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Nietzsche "Verdade e mentira no sentido extra-moral"

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Taís Augusta 
Gabriele Bastos Vargas
Nietzsche:
“Sobre verdade e mentira no sentido extra moral”
Um pouco sobre o Autor
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu no dia 15 de outubro de 1844, numa pequena localidade, próxima à cidade de Leipzig, chamada Röcken;
Em 1885 se formou no curso de Filologia;
Em 1869, Nietzsche foi recomendado para a cátedra de Filologia da Universidade de Basileia, na Suíça; 
No período de 1869 a 1878, ele publicou seus primeiros livros. Entre eles destacam-se O nascimento da tragédia e Considerações extemporâneas;
1900, foi o ano de falecimento do filósofo na cidade de Weimar.
Sobre o ensaio
Depois da morte de Nietzsche foi publicado O livro do filósofo, que apresenta uma coletânea de textos sobre o tema do conhecimento. Nele havia as duas partes do ensaio “Sobre verdade e mentira”, que foram escritas mais precisamente no ano de 1873.
O contexto no qual esse ensaio se insere é o do questionamento acerca do papel e dos limites da razão, debate marcante no final do século XVIII e no decorrer do XIX.
“O que é a verdade?”
“Qual o alcance do intelecto humano no que se refere ao  conhecimento das coisas?”
Como ter certeza de que as teorias que os  cientistas nos apresentam são verdadeiras, se são derivadas da linguagem e dos conceitos?
O que caracteriza no homem o “impulso à verdade”?
“EM ALGUM remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da "história universal": mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer.” (p. 530)
O ensaio
Com a apresentação de uma fábula que “alguém” poderia ter contado: Nietzsche busca ilustrar o “quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza.” (p. 530) 
O autor não possui a intenção de negar a importância do intelecto para o homem, mas de estabelecer seus limites. Segundo o filósofo, o intelecto e, por conseguinte, o conhecimento abstrato que é o seu modo de operar, possui apenas uma função instrumental: a sobrevivência do animal homem, do mesmo modo como outros animais usam garras, chifres e presas.
“Os homens, nisso, não procuram tanto evitar serem enganados, quanto serem prejudicados pelo engano: o que odeiam, mesmo nesse nível, no fundo não é a ilusão, mas as consequências nocivas, hostis, de certas espécies de ilusões. É também em um sentido restrito semelhante que o homem quer somente a verdade: deseja as consequências da verdade que são agradáveis e conservam a vida: diante do conhecimento puro sem consequências ele é indiferente, diante das verdades talvez perniciosas e destrutivas ele tem disposição até mesmo hostil.” (p. 533)
A ilusão e a dissimulação, que são as formas como o intelecto atua para a conservação dos indivíduos, é que os levou àquela sobrevalorização da razão. 
É por necessidade de segurança, de um homem que optou por viver em comunidade, que a verdade ganhou preferência sobre a mentira, pois o homem, segundo ele, ambiciona as consequências agradáveis da verdade e não ela mesma.
“É a linguagem a expressão adequada de todas as realidades?
Somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a
supor que possui uma "verdade" no grau acima designado.” (p. 533)
Acreditar na verdade, assim como acreditar que os conceitos são fórmulas fixas para exprimir uma suposta realidade e que eles podem ser avaliados por sua equivalência com as coisas ou com as ideias, oferece uma segurança maior para o homem do que o seu contrário.
A "coisa em si" (tal seria justamente a verdade pura sem consequências) é, também para o formador da linguagem, inteiramente incaptável e nem sequer algo que vale a pena. Ele designa apenas as relações das coisas aos homens e toma em auxílio para exprimi-las as mais audaciosas metáforas. [...] de nenhum modo correspondem às entidades de origem.” (p.534)
“Todo conceito nasce por igualação do não-igual.”
De fato, o que o intelecto produz são metáforas utilizadas para dizer as coisas. Com o passar do tempo, porém, o homem se esquece dessa característica metafórica daquilo que usa na linguagem e confere às metáforas iniciais o status de conceitos, que não são mais apresentados como afirmações provisórias, mas com a função de dizerem o que as coisas são de fato.
“[...] de onde provém o impulso à verdade: pois até agora só ouvimos falar da obrigação que a sociedade, para existir, estabelece: de dizer a verdade, isto é, de usar as metáforas usuais, portanto, expresso moralmente: da obrigação de mentir segundo uma convenção sólida, mentir em rebanho, em um estilo obrigatório para todos. Ora, o homem esquece sem dúvida que é assim que se passa com ele: mente, pois, da maneira designada, inconscientemente e segundo hábitos seculares - e justamente por essa inconsciência, justamente por esse esquecimento, chega ao sentimento da verdade. [...] Coloca agora seu agir como ser "racional'‘ sob a regência das abstrações; não suporta mais ser arrastado pelas impressões súbitas, pelas intuições, universaliza antes todas essas impressões em conceitos.” (p. 535) 
O autor destaca que a ilusão maior é a de levar o homem a acreditar que tais ilusões são verdades, apontando, assim, como problema, o fato de o homem acreditar no produto do intelecto como verdade, na ficção como realidade. O homem tem uma propensão a se deixar enganar. 
