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Nguyen Quoc Ding, Patrick Daillier e Alain Pellet - Direito Internacional Público

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Prévia do material em texto

NGUYEN QUOC D I\H t • PATRICK DAILL1ER • ALAIN PELLET
DIR E ITO
INTERNACIONAL
PÚBLICO
Tradução de 
Vítor M arques Coelho
Revisão de 
M.* Irene Gouveia 
Filipe Delfim Santos
3 1 t i 8 â 6 - £ >
O CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL
B IB L IO G R A F IA - R . A g o , « D ro it p o s itií e t d ro it In te rn a t io n a l- . A.F.D .I. 1957. p . 14-62 fc 
SUY « S u r la d é fin itio n du d ro it d e s g e n s » , R.G .D .l.P . 1960, p . 7 6 2 -7 7 0 - S n K o b c n J e n n i \ ( .s , « W hat 
Is In lc m a iio n a l L aw an d h o w d o w c T cll it w h c n w c S ee i\’! » ,A .S . IX L 1 98 1 , p . 5 9 -8 8 c « ll ic Idcnii- 
fica lion o f In te rn a tio n a l L a w » , m B in C u l n o . c d .. International U m : Teaching and Pruticc. S tcvens. 
I^ondres, 1982. p . 3*9 - R H ig g in s , « T h e Iden tity o f In te rn a tion a l I-a \v» . íb iti, p . 27 4 4 - J C o v b a c a l . 
«L e d ro it in te rn a iio n a l. b ric ã b ra c o u s y s tè m c ? * , A nh ives de p/tíloso/>hie du droit. 1986 . p . 8 8 -10 5 
- S . S u r . « S y s tè ra e ju r id iq u e in te rn a iio n a l e t u to p ie * . íbid.. 1987 . p 3 5 -4 5 - 1. D k t t e k ü e L up is. The 
Cuttcept o f International La\\\ N orstedt.s F o rln g . 1987 . 145 p . - C h . I j - b e n . « D ro it: Q u e lq u e c h o se qui 
n e s t p a s é lra n g e r à la ju s tic e » , Dnut. 1 99 0 . p. 3 5 -4 0
1. D ire ito in te rn ac io n a l e so c ied ade in te rn ac io n a l - O direito internacional define-se 
com o o dirciu» aplicável ã sociedade internacional. Esta fó im ula. com poucas diferenças 
nos term os, encontra-se hoje em dia em todos os autores: é a m ais sim ples se bem que não 
seja a pura constatação de um a evidência. Implica a existência de um a soctedadc interna­
cional distinta da sociedade nacional ou sociedade interna, ou ainda estatal, lila delim ita, 
ao m esm o tem po, os cam pos de aplicação respectivos do direito internacional e do direito 
interno. Confirm a por últim o o vínculo sociológico, portanto necessário , entre direito e 
sociedade. Q ualquer sociedade tem necessidade do direito e todo o direito é um produto 
social. Ubi societas. ibi jus é um a m áxim a que se tem verificado no tem po e no espaço
A - Definição fonnal de direito internacional
2. D ire ito in te rn ac io n a l e d ire ito in te re s ta ta l - A denom inação «direito internacional» é 
hoje em dia a mais correntem ente utilizada para designar o direito da sociedade 
internacional. Ela é a tradução da expressão «InternationalLaw» cuja paternidade pertence 
a Bentham que a utilizou no seu livro publicado em 1780. A n Introduction to tlic Principies 
o f Moral and Legislatton. em oposição com a «Nacional Imw» ou *Miaiici/ml Law *■
O filósofo inglês mais não fez do que ressuscitar a fórm ula latina jus inter gentes 
adoptada no século XVI por Vitória, retom ada em 1650 por um outro inglês, o jurista Zoudi. 
e que o chanceler d'Aguesseau traduziu, no princípio do século seguinte, por «Direito entre 
as nações». N o seu projecto de paz perpétua publicado em 1795, Kant substituiu expres­
sam ente «Nações» por «Estados», ro tab e lecen d o assim o sentido anglo-saxónico do 
term o «Nação»- «D ireito internacional*» deve ser então considerado com o sinônimo do 
direito que regula as relações entre os Estados, ou direito interestatal. Paralelamente, a 
sociedade internacional, regida por este direito interestatal ê. tam bém ela. uma « sociedade 
interestatal» ou ainda, «sociedade de Estados».
Na hora actual. após uina evolução contínua que co n d u /iu a um certo re co n h e cim en to 
internacional do indivíduo e à criação e m ultiplicação das organizações internacionais, a 
sociedade internacional já não é exclusivam ente interestatal. Todavia, o term o «direito
INTRODUÇÃO GTRAI
internacional- pcm anecc solidamente ancorado no vocabulário jurídico. Nestas circuns­
tância*. c cm relação com a transform arão da sociedade internacional.deve ser igualmente 
entendido com o om direito que já n io é exclusivamente inlcrcstatal. ainda que tal 
permaneça. principalmente devido ao papel primordial dos Estados na vida internacional 
e Á influencia determinante que exerce a noção de soberania, característica essencial do 
Estado, no conjunto do direito internacional.
3 . D ireito in ternacional e d ire ito das gentes - Ate no aparecimento do livro de Bentham. 
uma outra denom in içln . a dc -d ireito das gentes*, linha os favores da doutrina Era a 
rniduçéo literal do expressão ju\ Pentium dos romanos Se. ulteríormerte. sc eclipsou 
perante a expressão «direito internacional». o certo é que nunca chcgou a desaparecer com ­
pletamente do vocabulário e ainda hoje conserva adeptos.
Por exemplo: G F. de Martens. Pr/ris du dnut des grn\ modenie de t'Eun>i>e. Gui- 
lhaumin. 1864. 2 *ol.. 463 p.: A. Rivier. Príncipes du dmit des gens. Roasscau. 1896, 2 
vol.. 501 p.; R Redslob. Principiei du droil des gens modeme. Rouvseau, 1937. 331 p. e 
Trtntè de droit des gens. Sirey. 1950.473 p.
Em 1879. na sua Intmductinn à Vétude du droit International. o jurista franccs Louis 
Renault propôs a distinção entre o direito teórico ou direito racional, ao qual conferiu o 
título de -d ire ito d is gentes», e o direito prático ou positivo, o único que chamou -direito 
internacional- Em 1932. Georges Scelle, ao intitular a mui obra P réa v de droit des gens. 
esclareceu que dcsijava retomar o termo -D ireito das gente»» que n fn se encontrava des­
valorizado mas aptnas caído em desuso. Advertiu, depois, que a palavru «gens» nào devia 
ser tomada exclusvam entc na sua etimologia latina, que visa as colectoidadcs organi­
zadas. mas -no sa i sentido vulgar e corrente dc indivíduos considerado* isoladamente 
enquanto tais c. colccti'vamente. enquanto membros das sociedades políticas» Na sua 
opinião, o termo «direito internacional» 6 incxacto. pois a sociedade internacional náo 
deveria ser senáo tm a sociedade de indivíduos
Se houve uma real com petirão entre os termos -d ireito internacional» e «direito das 
gentes», ela encontra-se hoje inteiramente ultrapassada Sc bem que o prineiro seja utili­
zado mais frequentemente, ambos sdo. agora, unanimem ente considerados termos sinô­
nimos e intermutáveis. Todavia, a identidade entre as duas denominações náo é completa. 
O termo -direito ntcm acional- está próximo da idcia dc um direito entre as nações, 
enquanto o -direito das gentes» evoca a perspectivu mais ampla dc um direito comum 
ás «gentes».
4 . D ireito in ternacional público e d ire ito in te rnac iona l p rivado Fai nu tradução 
francesa da supracitada obra de Bentham. publicada na Suíça em 1802. que o qualificativo 
-público» foi acrescentado ao term o ongináno de «Direito internacional». Mais tarde. cm 
1843. a expressão «Direito internacional privado» foi intnKiu/ida em Fraaça por Foclix. 
autor do pnm eiro Tnuté de droit Internationalprtvé. A distinção entre direito internacional 
público c direito internacional privado, já clássica, teve ongem nesta data
Segundo a opmiAo geral, assenta numa diferença dc objecto. Enquanto o direito inter­
nacional público regula as relações entre Estados, o direito internacional p rvado regula as 
relações entre particulares e pessoas morais privadas. As primeiras apresenum um caráctcr 
público, enquanto as segundas s io relações privadas que com portam um elemento estranho 
decorrente quer da diferença de nacionalidade entre os sujeitos das ditas rc ações. quer do 
lugar, situado fora do tem ló no nacional, em que estas sc desenrolam. No rem e do direito
INTRODUÇÃO GFRA1 31
internacional privado, os mecanismos de -conflitos de le is-, esforçam-se por penmtir a 
determinação do direito aplicável quando o recurso a dois ou vários sisterm s jurídico» 
nacionais podeser encarado para resolver um dado problema.
No entanto acontece que a intervenção de um elem ento fonnal perturba t tradicional 
repartição das m atériis entre os dois direitos. Com efeito, qualquer regra eliborada por 
meio de convenção e itre listados, isto «f. por um procedimento intercstatal. é . io ponto de 
vista form al, uma regra de direito internacional publico, O ra. verifica-se que questões que. 
por natureza, derivam do direito internacional privado sâo. por vezes, reguladas por uma 
convenção entre Estados. Neste* casos, o direito internacional público exerce uma verda­
deira intromissão no domínio reservado ao direito internacional privado.
Segundo o T-PJ I . «*> repas de direito internacional privado ía/em parte do direito interno». 
e*ccps'ân feita à InpAiev em «|»ie sejam .estabelecidas por coovençfics internacionais ou cotfwm». 
lendo entio o verdadeirr cartclet de um direito internacional regulador das relações ertre huados» 
(kmpruii» ifrbr*. TJ*J.l. *^ne A. n.“ 20-21. p. 41-42)
Por outro lado. os particulares mantem, cada vez mais. com Estados estrangeiros, 
relações importantes, contratuais ihj não. cujo regime jurídico, em plena evolução, tende a 
apmximar-se de um regime de direito público
Por causa desta? interferências, contestou-se a distinção entre direito internacional 
publico e direito internacional privado com o cientificamente artificinl Georges Scelle 
combateu-a vigorosamente. Para ele. a sociedade internacional é iima e o dirrito interna­
cional e um. A exclusão dos indivíduos duma ou doutro não pode deixar de ser arbitrária 
Aceita apenas uma subdivisão entre dirritn privado internacional e direito júbhco inter- 
nacional. na condição de esta se situar no interior de um direito internacional unitáno
O preâmbulo da Constituição francesa de 1946 adopta esta term inologia *o proclamai 
que a França se conforma com o «direito público internacional», M ais recentemente dois 
autores manifestaram, segundo parece, uma atitude próxima da de (3c*wges Scelle. 
introduzindo embora, novas expressões O Professor Jevsup lançou a idcia de um -direito 
transnacional». no qual simultaneamente o direito internacional público e o direito inter­
nacional privado tem o seu lugar. (Ph. Jevsup. Transnawmal Law. 1956) Por suu vez o 
Professor Pinto publicou um Iívto intitulado: Droit des nrlaiionx intemntinrales (Payot. 
