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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENGENHARIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ESCAVAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE MINAS A CÉU ABERTO LEONARDO ASSIS FERREIRA JUIZ DE FORA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UFJF 2013 i UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ESCAVAÇÃO E EPLORAÇÃO DE MINAS A CÉU ABERTO LEONARDO ASSIS FERREIRA JUIZ DE FORA 2013 ii LEONARDO ASSIS FERREIRA ESCAVAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE MINAS A CÉU ABERTO Trabalho Final de Curso apresentado ao Colegiado do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro Civil. Área de Conhecimento: Geologia Mineral, Técnicas de Exploração de Minério. Orientador: Guilherme Soldati Ferreira, M. Sc. Juiz de Fora Faculdade de Engenharia da UFJF 2013 iii ESCAVAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE MINAS A CÉU ABERTO LEONARDO ASSIS FERREIRA Trabalho Final de Curso submetido à banca examinadora constituída de acordo com o Artigo 9 o do Capítulo IV das Normas de Trabalho Final de Curso estabelecidas pelo Colegiado do Curso de Engenharia Civil, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Aprovado em: ____/________/_____ Por: _____________________________________ Prof. Guilherme Soldati Ferreira, M. Sc. (Orientador) _____________________________________ Prof. Ana Maria Stephan, D. Sc. _____________________________________ Prof. Roberto Lopes Ferraz, D. Sc. iv “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.” Jó 42.2 v AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela sua misericórdia que se renova todos os dias da minha vida; por ser Ele quem me dirige todos os passos, desde o meu levantar até o meu deitar. Agradeço a Ele pelos Teus olhos terem me visto uma substância ainda informe, e no Teu livro ter sido escrito todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nenhum deles havia ainda. Agradeço aos meus pais, Geraldo e Luzia, pelo amor incondicional que a mim demonstraram, fazendo de tudo para que eu pudesse me tornar uma pessoa melhor. Amo vocês. Agradeço a minha irmã, Pollyana, por ser a minha companheira dessa longa jornada, e por mais que a vida tenha nos separado, fui feliz a cada minuto da sua presença. Conte sempre comigo. Agradeço aos amigos que conquistei durante todos estes anos, sendo eles grandes companheiros de batalha. Lembro-me bem de todas as noites mal dormidas que nos levaram a um imenso cansaço, mas juntamente com este cansaço, conquistamos a vitória. Agradeço a Bia por ser aquela que esteve ao meu lado durante toda a reta final, pessoa com quem quero viver todos os dias da minha vida. Agradeço por todos os meus familiares, que torceram por mim, mesmo não estando perto. Agradeço aos meus mestres que tiveram papel fundamental na minha formação de engenheiro, sou eternamente grato a tudo que aprendi com vocês. Agradeço especialmente ao meu mestre Guilherme Soldati por ser responsável pelo acompanhamento de todas as etapas desta monografia. Muito obrigado pelo seu apoio e incentivo. vi RESUMO A mineração é entendida como uma atividade industrial cujo principal objetivo é a extração de substâncias minerais localizadas em depósitos naturais e o transporte até o ponto de seu tratamento. Cada depósito possui uma característica singular, ou seja, cada jazida possui características próprias, que diferem de lugar para lugar ou até mesmo dentro de uma única jazida. A atividade mineradora pode ser classificada dentro de três grupos principais: A indústria mineral, setor de grande porte; A mineração de uso social, setor de médio porte, sendo destacadas as pedreiras, os portos de areia e argila; O garimpo, setor de pequeno porte, sendo classificado como atividade extrativa informal. Os empreendimentos de mineração em geral são de maturação mais lenta que aqueles de obras civis, podendo ocorrer vários anos entre a descoberta da ocorrência até o início da operação. A própria operação, geralmente, pode se desenvolver por vários anos. Porém, depois de iniciadas as atividades, estas se desenvolvem de maneira relativamente simples. A presente monografia tem como objetivo destacar e detalhar todos os processos que envolvem a exploração de uma mina a céu aberto, desde o projeto de exequibilidade até o processo de fechamento de uma mina. Destacando assim as principais fases de execução de uma mina, objetivando a retirada mais completa, mais econômica, mais segura e mais rápida da massa mineral. Os resultados que aqui foram obtidos demonstram o quanto à mineração influencia o meio onde se instala. Principalmente a mineração a céu aberto, que possui como característica peculiar o alto nível de degradação do meio ambiente. Para que este fato seja minimizado é necessário um estudo detalhado da recuperação ambiental do local, tornado este um setor sustentável. Palavras-chave: Mineração; Mina; Minério; Estéril; Lavra por Bancadas; Fases da Mineração. vii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Caminhos traçados pelos bandeirantes a procura de indígenas e pedras preciosas. .. 3 Figura 2: Trabalho de extração do ouro de aluvião realizado por escravos. ............................. 4 Figura 3: A) Participação do Brasil na produção mineral mundial; B) Participação e posição no ranking mundial ..................................................................................................................... 6 Figura 4: Participação da indústria extrativa mineral no valor adicionado bruto a preços básicos no Brasil. ........................................................................................................................ 6 Figura 5: Comparação da economia mineral na atualidade e uma projeção para o ano de 2050. ........................................................................................................................................... 8 Figura 6: A importância das commodities minerais para a sociedade atual. ............................. 9 Figura 7: Perspectiva da população mundial para o ano de 2030. .......................................... 10 Figura 8: Formas dos Minerais: a) Cristal Cúbico; b) Cristais Octaedros; c) Cristais Hexaedros. ................................................................................................................................ 14 Figura 9: Diferentes tipos de clivagem. .................................................................................. 16 Figura 10: Mineral – Ouro. ..................................................................................................... 18 Figura 11: Mineral – Prata. ..................................................................................................... 18 Figura 12: Mineral – Cobre. .................................................................................................... 19 Figura 13: Mineral – Grafita. .................................................................................................. 20Figura 14: Mineral – Diamante. .............................................................................................. 20 Figura 15: Exemplo de rocha magmática ou ígnea: Granitos de variadas cores..................... 21 Figura 16: Exemplo de rocha sedimentar: Arenito. ................................................................ 22 Figura 17: Exemplo de rocha metamórfica: Quartizito. .......................................................... 23 Figura 18: Esquema de um empreendimento mineral. ............................................................ 25 Figura 19: Tempo de maturação de um depósito de ouro no período de 1969 a 1983. .......... 27 Figura 20: Evolução dos investimentos no setor mineral brasileiro. ...................................... 28 Figura 21: Equipamento de escavação de grande porte (“Escavadeira Shovel”). ................. 39 Figura 22: Lavra por bancadas da Companhia Vale do Rio Doce, conhecida como mina de Brucutu. .................................................................................................................................... 42 Figura 23: Lavra em tiras localizada em Casper, Estados Unidos. ......................................... 43 Figura 24: Dragagem do canal do rio Paraguai. ...................................................................... 44 Figura 25: Lavra em Encosta. ................................................................................................. 45 Figura 26: Lavra em Cava. ...................................................................................................... 45 viii Figura 27: Parâmetros que definem a geometria de uma mina a céu aberto. .......................... 46 Figura 28: Diferenciação entre praça e bancada de mina. ....................................................... 49 Figura 29: Padrões de inclinação para taludes. ....................................................................... 49 Figura 30: Trator de esteira “bulldozer”. ................................................................................ 54 Figura 31: Trator de rodas “bulldozer”. .................................................................................. 