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2º Semestre COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL Autoras: Rosalice Carvalho e Paula Corrêa de Menezes Leitão APRESENTAÇÃO Caro aluno(a), Para começo de conversa, quero lhe dar boas-vindas pela sua adesão ao Programa de Educação a Distância desta Universidade. Fico feliz com sua chegada aos estudos sobre a Comunicação Organizacional. É sua presença que torna possível nosso trabalho e pesquisa. Somos um grupo, uma equipe da qual fazem parte além de você, o seu (sua) professor(a) e o seu(sua) tutor(a), os seus colegas e, como em qualquer equipe de trabalho, são exigidos dos seus membros, entre outros componentes: confiança, liberalidade, responsabilidade, dedicação, esforço contínuo, companheirismo e, claro, a comu- nicação. Inicialmente, consta do nosso programa uma visão mais ampla do fenôme- no da Comunicação Humana passando para a comunicação oral e escrita e sua aplicação teórico/prática na comunicação empresarial e institucional. Num encer- ramento dos trabalhos, veremos a comunicação integrada e as novas tecnologias e, por último, a comunicação mercadológica. Vale aqui valorizar sua escolha profissional, sua preferência por este curso, através do qual você mesmo vai juntando os tijolos que o ajudarão a construir sua competência técnica ao tempo em que eles cooperam para o seu desenvolvimen- to pessoal e, porque não dizer, para o campo vasto da sua interpessoalidade. Isto porque somos humanos, mas não somos ilhas. E, se não o somos, pre- cisamos de pessoas próximas para que se estabeleça a conversa necessária que contribua tal qual ponte para um estudo individualizado e, ao mesmo tempo, so- cializado com outros estudantes, professores e tutores. Você deve estar ciente de que terá de marcar seu espaço, determinar o seu tempo de dedicação aos estudos, de enfrentamento de dificuldades, de superação de barreiras, de olho no futuro. Aqui você vai poder discutir seus pontos de vista, explanar suas convicções, ouvir o outro no quanto o seu programa de estudo permitir. Só você pode justificar ter escolhido este curso com o olhar direcionado para a sua profissionalização. E, por conta do nosso companheirismo e cumplicida- de neste trabalho conjunto, esperamos poder ouvi-lo muitas vezes e que também, por outras tantas vezes, sejamos ouvidos por você. Para isto, estamos sempre à sua disposição. Boas-vindas e bom trabalho! 111 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al AULA 01 - TEORIA DA COMUNICAÇÃO HUMA- NA Autora: Rosalice Carvalho “Comunicação é a arte de ser entendido. Autor: Peter Ustinov” Prezado (a) aluno (a), Estudaremos aqui a relevância da comunicação humana, com a finalidade de conhecer o processo da comunicação, bem como as características da comunicação oral e escrita, atividades tão presentes no cotidiano e, claro, também presentes nas organizações. Atice sua curiosidade e veja as informações dos links indicados. Agora, vamos à nossa aula e, Sucesso! Este momento é importante por ser o nosso primeiro encontro para o estudo da disciplina Comunicação Organizacional. É bem possível que você já tenha viven- ciado experiências com atos comunicativos na escola ou organização/instituição, as- suntos que veremos em outras aulas mais adiante. Alguns outros itens vão parecer repetitivos, mas você deve lembrar-se de que a insistência é válida para a retomada e/ ou fixação dos assuntos tratados. A COMUNICAÇÃO HUMANA O desenvolvimento da humanidade, no decorrer de toda a sua história, tem como fator importante a comunicação em todo seu simbolismo (signos, sinais) justa- mente pelo fato de ser o homem, por natureza, um ser simbólico e um ser de lingua- gem. O ato de comunicar-se tem um efeito multiplicador que motiva o ser humano a conhecer e utilizar os diversos meios de que dispõe tanto para transmitir ou acumular conhecimentos quanto para criar novas linguagens que o insiram no seu tempo histó- rico. Vale lembrar a forma atualíssima de comunicação, com o uso dos meios midiáti- cos, nos quais circulam as mais variadas mensagens entre pessoas, entre uma pessoa e um grupo e, ainda, entre grupos de pessoas nas chamadas redes sociais. Você deve lembrar-se da variedade de usos da comunicação: falada, escrita, gestual, musical. Na