1972.373 p.). no qual define estas através dos «actorcs*. que podem ser tant;> os Estados 
e as organizações internacionais, com o os particulares e os gm pos privados, e através do 
-conferido». que p«*W apresentar características tanto públicas com o privada'
A despeito dc lais objecções c iniciativas, a distinção entre direito internacional 
público e direito internacional privado foi definitivam ente adoptada pela cièncsa do direito. 
Aliás, nunca deixou de receber plena consagração nos programas dc ensino. Note-se 
somente, no que diz icspcito às respectivas denominações, que o direito internacional pn 
vado deve ser sempre acompanhado do qualificativo que o identifica, ao passo que. quando 
se emprega a exprcsvão «direito internacional* sem qualificativo, trata-se sempre, tendo 
cm conta a sua origem inglesa, do direito internacional público.
Esta obra é consagrada ao «direito internacional», isto é . apenas ao «direito interna 
ctonal público».
n INTKOOM.AO üfckAI.
B - Dirtitu internacional e nelaçóes initmacumab
5. Sociedade in te rnac iona l e com unidade in te rnac iona l D irciloda sociedade interna 
cional. o d iin lo ínicinacional e, m uitas vezes. apresentado com o o diteito da -comunidadc 
internacional ■. só que enquanto ninguém pensa repudiar o conceito dc sociedade interna­
cional, já o de com unidade internacional foi posto em causa.
Objectou-sc que a extrema hcterogcncidade dos Estado* espalhados pelo mundo c 
incompatível com a existência dc uma com unidade internacional cor,siderada com o com u­
nidade universal A s diferenças de raça. dc cultura, de civilizarão separam os povos, cm 
vez dc os unir Hoje com o ontem, «s conflitos ideológicos ou ineruncntc políucos entre 
Estados persistem enquanto factores dc divisão O desequilíbrio crescente dos níveis de 
descnvolviir.cntu alarga o fosso entre países ricos e países pobres. A expressão «Terceiro 
Mundo» é tem o testemunho da clivagcm do mundo. Existem, pot certo, entre todos os 
Estados, interesse' materiais com uns, provenientes dos laços que a civilização técnica 
forjou. M as uma com unidade deve também assentar numa base espiritual que. neste cavo. 
falta. Um vinculo com unitário só poderia nascer de relações entre Estados que apresen­
tassem analogias suficientemente profundas para favorecerem a eclosão deste elemento 
subjectivo rocessário. Quanto ã com unidade universal dos Estados, ela continuaria a ser 
uina pura utopia.
Esta objccção assenta essencialmente na distinção, estabelecida por um a teona socio­
lógica aletn l. entre -com unidade» (Gemeuischa/t) e •sociedade» (G tu lhchaft). O vinculo 
«comunitário» bavcar-se-ia no sentimento (parentesco, vizinhança ixi am i/ade). enquanto
o segundo proviria apenas da necessidade dc troca, isto é , dos interesses. A vida com uni­
tária desenvolveria relações confiantes e íntimas, enquanto a vida em sociedade, baseada 
unicamente no interesse, seria fundamentalmente caracterizada por um estado de tensão 
à escala universal, só o conceito dc sociedade internacional assim sena concebível, nào o 
dc comunidade internacional
Na verdade, as diferenças entre os povos nào excluem esse elem ento subjectivo 
necessário que provém da vontade dos Estatkis de viverem em comum, apesar daquilo que 
os separa. Rcforçain-na ainda outras convicções comuns: a identidade geral das concep­
ções morais, o sentim ento geral de justiça, a aspiração geral à paz. a ntcrdcpendencia eco­
nômica. a necessidade universalmente reconhecida da luta contra o subdesenvolvimento
A solicanedade dos povos, ao nível do universo, pode ser fraca. M as nào sc deve 
confundir a existência da comunidade internacional (ou da sociedade internacional) com o 
grau da sua coesão. Alias, seja u que nível for. as expressões «comuiidade internacional» 
e «sociedade internacional» empregam-sc hoje cm concorrência. li verdade que a expres­
são «comunidade internacional» põe sobretudo a tómca na solidariedade intem acional.de 
que se tom a cada vez mais consciência c que não cessa de progredir nos factos. (Sobre o 
problema da personalidade jurídica da comunidade internacional, ver infra, n.° 266).
É de facto. da tensão entre estas aspirações confusas à comunidade internacional c a 
tendência dos Estados para afirmarem a sua soberania, que nasce o direito internacional 
cujo ob jectoé. precisam ente, o de organizar a necessária interdependência embora preser­
vando a sua independência. O direito internacional, garantia da coexistência dos Estados, 
aparece assim com o o ponto dc equilíbrio, num dado momento, entre estes dois movimen­
tos antinómicas (v. infra n." 38).
INTKOOUÇAO GERAI
6. Un idade e diversidade - Assim com o a socicdadc internacional, o direito internacional 
não c homogêneo c feito du justaposição dc regras gerais e dc regras particulares, cuja 
combinação c por vezes difícil.
I " Commubkle utítmacumid #• direito Internacional / id A noção de nornu -gemi - 
t ambígua lün apresenta vários sentidos t v nomeadamente J’. keu ter. «Pnncipes de droit 
International publi;», R.C.A.D.1. 1961 - l l .v o l . 103. p. 4 7 1 1
Convém retei o seu significado mais operatório. colocando-nos no ponto de vista üa 
geografia Compreendido deste niodu. o direito internacional neial é aquele que e aplicivcl
i comunidade internacional universal.
Pura numerojos juristas, u noção de comunidade internacional subentende a comum 
diide jurfdka fundada no facto de todos os Estados estaiein submetido*a um narsmo 
direito. Esta concepção -universal» (k> direito internacional c plenamente tonlirm ada pel<> 
direito positivo. Convenções internacionais importantes, com o u relativa ao Estatuto do 
Tribunal Internacional dc Justiça, reconhecem a existência das regras escritas c consuetu 
dinárias gem u. Quanto i jurisprudência internacional, ela invoca constantemente o 
«direito internacional com um - ou o «dueito internacional geral-, termos que náo podem 
dcixur dc ter cm vista o direito internacional universal.
O artigo 53 " di Lunvciiçúu dc Vicim snbie o dueito «Ka iiauüuv Asuoadu cm l id e Maio dc l%*J 
recoftticcc a cxistóncia dc nurma» imperativa* du dirrito immuu i iu .it g r m l ciiquarui noruia» itt.viic» 
pela cnmunidttdt iiilfnttit utuid dos Estado» nu *«u conjunta
2." Soiiedadis bUemuciomiú trstrtius e dirrito inienuu loiiulim rtia ilur Este mesmo 
direito internacional positivo reconhece também a exbtênci.i do direito particular
Hã quem considere que este direito internacional particular pode ser obra ite um único 
Estado. Um tal direito particular reuniria todas as regras c práticas scguuas pelos órgãos 
legislativos, judiciais c executivos de um Estudo cm matei ia de relaçóc» internacionais 
Contudo, esta concepção dita ••nacional- do direito internacional não se ajust.i a naiure/a 
real deste d ireito .que deve provir dc uma pluralidade de Estados. Ja cm IKW>. nos sci*- 
Prmctptx du dnri! des çens. Rivici tinha rejeitado esta concepção -nacional- Segundo 
este autor, este pretenso direito internacional de um so Estado constitui apenas o seu piif- 
pno «direito público externo», aquele que se aplica aos seus próprios órgàos nas telaçòc' 
externas.
Para definir realmente o direito internacional p a tlk u lu i.e necessário distinguir cum 
«sociedades intcraaciociais particulares» e -sociedade internacional global- A noção dc 
sociedade intcm aíional é . com efeito, uma noçüo complexa As relações ertre os diterentc-» 
Estados implicam, inevitavelmente, solidariedade* particulares, oiiginandu agrupam ento' 
que são «socieduces internacionais particulares». LX) ponto dc vista do seu ob jetto . esta ' 
solidariedade» particulares podem ser dc natureza política. m ilitar, econômica, cultural, 
etc. Tais sooedades multiplicam se sem cessar, uo sabor das necessidades c das afinidades 
O »eu mim em é limitado Podem ser dotadas dc uma qualquer estrutura ou revestir - 
forma dc «organiuiçftcs internacionais»
É o direito aplicável a estas sociedade» particulares, desde que agrupem pelo menos 
dois Estados, que i quultftcudo de «direito internacional particular» No seu Manuel. viikI<> 
a público cm IW i. Georges Scelle. reconhecendo a coexistência do direito internacional 
geral e do direito internacional particular, definia o direito internacional, ao mesmo tempo
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M INTUODUÇÁO CíWtAI
com o d irritoda sociedade internacional (direito geral) c direito dc una sociedade interna­
cional (direim particular)
A im polância respectiva das regra* gcnus c das regra* particulircs 6 eminentemente 
variável e depende da maior ou menor homogeneidade d;i socicdndí internacional Num 
mundo em ripida mutação dc mais dc 181) Estado-* opostos por ideologia* inconciliáveis c 
aparado* por níveis de desenvolvimento bastante ddercnlcs. nssistese a uma dim inuição 
do número c do alcance das normas gerais. O s países em vias de desenvolvimento, em 
rspecial. por um lado contestam numerosas regras tradicionais, denunciando a sua origem 
«rsclusiviimcote europciu c o *<u cnnlctcr impcriali>ui. c icv Inmam. por outm . a npllcaçfto 
de normas diferenciadas que lonsiderem as neccs-odade* e as capacidades reais de cada 
grupo de F.stados.
CAPÍTULO PRIMEIRO 
HISTORIA DO D IR E IT O IN TER N A CIO N A L
BIBLIOGRAFIA- E. N » . ! f i tHig/nn du tinir mlrrntinoruti. T W in IS94 114 p O V v» 
V ouiM iovrv Lti in it pW » du dmit d?t gnu S.jhoff Haia. 1919. 107 p s Kmm.
• Intnkl.ioiion i 1'hiMnir: du dinii inirriutiiinnl public»./?C A L> I 1923-1.vol l .p 1-2» LLl.Fu«! 
