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Londres e Paris no Século XIX – Maria Stella Bresciani - Modernidade: Inicia-se com a publicação da obra “O Príncipe”, de Maquiavel, que afastou a tradição religiosa da política (a ação humana passa a ser tida como transformadora da história e da política). Surgimento da categoria indivíduo: os homens passam a contradizer a ordem social, priorizando os sentimentos e a afetividade (Romantismo), marcando a queda das antigas instituições. Formação do Estado-nação: - Estado: instituição que detém o monopólio legítimo dos meios coercitivos; - Nação: entidade mental que proporciona o sentimento de nacionalidade ao povo (identificação cultural); A cidade é o espaço físico onde ocorrem os fatos sociais do século XIX (local da sociabilidade). Nascimento da sociologia. - A sociologia, tornando-se ciência, pretende explicar as questões sociais presentes na vida metropolitana do século XIX. - A ordem dos direitos: Direitos civis (século XVIII): configuração (mas não consolidação) da liberdade individual e do direito de ir e vir. Direitos políticos (século XIX): sufrágio universal, liberdade partidária etc. Direitos sociais (século XX): direitos trabalhistas. - A etiqueta do olhar: reconhecimento do outro e atribuição de significados aos indivíduos (criação de estereótipos). Inexistência (invisibilidade) social: a análise de um indivíduo feita a partir de um olhar desrespeitoso (preconceito). A vida urbana exige a malícia no ato da etiqueta do olhar, gerando essa inexistência social. A etiqueta do olhar depende do reconhecimento, por isso ela não existia antes do surgimento da ordem dos direitos e da igualdade jurídica. - Surge a civilização, ou seja, a internalização de regras, gerando um autocontrole por parte dos indivíduos. - Flaneur: aquele que vive a experiência do acaso ao vagar pela metrópole, sendo essa prática individual e subjetiva. - Fim da lógica da natureza e introdução da ditadura do relógio, através da burocracia (centralização e racionalização da autoridade – impessoalidade). - Londres: contraste da opulência material em relação à degradação humana. Preconceito contra o trabalhador, gerando a importação de mão-de-obra. Resíduo social (looping proletariado, para Marx): homens “fora da sociedade”, que não pautam suas condutas sob os valores do trabalho e da propriedade (“preguiçosos”, que não se adequam à valorização do trabalho inerente ao capitalismo). - Burguesia vs. Proletariado; - Surgimento da falsa premissa de que aquilo o que gera criminalidade é a pobreza. Na realidade, a criminalidade é gerada pelo cultivo de uma cultura da violência. - Inglaterra: preocupação com o custo econômico da miséria (e.g. doença, desemprego e desmoralização). Liberalismo. - França: preocupação com o custo social da miséria, a qual ameaça às instituições. Socialismo. O Manifesto Comunista – Karl Marx - Crítica ao idealismo hegeliano, com a introdução do materialismo. Hegel Marx Idealismo. Materialismo. A história da humanidade pode ser entendida a partir dos feitos heróicos e das idéias geniais que a movimentam. A história da humanidade pode ser entendida a partir da história do trabalho e da luta de classes. Privado (tese) vs. Público (antítese) → Estado (síntese). Burguesia (tese) vs. Proletariado (antítese) → Luta de classes (síntese). Indivíduos. Classes. - O que os homens são depende das condições materiais de sua existência e do seu envolvimento no processo produtivo, não do que eles imaginam ou pensam, uma vez que as idéias são burguesas e, assim sendo, elas não proporcionarão mudanças. Mesmo os direitos civis e sociais são incapazes de alterar o sistema burguês, uma vez que eles são criados dentro de uma cultura burguesa. “Não é a consciência que determina a vida, é a vida {material} que determina a consciência.” - Crítica à ideologia, que é considerada um meio de iludir o trabalhador, fazendo com que ele viva dentro dos princípios capitalistas burgueses ignorando sua condição de dominado e não se reconhecendo como classe (e.g. a ilusão da nacionalidade e do Estado imparcial). - A modernidade é tida como uma era burguesa, na qual “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. As forças produtivas, constantemente revolucionadas, atingiriam tal ponto que entrariam em colapso (crise do capitalismo), gerando a necessidade de uma renovação das relações de produção. - Surgimento da idéia de base (infra-estrutura, ou seja, a propriedade privada e as forças produtivas) e de superestrutura (formas burguesas de consciência social – Estado burguês). Para a destruição da superestrutura, é