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PAPEL DO ESTADO MELIN G2

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Aula 8 – Rio, 27.10.14
ANOS 2000 – PÓS CONSENSO DE WASHINGTON – CRISE FINANCEIRA DE 2008
Momento de transição que se seguiu ao Consenso de Washington, que se estende de maneira menos ostensiva, mas de maneira aprofundada neste discurso ainda. 
Na década que se seguiu tem ainda prevalência de todos aqueles conceitos que defendiam a noção de ter o Estado Mínimo (Estado estar equipado com o mínimo possível de ativos, patrimônios, posses, propriedades de bens que sejam do Estado, mas também no sentido funcional: minimização da interferência do estado no domínio econômico como regulador, árbitro e como a instância que através da política econômica procura conciliar o interesse público com os movimentos de mercado, que são pautados pelas necessidades de lucratividade dos diversos setores da economia). 
Esse debate era mais visível nos anos 90, essa visão estava bastante consolidada na década seguinte, só que ela não era tão frequentemente objeto de disputa, porque o Consenso foi tão consensual que não havia o que se discutir. O que se vê nos anos 2000 é uma aceleração de alguns movimentos que foram gerados pela aquela visão do Consenso de Washington, como, por exemplo, a livre circulação de fluxo de capital, que é a chamada a mobilidade internacional dos capitais. Isso já existia há muito tempo, mas veio acelerando e um dos pontos do Consenso era a eliminação de qualquer barreira para que o capital pudesse se mover rapidamente – o que está diferente é que teve uma grande discussão do ponto de vista de políticas liberalizantes durante a década de 90 – políticas neoliberais – no sentido de reduzir a atuação do Estado, de reduzir as barreiras e de fluxos financeiros.
Nessa década seguinte tem a aceleração dessa mobilidade e multiplicação de mecanismos financeiros internacionais – diminuíram as barreiras, teve aumento de fluxo de capitais entre os países e multiplicaram-se os mecanismos financeiros em diversos setores. O mercado criou diversos tipos de novas aplicações – em vez de se falar só em títulos ou fundos de aplicação, mas também em veículos de investimentos – e foi nascendo toda uma série de novas maneiras de se convencer os donos dos fluxos de dinheiro de que com o seu banco esse dinheiro estaria na melhor posição.
Com isso, a competição nos anos 2000 se acirrou nos mercados financeiros e passamos por alguns momentos em que tiveram excessos em alguns mercados – determinados bens tiveram seus preços aumentados de maneira muito rápida e descolada do seu valor de mercado histórica. Quando isso ocorre, geralmente é sob forma de uma bolha, em que o processo de competição entre os agentes que estão participando da valoração ou oferta de lances para valorização do bem se descola do valor intrínseco que o bem tem no mercado. 
Houve ao longo dessas décadas, com medidas de liberalização muito pródigas, um papel do Estado muito importante - fora de ditar políticas - um papel simples: fiscalização/supervisão. 
Com essa multiplicação de mecanismos internacionais o que aconteceu de grave foi que se começou a ter uma parcela muito importante de reservas de instituições privadas colocadas em novos veículos, novas aplicações financeiras, que a rigor, estruturalmente não se tratava de uma bolha ou de especulação, mas da maneira que eram desenhados não tinham um lastro suficiente para fazer frente ao risco que o mercado estava tornando. 
Esse momento de transição foi inaugurado pela crise que começou em 2007 e se agravou em 2008 quando duas grandes instituições financeiras quebraram. Teve-se a constatação que a razão pela qual se faltou recurso para essas instituições para cumprir seus compromissos é porque elas estavam utilizando novos veículos especiais de investimento que estava sendo usado por eles e por todos. Todo mundo tinha parcela variáveis no seu investimento, que estavam utilizando veículos que quando foram ver estavam classificados como sendo papéis de risco B+, quando na verdade se fosse decompor esse tal veículo era mistura de riscos questionáveis. Houve por conta de fala de fiscalização, por um excesso de liberalidade dos mercados.
Esses bancos que tinham muitos desses veículos precisavam vender e começaram a ver que aquilo não valia nada e o mercado todo percebeu que todos os bancos tinham papéis em mãos que valia muito menos do que pensavam. Como não havia fiscalização, as próprias autoridades, os próprios agentes de Estado dos países não sabiam tranquilizar o mercado, porque a fiscalização não estava sendo exercida.
Essa crise causou consequências que duram até hoje. A grande parte dos países ricos não voltaram ainda ao nível de investimento e emprego que se tinha antes da crise – crise de natureza financeira (não no sentido tradicional de ter o estouro de um banco que não pôde honrar seus compromissos): conjunto de práticas que afetou a todos, no qual os agentes de mercado não sabiam quem poderia honrar seus compromissos, fechando o mercado, diminuindo a circulação de capital. 
Isso junto com a flexibilização de vários dos direitos de Bem-Estar Social deixou a Europa do jeito que está: muita instabilidade política, surgimento de muitas forças políticas radicais anti-imigração, nacionalismo exacerbado – fruto de uma série de impactos sucessivos, cuja origem fora essa primeira crise no mercado financeiro imobiliário americano e que depois se percebeu que ia muito além do setor imobiliário.
De um lado temos dois paradigmas que estão colocados sobre a presença do papel do Estado no domínio econômico: economias emergentes que são muito heterogêneas entre si – países que não passíveis de uma generalização: países ocidentais que após 06 anos continuam com baixa capacidade de crescimento, investimento e geração de emprego comparado com a sua própria média histórica - os mesmos governos que apoiavam o Consenso de Washington passaram a adotar medidas para mitigar os efeitos dessa crise. Se tem neste momento uma grande dubiedade: no caso europeu teve aprofundamento da crise por uma negativa absoluta do ponto de vista de vários setores da UE de que se tomassem medidas que iam na direção contrária aos cânones ortodoxos de política econômica – houve essa resistência e a crise se aprofundou, e que agora estão tentando reverter. Cada medida desse é alvo de grande embate político.
