivo para a trajeto´ria l); a componente do vetor ∇×F na direc¸a˜o de nˆ e´ enta˜o definida como o limite da relac¸a˜o entre a circulac¸a˜o de F ao longo de l e a a´rea S delimitada por l, quando S tende a zero: nˆ·∇×F = lim S→0 1 S ∮ l F· dl. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 12 Exerc´ıcio Mostre a equivaleˆncia dessas duas definic¸o˜es. Podemos determinar as componentes do vetor rotacional de um dado campo F em qualquer siste- ma de coordenadas, atrave´s de uma das duas definic¸o˜es apresentadas. Em coordenadas cartesianas o resultado e´: ∇×F = ( ∂Fz ∂y − ∂Fy ∂z ) xˆ + ( ∂Fx ∂z − ∂Fz ∂x ) yˆ + ( ∂Fy ∂x − ∂Fx ∂y ) zˆ, ou, numa forma mnemoˆnica, como a expansa˜o de um determinante: ∇×F = ∣∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z Fx Fy Fz ∣∣∣∣∣∣∣∣ O teorema de Stokes, enunciado a seguir, e´ tambe´m um resultado de importaˆncia na ana´lise vetorial: Teorema de Stokes: A circulac¸a˜o de um campo vetorial ao longo de uma curva fechada l e´ igual a` integral de superf´ıcie de seu rotacional sobre qualquer superf´ıcie limitada pela curva:∮ l F· dl = ∫ S ∇×F·nˆ dS Exemplo 1 Mostre que ∇× (fV) = f∇×V + (∇f)×V. Soluc¸a˜o De acordo com a expressa˜o para o rotacional, ∇× (fV) = ∣∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z fVx fVy fVz ∣∣∣∣∣∣∣∣ , assim: (∇×(fV))x = ∂(fVz) ∂y − ∂(fVy) ∂z = f ∂Vz ∂y + ∂f ∂y Vz − f ∂Vy ∂z − ∂f ∂z Vy = = f ( ∂Vz ∂y − ∂Vy ∂z ) + ( ∂f ∂y Vz − ∂f ∂z Vy ) = = (f∇×V)x + (∇f×V )x , de modo que ∇× (fV) = f∇×V + (∇f)×V Exemplo 2 Encontre ∇×[rf(r)]. Soluc¸a˜o De acordo com a fo´rmula obtida no axemplo anterior, temos: ∇×[rf(r)] = f∇×r +∇f×r. Mas ∇×r = ∣∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z x y z ∣∣∣∣∣∣∣∣ = 0, Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 13 e, ale´m disso, ∇f(r) = df dr rˆ, donde resulta, levando em conta que rˆ×r = 0, que ∇×[rf(r)] = 0 4.5 Aplicac¸o˜es sucessivas de ∇ Vejamos o que resulta da aplicac¸a˜o sucessiva do operador ∇, de diversas formas e a diversos tipos de quantidades. 4.5.1 Laplaciano E´, por definic¸a˜o, o divergente do gradiente de uma func¸a˜o escalar φ: ∇2φ =∇·∇φ O laplaciano de um campo escalar resulta numa outra func¸a˜o escalar. Em coordenadas cartesianas, por exemplo, temos ∇2φ = ∂ 2φ ∂x2 + ∂2φ ∂y2 + ∂2φ ∂z2 4.5.2 Divergente do rotacional Nesse caso, teremos: ∇·∇×V = ∇· ∣∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z Vx Vy Vz ∣∣∣∣∣∣∣∣ = ∂ ∂x ( ∂Vz ∂y − ∂Vy ∂z ) + ∂ ∂y ( ∂Vx ∂z − ∂Vz ∂x ) + ∂ ∂z ( ∂Vy ∂x − ∂Vx ∂y ) Considerando que V e´ uma func¸a˜o cont´ınua e lisa das varia´veis x, y, z, as suas derivadas segundas com relac¸a˜o a estas varia´veis podem ser tomadas em qualquer ordem, isto e´, por exemplo, ∂2Vz ∂x∂y = ∂2Vz ∂y∂x , o mesmo acontecendo com