55 Figura 32: Lâmina de um trator de esteiras “bulldozer”. ....................................................... 55 Figura 33: Escarificador (“Ripper”). ...................................................................................... 56 Figura 34: “Scrapers” sendo rebocados por tratores de esteiras e rodas................................ 57 Figura 35: “Motoscrapers”. .................................................................................................... 57 Figura 36: Caçamba de um “scraper” escavando e carregando o solo. ................................. 58 Figura 37: Carregadeira sobre esteiras. ................................................................................... 59 Figura 38: Carregadeira sobre rodas. ...................................................................................... 59 Figura 39: Escavadeira Hidráulica. ......................................................................................... 60 Figura 40: Escavadeira “Shovel”. ........................................................................................... 60 Figura 41: “Dragline”. ........................................................................................................... 61 Figura 42: Motoniveladora. ..................................................................................................... 62 Figura 43: Caminhão basculante comum empregado na mineração com capacidade de carga de 35 toneladas. ........................................................................................................................ 62 Figura 44: Caminhão articulado empregado na mineração com capacidade de carga de 43 toneladas. .................................................................................................................................. 63 Figura 45: Caminhão “off-road” empregado na mineração com capacidade de carga de 200 toneladas. .................................................................................................................................. 63 Figura 46: Rolo vibratório liso. ............................................................................................... 64 Figura 47: Rolo vibratório “pé-de-carneiro”. .......................................................................... 64 Figura 48: Perfuratriz giratória empregada na mineração a céu aberto no desmonte de rocha e minério. ..................................................................................................................................... 65 Figura 49: Dinamite. ............................................................................................................... 67 Figura 50: ANFO. ................................................................................................................... 67 Figura 51: Emulsão. ................................................................................................................ 67 Figura 52: Cordel detonante. ................................................................................................... 68 Figura 53: Retardo de cordel. .................................................................................................. 69 Figura 54: Espoleta de queima. ............................................................................................... 69 Figura 55: Sistema de iniciação não elétrico. .......................................................................... 70 ix Figura 56: Sistema de iniciação eletrônico. ............................................................................ 70 Figura 57: Abertura de Trincheira. .......................................................................................... 75 Figura 58: Execução de sondagem a trado. ............................................................................. 75 Figura 59: Execução de sondagem rotativa............................................................................. 76 Figura 60: Testemunhos de sondagem. ................................................................................... 76 Figura 61: Cubagem de jazidas – Método dos polígonos (área de influência). ...................... 77 Figura 62: Cubagem de jazidas – Método dos polígonos (triângulos). ................................... 78 Figura 63: Emprego de correntes para remoção da vegetação. ............................................... 82 Figura 64: Emprego de lâmina para remoção da vegetação.................................................... 82 Figura 65: Emprego de destocador para remoção da vegetação. ............................................ 83 Figura 66: Escavadeira hidráulica decapando uma mina. ....................................................... 83 Figura 67: Mina de Carajás possuindo vias em forma de serpentina. ..................................... 85 Figura 68: Mina de Mirny na Rússia, possuindo vias em forma helicoidal. ........................... 85 Figura 69: Sistema de planos inclinados. ................................................................................ 86 Figura 70: Sistema de suspensão por cabos. ........................................................................... 87 Figura 71: Sistema de poço vertical. ....................................................................................... 87 Figura 72: Sistema de ádito inferior. ....................................................................................... 88 Figura 73: Sistema de funil. ....................................................................................................89 Figura 74: Desmonte do minério por escavação direta de equipamentos. .............................. 91 Figura 75: Desmonte do minério por uso de explosivos. ........................................................ 91 Figura 76: Processo de carregamento do minério e ou estéril. ............................................... 92 Figura 77: Transporte de material estéril para um aterro especializado. ................................ 93 Figura 78: Transporte do minério para o seu ponto de beneficiamento. ................................. 94 Figura 79: Execução de aterro controlado de material estéril. ................................................ 95 Figura 80: Mapa de localização do empreendimento............................................................ 100 Figura 81: Vista geral do local onde se pretende instalar a mina. ......................................... 101 Figura 82: Pontos levantados do terreno natural. .................................................................. 102 Figura 83: Curvas de nível geradas a partir dos pontos levantados. ..................................... 102 Figura 84: Modelagem tridimensional do terreno natural. .................................................... 103 Figura 85: Seção transversal da mina. ................................................................................... 106 Figura 86: Projeto final da mina. ........................................................................................... 106 Figura 87: Modelagem tridimensional da mina. ................................................................... 107 Figura 88: Volume total de minério e estéril a ser extraído. ................................................. 108 x LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação das Operações Minerais. .................................................................... 7 Tabela 2 – A Escala de Dureza de Mohs. ................................................................................ 17 Tabela 3 – Elementos de Risco no Momento de Decisão Sobre o Investimento. ................... 26 Tabela 4 – Parâmetros Geotécnicos da Mina. ....................................................................... 105 Tabela 5 – Tabela de Volumes de Materiais Extraídos no Empreendimento........................ 109 xi LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. AHIPAR Administração da Hidrovia do Paraguai. CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte. DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral. IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração. IGM Instituto Geológico e Mineiro. MGA Mineração e Geologia Aplicada. SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais. CMs Custo de lavra subterrânea de 1 tonelada de minério. CMca Custo de lavra a céu aberto de 1 tonelada de minério. R Relação estéril/minério. Ce Custo de lavra do estéril. ℎ𝐵 Altura da bancada. 𝑏 Largura da bancada. 𝛼𝐵 Ângulo da face da bancada (Ângulo do Talude). 𝛼𝑅 Ângulo de inter-rampa. 𝛼0 Ângulo global da cava/encosta. ℎ𝑅 Altura máxima da inter-rampa. 𝑟 Largura da rampa. ℎ0 Altura máxima global da cava/encosta. Lv Largura da via. Lc Largura do maior veículo de transporte utilizado. n Número de vias de uma mina. T Teor do minério. MM Mineral minério. M Minério. Td Teor diluído. EC Espessura da camada. xii T Teor do minério. TC Teor de corte. xiii SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................................. vi LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... vii LISTA DE TABELAS ..................................................................................................... x LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ................................... xi SUMÁRIO ........................................................................................................................ xiii 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1 1.1 Histórico da Mineração Brasileira ........................................................... 