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Assessorias de Comunicação Social: panorama conceitual 1 Ana Maria Córdova Wels2 Doutora em Comunicação Social Professora do Departamento de Relações Públicas FAMECOS/PUCRS Resumo O presente estudo trata sobre assessorias de comunicação social, ressaltando o papel das assessorias nas organizações e sua representatividade nas relações com os públicos. A partir dessa perspectiva, o texto contempla uma breve retrospectiva histórica sobre as relações públicas e encaminha para uma abordagem conceitual sobre as três áreas da comunicação, considerando a relevância de suas funções enquanto elos de interlocução entre as organizações e seus públicos. Palavras-chave: assessoria nas organizações – assessorias de comunicação social – comunicação integrada Função das assessorias nas organizações A relevância da função da assessoria nas organizações está sedimentada no papel atuante e co-participativo que cabe ao assessor. Numa retrospectiva histórica, o reconhecimento da implantação formal de assessorias nas organizações remonta ao final do século XIX e início do século XX, quando Taylor (1990) e Fayol (1996) desenvolveram os primeiros estudos científicos na área da administração, criando, respectivamente, os Princípios da Administração Científica e a Teoria Clássica, que compõem a Escola Clássica de Administração. Taylor enfatizou aspectos referentes à ‘tarefa’ e Fayol dedicou-se ao estudo da ‘estrutura’. 1 Trabalho apresentado ao NP 05 – Núcleo de Pesquisa ‘Relações Públicas e Comunicação Organizacional’, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da INTERCOM, no XXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Doutorado em Comunicação Social (Programa de Pós-Graduação em Comunicação, FAMECOS/PUCRS). Professora do Departamento de Relações Públicas da FAMECOS/PUCRS e Coordenadora da Assessoria de Comunicação Social da Fundação de Economia e Estatística (FEE), da Secretaria da Coordenação e Planejamento do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. 2 Taylor vislumbrava a inclusão de uma escala de assessoramento na hierarquia da organização, na medida em que apontava a necessidade de haver uma atividade sistemática de planejamento a ser realizada por um grupo de pessoas que pensariam nas formas de realização das tarefas. Taylor (1990, p. 90) indicava a função desse grupo, ao afirmar que “estes homens têm necessidade de passar a maior parte de seu tempo na seção de planejamento, porque devem estar ao lado dos registros e dados que continuamente usam em seu trabalho e porque este trabalho requer tranqüilidade de ação”. Com isso, Taylor definia uma divisão de trabalho distinta do “trabalho de linha”. Por sua vez, Fayol, ao observar a estrutura da organização como um todo, descrevia como deveria se formar o “corpo social” de uma empresa de sociedade anônima e, nessa visão, propôs o nível de assessoramento à Direção-Geral. Fayol definiu a Direção-Geral da estrutura organizacional como aquela “encarregada de conduzir a empresa ao seu objetivo, procurando obter o maior proveito possível dos recursos de que ela dispõe. É o poder executivo” (FAYOL, 1996, p. 88). Ao mesmo tempo em que este teórico apresentou tal definição em sua obra clássica sobre administração industrial e geral, atrelou a idéia de que a direção-geral necessita ser auxiliada por um “estado-maior”. O autor importou, do Exército, a expressão “estado-maior”, adotando-a para designar “um grupo de homens dotados de força, competência e tempo, atributos que podem faltar ao diretor-geral: é um auxílio, um reforço, uma espécie de prolongamento da personalidade do chefe” (FAYOL, 1996, p. 89). Com isso, os agentes do estado-maior da empresa tinham o compromisso de dar o suporte necessário ao diretor-geral, quando este não se encontrasse em condições de desempenhar, ele próprio, todas as obrigações de seu cargo, incluindo-se, aí, questões referentes a tempo e conhecimentos. Esse breve registro histórico, quando se apresentam as propostas pioneiras de administração e organização assinadas por Taylor e Fayol, justifica-se, à medida que se reconhece, a partir dessas primeiras expressões, a necessidade de níveis de assessoramento na hierarquia administrativa, cujas funções, desenvolvidas nesta linha, são identificadas como imprescindíveis na estrutura da organização, oferecendo suporte às ações da Direção. Para Koontz e O’Donnell (1973, p. 348), “o conceito de assessoria é, provavelmente, tão velho quanto a própria organização”, vinculando-se, em sua origem, às esferas política, militar e eclesiástica e, posteriormente, à esfera empresarial. 