área dos sentidos pode ser vista, ouvida e, ainda, emocionalmen- te percebida, tendo em vista que o cérebro busca relacionar experiências passadas 112 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ para assimilar a informação. Vamos insistir em algo que deve estar guardado na sua memória e agora precisamos desse conhecimento, Se for assunto novo, aproveite para registrá-lo até novas solicitações. De acordo com Vanoye (1987, p. 15), são elementos básicos da comunicação: Emissor: (quem transmite uma idéia, se comunica); Receptor: (indivíduo ou grupo a quem a mensagem é destinada (público alvo). Canal: (meio pelo qual a mensagem é enviada); Código ou Linguagem: (elementos cognitivos em que o emissor ambienta a mensagem para a interpretação pelo receptor); Contexto: situação ou momento a que a mensagem se refere. Segundo Manuel Fernandes Leave (2008), em matéria sobre a comunicação di- recionada para as organizações, qualquer ato comunicativo deve levar em conta os componentes deste mesmo ato, como pode ser visto na figura 1. Figura 1. Processo da Comunicação. Fonte: Adaptado de: http://averdadedamentira.wordpress.com/2008/06/01/a-comunicacao-organizacional/ 113 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al Vejamos como acontece esse processo: a informação sai do emissor, com desti- no ao receptor, por meio de um canal. Essa informação constitui a mensagem. Ao en- viar a mensagem, o emissor a codifica.Ao recebê-la o receptor precisa decodificá- la. A codificação e a decodificação são, na verdade, a compreensão da mensagem. Assim se a decodificação não ocorrer, não há compreensão da mensagem, ou seja, a comunicação não se completa. Feedback é o retorno da mensagem para o emissor - a resposta. Neste mo- mento da resposta, percebe-se o movimento do processo, pois o receptor passa à função de emissor, considerando que ele agora emite a resposta, enquanto que o emissor passa a receber a mensagem. Todo este processo dá-se em um contexto, ou seja, um cenário que interfere sobremaneira no próprio processo comunicativo. Não se esqueça de que para a transmissão e compreensão das ideias, a inter- pretação de uma mensagem baseia-se no repertório cultural, formação educacional, comportamento social e experiências vivenciadas pelo receptor. Assim: [...] dependendo de sua bagagem de vida, experiências e conceitos, cada indivíduo pode fazer uma determinada leitura da mensagem, interpretando-a de acordo com as relações formuladas por seu cére- bro entre a idéia e a forma de transmissão ligando-se a: Objeto: coisas materiais e tangíveis, que possam ser vistas ou to- cadas. Experiências: memórias situações vividas. Um mesmo objeto pode gerar diferentes sentimentos ao ser visto por duas ou mais pessoas. Conceitos: muitas vezes confundidos com a própria realidade, en- volvem idéias, pensamentos, crenças, valores e representações do mundo. Estes esclarecimentos nos vão ser úteis na compreensão das comunicações oral e escrita, tão presentes na nossa vida, conforme veremos a seguir. COMUNICAÇÃO ORAL E COMUNICAÇÃO ESCRITA Você reparou quantas vezes ao dia é solicitado por uma mensagem oral que, logicamente exige uma resposta? Já notou que há momentos que você se comunica com você mesmo? Observe-se: Onde você fala mais? Em casa? Na escola? Ou no trabalho? É que quando conversamos, a comunicação não é só oral, há o olhar, a postura 114 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ corporal, os gestos que complementam a fala e tudo acontece junto com a fala, que é apenas uma parte da comunicação. Veja, como exemplo, a letra da música “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola: – Olá! Como vai? – Eu vou indo. E você, tudo bem? – Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você? – Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe? – Quanto tempo! – Pois é, quanto tempo! – Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios! – Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem! – Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí! – Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe? – Quanto tempo! – Pois é...quanto tempo! – Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas... – Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança! – Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente... – Pra