«lx d^vcJuppement Mnonqur du droit hNcnuUionaU. HCA D l.. 19.12-111. w l . 41. p 501601 - A 
Nixsawsi. A Cntrire Hhhn\ itf thr La*' of Maiiémx. Mj. nullan. Nova Itwquc. 1954.176 p. - W f 
KllEM cd . Bioxnxphtad fhcntman « f IntrmatimuiUus. Greemvood Press W blpni. 1981. XVI. 
9.14 p W. 0 G»rwi. Fj*xhen der ViUkrrmVim^fuhtchtr. Nomos VerlaeseoellwhaA Badc» -Badrn I9K4.897 p
7. Plano d o capítulo «Aquele que quiser confinar-sc ao presente. no actual. não com­
preenderá o ac tua I- Esta observação dc Michelel justifica-se plenamente a propósito do 
direito internacional tu c . mais do que qualquer outro ramo do direito, é insep&rável da sua 
história, uma vez qu e4 um direito essencialmente evolutivo
Esta história deve ser concebida com o a dc um fenômeno social específico, desen 
rolando-se segundo um nim o próprio, em função dos diferentes factorc* que. ao influen­
ciarem a evolução du sociedade internacional, contribuíram para a formação e o desenvol­
vimento do direito Sc ela se encontra estreitamente lidada ã história geral. nen por isso e 
factual e os períodos dc ambas nfto coincidem necessariamente
Finalm ente, convim constatar que. durante um longo periodo. a hisióna do direito 
internacional, tal como nós a conhcccm os. se confundiu cm larga escala com a história 
européia foi na Eurcpa que apareceu o Estado modemo. com a chegada tio modo dc 
produção capitalista; foi na Europa que se desenvolveram e que sc definiram as principais 
instituições do direito das pentes contemporâneo: resultaram do expMirinnlwno colonial as 
regras forjadas na Eu rapa que sc impuseram ao testo do mundo. Sem ncpligenciar os con­
tributos e as influencias extni-europeias. sobretudo no período recente, c pois sobre a 
maturação deste direita de origem europcia que convém pôr a tônica
Em função desta» observações, a história do direito internacional pode ser simples­
mente dividida em do» períodos.
O pnm eiro. que vai das origens até à Revolução Francesa, é o da vua fnrmaçõn.
O segundo, que começa em 17K9 c ainda perdura, e o do seu de*en\-oh im?ntn
Secçdo I - PeríoJo de formação (até à Revolução Francesa).
SrcçAo I I Período de desenvolvimento (de 1789 até aos nossos dias)
36 IVTKOm^ÀOGMUt.
Secçda I - Pudono «• h«MA<, Ao
I A ií íx RevolUÇftO Francesa)
4 1 ." N a A.VTIOL1DAUL h lUAlM MlUUA
8 . O d ire ito in ternacional sem os E stados Na Antiguidade e na Idade Média, ainda não 
havia Estado» no sentido nMKlemo da palavra. Do ponto dc vista jurídico, podemos. pois, 
reunir estas doas epoca.s históricas numa so que podemos qualificar dc época «prc-cstatal» 
Pode o direito internacional nascer onde iiAo há Estados'.’
O s que tespondem pela negativa a esta qucstào situam o ponto dc partida da história 
do direito internacional no princípio do século XVI. quando surgem os primeiros Estados 
Europeus. Contudo, o direito internacional deve considerar-se. antet dc mais. como um 
direito «intenocial» ou «•intergrupal- Quando sc aplica aos Estados, rege-os. não enquanto 
tais, mas e n q u n to «sociedades políticas» distintas e independentes. Ora. n io sendo Esta­
dos. tais sociedades políticas já existiam na Antiguidade c na Idade Media Assim, o direito 
internacional encontra etécti vãmente no meio social da Antiguidade : da Idade Média as 
condições mínimas necessárias ao seu nascimento
Sc a Europa contnbuiu largamente para impor a instituição c-Jatai com o conceito 
central do direito internacional, o sua c iv ili/aç io é também hcrdeiru du pensamento antigo 
gim M nm nM i o <lm princípios (In rlv llixaçio c m lâ de que será impregnada a Idade Médiu 
Nesta medida, u sociedade antiga c medieval exerceu sem dúvida influência sobre esta 
edificuçáo
A - A AniiRuidailf
H1HI.KXjKAHA- U l Touian Pas. Lr duM des geiu et d* lu Chute uulú/mc. Pans. Jouvc.
2 vol. IV26 - M l * TaUU . «Lcs origines dc lírthtra^v; mienutioiul Aniquiil cc Mo>e« Age». 
R.C.A.P.I. I9JMV. vol 42. p. 3-115 - O. Tfmmin.s. -Dmit iiucmjiiunil et toniuiuiuulo fcderales 
dans laürétedct Citeo.K.C.A /)./ . 195A-II. vol. W. p 469-562 - Kmsmuki Im il. -The Principies nf 
Iniemoliotul U » m lhe Ligb» of CaoÜKHU l><cuine». H . C 1967-1. vol 120. p 1-59 - J 
('•AUDfcMtT. La inuuuOom de I Anttyuitt Domai Mouichrrsiieti 1972, 518 p. - Y Bomujct.
• Lempirc duows-. in l*\ grundt Empiret. Kccucil ck Ia Sociétc Jcan Bodin l.ib Bneyclopédique. 
Bruxelas. 1973.129 p
9. O m undo antigo e o d irv ilo In trrnac ion a l - A Antiguidade engloba os três milênios 
que precedera t i a nossa era e estende-se até à queda do Império R onitno do Ocidente cm 
476 d .C. A cena política internacional era então ocupada por dois tipos diferentes de 
colcctividudes políticas os bn/tériits estabelecidos em vastos tem tôrios. as «grandes 
potências» du ípoca. e as prinripnlmonte as Cidade* gregas. entidade* dc dimen
sões restritas mas homogêneas c notavelmente organizadas.
No seu conjunto, o mundo «conhecido» era dominado pela tendência para a autarcia 
e o isolamcntc dos povos. De facto. foi sobretudo a propósito da Antiçuidadc que nasceu 
a controvérsia vibre as origens do direito internacional Paru inuito* autores, nenhum» 
regra jurídica podia provir de semelhante meio intersocial. aberto permanentemente às 
relações de gurrra
M lST id tM D O M M KH tt tN TU tSACM iN M .«7
Podemos ach u que esta opiruào ntgiitim é excessiva, lodavia. na medida « » q i« *c 
dcscoóriram realincntc vestígios dc um direito internacional semelhante ao que conliece 
mos rios nossos d iis . tratava-se apenas dc alguns rudim entos. O estado latente dc guerra 
que niarrava a A ntçutdade. n io favorecia cm nenhum a rcgiao. fos.se no ExtremoO rien te 
no Oriente ou no mundo gneco romano. a instituição de um verdadeiro sittem a jurídico
|0 . A C h ina Apesar da raridade dos documentos, podemos estai seguros da existência 
dc relações internacionais foca do mundo mcditerrãnico que. contudo. não pesavam no 
curvo da evolução geral
Na China. Confúcio constituíra uma teoria geral das relações sociais à escala do uni­
verso Senhor dc um pensamento filosófico monista. acreditava na existência de uma In 
fundamental, comum a lodo o universo, que exige que. no interesse social, a> acções do 
homem estejam de acordo, em toda a parte, com a ordem da nature/a. A harmonia que 
caractcn*a esta ordem deve servir constantemente dc modelo ã ordem social e ao seu 
funcionamento, n io só no interior de um mesmo povo. mas também entre todos os povos 
Tal era. numa sociedade dilacerada por guerras m testinas c crônicas, o primeiro d iscu n o a 
favor da pa/ universal c perpetua.
I I . O s Im périos d* O rien te - Cerca de MXK) a.C . em dua- icgiôes muito ferieis, foram 
constituídos, quase simultaneamente, dois Impérios, o Egipto na fértil bacia do no Nilo. c 
a Babilônia na Mesopotanua. Ainbos subsistiram ute 1000 a.C Após a vua queda. a-, 
cidades lemcias e a itcalc /a hebraica cmcrginim durante alguns século* A pírtir do scculo 
V || a C .. novo* impérios sucederam á Babilônia: primeiro o Império assírio, depois no 
século VI a.C .. o Império p e ru que atingiu o seu apogeu com D ano. antes de sucumbir sob 
os golpes dc Alexandre iki principio do sécuk» IV a.C
No entanto, as nec essidades econômicas sobrepuseram -sc a autareia e ã violência, e 
obrigaram cada uin dos Impérios a relacionar se pacificamente com Q m tndo exterior 
Cravas a este m ovinento. estabe leceram-se fortes correntes com erciais A 3abtlóma c o 
Egipto toroaram-se os dois centros rivais do tráfego com crual entre a índ iac o M editer­
râneo Após a derrou perante os G regos, o Império persM virou-se para o Extiemo Oriente 
tendo depois os vencedores de outroru encetado com ele relações econômicas, restahc 
lecendo assim a corrm te India - Mediterrâneo, criada antes pela Babilônia
Ov partiddrios da existência dc um direito internacional desde a remota cp*va do» 
Impem » baseiam a sua tese ua existência c desenvolvimento desses um tactos Os 
documentos conhecidos revelam que cia através do mecanismo do iruuu*-. concluído 
numa base dc igitaldiul, entre as p a r to , que eram estipulados os com prm iissos inter 
nacioruus. Era conhecida também a regra • Pada %unt servandn. . garantida pw- lurarnentos 
religiosos prestados pelas panes contratantes quando da conclusAo da obng.u,.io
Tais tratados tinham por objecto domínios diversos . om crcio. aliança ofensiva e 
defensiva, delimitação territorial l.m dos traiados mais conhecidos c o chair-ado «tratado 
dc pOn>U- kiNiclufdo cerca dc I2V2 a.C entre Rarnsés II e o rei dos Hititas Este tratado 
fixava os princípios dc uma aliança, reforçada pela cooperação numa has< ilc iccipro 
cidade, designadamente em matéria de extradição dc refugiados políticos Per outro lado. 
graças a descoberta dis cartas de Ainarna. sabeitK» da existência dc uma rede dc rc laçõo 
diplomaticas asscguudos por enviado» reais que gozavam dc privilégios espcciais. Eles 
utili/avam uma língua comum, um idioitur babilómco, com o Imgua diplmm tica. c uma 
escrita com um, a esenta cuncifoim c dos Avsírios c dos Persas.