3 Os autores ensaiam uma definição sobre o trabalho da assessoria na organização: O trabalho completo da assessoria implica a apresentação de uma recomendação clara, baseada na plena consideração de um problema, em entendimentos com as pessoas essencialmente afetadas, sugestões sobre como evitar possíveis dificuldades, e, muitas vezes, preparo de trabalhos escritos [...] de maneira que o gerente possa aceitar ou rejeitar a proposta sem maiores estudos, conferências demoradas ou trabalho desnecessário (KOONTZ; O’DONNELL, 1973, p. 378). Em vista de sua função junto à cúpula diretiva, o assessor precisa apresentar um perfil que lhe possibilite o trânsito entre os demais setores da organização, pois o mesmo tem representatividade sem, no entanto, ter autoridade formal sobre outras unidades, pois desempenha um trabalho de bastidores. Nessa evolução, o papel do assessor está relacionado com o planejamento e o controle das ações da organização, diagnosticando problemas e apontando caminhos para solução. Na especificidade da atuação do assessor na empresa, Koontz e O’Donnell (1974, p. 379) apontam o trabalho de assessoria como meio de vida da organização, afirmando que “sua responsabilidade consiste em criar e manter um clima de relações pessoais favoráveis”, intermediando decisões e ações da direção junto aos públicos vinculados à organização, e encaminhando, neste sentido, para as ações de comunicação social. Breve histórico sobre a origem das assessorias de comunicação O surgimento da atividade de assessoria de comunicação social não obedece a uma seqüência cronológica na ordem dos marcos referenciais. Entretanto, é pertinente o resgate, a partir de revisão bibliográfica, das datas, episódios e fatos históricos que semearam as ações comunicacionais nos moldes de assessorias hoje conhecidas. A história das assessorias de comunicação confunde-se, em sua origem, com a história da atividade de relações públicas, vista como mediadora de ações comunicativas entre organização e respectivos públicos. Como primeiro registro formal da história das relações públicas, Andrade (1993) e Wey (1986) apontam o manuscrito de Thomas Jefferson (Presidente dos Estados Unidos) que, em 27 de outubro de 1807, encaminhou mensagem ao Congresso norte-americano, apresentando seu Plano de Governo para o exercício de 1808. Nesse documento, o então Presidente americano 4 utiliza o termo “relações públicas”, enfatizando a necessidade de o Governo prestar contas ao povo. Wey (1986) assinala o surgimento da atividade de relações públicas nos Estados Unidos após a Guerra da Secessão3, quando, a partir deste momento histórico, seguem-se 25 anos de grande desenvolvimento industrial. Com isso, no pós-guerra, “audaciosos empreendedores do Norte tiraram proveito das inúmeras oportunidades para especulação de terra, construção de estradas de ferro e exploração de recursos minerais” (WEY, 1986, p. 29), fortalecendo a competição amparada pelo poder público para proteger interesses econômicos.Nesse período, frente a uma excessiva competitividade, alguns industriais apostam qualquer empreendimento para atingir suas metas e eliminar a concorrência. Segundo Andrade (1993, p. 57), nessa época, cria-se, nos Estados Unidos, “um ‘estado de guerra’ entre as grandes empresas e a opinião pública”. Um dos casos mais famosos que ilustra essa situação é atribuído a William Henry Vanderbilt, magnata e um dos criadores das ferrovias americanas, que tinha, como lema, “the public be damned” (o público que se dane) (WEY, 1986, p. 30). Essa foi a resposta dada pelo industrial a um repórter do jornal nova-iorquino Times, quando interrogado sobre a suspensão do percurso de trens em um ramal ferroviário que apresentava “contínuo déficit operacional” (PINHO, 1990, p. 25). Frente a uma reação