as demais derivadas. Desse modo, resulta que ∇·∇×V =∇· ∣∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z Vx Vy Vz ∣∣∣∣∣∣∣∣ = 0 4.5.3 Rotacional do gradiente Pela expressa˜o para o ca´lculo do rotacional, temos: ∇×∇φ = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ ∂ ∂x ∂ ∂y ∂ ∂z ∂φ ∂x ∂φ ∂y ∂φ ∂z ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = 0 Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 14 4.5.4 Rotacional do rotacional e gradiente do divergente Em geral, nenhuma dessas duas operac¸o˜es sa˜o nulas, mas existe a seguinte relac¸a˜o entre elas: ∇×∇×V =∇∇·V −∇2V, onde o laplaciano de um vetor e´ o vetor cujas coordenadas cartesianas sa˜o os laplacianos das compo- nentes correspondentes do vetor original: ∇2V = (∇·∇Vx)xˆ + (∇·∇Vy)yˆ + (∇·∇Vz)zˆ = ∇2Vx xˆ +∇2Vy yˆ +∇2Vz zˆ. Deve-se observar que esta u´ltima relac¸a˜o so´ e´ va´lida no sistema de coordenadas cartesianas. Nos demais sistemas, ∇2V e´ definido pela primeira expressa˜o. Muitas vezes, escrevemos tambe´m, simbolicamente, ∇2V =∇·∇V. 4.6 Algumas Relac¸o˜es U´teis Fornecemos, a seguir, algumas identidades frequ¨entemente necessa´rias no manuseio de expresso˜es em ca´lculo vetorial. ∇(uv) = u∇v + v∇u ∇·(fV) = f∇·V +∇f ·V ∇·(A×B) = B·∇×A−A·∇×B ∇× (fV) = f∇×V + (∇f)×V∮ S φnˆ dS = ∫ V ∇φdv∮ l φdl = ∫ S nˆ×∇φdS∫ V (ϕ∇2φ− φ∇2ϕ) dv = ∮ S (ϕ∇φ− φ∇ϕ)·nˆ dS Exerc´ıcios 1) Mostre que, se A e´ um vetor constante, ∇(A·r) = A. 2) Mostre que, se ∇×A = 0, enta˜o ∇·(A×r) = 0. 3) Se ∇×f 6= 0 mas ∇×(gf) = 0, onde g = g(x, y, z) e f = f(x, y,z), mostre que f ·∇×f = 0. 4) Se A e B sa˜o vetores constantes, mostre que ∇(A·B×r) = A×B. 5) Mostre que ∇×(φ∇φ) = 0. 6) Mostre que a integral de linha de um campo F antre dois pontos a e b do espac¸o, ∫ b a F· dl, e´ independente da trajeto´ria se a condic¸a˜o ∇×F = 0 for satisfeita. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 15 5 Sistemas de Coordenadas Curvil´ıneas Nas primeiras sec¸o˜es, embora tenhamos introduzido o vetor posic¸a˜o radial r, restringimo-nos quase que inteiramente ao uso de coordenadas cartesianas, cuja grande vantagem e´ a sua simplicidade, devida ao fato de serem seus vetores unita´rios constantes e os mesmos em todos os pontos do espac¸o. Infelizmente nem todos os problemas em f´ısica e engenharia se adaptam a uma soluc¸a˜o desenvolvida em um sistema de coordenadas cartesianas. Por exemplo, num problema de forc¸a central, tal como a gravitacional ou a eletrosta´tica, a simetria praticamente exige que fac¸amos uso de um sistema de coordenadas em que a distaˆncia radial seja uma das coordenadas, ou seja, um sistema de coordenadas esfe´ricas. A escolha do sistema de coordenadas deve estar portanto, ligada a` simetria presente na situac¸a˜o analisada. Uma