O facto de.quer na Grécia antiga, quer. depois. na Idade M ídia , te m n recorrido ao 
tratado e á diplomacia. que se («>mnniin os instrumentos esscnciai* das relações interna 
cionais actuais. mostra que. nestes dois domínio* pelo meno*. existe continuidade de^de a 
Antiguidade até nos nossos dia*
12. A G réc ia r as relações e n tre ns ( idades - I /' H a Gr/na cldvsica C n io o Império de 
Alcxandiv que desempenha um papel construtivo: m principais contr*>utos provem da 
ttctividade da* Cidades que. atingindo o apogeu com a democracia n(emerisc. ocupam sem 
mtcmjpçfi» o pnmrm» plano durante cinco séculos. Jlé à conquista macídómca. em mea­
dos do século IV a.C .
O isolamento c a desconfiança em relação ao estrangeiro, comn traços gerais da 
sociedade antiga, a que x pinta o individualismo helénico. constituem fontes permanentes 
dc guerra. não só entte as Cidades c o mundo exterior (Guerras médicas), mas igualmente 
entre a* própria ' Cidades. Tal com o no Oriente, lambém estas guerta* s io impiedosas
Todavia, permanente é apenas a nmeaçu dc guerra, ma* nâo » guetra cm si. S io ofi­
cialmente instituídos períodos dc p a /. por meio de tratados, com o t« realizados entre 
F.sparta e Atenas (p a / de 30 ano* cm 44õ a.C. e pa / dc cinqüenta anos rm 431 a.C .. esti­
pulada no tratadn dc Nícias). Revelou-se mesmo umn ideia de p a / perpMun no tratado dc 
p a / concluído com a Pérsia em '8 6 a.C.
Existem, pois. forçosamente, rclaçõe* pacíficas que favorecem, além disso, outros 
aspectos da vida das Cidades A com eçar pelas necessidades econômicas que crescem 
paralelamente às próprias cidades. No século V a.C .. Atenas torna-se o centro de um 
intenso comércio internacional marítimo. Hnfim .se as Cidades são c n lid id o politicamente 
organizada*, cuja independência constitui ao mesn>o tempo o ideal c o critério, os seus 
povos fazem parte dc uma mesma comunidade de raça. de civilização. de cultura, o que 
cria, forçosam ette. entre eles. af inidade* particulare*. Eles tém plenu coasciêncil dc serem 
Helenos opostus aos Bárbaro* É graças a estes factorr* dc umdaclc e npioximação. 
ausente* no Oriente imenso e com plexo, que a contribuição da Grécia pnna a lormaçáo do 
direito internacional é mais importante c mais substancial.
2 / Segundo o testemunho formal dc Tucídidcs. os G regos utilizam, tal com o os 
Orientais, o* tfais instrumento> essenciais das relações: o trutado c a diplomacia. «i que 
prova a existência dc uma certa com unidade jurídica entre unse outros. Provavelmente a 
este respeito. o> Gregos nSo trouxeram grandes modificações. Ao con lrino noutros domí­
nios. introduziram interessantes inovações.
Podcnv>» detectar o* pnmeíro% indícro*de um direito de guerra baseado emcunsideracOe* huma 
munas e fixado jnw me»ode (ratado*. Do mrvno modo. p<* meio ife tratados, a-Cidades comprome 
tem-se a submrie-o* seu* conflitos .1 arbitragem (o* doi* tratado* supracitados er*re fcspartac Atenas. 
<i tratado dc aliarça militar entre F.vpart* e Argo* cm 418 a.C ). Conforme teMernunho* coocofdantcs. 
a aibitragcin internacional. destonhecida dos Orientai*. c estrita cnaçio do* Crrenos Num perfolo dc 
cinco míciiJo*. «rt ao sícuk) IV a.C contaram-se 110 arbitragem Praliea v.- igutlmenie a arbitragem 
comercial, na vrijuem ia do desenvolvimento do comércio internacional E*ta. jw outro lado. leva ao 
estabelecimento 4e a-frx» tendrnic- a assegurar a protecçAo do* estrangeiro-, Nj século V a .C . con- 
vcnçôe* comerciais. a maior pune d.»* ve/es bilaterais, concedem direito* o privilégios reciproco» ao» 
comerciante* t pnrtcgem pessoas e hei**. A m*lituiç*o mai* cíkb tr 6 a pmxenia antepassada tia pro- 
lesçio consular actual
Mai* mtfávcis ainda *40 o* autênticos esforço* dc «organizaç*' inccrnacionil* O primem» tactoc 
faviwivel é de oriem religiosa. Permitiu a coaçáo das Antk-tioma* que agruparr Cidades com vista à 
administração mniim do* santudno' religiosos A mais importante t a instituída ao século VI a.C. para
tV n tO O C Ç À O G B tA l
prr4K\h> do santuário cie Delfos. agrupando doze cid*rtc» Todas possuem uma euruura. A inler- 
vens'»" àc Filipe du Macrdfaia pfts fim k\ Anfictioma* Outm interesse comum. csie dc ordem estra 
léftea. Invorrce a coopençAo ( 'onstitoem-se orgaiuzacries de ilclcv* colecto u. chamada* u m/mu luo«. 
com base num tratado d: aliança e de assistência militar. Algumas de>ias ivnimai hitn sio. pela «na 
estrutura. verdadeiras «vmkiuvócs lalrtun. 411c aplicuiii as duas regras federais da liberdule de adesio 
c da igualdade entre o* trcmhros A» mais célebre* são a* duus -ConfederaçOcs» otcnicmo. fundadas, 
a primeira (Liga de D ela), cm 476 a .C.. c a «cgunda. um século mais tarde. em *78 âX\ Contudo, a 
igualdade nio t respeitada muito tempo por Alenas que transforma rapidamente em impe-talismo a sua 
preponderância no sistema As resistências suscitadas por esia atitude nào permitem que as duas 
experiências durem mais de wnte ano».
13. Komu 1 T A c w rp çâ o mmtuia das rrhçile\ mtcmaciivwii. Segundo algumas fon- 
les. o sistema grtgo da contederaç&o 011 da liga. assim com o a pr.itica dos tratains. imitada 
dos Im pénas orientais. estenderam-se a Roma. No século V a.C .. constituiu vc uma I.iga 
latina com base num vetdadciro tratado, concluído, em condições dc igualdade, entre 
Roma e as cidadcs do Lácto. Um outm tratado igualitário (frwdtis tuquum / fui concluído, 
cere» de 306 a.C . entre Roma e Cartago. com o fim dc preservar a paz por meio da troca 
dc zonas dc influência, de concessões mútuas e dc p ro m o sas recíprocas de ptotccçáo dos 
respectivos naturais. Roma manteve, pois. efeotivas relações internacionais com o mundo 
exterior c desse facto podemos concluir que a com unidade jurídica dos Gregos c dos 
Orientais englobou tanbém os Romanos.
Sc bem que sejam cxactas estas opmióes. Roma nào permanece por muilo tempo no 
seio de tal com umdike Imbuída da »ua superioridade soba* os seus vizinhos, que consi­
dera natural após ter ilestmído Cartago e em vésperas de conquistar a Grécia, a Ásia e o 
Egipto. Roma p não ssntc necessidade dc tratar os outros povos com o iguais. Rapidamente 
substitui o foedus aeqitwn pclofocdiu miquum. l 'm a tal atitude é totalmente ncom patível 
com o direito internacional, que implica relações dc igualdade. Por isso. segunjo a opinião 
geral. Roma não in flu no drênvolv im ento deste direito
2 ." O d iirno inttnitH ional mnuinu. Existe, todavia, aquilo a que podemos chamar 
direito internacional mmano enquanto estabelecido um lateralmente por Roma . Inspirando- 
-se por vezes nas instituições criadas pelos G regos, os Romanos foram lesados a submeter 
às regras jurídicas as tuas relações com os povos estrangeiros. É a ongem do jux Jetinir e 
do ju.t gentium.
O dirrih) ferutl é tfc natureza religiosa Para comprrcndcrnms porque «e destina a reger as rela çfies "internacionais- devemos lembra/ que Roma as coloca sob o signo da religiio a f*n dc mcrecer 
a poXmi,'4o divina nas sjas relayiVs com os estrangeiros A aplicaçio e a imerpretaçSc deste direito 
estão mesmo confiadas a religiosos, os sacerdotes feciait. que 'Ao. ao mesmo lernpr. venladnnK 
embaixadores romanos (io/am nesta qualidade dc inviolabilidade Alentar contra as taas pessoas é 
ofender os deuses. O direito fecuil também estabeleceu a distinção entre guerra justa e guem» in|usta. 
Ma* eua distinçio assenta numa rvgra romana e nio mima regra - internacional-. A» gue-ras justas sAo 
decididas por Roma segundo um cerimonial destinado a tomar os deuses como trstermmhas e 
prosseguidas cm confomidade com os seus princípios religiosos
Quanto ao /«> grimum ou direito da» gentes, provém da acçfto do» prciores c da cbra dos jurts- 
comullos. no fim du República e no principio do Impeno Na época. Roma prepara-se para se uimar a 
capital do mundo. Os contactos com o> outros povos multiplicam-se. enquanto numerosos estrangeiros 
a fluem i Cidade Eterna Ti*n»«c então necessário instituir um novo dimto. diferente ós /m chiie. o 
qual se aplica exclusivoneme aos cidadãos, a fim de regular as retoçAes entre Romanos c nAo-Roma 
nos Estas relações st« tohreiudo relacOes comertiais Dal resulta que o /tu gennum «eja principal
HISTÓRIA DO DIREITOIVTSKNACIOXAL .V»
40 INTROOOÇÃO GWAI
meme um direi.o prm do. nio podendo >cr « m u i* * £ dueiioresponde » kIci. lundamcntal dc que doem . exutir um dire.io comun. da hum.n*Ude que. ,-n , valer 
pam iudo> oh p«vm devena fundar-* em princípio» extrafc*» da ra/4n univeral
Fnquanti elem entos do direito romano. a- mstituiçòes d o jusfetíale 
^ . ! r X i v c n « - Rom a e pa*>am para a oova E u r o p o ^ i a ^ a p * • u q ^ d a d o 
Império do Oiidenie. Deste modo. c só deste. pode consKkrac ^ que » «-voli**» nao 
sofreu m ic ra dc *o durante a época romana A inviolabilidade dos lejados. adoptada peh> 
mundo medieval, e filha da inviolabilidade do offcio »acerdoíal dos fcciais. E t in q ^ id a 
com outras definições, a distinçfc) entre guerras justas c guerras injustas reaparecera no» 
séculos segu ntes A Itgaçio que certos autores farto entre direito m icm aciond e dueito 
natural ic m n e m o o r ig e m n a s « < » « m / »a despeito Ou sua política imperialista, o contributo dc Roma. embora indirecto, está lon*.