negativa da opinião pública, surge, nesta época, o jornalismo de denúncia, e os grandes capitalistas, então denunciados, são acusados e sentem a necessidade de se defenderem perante a sociedade. No início do século XX (1906), o jornalista Ivy Lee é contratado para prestar assessoria a empresários, no intuito de auxiliá-los “a corrigir sua atitude para com a opinião pública e para a divulgação de informações favoráveis às empresas, pela imprensa informativa” (WEY, 1986, p. 31), preocupando-se com a formação da imagem pública dos assessorados. Inicia-se, então, a prática de produzir e distribuir notícias e informações sobre empresas, para “publicação em caráter jornalístico e não como anúncios ou como matéria paga” (PINHO, 1990, p. 25), procurando resguardá-las de possíveis denúncias. Estabelecendo uma sistemática para atender a demandas de imprensa, Ivy Lee, com formação jornalística, é chamado “pai das relações públicas”. Para Duarte (2002), Lee é 3 A Guerra da Secessão foi a Guerra Civil Americana (1861-1865) entre os Estados do Norte (União) e os do Sul (Confederação). As divergências econômicas entre o norte industrializado e o sul agrícola, amparado no trabalho escravo, transformaram-se em rivalidade política entre abolicionistas e escravocratas. 5 considerado um “divulgador” e sintetiza, em sua atuação como interlocutor entre organização e sociedade, a mescla das ações de relações com a imprensa e com os públicos, que se encontra na composição das assessorias de comunicação social. No Brasil, as relações públicas, aqui entendidas como embrião das assessorias de comunicação, têm seu primeiro marco registrado em 30 de janeiro de 1914, quando é criado o Departamento de Relações Públicas da The San Paulo Tramway Light and Power Company Limited (Companhia de Eletricidade de São Paulo), empresa canadense estabelecida no Brasil. Este Departamento ficou sob a responsabilidade do Engenheiro Eduardo Pinheiro Lobo, considerado, então, “pai das relações públicas no Brasil” (ANDRADE, 1993; WEY, 1986) e tinha, como objetivo, “cuidar das relações da companhia com os seus usuários e dos contatos com autoridades municipais e estaduais” (PINHO, 1990, p. 26). A evolução das ações no campo dos relacionamentos entre organização e públicos é destacada por Amaral (2003, p. 59): As relações públicas mudaram da atitude de ‘o público que se dane’ ou ‘que o público seja enganado’, preponderantemente no século XIX, para ‘que o público seja informado’, na virada do século, e finalmente para ‘que o público seja compreendido’, quando, no pós-guerra, os assessores de relações públicas passaram a ajustar clientes e público. Assim como é possível relacionar a atividade das assessorias de comunicação com a história das relações públicas no âmbito empresarial, cabe, igualmente, uma referência quanto à trajetória dessas assessorias na seara governamental. Da mesma forma que a atividade proliferou na esfera privada, nos governos não foi diferente. Segundo Lorenzon e Mawakdiye (2002, p. 8), os governos sentiram-se tão pressionados quanto os grandes conglomerados, e “fizeram pipocar departamentos de relações públicas em todos os órgãos governamentais importantes, principalmente nas áreas econômica e militar”. Os autores explicam que esse movimento logo permitiu que os governos percebessem que a função de assessoramento, traduzida pelas relações públicas, não precisava se limitar a um “papel defensivo”, de mero esclarecimento à opinião pública. Essa nova visão concorre para uma mudança de olhar sobre as atribuições dessas assessorias. Para Andrade, há um entendimento de que a atividade de assessoramento em relações públicas surge antes na área governamental, contrariando a idéia de que tenham aparecido inicialmente junto às empresas privadas. Para o autor, “parece óbvio que os serviços de 6 informação, em qualquer um de seus aspectos, sempre aparecem e aparecerão no âmbito governamental, em caráter prioritário” (ANDRADE, 1993, p. 77). Alguns autores (KOPPLIN E FERRARETTO, 2001; AMARAL, 2003; CHAPARRO, 2003) registram iniciativas de presidentes norte-americanos no estabelecimento de medidas para assessoramento na área da comunicação em seus Gabinetes. Citam George Washington4, que