Então se tem muitas medidas que são nitidamente contrárias ao cânone do Consenso de Washington e que foram realmente tomadas. Isso está sendo feito com a lógica de um passo e meio para frente e um passo para trás -> nos países de economia mais avançada tem crescimento medíocre, investimento medíocre, geração de emprego medíocre, ou seja, numa média indesejável.
De outro lado, temos países que não tem economias maduras, em que o domínio de tecnologias produtivas é bom em alguns setores e fracos em outros – países emergentes – que não têm um modelo: BRICS. Só que tem um fato: os BRICS e outros países menores, que não ameaçam a dominância econômica dos países mais avançados, estão quase há uma década crescendo mais e avançando mais, trazendo desequilíbrios para a relação econômica desses países, que costumava ser muito ordenada (os mais desenvolvidos têm mais tecnologia, mais recursos e adquirem produtos de menores valores agregados dos países menos desenvolvidos) e isso está levando a uma série de tentativas de composição entre os países de economia mais madura com a destes demais países. Países mais ricos estão buscando novas formas de interação com os países emergentes dinâmicos. 
Nos países emergentes dinâmicos estão se criando uma série de oportunidades, recebendo investimentos diretos estrangeiros. Cada país emergente teve respostas diferentes, que possibilitaram que se defendam melhor da crise financeira, tendo mais atratividade para os países de economia madura. 
Estas novas medidas se distanciam dos cânones colocados pelo Consenso de Washington, ameaçando até mesmo institutos que existem há muito tempo e que eram típicos do Consenso e que estão sendo ameaçados de deixar de existir, como, por exemplo, o EXIMBANCK.Temos hoje um “papo furado”: de um lado temos o papo de que existe uma direção clara a ser tomada, um corpo de ideias consagradas, mas isso não existe, pois o que se tem é que em cada país se tem um embate sobre como o Estado deve intervir no domínio econômico para assegurar a melhor maneira para garantir a sustentabilidade do crescimento – essa debate está longe de ser definido. Não há um consenso geral que substitui o Consenso de Washington. 
Os questionamentos principais são de um fundo mais pragmático, como se evita que se reproduza a situação de 2008? Os interesses mais profundos econômicos dos países capitalistas estão se perguntando isso, não quer que faça políticas keynesianas, então faz políticas moderadas, mas não está preocupado com isso.
Existe uma necessidade de rever a institucionalidade da presença do Estado na economia, ou sejam as instituições que existem nos diversos países e que não deram conta de cumprir suas missões. A ideia é a de aperfeiçoamento de práticas institucionais.
Há uma percepção, que é de certo modo antagônica ao espírito do Consenso de Washington, que deve haver instituições políticas dotadas de capacidade de impedir que o mercado saia de controle e gere cries como a de 2007/2008. 
A visão que prevalece é instalar determinados parâmetros que não podem ser excedidos. Por exemplo, instituições financeiras não podem dar bônus executivos que não estejam atrelados a determinados parâmetros de risco. Tem uma série de regras, que são chamadas prudenciais, que são o foco da discussão, mas que não chegam a ser revolucionárias. 
Mas não há um único conjunto de prescrições que vigore de maneira prevalece em todos os países, como houve durante 20 anos com o Consenso. 
As respostas têm sido extremamente diferenciadas dependendo do grau de dependência que as soluções propostas em cada país.
A mudança que parece que veio para ficar é uma aceitação, explicita para alguns e tácitas para os demais, é que de que é inconcebível que as economias de mercado não se dotem de uma institucionalidade regulatória de pelo menos ante visão, para avisar que as cries virão.
Livre comércio – está criado em desuso, porque no plano do discurso as análises do que o livre cambismo, a liberdade de comércio, com a eliminação das barreiras, os benefícios gerados estão sendo questionados. No plano da prática, o governo nas épocas de vaca magra tem maior protecionismo, menor inclinação para eliminar barreira de comércio.
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Aula 9 – Rio, 28.10.14
ESTADO COLONIAL - EXTRATIVISMO E MODELO PRIMÁRIO EXPORTADOR
Qual foi o papel do Estado na montagem da economia brasileira. Vamos falar de um aspecto em que o Brasil se destaca de qualquer outro país: no Brasil, o Estado nasceu antes da nação, ou seja, se tem a presença de um Estado, de um corpo político administrativo organizado, hierárquico controlando um espaço territorial antes mesmo de ter povoação, pessoas construindo suas casas e procriando. 
A evolução dos clãs e cidades-estados em que se vê de que maneira formas de organização da autoridade, formas de controle social, formas de tomada de decisão vão surgindo de acordo com as características de cada período histórico, tendo formas de governo diferente, no Brasil é diferente: quem chega num território que estava totalmente desarticulado, se tinham diversas tribos indígenas com baixa densidade populacional e com grau tecnológico muito baixo – a disparidade disso para um Estado que chega aqui equipado com conhecimento do Renascimento, astronômico para fazer viagens a navio, capacidade bélica de quem já havia tido milênio de aperfeiçoamento de armas e expansionismo em outros continentes, é enorme.
Esse Estado chega aqui não com ideologias de achar que tem que defender esses indígenas indefesos que aqui viviam. Tinha debate se estas populações eram realmente humanas ou não, ou se eram outras espécies de hominídeos. Os que assim não pensavam vinham imbuídos do discurso do homem branco: trazer a salvação religiosa para os povos pagãos. 
Mais do que se ter esse fenômeno que as terras do Novo Mundo tiveram: população escassa e baixa capacitação tecnológica invadida por Estados com altas capacidades, o Brasil é diferente, porque ao ser tomado e ocupado pela potência europeia portuguesa, fomos colonizados pela maior potência marítima da época e fizeram um diagnóstico de Estado no Brasil – enxergaram o Brasil como o equivalente do Mito do El Dourado (minas de ouros inesgotáveis). A visão do Estado português de lançar uma empreitada cara aqui no Brasil foi econômico: exploração do potencial agrário e mineral dos territórios da América do Sul. Queriam extrair as plantas, que podiam ser usadas para medicina e alimentação, minérios e utilizar a riqueza natural daquela vastidão territorial para levar Portugal a uma posição de preponderância na Europa. 