2 1.2 A Economia Mineral Brasileira Atual .................................................... 5 2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 9 3 OBJETIVOS .................................................................................................................. 11 3.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 11 3.2 Objetivo Específico ...................................................................................... 11 4 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................... 13 4.1 Os Minerais Explorados na Mineração ................................................ 13 4.2 Características e Especificidades da Mineração ............................... 23 4.3 Seleção do Método de Lavra ..................................................................... 29 4.3.1 Lavra a Céu Aberto ou Subterrânea ...................................... 35 4.4 Mineração a Céu Aberto ............................................................................ 38 4.4.1 Lavra por Bancadas ..................................................................... 44 xiv 4.5 Equipamentos e Insumos Empregados na Mineração a Céu Aberto ....................................................................................................................... 52 4.5.1 Equipamentos .................................................................................. 52 4.5.1.1 Unidades Escavo - Empurradoras ............................ 54 4.5.1.2 Unidades Escavo - Transportadoras ........................ 56 4.5.1.3 Unidades Escavo - Carregadoras .............................. 58 4.5.1.3.1 Carregadeiras .................................................... 58 4.5.1.3.2 Escavadeiras ...................................................... 59 4.5.1.4 Unidades Aplainadoras ................................................. 61 4.5.1.5 Unidades de Transporte................................................ 62 4.5.1.6 Unidades Compactadoras ............................................ 63 4.5.1.7 Unidades de Perfuração ................................................ 65 4.5.2 Insumos .............................................................................................. 65 4.5.2.1 Explosivos .......................................................................... 66 4.5.2.2 Acessórios de Detonação ............................................... 68 4.6 Fases da Mineração a Céu Aberto ........................................................... 71 4.6.1 Pesquisa Mineral ............................................................................ 71 4.6.1.1 Exploração Geológica .................................................... 72 4.6.1.2 Prospecção em Superfície ............................................. 73 4.6.1.3 Avaliação dos Depósitos ................................................77 xv 4.6.2 Desenvolvimento ............................................................................. 80 4.6.2.1 Desmatamento .................................................................. 81 4.6.2.2 Decapeamento .................................................................. 83 4.6.2.3 Abertura de Vias de Acesso ......................................... 84 4.6.3 Operações de Lavra ....................................................................... 89 4.6.3.1 Escavação ou Desmonte ................................................ 90 4.6.3.2 Carregamento ................................................................... 92 4.6.3.3 Transporte ......................................................................... 92 4.6.3.4 Descarga ............................................................................. 94 4.6.4 Recuperação da Mina ................................................................... 96 5 PROJETO BÁSICO DE UM EMPREENDIMENTO MINERAL ............. 99 5.1 Localização e Situação do Empreendimento ..................................... 100 5.2 Topografia e Modelagem do Terreno Natural .................................. 101 5.3 Definição dos Parâmetros Geotécnicos da Mina .............................. 103 5.4 Topografia e Modelagem da Mina ........................................................ 106 5.5 Prévia do Volume de Minério e Estéril Extraído ............................. 107 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................... 110 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 112 1 1 INTRODUÇÃO O processo de formação de uma civilização, sendo ele material, técnico ou até mesmo cultural, sempre esteve estritamente ligado à exploração dos recursos minerais presentes no solo, atividade exercida pelo homem desde a pré-história. Face a expansão da população mundial e a sua continuada concentração em áreas urbanas, é nítido a intensificação do uso e exploração do solo. Analisando os diferentes ciclos de extração mineral, relacionados a diferentes épocas, espaços geográficos e contextos políticos, verifica-se, em sua totalidade, que a mineração se constitui na base dos processos de desenvolvimento. Tal desenvolvimento contribui de forma decisiva para o bem estar e a melhoria da qualidade de vida das presentes e futuras gerações, tendo em vista que os minerais são essenciais para a vida moderna. Segundo o DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral (2012) a mineração pode ser compreendida como uma atividade de natureza fundamentalmente econômica que também é referida, em um sentido lato, como indústria extrativa mineral ou indústria de produtos minerais. O objetivo desta atividade é descobrir os recursos existentes, transportar o material extraído da jazida por meio de operações de lavra, quer seja a céu aberto ou subterrânea, até diferentes pontos de descarga, deixando o material extraído em condições próprias para ser utilizado pelas indústrias de beneficiamento do mesmo. A atividade mineradora possui algumas peculiaridades que a diferencia das demais atividades industriais, e sendo esta, o ponto de partida para as cadeias industriais de vários segmentos, consequentemente, exige uma abordagem diferenciada. A mineração é uma atividade extrativa que trabalha com recursos naturais não renováveis, o que implica em buscá-los onde eles se encontrarem (GIRODO, 2005). Decorrente desta afirmativa, a atividade mineradora inevitavelmente é transitória, cuja duração depende do volume do depósito, da taxa de extração e do planejamento da lavra. Esgotadas as reservas do material, ou se muda de local de trabalho ou se encerram as atividades. Cada depósito é singular, o que implica em dizer que cada jazida possui as suas características próprias, diferentes de lugar para lugar. Muitas vezes, algumas características como o teor mineral, distribuição granulométrica e quantidade de estéril variam de local para local dentro de uma mesma jazida. Diante desta afirmação, conclui-se que, cada mina exige um projeto próprio, onde nenhuma 2 instalação pode ser transferida de um lugar para outro, por mais bem sucedida que tenha sido. A tecnologia mineral deve ser desenvolvida em cada local de forma diferente, levando sempre em consideração as características predominantes do mesmo. Ao fim da vida de um empreendimento, todas as providências devem ser tomadas visando à reparação do dano ambiental incorrido, caso esse processo não tenha sido realizado durante a sua vida útil. É importante que seja ressaltado que a capacidade desta atividade em fornecer material para a sociedade não é infinita, visto que, se trata de uma atividade que faz uso de materiais não renováveis. Por conseguinte, é de fundamental importância que todos os processos que englobam um empreendimento mineral sejam previamente analisados, objetivando assim a retirada mais completa, mais segura e mais eficaz da massa mineral. 1.1 Histórico da Mineração Brasileira A história do Brasil possui uma íntima relação com a busca e o aproveitamento dos seus recursos minerais, que sempre contribuíram para a construção do país. Geradora de novas necessidades, a mineração se tornou um centro dinâmico, responsável pela diversificação da economia e expansão territorial. Durante os dois primeiros séculos da colonização (XVI e XVII), foi constante a procura pelo ouro, prata e pedras preciosas, porém os resultados em geral foram inexpressivos. Alguns depósitos de ouro de lavagem foram encontrados e explorados na capitania de São Vicente, São Paulo, mas em razão de sua baixa rentabilidade, foram rapidamente abandonados (PINTO, 2000). Segundo Cotrim (2002) até o século XVII, a economia açucareira era a atividade predominante da colônia e o interesse metropolitano estava voltado inteiramente para o seu desenvolvimento. Porém, a partir do ano de 1640, o açúcar brasileiro sofreu forte concorrência antilhana, uma vez que, os espanhóis que haviam sido expulsos passaram a produzir tal produto. Diante desta situação, a Coroa portuguesa revigorou o antigo sonho de encontrar ouro no Brasil. Somente no final do século XVII, por volta de 1693 a 1695, os bandeirantes encontram as primeiras jazidas de ouro em Minas Gerais. Mais tarde, já nos anos de 1729, foram encontradas jazidas de diamantes no Serro Frio, atual cidade de Diamantina, Minas Gerais. 