Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Resumo IED – Felipe Dias Ferreira Parte 2 - Ciências Jurídicas As ciências jurídicas visam estudar o Direito em si, porém, não se limitam apenas às relações jurídicas, à medida que nelas se adicionam o estudo da conduta humana, não como um todo, mas no que tange comportamentos conseqüenciais às relações jurídicas. Ou seja, só é estudado de comportamento humano no Direito as relações humanas enquanto relações jurídicas. - Teoria Jurídica Estática e Dinâmica Para Kelsen, o que diferencia uma da outra está em seu objeto de estudo direto. A primeira se foca no Direito como sistema de normas em vigor, ou seja, o direito em um momento estático, enquanto a teoria dinâmica trata dos processos em que o Direito é produzido e aplicado. Porém, como é característica autorregulatória do Direito se estruturar e estruturar seu próprio processo de formação, dizemos que a teoria dinâmica também estuda o Direito como um conjunto de normas, porém, apenas aquelas destinadas à produção e aplicação do mesmo. - Ciência Natural e Ciência Social Quando lidamos com a distinção de Ciência Natural e Ciência Social, devemos observar a fonte e a forma de estudo de cada uma delas. A primeira tem como plano de estudo os fenômenos naturais e estabelece uma observação no campo de causa e efeito dos elementos naturais que se relacionam uns com os outros. Damos a esse método de estudo o nome de causalidade. Essa ciência estuda, por exemplo, como se dá o aquecimento de um metal e sua posterior dilatação por meios causais. Já na esfera de relações humanas devemos estudar suas interações de uma outra maneira. A sociedade humana é inerente e exclusiva da humanidade, logo, a ciência social se difere da natural por sua particularidade de objeto, a normatização, ser exclusiva da conduta humana. Porém, não podemos deixar de lado o homem como ser natural e explicar algumas de suas relações como causa e efeito. Logo, em certo grau, as ciências sociais não podem ser consideradas totalmente distintas da ciência natural. Porém, os atos de conduta humana também se conexionam com outros fatores alheios à perspectiva da causalidade, que é a conduta humana quando submetida à normas, fator esse ainda intangível para se classificar, mas existente. Sabemos que a sociedade é uma ordem diferente da natureza, logo, o fenômeno social pode ser estudado em paralelo apenas à ciência natural. - Superestrutura, Ideologia e Base No texto, vemos a citação de uma dinâmica de estruturação da sociedade proposta por Gramsci a partir da teoria Marxista, que foi interpretada por Miaille posteriormente. Para este último, assim como os primeiros, a sociedade se define a partir de um modelo de interação contínua entre a base e a superestrutura, permeadas em seus limites por uma camada ideológica. Para explicarmos esse conceito, começamos por definir superestrutura, que se define como estruturação da sociedade, seus preceitos, pactos sociais, leis e concepções. É tudo aquilo que é "aceito" como verdade na sociedade. Essa aceitação vem da interpretação dos fatos que ocorrem na realidade, o que é chamado de base. Para Miaille, a base da sociedade se constitui nas trocas comerciais e na produção de bens, fatos esses que geram toda a concepção de nossa sociedade. Para transpor de uma camada a outra, ou seja, para que a sociedade aceite uma interpretação da realidade como verdade, é necessário que valores sejam agregados a essa visão da realidade para que ela vire ponto comum de entendimento. Esses valores podem ser de caráter religioso, científico, doutrinário ou qualquer concepção que agregue valor a um fato. Essa camada de valoração é chamada de ideologia, responsável por transformar a realidade da base em um ponto comum na sociedade superestrutural. Ela age como um véu, que permite que tenhamos uma visão limitada da realidade que é transposta para a sociedade. No caso concreto, por exemplo, tomemos o exemplo do aborto. Ele é um fato, que significa que alguma mulher interrompeu sua gravidez. Não há qualquer concepção na realidade, ou seja, na base, que diga que isso é bom ou ruim, ele é simplesmente um fato. A sociedade pode enxergar o aborto como algo bom ou ruim de acordo com qual ideologia seja a que aquela sociedade adota. Se uma sociedade é pautada pela ideologia de que o aborto é ruim, por motivos religiosos, doutrinários, éticos, dentre outros, para essa sociedade se estabelece uma regra social, ou até mesmo legal, que condene essa prática. Ou seja, o que é permitido ou considerado como certo na superestrutura depende da ideologia utilizada para se enxergar a base. Vemos então uma grande responsabilidade no âmbito da ideologia, que é quem define a superestrutura. A crítica apresentada é a que como são poucos os que definem em esfera ideológica o que é transmitido em nível superestrutural, existe um poder muito grande nas mãos dessa "hegemonia", que define, por seus interesses, sua ideologia como a que é seguida e regulamenta a sociedade. Quem define que o aborto é crime não é a sociedade como um todo, mas um grupo hegemônico seleto que transmite seus valores para a sociedade em níveis conjunturais e estruturais, ou seja, não apenas em opinião e costumes, mas também em leis. - Direito e Estado Existem duas linhas de pensamento que permeiam a relação entre Estado e Direito, a Monista e a Dualista. A primeira, onde está enquadrado Kelsen, não compreende a separação entre Direito e Estado, já que Direito, por definição, é o conjunto de normas que preza o bem comum, e