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RT DIREITO PENAL ECONÔMICO Juliana Moreira FMU

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TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
Revista dos Tribunais | vol. 725 | p. 407 | Mar / 1996
Doutrinas Essenciais de Direito Penal Econômico e da Empresa | vol. 2 | p. 153 | Jul /
2011DTR\1996\124
Heloisa Estellita Salomão
Advogada e Mestranda em Direito pela UNESP
Área do Direito: Penal; Financeiro e Econômico
Sumário:
- 1.Direito penal econômico - 2.Tipicidade no direito penal econômico
INTRODUÇÃO
As normas penais, é sabido, socorrem o ordenamento jurídico nas situações mais graves. Isto é, das
ações mais violentas dirigidas aos bens jurídicos mais caros à uma sociedade historicamente
localizada.
Ao se pensar na proteção penal de um bem jurídico de caráter econômico, é imperioso o
questionamento acerca do conteúdo deste bem jurídico e, além disso, de quais seriam os ataques
violentos que as normas sancionatórias de caráter não penal falharam em evitar. 1
Enfim, é preciso saber da ideal normalidade econômica para chegar ao conhecimento dos desvios
causadores da anormalidade econômica. Enfim, o que se quer evitar e/ou corrigir com a proteção
penal neste campo?
Ocorre que esta normalidade ideal é contingente, historicamente determinada. Trata-se de um valor,
uma aspiração, que sofre contínua mutação influenciada pelos valores de cada sociedade: o que é
bom economicamente num momento não o é em outro.
Desta forma, não há com falar em proteção penal da normalidade econômica dissociada na
configuração específica de determinada sociedade. Os sistemas econômicos é que determinam o
que se deve fazer e quais os objetivos a serem alcançados pela sociedade, determinaram o que
seja, dentro daquele modelo, a normalidade.
O mundo ocidental partiu de uma organização econômica baseada nos sistemas liberais de
mercado. Sistemas descentralizados ou autônomos, onde a separação entre os planos decisórios
político e econômico deveria ser a mais radical possível. Dentro deste modelo, "as decisões
econômicas - aquelas relativas ao emprego de fatores escassos - caberiam inteiramente aos
membros da comunidade, agindo isolada ou agrupadamente, sem qualquer interferência do plano
político". 2
O sistema corresponde, evidentemente, às idéias iluministas do século XVIII. 3 Pelas mãos de Adam
Smith, recebeu sua formulação mais pura: a busca ativa do interesse individual de cada membro da
sociedade, pelas condições próprias do mercado, conduziria ao bem geral. Na perfeita síntese de
Fábio Nusdeo, "o mercado funcionaria, assim como um imenso aparelho regenerador, promovendo a
reciclagem do hedonismo individual em acomodação racional do interesse da coletividade". 4
As idéias que fundaram esta concepção do sistema econômico se refletiam, também, no Direito. Era
tempo de máxima valorização da liberdade individual, garantida, principalmente, com a elaboração
de constituições que elencavam os direitos individuais e impunham extensa lista de limites à
intervenção estatal na esfera privada. Era tempo do privado, do Direito Civil.
Porém, no decorrer do século XIX, o modelo descentralizado ou autônomo começou a demonstrar
suas falhas: o mercado não é, por si só, um mecanismo em condições de resolver e equacionar
todas as situações presentes em um sistema econômico.
É neste momento que se observa que aquela cisão radical entre os centros decisórios político e
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
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econômico não é capaz de conduzir, como queiram Adam Smith e seus seguidores, ao bem geral. A
partir daí, assiste-se a uma cada vez maior fusão entre os centros decisórios que se dá através da
elaboração de políticas econômicas aplicadas ao Estado.
Com a promulgação da Constituição de Weimar (1919), difunde-se pelo ocidente a inclusão, nas
respectivas constituições, de normas dedicadas à atividade econômica. Assim ocorreu na Itália
(1948), na França (1947), na Espanha (1978), em Portugal (1976). No
Brasil, a partir da Constituição de 1934, todas as que a sucederam trouxeram em seu bojo normas
sobre a "ordem econômica e financeira". 5 Daí que se procurou distinguir entre estas constituições e
aquelas liberais, denominando-se as primeiras de constituições dirigente, constituições
social-democratas.
A partir deste momento, o Estado passa a fazer parte do processo decisório econômico provocando
profundas e consideráveis modificações nos quadros liberais. 6 Gradualmente, vai tomando corpo um
novo sistema econômico denominado sistema misto ou sistema de iniciativa dual.
Idealmente, neste sistema misto, a intervenção estatal estaria voltada tão-somente à ação corretiva
necessária em virtude das inoperacionalidades causadoras de ineficiência do mercado ("market
failure"), dando origem ao denominado capitalismo regulamentar que, nas palavras de Fábio Nusdeo,
seria "o mesmo sistema fundamentalmente descentralizado e autônomo, mas com o poder público
ativo no seu papel de regulamentador, impondo restrições à ação dos particulares primordialmente
voltadas a impedir maiores perturbações ao seu funcionamento". 7
Ocorre que a ação do Estado não se deteve nessa atividade corretiva. A sua inserção no sistema
passou, gradualmente, de mera neutralidade a uma presença marcante ao impor finalidades além da
mera correção. 8 Estabeleceu metas de política econômica para o desempenho do sistema que
implicariam na imposição de distorções, alterações e interferências no seu funcionamento para que
os resultados ultrapassassem, então, o simplesmente natural e alcançassem as metas fixadas. Este
campo próprio de política econômica. A intervenção estatal utilizou-se de diversos instrumentos para
lograr suas metas; dentre eles a tributação, os instrumentos monetário, cambiais e institucionais.