3 As bandeiras eram expedições que reuniam uma quantidade considerável de homens que se lançavam pelo sertão, passando meses e às vezes anos, em busca de índios e metais preciosos. Sucessivos movimentos de penetração do território proporcionaram um melhor conhecimento e “alargamento” do país. A figura 1 ilustra bem este fato, exemplificando os caminhos abertos pelos bandeirantes. Figura 1: Caminhos traçados pelos bandeirantes a procura de indígenas e pedras preciosas. Fonte: (CAMARGO, 2007). A mineração brasileira se destacou pela exploração do ouro e diamante de aluvião (depósito de areia, argila e cascalho, nas margens dos rios ou em seu leito, acumulado pela erosão), possuindo como principal característica o baixo nível técnico empregado e o rápido esgotamento da jazida. Segundo Pinto (2000) existiam basicamente duas formas de extração da massa mineral: a lavra e a faiscação. A lavra era uma empresa que, dispondo de ferramentas adequadas, ainda que rudimentares, executava a extração do minério em grandes jazidas, utilizando uma vasta mão de obra escrava. A faiscação era representada pela pequena extração da massa mineral, exercida pelos garimpeiros, que ao final da vidade uma jazida, se migravam para esta em busca do que havia restado. 4 Segundo Dean (2004) a extração de ouro era feita por lavagem na bateia. As turmas de escravos trabalhavam com água pelos joelhos nos leitos e nos riachos, recolhendo o cascalho e a água em bacias chatas e cônicas de madeira, que eram agitadas e novamente cheias até restar apenas os flocos de ouro mais pesados. Nos anos de 1730, a trabalhosa e insalubre atividade de batear não era mais lucrativa em diversas minas. Os arrendatários passaram a dragar os riachos maiores com caçambas primitivas e desviavam os riachos menores para pesquisar meticulosamente seus leitos. Feito isso, empreendia-se a lavagem dos aluviões. A figura 2 mostra com clareza como era feita a exploração do ouro de aluvião. Figura 2: Trabalho de extração do ouro de aluvião realizado por escravos. Fonte: (COTRIM, 2002). Ao final do século XVIII, com a intensa exploração aurífera, até mesmo as maiores jazidas foram se esgotando, revelando assim a fragilidade da mineração. O processo de declínio esteve associado a dois principais fatores: dificuldades técnicas e os aspectos fiscais. Os mineradores da época não dispunham de conhecimentos técnicos especializados, enquanto o ouro se encontrava no leito dos rios era fácil a sua extração, porém à medida que ia se aprofundando nas rochas a sua extração se tornava mais difícil e complexa, inviabilizando o empreendimento. A Coroa Portuguesa por sua vez, adotou uma pesada carga tributária sobre os mineradores, visto que, o seu único interesse era o recebimento dos impostos, contribuindo de forma decisiva para a decadência da mineração. 5 Segundo Ramos (2000) o direito minerário brasileiro evoluiu de forma diferenciada ao passar dos anos. Assim, durante a época colonial o regime predominante era o regaliano, em que as jazidas pertenciam ao Rei de Portugal, isto é, à Coroa. Durante o Império (D.Pedro I e D.Pedro II), adotou-se o regime dominial, em que as jazidas e minas pertenciam à Nação. A constituição de 1891 (24 de fevereiro) elabora ao início da primeira faze republicana o regime de acessão, em que as jazidas e minas pertenciam ao proprietário do solo. Finalmente, com o advento do chamado “Código de Minas”, de 1934, foi instituído o regime res nullius, em que as jazidas e minas a ninguém pertencem. Detêm-nas quem as explora legalmente, de forma que este regime está vigente até hoje. Segundo Ramos (2000) hoje, com o serviço geológico atuante e experimentado (CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), capaz de fornecer aos mineradores as informações geológicas básicas, indispensáveis aos investimentos na pesquisa mineral, e com um órgão fomentador e normativo (DNPM), capaz de zelar pelo bom desempenho, técnico e econômico das atividades minerais, não há duvida de que, o Brasil terá, nas próximas décadas, no exercício de uma globalização planetária, uma crescente atividade produtiva mineral, gerando riquezas e bem estar social. 1.2 A Economia Mineral Brasileira Atual O Brasil possui, em seus mais de 8,5 milhões de Km², uma grande diversidade de terrenos e formações geológicas, fato este que lhe confere um grande potencial mineral. Os recursos minerais brasileiros abrangem uma produção de 72 substâncias, das quais 23 são metálicas, 45 não metálicas e 4 energéticas. Segundo o DNPM (2012) dentre as principais substâncias exploradas no país, as que mais se destacaram nos últimos anos em relação à produção mundial foram: Nióbio (97,6%), Grafita (43,3%), Tântalo (39,8%), Ferro (17,4%), Estanho (14,3%) e Níquel (10,5%). Entre os países emergentes e em desenvolvimento, a China tem mostrado o maior crescimento no mercado de commodities minerais, sendo responsável por cerca de 40% da demanda mundial. Porém em termos de dimensão do setor, o Brasil também ocupa uma posição de destaque, sendo um importante produtor de recursos minerais, tanto para o uso interno como para exportação (DNPM, 2012). Os dados aqui relatados podem ser vistos de uma forma mais clara na figura 3. 6 Figura 3: A) Participação do Brasil na produção mineral mundial; B) Participação e posição no ranking mundial das principais reservas minerais do Brasil. Fonte: (DNPM, 2012). O setor mineral brasileiro vem gradativamente revigorando a sua competitividade na atração de investimentos, o que é demonstrado pelo crescimento no ritmo da atividade econômica. Durante o ano de 2011, a soma do produto da extração mineral atingiu a marca de R$ 144,8 bilhões (US$ 86,5 bilhões), correspondendo a 4,1% do PIB (DNPM, 2012). A figura 4 apresenta dados de como a indústria extrativa vem se comportando ao longo dos anos na economia brasileira. Figura 4: Participação da indústria extrativa mineral no valor adicionado bruto a preços básicos no Brasil. Fonte: (Sumário Mineral - DNPM, 2012). 7 Observando a imagem anterior, é possível notar que nos últimos anos a economia mineral brasileira sofreu um grande avanço se comparada com os anos anteriores. De acordo com Silva (2008) este comportamento foi impulsionado por alguns fatores preponderantes para os estímulos nos investimentos. Considerável potencial geológico; Acesso fácil a mercados de exportação; Infraestrutura de transporte e energia; Mão de obra em qualidade e quantidade; Capacitação tecnológica; Economia estável. Segundo Germani (2002) o perfil do setor mineral brasileiro é composto por 95% de pequenas e médias minerações. Estima-se que existam em torno de 17000 pequenas empresas, com produção de US$ 2,0 bilhões, sendo que a maior parte atua em regiões metropolitanas na extração de material para a construção civil. Há que se ressaltar que o cálculo exato do número de empreendimentos de pequeno porte é uma empreitada complexa, fato que decorre de um grande número de empresas que produzem na informalidade. As minas brasileiras estão distribuídas regionalmente com 4% no norte, 8% no centro-oeste, 13% no nordeste, 21% no sul e 54% no sudeste. A divisão quanto ao porte não é bem definida, principalmente quando se considera a natureza, o valor e o tipo de depósito. Para efeito de classificação, adota-se um método empírico, como indicado na tabela 1, sendo considerada a capacidade diária de produção de cada mina. Tabela 1 – Classificação das Operações Minerais. Porte da Mina Produção Diária (t/dia) Grande Porte (GP) > 30.000 Médio Porte (MD) De 3.000 a 30.000 Pequeno Porte (PP) < 3.000 Fonte: (GERMANI, 2002). 8 Segundo Calaes (2009) O Plano Nacional de Mineração 2030 explicita a intenção estatal de expandir a exploração de minerais variados em até cinco vezes, considerando um cenário otimista da economia mundial. Tais projeções efetuadas para o futuro revelam elevada perspectiva de crescimento da indústria mineral brasileira, segundo uma rota de crescente integração competitiva à economia mundial. A figura 5 mostra a projeção da economia mineral brasileira na atualidade e os próximos anos. Figura 5: Comparação da economia mineral na atualidade e uma projeção para o ano de 2050. Fonte: (IBRAM, 2009). 