se preocupava com a divulgação de informações, Andrew Jackson (eleito em 1828 e reeleito em 1832), que organizou o Setor de Imprensa e de Relações Públicas da Casa Branca, além de Theodore Roosevelt (assumiu em 1901 e foi reeleito em 1904) e Thomas Woodrow Wilson (eleito em 1912 e reeleito em 1916) que se preocuparam com a imagem, recorrendo a “entrevistas coletivas e releases”, com o objetivo de obter apoio público para os objetivos da guerra. Ainda nos Estados Unidos, cabe registrar a liderança de Franklin Delano Roosevelt (presidente eleito em 1933 e reeleito três vezes – 1936, 1940 e 1944), que se destacou como “líder carismático” no trato das questões de opinião pública para reorganização da vida política e econômica de seu país. No Brasil, a criação da Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República5 (AERP) projetou a atividade na área governamental, com a finalidade principal de promover e popularizar a imagem do Governo Militar na época. Matos (1999, p. 59) ressalta que essa ênfase nas ações de relações públicas “diferenciou-se da propaganda política mais tradicional e conhecida até então”. A criação da AERP teve a função de “preencher o espaço comunicativo entre o governo e a população, coordenando e, progressivamente, centralizando os fluxos de mensagem entre o executivo e a sociedade” (MATOS, 1999, p. 61). A partir da criação da AERP, criou-se um modelo comunicacional que se estendeu “para governos estaduais e municipais, bem como para empresas de grande porte, em particular as estatais” (CHAPARRO, 2003, p. 43). Nesses episódios, que marcaram a trajetória inicial da história das assessorias de comunicação no âmbito governamental, observa-se, em geral, a agregação das atividades de relações públicas, jornalismo e publicidade, compondo ações integradas de assessoramento oficial na área da comunicação social. Em uma análise histórica mais recente, Torquato (2002, p. 3) explica que “nas décadas de 1970 e 1980, a comunicação já assume a escala de posicionamento estratégico nas organizações”, 4 Primeiro presidente dos Estados Unidos (1789-1797). 5 A AERP foi criada em 15 de janeiro de 1968, através do Decreto n. 62.119, “com competência para administrar toda essa atividade no âmbito do Poder Executivo” (KUNSCH, 1997, p. 26). 7 abrindo-se espaços, na mídia, para as organizações. Nesse processo, os assessores de comunicação atuam como mediadores entre organização e repórteres, configurando-se, num plano mais amplo, como interlocutores junto à opinião pública, através da atividadede imprensa. As áreas da comunicação nas assessorias O processo comunicacional encontra-se presente em todas as ações, expressas ou não, do ser humano, e, em se tratando de organizações sociais, é necessária a interlocução permanente entre estas e seus diferentes públicos. Ianhez (2001, p. 155) endossa essa idéia, ao afirmar que “a administração das organizações é, na sua essência, uma ampla gama de relações entre pessoas, o que significa comunicação”. O autor argumenta, ainda, que, em uma organização, a comunicação é a “essência da administração”, pois, através dela, busca-se a compreensão, tornando-se, assim, um fundamento para o desempenho das funções administrativas. A partir dessa perspectiva, reafirma-se a necessidade de as organizações disporem de um programa efetivo de comunicação, que contemple tanto os processos internos quanto externos, promovendo ações institucionais que construam pontes entre a administração e seus colaboradores, e entre a organização e a sociedade, esta representada pelos públicos vinculados. Para tanto, o campo da comunicação social, ligado às organizações, abarca as três grandes searas de conhecimento que o compõem: as relações públicas, o jornalismo e a publicidade e propaganda. Cabe, para essa discussão, uma breve revisão sobre os campos de atuação dessas três áreas, enquanto integrantes de um conjunto interligado pelo mesmo fio condutor: a comunicação. Com referência às relações públicas, a ABRP6 baseia-se no Art. 1º, do Capítulo, I do Decreto n. 63.283 da legislação federal que regulamenta o exercício da profissão, definindo relações públicas como a atividade e o esforço deliberado, planificado e contínuo para estabelecer e manter a compreensão mútua entre uma instituição pública ou privada e os grupos de pessoas a que esteja direta ou indiretamente ligada (BRASIL, 1968). Embora essa definição ainda represente um marco conceitual para as relações públicas, a ampliação de seus campos de atuação e o desenvolvimento de estudos e pesquisas, foram, gradativamente, modificando essa primeira concepção, agregando valores à função. 