O Brasil não foi colonizado, mas sim ocupado. Não ocupado para construir cidades, mas foi ocupado com o fito de uma empreitada econômica, para gerar receitas expressivas para o Estado português, que teve a capacidade de ocupar e manter este território, pois tinha um fim econômico. 
A ideia é que toda a exploração econômica fosse feita com a intervenção de capitais privados de nobres ou feudatários (das capitanias) que deveriam tornar produtivas as suas levas e retornar na forma de impostos/tributos todo esse investimento feito pelo governo português. Brasil nasce como empreitada (como empresa) comercial/econômica (para gerar lucro) – um plano pensado para tornar o Brasil uma fonte abundante para os seus ocupantes portugueses deu ao mesmo tempo errado e certo.
Deu errado porque do ponto de vista do extrativismo a divisão de fatias (mapa das capitanias), apenas 3 capitanias estavam dando algum retorno econômico, porque não estavam encontrando as “drogas do sertão” com facilidade, além disso, encontraram indígenas hostis, e também tinha o fator do clima. A técnica era extrair e levar para Portugal e o principal recurso foi o pau-brasil, que era o mais achado facilmente. 
O investimento estava para ser declarado não compensador (o dinheiro gasto era muito grande e não estava dando retorno), quando na Europa uma mercadoria começa a ter valorização crescente: o açúcar. Os holandeses aproveitaram cultivos de cana-de-açúcar e passaram para a produção de açúcar para abastecer o mercado europeu. Isso dava uma solução para Portugal. No nordeste brasileiro tem presença extensa de cana-de-açúcar, então se poderia produzir – o problema é que para cana-de-açúcar, no século XVI, não basta extrair e colocar no navio, como era com o pau-brasil, pois tinha que retirar e repor, replantar, também terá que ter isso nos locais de mais fácil acesso ao porto, além disso, não vai se transportar essa cana correndo o risco de apodrecer na longa viagem de navio, então se terá que produzir o açúcar aqui, e para isso terá que ter um engenho, que equivale a um investimento industrial, o que custava muito dinheiro.
Então o preço só faz subir, em diversos locais do território a produção do açúcar começa a ocorrer, mas não com o dinheiro da Coroa e nem com os dos donatários (não é mais a parceria público-privada da Coroa e dos nobres), começando então a busca de créditos e financiamentos, e por isso se estabelecem companhias na Europa que reúnem capital para financiar isso. 
O açúcar é que lança o Brasil, e o Brasil inaugura com isso algo que carregamos até recentemente: temos uma atividade econômica induzida e regulada, mas praticamente provocada/causada/iniciada pelo Estado; um desenvolvimento econômico sendo feito como escassez capital, tanto o Estado promotor dessa atividade, como o empresário investidor, buscando externamente as fontes de financiamento para fazer a produção ocorrer (financiador externo); e tudo isso em torno de uma lógica de inserção no mercado internacional. As riquezas brasileiras existem para serem exploradas e levadas ao mercado internacional – só realizam o seu potencial de lucro quando são colocadas no mercado internacional.Ao longo do tempo, sucessivamente, todas as atividades produzidas no Brasil que concentram maiores blocos são aquelas para serem colocadas no mercado internacional.
Até meados do século XX, a atividade brasileira foi estruturalmente promovida e realizada pelo próprio Estado – Estado foi empresário no sentido mais amplo, dizendo “vamos ocupar o território para isso”. O Estado esteve no nascimento e intimamente ligado em cada etapa do nosso desenvolvimento econômico.
Para a economia no Brasil funcionar neste momento, se precisava: 
Do ponto de vista de administração e decisões estratégicas, se tinha o governo geral – no momento do Estado Colonial
De um lado tinha toda a parte de administração de ocupação do território, lidar com questões de abastecimento de água, tudo o que envolvia esforço comum e planejamento, se tinha o governo-geral e um papel que este sempre teve era também o de arbitragem de disputas entre os diversos interesses.
Do ponto de vista de controle e segurança interna, se tinha mercenários e capatazes
Do ponto de vista da força de trabalho, se está em um país que a mão de obra é inicialmente indígena e depois com a produção açucareira se utiliza a mão de obra africana – e tem mercenários e capatazes que fiscalizam essa força de trabalho e disciplinar que as cotas de trabalho seja seguidas para garantir a produção. Tem uma população escrava indígena e africana. 
O que vai se tornar as milícias e as forças policiais é uma origem que não é calcada na defesa da coletividade contra o indivíduo transgressor, mas sim uma lógica que tem que ser muito disciplinada para garantir a produção. 
Do ponto de vista de inserção externa da economia, se tem as companhias de comércio e a própria Coro portuguesa
Companhias brasileiras: Companhia de Comércio Geral do Brasil; do Estado do Maranhão; de Pernambuco e Paraíba – tinham função de levantar dinheiro para financiar a produção de açúcar e tinham o exclusivo de comercialização do açúcar na Europa e se apropriavam de parcela bastante expressiva do lucro. A Coroa tinha participação não só de permitir a criação dessas companhias sob o seu privilégio real, mas também autorizar que outras companhias pudessem operar – a Coroa vendia concessões para isso e recebia dos dois lado: o tributo sobre a produção e quando outorgava o privilégio dessas companhias serem criadas ou poderem ocupar o Brasil. 
Isso vai durar, aproximadamente, 150 anos, e vamos ter, concomitantemente, em diversas localidades com o passar do tempo e informações sobre o terreno brasileiro, ao longo do século XVII, a identificação das principais jazidas minerais no território brasileiro, principalmente no território de Minas Gerais. Teve a interiorização na busca dessas jazidas, que surge da obtenção melhor de informações sobre o território com o momento do “Bulholhismo” na Europa – momento que todo o movimento de renascimento do comércio converge para uma grande concentração dos meios de pagamento metálicos tem toda a cunhagem de moedas de ouro e prata, tem o acúmulo sistemático pelas coroas de estoques de metais preciosos com o fim de dar lastro às relações. 