semana... – O sinal... – Eu procuro você... – Vai abrir, vai abrir... – Eu prometo, não esqueço, não esqueço... – Por favor, não esqueça, não esqueça... – Adeus! – Adeus! – Adeus! Ouça aqui a música: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/369176/. Se você não considerar a ideia de dois amigos conversando enquanto o sinal de trânsito abre, fica difícil a decodificação da mensagem. E assim como na música, vamos conversando aos pedaços, perguntando, respondendo, interrompendo, tentando nos lembrar, ges- 115 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ticulando, corrigindo os mal-entendidos, etc., tudo em sentenças muito curtas, muitas vezes fragmentadas. Não há nada de errado nisso: simplesmente é assim mesmo que funciona a fala informal das pessoas. Isto é, a linguagem oral de todos os dias tem um conjunto de re- gras que incluem as pausas, os gestos, a expressão facial, o tom de voz e normalmente conta também com a presença da pessoa com quem falamos, que nos interrompe, nos pergunta, nos faz voltar ao assunto ou sair dele, etc. Reside nestas características da comunicação oral a gama de diferenças para a comunicação escrita. Para substituir a riqueza de recursos da oralidade (entonação, gestos, autocorreção, interrupção, pausa...), a escrita dispõe de recursos exclusivamen- te gráficos – os sinais de pontuação, responsáveis em grande parte pela clareza do tex- to. Além disso, como quem escreve não está conosco no momento da leitura, é preciso que o texto seja claro, isto é, que a gente entenda o que está escrito! Agora, se eu lhe perguntar por que escrevemos, você é capaz de enumerar al- guns motivos? São muitos. Pelo menos vou lembrá-lo(a) de alguns. Usamos a comuni- cação ou linguagem escrita para dar ordens, para avisar alguém sobre algo importan- te, para reclamar, para receitar, para advertir, para pedir, para tirar uma boa nota, para pedir socorro, para não esquecer, para dizer um pouco de tudo que sentimos num diário que só nós lemos, para dizer um pouco de tudo aos outros em forma de poesia, para contar uma história. Logo, escrevemos por muitas e muitas razões. Mas todos esses motivos particulares pelos quais escrevemos podem ser expli- cados por uma razão geral: escrevemos para resolver problemas que a fala, a lingua- gem oral não consegue resolver. Podemos até dizer que o homem inventou a escrita, há milhares de anos, naquele momento genial em que um nosso antepassado resolveu “desenhar” algum sinal na pedra para representar uma ideia ou um som, para demons- trar seus sentimentos para além do momento da fala. Esta ação de perpetuar a ideia e/ou o sentimento mudaria completamente a face da vida humana. Entendemos que a escrita (não o produto Bombril, apenas coincidência) já nasceu com mil utilidades: anotar as encomendas de compra e venda dos povos comerciantes; registrar os fatos que aconteciam e inventar outros que explicassem o que acontecia; escrever palavras sagradas para representar deuses e reis; filosofar sobre a vida e o mundo e, é claro, mandar recados! Nas guerras entre os povos antigos, por exemplo, tão importante quanto às armas era o sistema de comunicação entre os exércitos, com os mensagei- ros trazendo e levando cartas dos generais. A invenção da escrita foi um sucesso absoluto: veio para ficar e se espalhar pelo mundo, e foi uma arma poderosíssima nas mãos dos povos que a dominavam, de tal forma que, hoje, os povosque não dispõem dela dependem da escrita dos outros para sobreviverem. E, mesmo dentro de países civilizados, o cidadão que não sabe escrever também depende dos que sabem para ficar vivo. Muitos brasileiros sabem disso e... é uma pena! O professor Ivan Carlo Andrade de Oliveira no seu trabalho Teorias da Comuni- cação exemplifica: 116 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ [...] é possível voltar à época em que o homem se organizava em pequenas aldeias. Nesse período, a comunicação era predominan- temente oral. As pessoas recebiam informações pelo ouvido e o olho era um senti- do a mais que nos permitia, por exemplo, captar o gestual de quem falava. Havia um contato direto entre o emissor e o receptor. Além disso, era uma comunicação com