escolha adequada sempre facilita enormemente a soluc¸a˜o do problema. Estudaremos basicamente dois tipos de sistemas de coordenadas, por serem os mais comuns e os mais trata´veis: o sistema de coordenadas esfe´ricas e o de coordenadas cil´ındricas. Poder´ıamos desenvolver a teoria de forma a obter expresso˜es gene´ricas va´lidas em qualquer sistema de coordenadas curvil´ıneas, como e´ feito na maioria dos livros-texto sobre o assunto, particularizando depois os resultados para os sistemas de interesse. Na˜o seguiremos essa abordagem por considerarmos que, analisando cada um deles separadamente e deduzindo ‘in loco’ as expresso˜es desejadas, podemos obter uma maior familiariedade com o sistema em questa˜o. 5.1 Sistemas de Coordenadas Cil´ındricas (ρ, ϕ, z) A figura 11 ilustra os elementos do sistema de coordenadas cil´ındricas. Dado um ponto P de coorde- nadas (ρ, ϕ, z), temos as seguintes interpretac¸o˜es: ρ: distaˆncia perpendicular do ponto P ao eixo z (0 ≤ ρ <∞); ϕ: aˆngulo azimutal, isto e´, o aˆngulo formado com o eixo x pela projec¸a˜o do vetor posic¸a˜o do ponto P sobre o plano xy (0 ≤ ϕ < 2pi); z: distaˆncia de P ao plano xy, ou seja, o mesmo que no sistema de coordenadas cartesianas. 5.1.1 Transformac¸a˜o de coordenadas A figura 11(b) mostra a projec¸a˜o no plano xy da figura 11(a). Dela podemos escrever as seguintes relac¸o˜es entre as coordenadas cil´ındricas e as cartesianas: Transformac¸a˜o de coordenadas cil´ındricas para cartesianas: x = ρ cosϕ, y = ρ senϕ, z = z. Transformac¸a˜o de coordenadas cartesianas para cil´ındricas: ρ = √ x2 + y2, 0 ≤ ρ <∞, ϕ = arctan y x , 0 ≤ ϕ < 2pi, z = z. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 16 - 6 � � � � � � � ��=x y z � � � � � � � ��� P HHHHHHHHH� � � � �� 6 HHHj �� �* ρˆ ϕˆ zˆ HH HH HH HH H HH . Fig. 11 (a) ρ P ′ ϕ z - 6 x x y y ρ � � � � � � � ��3 � ��3 J J J] ρˆ ϕˆ P ′(b) ϕ 5.1.2 Transformac¸a˜o dos vetores unita´rios: Os vetores unita´rios dos sistemas de coordenadas curvil´ıneas na˜o sa˜o em geral constantes, por isso merecem atenc¸a˜o especial quando envolvidos em operac¸o˜es como derivac¸a˜o e integrac¸a˜o. Vejamos como se relacionam os versores do sistema de coordenadas cil´ındricas com os de coordenadas cartesianas: Versores cartesianos para cil´ındricos: Da figura 11(b), decompondo os versores ρˆ e ϕˆ nos eixos x, y, observando que os aˆngulos indicados na figura sa˜o iguais a ϕ, obtemos: ρˆ = xˆ cosϕ+ yˆ senϕ ϕˆ = −xˆ senϕ+ yˆ cosϕ zˆ = zˆ Note que os versores ρˆ, ϕˆ, zˆ formam um sistema triortogonal: o produto escalar entre qualquer par desses versores (distintos entre si) e´ nulo e, ale´m disso: ρˆ×ϕˆ = zˆ, ϕˆ×zˆ = ρˆ, zˆ×ρˆ = ϕˆ. Versores cil´ındricos para cartesianos: As transformac¸o˜es