Os espanhóis lançam a sua navegação para a busca de metais preciosos nas Américas e os portugueses no Brasil também se lançam nisso, porque o ouro e a prata estavam tendo alta demanda e sendo extremamente valorizados no comércio internacional. É um movimento que passa a ser o pólo dinâmico na econômica brasileira, depois que os preços do açúcar se estabilizam, voltado, novamente, para o mercado exterior atividade para produzir aqui a riqueza natural e mandar para fora é a inserção externa que determina a prioridade de produção aqui. 
O papel do Estado é fundamental, porque organiza a busca dessas jazidas minerais e outras são organizadas por capital privado e o Estado ao se estabeleceram as praças mineiras de extração mineral monta uma máquina muito sofisticada de fiscalização tributária: quinto (imposto que tem que ser pago em espécie, em metal, sob toda a produção), criando as casas de função pública. O Estado brasileiro está presente de novo como iniciador, organizando as buscas por jazidas e além de estar envolvido em iniciar a atividade, faz depois o papel de lançador e de fiscalizador e tributador do que está sendo angariado. 
Tivemos a cada momento a participação do Estado, que não se deu de forma de se afastar das prioridades: garantir as condições de produção do território, que maximizem a renda da Coroa. Essa prioridade nunca se perdeu e o Estado sempre esteve presente, mas como instigador e iniciador das atividades e também como seu intermediador. 
Isso estrutura o poder público no Brasil de forma sofisticada, muito bem delineado: tem o governador geral para as decisões estratégicas e de defesa; tinha o ouvidor mor responsável pela justiça (ministro da justiça); provedor mor, que organizava as finanças; e o encarregado pela defesa da costa. Já tinha uma estrutura funcional e quanto mais as atividades foram se expandindo, mais essas estruturas administrativas de Estado, essas atribuições dos representantes portugueses no Brasil foram aumentando e se impondo.
A partir do momento que se tem essa máquina com o Estado não só para emitir normas e recolher impostos, mas também iniciando as atividades produtivas, o que se tem diante disso é que o Brasil teve uma máquina muito bem montada de gerar lucro no mercado internacional, exportando produtos com valor muito bem agregado. 
Do ponto de vista da grande maioria que morava no Brasil, a maioria era de mão de obra escrava e não eram cidadãos que tinham necessidades a serem atendidas, mas sim custo de produção, para que se tivesse lucro no final para pagar os financiadores e os impostos. 
A grande lição do período colonial, que é o período de gestação do país: é impossível se falar em setor público e privado usando os critérios de separação que hoje temos, porque o grau de interpenetração é enorme. O que o público fazia o privado também; o privado tinha poder de polícia. Muitas coisas que são papel do Estado, o privado fazia, e vice-versa e isso se durou até o fim do ciclo do minério, até o começo do ciclo do café, caracterizando a formação econômica e política do Brasil de forma extremamente marcante. 
O Estado é capitalista no que diz respeito à produção de bens para o exterior. Mas aqui dentro, a unidade produtiva funcionava de uma maneira que não se via em outro lugar. De forma organizada, com Estado estruturado, mas com enorme sobreposição de papéis, que faz com que muitos digam que o Estado nasceu antes da nação e no Brasil a economia nasceu junto e de dentro do Estado brasileiro.
A forma final disso: no início do século XVIII, Portugal já tinha dependência econômica grande com relação à Inglaterra. Com o próprio sucesso da empreitada colonial brasileira as necessidades de capital foram crescendo para além da capacidade portuguesa – como foram tendo novos setores, precisando de mais escravo para extrair em minas (que tinha que ter maior capacidade para entrar numa mina), maior necessidade de capital, Portugal foi perdendo a capacidade de gerar isso, se endividando com a Holanda e com a Inglaterra. No final, Portugal fez parceria com a Inglaterra, e isso se consubstanciou com o Tratado de Mathuen, em 1703: Portugal desmontou sua industrial têxtil para não ter concorrência com inglesa, em troca de privilégios de barreiras comerciais para vinhos, e partir daí só teve déficit – Portugal se afundou e virou quase protetorado inglês. E posteriormente teve a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808.
Do ponto de vista interno isso gerou padrão de decisão muito atípico – com o café e com a república. Como que o Brasil deu no que deu. 
.................................................
Aula 10 – Rio, 04.11.14
INDPENDÊNCIA, CAFÉ E NASCIMENTO DA INDÚSTRIA
A ocupação brasileira é motivada por interesse comercial, tanto pelos donatários quanto as casas de comércio portuguesas e européias, e também interesse econômico da coroa portuguesa. Quando começam ater as primeiras divisões administrativas e instrumentos tradicionais de um Estado, nasce para dar suporte para um projeto de ocupação territorial para produção voltado ao mercado. A economia nasce de um projeto de Estado privado, porque conta com capitais privados e com investidores estrangeiros. 
O Estado promovendo a atividade econômica desde o primeiro momento, direcionando, atraindo os investidores privados, no papel de induzi-los, mas inclusive como parceiros, para complementar recursos da coroa. O Estado é sócio da produção diretamente e também é sócio quando faz o recolhimento do tributo. O nexo da ocupação territorial é ser o território produtivo para a Coroa portuguesa e para os privados que decidem investir aqui. 
É uma inserção e composição de Estado diferente. O modo que influencia e direciona todas as suas atividades é em motivado para viabilização dessa altíssima produção para o mercado internacional. 
