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Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Humanas, Departamento de Direito Ensino Jurídico Brasileiro e a Manuntenção do Paradigma Dominante Resenha sobre A Crítica Da Razão Indolente: Contra o Desperdício da Experiência Christopher Álvaro do Carmo - 82231 A ideia de razão com ponto central das formas de conhecimento preponderou por boa parte da história ocidental, era a conexão ao verdadeiro Mundo das Almas segundo Platão; Descartes a concebia como o centro do conhecimento e saber; legislações foram elaboradas com embasamento na chamada razão como aconteceu com o Código Napoleônico. Contudo, com o advento da era industrial e consequentemente a ascenção do capital como núcleo de toda uma sociedade e da burguesia como nova detentora de poder, não há mais condições de conceber uma forma de razão pura como ponto de partida de uma forma de conhecimento que compreenda a sociedade, a experiência empírica presenciada nos interiores das fábricas e no cotidiano do proletariado refletiam uma condição jamais antes vista, consequentemente visualizando uma situação em que todos aqueles fatos se revoltam com uma concepção de conhecimento e ciência elaboradas anteriormente onde, teoricamente, seria possível delimitar as leis da sociedade uma vez que era possível delimitar as leis da física. Eventualmente com o advento da pós-modernidade nos eventos do século XX, surge-se uma preocupação com as relações de poder em suas mais variadas formas, seja o poder macro que surge no seio da sociedade capitalista ou os micropoderes que tendem a aparecer principalmente na forma do discurso, também é trazido um ponto chave que é justamente a negação de certas formas de objetividade, sendo necessária uma análise mais minunciosa ao se tratar de determinados assuntos. Ao apresentar trincas na ideia de objetividade, inevitavelmente a pós-modernidade toca em dois pontos delicados que são o Direito e a Ciência, que traz uma discussão interessante sobre como o Direito vigente dentro de todo um paradigma dominante de capital e de exclusão apontado por Boaventura em seu texto acaba por influenciar a sua própria Ciência e o que essa última dá de retorno ao Direito inevitavelmente inserido no paradigma dominante. Ao se tratar de Direito e Ciência, é imprescindível falar de uma das formas principais em que essa relação se manifesta que é no Ensino Jurídico, que atualmente no sistema brasileiro se prevalece uma série de dogmatismos racionalistas, estritamente relacionados a ideia de objetividade do saber da Ciência Social, tudo isso fruto de um tardar na construção de Universidades no Brasil e consequentemente uma dificuldade das mesmas em fazer seu objetivo, que é Universalizar o conhecimento e promover uma interdisciplinariedade entre os vários ramos do conhecimento. Para entender a crítica feita, é preciso entender o Direito como algo dinâmico e não condicionado por algo indolente e objetivo como a razão – O centro da crítica de Boaventura – ,é preciso entendê-lo sobre um ponto de vista econômico, cultural e no contexto atual, principalmente político. A partir do momento que o ensino não contempla o ser como seres históricos e inacabados, ele contempla o ser como outra forma ou outro meio para um determinado fim. É possível fazer a mesma crítica a situação da Ciência, quando não aceita em sua dinamicidade, aquilo que originalmente é instrumento de revolução e transformação pode se tornar perfeitamente o instrumento pra manutenção dos paradigmas dominantes. Por fim, Boaventura também trabalha sobre como as constantes lutas e algumas frustrações nesse caminho interagem com o paradigma dominante. Ao levar tal tópico para o meio acadêmico, é possível visualizar determinadas frustações principalmente relacionadas ao critério avaliativo das instituições de ensino de Direito e das eventuais avaliações de ingresso em profissões ou aquisição de licenças de advocacia. Até que ponto uma certa rigidez, muito presente em alguns métodos avaliativos das Ciências Exatas onde se exige geralmente uma repetição de conteúdo e pouco poder criativo, podem se aplicar a uma Ciência Humana de extrema dinamicidade? Podemos concluir que uma formação marcada por esse tipo de rigidez não prepara o discente para atuar no mundo jurídico de forma transformadora e, na concepção de Paulo Freire, não é uma Educação que o liberta de fato e também, como já dito antes, se o ser não é contemplado em sua liberdade e dinamicidade, ele será contemplado para outro fim, geralmente atrelados a fins do paradigma dominante, principalmente a parte capital do mesmo. Tal acontecimento é visível em um país com um excesso de faculdades de Direito – Existem mais faculdades de Direito no Brasil do que resto do mundo - , excesso de advogados de Direto segundo o Conselho da OAB e mais de 100 milhões de processos em Setembro de 2015 segundo o ConJur, mostrando o quão viável tem sido o atolamento do judiciário para os investidores de faculdades particulares (Que são maioria no país) e eventuais interessados no uso do Direito para um fim capital. Bibliografia: SANTOS, Boaventura de Sousa. A Crítica da Razão Indolente: Contra o Desperdício da Experiência SALLES, Anna Paula de Almeida. Apontamentos sobre o Ensino de Direito no Brasil: Por uma Educação Libertária. Monografia apresentada à graduação de Direito da Universidade Federal de Viçosa: 2015 SILVA, Maria Aparecida Lemos. Avaliação do Rendimento Escolar ou Punição?. http://www.periodicos.udesc.br/index.php/linhas/article/download/1308/1119. http://www.oab.org.br/noticia/20734/brasil-sozinho-tem-mais-faculdades-de-direito-que-todos- os-paises http://www.conjur.com.br/2015-set-15/brasil-atinge-marca-100-milhoes-processos-tramitacao http://www.conjur.com.br/2015-set-06/segunda-leitura-excesso-faculdades-direito-implodem- mercado-trabalho http://blog.portalexamedeordem.com.br/blog/2012/09/segundo-oab-brasil-tem-750-mil- advogados-e-mais-de-1-5-milhao-de-bachareis-em-direito/
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