de ser desprc/ívcl
B - A Idade Média
BlBLIOCiRANA - F. L. GaHWí*. U N m m Age. tomo I dc L MtUHrrde* nlatian» mirriuUto 
nalei lfathct« I1* " «11 p M /iuu ikm ans -L»crac de I'»«rgM»«*l»ninicnunonalc a U fui du 
M U vor 04. P .'19-437 . WU K«ASS. -U> «igM » des nu»***
dipkmuiiquet permanentes». K G D J.P . 1962.p I6 I-IM
14. Aspectos gerais do m undo m edieval
Anós a uueda do Império komaix» do Ocidente cm 476. a Europai alravcssa,um 
período dc caos provocado pelas invade* bárbaras A tradição guerreira da Antiguidade 
continua É a pane -som bria- du Idade Media que durou v in o s siculos no decurso dos 
quais a evolução do direito internacional, partindo dos pnm enos ru d im c n ^ c ^ d o s na 
Antiguidade. sofreu, sem duvida algum a.um a in tem ipçto total M uto raros s io os autores
que eJ ^ (JJ>' ^ 1^ ,y 1I1 cm crpcm . [mhico a pouco, entidades i.rgam /adascm nionar- 
quiav distintas Minadas à nascença pelo regime leudal c su s ' J * *
São ainda demasiado instáveis. O principio da lern tonal idade do poder opõe-se úlinst 
tuicào de uma autoridade central efectiva. Nestas condições, como poderio ^ .m onarcas , 
preocupadas antes dc mais com as relaçiVs com os vassalos pocerosos e desconfiada, 
emoreender uma acdko externa séria e continua? . , . , ,As verdadeiras relações internacionais náo reaparecem senio no princípio d (jsé c u £ 
XI no momento em que se inaugura a segunda metade, a metade -florescente- da Idade 
Média Em virtude da complexidade crescente da econom ia, os particulares mantém. sada 
Í S Í S X E directa* com o exteno, Por « d » da Liga llanscatica e sob O *eu 
impulso, criam-se correntes com erciais, desenvolvem-*c comumctçOe» marítimas, or^am- 
zam -sc feiras e m eaados internacionais. Por outro lado. toda» a» novas monarquias sâo 
membros da comunidade cristã. Partilham a mesma cultura a m a m a crença no*, ya t o , e 
nos pnncínios dc umu civ ili/açâo ‘■«nium e a mesma admiração pelo dtrcrto romano 
difundido pelas Universidades. Enquanto esta unidade espiritual tacilita os contack». 
vocadk) un.versalista do cristianismo aparece claramente com o constante J « ^ im ç * o c 
elevado objectivo dos encontro» com os povos náo cristãos, a despeito das Cruzada
H c n u u K d o i i c w r r o i k t e u n a c k w a i 41
Contudo, no plino político, a história da Idade M édia e dominada por um ouiro lactor 
«rnnsulciâvcl. a dupla pretensáo do papado c do Sacio Im po 10 ao domínio um versai L m 
e outro concebem a CivtKu Chrntiana com o a -República vias Nações C rw a- a cabcça 
da uual deveria reinar um único chefe, superior comum a todos m monarca». P m defender 
o seu poder os reis têm . pois. dc lutar em duas tientes no m tenor. contra os vassalos, no 
exienor. contra o papa c o imperador. Só depois de terem |x* to este» em xeque, poderá., 
manter relações norm as entre si
15 Revés d a M onarqu ia un iversal - Cartos M agno aceiUi a superioridade da Igreja c 0.» 
p. ‘ quando, no ano WK). reconstitui, em seu proveito. <> Império Romano do Ocidente 
Mas o Império Caiolíng.o dura pouco tempo. Após o seu desmembramento cm 843. a 
coroa imperial cabe aos soberanos alem ães e o novo Império, o Saem Império Romano 
-Germümco. n io tarda a apresentar-se com o concorrente do papado IH imperadores recla­
mam. também, o p.xier universal e aspiram a um a suprem a, ia igual à dos papas
C regóno VII opõe lhes a famosa teoria dos don gládiiu. segundo . qual. sendo o 
cUdio o símbolo da poder, c o papa que onginariam ente recebe directam erte vias maus de 
Deus quer o gládio do sacerdócio, quer o gládio secular. A iraduçio jurídica desta teona 
realiza-se através dos D iita ím Huime. que organizam inequivocamente a soberania papai 
e dotam a l*rcja ilc um a venludeira estrutura dc -m onarquia universal- (reforma grego 
nanai O papa afirma o seu poder de jurisdição sobre todos os príncipes enstãos. o direito 
M) exercício obrigatório da mediação ou da arbitragem em caso de confino entre eles 
Defensor suprem o da fé. anoga sc o direito dc depor os príncipes pecadores, dc desobrigar 
os súbditos do juramento de fidelidade c dc derm gar as leis e costumes principescos 
contririos a lei divina. Enquanto autoridade universal, julga-se habilitado a proceder, por 
decisão unilateral c inapclável. a entrega aos príncipes dos territórios «sem dono-, que nao 
tivessem ainda sioo objecto de apropriação particular
Por sua vez.o* juristas gibclmos. favoráveis aos imperadores, elaboram e propõem 
fórmulas tais como: -Todos os reis governam sob o controlo do imperador- • As monar 
quias novas s io províncias do Im péno-. -O s reis sào apenas reis dc províncias*. Na., 
podendo negar a origem divina do poder, o imperador responde ao papa que Deus repartiu 
igualmente o poder temporal c o poder espiritual O imperador recebe dueclamente Deiv
o gládio secular. k , . .N« vcrvluíic, a longa lula pc-ltt soberania esfcotou os dois CODCOtrentes No iUÍClO Ui 
século XIV.com Filipe o Belo. o sucesso da famosa máxima «O rei üc hrançac impe™*!»" 
no seu reino- cor.sagra definitivamente este fracasso. Com o entidade, o Império subsiste c 
continua Mas o próprio Imperador já só exerce sobre os príncipes um; pre|K»ndcràiicia 
puramente honorífica Q uanto ao papado, se o seu domínio sobce os príncipes c ainda elev 
tivo no princípic do século X lll. com lnocéncio III. não deixou de recuar depois, para 
desaparecer no século XIV.com Bonifácio VIII.
16. O m ovim ento no rm ativo Devemos á Idade Média a d iv isto do direito internacional 
em direito da guerra c direito da paz. divisào retomada poi Gróck» e i|uc autores contem 
porineos continuam a adoptar
As noções dc guerra jusia e guena injusta recebem novas definições baseadas n.i 
doutrina enstü A Igreja n io condena as guerras contra os m liéis M as. dc acoido c o m ." 
* u s princípios, a guerra cnlre cristãos só será jusia se foi empreendida por um prineijx 
legitimo para responder a uma injustiça c com o objectivo um eo dc punir tal injustiça t a
i
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42 rVTROtMiÇAOOKRAt
concepção da g terra-sançio O princípio da com pctónua exclusiva do príncipe implica a 
proibição da guerra prnvdo Porém . são au to n /ada i as rrpm rilim . actm dc violência 
destinados a apo ar um pedido dc reparação de danos M ais tarde, quando os reis detiverem 
o monopólio das represálias, aparecerá a distinção entre guerra e represálias. A ideia é a de 
que as rcprcvHias permitem evitar as guerras Se assim se estabelecem os limites ao direito 
de í* /e r n guerra, nào existe, contudo, qualquer regulamentação das hostilidade* A Trégua 
de Dm s (certo* dias sem guerra) e a Pnz de Deus (neutralidade dos edifícios de culto, 
inviolabilidade dos clérigos e dos peregrinos, etc ) sáo instituições humanitárias de todo 
insuficiente* c n*m Mimpre ro*pcitadax.
Quanto As relações pacíficas, com o recurso aos tratados, com o instrumentos das rela­
ções jurídica», o \ arbitragem, a Idade Média continua e aperfeiçoa as práticas da Antigui- 
daile greco-onental Verifica-se o em pfego bastante freqüente da arbitragem com o meio de 
prevenir as gt terras. A expansão normativa d i/ essencialmente respeito aos dois impor 
tantes sectores d is relações diplom áticas e das relações comerciais
S ó no fim da Idade Média desenvolve a diplomacia com a criação dos Ministérios 
ilos Negócios Ettrangeiros e das embaixadas permanentes Estabelece-se ao mesmo 
tempo, uma regulamentação com um a toda a Europa da função diplom ai ca e dos privilé­
gios c imunidade; diplomáticas. em especial da inviolabilidade pessoal
(K artífices da in ten sificado das relações comerciais sáo as Kepiiblicas mercantis 
italianas c as Cidades mercantis .lo Norte que formam ligas entre si. As relações comerciais 
marítimas onvtiuram um verdadeiro dinein> do mar que vigora tanto em tempo dc paz 
com o em tem po de guerra: protecção do comércio marítimo, contrabando marítimo, blo­
queio. direito de visita, regime »k* corsários, etc Para proteger os comerciantes nos países 
extrangeiros. cria-sc a instituiçio dos cônsules Institui se. nos países não cristãos. um sis- 
tetna especial dc protecção consular
Depois de ter analisado pormenorizadamente toda a produção normativa da época. 
Hrnest N > \afirm eu no final do ^fculo passado, baseado em provas, que a origem de quase 
todas as instituições internacionais modemas deve *cr procurada na secunda metade «la 
Idade Média
9 2 - Do i rst oa Ioaiu Mídia \ Ri:v«a ivAo Fr«nccsa
BIBLKXiRAHA E. DiTI í . ty pruuipe il> / ' w U I>nr>> «ir hi ;«m Ue
Vexrphalte à VAcit fAlgétinu. Petrin. Pans. 1W9.527 p (J Zm i ra, /✓« tem/1. wtdemes. Tomos
II e III ile L'htftoin des rrlotmi< iniematítmtilet. Ilnchenc. 19Si c 195'. 326 p e 375 p M 
B < * a» i. >1 'infiuriKc dc Ia Retornv sur le developpcmciil du dn>u uuenMtKxul». R.C.A.DJ.. 1925- 
I. vol. 6. p 245 323 - Cli BewiKi •L induence des iiVr* dc MoehlaveJ- R CA D.l. . 1925-IV. vol 
p 127-306- R a rsa ru M ii miii ij. . [ x Coagre» de WeMphalie-, m flthJnic,„ Msteríma. 