Do ponto de vista político, já que o Estado está tão centro, no século XVIII quando o Estado chega ao auge de produção de metais preciosos, o Estado português passa de ser a primeira potência marítima e está em uma adiantada dependência de relação econômica com o capital da Inglaterra. Esse mesmo Estado português que tanta participa da atividade produzida no Brasil, vai saldar seus compromissos com a Inglaterra com o que aqui é produzido, através do Tratado de Mathuene, chamando para si, em seus próprios territórios, não permitir a instauração de atividades econômicas manufatureiras que concorram com as inglesas. 
Isso vai ter repercussão no Brasil: revolta em MG Inconfidência Mineira – além de elementos político-ideológicos, havia ali grande descontentamento por dois fatores: uma administração colonial demasiadamente espoliativa - para saldar seus compromissos Portugal obrigava outros custos nesse metal ao ser exportado, onerando para além da simples taxação de produção de minérios, sendo considerado abusivo - a classe média espoliada, revoltada, encontra no discurso nacionalista uma saída; além disso, houve uma interiorização no território por causa da exploração de metais, e começou a ter mais custo de frete e de perda de carga, e chegando ao final do século XVIII era quase inevitável que os produtores locais e a comunidade local em torno da produção começassem a produção local, tendo multiplicação de atividades manufatureiras por conta da interiorização trazida pela busca de metais. A Coroa portuguesa não quer que isso ocorra, pois tem um acordo com a Inglaterra, e aí manda as tropas da Coroa ativamente nos povoados em que há produção manufatureira e desmontam essa produção na mão armada que começou a surgir, sendo esta a segunda motivação para o descontentamento. Nessa época, o ouro já está escasseando.
Em 1808, há a chegada da Corte Portuguesa, transferindo-se todo o aparelho de Estado, todo o funcionalismo público português transferiu-se para o Rio de Janeiro e naquele momento o que foi feito foi o famoso decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas, deixando o Brasil de ser colônia, pois o comércio do Brasil deixa de passar pela metrópole.
Em 1810, temos o Tratado de Comércio e Navegação e o Tratado de Aliança e Amizade firmados com a Inglaterra, trazendo concessão de privilégios mútuos, renovação do direito dos ingleses sobre a Ilha da Madeira, direito de residir em Portugal ou na Inglaterra, direito da Inglaterra de ter uma esquadra de guerra no litoral brasileiro, liberdade religiosa concedida aos ingleses (protestantes) e concessões alfandegárias (24% para todos, mas para a Inglaterra era 15%). 
Alguns anos depois, tem a independência do Brasil e do ponto de vista econômico por mais que tenha sido uma independência mantendo a mesma casa real, não havendo mudança de quem controlava a província de São Vicente e da Bahia de Todos os Santos, mudou a lei, formalmente se inaugura o marco da nacionalidade e do ordenamento jurídico, que antes era prolongamento do Estado português, e economicamente passa a ter o direito do país ter o seu próprio sistema bancário e a sua própria moeda. Passando-se a ter a condição de regular os níveis internos da disponibilidade desse pagamento liquidez – de acordo com as necessidades internas da sua economia, independente de Portugal, pode querer facilitar o acesso dos seus produtores ao dinheiro, a fim de se aumentar a produção do café. 
O café foi introduzido no Brasil há quase 100 anos e estava ganhando disseminação pelo território brasileiro, ou seja, as pessoas estavam aprendendo a produzir café. Europa aumentou o consumo do café e o Brasil mais uma vez se posiciona para ser o fornecedor de uma mercadoria que está em valorização, permitindo lucros crescentes, mais uma vez. 
Só que neste momento os capitais brasileiros que existiam eram ou fortunas feitas na mineração ou na produção de açúcar, mas não era suficiente para suportar o investimento em larga escala nos cafezais, porque tinha que ter período de retorno longo, ou seja, ter a condição de bancar o investimento (manter a terra, pagar a mão-de-obra escrava) e o manejo de produção. O Brasil com a independência tem a sua moeda e gera a possibilidade dele mesmo se endividar, contraindo empréstimos externos. 
Exportações do Brasil:
	
	Algodão
	Açúcar 
	Café
	Borracha
	Cacau
	1821 - 23
	 26%
	 23%
	 19%
	 -
	 -
	1871 -73
	 17%
	 12%
	 50%
	 -
	 -
	1901 - 03
	 03%
	 02%
	 56%
	 22%
	 2,5%
	1927 - 29
	 02%
	 0,5%
	 71%
	 02%
	 04%
	1949 - 51
	 10%
	 0,3%
	 60%
	 0,2%
	 05%
	1983 
	 2,3%
	 1,8%
	 11%
	 -
	 1,5%
Com a independência, temos a possibilidade de financiar a enorme expansão do café, que quase quadruplica, sujeita à avaliação internacional (apresentando risco) até o café se tornar praticamente a nossa fonte principal de sustento.
Ocorre também ao longo deste século (da chegada da família real e a abertura dos portos a 1910), a criação do Banco Estatal - Banco do Brasil, que foi para dar crédito à agricultura do café. Com isso, cai o compromisso de favorecimento com a indústria inglesa, surgindo a tentativa de melhorar a lógica produtiva interna, em vez de importar – declarada a independência, voltam as tentativas de tentar viabilizar estimular a manufatura no Brasil. Isso acontece duas vezes ao longo do século XIX: em 1844, ministro da fazenda – Alves Branco – cria lei que amplia a taxa de importação para produtos que não tinham similar nacional (manufaturados sem similar nacional: 20% para Inglaterra), mas sendo o produto com similar no Brasil a alíquota era de 60%; e em 1847 estimulo fiscal e isenção tributária para as matérias primas de manufaturas brasileiras. Mas estas medidas não deram certo, por causa da pressão inglesa e por diversos movimentos separatista que atingiram o Brasil, mas principalmente esbarraram em barreiras econômicas (não tinha trabalhadores assalariados em nº suficiente para serem consumidores; o mercado interno brasileiro não tinha escala, basicamente porque não tinha consumidor, a população que trabalhava no Brasil, em sua maioria, era escrava). Quem tinha dinheiro nessa época eram os cafeicultores e estes não se dispuseram a investir na indústria nesse momento. Pode ter sido o nascimento da indústria, mas não o seu deslanchar.