9 2 JUSTIFICATIVA Considerando os dados expostos anteriormente, fica evidente que a mineração tem sido uma das atividades que mais tem contribuído para a superação econômica, sendo responsável pelo maior investimento no setor privado do país. Devido ao seu potencial geológico, o Brasil se destaca por ser um dos principais países fornecedores de commodities para a indústria, exercendo um papel fundamental para a sua inserção naeconomia mundial. A importância da mineração pode ser bem observada quando se tem o exemplo cotidiano de uma casa, de modo que, todos os materiais necessários para sua construção são provenientes da atividade mineradora. A figura 6 mostra com propriedade a importância da mineração para o desenvolvimento da sociedade urbana. Elemento Construtivo Substância Mineral Elemento Construtivo Substância Mineral Tijolo Argila Pias Mármore, Granito, Ferro, Níquel, Cobalto Bloco Areia, Brita, Calcário Encanamento Metálico Ferro, Cobre Fiação Elétrica Cobre, Petróleo Encanamento PVC Petróleo, Calcita Fundações de Concreto Areia, Brita, Calcário, Ferro Forro de Gesso Gipsita Ferragens Ferro, Alumínio, Cobre, Zinco, Níquel Esquadrias Alumínio, Ligas de Ferro, Manganês Vidro Areia, Calcário, Feldspato Piso Ardósia, Granito, Mármore Louça Sanitária Caulim, Calcário, Feldspato, Talco Calha Ligas de Zinco - Níquel - Cobre, Amianto Azulejo Caulim, Calcário, Feldspato, Talco Telha Argila Piso Cerâmico Caulim, Calcário, Feldspato, Talco, Argila Pregos e Parafusos Ferro, Níquel Isolante - Lã de Vidro Quartzo, Feldspato Isolante - Agregado Mica Figura 6: A importância das commodities minerais para a sociedade atual. Fonte: (MINEROPAR, 2013). 10 Atrelado a este fato, há de se destacar o crescimento da população mundial nos próximos anos e a sua concentração em áreas urbanas. Segundo o IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração (2009) a tendência é que as pessoas migrem do campo para as cidades (Figura 7), afetando positivamente o setor mineral, uma vez que, a mineração é a base de todo este processo de urbanização. Figura 7: Perspectiva da população mundial para o ano de 2030. Fonte: (IBRAM, 2009). Tendo em vista à importância da atividade mineradora, que dentre as atividades industriais é considerada um dos grandes pilares do desenvolvimento, motivou o interesse de realizar a presente monografia. Quando se estuda o setor mineral não se pode esquecer que este possui algumas características especiais que o diferencia dos demais setores econômicos. Como já foi dito anteriormente, os bens minerais não são infinitos, nem tão pouco renováveis, o que implica em dizer que todo o procedimento ligado a esta atividade deve ser minuciosamente analisado, sempre com o intuito de obter sucesso no empreendimento. Somam-se ainda às justificativas do presente trabalho à importância de se destacar as fases da mineração, envolvendo procedimentos que vão desde a procura e descoberta de ocorrências minerais com possível interesse econômico, até a desativação e recuperação de uma mina. 11 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral A presente monografia tem como objetivo geral estudar as características de um empreendimento mineral, enfatizando o método de lavra a céu aberto, em especial a lavra por bancadas, bem como destacar a sequência das fases da mineração a céu aberto. i) Pesquisa Mineral; ii) Desenvolvimento; iii) Operações de Lavra; iv) Recuperação da Mina. Para tal, foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do tema proposto baseando-se em trabalhos anteriores como: teses de mestrado e doutorado, revistas, artigos publicados, periódicos e livros texto. As bibliografias consultadas versaram sobre os seguintes assuntos: História sobre a Mineração, A Importância da Mineração na Economia, Métodos de Lavras, Concessões de Lavra, Técnicas Empregadas na Mineração à Céu Aberto, Elementos de um Projeto de Mineração, entre outros, que se fizeram importantes para a realização da presente monografia. 3.2 Objetivo Específico Além disso, a presente monografia contará com o objetivo específico a elaboração de um projeto básico de um empreendimento mineral a céu aberto por bancadas, sendo este subdividido em cinco etapas. i) Localização e Situação do Empreendimento; ii) Topografia e Modelagem do Terreno Natural; 12 iii) Definição dos Parâmetros Geotécnicos da Mina; iv) Topografia e Modelagem da Mina; v) Prévia do Volume de Minério e Estéril Extraído. 13 4 REVISÃO DA LITERATURA 4.1 Os Minerais Explorados na Mineração Os minerais sempre foram utilizados pelo homem com o objetivo de satisfazer as suas necessidades em termos de qualidade de vida. Mas, nos últimos trinta anos, a intensidade da procura pelos minerais tem vindo a registrar um incremento assinalável (VELHO, 2005). O desenvolvimento tecnológico das sociedades industrializadas é considerável, o surgimento de novos materiais, de novas soluções, de novas técnicas e de novas propostas tem sido cada vez mais constante. Os minerais constituem um parceiro ativo e decisivo neste processo evolutivo, sem eles não seria possível o surgimento de tão grande variedade de materiais (VELHO, 2005). De acordo com Wicander e Monroe (2009) o critério – que ocorre naturalmente – exclui dos minerais todas as substâncias manufaturadas pelo homem. Por consequência, o fato dos minerais serem formados a partir de processos naturais, implica dizer que, não se pode afirmar quais são as características de um mineral sem antes analisá-lo. Segundo Wicander e Monroe (2009) a partir dos 92 elementos químicos naturais, um número muito grande de minerais podem ser formados, uma vez que, já foram identificados mais de 3.500 em todo o mundo, mas somente poucos – talvez duas dúzias – são particularmente comuns. De acordo com Velho (2005) o número de minerais disponíveis é bastante variável, dependendo assim do objetivo último do estudo. O número final nunca é conhecido, uma vez que, novos minerais vão sendo incluídos na lista com grande frequência. Trata-se, portanto, de uma área do saber com elevado dinamismo, onde a fronteira entre a mineralogia e a tecnologia empregada na mesma é muito tênue. O mineral pode ser definido como sendo um sólido cristalino inorgânico que ocorre na natureza, com uma composição química bem definida e com propriedades físicas características (WICANDER e MONROE, 2009). De acordo com Schumann (2008) um cristal é um corpo materialmente uniforme com uma estrutura regular das suas partículas mínimas (átomos, íons ou moléculas). Os minerais cristalinos ocorrem em uma variedade de formatos, três dos quais são apresentados na figura 8. 14 Figura 8: Formas dos Minerais: a) Cristal Cúbico; b) Cristais Octaedros; c) Cristais Hexaedros. Fonte: (WICANDER e MONROE, 2009). Não é, por conseguinte, determinante a forma exterior, mas a formação interior. Os minerais sem estrutura regular são chamados amorfos, isto é, não cristalinos (SCHUMANN, 2008). Em outras palavras, o formato geométrico regular de um cristal mineral bem formado é a manifestação exterior de um arranjo atômico interno ordenado, porém nem todas as substâncias rígidas são sólidos cristalinos (WICANDER e MONROE, 2009). As propriedades físicas características dos minerais são determinadas pela sua estrutura interna e composição química. Muitas propriedades são notavelmente constantes para uma dada espécie mineral, porém algumas podem variar (WICANDER e MONROE, 2009). De acordo com Schumann (2008) as fórmulas químicas dos minerais são bastante idealizadas, porque não tomam em consideração as impurezas existentes. Embora possam ser utilizadas sofisticadas técnicas no estudo e na identificação de minerais, a seguir, serão levadas em consideração apenas as características externas dos mesmos, possíveis de reconhecer sem qualquer dificuldade. Cor Na maioria dos minerais, a cor não éuma característica que sirva para reconhecê-los, pois eles podem aparecer com várias cores ou tonalidades. As substâncias que dão a cor são em muitos casos misturas metálicas (cromo, ferro, cobalto, cobre, manganês, níquel). A irradiação atmosférica e as impurezas mecânicas podem, por sua vez, influenciar a cor (SCHUMANN, 2008). 15 Brilho O brilho é a aparência de um mineral na luz refletida. Os dois tipos básicos de brilho são metálico e não metálico (WICANDER e MONROE, 2009). Os materiais sem brilho são determinados materiais foscos. O brilho é prejudicado por sedimentos ou fenômenos de erosão superficiais, porém a cor não sofre influência. Nas pedras preciosas o brilho é um sinal importante da sua qualidade, brilho este que pode ser intensificado se a superfície do mineral for polida. Em termos gerais, os efeitos de luz que os reflexos causam em faces polidas também são considerados brilho (SCHUMANN, 2008). Fratura A fratura pode ser definida como a desagregação de um mineral segundo superfícies irregulares mediante uma pancada. Distingue-se entre fratura concóide, estilhaçada, fibrosa, serrilhada, irregular e terrosa (SCHUMANN, 2008). Qualquer mineral irá fraturar, se uma força suficiente a ele for aplicada, porém a superfície da fratura não será regular como na clivagem (WICANDER e MONROE, 2009). Densidade A densidade de um mineral é a razão do seu peso por um peso de água de igual volume. Como todos os coeficientes, o peso específico não é expresso em unidades, sendo este um número adimensional (WICANDER e MONROE, 2009). A variação da densidade nos minerais depende de sua composição e estrutura. Um mineral com densidade inferior a 2 é considerado leve, o de 2 a 4 é considerado normal, e o superior a 4 é considerado pesado (SCHUMANN, 2008). Clivagem A clivagem de um mineral pode ser compreendida como a tendência do mesmo a se quebrar ou se dividir, ao longo de um plano liso, ou planos de fragilidade, determinado pelas ligações dentro dos cristais individuais (WICANDER e MONROE, 2009). 