o Estado é o órgão responsável por garantir o bem comum de acordo com Direito, sendo impossível separar as duas concepções. Já os Dualistas entendem a separação dessas duas esferas e estudam a relação de poder entre elas. Alguns valoram mais o poder do Estado sobre o Direito e outros o contrário, porém, ambos defendem que são instituições independentes, por mais que dialoguem em algum nível. - Legitimidade e Legalidade Uma norma ou ordem política não se aplicam única e exclusivamente pelo uso da força, elas precisam de outros parâmetros de aplicabilidade. Temos então a figura da Legitimidade e da Legalidade. A Legitimidade traz consigo um caráter valorativo, ou seja, se há razão pela qual a norma exista, se há um consenso de ideais, fundamentos, crenças, ou seja, no que se considera justo o que está sendo normatizado. Já a Legalidade dá a adequação da norma às leis, ou seja, se a norma está de acordo com os preceitos jurídicos vigentes e também a hierarquia das normas. Historicamente esses conceitos foram muito confundidos em períodos históricos diferentes, mas temos a separação marcante dos mesmos em nosso direito atual. Não necessariamente uma norma é legítima, mas sempre tem que ser legal, pois senão perde o objeto da norma em si. A valoração de justiça não necessariamente se aplica a todas as normas, porém, é possível que legitimidade e legalidade estejam presentes ao mesmo tempo. - Sujeito de Direitos O conceito de Sujeito de Direito, na visão de Miaille, se define por aquele cidadão que está em pleno exercício de seus direitos e pode acessar os mesmos se os facultar. Ou seja, é o indivíduo que possui direito subjetivo a clamar. Porém, dada a configuração desigual da sociedade, é criada outra categoria, a de Sujeito Virtual de Direito, pois nem todos os indivíduos de um Estado têm acesso, na prática, a esses direitos subjetivos que deveriam ser disponíveis para todos os cidadãos que contribuem com seus deveres para com o Estado. Vê-se, então, uma grande disparidade entre os sujeitos de direito e os sujeitos virtuais de direito, onde os primeiros são minoria privilegiadaque conseguem ter acesso a todos seus direitos subjetivos sem barreiras. Um Estado considerado de Direito é aquele que possui meios de minimizar a existência de sujeitos virtuais de direito e ter uma maior parcela de sujeitos de direito de fato. Um Estado mede sua intensidade em se configurar em Estado de Direito o quão mais palpável é para o indivíduo em concretizar sua faculdade de um direito subjetivo, se transformando em sujeito de direito. - Relação Jurídica O que se estabelece dentro do Direito são as Relações Jurídicas. Essa definição está muito ligada à bilateralidade do direito, ou seja, que a relação jurídica é uma relação que liga duas ou mais pessoas, uma relação intersubjetiva. Elas podem estar ligadas por uma pretensão resistida (em que uma parte não aceite o que a outra afirma) ou não, voltada para um fato ou objeto jurídico. Toda relação jurídica terá uma proporção entre o credor e o devedor de direitos e deveres. Esses sujeitos podem ser categorizados em três grandes categorias: Pessoas Físicas, Pessoas Jurídicas e Entes Despersonalizados, que podem ser credores ou devedores dependendo da situação. Pessoa Física é quem nasce com vida. A pessoa jurídica se dá quando ocorre o registro na junta comercial de uma empresa, organização ou entidade. E os entes despersonalizados são normalmente corporificados pelos espólios, que são as ficções jurídicas que substituem a pessoa jurídica ou física quando no seu fim. O que relaciona credor e devedor em suas intensidades de obrigações e deveres é o Fato Jurídico. Ele é o objeto da relação jurídica e determina o tipo de relação estabelecida entre as partes. Esse Fato Jurídico pode ser classificado em dois tipos: um Ato Jurídico ou um Fato Natural. No ato jurídico houve vontade de uma das partes no caso, enquanto no fato natural não há ocorrência de voluntariedade que leve a relação jurídica a ser firmada. O objeto jurídico se define como o bem que deve ser protegido na relação jurídica, o que está sendo julgado como, por exemplo, a vida, a propriedade. Ou seja, em uma relação jurídica de uma tentativa de homicídio, foi cometido o ato jurídico da tentativa de homicídio e o objeto jurídico é a vida. Existem duas categorias desse objeto jurídico. Ele pode ser imediato, ou seja, abordar a conduta humana de dar, fazer ou não fazer; ou mediato, sendo a prestação em si, o bem da vida sobre o qual está em vista na relação jurídica. - Capacidade da Personalidade Jurídica As personalidades jurídicas possuem capacidades, ou seja, as aptidões de contrair direitos e obrigações, porém, nem todas as personalidades jurídicas estão munidas das mesmas capacidades. É chamada de Capacidade Civil Plena a total representatividade e capacidade de uma personalidade jurídica, porém, nem todas as pessoas figuram nessa classificação, podendo estar incapacitadas de contrair alguns direitos e obrigações ou inaptidão de representarem a si mesmas. Essas pessoas figuram a categoria de Capacidade Civil Relativa. - Dever, Faculdade e Obrigação Existem diferenças entre deveres, faculdades e obrigações para entes públicos e entes privados. Pessoas físicas e pessoas jurídicas privadas figuram no princípio da legalidade, onde é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe. Já os entes públicos não possuem o mesmo princípio, sendo regidos pelo princípio da estrita legalidade, onde suas ações são restritas a apenas o que está escrito na lei.
Compartilhar