Sinteticamente, afirma já citado Professor de Direito Econômico, que:
"Em suma, enquanto sob a primeira visão o Estado estava interessado nas condições de eficiência
estática para o emprego de recursos, agora, sob esta segunda ótica, a preocupação é com a
eficiência dinâmica, ou seja, com o caminho e o ritmo das transformações estruturais, socialmente
desejadas e fomentadas. Estas últimas, em essência, podem ser vistas como um tipo, também, de
bem coletivo, cujo suprimento não poderia se dar pelo simples funcionamento do mercado". 9
Lançando mão de todos os instrumentos ao seu alcance para a consecução da política econômica, o
Estado passou a atuar disseminadamente no sistema jurídico. Daí que o Direito Econômico não
possa ser visto como um ramo jurídico propriamente dito, mas como um conjunto de normas com
vetorialidade especial, nas palavras de Fábio Nusdeo, normas que se inserem em cada um e em
todos os ramos tradicionais do Direito, espraiando-se pelo Direito Administrativo, Comercial, Civil,
dentre outros. 10 Klaus Tiedemann também destaca esta característica do Direito Econômico:
"De este modo, el Derecho Económico en sentido amplio, es decir, como derecho de las actividades
económicas o de la empresa, no constituye por sí mismo una categoría nueva, sino que agrega al
derecho ya existente un valor específicamente económico general y reúne en forma sistemática las
leyes vigentes sobre la materia. El Derecho Económico comprende pues, en especial, el Derecho de
Empresa, o sea, el problema de quiénes serán admitidos como empresarios y cuáles son las
condiciones básicas del funcionamiento de las empresas. Pero se refiere también a la regulación de
las relaciones de las empresas entre sí y, sobre todo, a las forma de comportamiento em materia de
competencia de mercado". 11
Ocorre que esta característica do Direito Econômico, aliada àquela consistente na sua instabilidade,
constituem a sua vulnerabilidade mais patente e que deve ser atenuada ou até, superada em nome
da segurança. Segurança à sociedade de que as metas objetivadas com aquela intervenção serão o
progresso, a estabilidade, a justiça e a liberdade econômicas. 12
Estabelecidos, assim, os meios e os fins do Direito Econômico, ou seja, o que seria a sua
normalidade, jáse pode entrever a necessidade, extensão e limites de uma possível proteção penal
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das normas econômicas. 13
Inobstante, é imprescindível ter-se em mente que a multidisciplinaridade e instabilidade do Direito
Econômico terá reflexos inexoráveis no, assim chamado, Direito Penal Econômico. Isto porque o
caráter penal destas normas exigem o reforço, mais que em outras matérias jurídicas, da segurança,
da certeza e da determinação necessárias à proteção da liberdade individual.
1. Direito penal econômico
Não há consenso e a respeito de qual o âmbito normativo compreendido pela denominação Direito
Penal Econômico. 14
Manoel Pedro Pimentel, jurista nacional que mais profundamente estudou o fenômeno,
apresenta-nos a seguinte definição:
"O Direito penal econômico, portanto, é um sistema de normas que defende a política econômica do
Estado, permitindo que esta encontre os meios para a sua realização. São, portanto, a segurança e a
regularidade da realização dessa política que constituem precipuamente o objeto jurídico do Direito
penal econômico. Além do patrimônio de indefinido número de pessoas, são também objeto de
proteção legal o patrimônio público, o comércio em geral, a troca de moedas, a fé pública, e a
administração pública, em certo sentido". 15
Porém, considera o âmbito de proteção penal bastante restrito ao diferenciá-lo de outros ramos, por
denominados, como o direito penal financeiro, o direito penal tributário, o direito penal administrativo.
Embora considerando que possa haver uma relação geral entre estes diversos ramos, considera-os
perfeitamente separáveis e com objetos jurídicos nitidamente diferenciados. 16
Recentemente, João Marcello de Araújo Júnior, na esteira da nova conformação econômica trazida
com a Constituição de 1988, dedicou ao tema uma monografia, cuja apresentação crítica é da lavra
de Klaus Tiedemann, e onde o professor tedesco afirma ser seu entendimento que a expressão mais
ampla - "delitos Sócio econômicos" - é mais conveniente. Declinando o motivo de tal preferência,
explica que:
"... é a mais conveniente, pois permite incluir, tanto em nossas deliberações, como em uma futura
legislação, não somente os delitos contra a economia nacional, mas, também, os delitos financeiros,
tributários, laborais, falimentares, etc..., alcançando também os chamados delitos societários e
outros, que possam ter relevância principalmente patrimonial, que se encontram em estreita conexão
com a vida econômica". 17
Em obra que marca os estudos do tema, este professor nos apresenta ao lado de um conceito
restrito um outro amplo de Direito Econômico e de Direito Penal Econômico. O conceito restrito
engloba aqueles setores do Direito cuja tutela recai, primordialmente, sobre o bem jurídico
constituído pela ordem econômica estatal em seu conjunto, e conseqüentemente, sobre o fluxo da
economia em sua originalidade - enfim, sobre a economia nacional. Um âmbito maior abarca o
conceito amplo no qual os delitos econômicos protegem o conjunto de normas jurídicas promulgadas
para a regulação de produção, da fabricação e da distribuição de bens econômicos. 18 Este sentido
amplo, assevera, obedece a uma clara tendência internacional:
"Esta tendencia permite al Derecho Penal considerar como delitos económicos, no sólo los hechos
punibles dirigidos contra la planificación estatal de la economía, sino todo el conjunto de los delitos
relacionados con la actividad económica y dirigidos contra las normas estatales que organizam y
protegem la vida económica". 19
Esse critério de definição ampla foi aceito e recomendado de forma unânime no XIII Congresso
Internacional da Associação Internacional de Direito Penal. 20
Muñoz Conde também apresenta as duas posições doutrinárias que propugnam por objetos jurídicos
diversos: um amplo e outro restrito. Tecendo críticas às duas posições, quer porque a primeira
deixaria sem proteção a livre concorrência, o consumidor, o sistema financeiro, etc., quer porque a
segunda, nas palavras da crítica lançada ao Título VIII do Projeto de Código Penal (LGL\1940\2)
espanhol de 1980, conduziria à "elefantiasis a que la actitud megalómana, sin duda
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bienintencionada, de sus redactores condujo, hubiera llevado en la prática a la esterilidad e ineficacia
de toda la regulación que se preconizaba, no sólo por sus insuficiencias técnicas, sino, porque
pretendiendo abarcalo todo, se diluía en puro voluntarismo ideológico incapaz de transformar la
realidad económica que ele subyacía". 21
O jurista acentua, em mais de uma oportunidade, que a característica mais marcante da disciplina
penal econômica é o caráter supra individual dos bens que protege. 22 Como no campo econômico,
sobretudo, podem chocar-se interesses individuais e supraindividuais tutelados, o embate
transfere-se para o âmbito de proteção penal, com o efeito de tornar ainda mais delicada a questão
da função garantidora da liberdade individual comumente atribuída a este ramo jurídico. Daí a
necessidade e a razão, proteção de bens supraindividuais, de parcela da doutrina postular em
tratamento diferenciado aos tipos penais relativos aos delitos econômicos.