16 De acordo com Schumann (2008) conforme a facilidade com que o mineral se deixa fragmentar assim se diz que a clivagem é muito perfeita ou imperfeita. Existem vários tipos de clivagem mineral, sendo que algumas são exemplificadas na figura 9. Figura 9: Diferentes tipos de clivagem. Fonte: (WICANDER e MONROE, 2009). Dureza No princípio do século passado o mineralogista vienense Friedceich Mohs organizou uma escala de dureza (A Escala de Dureza de Mohs), que ainda hoje é considerada válida. Determina-se a dureza de um mineral riscando-o com minerais comparativos ou com objetos de dureza conhecida. Os minerais de dureza 1 e 2 são considerados macios, de 3 a 6 de dureza média e os de dureza superior a 6 são considerados duros. Os minerais de dureza entre 8 e 10 são as pedras preciosas, pois muitas destas possuem a dureza referida (SCHUMANN, 2008). 17 Cada um dos minerais representados na tabela 2 risca o anterior, de dureza inferior, e é riscado pelos seguintes, mais duros. Os minerais de dureza igual não riscam uns aos outros (SCHUMANN, 2008). Tabela 2 – A Escala de Dureza de Mohs. Escala de Dureza Mineral Comparativo Processo para determinação da dureza 1 Talco Pode-se riscar facilmente com a unha 2 Gesso Pode-se riscar com a unha 3 Calcita Pode-se riscar com uma moeda de cobre 4 Fluorita Pode-se riscar facilmente com a faca 5 Apatita Ainda pode-se riscar com a faca 6 Ortoclásio Pode-se riscar com uma lima de aço 7 Quartzo Risca o vidro 8 Topázio Risca levemente o quartzo 9 Corindo Risca levemente o topázio 10 Diamante Não se consegue riscar Fonte: (SCHUMANN, 2008). Pela amplitude de alternativas, devido ao fato de ser enorme o número de minerais existentes, torna-se impraticável mencionar todos eles. Desta forma, será abordado e caracterizado, a seguir, apenas um seleto grupo de minerais que podem ser explorados tanto em minas a céu aberto quanto em minas subterrâneas. Ouro (Au) Cor amarelo-dourada até amarelo-latão (Figura 10). Traço amarelo-dourado, com brilho metálico. Dureza 2,5 a 3 na escala de Mohs. Densidade 15,5 a 19,3. Brilho metálico; opaco, translúcido em lâminas finas, de cor esverdeada. Não possui clivagem. Fratura serrilhada. Dúctil, muito maleável, pode ser reduzido a lâminas finíssimas. Os cristais raramente têm formas perfeitas, predominam os cubos e os octaedros (SCHUMANN, 2008). 18 Figura 10: Mineral – Ouro. Fonte: (SCHUMANN, 2008). Prata (Ag) Cor branco-prateada com a tendência para ficar cinzenta, acastanhada ou negra (Figura 11). Traço branco-prateado, com brilho metálico. Dureza 2,5 a 3. Densidade 9,6 a 12,0. Brilho metálico; opaco, translúcido azulado em lâminas finas. Não possui clivagem. Fratura serrilhada. Dúctil, maleável, pode ser reduzido em lâminas finas. Os cristais são cubos e octaedros (SCHUMANN, 2008). Figura 11: Mineral – Prata. Fonte: (SCHUMANN, 2008). 19 Cobre (Cu) Cor vermelha em superfície recente, depois acastanhada, por vezes com bordos esverdeados (Figura 12). Traço vermelho do cobre, com brilho metálico. Dureza 2,5 a 3. Densidade 8,3 a 8,9. Brilho metálico; opaco, translúcido em lâminas finas. Não possui clivagem. Fratura serrilhada. Maleável, muito flexível. Os cristais raras vezes têm formas perfeitas, são cubos ou octaedros (SCHUMANN, 2008). Figura 12: Mineral – Cobre. Fonte: (SCHUMANN, 2008). Grafita (C) Cor cinzento-clara a escura ou preta (Figura 13). Traço cinzento a negro com brilho metálico. Dureza 1. Densidade 2,1 a 2,3. Brilho metálico a terroso; opaco, translúcido em lâminas finas. Clivagem muito perfeita. Fratura irregular. Sensação de gordura, pois suja os dedos. Isolado do ar é refratário. Os cristais são laminados e flexíveis (SCHUMANN, 2008). 20 Figura 13: Mineral – Grafita. Fonte: (SCHUMANN, 2008). Diamante (C) Cor amarela, castanha ou incolor; por vezes também verde, azul, avermelhada ou negra (Figura 14). Traço branco. Dureza 10. Densidade 3,47 a 3,55. Brilho adamantino; transparente e opaco, refração elevada, forte dispersão da luz. Clivagem perfeita. Fratura concóide estilhaçada. Os cristais são predominantemente octaedros, a par de cubos e dodecaedros. Os agregados são compactos, de forma arredondada (chamados carbonado) (SCHUMANN, 2008). Figura 14: Mineral – Diamante. Fonte: (SCHUMANN, 2008). 21 Segundo Geraldi (2011) no globo terrestre ocorre uma grande diversidade de minerais que, agregados, formam os diversos tipos de rocha. Portanto, pode-se definir rocha como sendo um componente sólido da crosta terrestre composta por um conglomerado de minerais (SCHUMANN, 2008). De acordo com Geraldi (2011) as rochas que constituem o globo terrestre são classificadas e agrupadas de acordo com a sua gênese, sua litologia, e por suas características estruturais, sendo subdivididas em três grupos: Magmática ou Ígnea, Sedimentar e Metamórfica. A seguir, serão apresentadas as principais rochas supracitadas, que são exploradas em minas a céu aberto e empregadas em sua grande maioria no setor da construção civil. Rochas Magmáticas ou Ígneas Segundo Geraldi (2011) as rochas magmáticas ou ígneas são geradas a partir do resfriamento do próprio magma original, formador do globo terrestre. Ocorrem geralmente na forma de grandes massas originadas em profundidade, denominadas batólitos, ou na forma de derrames superficiais e diques intrusivos, provenientes de efeitos de vulcanismos (rochas vulcânicas). Em geral, as formações magmáticas tipo batólitossituam-se entre as mais antigas do globo terrestre, sendo que os derrames vulcânicos são mais recentes. De forma geral, as rochas magmáticas ou ígneas são duras, cristalinas, com composição mineral bem definida, conforme pode ser visto na figura 15. Figura 15: Exemplo de rocha magmática ou ígnea: Granitos de variadas cores. Fonte: (SCHUMANN, 2008). 22 Rochas Sedimentares Segundo Geraldi (2011) as rochas sedimentares (Figura 16) são formações originadas pela ação dos processos de intemperismo e desagregação, provocados por agentes da natureza – como a chuva, a neve e o vento – em maciços rochosos preexistentes, e a posterior deposição (sedimentação) dos componentes minerais liberados, provenientes destes maciços. Figura 16: Exemplo de rocha sedimentar: Arenito. Fonte: (SCHUMANN, 2008). Rochas Metamórficas Segundo Geraldi (2011) as rochas metamórficas se originam de outras formações preexistentes, a partir de transformações litológicas e estruturais causadas por efeitos termodinâmicos, gerados pelos fenômenos de dinâmica interna do globo terrestre, como vulcanismos e terremotos. Estes efeitos produzem grandes variações de pressão e de temperatura em algumas regiões do globo, modificando as condições físico-químicas de algumas formações sedimentares, remobilizando e até mesmo alterando minerais constituintes das rochas originais. A figura 17 apresenta um exemplo deste tipo de rocha. 23 Figura 17: Exemplo de rocha metamórfica: Quartizito. Fonte: (SCHUMANN, 2008). 4.2 Características e Especificidades da Mineração O setor mineral é bastante diversificado, tanto na forma com que os recursos se apresentam na natureza, quanto pelos volumes e características dos mesmos, de forma que, a descrição do processo de extração deve ser específica para cada substância. Segundo Abrão e Oliveira (1998) a mineração é entendida como uma atividade de lavra e de concentração de minérios, podendo ser classificada em três grupos principais: as minerações ditas empresariais ou industriais, de grande porte; as minerações ditas de uso social, de menor porte, como pedreiras, os portos de areia e as lavras de argila e, por fim, os garimpos, atividades extrativas, informais, manuais ou mecanizadas e, frequentemente, clandestinas. Destas categorias, é evidente que a maior demanda para a aplicação dos princípios da geologia concentra-se nas minerações de grande porte. Para melhor compreensão da terminologia adotada no corpo desta monografia são apresentadas, a seguir, as definições e os princípios da exploração mineira (ABRÃO E OLIVEIRA, 1998). 24 Depósito: É a ocorrência geológica de minerais em formas relativamente concentradas; Jazida: Concentração mineral, passível de ser aproveitada economicamente. Este conceito, dada a sua conotação econômica, pode variar no tempo, ou seja, algo que é econômico hoje pode não sê-lo no futuro, e vice-versa; Mina: Área onde explora um bem mineral. Quando a jazida passa a ser aproveitada, ela se transforma em mina, podendo ser a céu aberto ou subterrânea. As minas a céu aberto podem ainda ser desenvolvidas a meia encosta, cavas, tiras ou placers; Minério: Toda substância ou agregado mineral, rocha ou solo, que pode ser aproveitado tecnicamente; Estéril: Rocha ou solo que ocorre dentro do corpo de minério ou externamente ao mesmo, sem valor econômico, que é extraído na operação de lavra para aproveitamento do minério. Também neste caso, tal como se aplica aos conceitos de jazida e minério, dada a sua conotação, o que é estéril em uma época pode representar minério em outra; Encaixante: Diz-se das rochas que se situam externamente ao corpo mineral, na quais o mesmo se encaixou. Se a intrusão é inclinada, a rocha do topo é denominada capa e da base, lapa; Rejeitos: Materiais que resultam como “sem valor econômico” no processo de concentração mineral. Em geral, exibem granulometria de areia até argila, tendo sido britados e moídos no beneficiamento mineral. Normalmente, são descartados das usinas de concentração na forma de polpa, uma mistura de sólido e água por uma barragem ou dique; 25 Usina: Instalações industriais onde os minérios são cominuídos e concentrados, onde é realizado o beneficiamento do minério. Nas usinas, os minérios podem ser concentrados por processos gravimétricos, que se valem das diferenças de densidades dos minerais, e/ou químicos, em que os mesmos são dissolvidos e depois precipitados ou recuperados; Lavra: Diz-se da operação de extrair, da mina, o minério e o estéril, transportando-os para a usina ou para os locais de disposição escolhidos; Cava: É a escavação a céu aberto em forma de uma cava (abertura no solo), com bancadas descendentes para a extração dos bens minerais; A figura 18 aborda parcialmente as definições expressas anteriormente. Figura 18: Esquema de um empreendimento mineral. Fonte: (ABRÃO e OLIVEIRA, 1998). Diante de tais informações, pode-se afirmar que a mineração é um setor que se diferencia dos outros setores da indústria, exigindo uma abordagem diferenciada para tal. Para fundamentar as exposições subsequentes, cabe destacar algumas características de um empreendimento mineral. 