necessário atacar a base; - Crítica ao princípio do Mais Valia (acúmulo do capital excedente não mãos da alta burguesia). - Ateísmo: a religião é tida como o “ópio do povo”, fazendo-o ignorar sua condição de dominado e alienado (a força de trabalho analisada como mercadoria, de acordo com os valores burgueses). - A revolução do proletariado deve ser feita de forma violenta, uma vez que burguesia e proletariado são classes antagônicas, sem nenhum interesse em comum. O proletariado deve se unir e se reconhecer como classe para que se organize a revolução. - Diferenciação entre socialismo e comunismo: Socialismo: período de estabelecimento da ditadura do proletariado (centralização política necessária para a estabilidade do comunismo). Comunismo: fim da centralização e consolidação de uma única classe em uma sociedade igualitária. - Interesses comuns entre o proletariado e os comunistas: Fim da dominação burguesa. Eliminação da propriedade privada dos meios de produção. Fim da família burguesa (e.g. herança) e da pátria (mecanismo de fragmentação da classe proletária). - Para Marx, ter poder político se resume a possuir o monopólio da violência para a ocupação e derrubada do Estado burguês, de forma a assumir as instituições que controlam a política para a realização da centralização. - O conceito de trabalho: Para Marx: o trabalho não se resume ao trabalho individual, mas se estende ao aspecto de uma relação social. Ele é tido como uma atividade vital equivalente à capacidade de emancipação do indivíduo. Conceito capitalista: o trabalho é uma mercadoria, possuindo valor de troca e valor de uso (concepção da cultura como uma indústria, deixando de existir a idéia de cultura de elite em oposição à cultura de massa). - Fetichismo da mercadoria; - Alienação: o indivíduo não se reconhece no produto de seu trabalho; - Tipos de literatura socialista e comunista: Socialismo Reacionário Socialismo Conservador Socialismo e Comunismo Crítico – Utópico Reprodução das antigas relações feudais de propriedade (representante da pequena burguesia). Eliminação dos elementos da revolução. Não-percepção do proletariado como um dos sujeitos centrais da história. A Questão do Individualismo – Durkheim - Durkheim foi um determinista social, anticontratualista (sociedade precede o indivíduo - holismo), que adaptou o individualismo a sua teoria. - Forte influência positivista em sua concepção de moral (conjunto de obrigações recíprocas) e de organização. - Sociologia do fato social: o reconhecimento de um fenômeno social ocorre quando ele se impõe ao indivíduo (o fato social é exterior ao indivíduo, anulando, portanto, a sua autonomia). O fato social, exterior ao indivíduo, gera oportunidades de escolha individuais. O indivíduo é fruto de uma pressão da coletividade. - A sociedade predomina sobre o indivíduo, ou seja, aspectos considerados naturais são, na realidade, criados por uma forte pressão social. - Recusa do utilitarismo: a sociologia não deve partir de princípios individualistas e as vontades humanas não podem ser consideradas independentes, pois são socialmente criadas e historicamente variáveis (toda a utilidade e as necessidadesexistentes são produtos de um contexto social). - Análise do suicídio como um fenômeno individual com causas sociais (a força que leva ao suicídio não é psicológica, mas social e imposta). Suicídio Altruísta: ocorre devido à alta vinculação com a sociedade, sendo a vida e a morte encaradas como meros detalhes biológicos (e.g. morte pela honra ou pelo cumprimento de códigos sociais). Suicídio Egoísta: ocorre devido à ausência de vínculos sociais, a qual faz com que os indivíduos se sintam apáticos em relação à sociedade. É realizado para a defesa de interesses individuais constituídos socialmente. Suicídio Anômico: típico da sociedade industrial, ocorre devido à ausência da regulação das ações individuais por normas coercitivas. Acontece por influência da frustração do indivíduo por causa de seu fracasso na busca de seus objetivos. - A divisão do trabalho está além da esfera econômica, relacionando-se com as formas de ordem social (especialização da função social – “sistema de peritos”). - Análise de duas formas de integração do indivíduo com a sociedade: Solidariedade mecânica: típica do mundo medieval, no qual as instituições se encontravam acima do indivíduo. Ocorre a partir dos seguintes elementos: - Tradição; - Semelhança entre indivíduos; - Ausência da individualidade ou autonomia individual; - Criação de uma consciência coletiva coesa (crenças) - Direito repressivo (a punição e o castigo são justificativas dadas à sociedade, não possuindo caráter individual); - Controle normativo através da religião; Solidariedade orgânica: típica do mundo moderno (sociedade industrial), no qual a sociedade é vista como um organismo. Ocorre a partir dos seguintes elementos: - Diferenciação; - Culto ao indivíduo; - Consciência coletiva frouxa (a sociedade se impõe ao indivíduo de forma menos agressiva); - Direito reparador (restituição da individualidade); - Divisão do trabalho (sentimento de autonomia individual); - Ciência; - As funções econômicas da sociedade devem ser submetidas através de uma moralização e regulamentação (normatividade), a uma autoridade moral (grupos profissionais, ou seja, intermediários entre o indivíduo e o Estado, que ajudam a alcançar um consenso social) e a uma autoridade política (Estado). - Classificação dos individualismos: Individualismo Liberal Individualismo Ético Individualismo Metodológico Individualismo Moral O indivíduo é tido como unidade de referência para análises políticas. Decisões individuais, embora relacionadas com a coletividade moral, ignorando-se as conseqüências sociais (existencialismo francês). O indivíduo é tido como ponto de partida para a análise sociológica (Weber). Regras são constituídas visando o benefício da sociedade. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo – Max Weber - Análise da sociologia a partir do individualismo metodológico e como uma ciência da ação social (relações entre indivíduos na vida social), que pode assumir as seguintes formas: Ação racional com relação a um objetivo, típica do mundo moderno, desencantado e destradicionalizado (idéia apresentada por Maquiavel em sua obra “O Príncipe”). Ação racional com relação a um valor (idéia dos imperativos categóricos de Kant – e.g. ação tomada por um capitão que decide naufragar junto com o seu navio). Ação afetiva (puramente emocional). Ação tradicional (regida por costumes). - Estrutura (sociedade, Durkheim) vs. Ação (indivíduo, Weber). - Weber afirma que nenhum sistema teórico reproduz integralmente a infinidade do real (todas as teses sociológicas são provisórias). O que realmente importa para a sociologia são as perguntas levantadas pelos teóricos, não as suas respostas. - Análise do tipo ideal: construção metodológica de fatores para simplificar a realidade, sendo sua adequação de ordem lógica (desvinculação do julgamento de valor e dos valores para a construção de uma tese sociológica). Os calvinistas (puritanos) são um exemplo de tipo ideal dentro dos protestantes. - O principal aspecto característico da modernidade é a racionalização (instrumentalização da razão para o aumento da produtividade). Racionalização da burocracia (criação de instituições pelos indivíduos) e do capitalismo. O capitalismo sempre existiu, mas o capitalismo moderno é o único racionalizado. - Utilização da sociologia da compreensão, segundo a qual é preciso capturar a inteligibilidade das ações sociais através de uma especulação teórica (favorecimento da parte sobre o todo, em oposição a Durkheim). - O capitalismo europeu seguiu um rumo singular, ao aliar a educação religiosa (protestante) à atividade econômica. Existência de comportamentos individualizados, regidos pela religião, que se relacionam à economia capitalista. - Toda ação individual tem algum sentido e tem relação com os outros indivíduos (individualidade histórica ou conduta significativa do indivíduo). - Análise da influência dos indivíduos sobre as atividades sociais (significação cultural). - Ethos representada pelos conselhos de Benjamin Franklin. - O capitalismo europeu seguiu um rumo singular, ao aliar a educação religiosa (protestante) à atividade econômica. Existência de comportamentos individualizados, regidos pela religião, que se relacionam à economia capitalista. O espírito capitalista surge no mundo moderno a partir do princípio individualista do puritanismo, indo contra o tradicionalismo e introduzindo a idéia do trabalho como uma vocação ou virtude. Tradução dos estímulos psico-sociais, criados pela fé religiosa, na relação do indivíduo com a sociedade (ausência da subjetividade). - Desencantamento do mundo: racionalização de todas as esferas do agir humano, com a aceitação do protestantismo e do capitalismo como formas adequadas a esse mundo desencantado. A Metrópole e a Vida Mental – Simmel - Análise da sociedade fragmentada em círculos de indivíduos que estão ligados uns aos outros por conseqüência de suas relações e conexões mútuas (o conflito é tido como algo positivo, pois é uma relação social). A primeira fase das organizações sociais se encontra