envolvimento e voltada para a prática. Ao ensinar o neto a pescar, o vovô não gastava horas fa- lando sobre os aspectos teóricos do pescar. Ele pegava anzol, cani- ço, isca e, ao mesmo tempo em que falava, mostrava para o garoto como se fazia, e este, em seguida, repetia a ação. O tipo de comunicação utilizado não permitia que as pessoas se or- ganizassem em grupos muito grandes, pois a aldeia, segundo defi- nição de McLuhan, é o grupo de pessoas que consegue ouvir o líder. De fato, entre os indígenas brasileiros, quando um agrupamento se torna muito grande, ele se divide em duas aldeias. (OLIVEIRA, s.d., p. 31) Para comprovar a importância da comunicação escrita (você deve lembrar-se das aulas de história) que, durante séculos, só era permitido a uma pequena parcela da sociedade aprender a ler e a escrever. Dominar a comunicação ou linguagem escrita era uma questão de segurança social, política ou religiosa, sendo permitido apenas a pessoas de determinadas classes ou castas, cujo direito era exercido sempre sob estri- to controle. E continua Oliveira (s.d. p. 31): A invenção da escrita mudou tudo. Com um novo e eficiente meio de comunicação, foi possível criar grandes agrupamentos huma- nos. Além disso, os líderes, que até então tinham poder relativo, tor- naram-se reis com poder absoluto. Através da escrita eles podiam enviar suas ordens a todos os súditos. Por outro lado, através dos escribas, o governante podia controlar a produção de riqueza e ins- tituir impostos. A escrita inventa também o universo classificador, em que todas as coisas são definidas pelas classes nas quais se encaixam. Esse uni- verso trabalha com categorias mutuamente excludentes e hierar- quicamente organizadas. Assim, um gato, no universo classificador, é um animal, vertebrado, mamífero, felídeo, etc... 117 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al Antes da escrita havia apenas os universos relevante (em que as in- formações são definidas pela importância que têm para cada pes- soa) e relacional (em que as informações são definidas pelas suas relações com as outras coisas. Por exemplo, para o universo relacio- nal, o gato é o animal que caça o rato. O universo classificador criou condições para o surgimento da bu- rocracia e do exército, com sua hierarquia. Nova revolução ocorre quando é inventada a imprensa. Com essa nova forma de comuni- cação, as informações se popularizaram e agora cada pessoa podia ler o seu livro ou o seu jornal sozinho (antes era mais comum que as pessoas lessem em grupos). Pelo que podemos entender, a escrita era tida como um patrimônio, um direi- to. Você pode acreditar: não só não era qualquer um que escrevia como os que es- creviam não podiam escrever qualquer coisa! Mesmo depois da invenção da imprensa com tipos móveis, por Gutemberg, já no fim da Idade Média, que popularizou extra- ordinariamente os livros (antes escritos à mão em quantidade mínima), a habilidade da linguagem escrita continuou a ser restrita a uma pequena faixa da população. Mas, se você observar acompanhando a história da escrita vai notar que a vigilância sobre o que se escrevia aumentava. Muitos foram parar na fogueira da Inquisição por escre- verem o que não era permitido! Pelo visto, a censura vem de longa data e está aqui no meu tempo, no seu tempo. O consolo de nossa geração é que mesmo com tanta vigilância a popularidade da linguagem universalizou-se de modo que, hoje, apesar de continuarmos “vigiados”, a absoluta democratização da comunicação escrita também pela intermediação das novas tecnologias é uma exigência fundamental da sobrevivência dos valores – e da produção de riquezas – da civilização. Não, não é piada. Você vai concordar que, hoje, o nosso alegre e criativo inven- tor que esculpiu a primeira letra na pedra teria de ir para a escola aprender gramática, como se grafa certo, que palavras devem levar acento, o que é a crase e até mesmo escrever redações sem assunto com o único objetivo de passar de ano ou ingressar na universidade. Dá até para imaginar ser possível que, diante de tantas regras, horários, chateações, cópias, ele desistisse da caneta e voltasse ao tacape, resmungando: - não, essa invenção não vai dar certo! Tente por um segundo imaginar um mundo sem palavras escritas. Bem, dá