26 Alto Risco na Fase de Pesquisa Mineral A fase de prospecção e pesquisa resulta muitas vezes em insucesso, não possibilitando a recuperação do capital investido. Na fase de produção, os riscos se evidenciam menos acentuados e decorrem da alta suscetibilidade de variação dos parâmetros considerados na viabilização dos empreendimentos mineiros (CALES, 2006). A tabela 3 apresenta elementos de risco no momento da decisão sobre um determinado investimento. Tabela 3 – Elementos de Risco no Momento de Decisão Sobre o Investimento. Fonte: (SHINTAKU, 1998). Longo Prazo de Maturação dos Investimentos O prazo que decorre entre o início dos trabalhos de exploração e o efetivo aproveitamento da jazida situa-se, em média, na faixa de 7 a 10 anos. A título de exemplo, no projeto de Carajás (PA), os depósitos de minério de ferro foram descobertos em 1967 e somente se tornaram produtivos em 1986 (CALES, 2006). Segundo Shintaku (1998) em curto prazo, a mineração não consegue atingir a plenitude dos seus resultados, sendo comum demandarem décadas para um depósito começar a produzir. Esse longo tempo de maturação dos investimentos, ou seja, o tempo decorrido entre a realização das despesas e o início do recebimento das receitas, é o tempo necessário para descobrir, avaliar e desenvolver uma jazida antes de iniciar a produção. 27 Na figura 19, compara-se o tempo de maturação de um depósito de ouro, no período de 1969 a 1983, na Austrália, no Brasil e no Canadá, observando-se que este tempo varia, em média, de 4 a 14 anos, implicando investimentos sem retorno durante este período (SHINTAKU, 1998). Figura 19: Tempo de maturação de um depósito de ouro no período de 1969 a 1983. Fonte: (SHINTAKU, 1998). Investimentos Elevados O empreendimento mineral exige o aporte de equipes especializadas, demanda bens e serviços sofisticados e a provisão de onerosa infra-estrutura (estradas, suprimentos de energia, núcleos habitacionais), resultando, portanto, na exigência de largas somas de recursos (CALAES, 2006). Tal fato pode ser constatado na figura 20, esta mostra a evolução nos investimentos do setor mineral durante os últimos anos, e a perspectiva de investimento de 68,5 bilhões de dólares entre os anos de 2011 e 2015 (IBRAM, 2011). 28Figura 20: Evolução dos investimentos no setor mineral brasileiro. Fonte: (IBRAM, 2011). Rigidez Locacional Ao contrário das demais atividades industriais, a mineração não se localiza em função dos fatores de atração convencionalmente avaliados, ou seja, as jazidas estão onde estão e não necessariamente onde empresas e investidores gostariam que estivessem (CALAES, 2006). Segundo Shintaku (1998) a rigidez locacional é uma característica da atividade mineral e resulta de um processo geológico que a ação humana não pode modificar. As jazidas não são moveis e, por este motivo, o minério é explorado no mesmo local onde ele ocorre, considerando sempre o método de lavra mais adequado para cada tipo de mineral. Segundo o DNPM (2004) a atividade de mineração está baseada nas características geológicas, ou seja, as jazidas estão condicionadas à evolução geológica, onde o homem não tem influência na sua formação, podendo somente buscar a melhor forma de aproveitamento das mesmas. 29 Especificidade Tecnológica Cada depósito possui condicionamentos próprios, fazendo-se sempre necessária a execução de pesquisas tecnológicas, pelo menos para possibilitar a adaptação de processos existente às características morfológicas e de mineralização (CALAES, 2006). Exaustão das Reservas Os recursos minerais não são renováveis, portanto se exaurem com o aproveitamento do depósito (CALAES, 2006). De acordo com Campos et al (2007 apud SILVA, 2008) a característica da exaustão é uma das mais importantes, uma vez que, a exaustão não ocorre apenas fisicamente, podendo ocorrer mediante outras causas como por exemplo: a exaustão política, a exaustão econômica e até a exaustão por razões ambientais. 4.3 Seleção do Método de Lavra Quando se trata de um empreendimento mineral, a seleção do método de lavra é um dos principais elementos a serem analisados, pois a decisão a ser tomada implicará no sucesso ou fracasso de um projeto mineiro. De acordo com Macêdo et al (2001) o método de lavra é um dos principais elementos em qualquer análise econômica de uma mina, e a escolha do método permite o desenvolvimento da operação. Em uma etapa de maior detalhe, pode constituir-se como fator preponderante para uma resposta positiva ao projeto, uma vez que, a seleção imprópria tem efeitos negativos na viabilidade da mina. A lavra de minas é definida legalmente no artigo 36 do regulamento do Código de Mineração como: o conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração de substâncias minerais úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas (HERRMANN et al, 2010). Já Beall (1973 apud GIRODO, 2005) define lavra como sendo o ato, o processo ou o trabalho de se extrair minérios ou minerais industriais de seu ambiente natural e transportá-lo até o ponto de seu tratamento ou uso. 30 Analisando as duas afirmações acima, nota-se uma pequena divergência no que tange o ponto do beneficiamento. O texto legal afirma que o beneficiamento também faz parte do processo de lavra, já o autor Beall (1973 apud GIRODO, 2005) afirma que o processo de lavra se encerra no beneficiamento, ou seja, o mesmo não se inclui no processo. Naturalmente, não faz parte do objetivo desta monografia entrar no mérito da questão e aprofundar no assunto, apenas torna-se importante a abordagem das duas opiniões para uma melhor compreensão do leitor sobre a temática em questão. Comumente o método de lavra é designado como sendo a técnica de extração do material. Isso define a importância de sua seleção, já que todo o projeto é elaborado em torno da técnica utilizada para lavrar o depósito (MACÊDO et al, 2001). Segundo Reis e Sousa (2003 apud SILVA, 2008) o método de lavra consiste em um conjunto específico dos trabalhos de planejamento, dimensionamento, e execução das tarefas, devendo existir uma harmonia entre tais tarefas. Em suma, o método de lavra é a técnica de extração do minério, esteja ele em superfície ou em profundidade. Sobre o planejamento de lavra, Reis e Sousa (2003 apud SILVA, 2008) enfatiza que, para a realização de um bom planejamento de lavra é necessário que se atente para alguns critérios como: um dimensionamento bem elaborado dos equipamentos e instalações, assim como o estudo de viabilidade econômica, sequência de atividades e custos no que diz respeito aos impactos ambientais. Em concordância com o que foi dito, Macêdo et al (2001) afirma que o emprego do termo “técnica de extração” reflete os aspectos técnicos da seleção do método (parte fundamental da análise), o dimensionamento dos equipamentos, a disposição das aberturas e a sequência da lavra. De acordo com o DNPM (2004) o planejamento de um empreendimento mineral é indispensável. Sem uma previsão das variáveis envolvidas e as soluções, todo empreendimento tende a ter maiores dificuldades para se desenvolver, ou está fadado a fracassar na sua implementação. 