inversas sa˜o tambe´m facilmente obtidas e sa˜o deixadas como exerc´ıcio. O resultado e´: xˆ = ρˆ cosϕ− ϕˆ senϕ yˆ = ρˆ senϕ+ ϕˆ cosϕ Vetor posic¸a˜o: O vetor posic¸a˜o de um ponto P gene´rico do espac¸o, cujas coordenadas cil´ındricas sa˜o (ρ, ϕ, z) e cartesianas (x, y, z), pode ser escrito, usando apenas elementos de coordenadas cil´ındricas, com: r = ρρˆ+ zzˆ; Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 17 se expressarmos ρˆ em termos dos versores cartesianos, teremos a forma mais adequada para o uso em integrac¸o˜es e derivadas, r = ρ cosϕxˆ + ρ senϕyˆ + zzˆ. 5.1.3 Elementos de a´rea e volume A fim de entendermos mais facilmente como determinar os elementos de volume e superf´ıcie nos sistemas de coordenadas curvil´ıneas, vamos examinar como eles sa˜o formados no nosso velho siste- ma de coordenadas cartesianas. O elemento de a´rea no plano xy, por exemplo, e´ obtido mantendo z = cte. e imprimindo pequenas variac¸o˜es dx e dy nas coordenadas (x, y) de um ponto P gene´rico (figura 12(a)). Temos enta˜o constru´ıdo um elemento de a´rea no plano xy (ou paralelo a ele), ou seja, num plano z = constante. E´ claro que (dS)z=cte = dx dy. Um elemento de volume e´ facilmente obtido a partir da´ı, acrescentando agora uma variac¸a˜o infinites- imal dz da coordenada z: teremos um pequeno cubo de arestas dx, dy e dz, cujo volume e´ dv = dx dy dz. - 6 x dx y dy dS = dx dy (a) Fig. 12 - 6 x y �� �� ��� # # # # ## dρ dS = ρ dρ dϕ dϕ ρ dϕ (a) (b) Em coordenadas cil´ındricas basta agora repetirmos o racioc´ınio, acompanhando a figura 12(b). No plano z = cte, imprimimos a`s coordenadas ρ e ϕ variac¸o˜es infinitesimais dρ e dϕ. Obtemos portanto um retaˆngulo infinitesimal cujos lados sa˜o dados por dρ e ρ dϕ; sua a´rea sera´ portanto igual a (dS)z=cte = ρ dρ dϕ. Podemos igualmente escrever os elementos de a´rea obtidos quando mantemos cada uma das demais coordenadas constantes e permitimos a`s outras uma pequena variac¸a˜o. Temos: (dS)ρ=cte = ρ dϕdz, correspondente a ρ = cte (elemento de a´rea lateral do cilindro) e (dS)ϕ=cte = dρ dz. correspondente a ϕ = cte. O elemento de volume, como a essa altura ja´ deve ser o´bvio, e´ conseguido juntando-se, por exemplo, a variac¸a˜o dz a`quela correspondente a z = cte: dv = ρ dρ dϕ dz Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 18 5.1.4 Forma dos operadores vetoriais Para encerrar, listamos a seguir as formas assumidas no sistema de coordenadas cil´ındricas pelos diversos operadores diferenciais vetoriais estudados: Gradiente ∇φ = ∂φ ∂ρ ρˆ+ 1 ρ ∂φ ∂ϕ ϕˆ+ ∂φ ∂z zˆ Divergente ∇·V = 1 ρ ∂ ∂ρ (ρVρ) + 1 ρ ∂Vϕ ∂ϕ + ∂Vz ∂z Rotacional ∇×V = 1 ρ ∣∣∣∣∣∣∣∣ ρˆ ρϕˆ zˆ ∂ ∂ρ ∂ ∂ϕ ∂ ∂z Vρ ρVϕ Vz ∣∣∣∣∣∣∣∣ Laplaciano ∇2φ = 1 ρ ∂ ∂ρ ( ρ ∂φ ∂ρ ) + 1 ρ2 ∂2φ ∂ϕ2 + ∂2φ ∂z2 Laplaciano de um vetor (∇2V)ρ = ∇2Vρ − 1 ρ2 Vρ − 2 ρ2 ∂Vϕ ∂ϕ (∇2V)ϕ = ∇2Vϕ − 1 ρ2 Vϕ + 2 ρ2 ∂Vρ ∂ϕ (∇2V)z = ∇2Vz 5.2 Sistemas de Coordenadas Esfe´ricas (r, θ, ϕ) A figura 13 ilustra os elementos de coordenadas esfe´ricas, r, θ, ϕ de um ponto P gene´rico do espac¸o, que possuem os seguintes significados: r: mo´dulo do vetor posic¸a˜o do ponto, ou seja, a distaˆncia do ponto P a` origem do sistema de coordenadas (0 ≤ r <∞); θ: aˆngulo que o raio vetor (vetor posic¸a˜o) de P faz com o semieixo positivo z (0 ≤ θ ≤ pi), tambe´m conhecido como aˆngulo polar; ϕ: aˆngulo azimutal, isto e´, o aˆngulo formado com o eixo x pela projec¸a˜o do vetor posic¸a˜odo ponto P sobre o plano xy (0 ≤ ϕ < 2pi), ou seja, o mesmo significado que no sistema de coordenadas cil´ındricas; 5.2.1 Transformac¸a˜o de coordenadas Na figura 13 podemos extrair dois triaˆngulos retanˆgulos que nos possibilitara˜o escrever as relac¸o˜es ligando o sistema de coordenadas esfe´ricas e o de coordenadas cartesianas; sa˜o eles o triaˆngulo OPP ′′, onde O e´ a origem do sistema de coordenadas, que e´ retaˆngulo em P ′′ (ou OPP ′, retaˆngulo em P ′, que e´ semelhante a OPP ′′), e o triaˆngulo OMP ′, retaˆngulo em M . A figura 14 mostra esses dois triaˆngulos. Note que OMP ′ jaz no plano xy, enquanto OPP ′′ fica no plano ϕ = cte e que, ale´m disso, OP ′ = PP ′′ coincide com a definic¸a˜o do elemento ρ das coordenadas cil´ındricas. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 19 Fig. 13 - 6 � � � � � � � � � � ��=x z y � � � � � � � ��� � ��� �� �* J J J^ rˆ ϕˆ θˆ P P ′ P ′′ M θ ϕ r z x y HHHHHHHHHHHH " " " " " " "" Transformac¸a˜o de coordenadas esfe´ricas para cartesianas: Da figura 14(b) vemos que x = OP ′ cosϕ, y = OP ′ senϕ, enquanto, da figura 14(a), z = r cos θ, PP ′′ = r sen θ Como OP ′ = PP ′′ , as relac¸o˜es desejadas sa˜o x = r sen θ cosϕ, y = r sen θ senϕ, z = r cos θ, Transformac¸a˜o de coordenadas cartesianas para esfe´ricas: Do ∆OPP ′′, o teorema de Pita´goras fornece r2 = PP ′′ 2 + z2; Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 20 o mesmo teorema, aplicado a ∆OMP ′, conduz a OP ′ 2 = PP ′′2 = x2 + y2, de modo que r2 = x2 + y2 + z2, resultado que poder´ıamos obter diretamente a partir do produto escalar de r por ele mesmo. Ainda, cada uma das figuras fornece um dos aˆngulos θ e ϕ; as expresso˜es finais sa˜o: r = √ x2 + y2 + z2, 0 ≤ r <∞, θ = arccos z r , 0 ≤ θ ≤ pi, ϕ = arctan y x , 0 ≤ ϕ < 2pi. � � � � � � � � � � � � � �� O z r θ P ′′ P (a) (b) Fig. 14 � � � � � � � � � � �� O M P ′ y x ϕ 5.2.2 Transformac¸a˜o dos vetores unita´rios: Versores cartesianos para esfe´ricos: Da figura 13 percebemos que o versor ϕˆ e´ sempre par- alelo ao plano xy, na˜o possuindo componente na direc¸a˜o