tomo VIII. Bnll 1939. p 5-102 - \ CiAunoT. «Jcan Bodin. %a plmc parmi les foadatnm du drnii 
.rocrn*ion*|. R.CADJ . I9J4 IV. vol. 50. p. 549 743 - R. Tuvai t tm , l „ wem/infH., de, tnitéi 
de Weui*„h, ,i,m> !, domaine ,lu droit det geut. 1949. 120 p V OUGGEXHnM. -Coninhulion A I* 
h-tevrc d o *>..nc* d.i dm.t dc» Ccns.. R C A D I.. I95H-III sol •»;.,» 1 HA -Q Buiua. .Renu.rn.iev 
«»r Ia paix dc W ofptnlic. Mel biulevmi. I9W. p. 35-42
17. fo rm a ç ã o «Io sistema dc d ire ito in tm m clom d Intercstatul Este período é decisivo 
Desenvolvem-se as relaç.\cs internacionais O vínculo religioso quebrado pela 
Rcform,, t substitudo por uma nova com unidade intelectual alargada, fundada no huma
HISTORIA DO D IR trTO IVtVR.N ACIONAI
nisino do Renascim erto. luifim . o progresso realizado cm matéria dc navegação marilima 
lomou possível quer a empresa de evangclizaçáo dos povos, quer a intensificação das 
trocas comerciais. Graças ao mesmo progresso, as com unicações podem estender-se para 
além da comunidade tradicional dos povos cristãos da Europa
Este desenvolvimento estimula a continuação do m ovim ento normativo j* iniciado no 
período antenor A mrtituição diplomática consolida-se Com o fim de impedir qualquer 
dominação unilateral wihre o mar. via dc com unicação essencial, mstiiui-sc o princípio da 
liberdade dos mares. Fstahclecçm-sc outras n*p.ra«. relativa* à aquisição dn> torra* longín­
quas e i navegação marítima. O movimento normativo estende-se igualmente ao direito da 
guerra, cm especial da guerra marítima e . em menor medida, ao da neutralidade
Todavia, enquanto as regras criadas permanecem dispersas c fragmentárias, não 
podem constituir um conjunto normativo coerente, merecedor da designação dc «direito» 
Para atingir tal resultado, c necessário que seja criado, paralelamente ao estabelecimento 
de normas, um sistrine unificador. baseado em princípios directores. É precisamente este 
o sistema que vai aparecer progressivamente durante este período sob o nome dc intrrrs- 
latismo ou dc sistema nterestatoL Ligado a este sistem a, o direito mtemaciona adquire os 
seus traços caractcrístcos. completa a sua formação Qualificado já dc -clássico», este 
sistema continua ainda, nos nossos dias. a reger as relações internacionais
A - O Hosumento do% Estaiiox xoheranm e tio uniedade tntemtütu*
18. Transform ação das m onarqu ias eurupcias cm E stados m odernos - Cm Estado 
supõe um poder central exercendo a plenitude das funções estatais sobre um tem tó no 
claramente definido que constitui a sun base. Depois dc terem sacudido as tutelas externas, 
os reis tiveram dc esperar ainda um século antes dc ganharem , no plano intem o.o combate 
contra a feudal idade
O Estado mglès foi. cronologicamente, o primeiro a formar-sc porque u monarquia 
inglesa sc libertou antes das outras da tutela do papa. Por outro lado. o fenômeno leodal não 
constituía, na Inglaterra, fonte dc enfraquecimento «Io poder central. No que d i/ respeito j 
França, só no reinado dc Luís XI (1461 a 1483) sc com pleta a unificação territorial sob a 
autoridade do rei. O paf» encaminha-sc para a posse dos mecanismos essenciais Jo Estado 
No século XVI. a monarquia francesa ganhou o rotnhato pela conquista e organização du 
poder estatal Vários acontecimentos históricos contribuíram para o sucesso da cn presa Por 
um lado. a longa e dura provação imposta aos I ranccses pela guerra dos Cem Anos fez 
nascer o sentimento n tn on al. favorecendo a sua união cm volta do trono. Por outro lado. a 
ense, provocada pelo Grande Cisma, pela Reforma e pelas guerras religiosas, produziu o 
mesmo resultado: pernnc as ameaças de anarquia, já não podendo contar com os grandes 
vassalos, empobrecidos e enfraquecidos, todos recorrem ao rei e procuram colocrr-se sob a 
sua protecção, tanto as gentes das cidades como as dos cam pos e até os prelados
A Espanha, a Suíça, a Suécia c a Dinamarea seguem de perto os precedentes inglês e 
francês Em I6(W. a Ho anda protestante orgam /a-se por sua vez em Estado, sob a égide 
da Casa de Orange M m ou menos na mesma época, cm 1613. a Russia toma-sc um 
Estado sob a direcção d i dinastia dos Romanos Contudo, no centro, na Alemanha c no 
Sul. na Itália, a evoluçãr c mais lenta e mais laboriosa Nesta imensa extensão geográfica 
teoricamente submetida a autoridade do Sacro Império Romano Germânico, o poder frag­
mentou-se. após o desmembramento »leste, cm virtude da com petição entre os inúmeros
r
•M INTRODUÇÃO Ofc&.U
principados, senhorias. e cidades, que nvalisavam constantemente entre s>. O prolonga- 
incnto desta utuação agitada c desta dispersão está na origem dos dois grandes problemas 
da unidade aeuui e da unidade italiana que não serão resolvidos senão cm 1870.
19. Je a n Bodin 1 1530-15% ) c o princip io da soberan ia do E stado - Monárquico •m ili­
tante», o seu desígnio é encontrar um suporte jurídico para a acçã;i do rei com vista à 
construção do Estado. A sua conceptuali/açào do Estado destinas a-se a servir e consolidar 
o poder real Designa o Estado através da expressão Rcs publico: Rcpúhlica e Estado são 
para ele smánimos. O s seus pontos de vista sistemáticos encontram-se expostos na sua 
grande obra publicada em 1576: í * s six livres dc la Républiquc. Jean Bodm definiu a 
República (logo. o Estado): «O justo governo de várias fam ilias e do que lhe.s é comum 
com poder soberano». O poder «soberano», eis a característica essencial do Estado. Não 
há Estado sem soberania
Querendo, através da gcnerali/ação. lu/cr obra dc ciênciu. nio exprime nenhuma 
preferência pessoal cm princípio, a soberania pode pcrtenccr quer aos príncipes, quer ao 
povo. Mas. ao sublinhar que a soberania deve sei una c indivisível, pcipétua c suprema, 
pretende, no contexto político da época, que ela devia ser monopólio Je um monarca here­
ditário Finalmente, propõe instituir com o regra jurídico-política o tríptico: Estado, sobe­
rania. monarca. Segundo Jean Bodm. o conceito de soberania com pota . pois, um aspecto 
interno (soberania no Estado) c um aspecto c.xtcmo (soberania do Eiiado). Ao inventar o 
principio da soberania estatal, legitima juridicamente a dupla luta do rei de França contra 
o papado e o Império, no exterior, contra a feudalidade. no interior.
20. O s tra tado s de Y estefália e u consagração da nova o rdem ü ilcrcstata l européia -
Estes tratado* puseram fim á Guerra dos Trinta Anos que ensangucutou a Alemanha. De 
início esta ern tanto religiosa com o política. A partir de 1635, a guerra orientou-sc para uma 
luta de influências entre a Coroa francesa e a espanhola, em que deviam participar outras 
nações A gurm i terminou com a conclusão dc dois tratados, em 14 c 24 de Outubro dc 
1648, o dc Oiiwbnick c o de MttnMer. que constituem os Tratados ditos de Yestefália.
O Tratado dc Osnabruck foi concluído entre a rainha da Suécia e as seus aliados, entre 
os quais a França, por um lado. e o imperador c os príncipes da A lcrunha pelo outro. As 
partes do Tratado dc M ünster eram lambem duas: de um lado a l-runça e os seus aliados, 
entre as quaii a rainha da Suécia; c do outro , o imperador c os príncipes da Alemanha 
Assim , os dois tratados revestiam a fo m w bilateral, pois. na época,cr» ainila dc.«conhccida 
a técnica dos tratados colcctivos. (Sobre o aparecimento dos tratados colectivos nas rela­
ções internacionais, ver infra, n." 100 ).
Qualificaram-nos com o Carta constitucional da Europa. Em primeiro lugar, ao consa­
grarem definitivamente a dupla den o ta do imperador e do papa. lega i/am formalmente o 
nascimento dos novos Estados soberanos c a nova carta política da Europu daí resultante 
A liquidação do Im péno germânico reali/a-sc pela transformação da Alemanha numa 
constelaçãoce Estados independentes (355) sobre os quais o imperador mantém apenas 
uma autoridade nominal A Confederação Helvética c os Países Ramos, que surgiram 
antes, são igualmente reconhecidos com o Estados independentes. Por outro lado. a vitória 
das monarqu.a* sobre o papado e confirmada não só no plano poill-co. mas também no 
religioso, inslitumdo-sc. assim , a liberdade religiosa total
Em seguido lugar, nos Tratados de Vestefália assentam os primeiros elementos de um 
«direito público europeu». A soberania c a igualdade dos Estados são reconhecidos como
principio» fundamentais das rela^te» internacionais. Para a resolução de problema» comuns. 
pn:vê-se o recurso no processo do tratado fundado no ocoido dos Estados participantes 
Além disso, cria-sc um mecanismo paru assegurar a manutenção da nova cniem europeu 
No plano político, lais disposições favorecem u França que. para aléni ile \antagcri' 
lerritoríais. ganha a possibilidade de intervir na A lemanha e na Europa
Juridicamente, os Tratados de Vcstcfália podem »cr considerados c a n o o ponto de 
partida de toda a evolução do direito internacional contemporâneo
ti - A soberania du Estado segundo n prática real
21. A tendência paru u absolutisiiio No plano qiui/itatuo. as caractertaicas gerais do 
novo d n rito internacional interestutal constituem-se cm tunsao da atitude d.»s rei» nas rela­
ções políticas internacionais. O ra. desde os Tratados dc Vcstcfália. estes comporiam-se 
como soberanos absolutos.
O s monarca», que criaram o Estudo c conquistaram o poder, consideram se. além 
disso, proprietários do Estado a quem o direito romano, reabilitado pelo Renascimento, 
confere as prerrogativas mais absolutas que se possam imagmar. Nao só o Jireito romano, 
mas também um certo pensamento político. representado por nomes céleb"c*. Maquiavet. 
Hohbts, Espmosa. encorajam e justificam tal orientação
No plano externo, o absolutismo real conduz inevitavelmente u afirmação da xuperio 
ridade da vontade d<> i.\tudo soberano. Não se pode impor nada ao» monarca* sem o seu 
consentimento. Nos relaçòes mútua», náo aceitam outro limite a soberania senao o que 
decorre exclusivamente da sua vontade E total a incompatibilidade cu re esta atitude 
■individuahstu* e «nacionalista- e qualquer ordem «comum» que ultrapasse e transcenda 
os Estados. É o re.ultado da interpretação c da aplicação dos Tratados de Vestctãlia pela 
monarquia absoluta e particularmente pela monarquia fra iacsa . à qual os tratados abriram 
o caminho da preponderância na Europa.