“[...] quantos problemas essa vontade da verdade já nos levantou! Quantos problemas singulares, graves e dignos de serem postos! [...] que parte de nós mesmos tende à “verdade”? De fato, nós nos detivemos longamente diante da razão dessa vontade_ até que acabamos por nos deter diante de uma pergunta mais importante ainda. Nós nos perguntamos então sobre o valor dessa vontade [...] de fato, é um risco a correr e, talvez, o maior de todos.”
Aforismo 1 de Além do bem e do mal
O filósofo aponta o conhecimento intuitivo e a sua forma de dizer o mundo como o faz o artista.
“Agora ele afastou de si o estigma da servilidade: antes empenhado em atabulada
ocupação de mostrar a um pobre indivíduo, cobiçoso de existência, o caminho
e os instrumentos e, como um servo, roubando e saqueando para seu senhor,
ele agora se tomou senhor e pode limpar de seu rosto a expressão da indigência. O que quer que ele faça agora, tudo traz em si, em comparação com
sua atividade anterior, o disfarce, assim como a anterior trazia em si a distorção. Ele copia a vida humana, mas a toma como uma boa coisa e parece
dar-se por bem satisfeito com ela...
...Há épocas em que o homem racional e o homem intuitivo ficam lado
a lado, um com medo da intuição, o outro escarnecendo da abstração; este último é tão irracional quanto o primeiro é inartístico. Ambos desejam ter domínio sobre a vida: este sabendo, através de cuidado prévio, prudência, regularidade, enfrentar as principais necessidades, aquele, como "herói eufórico", não vendo aquelas necessidades e tomando somente a vida disfarçada em aparência e em beleza como real.
... fundar-se o domínio da arte sobre a vida: aquele disfarce, aquela recusa da indigência, aquele esplendor das intuições metafóricas e em geral aquela imediatez da ilusão acompanham todas as manifestações de tal vida. Nem a casa, nem o andar, nem a indumentária, nem o cântaro de barro denunciam que a necessidade os inventou: parece como se em todos eles fosse enunciada uma sublime felicidade e uma olímpica ausência de nuvens e como que um jogo com a seriedade.
Enquanto o homem guiado por conceitos e abstrações, através destes, apenas se defende da infelicidade, sem conquistar das abstrações uma felicidade para si mesmo, enquanto ele luta para libertar-se o mais possível da dor, o homem intuitivo,
em meio a uma civilização, colhe desde logo, já de suas intuições, fora a
defesa
contra o mal, um constante e torrencial contentamento, entusiasmo,
redenção.”
A diferença entre os dois é que este último sabe que está lidando com disfarces, com máscaras e, diversamente daquele que precisa de uma tábua de segurança, uma verdade, para se agarrar, este último, obra prima do disfarce, segue pela vida sem querer que ela lhe ofereça mais do que é próprio a ela.
“ A falsidade de um juízo não é para nós uma objeção contra esse juízo. Aí está o que nossa nova linguagem tem talvez de mais estranho. Trata-se de saber em que medida esse juízo acelera e conserva a vida [...] que o homem não poderia viver sem o curso forçado dos valores da lógica, sem medir a realidade com a estiagem do mundo puramente fictício do incondicionado, do idêntico a si, sem uma falsificação constante do mundo pelo número_ querer renunciar a juízos falsos seria renunciar à vida, negar a vida. Admitir que a mentira é uma condição vital, isso é certamente opor-se de forma perigosa às avaliações habituais; uma filosofia que o ousasse, lhe bastaria para colocar-se desse modo além do bem e do mal”.
Aforismo 2 de Além do bem e do mal
Marçal, Jairo (org.) Antologia de Textos Filosóficos / Jairo Marçal, organizador. – Curitiba: SEED – Pr., 2009. - 736 p. –
Entre a verdade e o impulso à verdade: apresentação ao ensaio de Nietzsche “Sobre verdade e mentira o sentido extra-moral” – Antônio Edmilson Paschoal
NIETZSCHE, F. “Sobre a verdade e a mentira no sentido extra moral” Nietzsche
Além do bem e do mal. [S.l]: Escala
“eu não sou um homem, sou uma dinamite”

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