do eixo z. Percebemos tambe´m que este vetor e´ exatamente aquele que ja´ determinamos quando estudamos o sistema de coordenadas cil´ındricas e, portanto ja´ temos pronta sua expressa˜o de transformac¸a˜o: ϕˆ = −xˆ senϕ+ yˆ cosϕ. O versor rˆ e´ facilmente encontrado lembrando que rˆ = r r = x r xˆ + y r yˆ + z r zˆ Assim, usando as expresso˜es obtidas para x, y e z, rˆ = sen θ cosϕ xˆ + sen θ senϕ yˆ + cos θ zˆ. O meio mais fa´cil de determinar θˆ e´ observando que, como os treˆs versores formam um sistema triortogonal, θˆ = ϕˆ×rˆ = ∣∣∣∣∣∣∣ xˆ yˆ zˆ − senϕ cosϕ 0 sen θ cosϕ sen θ senϕ cos θ ∣∣∣∣∣∣∣ Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 21 Assim, desenvolvendo e simplificando, θˆ = cos θ cosϕ xˆ + cos θ senϕ yˆ − sen θ zˆ Como ja´ foi observado, os versores rˆ, ϕˆ, θˆ formam um sistema triortogonal: o produto escalar entre qualquer par desses versores (distintos entre si) e´ nulo e, ale´m disso: rˆ×θˆ = ϕˆ, ϕˆ×rˆ = θˆ, θˆ×ϕˆ = rˆ. Versores esfe´ricos para cartesianos: As transformac¸o˜es inversas sa˜o tambe´m facilmente obti- das e sa˜o deixadas como exerc´ıcio. O resultado e´: xˆ = sen θ cosϕ rˆ + cos θ cosϕ θˆ − senϕ ϕˆ yˆ = sen θ senϕ rˆ + cos θ senϕ θˆ + cosϕ ϕˆ zˆ = cos θ rˆ− sen θ θˆ Vetor posic¸a˜o: O vetor posic¸a˜o de um ponto P gene´rico do espac¸o, cujas coordenadas esfe´ricas sa˜o (r, θ, ϕ) e cartesianas (x, y, z), pode ser escrito, usando apenas elementos de coordenadas esfe´ricas, com: r = rrˆ, pois r e´ um dos elementos de coordenadas esfe´ricas. Expressando em termos dos versores cartesianos, teremos a forma mais adequada para o uso em integrac¸o˜es e derivadas, r = r sen θ cosϕ xˆ + r sen θ senϕ yˆ + r cos θ zˆ. 5.2.3 Elementos de a´rea e volume Em coordenadas esfe´ricas o elemento de superf´ıcie mais importante e´ aquele obtido mantendo r con- stante e permitindo a θ e ϕ variarem infinitesimalmente (figura 15). Da figura podemos determinar os lados do retaˆngulo infinitesimal assim formado: mantendo inicialmente ϕ fixo e variando θ de dθ, obtemos um arco de comprimento r dθ. Se, por outro lado, mantivermos θ fixo e variarmos ϕ de dϕ, teremos um arco de uma circunfereˆncia de raio r sen θ, cujo comprimento e´ portanto r sen θ dϕ. Logo, a a´rea do elemento considerado sera´ (dS)r=cte = r 2 sen θ dϕ dθ. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 22 Fig. 15 - 6 � � � � � � � � � � ��=x z y θ ϕ dθ dϕ r PPPPPPP l l l ll � � � � � � �� � � � � � � � � �� % % % % % % % HHHHHHHHHHHH l l l l l l l l l O elemento de volume e´ enta˜o facilmente encontrado a partir da´ı, bastando permitir agora tambe´m ao raio vetor uma pequena variac¸a˜o dr: teremos um cubo infinitesimal de lados dr, r sen θ dϕ e r dθ, cujo volume e´ dv = r2 sen θ dr dϕ dθ Podemos, ainda, novamente escrever os elementos de a´rea obtidos quando mantemos cada uma das demais coordenadas constantes e permitimos a`s outras uma pequena variac¸a˜o. Temos: (dS)θ=cte = r sen θ dr dϕ correspondente a r = cte (elemento de a´rea lateral de um cone com ve´rtice na origem semi-abertura θ) e (dS)ϕ=cte = r dr dθ. correspondente a ϕ = cte. 5.2.4 Forma dos operadores vetoriais Em coordenadas esfe´ricas os operadores diferenciais vetoriais estudados assumem a seguinte forma: Gradiente ∇φ = ∂φ ∂r rˆ + 1 r ∂φ ∂θ θˆ + 1 r sen θ ∂φ ∂ϕ ϕˆ Divergente ∇·V = 1 r2 sen θ [ sen θ ∂ ∂r (r2Vr) + r ∂ ∂θ ( sen θVθ) + r ∂Vϕ ∂ϕ ] Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 23 Rotacional ∇×V = 1 r2 sen θ ∣∣∣∣∣∣∣∣ rˆ r θˆ r sen θ ϕˆ ∂ ∂r ∂ ∂θ ∂ ∂ϕ Vr rVθ r sen θVϕ ∣∣∣∣∣∣∣∣ Laplaciano ∇2φ = 1 r2 sen θ [ sen θ ∂ ∂r (r2 ∂φ ∂r ) + ∂ ∂θ ( sen θ ∂φ ∂θ ) + 1 sen θ ∂2φ ∂ϕ2 ] E´ interessante notar que 1 r2 ∂ ∂r ( r2 ∂φ ∂r ) = 1 r ∂2 ∂r2 (rφ) Laplaciano de um vetor (∇2V)r = ∇2Vr − 2 r2 Vr − 2 r2 ∂Vr ∂θ − 2 cos θ r2 sen θ Vθ − 2 r2 sen θ ∂Vϕ ∂ϕ , (∇2V)θ = ∇2Vθ − 1 r2 sen 2θ Vθ + 2 r2 ∂Vr ∂θ − 2 cos θ r2 sen 2θ ∂Vϕ ∂ϕ , (∇2V)ϕ = ∇2Vϕ − 1 r2 sen 2θ Vϕ + 2 r2 sen θ ∂Vr ∂ϕ + 2 cos θ r2 sen 2θ ∂Vθ ∂ϕ , Estas expresso˜es para ∇2V sa˜o inegavelmente confusas, mas algumas vezes sa˜o necessa´rias (na˜o ha´ uma garantia expressa de que a natureza seja sempre simples). Na verdade, na˜o a utilizaremos no decorrer do nosso curso; apresentaˆmo-la aqui apenas por questa˜o de completeza. Exerc´ıcios 1) O campo ele´trico de uma part´ıcula carregada localizada na origem do sistema de coordenadas e´ da forma: E = K r3 r, K = cte. a) Calcule o fluxo de E atrave´s da superf´ıcie esfe´rica de raio a com centro na origem. b) Determine∇·E e integre este resultado sobre o volume definido pela superf´ıcie esfe´rica, comparando os resultados. Voceˆ ja´ esperava por isto? c) Calcule a integral de linha do vetor E ao longo da trajeto´ria no plano xy mostrada na figura. d) Use o teorema de Stokes para verificar o resultado. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek Revisa˜o de Ana´lise Vetorial 24 - 6 x y (a,−a) (a, a) (−a,−a) (−a, a) 6 ff ? - 2) Usando os resultados dos teoremas integrais apresentados, encontre uma fo´rmula para o volume deuma regia˜o em termos de uma integral sobre sua superf´ıcie. Cheque seu resultado para uma esfera e para um paralelep´ıpedo. Refereˆncias [1] G. Arfken, “Mathematical Methods for Physicists”, 2nd Ed., Academic Press, New York, 1970. [2] J. R. Reitz, F. J. Milford, R. W. Christy, “Foundations of Electromagnetic Theory”, 3rd Ed., Addison-Wesley, Reading, Massachusetts, 1980. Universidade Federal de Itajuba´ Eduardo O. Resek
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