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O BRINCAR

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É importante deixar claro que o brincar não está atribuído a apenas uma função, existem transformações nos diferentes momentos do brincar. Observa-se o que Winnicott já dizia, é importante usar a palavra brincar e não brinquedo, para acentuar o caráter de prática significante, de ação, de produção.
Não há nenhuma atividade significativa no desenvolvimento da simbolização da criança que não passe pelo brincar, afirma o autor. Cada vez que seja necessário avaliar o estado de desenvolvimento simbólico de uma criança, não há nenhum índice que forneça mais claramente tais possibilidades, nem há perturbações severas na infância que não se espelhe de alguma forma no brincar.
O autor refere-se a funções do brincar mais arcaicas, mais decisivas e mais primordiais que as do fort/da (criança simboliza no brinquedo o aparecimento e desaparecimento de pessoas próximas). Funções que podem ser vistas no primeiro ano de vida, relacionadas à constituição libidinal do corpo, onde a criança se presenteia um corpo, apoiado no meio.
O que se pode destacar é que a psicanálise há tempos vem se separando da concepção de criança como passiva nos primeiros tempos de vida. A crença de que a criança seria mais ativa na etapa fálica e mais passiva na etapa oral é falsa. Para o autor, quando detectamos em uma criança, algo que possa ser pensado como passividade, é que estamos frente a uma perturbação séria. Winnicott chama de fator da espontaneidade algo que nem a mãe, nem o pai, dão ao bebê.
É como na relação analista-paciente. Não se analisa nenhum paciente, é o paciente quem analisa a si mesmo através do analista, utilizando a transferência.
Outra razão para nunca pensarmos em crianças como passivas é a relação que os materiais do mito familiar em si nunca são unívocos. Em conjunção com a espontaneidade, isto promove o imprevisível. É necessário resgatar esta imprevisibilidade, reprimida por certo estruturalismo.
Para pensarmos na relação da criança com o mito familiar, o autor fala de um episódio comum onde os pais investem em algo para dar para o filho, para que ele brinque, e aí o desejo do filho produz um deslocamento para outra coisa de escasso valor para os pais, desencontro que gera decepção. 
A atividade que se deve pensar como brincar, primeiramente é uma combinação de dois momentos: esburacar-fazer superfície.
A partir da estruturação primordial do corpo, através do brincar, a primeira coisa que se constrói não é, de maneira alguma, um interior, quer dizer, um volume, mas uma película em fita contínua. Klein tratou da problemática dos volumes, onde mostrou seu grande interesse em uma dialética entre o interior do corpo e o exterior dele, assim como em relações fantasmáticas continente/conteúdo.
O autor afirma que o estágio do espelho não é uma formação originária, deve suceder uma série de coisas importantes, para que a criança chegue a este encontro com o espelho, em condições de tal índole, que este exista para ela.
Uma observação comum no desenho de crianças psicóticas é o contorno “em franjas”; em lugar de fazer uma borda firme, ininterrupta, da silhueta, esta parece esfiapar-se, com consistência tremida, indicando a destruição de uma superfície corporal. Um paciente psicótico ou neurótico quando reagindo à terapia faz-se notar através de seguidas sessões de “lambuzeira”, seja por água, argila, tinta ou argila e tais comportamentos envolvem o terapeuta, o consultório e o corpo do próprio paciente.
Quando adolescentes, os pacientes paranóicos, chamam atenção não mais pelo desenho, mas também pela escrita e características da letra e dos traços da mesma, não usam sinais de pontuação, fluxo sem cortes, e leitura difícil. Klein chama de fragmentação angustiante, que será salvo se voltar para uma posição depressiva.
A passagem da não integração à desintegração acontece quando ocorre falhas graves nas funções primárias. Existem crianças que tiveram seus sistemas obsessivos construídos prematuramente durante o segundo ano de idade. Pela rapidez e necessidade da criança em aprimorar seus mecanismos de defesa o potencial desintegrador torna-se uma problemática muito grave.
O bebê quando nasce necessita de certas rotinas, ter regularidades e previsões, pois o mundo é totalmente novo para ele, com isso o bebê conquista a capacidade de simbolização. Em famílias psicóticas o sujeito se encontra na impossibilidade absoluta de prever o que vai acontecer, pois não há uma constituição de uma rotina, já na família de um neurótico constuma-se queixar-se dela e dos impasses que causa em seu desejo. As rotinas contribuem para a fabricação da superfície, cabe ao outro (mãe) oferecer os meios para armar uma quotidianeidade, que implica um desenvolvimento simbólico sofisticado. 
Winnicott defende a questão de não tirar objetos que a criança se apega, mesmo quando possa cheirar mal ou ofende a estética familiar. Esse objeto é o próprio sujeito em seu corpo libidinal, então essa perda pode ser traumática, levando desde uma ruptura narcisista até uma devastação de tipo psicótico. A criança sofre com grande violência essa temática delirante descarregada sobre ele, em conseqüência disso, é destruído o que a criança ergueu de superfície. As irrupções patológicas de uma formação defeituosa e precária de superfícies são, varias vezes, bem tardias. Nas crianças autistas, pose-se encontrar restos de superfícies mal formadas, por exemplo o que se chama de estereotipias; o que ficou de uma criança brincando.
A atividade de fazer tiras durante o primeiro ano de vida, fica logo ressifignificada e recoberta por outras estruturas, mas seu desaparecimento é indispensável para a existência do sujeito. O recobrimento é possível porque já não é problemática para a criança a constituição de superfícies. Qualquer pessoa poderá através de uma intensidade regressiva de uma situação voltar ao primeiro plano a problemática de fazer superfícies. 
	Quando o individuo não tem uma superfície organizada deve-se construí-la através da terapia dia a pós dia e com o que se possa.
	A continuidade no tratamento psicanalítico, quer dizer que o analista não deve se impor como um ser excepcional, apenas seja previsível, confiável e imprevisível para que suas intervenções tenham efeitos interpretativos.
Questões:
1) O que o brincar pode expressar? Pode expressar toda a simbolização de uma criança? Quais são as funções do brincar?
2) Para a Psicanálise, a criança é mais passiva no primeiro ano de idade?
3) De que forma a rotina ajuda na capacidade de simbolização do bebê?
4) No brincar, o que significa esburacar-fazer superfície?

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