Destaca-se, além da amplitude do bem jurídico tutelado, que a potencialidade lesiva das formas
delitivas próprias do Direito Penal Econômico é muito superior à tradicional delinqüência; podendo
ser encontradas, com acentua William Terra de Oliveira, suas marcas distintivas: "numa rápida
análise do contexto atual notamos uma dicotomia entre a criminalidade tradicional, pautada pela
violência, imediatidade e pessoalidade, frente a novas formas comportamentais caracterizadas pelo
racionalismo, astúcia, tecnicismo, anonimato e diluição de seus efeitos". 23
É indiscutível, porém, que intimamente ligada à idéia de um delito econômico está a da elevada
posição social do agente e à "quebra de fidelidade" por ele perpetrada no exercício de uma profissão.
Por esta razão, Sutherland, define o white-collarbranco ou crime como sendo uma "conduta
anti-social, orientada ao enriquecimento, praticada por pessoas de destaque social no exercício de
uma profissão, abusando da confiança pública e supondo, simultaneamente, a fidelidade dos demais
à lei". 24 Daí as terminologias também aplicáveis a estes delitos tais como "criminalidade de colarinho
branco" ou "delinqüência profissional".
Quando ainda incipiente a repressão penal aos delitos econômicos no Brasil, já alertavam dos
perigos da indiscriminada utilização desta via de forma assistemática e disseminada Heleno Cláudio
Fragoso, Manoel Pedro Pimentel e Paulo Salvador Frontini; sendo que este último jurista chegou a
apontar todas as razões pelas quais era ainda deficiente o desenvolvimento desse moderno ângulo
da Ciência Penal. 25
Sensível a toda esta problemática dos delitos econômicos, Hassemer chega a sugerir a criação de
um Direito de Intervenção, expressão cunhada por ele para designar um meio termo entre o Direito
Penal e o Direito Administrativo. Direito que não empregaria as pesadas sanções penais,
especialmente a pena privativa de liberdade, mas que seja eficaz podendo contar, ao mesmo tempo,
com garantias menores do que impostas pelo Direito Penal clássico. 26
2. Tipicidade no direito penal econômico
Dada a já aludida vetorialidade e instabilidade das normas econômicas, é que se tem recomendado
a criação de tipos legais de crimes que sejam aptos a acompanhar essa agilidade da vida
econômica.
Isto não quer dizer, contudo, que a instabilidade das normas econômicas se refletirá nos tipos
penais. Como já foi visto, a política econômica possui metas bem definidas - neste sentido o disposto
no Título VII da Constituição Federal (LGL\1988\3)27, e para alcançá-los edita normas as mais
variadas. Ao Direito Penal Econômico, porém, cumpre tutelar com sua sanção peculiar as metas
objetivadas e não as minúciasda regulamentação econômica.
Feita a ressalva, propugna-se por um tratamento diferenciado relativamente aos delitos econômicos.
As técnicas empregadas na sua tipificação prefeririam o emprego de normas penais em branco, de
tipos de perigo (concreto ou abstrato), de elementos normativos, de cláusulas gerais e da supressão
de qualificadores do elemento subjetivo do tipo.
Sugere-se, assim, é evidente, uma flexibilização de diversos princípios e garantias penais conquistas
ao longo do último milênio, especialmente no que concerne ao princípio da legalidade e princípios
dele decorrentes. Propõe-se o questionamento dos tradicionais conceitos dogmáticos de ação,
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
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culpabilidade e pena, com a sua reestruturação à luz das modernas demandas sociais, "pois se
apenas uma das recentes formas delitivas indicassem a necessidade de adoção de mecanismos
punitivos mais vulnerantes e incisivamente eficazes, já teríamos identificado um claro sintoma de que
o sistema penal em seu conjunto estaria clamando pela aplicação de "meios de calibragem e ajuste".
28
Finalmente, saliente-se que o Direito Penal Econômico, com a amplitude de seu conteúdo, é um
direito de superposição. Isto porque, como já foi dito, há uma extensa e intricada regulamentação da
econômica cujas metas se quer proteger. Pois bem, para a compreensão do delito econômico será
imprescindível a compreensão, logicamente anterior, da disciplina jurídico-econômica do fato. É
exatamente este o fenômeno da superposição, os tipos delituosos não incidem diretamente sobre
fatos, mas, antes, sobre normas jurídicas que regulam situações de fato. Esta reflexão traz
conseqüências diretas sobre a abordagem que deverá ter o erro de proibição neste campo, como
agudamente observa Muñoz Conde. 29
Bem descreveu o fenômeno o saudoso e insuperável professor Geraldo Ataliba. Referindo-se ao
Direito Penal Tributário já afirmava que "é preciso considerar que a lei penal não vai incidir
diretamente sobre comportamentos ou sobre fatos, mas vai incidir sobre comportamentos e fatos
regulados antes pela lei tributária". 30 No mesmo sentido, adverte Klaus Tiedemann que:
"Debemos partir del supuesto de que esta parte del Derecho Penal Económico está vinculada a las
decisiones del legislador en materia económica y depende de ellas. En este âmbito es imposible,
más aún que en otros, hablar de delitos "naturales". Un elocuente ejemplo de ello lo constituye el
Derecho Penal Fiscal: todos los ordenamientos jurídicos estructuram sus tipos penales, destinados a
proteger el sistema fiscal, en forma tal que, el que un hecho sea punible, depende de si infringe algún
deber fiscal (declarar, pagar, hacer efectivos los impuestos, etc.). Si estos deberes no están
precisados o no lo están suficientemente, no hay lugar a responsabilidad penal". 31
2.1 Localização da norma penal econômica
A recomendação generalizada atualmente é no sentido de que o maior número possível de delitos
sejam contemplados dentro do Código Penal (LGL\1940\2). Não é a realidade nacional, em geral, e
muito menos em se tratando de Direito Penal Econômico.
Esta orientação busca, evidentemente, uma maior eficácia preventiva das normas incriminadoras.
Sua inclusão no Código Penal (LGL\1940\2) serve a um só tempo a uma maior organicidade e
coerência no trato da matéria, facilita a interpretação, fornece uma maior transparência e maximiza a
difusão dos valores tutelados pela consciência pública. E, com observa Klaus Tiedemann, "según
muestra la experiencia, hace que dichas normas sean examinadas con mayor detenimiento y
profundidad tanto en las Facultades de Derecho como en la práctica forense penal y en la bibliografia
jurídico-económica". 32
Seguindo a diretriz, a "Primeira lei contra a delinqüência econômica", que entrou em vigor em 1.o de
setembro de 1976 na Alemanha, ao inovar na matéria trouxe-a para o interior do Código Penal
(LGL\1940\2) alemão. Além disso, modificou o Código Civil (LGL\2002\400), o direito mercantil e o
direito falimentar, introduziu normas especiais contra a obtenção fraudulenta de subvenções e
créditos e criou uma legislação administrativa contra a obtenção abusiva de subvenções.