6 Associação Brasileira de Relações Públicas. 8 Conforme é assinalado por Kunsch (2003, p. 91), nas últimas décadas o panorama mudou. Com o fortalecimento da sociedade civil, a valorização do terceiro setor, o crescimento do número de organizações não- governamentais (ONGs), além da existência de inúmeras outras entidades com ou sem fins lucrativos, as possibilidades aumentaram muito. Dessa forma, é bastante amplo o campo a ser explorado pelas relações públicas e, conseqüentemente, são bem vastas as exigências que lhe são postas. Pode-se incluir, então, tanto ações relacionadas com a área política como com responsabilidade social, envolvendo relacionamentos com públicos e formação de opinião pública7. As definições abrem-se em leque, permitindo o reconhecimento das relações públicas em diferentes âmbitos de ação. Kunsch apresenta essa abrangência a partir de seu objeto, pontuado pelo binômio ‘organização-públicos’, enfatizando o papel das relações públicas em “administrar estrategicamente a comunicação das organizações com seus públicos, atuando não de forma isolada, mas em perfeita sinergia com todas as modalidades comunicacionais” (KUNSCH, 2003, p. 166). Com essa perspectiva, Kunsch (2003) entende que a área das relações públicas é responsável pela promoção e administração dos relacionamentos, baseando-se em estratégias e programas de comunicação adequados às diferentes situações que se apresentam. A autora advoga, ainda, que as relações públicas se aplicam a qualquer tipo de organização, “tradicionalmente mais centradas no âmbito empresarial e governamental” (KUNSCH, 2003, p. 90). Nesse contexto, as Relações Públicas têm função característica de gerenciamento, estabelecendo canais de comunicação com seus respectivos públicos, os quais demandam uma reavaliação e reprogramação sistemática, a fim de permanecerem efetivamente abertos para que se mantenham os fluxos comunicacionais. Paralelamente, Simões (1995) propõe uma visão política da função das relações públicas, salientando que “a finalidade última (ou primeira) das Relações Públicas é de, através da legitimação de sua autoridade de poder de decisão, influenciar os mercados para iniciar, expandir e manter as trocas com a organização, a fim de manter sua existência” (SIMÕES, 1995, p. 213). Nesse patamar, as relações públicas ligam-se às relações de poder da organização, no gerenciamento de controvérsias e crises que se desenvolvem tanto no seu ambiente interno 7 Neste texto, entende-se por Opinião Pública a soma de imagens e conceitos que os elementos do público têm sobre a organização ou sobre uma pessoa pública. 9 quanto externo, consistindo na “gestão da função organizacional política” (SIMÕES, 2001, p. 51). Agrega-se, a essas propostas conceituais, a Resolução Normativa n. 43 do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (CONFERP) (2002) que define as funções e atividades privativas dos profissionais de relações públicas, atualiza e promove maior amplitude para ações da área, ao mesmo tempo em que delineia o campo de sua atuação. Trata-se de mais um instrumento legal que vem ao encontro das relações públicas, sedimentando e legitimando suas funções, entre as quais o relacionamento com a mídia, enquanto prestadora de serviços de assessoria. Neste particular, ressalta-se que, tanto no que diz respeito à qualificação acadêmica do profissional de relações públicas, quanto no que se refere ao elenco de ações descritas por Lopes (1995), as relações públicas apresentam maior afinidade e abrangência para atuar em assessorias de comunicação. O autor discorre sobre essas atribuições e comunga com a idéia de trabalho conjunto entre as áreas da comunicação, enriquecendo programas a serem implantados em organizações assessoradas. Na seqüência, contempla-se a