Produto do ahsoluti»mo. o direito interestatal. nascido desta prática. vi pode. eviden­
temente. ratificar cutro produto do mesmo absolutismo: a guerra.
22. As g u e rras e as po líticas de equ ilíbrio - O objectivo essencial, senão único, dos rei» 
na» relaçôe» internacionais é a procura da glorio. O monarca absoluto deve constantemente 
procurar aumentar o seu prestígio. -O objectivo permanente de Luís XIV é alcançar a gló 
ria». como já :.c eaíreveu.
Este objectivo pode ser atingido por meios pacíficos. Lm harmonia cc«n a concepção 
patrimonial do E»:ado. realiza-se frequentemente através da» relaçdes de fam ília entre 
monarcas.
Pode igualmente ser atingido pela expansão territorial. julgada na época com o «paci­
ficai- desde que n io interfira nas possessões dos Estado» europeu» A primeira aventuia 
colonial da época moderna, a du» «grandes descobertas». destruiu estruturas sociais m ui' 
ou menos afastadas do -m odelo- estatal europeu c favoreceu uma hoirogeneidade de 
sociedades civis, o que permitiu estender o cam po geográfico dc aplicação do direito da* 
relações in tcm acum is
A pnm eira vaga da colonização contribuiu também para multiplicar as causa» de 
fricção entre Estados europeus e os riscos dc guerra.
Na verdade, o factor mais seguro c m a is brilhante dc gkVna e de p re ríg io é a vitória 
militar Maquiavel escrevia: «L m príncipe não deve ter oulro objectivo nem outro pensa
H iv n w iA i x i n m i r i o m t u w a c i q N a i 4 $
IXTRODI IÇAO OCR AL
m cnto que nâo seja a arte da guerra e a organização c disciplina militares, pois trata sc do 
única arte que pertence m»s que comandam». A guerra aparece asvm com o um meio 
necessário e norroal da política internacional dos monarcas absolutos
A autonz.tçAo concedida aos Estados para recorrerem à guerra c eles aproveitaram- 
na bem não c n inenor dos traços característicos do direito mtcrcststal que está prestes 
a com pletar a tua fisumonua
()s m onarcas.em bora pn x urem a glória militar, nfio deixam , por iiso .d e se interessar 
p«*la manutenção da pfi7 . Nos sdculos XVI e XVII. i^vritorrs houve t;ue. antecipando o* 
tem pos, estabeleceram projectos de organização internar nmal para *crvir de enquadra­
m ento í s relaçóes pacíficas entre Estados (Emeric Crocé. I * nomeati Cynée; Sully. Is 
yrand dessem d'Henrv IV). M as. para segui-los nesta via organizadora, os monarcas 
deviam accitar uma limitaç&o à soberania Preferiram uma outra receito que deixasse 
mracta esta soberania, a qual acreditavam poder encontrar na aplicação de um pnncipio 
político, o principio de rquilihrm .cn i vez da urgamzaçâo internacional.
Em teoria, a política dc equilíbrio assenta numa ideia m estra, a saber, que é necessário 
realizar entre os Estados uma repartição de forças ile tal modo que fias se equilibrem.
0 ob jectivo é impedir que algum deles se tom e t&o poden>s» que desencadeie uma guerra 
que esteja certo dc ganhar Assim sc mantém a paz Ao mesmo tempo, garante-se a protcc- 
çJk* dos Estados fracos, pois nenhum Estado aceita que outro rompa o equilíbrio, apode­
rando-se de ura pequenn Estado Segundo Thiers. «o principio do equilíbrio «5 o principio 
ilu independência das naçôcs».
Formulado implicitamcntc nos Tratados dc Vestcfália. o princípio do equilíbno é 
constantemente aplicado desde IMK
N lo é este o lugar apropriado para cícctuar unui critica sistemática do princípio do 
equilíbno ()s casos históricos cm que foi aplicado baslam para nos ccnvcnccr dc que. se 
ele siilvaguank a om m potíncia dos Estado», náo salvaguarda a paz É invocado tanto para 
justificar as guerms defensivas. com o fim dc restabeleça um equilíbrio desfeito, como 
pora servir dc pretexto a gurrnts preventivas contra um Estado cujo progressivo poderio 
possa pôr em causa o equilíbrio
C - A doutrina
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Kiwismirv c A RnBtjtrs cd.. Huto Gronut and Intenunumul Relatton* Clarrndon Press. Oxford. 1990. XI-331 p
HISTORIA IX» UWtTTO IVTf R\AC'MINAL4 7
23. A presentação Nos séculos XVI. XVII c XVIII. os principais autores vão homens 
célebres que marcam uma época na história do direito internacional e . por escreverem 
na época da sua lormaçâo. são todos pioneiros. Cham aram-lhes «Fundadores do direito 
internacional».
Cronologicamente, a primeira trndcncia é a da -Escola d o direito natural c das gen­
tes». cujo chefe meontestado é Grócio. A partir de meados do século XVIII. apareceram 
as primeiros poxitn r.dar Entre os duas tendências situa-se Vanel. um autor. que. sem repu­
diar expressamente o direito natural, é i» verdadeiro precursor do positivismo no direito 
internacional
24. O s precu rsores tle.Círócio *? n teoria trad iciona l d o d ire ito n a tu ra l - E antiga a 
ideia dualista da existência dc um direito natural, anterior e supenor ao direito positivo. F.la 
remonta a Aristóteles e à F.scola estóica. É de inspiração generosa. Assenta ni concepção 
do homem ornsiderado com o ser sociável e livre que o direito natural protege.conciliando 
a sua sociabihdadc c i sua liberdade. Com efeito, sc a sociedade é necessária ao homem, 
cla é também, necessariamente, uma sociedade jurídica regida pelo direito natural que 
garante a liberdade daquele e limita o poder a que está submetido S. Tomás. que. não sem 
audácia, se reporta à Antiguidade pagá. adere à mesm a ooçfio dc direito natural l*or isso. 
não surpreende que. 10 século XVI. alguns teólogos Juristas, confrontados com o facto 
político sem precedentes do Estado soberano e reflectindo com o juristas sobre o aconte­
cimento. tenham pentado em aplicar à nova entidade acabada de nascer uma doutrina 
consagrada pelo mais ilustre representante do pensamento cristão.
O primeiro artífice desta transposição é Francisco de \fitóría (1480-1586). dom ini­
cano espanhol. Ensinou Direito na Universidade de Salamanca Expôs as suas idéias nos 
seus cursos, publicados, depois da sua morte, com o título de Relrtiionex thetAogicae. Em 
primeiro lugar, reconhece a soberania do Estado, logo. a sua liberdade; mai o Estado é 
limitado pelo direito natural que lhe é supenor Em segundo lugar. r»s Estados soberanos, 
tal como os indivíduos, precisam de viver em sociedade A com unidade dos Etiados sobe­
ranos ou comunida«le internacional possui, pois. uma existência necessária: como a com u­
nidade dos homens, também ela é uma com unidade jurídica. Por conseguinte, c igualmente 
necessária a existência do direito internacional destinado a reger a comunidade.
Na época da formação do direito internacional, a afirmação da sua necessidade é de 
importância primordial paru a continunçilo do processo Para o denominar. Vitrrio renuncin 
à expressão de o rigen romana dc Jus Pentium, suhstituindo-a pela fórmula dc Ju\ inter 
gentes ou de direito entre Estados. Qual é o conteúdo deste direito? Vnória confunde-o 
inteiramente com o dneito natural, dado que este é dc aplicação universal Para *e colocar de 
acordo com as suas ptópnas idéias, considera, com tanta imparcialidade como independên­
cia, que a sua própria pdtrin. beneficiária da Bula de Alexandre VI (1493). n io deve valer-se 
dela. pois. na sua opinião, o direito natural proíbe n apropriação privativa dos nares
Francisco Snanr: í 1548-1617). teólogo também , segue as pisadas de Vitória. Jesuíta, 
igualmente de nacionalidade espanhola, leccionou em Coimbra. F.m 1612. apareceu o seu 
Tntctatus de Legibu\ ac Deo legislatorr. Regressa à expressão Jiis gentnm e introduz 
algumas novas precisdcs Reconhece, com o Vitória, a comunidade dos Estados, mas dá 
mais um passo na análise ao distinguir o direito natural do direito das gentes O direito 
natural é um direito necessário e imutável.,Quanto ao direito das gentes, é evolutivo e 
contingente: provém da apreciação dos povos sobre qual possa ser o conteúdo do d i r 
natural Kquivnle. assim, ao direito positivo. Mas. entre o direito das gentes (ou dirç
4 8 IN tR O lM ^ A U O títA I.
positivo) e o direito natural, existe uuta relação nccevsaria: o primem* deve ser sempre con­
forme ao vegundo. o que salvaguarda n subordinação do Estado soberano ao direito natural
25. G rúciu. pai do d ir r ito in te rnac iona l - Deve-se a um leigo Grócu) (1583-1645). a 
exposição mais completa da teoria do direito natural que conduz «o seu apogeu Com ele 
constitui-se definitivamente a -L sco la do direito natural c das gentes». Eclipsa o» prede 
oessores, sendo considerado só ele com o o pai do direito internacional. Hugo de (Jrvol é 
holandês, poeta, filósofo, diplom ata e jurista. Envolvido nas querdas políticas que dilace­
raram a sua pátria, foi condenado a prisão perpétua em 1619 Apos dois anos dc cáreere. 
conseguiu cvndir-sc e emigrar para hrança onde foi bem recebido pelo governo real. Em 
1634, pôs ve ao serviço do governo sueco dc que foi em baixador na Corte francesa. M or­
reu cm 16*5. quando tentava regressar ã terra natal
I " A abra principal de G rócio é o De jure M U ac paus (Do direito da G ucna e da 
P a /), publicado cm 1625. na altura cm que residia na França. A obra conheceu imenso 
sucesso. Figurando nos programas de ensm o das grandes Universidades, foi cm 1758. 
tradu/ida do latim para todas as línguas européias. É devido u esta obra de conjunto, 
primeira exposição a sério do direito internacional, escrita com método, que ele ultrapassa 
os prcdeccssorcs
a) Antes de analisar o direito da guerta. Grócio apresenta a via concepção geral do 
direito internacional Reconhecendo o estado soberano, define o poder soberano como 
«aquele cu p s actos são independentes dc qualquer outro poder superior e não podem ser 
anulados pc-r nenhuma outra vontade humarui>. Contudo, os poderes soberanos náo devem 
ignorar-se. devem aceitar a ideia dc uma sociedade ncccssána regula pelo direito A 
soberania d;vc ser limitada. rui falta de órgãos superiores aos Fistacos, pela simples força 
do direito. Este direito é o direito natural Ate aqui. Grócio não du. mais do que Vitória e 
Suare/ Mcvmo ao definir o direito natural, a sua obra não é o riguu l. pois. com o aqueles, 
assim ila-o à moral
T odavu. distingue-se por ter la icuado essa moral Logo a seguir a S. Tomás, os teó­
logos confundiam-na com a lei divina. G rócio, embora proclame a sua fidelidade ã fc 
cristã, tá-la derivar unicamente da razão Segundo e le. o direito natural -consiste em certos 
princípios d : recta razão que nos permitem saber sc uma acção é moralmente honesta ou 
desonesta consoante a sua conlom iidade ou de.sconformidadc com uma natureza racional 
<ui «nciávd- Ora<, us à contribuição Uc G iócio, o direito natunil passi a identificar-se com 
o direito racional e a teoria do direito natural adquire o carácter de u n a teoria raaoiialutu.