No mesmo sentido orientou-se João Marcello de Araujo Junior ao elaborar sua proposta legislativa
concernente aos crimes contra a ordem econômica. Sustentando a orientação tomada, afirma:
"A lei, especialmente a penal, possui uma pretensão de eficácia que busca imprimir, sem nenhum
sonho hegemônico, ordem e conformidade à realidade e nela influir. Com isso, tende a estabelecer
harmonia entre o ser e o dever-se. Um Código Penal (LGL\1940\2), portanto, deve captar o espírito
do seu tempo para, com isso, lograr fazer com que, no seio da população, nasça a vontade
inquebrantável de proteção aos bens e interesses jurídicos por ele tutelados.
A proposta legislativa que o leitor encontrará no final desta obra foi elaborada de acordo com esse
entendimento. Ela concretiza uma das idéias reitoras da moderna Política Criminal, a de incorporar
ao Código Penal (LGL\1940\2) os crimes constantes da legislação extravagante em matéria
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
Página 5
econômica". 33
O novo Código Penal (LGL\1940\2) colombiano, neste sentido, trouxe para o interior do diploma um
capítulo exclusivamente dedicado aos "delitos contra a ordem econômico-social". O mesmo
ocorrendo com a Proposta de Anteprojeto de um novo Código Penal (LGL\1940\2) espanhol e com o
Projeto de Código Penal (LGL\1940\2) Tipo para a América Latina. 34
Muñoz Conde, ao tecer suas observações ao Projeto de Código Penal (LGL\1940\2) espanhol de
1994, assevera que os tipos penais econômicos só devem permitir a incriminação penal do
comportamento doloso, ou excepcionalmente, imprudente que cause lesão efetiva, ou, ao menos,
ponha em perigo concreto o bem jurídico previamente delimitado:
"Lo contrario supondría una funcionalización inadmisible del Derecho Penal y la pérdida por parte de
éste de su carácter de ultima ratio, es decir, del principio de intervención mínima que en ésta, como
en las demás materias reguladas por el Derecho Penal, debe ser el principio básico inspirador de
una eficaz y correcta política criminal. No le pidamos al Derecho Penal más de lo que en cada
momento histórico tiene que cumplir o puede racionalmente ofrecer". 35
2.2 Conformação do tipo penal em virtude do bem jurídico tutelado
Segundo João Marcello de Araujo Junior, o bem jurídico protegido pelas normas penais econômicas
é a "ordem econômica", bem de caráter supraindividual que se destina a garantir um justo equilíbrio
na produção, circulação e distribuição da riqueza entre os grupos sociais. 36
Dadas as características próprias do bem jurídico tutelado, manifesta-se Klaus Tiedemann a favor da
opção legislativa levada a cabo na Alemanha e que empregou, em larga escala, tipos de perigo
abstrato. Ponderando que, muito embora tal técnica constitua uma considerável restrição à liberdade
de ação empresarial, este emprego não é novo em se tratando de Direito Empresarial e não ofende o
princípio constitucional de proporcionalidade ou a idéia do Direito Penal como ultima ratio. Isto
porque, segundo o jurista alemão, pode ocorrer que o direito penal seja mais permissivo do que o
administrativo neste campo:
"La normativa jurídico-administrativa somente la actividad global del empresario a la fiscalización
estatal, mientras que la prohibición jurídico-penal solamente alcanza al sector socialmente
indeseable de esa actividad. Un Derecho Penal que se limite a controlar mediante la creación de
tipos penales y la persecución de hechos punibles puede ser, por lo tanto, más permissivo que una
legislación administrativa sin sanciones penales". 37
Mas, fundamentalmente, a utilização do tipo de perigo abstrato, se dá pela necessidade de proteger
interesses jurídicos supraindividuais relativamente aos quais e para cuja efetivatutela não é possível
imaginar outra configuração típica. 38 Como agudamente observou Cezar Roberto Bitencourt: "Nesta
criminalidade moderna, é necessário orientar-se pelo perigo ao invés do dano, pois quando o dano
surgir será tarde demais para qualquer medida estatal". 39
Não comunga deste entendimento, a nosso ver com razão, o jurista brasileiro citado anteriormente.
Embora defensa a necessidade da utilização dos assim chamados delitos obstáculo, nos quais a
técnica empregada é a do tipo de perigo, não concorda com o emprego de perigo abstrato mas, sim,
concreto. "É recomendável agir assim, por questão de segurança jurídica, pois a presunção de
perigo representa, quase sempre, nas palavras do Des. Silva Franco, uma violação a preceitos
nucleares do direito, tais como os princípios do bem jurídico e da legalidade". 40
Pelo princípio da proporcionalidade, quanto maior a importância - segundo estabelecido na
Constituição - do bem passível de ofensa pelo delito, maior a legitimidade da antecipação da tutela
penal. Quanto maior essa antecipação, mais a respectiva conduta típica tende a transformar-se de
conduta substancialmente executiva em conduta substancialmente preparatória. Isto significa a
punibilidade de um fato que, dada a grande distância do resultado lesivo, pode facilmente não
desembocar nele ou pode resolver-se antes da sua conclusão. Daí que o grau de antecipação da
tutela penal deva ser calculado de acordo com a proporcionalidade entre a importância do bem
jurídico e o grau da ofensa. E somente bens constitucionais primários podem ser tutelados com grau
máximo de antecipação da tutela (crimes de perigo abstrato).
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
Página 6
Em nosso entender, a "ordem econômica" não é um bem constitucional primário, ao menos não
enquanto entendido de forma tão ampla e vaga como defendido pela doutrina exposta até aqui. 41
Note-se que a Constituição, ao declarar seus princípios fundamentais, foi bem mais precisa com os
valores econômicos deste escalão: valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. 42
O novo Código Penal (LGL\1940\2) colombiano utilizou-se com extrema escassez dos tipos de
perigo abstrato. Preferiu, ao contrário e na maioria dos casos, exigir a lesão do bem jurídico
penalmente protegido. O mesmo acontecendo com o projeto espanhol que, até em crimes
tradicionalmente de perigo abstrato como o "balanço falso", postulou a necessidade da existência de
um dano, merecendo, por isso, severas críticas por parte de Klaus Tiedemann: "Querer aunar la
incriminación de balances falsos e informaciones comerciales erróneas a la existencia de um daño,
com sugiere el art. 294, hace superflua tal regulación". 43
2.3 Elementos normativos
A desenvoltura própria da vida econômica e a complexidade da sua regulamentação legislativa e
administrativa causam quase que a inevitabilidade do emprego de elementos normativos e cláusulas
gerais. Neste sentido, reconhecendo essa imperiosa necessidade, observa agudamente Klaus
Tiedemann que, as objeções reiteradamente lançadas opostas ao uso destas técnicas, podem ser
neutralizadas quando se tem em conta que a admissão da declaração de responsabilidade penal,
fundada em elementos normativos ou cláusulas gerais, só poderá realizar-se quando e na medida
em que estes elementos consubstanciem valorações reconhecidas e seguras - critério que tem sido
defendido reiteradamente tanto pelo Tribunal Supremo alemão como entendiemnto dominante na
doutrina. 44 Exemplificando, acrescenta:
"Solamente esta máxima de interpretación permite aceptar que el proyecto de la "Segundo ley..."