área do jornalismo, integrante do tripé da comunicação, ao lado das relações públicas e da publicidade e propaganda. Enquanto as relações públicas utilizam a informação como matéria-prima de seu trabalho de integração interna e externa da organização (SIMÕES, 1995), o jornalismo produz informação para prover a sociedade de conhecimento acerca de acontecimentos de interesse geral. Para Bahia (1990, p. 9), a palavra jornalismo quer dizer “apurar, reunir, selecionar e difundir notícias, idéias, acontecimentos e informações gerais com veracidade, exatidão, clareza, rapidez, de modo a conjugar pensamento e ação”. O autor acrescenta que, à medida que o jornalismo congrega a comunidade, ele assume uma condição de “intermediário da sociedade”. Na seara do jornalismo, discutem-se questões acerca das responsabilidades pertinentes a essa área, cuja função primeira é a de informar para a sociedade o que acontece na comunidade, no país ou no mundo, além de possibilitar, a cada cidadão, o acesso ao conhecimento e à reflexão sobre fatos de diferentes naturezas. O jornalista, visto como divulgador de informação, elabora a notícia, a qual contém características próprias de ser um relato objetivo de fato ou acontecimento recente, preferencialmente inédito, e que envolve algo de interesse para a sociedade como um todo ou para públicos específicos (leitor, telespectador ou ouvinte). Tradicionalmente, a noção do 10 trabalho jornalístico encontra-se no âmbito da mídia. O profissional, segundo a própria legislação, atua em redação, produção, edição, reportagem, comentário e entrevista, entre outras atividades, sendo responsável pelas atividades-fimde qualquer meio de comunicação social impresso ou eletrônico. O jornalismo, entretanto, não se limitou à sua vinculação em veículos de comunicação e passou a atuar junto a organizações sociais, desenvolvendo atividades de assessoramento aos elementos que, originalmente, eram suas fontes. Lorenzon e Mawakdiye (2002, p. 12) assinalam que “hoje, não há órgão público, companhia de grande porte, entidade empresarial ou sindical que não tenha pelo menos um assessor para prestar informações aos jornalistas ou fazer a intermediação de entrevistas”, conferindo a esse profissional a habilitação no relacionamento entre fontes e veículos de comunicação. O terceiro foco da comunicação está voltado para a publicidade e propaganda. Para Gomes (2001), trata-se de dois termos usualmente utilizados erroneamente como sinônimos, mas que trazem diferenças conceituais. Os dois termos comportam capacidade informativa, dotada de força de persuasão; entretanto, a diferença se estabelece à medida que a publicidade tem caráter comercial e a propaganda apresenta caráter ideológico. Gomes (2001, p. 115) explica que a publicidade é definida como “atividade mediante a qual bens de consumo e serviços que estão à venda se dão a conhecer, tentando convencer o público das vantagens de adquiri-los”, ao mesmo tempo em que busca criar novos hábitos ou reforçar antigos hábitos de consumo. Para a autora, a publicidade sempre vem identificada pelo respectivo patrocinador, qualquer que seja o tipo de espaço ocupado para o anúncio ou campanha. Quanto à propaganda, Gomes (2001, p. 117) define como “o controle do fluxo de informação, direção da opinião pública e manipulação — não necessariamente negativa — de condutas e, sobretudo, de modelos de conduta”. A propaganda induz a uma concepção de modo de informação persuasiva, devidamente organizada e orientada para influir e influenciar intencionalmente as atitudes (opiniões e ações) de outras pessoas ou grupos de pessoas, previamente definidos e segmentados como alvos da mensagem. A propaganda não necessita, obrigatoriamente, de patrocinadores para ser difundida, mas ela está indiretamente contemplada nos anúncios de publicidade, à medida que eles também formam atitudes. 