na formação de um pequeno círculo social, firmemente fechado em relação a outros círculos e que não permite a liberdade e o desenvolvimento individuais. Com o afrouxamento dessa rigidez seletiva, surgem conexões mútuas entre os diversos círculos sociais. - Análise do interacionismo simbólico, com a percepção de que não há leis sociais (os indivíduos não são determinados pela sociedade). As relações entre os indivíduos geram significados (interpretação de papéis dentro da sociedade). Os indivíduos são simultaneamente sujeitos e objetos da análise sociológica. - Formalismo: maior preocupação com a descrição do fenômeno social do que com a compreensão intrínseca dos indivíduos (maior preocupação com a forma – relações entre os indivíduos – do que com o conteúdo – os próprios indivíduos). - A base psicológica do tipo metropolitano de indivíduo é a intensificação dos estímulos nervosos, que resulta da alteração brusca e ininterrupta de estímulos interiores e exteriores. A metrópole extrai do homem maior quantidade de consciência do que a vida rural. - O tipo metropolitano reage através do intelecto, que é a mais adaptável das forças interiores, utilizando-o como forma de preservação da subjetividade dentro da avassaladora vida metropolitana (instrumentalização da racionalidade para a construção da subjetividade). - A economia monetária está intimamente ligada à intelectualidade, uma vez que, com o seu surgimento, toda qualidade e individualidade são reduzidas a aspectos quantitativos. Anonimidade: os interesses individuais adquirem um caráter prosaico, reduzindo a possibilidade de falhas na conquista de interesses econômicos devido às relações pessoais. A vida metropolitana transforma a luta dos homens contra a natureza pela vida em uma luta entre os homens pelo lucro. - Substituição dos impulsos irracionais por elementos como a pontualidade, a calculabilidade e a exatidão (substituição da lógica natural pela lógica capitalista), gerando uma alta impessoalidade, ao mesmo tempo em que promovem uma subjetividade altamente pessoal. Surge a atitude blasé, que consiste na redução do poder de discriminação (indiferença, reserva com relação ao outro). A antipatia surge como forma de proteção da indiferença e da sugestibilidade indiscriminada, conferindo ao indivíduo uma grande liberdade pessoal. - Crise da modernidade: o indivíduo luta contra as limitações a sua individualidade. As excentricidades surgem como forma de o homem afirmar sua própria personalidade dentro da vida metropolitana. Cultura moderna: predominância do espírito objetivo (e.g. instituições e dinheiro) sobre o espírito subjetivo (e.g. sentimentos e individualidade). A divisão do trabalho exige do individuo um aperfeiçoamento cada vez mais unilateral, muitas vezes trazendo a morte da personalidade do indivíduo, uma vez que este é reduzido a uma quantidade negligenciável. As Conseqüências da Modernidade – Giddens - A modernidade é um conjunto de práticas de organização cultural política e social, que se iniciou na Europa, no século XVII. O Estado-nação como ponto central da análise sociológica. - A modernidade tardia (pós-modernidade) surge no final do século XX, com o início da decadência do Estado-nação, com o fim das grandes narrativas com passado comum e futuro previsível (e.g. Marx), da utopia revolucionária e com o reencantamento do mundo (a religião ressurge como forma de combater a ciência) e com a criação de identidades culturais diferentes. - As descontinuidades da modernidade: Ritmo de mudança: mudanças rápidas e sucessivas na vida social. Escopo da mudança: abrange todo o planeta. Natureza intrínseca das instituições: as instituições permanecem as mesmas, só que mais aprofundadas. - Estado-nação: racionalização da gestão de poder. Na pós-modernidade, o Estado- nação torna-se incapaz de reagir contra outros agentes não estaduais (e.g. terroristas). - Industrialismo: modernização da economia. - Capitalismo: crescimento do mercado. - Cidades: vida urbana. - Análise da sociedade moderna como a sociedade do risco (fabricado pela ação humana), ou seja, não há mais destino previsível (fim da tradição e fim da natureza). - Surgimento de entraves à democracia e à liberdade individual através do totalitarismo, que alia o poder político ao militar e ao econômico, representando o lado sombrio da modernidade. - Análise do século XX como o século da guerra. - Defesa da terceira via, através da qual o capitalismo seria mantido, mas com alguma intervenção do Estado na economia (tentativa de recuperação do bem-estar social).
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