pretenda penalizar, por ejemplo, el ocultamiento de condiciones "esenciales" en los prospectos
publicitarios destinados a captar inversiones de cpaitales. Porque la situación geográfica y la
rentabilidad, así como la natureleza y el importe de las comisiones son clara y ciertamente
características esenciales de los objetos de inversiones; es dudoso, en cambio, que lo sean las que
se refieren a las implicaciones personales si participan varias sociedades, o a la propensión a
motivar escándalos de los órganos de las empresas participantes." 45
Porém, a Proposta de João Marcello de Araujo Junior caminhou em sentido oposto, evitando ao
máximo o emprego de elementos normativos do tipo, porém, "sempre que isso não foi possível,
usamos palavras e expressões já consagradas na legislação atual, para evitar qualquer confusão
conceitual". 46
2.4 Simplificação da prova
Um dos principais obstáculos à efetividade da repressão penal em se tratando de delitos econômicos
tem sido o atinente à dificuldade de produção de provas dada a complexidade da matéria e a
especial qualidade de seus autores - normalmente dispersados na estrutura empresarial. Neste
sentido, reconhece-se a necessidade de simplificar a prova, mas sem o apelo a técnicas contrárias a
um Estado de Direito, como a inversão do ônus da prova, a presunção de culpa ou a renúncia aos
pressupostos da culpabilidade.
A técnica dos tipos de perigo abstrato por si só já facilita enormemente a prova e, como observa
Klaus Tiedemann, uma vez aliada à renúncia de inclusão de elementos subjetivos no tipo penal, são
capazes de simplificar a produção de provas, e, pois, dar uma resposta positiva àquelas dificuldades.
Por seu turno, na Proposta brasileira de alteração do Código Penal (LGL\1940\2), a facilitação da
prova foi resolvida justamente com a definição de crimes de perigo abstrato e, seguindo a orientação
alemã, com a preponderância, de forma geral, de tipos estritamente objetivos. 47
2.5 Previsão de fraudes à norma econômica
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
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Quem lança a advertência da necessária repressão às fraudes à norma econômica é Klaus
Tiedemann, exemplificando com o ocorrido em França quando o Primeiro-Ministro Barre instituiu o
controle de preços sobre várias espécies de pães, como o popular baguette. Os padeiros franceses
criaram um novo produto, ao qual deram, ironicamente, o nome do ministro (pão "Barre") e que,
obviamente, não esta sujeito ao controle de preços. 48
Exemplos como este, encontrados amiúde na literatura especializada, é que tornam imperiosa, na
opinião do mestre tedesco, a inclusão, na reforma do Direito Penal, de normas incriminadoras que
excluam a possibilidade de fraude à lei. Muito embora fosse necessário, para o cumprimento deste
mister, a admissão da analogia, não poder ser empregado já que o Direito Penal está vinculado a
princípios garantistas que impedem a analogia em prejuízo do réu.
2.6 O erro de tipo - Conclusões - Bibliografia - Anexo
A característica de superposição do Direito Penal Econômico 49 aliada ao emprego de tipos penais
em branco coloca a questão do erro no centro da discussão acerca dos delitos econômicos.
A normativa própria da atividade econômica, dinâmica, dispersa, instável; a atividade interventiva
veiculada por meio de diversos instrumentos legislativos e administrativos, acentuam a probabilidade
de que se atue com desconhecimento desta "infra-estrutura" extrapenal que integra o âmago do
delito econômico.
A situação problemática já foi acentuada por Muñoz Conde que adverte:
"El uso y el abuso de la ley delegada, del decreto-ley, del reglamento y aun de las órdenes y
circulares administrativas es una constante de este sector y es deprorable que toda esa normativa,
con rango inferior al de la ley orgánica formal, pueda entrar en el Derecho Penal por la puerta falsa
de la norma penal en blanco que, en líneas generales, representa una burla del principio de
legalidad." 50
Diante de tais dificuldades, é que propõe o jurista espanhol que se compense, desde o ponto de vista
subjetivo, a complexidade normativa dando-se maior relevância ao erro do agente sobre estes
elementos incorporados ao tipo. Acentuado que na maioria dos delitos econômicos já remissão a
normas extrapenais, conclui que o erro, nesta matéria, seriapropriamente sobre elemento integrante
da infração penal, isto é, verdadeiro erro de tipo.
Questiona o autor: como entender constituído o delito de fraude fiscal se não se considera que o
dever tributário é um elemento integrante do mesmo? A constatação desse questionamento, no
sentido da impossibilidade de compreensão do tipo sem o recurso às normas tributárias, é facilmente
perceptível quando da leitura das normas relativas à sonegação fiscal. 51
Imperiosa, pois, a mudança de tratamento do erro quando presente nos delitos econômicos.
Concluímos, então, com Muñoz Conde que:
"No se trata, pues, de conceder impunidad a la despreocupación o negligencia en el cumplimiento de
los deberes de carácter económico que el ciudadano tiene con el Estado, sino de situar
adecuadamente el problema en al categoría o secuencia de la teoría del delito donde corresponde. Y
hoy por hoy es en la configuración del propio tipo de delito donde surgen las obligadas remisiones o
referencias a normas penales, sin las que la función de seleción, de garantía y de motivación que el
tipo cumple no pueden tener efecto."
CONCLUSÕES
1. O Direito Econômico é o conjunto de normas utilizadas pelo Estado na consecução da
política-econômica.
2. O Direito Penal Econômico pode ser entendido, restritivamente, com o conjunto de normas penais
que tutelam a economia nacional. Pode ser também entendido, extensivamente, como o conjunto de
normas penais que tutelam a regulação da produção, da fabricação e da distribuição de bens.