31 De acordo com Macêdo et al (2001) a seleção do método de lavra pode ser dividida em duas fases. i) Avaliação das condições geológicas, sociais e ambientais para permitir a eliminação de alguns métodos que não estejam de acordo com os critérios desejados; ii) Escolha do método que apresente o menor custo, sujeito às condições técnicas que garantam uma maior segurança. Para que se tenha um resultado bem sucedido de um projeto de mineração, o método de lavra escolhido deverá ser o mais otimizado possível. Os fatores que influenciam na seleção dos métodos de lavra são muitos, tanto quantitativos como qualitativos. Para a avaliação e escolha do melhor método de lavra, algumas variáveis devem ser levadas em consideração. Geometria do Depósito As características físicas do depósito limitam as possibilidades de aplicação de alguns métodos de lavra. A profundidade e a extensão do capeamento fornecem uma indicação preliminar sobre a aplicabilidade de técnicas de lavra a céu aberto (MACÊDO et al, 2001). Segundo Girodo (2005) os engenheiros de minas costumam distinguir seis tipos de depósitos minerais como mais importantes. i) Maciços: Corresponde a um depósito de considerável extensão lateral e vertical e cuja mineralização (minério) costuma ser uniformemente distribuída; ii) Camada ou Tabular: Depósito mineral paralelo à estratificação, geralmente em rochas sedimentares, extensos lateralmente e de espessura limitada. Alguns depósitos dessa natureza são os carvões, evaporitos, fosforitos, as bauxitas amazônicas, etc; 32 iii) Veios delgados: Correspondem a zonas ou faixas mineralizadas tipicamente extensas, delgadas (abaixo de 3 metros) e geralmente com alto mergulho. Muitas vezes o contato de minérios com as encaixantes é brusco, outras vezes gradacional. Grande proporção de depósitos de ouro e minerais metálicos constituem-se em veios delgados; iv) Veios Espessos: Semelhantes aos veios delgados, contínuos com espessura mineralizada superior a 3 metros; v) Lentes e Bolsões: Correspondem a corpos de minérios isolados que se fazem presentes sob a forma de lentes de várias dimensões ou concentrações localizadas de minerais. Tais corpos podem estar dobrados ou retorcidos. São formas mineralizadas que predominam em depósitos de ferro, chumbo, zinco e, eventualmente em depósitos de cobre e sulfetos polimetálicos, etc; vi) Placer: Depósito mineral na superfície ou próximo da mesma, usualmente tabular e por vezes com expressão razoável, provenientes de erosões de outros minerais, podendo conter partículas de minerais preciosos (ouro, platina, diamante) e mineraisresistentes – resistatos – como rutilo, monazita, granada, etc. De acordo com Macêdo et al (2001) o mergulho do corpo mineral é um fator importante que influencia tanto na seleção do método como na escolha dos equipamentos, podendo ser definidos como: Suave (Horizontal a 20°); Médio (20° a 50°); Íngreme (50° a Vertical). A espessura do depósito e a sua forma também permitem a exclusão de determinados métodos, sendo estes classificados como: Estreito (< 10 m); Intermediário (10 m a 30 m); Espesso (30 m a 100 m); Muito Espesso (> 100 m) (MACÊDO et al, 2001). 33 Características do Minério O método de lavra a ser escolhido também é condicionado pelas características do minério a ser explorado, sendo o teor e a distribuição espacial as principais. De acordo com Macêdo et al (2001) como os limites da mineralização geralmente não são identificáveis, é possível obter várias reservas em função de diferentes teores de corte. O valor do produto e o custo de extração determinam a quantidade e o teor a ser lavrado. Depósitos com alto teor, estreito e de baixa tonelagem, indicam métodos de baixo investimento e mão de obra intensiva, de forma que, o tamanho do depósito torna-se diretamente proporcional à sua mecanização (MACÊDO et al, 2001). Quando o depósito possui contornos irregulares, pode ser necessária a escolha de um método mais flexível, para permitir a implementação de mudanças rápidas, de forma a possibilitar uma melhor disposição das frentes, resultando em uma maior recuperação do minério (MACÊDO et al, 2001). Presença de Água Superficial ou Subterrânea Esta é uma das considerações mais óbvias, pois, em se tratando de estabilidade, sabe- se que a água é um potencial “inimigo” de qualquer empreendimento de engenharia. Se lagos e rios que cobrem o corpo do minério não podem ser drenados, os métodos de lavra que resultarão em subsidência na superfície (lavra a céu aberto) devem ser desconsiderados. Caso haja a presença de água fluindo em uma mina, deve-se prover a drenagem da mesma e, além da drenagem, deve existir o cuidado suplementar no tratamento da água antes do seu esgotamento, visando a não poluição do meio ambiente (MACÊDO et al, 2001). Considerações Geotécnicas As características de um minério relacionadas com as propriedades permeabilidade, deformabilidade e resistência, constituem a base geotécnica para a seleção do método de lavra, devendo ser consideradas no estágio preliminar do projeto (MACÊDO et al, 2001). 34 De acordo com Macêdo et al (2001) o objetivo da avaliação geotécnica é prever o comportamento do terreno quando as escavações são executadas e como elas afetarão a segurança do projeto. Uma avaliação geotécnica pode iniciar-se com a aplicação de métodos geofísicos e o mapeamento regional, no intuito de analisar a distribuição e o posicionamento dos corpos geológicos e suas características físicas e tecnológicas (SOUZA et al, 1998). Considerações Ambientais No setor mineral existem alguns impactos ambientais inerentes a essa atividade, de forma que, tais impactos devem ser absorvidos nas operações de Controle Ambiental e o seu planejamento direcionado a cada caso (SILVA, 2008). Segundo Silva (2008) os impactos ambientais geralmente ocorrem principalmente na fase de lavra dos recursos minerais. Esses efeitos são percebidos na abertura de cavas, na supressão vegetal, escavações, mudança do visual, movimentação de massas, uso de explosivos, ruídos, poeiras. Tais efeitos são geradores de poluição no local e nas regiões vizinhas. Segundo Macêdo et al (2001) os métodos de lavra a céu aberto resultam em maiores impactos ambientais, provenientes principalmente do maior volume de material manuseado, que exige a implantação de grandes bota-foras alterando a topografia da região. É essencial que o método de lavra a ser escolhido seja adequado às normas ambientais do país onde será implementado um empreendimento mineral. Considerações Econômicas e Financeiras Feitas as considerações dos aspectos técnicos envolvidos no processo de seleção do método de lavra, realiza-se a análise de critérios econômicos e financeiros. De acordo com Macêdo et al (2001) a importância destes critérios é fundamental na escolha do método, visto que o mais adequado é aquele que apresente o menor custo unitário. 35 Segundo Macêdo et al (2001) os custos de cada método devem ser definidos e a forma de determiná-los é através da apropriação de seus componentes individuais. A decisão final sobre a escolha do melhor método deve ser baseada em mais de um critério de avaliação econômica. Deve também ser considerada a situação financeira da empresa, tendo em vista a necessidade de grande injeção de capital em uma atividade sujeita a riscos elevados. 4.3.1 Lavra a Céu Aberto ou Subterrânea Embora seja possível destacar cerca de dez métodos de lavra principais, provavelmente existem mais de trezentas variações. Os métodos são limitados pela disponibilidade e desenvolvimento dos equipamentos e, diante de todos os fatores que influenciam em sua seleção, a escolha do método de lavra pode ser considerada como uma ciência. Uma grande parte das minas utiliza mais de um método de lavra na sua operação. Um dado método pode ser mais apropriado para uma zona do depósito, todavia em outras partes seu emprego pode não ser a melhor opção (MACÊDO et al, 2001). Tendo como referência as considerações feitas na presente monografia, existem essencialmente duas situações possíveis na lavra de depósitos. Lavra a Céu Aberto; Lavra Subterrânea. Segundo Macêdo et al (2001) a definição entre um método a céu aberto ou subterrâneo se baseia sobre o critério econômico. A metodologia adotada em determinado setor da jazida é aquela que apresenta o menor custo unitário, considerando todos os condicionantes operacionais. Quando se emprega o método combinado de lavra é indispensável estabelecer o limite entre os trabalhos a céu aberto e subterrâneo, no qual os gastos de exploração da jazida sejam mínimos. 36 Em uma análise simplificada, Cavalcanti (2005) demonstra três equações que são utilizadas para definir o limite entre os trabalhos, definindo o melhor método de lavra a ser empregado. Equação 4.3.1.1 CMs > CMca + R .Ce A melhor opção neste caso é a lavra a céu aberto. Equação 4.3.1.2 CMs = CMca + R .Ce Neste caso, a escolha do método é indiferente no aspecto econômico, pois o custo de exploração se iguala para os dois métodos. Equação 4.3.1.3 CMs < CMca + R .Ce A melhor opção neste caso é a lavra subterrânea. Onde, CMs - representa o custo de lavra subterrânea de 1 tonelada de minério; CMca - representa o custo de lavra a céu aberto de 1 tonelada de minério; R - representa a relação estéril/minério, ou seja, o número de unidades de estéril a remover para cada unidade de minério lavrada a céu aberto; Ce - representa o custo de lavra do estéril. 37 Segundo Macêdo et al (2001) além da análise econômica, o método de lavra adotado, quer seja a céu aberto ou subterrâneo, deve possuir objetivos finais específicos. Ser seguro e produzir condições ambientais adequadas para os operários; Redução dos impactos causados ao meio ambiente; Permitir condições de estabilidade durante a vida útil; Assegurar a máxima recuperação do minério; Ser flexível para adaptar às diversas condições geológicas; Permitir atingir a máxima produtividade reduzindo o custo unitário. O método é sinônimo de técnica de extração de material e o projeto da mina é uma função da seleção da
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