11 As ações de publicidade e propaganda encontram-se estruturadas em agências próprias, cujos profissionais agem em setores específicos, a partir de sua qualificação. Assim, pela sua natureza, agências de publicidade e propaganda são contratadas e trabalham para as organizações, complementando ações de assessoramento em comunicação social, ao lado das relações públicas e do jornalismo. A essa reflexão, junta-se o fato de que nem sempre uma assessoria de comunicação social necessita contar com programas publicitários para seu assessorado e, em se tratando de órgãos públicos, as contas de publicidade são centralizadas e visam a difundir campanhas institucionais de interesse para a comunidade. Numa assessoria de comunicação, o trabalho da área da publicidade e propaganda resume-se em planejar, administrar campanhas, coordenar, supervisionar e acompanhar os serviços desenvolvidos por agências contratadas, responsáveis pelo desenvolvimento efetivo de programas publicitários demandados. A partir dessa exposição, o presente texto discute e abarca, prioritariamente, as áreas das relações públicas e do jornalismo, considerados os papéis desempenhados por esses profissionais junto às assessorias. Nessa direção, a própria definição de assessoria de comunicação contém e congrega a assessoria de relações públicas e a assessoria de imprensa, colocando-se ambas em um patamar de ações conjuntas. A necessidade de estabelecer relações de entendimento entre as organizações e a mídia faz parte da história das assessorias de comunicação, protagonizada pelo ex-jornalista Ivy Lee, que deu a abertura necessária para o surgimento das relações públicas, área em que atuou ao longo de sua vida profissional. Em sua origem, as relações públicas representam o berço das assessorias de comunicação social, mas, pela própria trajetória inicial, em que priorizou o relacionamento com a mídia, esse espaço foi, gradativamente, sendo ocupado por profissionais do jornalismo, cuja legislação, originalmente, dizia respeito tão somente à atuação da categoria em veículos de comunicação de massa. A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) (2001, p. 28) reconhece que “embora a função de assessor de imprensa ainda não esteja elencada na legislação que regulamenta a profissão”, os profissionais encontram-se amparados legalmente para exercerem suas ações em assessorias. 12 Inicia-se, assim, uma discussão relativa à delimitação de áreas, em que a própria FENAJ (1994, p. 10) alerta que [...] são freqüentes as confusões criadas pelos assessorados e até por profissionais da área de comunicação social — quais sejam, jornalistas, relações públicas e publicitários —, que não fazem distinção entre as atividades de uns e de outros. Isso só ocorre em duas circunstâncias: por desconhecimento das características de cada profissão ou por deliberada intenção de fazê-lo. [...] Uma adequada política de comunicação social permite não apenas a coordenação dos setores nela envolvidos (AI, RP, PP), mas elimina desperdícios e superposições, invasões e conflitos de competência, erradicando desgastes improdutivos. A mesma instituição (FENAJ) apresenta sugestão para a definição de áreas dentro de uma estrutura que contemple as relações públicas, imprensa e publicidade e propaganda, hierarquicamente nivelados, atribuindo ações pertinentes a cada área de atuação. Entretanto, ressalte-se que, ao publicitário, cabe o exercício da representatividade junto a agências, com atividades específicas já abordadas. Quanto ao jornalismo e às relações públicas, permanece o impasse, pois, conforme Duarte (2002, p. 2), “no Brasil, as profissões de jornalista e de relações públicas possuem uma sobreposição, uma região de sombras”, que encerra discussões recorrentes. Mesmo com essa perspectiva, é possível considerar uma nova proposta quanto à atuação conjunta de jornalistas e de relações públicas lotados em assessorias de comunicação. Lopes (1995, p. 19) resume as atribuições do assessor jornalista, dizendo que tem, como tarefa, “administrar informações jornalísticas das fontes para os meios de comunicação e vice- versa nas áreas pública e privada”. Para entender a dimensão das assessorias de comunicação social no âmbito organizacional, Duarte (2002, p. 4) explica: Profissionais de jornalismo e relações públicas coexistem nas organizações públicas e privadas, com muita variação de áreas de atuação. Na prática, assessores de imprensa (jornalistas) passam a agir numa faixa da atividade de relações públicas e é cada vez mais comum coordenarem sistemas de