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
Página 8
3. O Direito Penal Econômico caracteriza-se por tutelar bens supraindividuais e pela amplitude da
potencialidade lesiva das suas formas delitivas.
4. A vetorialidade e instabilidade das normas econômicas recomenda a criação de tipos legais aptos
a acompanhar a agilidade da vida econômica. Recomenda-se, preferencialmente, o emprego das
normas penais em branco, dos tipos de perigo, dos elementos normativos e de cláusulas gerais, da
supressão de qualificadoras do elemento subjetivo do tipo.
5. O Direito Penal Econômico é direito da superposição. Para a compreensão do delito econômico é
necessário o conhecimento prévio da disciplina jurídico-econômica das condutas que se quer punir.
Esta propriedade reflete-se diretamente sobre a questão do erro de tipo.
6. Os delitos econômicos devem situar-se no interior do Código Penal (LGL\1940\2) para um maior
organicidade e coerência no trato da matéria, facilitando a interpretação, fornecendo uma maior
transparência e maximizando a difusão dos valores tutelados pela consciência pública.
7. Tendo em vista a natureza supra-individual do bem jurídico tutelado pelos delitos econômicos,
doutrinadores sugerem o emprego de tipos de perigo abstrato, dada a necessidade de orientar-se,
nesta seara, pelo perigo e não pelo dano. Outros, porém, aceitam a utilização de tipos de perigo,
mas apenas de perigo concreto, dado que de outra forma estar-se-ía, quase sempre, a violar
preceitos nucleares do Direito Penal, como o princípio da proporcionalidade, do bem jurídico e da
legalidade.
8. A necessidade do emprego de elementos normativos e cláusulas gerais na descrição típica dos
delitos econômicos, só poderá implicar na declaração da responsabilidade penal do agente quando e
na medida em que estes elementos consubstanciarem valorações reconhecidas e seguras.
9. É reprovável o emprego de técnicas para a simplificação da prova, de maior dificuldade em se
tratando de delitos econômicos, quando atentem contra o Estado de Direito, tais como a inversão do
ônus da prova, a presunção de culpa ou a renúncia aos pressupostos da culpabilidade. Porém, a
própria utilização de tipos de perigo ao lado da supressão, na medida do possível, de elementos
subjetivos nos tipos penais, já respondem satisfatoriamente àquelas dificuldades.
10. Recomenda-se, ainda, a repressão às fraudes à norma econômica e à norma penal econômica.
11. Deve-se compensar a complexidade normativa trazida para o núcleo dos delitos econômicos
pelas normas penais em branco e elementos normativos, dando-se maior relevância ao erro do
agente sobre os elementos incorporados ao tipo através daquelas técnicas.
12. Muito embora visualize-se uma nova perspectiva de abordagem dogmática e legislativa dos
delitos econômicos, acreditamos, com Muñoz Conde 52, que são as categorias e os princípios gerais
do Direito Penal, em seu conjunto, que devem nortear as novas formulações nesta matéria.
BIBLIOGRAFIA
ANGIONI, Francesco. Beni costituzionali e criteri orientativo sull'area dell'illecito penale, in Bene
giuridico e riforma della parte especiale, Jovene, 1985, pp. 59-130.
ARAUJO JUNIOR, João Marcello de. Dos crimes contra a ordem econômica, S. Paulo, RT, 1995, p.
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BITTENCOURT, Cezar Roberto. "Princípios garantistas e a delinqüência do colarinho branco",
Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, n. 11, pp. 118/127, jul.-set., 1995.
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COMPARATO, Fábio Konder. O indispensável Direito econômico, RT, S. Paulo, v. 353.
MUÑOZ CONDE, Francisco. Principios politicocriminales que inspiran el tratamiento de los delitos
contra el orden socieconómico en el proyecto de codigo penal español de 1994, Revista Brasileira de
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Página 9
Ciências Criminais, S. Paulo, n. 11, pp. 7/20, jul.-set., 1995.
NUSDEO, Fábio. Fundamentos para uma codificação do direito econômico, S. Paulo, RT, 1995, p.
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OLIVEIRA, William Terra de. Algumas questões em torno do novo direito penal econômico, Revista
Brasileira de Ciências Criminais, S. Paulo, n. 11, pp. 231-239, jul.-set., 1995.
PIMENTEL, Manoel Pedro. Direito penal econômico, S. Paulo, RT, 1973, p. 244.
SUTHERLAND, Ed. H. White-collar criminality. American Sociological Review, 2/1-2, 1940, apud
Oliveira, William Terra de. Algumas questões em torno do novo direito penal econômico, Revista
Brasileira de Ciências Criminais, S. Paulo, n. 11, pp. 231-239, jul.-set., 1995.
TIEDEMANN, Klaus. Poder económico y delito: introducción al derecho penal económico y de la
empresa. Traducción de Amelia Mantilla Villegas. Barcelona, Editorial Ariel, 1985, p. 235.
VIII CONGRESSO Brasileiro de Direito Tributário - Direito Penal Tributário, Revista de Direito
Tributário, S. Paulo n. 64.
ANEXO I
Recomendações do XIII Congresso Internacional da Associação Internacional de Direito Penal sobre
"O conceito e os princípios fundamentais do Direito Penal Econômico e da Empresa", celebrado na
cidade do Cairo em 1984 *
1. La delincuencia económica y de la empresa afecta con frecuencia al conjunto de la economía o a
sectores importantes de la misma y resulta hoyu de especial interés en numerosos países
independientemente de sus sistemas económicos.
2. El Derecho Penal constituye solamente una de las medidas para regular la vida económica y para
sancionar la violación de las reglas económicas. Normalmente, el Derecho Penal desempeña un
papel subsidiario. Pero, en determinados sectores, el Derecho Penal es de primera importancia y
prevé medios más apropriados para regular la actividad económica. En tales casos, el Derecho
Penal implica una menor intervención en la vida económica que el Derecho Administrativo o
Mercantil.
3. Es necesaria la existencia de una justicia apropriada y de asistencia a individuos a grupos de
víctimas de delitos económicos y de la empresa.
4. La expresión "Derecho Penal Económico" se emplea aquí para circunscribir los delitos contra el
orden económico. La expresión "Derecho Penal de la Empresa" se refeiere a los delitos cometidos en
el ámbito de las empresas privadas y públicas. Ambas expresiones se encuentram íntimamente
relacionadas en el sentido de que los delitos lesionam regulaciones legales que organizan y protegen
la vida económica.