Por ouiro lado. estabelece a distinção enue direito natural e d re ito voluntário. Este 
resulta da vontade das nações, dc todas «hi dc algum as, vontade expressa por meio de 
acordos entre cias Suare/ j á pressentira esta noção dc direito voluntário, chamando-lhc 
direito «contingente». Mas foi G rócio quem a pós cm relevo, ü direito natural contém 
-principio»» O direito voluntáno reúne regras construtivas cfectivamcnte aplicáveis às 
relações internacionais. A introdução do elemento voluntáno cquivaJc a enação dc um 
mecanismo particular dc elaboração destas regras e. ao mesmo tempo, ao reconhecimento 
do princípio do respeito pela palavra dada (Pada umt servanda) Tal respeito é precisa 
m ente uma das regras dc direito natural. Por outro lado. o direito voluntáno só é válido sc 
for conforme ao direito natural. Por outras palavras a vontade das nações não é soberana, 
subordina-se ao direito natural
HISTORIA IX> D IK tK O IVTTJCNAUOS \L
b) No que d i/ respeito ao ubjtcln propriamente dito úa obru. esta dividc-.<<c cm tres 
livros. Grócio cxpóe. uu base do direito natural, as regras relativas a guerra.Reconhece .1 
legitimidade da guerra, uma ve/ que não existe autoridade superior aos Estados soberanos 
para os apartar. mas com estrita condição dc sc trutar d« uma guerra juslu. Assim , retorna 
pur sua conta, a Jtstinçao canomsta entre guerras justas c guerras injusta*. A guerra e justa 
quando responde u uma injustiça, sendo o direito natural a determinar os casos de mjusti^a 
Estes casos surgítn quando são violados os «direitos fundamentais» que o direito natural 
reconhece aos Estados soberanos: direito à igualdade, direito à independem ia. direito .1 
con\»*rva<;Ao dirrito uo respeito, direito «o com ercio internattonal DescoOre-se ai um dos 
aspectos do seu método através da guerra, revela os alrihuu* do Estado Nenhum Esiado 
pode violar os direito- fundamentais dos outros. Qualquci violação desla proibição abiv 
caminho ao direito dc iegitinui defesa
c) Puffendivf (1632-1694). que publica etn 1672 a obr.i lk> d irrtiouitum l c du\ ,1<«•« 
tes.ê o mais fiel continuador de Grócio. Retorna. nos mesmos termos, a distinção gmcionu 
entre dneito natur.il e direito voluntário e reafirma a necessidade da subordiaação do segundo 
ao primeiro Coatudo. concede a p n n w ia ao direito natural em detrimento do direito 
voluntário
2 “ Ao quererem limitar a soberania do Estado pelo direito uaturai. G rócio c o \ que 
pensam com o ele podem ser considerados os verdadeiro» lundadores ilo direito inter 
nacional Também foram ü tc i ' ao proporem um quadro conceptual que permite levar a 
cabo a necessáru uiiifitução das regras fragmentárias nascidas da p rf tk a Colocada na 
perspectiva histór.ca, esta sistemati/açAo representa, alem disso, uma tcdtativa de \ubsti 
tuição do poder universal, desaparecido com o fracasso do papado c do Sajro-lm pcno. por 
uma espécie de vjpcrlcgalidade universal que se impóc aos Estados c que c . na lalia de 
uma unidade orgânica, susceptível de os unir.
Infelizmente, embora corrr^ponda às aspirações c ao espirito racionaiista du ep«»co. u 
doutrina do direito natural, que se antecipa aos factos c ambiciona guiá-lt*. não resistiu u 
prova do vida internacional. Logo depois dos tratados de Vcstefália. a obrade Grocio j u s s .i 
a fazer parte do domínio da teima á a verificação implícita do divórcio entre o seu con­
teúdo e a pratica. Grócio c o s seus antecessores c sucessores contribuíram p ira a formação 
e afirmação de um direito inlcruacioiuil inimptixiiil. Mas não exerceram m»uU(uci mtlucn- 
cia na form açio do -sistem a* interestatal propriamente dito . sistema que exclui a subordi 
nação do Estado soberano a qualquer direito anterior e superior
É verdade qo ; o direito natural, pur causa da sua imprecisão e subjcctividadc. oterecc 
seriamente o flanem à critica.
26. V attd 1 1714-17681. precursor do positivismo Nascido na SuJça. cm Ncuchãtei »ub 
dito do rei da Prus>ia. \'attcl está bem colocado para observar esiu prática .10 exercício da 
sua tunçáo de diplumaia ao serviço do rei da S iuónia A sua princip.il «>bra l x drvtl dr* 
gen\ ou príncipe % Jr lu io i naiurelle uppliqure ii la atnduth- ei mu uffamts d a natíoin r i 
dts wuveraim está escrita cm trancés e foi publicada cm 1758 Esta obra conscrvu. ainda 
hoje. um lugar dc destaque na ciência e na prática.
É difícil classificai Vatlcl. Discípulo de VVolff é . aparentemente, mais um teórico do 
direito natural. Contudo, após u mocte de G rócio. H obbes escreveu o seu L t vialluw. no
IVTSODl JÇAO GERAI
qual glorifica .1 terça c exalta o poderio do Estado. Sob a influência do segundo, depois dc 
ter reconhecido a existência do direito natural. Vattel :»crescenla que o mtirprete soberano 
daquele direito é 0 Estado.
I ." Segundo Vauel, a sociedade internacional é . por natureza, a «grande sociedade 
das nações» Apenas os Estados soberanos sào membros desta sociedade. «Qualquer nação 
que sc governe a si própria, sem depender dc nenhum Estado estrangeiro. é um Estado 
soberano» Aparentemente, esta definição de Estado soberano aproxima-se da dc Grócio 
Com o G rócio. Vaucl deduz d«i soberania o princípio da igualdade dos Estados. Termina 
aqui a concordância entre os dois pensamentos, pois Vattel confirma c analisa a prática real 
da >obcrania absoluta, cada Estado soberano tem o direito de decidir por íi só o que deve 
fazer no cumprimento dos seus deveres internacionais. «Cabe a qualquer Estado Itvre 
julgar em consciência o que os seus deveres exigem , o que pode fazer ou não com justiça. 
Sc os outro*, tentarem julgá-lo. atentarão contra a sua liberdade c ferirão os seus direitos 
mois preciosos»
Por isso. a vida social numa sociedade de Estados soberanos não pode assemelhar-se 
à que se desenrola no seio de uma sociedade de indivíduos Sc o imlivícuo aceita aban­
donar a soberania que detém quando vive cm estado natural. (>ara aderir ao contrato social 
c constituir a soeirdade civil, é porque precisa dos seus semelhantes Assim se explica a 
existência, nesta tocicdade com posta por indivíduos, de um poder político central que 
com anda e que protege. F.m virtude da existência e do exercício deste poder, tal sociedade 
é chamada sociedade político. Porém, os Estados soberanos não precisam uns dos outros. 
Não s io pois obrigados a renunciar à soberania para entrar em sociedade. Também não é 
necessário que. na sociedade intcrestatal ognipando Estados soberanos, sc estabeleça um 
poder político que os proteja Por outras palavras, a sociedade dos l.stados soberanos é 
urna sociedade de um tipo especifico, nfio apresenta as características dc uma sociedade 
política com o a sociedade dc indivíduos dentro do Estado.
2 " Chegando ao direito aplicável a esto sociedade interestataJ. Vattel, com o Wolff. 
reconhece a existência do direito natural que considera, de bom crado. ser um direito 
necessário Mus ttm bém aqui. a sua interpretação opõe-se totalmente à dc Grócio.
Segundo e le. cada Estado é livre dc apreciar, por si próprio, o que 0 direito natural 
exige dc si em cada circunstância. Nesta apreciação, os Estados soberanc* podem entrar 
em conflito, pois n direito natural que sc deduz racionalmente é uma ncçáo subjectiva. 
Com o tal oposição é prejudicial .1 sua segurança, esforçam-se. na ausência de p<*lcr polí­
tico organizado, por se entenderem entre si. a fim de darem ao direito natural um conteúdo 
aceitável para todos: ao fazerem isto. enam o direito internacional voluntário, o único que 
constitui o direito positivo. Eiiquanto Grócio subordina «1 direito volunário ao direito 
natural, para Vattel. a missão própria deste direito voluntário é modificar, sc for caso disso, 
o direito natural a fim de facilitar o mútuo consentimento. Dito dc outro modo, a vontade 
dos Estados soberanos nòo está vinculada pelo direito natural, visto que cia pode. preci­
samente. modificá-lo ou pelo menos interpretá-lo soberanamente. Vattel sustenta que a lei 
natural nada decide de Hstado j Estado, com o decidiria de particular a particular. É 
partidário, com o o> monarcas, do voluntarismo integral
Aplica esta concepção à definição da guerra justa. Adnutc. é verdade.que, dc acordo 
com o direito natural, a guerra justa é aquela que é conforme â justiça - G rócio falava 
aquela que se desuna a reparar uma injustiça Só a guerra justa pode produzir consequên-
HISTÓRIA DO ornem) IWTWNMIONAL 51
cia» juridicamente válidas, um aumento territorial, por exem plo Mas Vattel constata, ao 
mesmo tempo. que. dada* as suas divergências na apreciação da justiça que legitima a 
guerra, os Estados concordam simplesmente cm que a guerra justa e aquela cuc reveste 
certas formas, isio e. un a guerra conduzida abertamente e não uma guerra -clandestina» c 
não reconhecida- Desdf que o Estado que faz a guerra aceite submeter-vc .1 certas regras, 
a sua guerra será justa, pouco importando o valor dos seus objectivos dc guerra. Para 
Grócio.

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