comunicação complexo s. Por conta dessa discussão, percebe-se a utilização da expressão assessoria de imprensa ao invés de assessoria de comunicação, prejudicando o entendimento sobre sua abrangência. A partir das considerações acima expostas, é relevante que se tenha clareza ao buscar um conceito amplo para a assessoria de comunicação social. Assim, entende-se as assessorias de comunicação social como núcleos responsáveis por estabelecer e manter um canal permanente de comunicação entre a organização e os diferentes 13 públicos com os quais se relaciona, desempenhando uma atividade de ponta. Para tanto, os assessores desempenham papel de ‘facilitadores’ para permitir maior interlocução entre a organização e esses públicos. Utilizando instrumentos próprios para agilizar e qualificar essa relação, os assessores mantêm abertos os canais entre a organização e a mídia, assimcomo todos os meios de diálogo com os públicos interno (colaboradores) e externo (todos os segmentos de pessoas que afetam e são afetados pelas ações da organização). Nesse processo, a assessoria de comunicação torna-se responsável pela administração da informação, divulgando e contribuindo para a formação favorável da imagem pública da organização assessorada. Os profissionais de relações públicas e de jornalismo, atuantes em assessorias de comunicação social, ao promoverem a organização, concorrem para o desempenho de atividades conjuntas, assumindo papéis complementares. Nas assessorias de comunicação social de órgãos públicos, consideram-se as questões que dizem respeito às características da administração pública. Na esfera pública, há a necessidade permanente de prestação de informações à sociedade, estabelecendo uma interlocução contínua com o cidadão contribuinte. Lopes (1995) refere-se às diversas instituições públicas e às múltiplas empresas do setor privado, explicando que, mesmo possuindo características próprias, têm interesses semelhantes no campo da comunicação. O autor aponta as seguintes atribuições básicas de uma assessoria de comunicação social, aplicáveis a organizações de qualquer natureza: Facilitar o acesso dos grupos externos às realizações de uma empresa ou instituição, por meio de uma linguagem simples e organizada, mediada pelos meios de comunicação, além de promover a integração e a satisfação de segmentos internos que convivem e sustentam essas duas estruturas organizacionais (LOPES, 1995, p. 9). Resume sua definição sobre assessoria de comunicação social, dizendo que se trata de “um setor especializado que busca permanentemente o aprimoramento dos fluxos de comunicação no interior das organizações e perante a opinião pública” (LOPES, 1995, p. 9). Em realidade, as assessorias de comunicação social se instalaram no cotidiano de muitas organizações. A partir do momento em que organizações, públicas ou privadas, percebem a relevância em dispor de projetos que organizam e auxiliam a administrar a comunicação na instituição, cabe aos profissionais qualificados para o exercício da função de assessoria, ampliarem sua compreensão quanto à importância no desenvolvimento de ações conjuntas entre 14 as três áreas. Com isso, somam-se conhecimentos, os projetos se enriquecem, e os profissionais exercitam entre si todas as suas potencialidades de integração comunicativa. Observação da autora: O presente texto é parte da Tese de Doutorado em Comunicação intitulada “As assessorias de comunicação social na esfera pública estadual: práticas profissionais e contribuição para o processo comunicacional no Governo do Estado do Rio Grande do Sul”, defendida em abril de 2004, junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (FAMECOS/PUCRS). Referências Bibliográficas AMARAL, Luiz. Assessoria de imprensa nos Estados Unidos. In: DUARTE, Jorge (org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2003. ANDRADE, Cândido Teobaldo de. Para entender relações públicas . 4. ed. São Paulo: Loyola, 1993. _______________. Curso de relações públicas . 6. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003. BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo. 4. ed. São Paulo: Ática, 1990. BUENO, Wilson da Costa. 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