Alguns anos depois, ao chegar na primeira república, a partir de 1889, já tem uma concentração bastante forte dos recursos nas mãos dos cafeicultores e algumas indústrias criadas a partir da lei de Alves Branco, mas de pequeno porte. Já tem Mauá – tem um adensamento urbano.
O verdadeiro deslancho das indústrias é no momento da 1ª GM, porque a partir de 1914 tem uma interrupção brutal do fornecimento de manufaturas de produtos industrializados para o Brasil, afetando a capacidade dos países europeus de produzir e exportar industrialização por substituição de importação.Foi o surto de industrialização no Brasil entre 14 e 18, tendo fornecer a um custo muito mais barato. Uma vez que fertiliza e semeia a indústria no terreno da economia brasileira e ela cresce, o jogo começa a mudar.
A verdade é que vivemos um momento muito complicado, do ponto de vista econômico no início do século, porque tivemos a grande crise da guerra, em que os nossos mercados não vendiam para nós, e também não compravam da gente, por causa da guerra, e tínhamos dependência desse produto exportado, causando grandes dificuldades – a demanda colapsou lá fora. E na virada do século (1900), os EUA começa a colocar medidas que prejudicam o café brasileiro, colocando mais imposto no preço do café lá, desestimulando o consumo do café. E aí o governo brasileiro inventou o 1º sistema de estabilização de preços do mundo: em 1906, quando começou a ter a queda do consumo nos EUA, caindo o preço do café, SP fez o estoque regulador, e também estabilizou a taxa de câmbio (governo federal dando câmbio, desvalorizando a taxa internacional). 
O Estado brasileiro, de novo, está envolvido na criação de mecanismo de como trabalhar de molde a defender o interesse do capital brasileiro, da produção brasileira e da atividade econômica. 
Na economia brasileira, as coisas se movem de forma muito entrelaçada. Os movimentos de mercado são ditados pela economia de mercado internacional e em cada fase houve uma ação empresarial combinada com um direcionamento e uma intervenção/atuação do poder público, para garantir a expansão da economia nacional.
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Tivemos concorrência internacional pesada e “baixo apetite” para produção industrial de quem detinha o capital – não quiseram apostar na indústria. Mauá foi financiado pelo capital inglês. A partir do final do século XIX, com a proclamação Ra república e com os sistemas criados, começamos a ver um crescimento gradual da atividade industrial.
O primeiro movimento efetivo, que tornou a industrialização do Brasil um fenômeno irreversível, é o que ocorre na ausência da concorrência internacional na 1ª GM. As nações estão engajadas em um conflito umas com as outras, abrindo a necessidade de determinados bens serem produzidos internamente no Brasil, para que pudessem ser supridos, tendo investidores e demanda suficiente. 
-Aspecto da força do trabalho nesse período
É um fenômeno importante economicamente e tem a marca de ser influenciado diretamente pela força do Estado. 
Quando chega na época da abolição da escravatura, em 1888, menos de 7% da população era de escravos. Economicamente isso nos diz que mão de obra escrava não era tão significativa. 
Quando os investimentos foram mais pesadamente pro café e precisava de todo o investimento financeiro pesado, aconteceu que se tinha no mesmo período a pressão física militar internacional inglesa para a extinção do comércio de escravos (tráfico negreiro). Tem um momento histórico em que se tem de um lado o crescimento de uma cultura intensiva de mão de obra (mão de obra do café é mais intensa, pois se precisava dos braços para lavoura) e de outro tinha a pressão inglesa para a extinção deste comércio de escravos. Mas como precisava da mão de obra, o Brasil fez uma política gradualista de introdução da imigração, que começa quando a escassez da mão de obra está maior, com todo mundo querendo expandir a agricultura do café. 
A mão de obra do imigrante era mais barata, porque com o comércio de escravos era impossível conseguir mão de obra nova e para não quebrar a estrutura de custa foi usada a técnica do regime da servidão temporária/locador de serviços (sujeito para pagar passagem trabalhava na lavoura). O sujeito trabalhava mediante remuneração, que no final é apenas o que precisa para comer, ou seja, é uma atividade extremamente mal remunerada.
O Estado entra nisso ao criar programas de imigração e também pelas províncias, que criam programas de incentivo para o empregador bancar a vinda de lotes de famílias. É um pleno emprego só que de cartas marcadas. O Estado organizava as levas de imigrantes e também fazia a legislação para esta nova matriz econômica. 
Temos gerações de imigrantes, que passam a servir como a mão de obra mais qualificada e atraente do ponto de vista da instalação da indústria no Brasil. *
ESTADO NOVO, INDUSTRIALIZAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES (1930)
*Quando tem o primeiro surto de industrialização no Brasil, vemos que o trabalhador industrial era um trabalhador recrutado. Imigrantes europeus vêm buscar emprego nas indústrias nascentes aqui. Tem registro de uma chegada relativamente grande de imigrantes no Brasil. 
A partir de 30, a influência do Estado não podia ser mais explícita. Da revolução de 30 (movimento política das elites que estavam excluídas do pacto partidário entre MG e SP), vemos um movimento grande na direção da opção pela indústria com apoio à substituição de importações, suportado pelo Estado. 
Isso vai esbarrar em duas restrições: 1)de energia; 2) de aço (indústria de base como um todo). Já estamos em um momento em que já tem como fazer a manufaturas, mas em grande medida não tem como criar estruturas maiores, seja na indústria civil ou na mecanização, porque não tem indústria de base, parando a industrialização pela falta de energia e pela falta de indústria de base no Brasil. Ter uma siderurgia, portanto, não era apenas uma questão de mercado. Exemplo claro de intervenção do Estado: a indústria de base foi praticamente criada por ação de Estado, para que se passasse a ter esse tipo de produção no Brasil. Além disso, também tinha a fala de cimento. A principal fonte de energia até essa época era a lenha.