5. En la mayoria de los casos, el DerechoPenal tutela en este ámbito bienes jurídicos colectivos, no
únicamente individuales. La mayor parte de estos bienes jurídicos colectivos resultam más difíciles
de determinar y de defender que los bienes jurídicos individuales, a causa de su carácter
particularmente complejo y difuso. Por ello, existe una necesidad especial de proteger estos
intereses colectivos. Su protección a cargo de la ley penal debería estar incluida en el Código Penal
(LGL\1940\2).
6. No obstante las peculiaridades del Derecho Penal Económico y de la Empresa deberían aplicarse
los principios generales del Derecho Penal, especialmente aquellos que protegen los derechos
humanos. No debería trasladarse la carga probatoria al acusado.
7. En el Derecho Penal Económico y de la Empresa deberían evitarse, en lo posible, las cláusulas
generales. Allí donde resulte necesario em empleo de cláusulas generales, éstas deberían
interpretarse restrictivamente. Las conductas prohibidas deben describirse con precisión.
8. En relación con la descripición de los delitos, el empleo de técnicas de remisión a instancias
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normativas fuera del Derecho Penal, para determinar cuáles son las conductas que se incriminan,
puede conllevar le peligro de imprecisión y falta de claridad, así como un excesso de delegación del
poder legislativo an la Administración. La conducta o el resultado prohibidos deben estar
especificados, en lo posible, en el proprio precepto penal.
9. El empleo de tipos delictivos de peligro abstracto es un medio válido para la lucha contra la
delincuencia económica y de la empresa, siempre y cuando la conducta prohibida pro el legislador
venga especificada con precisión y en tanto la prohibición se refiere directamente a bienes jurídicos
claramente determinados. La creación de delitos de peligro de facilitar la prueba de los delitos.
10. Deberían estudiarse las formas de prevenir la circunvalación de la ley.
11. El principio penal fundamental de culpabilidad debe ser respetado también en el Derecho Penal
Económico y de la Empresa. Cuando existan tipos delictivos que no presupongan una imputación
subjetiva (dolo o imprudencia) o no exijan la prueba de la misma ("strict liability offences"), deberá
admitirse como eximente la circunstancia de no haber podido actuar de otro modo. Los trabajos de
reforma debem orientarse hacia la más pronta abolición de tales delitos de responsabilidad objetiva.
12. Debería establecerse la responsabilidad penal de las personas responsables de las empresas
por delitos cometidos por los empleafos de las mismas cuando medien en aquéllas una infracción del
deber de vigilancia u culpabilidad (al menos, imprudencia en el sentido penal). Las reglas generales
de la participación punible no quedan afectadas por esta recomendación.
13. La responsabilidad penal de las personas jurídicas está reconocida en un número creciente de
países como una vía apropriada para controlar la delincuencia económica y de la empresa. Los
países que no reconocen tal clase de responsabilidade podrían considrar la posibilidad de imponer
otras medidas contra tales entidades.
14. Normalmente, debería fomentarse la introducción de medios administrativos y civiles
(mercantiles) antes de incriminar determinados actos u omisiones perjudiciales para la vida
económica.
15. Los procedimientos sancionadores administrativos deben respetar, con todas las garantías, las
exigencias propias de un proceso, incluso el derecho de revisión judicial. No debe admitirse que la
Administración pueda imponer penas de prisión en el ámbito de los delitos económicos y de la
empresa.
16. Debería facilitarse el acceso de las víctimas individuales a los grupos de víctimas de delitos
económicos y de la empresa a los medios judiciales o administrativos. Debería permitirse la
participación de asociaciones de víctimas de tales delitos, incluyendo las asociaciones de
consumidores, en los procesos civiles, administrativos o penales. El sistema de sanciones para los
delitos económicos y de la empresa debería incluir la posibilidad de restituición.
17. Por el carácter transacional de muchas de los delitos económicos y de la empresa, debería
promoverse la armonización de las legislaciones nacionales en este campo, lo cual podría iniciarse
con la elaboración de leyes penales prototípicas por parte de premios internacionales de
especialistas en Derecho Penal Económico y de la Empresa.
18. Debería estimularse la protección de los bienes jurídicos extranjeros por las legislaciones
nacionales, particularmente en el ámbito de las economías regionales y en las comunidades
económicas. Deberían establecerse acuerdos y tratados bilaterais y multinacionales para armonizar
los efectos de las figuras penales económicas, para hacer a éstas más efectivas, para reducir los
conflictos entre los diferentes ordenamientos jurídicos y para combatir el abuso de poder económico
en las relaciones internacionales.
19. A la luz de relaciones internacionales armoniosas y con el respeto debido a los derechos
humanos, debería reexaminarse el mantenimiento de la tradicional exclusión de los delitos fiscales y
de índole similar en los tratados de extradición y de auxilio judicial internacional.
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
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(1) Neste sentido, a lição inestimável de Klaus Tiedemann, "cabe afirmar que el Derecho Penal no
tiene en la actualidad como misión la de conformar el orden económico. Por el contrario y como
principio, únicamente ratifica un orden extrapenal y colabora así para su efectividad. En el ámbito de
la economía, precisamente, el Derecho Penal resulta ser secundario y acesorio" (Klaus Tiedemann,
Poder económico y delito: introducción al derecho penal económico y de la empresa. Traducción de
Amelia Mantilla Villegas. Barcelona: Editorial Ariel, 1985, p. 21).
(2) NUSDEO, Fábio. Fundamentos para uma codificação do direito econômico. São Paulo, RT, 1995,
p. 8.
(3) Como ensina Fábio Nusdeo, "a institucionalização generalizada do sistema de cunho
descentralizado no mundo ocidental explica-se como um desaguar de todas as correntes de índole
liberal-iluminista-utilitarista que se consolidaram ao longo do século XVIII e o marcaram com tal
profuncidade que, a partir, grosso modo, de sua última década, abre-se uma nova era da História - a
Era Contemporânea" (ibid., p. 10).
(4) Ibid., p. 9.
(5) Cf. Nusdeo, id., pp. 17 e 18.
(6) Este autor adverte, porém, que sempre houveram "pontes que levam o político a se projetar sobre
o econômico. Claramente, tais pontes sempre existiram, inclusive quando lançadas no sentido
inverso, isto é, do setor econômico privado para o público, a fim de deixarem por elas circular os
grupos de interesse em busca de medidas estatais para eles necessárias" (ibid. p. 20).
(7) Ibid., p. 25.