Temos que entender que no nosso movimento em direção à industrialização houve uma série de percalços, houve uma relutância do setor cafeeiro em investir na indústria, que só diminui com a crise causada pela primeira guerra e em 1924 (CSN só vem em 40) o Brasil já tinha a sua produção de aço (investimento feito pelos Belgas) – a diferença não é que não tinha demanda, mas para dar escala precisava de um grau de incentivos que se o Estado brasileiro não produzisse, não teríamos tido, porque não teríamos tido acesso à tecnologia americana de grande escala.
Não tem aço, cimento, energia – tudo isso começou tardiamente. O aproveitamento de energia com as hidrelétricas no Brasil só começam em 50. Pensar em um país urbano sem nada dessas manufaturas é inconcebível. Para introduzir cada um desses elementos tivemos que ter a atuação do Estado regulamentando e tomando a frente de implementação daquele produto no Brasil, ou seja, obrigando a acontecer. 
A partir do momento que se está fazendo uma mudança que vem das atividades extrativas e agrícolas durante 400 anos, essa preponderância não é apenas modelo de baixa tecnologia e de concentração no campo, mas também é 100% baseado em manufaturas do exterior, e para reverter isso é mais ainda visível as marcas do Estado nessa trajetória, do que ao longo dos séculos anteriores. E nos outros séculos o Estado conduziu de forma ativa os movimentos dos outros ciclos. Entrelaçamento entre a iniciativa privada e a atuação do Estado, que se torna no século XX, no movimento de busca da urbanização e da industrialização, mais presente ainda. 
Vamos ver como isso, numa era em que se tem já o Brasil chegando em um patamar tecnológico e industrial próximo aos países de maior desenvolvimento, ocorreu o movimento de transição dessa hiperatividade do Estado conduzindo todo o processo econômico, para uma presença em que se vê uma participação e uma condução cada vez menor.
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ESTADO AUTORITÁRIO, ESTADO DEMOCRÁTICO, INCLUSÃO & SUSTENTABILIDADE 
Posteriormente tem o ciclo dos governos militares, que é o Estado Autoritário. São criadas por Getúlio empresas estatais que ele considerava essenciais – criação da Petrobras, da Eletrobrás, da comissão de energia nuclear a promoção do vetor de desenvolvimento industrialdo país, a promoção do próximo movimento de modernização da economia, parte da iniciativa do Estado. 
No governo de Juscelino tem o favorecimento do capital estrangeiro, mas também com a iniciativa do Estado.
No ciclo autoritário não tem espaço para dissidência, que é suprimida, cria-se possibilidade de que quando tem espaço de reivindicação ou protesto não se pode criar que é uma extrema compressão dos salários, ou seja, da mesma maneira que no século XIX o Estado estava preocupado que a lavoura cafeeira tivesse mão de obra qualificada e barata e por isso a coroa atuou de um lado atraindo imigrante e também criando diversas regras para disciplinar o mercado de trabalho, no governo militar a partir de 1964 o Estado também se preocupa com o investimento e a produção, mas também com o trabalho, tendo a ideia de compressão de custos, tendo um controle de uma política salarial, que mantinha o salário real dos trabalhadores. Tinha maior concentração de renda e isso repercutiu quando começou a inflação nesse período os reajustes monetários dos salários ficavam inferiores à taxa da inflação da economia.
Então se tinha concentração de renda e o outro é queda do salário real, sendo as políticas do governo econômico da época, para ter favorecimento das produções a partir da diminuição dos custos. 
Quando houve a instalação do governo militar, além dos motivos políticos, foi alegado também desordem da economia e em todos os debates o grande símbolo disso era o nível da inflação. 
Queriam completar a estrutura industrial – queria ter toda uma matriz industrial. Isso é o que estava na cabeça do governo militar. Contudo isso não é compatível com políticas econômicas ortodoxas, como se costumam ter em governos autoritários. Então além de ter componentes de políticas ortodoxas para controlar a inflação, se procurou construir uma matriz industrial. 
Surgem duas grades iniciativas: os planos nacionais de desenvolvimento. Eles têm o objetivo de criar condições econômicas para desenvolvimento. 
O primeiro ocorre no final dos anos 60, visando atender as questões urbanas de suprimento alimentício, energético e hidráulico para as capitais, e introduz a indexação (mecanismo para conviver com a inflação). 
O segundo PND, em que ocorre o primeiro choque do petróleo, está no meio do esforço de mobilizar capitais, de construir a matriz industrial, e no meio dessa tentativa de completar a matriz produtiva brasileiro o país é atingido pelo choque do petróleo. Todos previam que as taxas de crescimento, chamadas de “milagres brasileiro”, iriam cair, só que se constata que o governo brasileiro “dobra a aposta”, pois em vez de fazer a redução dos investimentos, o corte dos incentivos fiscais e dos subsídios, o governo brasileiro apressa o lançamento do segundo PND, com um programa vastíssimo de investimentos públicos, contrária à política keynesiana: na hora que vai ter desaquecimento da minha economia, é que preciso ter um plano anticíclico. O que estava por trás disso era o governo militar não abrir mão do seu programa de industrialização brasileira, e as taxas no Brasil continuam a crescer atipicamente. 
Esses investimentos públicos e medidas de completar a industrialização brasileira tinha como meta explícita procurar reduzir o aumento do desenvolvimento sem necessidades de fontes externas, não depender de financiamentos do exterior. O 2º PND buscou favorecer: 1) a indústria de base (exemplo: petroquímica; 2)substituir ou reduzir importações; 3) abrir novos mercados para exportação para ter fortalecimento da indústria privada nacional. O foco dos governos militares é ao mesmo tempo privatista e nacional. Então eles usam um conjunto de ferramentas que o Estado dispõe, todo um conjunto de empresas estatais, no sentido de facilitar através dessas prioridades, tudo isso direcionado para facilitar o crescimento dos capitais privados. 
A ideia era de que o 2º PND consolidaria um modelo especificamente brasileiro de desenvolvimento com o Estado à frente, empurrando o capital privado o tempo todo e sem necessidade de reduzir o crescimento diante da crise do petróleo, que era visto como extremamente custoso para uma economia em desenvolvimento como a do Brasil.
A grande contradição estrutural disso é que grandes projetos de investimento e grandes financiamentos foram contraídos neste período no sistema financeiro internacional – uma parcela importante dos recursos usados para financiar este plano foram obtidos através de empréstimos internacionais. Esses empréstimos, na época, tinham custos baixos para o Brasil, porém com a 2ª crise de petróleo, em 79, aumentam as taxas de juras, fazendo o Brasil que tinha dívidas externas e pouca reserva de moeda estrangeira, não conseguir honrar os seus compromissos, se endividando fortemente. 
O segundo PND visava impedir que o Brasil regredisse e desse um salto visando o desenvolvimento, mas aumentos os desequilíbrios internos e aumentou a dependência dos recursos externos. 
O que fica de maior salto para o Estado autoritário é que de fato o propósito de criar a base produtiva moderna e integrada na indústria nacional é atingido, a custo de aumentar muitas desigualdades e criar um grande endividamento internacional. 
A partir do momento que as taxas de juros disparam e tem dificuldade em fazer frente aos pagamentos, o Estado faz progressivamente um processo de resgate do setor privado em relação ao risco capital. 
Quando o estava na origem do desequilíbrio, fragilizando as nossas contas por depender do capital externo, também esteve na origem de resposta ao problema, tomando à frente, na época da transição do governo militar para o civil, investindo no setor público. 
Vemos o governo brasileiro sempre tendo a liderança, buscando meios e políticas de governo, buscando o desenvolvimento e a industrialização do Brasil. 
Com a restauração da democratização do Brasil, o governo passa a ter pressões e prioridades diferentes do que tinha antes. Antes era um governo que tinha margem de manobra muito grande, depois da redemocratização o Estado passa a ter que responder pelas suas ações, tendo que cumprir com as regras constitucionais, prestando contas através do legislativo e tendo que obedecer aos ditames do judiciário, tudo muda. O Brasil em todo esse período que negocia sua dívida externa, ao longo dos anos 80, cria uma política de capitação de divisas (moeda estrangeira conversível, aceitável como meio de pagamento no mundo), porque precisava fazer frente aos compromissos internacionais, não caindo em moratória. 
Para conseguir divisas as pessoas tinham que investir no Brasil – querem comprar algo aqui que compra com moeda nacional -> troca a divisa dele com a moeda nacional – quer investir para construir uma fábrica no Brasil e por isso troca os dólares por moeda nacional, ou pode ser um investimento não produtivo (comprar um título – converte o dólar em moeda nacional e compra o título e depois converte de novo em dólar e leva pra casa) -> política agressiva de capitação de divisas.
O Brasil passa a ter a maior taxa de juros do mundo e isso se manteve durante 30 anos. A situação começou a fim de sanar um problema concreto, que era dar conta da dívida externa, mas ao tentar evitar se evitou uma situação que passou a ser uma feição permanente da sua economia. Não tem nenhum país que permaneceu com a taxa de juros durante 30 anos. Isso causou uma questão estrutural no Brasil que foi a falta de investimento.
Quando se entra num cenário democrático, o ator Estado que foi tão central muda o seu conjunto de prioridades. Se depara saindo do Estado Autoritário, vendo um legado de concentração de renda enorme e baixos salários e tem que responder a isso. A primeira década é respondida por pegar um legado do passado e corrigi-lo: inflação – de 1992 a 2002 é a década que reduz o impacto dos indexadores. 
Só que a sociedade não aceita o fato do governo só prestar atenção à diminuição da inflação, porque o salário delas está cada vez mais comprando menos. A taxa diferencial de juros não gerainvestimentos, o que acarreta em menos empregos. Numa sociedade democrática tem que buscar variáveis que sejam sustentáveis do ponto de vista de ser reprodutiva no tempo, tem que garantir, sobretudo num país com matriz constitucional diferenciada, apontar na redução da exclusão, as pessoas tem que ser incluídas nos mecanismos de promoção social (educação, saúde, etc.), se não cuida desse lado não se consegue ter uma reposta adequada à sociedade. 
Tem a obrigatoriedade de prover inclusão e sustentabilidade, promovendo uma política para isso, só que isso não foi resolvido no governo FHC, nem no Lula e nem no da Dilma. Para isso precisa ter crescimento, e para ter crescimento tem que ter investimento e infraestrutura e investimento em infraestrutura. E o Brasil tem um déficit enorme de infraestrutura.
A situação do Brasil hoje que precisa gerar grau de inclusão maior que outros países, porque tem déficit disso, tem que investir em infraestrutura e fazer o crescimento vir. No entanto, quando vemos o debate público do Brasil hoje é como se cada uma dessas questões fossem individuais, em vez de fazer parte de um encaixe. A economia é a ciência mais afetada pela ideologia, no sentido operacional: interesses concretos que estão em jogo na hora de dar uma explicação – porque a economia é um fenômeno social que interage por completo. Então não pode querer ver cada ponto individualmente, pois tudo funciona como uma estrutura geral. 
No debate para resolver nossas heranças, como gerar emprego, crescimento e renda, diante de todas estas questões temos um exército de pessoas que comparece ao debate público para jogar poeira nisso, pois é muita grana em jogo. Mudar algo que vem de 30 anos, mudar o nível do estoque de capital que tem é hoje a questão que para o Brasil é a mais relevante em termos de papel econômico do Estado, pois é o que mais impacta.
As questões são concretas, reais, complexas, elas se inter influenciam, e existe uma que é a mais fundamental que é a o dia que o governo brasileiro convergir taxas e prazos praticados no mercado financeiro compatível com o mercado internacional, saberemos que o Brasil terá superado a última barreira no caminho da sustentabilidade no modelo de desenvolvimento econômico.

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