(8) Como observa Muñoz, "actualmente, nadie discute que el Estado debe intervenir en la economía,
no tanto en sustitución de la iniciativa privada, como controlándola y corrigiendo sus excesos, y, en
todo caso, redistribuyendo la riqueza a través de una política fiscal que le permita también adquirir su
propio patrimonio destinado a la realización de actividades caracterizadas más por su rentabilidad
social que económica (transporte, sanidad, educación, etc.). Lo que originariamente o por lo menos
desde el prisma del liberalismo económico capitalista, se consideraba como una anomalía o una
cuestión excepcional, se considera hoy algo absolutamente normal, sin lo que ni siquiera la
economía de mercado podría sobrevivir" (Franciso Muñoz Conde, Principios politico criminais que
inspiran el tratamiento de los delitos contra el orden socioeconómico en el proyecto de codigo penal
español de 1994. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, n. 11, jul.-set., 1995, p. 9).
(9) Op. cit., p. 26.
(10) Não compartilha deste entendimento Fábio Konder Comparato, afirmando que o Direito
Econômico é umnovo ramo do Direito formado pelo "conjunto das técnicas jurídicas de que lança
mão o Estado contemporâneo na realização de sua política econômica" (O indispensável Direito
econômico. RT, São Paulo, v. 353, p. 22).
(11) TIEDEMANN, op. cit., p. 16. No mesmo sentido, William Terra de Oliveira assinala o
deinamismo, a originalidade e a instabilidade como marcas próprias do Direito Penal Econômico (Cf.
William Terra de Oliveira. Algumas questões em torno do novo direito penal econômico. Revista de
Ciências Criminais, São Paulo, n. 11, jul.-set., 1995, p. 233).
(12) Este elenco de fins gerais da política econômica foi idealizado por Boulding, (Cf. Nusdeo, op.
cit., p. 28).
(13) "O papel do Direito Penal Econômico no mundo moderno certamente será cada vez mais maior.
Seu desenvolvimento desde o início, sempre este ligado à qualidade e grau de intervenção do
Estado na vida econômica. Assim, tanto a delimitação de seu campo de atuação, quando a definição
dos bens jurídicos que deve tutelas constituem a ossatura das pesquisas nesta área" (Oliveira, op.
cit., p. 233).
(14) Cf. nota supra.
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(15) Manoel Pedro Pimentel. Direito penal econômico. São Paulo, RT, 1973, p. 20. Fábio Nusdeo
indica a certeza e a garantia como necessidades fundamentais da formulação e aplicação das
normas do Direito Econômico (cf. Nusdeo, op. cit., p. 42).
(16) PIMENTEL, op. cit., pp. 16-22.
(17) João Marcello Araújo Junior, Dos crimes contra a ordem econômica, São Paulo, RT, 1995, p. 18.
(18) Cf. Tiedemann, op. cit., pp. 18-19.
(19) Ibid., p. 20.
(20) Veja-se Anexo I.
(21) MUÑOZ CONDE, op. cit., p. 10.
(22) Cf. ibid., pp. 13 e ss.
(23) OLIVEIRA, op. cit., p. 233.
(24) SUTHERLAND, Ed. H. White-collar criminality, apud Oliveira, op. cit., p. 236.
(25) PIMENTEL, op. cit., pp. 34-35.
(26) Citado por Cezar Bitencourt (Cf. Cezar Roberto Bitencourt. Princípios garantistas e a
delinqüência do colarinho branco. Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, n. 11, jul.-set.,
1995, p. 126).
(27) "Da ordem econômica e financeira", em cujo Capítulo I - "Dos princípios gerais da atividade
econômico", encontra-se o art. 170, verbis: "A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III -
função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio
ambiente; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca de pleno emprego; IX -
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que
tenham sua sede e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício
de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos
casos previstos em lei".
(28) OLIVEIRA, op. cit., pp. 232-233, com a ressalva, do próprio autor, de que este "questionamento
não implica rigorosamente em ignorar totalmente os serenos preceitos e postulados da Dogmática
tradicional (conquistas valiosas e sólidas em seu teor, e de caráter inequivocamente atemporal)" (id.,
p. 232, nota 8).
(29) Cf. Muñoz Conde, op. cit., pp. 18/20.
(30) VIII Congresso Brasileiro de Direito Tributário - Direito Penal Tributário, Revista de Direito
Tributário, São Paulo, n. 64, p. 30.
(31) TIEDEMANN, op. cit., p. 90.
(32) TIEDEMANN, ibid., p. 32.
(33) ARAUJO JUNIOR, op. cit., p. 30.
(34) Cf. Tiedemann, op. cit., pp. 43 e ss.
(35) MUÑOZ CONDE, op. cit., p. 11.
TIPICIDADE NO DIREITO PENAL ECONÔMICO
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(36) Cf. Araujo Junior, op. cit., p. 36.
(37) TIEDEMANN, op. cit., p. 34. Consulte-se, a respeito, o Anexo I (Conclusões do XIII Congresso
Internacional da Associação Internacional de Direito Penal - 1984).
(38) TIEDEMANN, ibid., p. 36.
(39) BITENCOURT, op. cit., p. 125. Acrescenta, ademais, o ilustre Procurador de Justiça que "a
sociedade precisa dispor de meios eficientes e rápidos que possam reagir ao simples perigo, ao
risco, deve ser sensível a qualquer mudança que poderá desenvolver-se e transformar-se em
problemas transcendentais. Neste campo, o direito tem que se organizar preventivamente. É
fundamental que se aja no nascedouro, preventivamente, e não repressivamente. Nesse aspecto, os
bens coletivos são mais importantes do que os bens individuais; é fundamental a prevenção porque
a repressão vem tarde demais" (op. cit., p. 125).
(40) ARAUJO JUNIOR, ibid., pp. 50 e 51.
(41) Cezar Roberto nos dá notícia da chamada "ordem econômica estrita), assim entendida aquela
dirigida ou fiscalizada diretamente pelo Estado (cf. Bitencourt, op. cit., p. 126).
(42) Constituição da República (LGL\1988\3) Federativa do Brasil, art. 1.o, inc. IV.
(43) TIEDEMANN, op. cit., p. 47.
(44) Cf. Tiedemann, ibid., p. 34.
(45) TIEDEMANN, op. cit., pp. 34 e 35.
(46) ARAUJO JUNIOR, op. cit., p. 51.
(47) ARAUJO JUNIOR, op. cit., p. 51.
(48) Cf. Tiedemann, op. cit., p. 37.
(49) Vide item 2.2, supra.
(50) MUÑOZ CONDE, op. cit., p. 18.
(51) No Brasil, especialmente, Lei 8.137/90.
(52) MUÑOZ CONDE, op. cit., p. 20.
(*) Apud Tiedemann, op. cit., pp. 183 a 185.
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