até para visualizar, mas seria outro mundo, completa e absolutamente diferente do nosso sob todos os aspectos da vida. E não é este o mundo que desejamos, não é? Vamos fechar este assunto tecendo algumas reflexões sobre a comunicação oral e a escrita. Cabe perguntar: 118 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Qual o grande segredo da escrita? Qual a sua grande vantagem? Talvez a palavra-chave seja: permanência. A escrita foi o grande amplificador da linguagem oral em dois aspectos essenciais: tempo e espaço. Depois de voltar no tempo e no espaço, algumas afirmações podemser feitas, pois como diz o antigo ditado popular em relação às cartas de amor ou de negócios: ... a palavra, o vento leva ... a escrita, a pedra guarda. 119 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n alEm suma, a escrita tem um sistema de organização próprio, isto é, um conjunto de princípios em boa parte diferente do sistema de organização da fala. Isto é visível na estrutura da sentença: em um bom texto escrito, as sentenças não “gaguejam” e não ficam pela metade. Do mesmo modo, na escrita as sentenças não precisam ser repetidas duas ou três vezes – basta dar a informação uma vez, porque o que está escrito permanece no papel. Lembrete (este é bem especial para você): Para a linguística, a ciência que estuda as línguas humanas, esses sistemas de organização da língua são chamados de “gramáticas”. Você certamente identifica a palavra gramática com aquele “livrão” cheio de regras desconhecidas e misteriosas, que tanto nos fazem sofrer! Essa é a gramática normativa, na qual se procura descrever uma língua oficial padrão. Mas a nossa fala de todo dia também tem a sua gramática, isto é, o seu conjunto de regras, que às vezes coincide e às vezes não coincide com a gramática normativa. SÍNTESE Nesta aula estudamos a importância da comunicação humana, como se dá o processo da comunicação, considerando seus elementos, usos das formas oral e es- crita, bem como as características da língua escrita e da língua falada, considerando a permanência de uma e de outra e como ambas atuam no tempo e no espaço. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Como garantir a efetividade da comunicação humana, considerando que a lin- guagem utilizada neste processo deve ser compartilhada entre emissor e receptor? LEITURAS INDICADAS OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Teorias da comunicação. Disponível em: < www. virtualbooks.com.br>. Acesso em: 17 set. 2010. PENTEADO, J.R.Whitaker. Técnicas de comunicação humana. São Paulo: Pioneira, 1999. 120 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ SITE INDICADO http://www.averdadedamentira.wordpress.com/2008/06/01/a-comunicacao- organizacional/ REFERÊNCIAS CURVELLO, João José Azevedo. Teorias da Comunicação nas Organizações. MBA Gestão da Comuni- cação nas Organizações. Universidade Católica de Brasilia. 2006. Disponível em: www.ucb.br/comsocial/ mba2006. Acesso em: 5 set 2010. LEAVE, Manuel Fernandes. Comunicação organizacional. Disponível em: <http://averdadedamentira. wordpress.com/2008/06/01/a-comunicacao-organizacional>. Acesso em: 27/8/2010. OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Teorias da Comunicação. Disponível em: <www.virtualbooks.com.br>. Acesso em: 3 set. 2006. PIGNATARI, Décio. Informação. Linguagem. Comunicação. São Paulo: Perspectiva, 1999. VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987. WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2001. 121 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al AULA 02 - A COMUNICAÇÃO VERBAL E NÃO VERBAL. O DISCURSO: ESTRUTURA, ARGU- MENTAÇÃO E CONTRA-ARGUMENTAÇÃO Autora: Rosalice Carvalho “O homem é apenas metade de si mesmo; a outra metade é a sua expressão” (CÂMARA JUNIOR, 1999 Olá! No nosso encontro anterior, baseando-nos em autores estudados, procuramos fixar algumas assertivas sobre a Comunicação Humana. Esta é uma fundamentação para esta aula e também para as aulas seguintes, pois todos os seus temas deverão valer-se daqueles princípios. Vimos também que a comunicação humana sofre os efeitos da contemporanei- dade adaptando-se aos universos culturais da atualidade. Esta aula tem por objetivo dar-lhe alguma base para o seu discurso em públi- co. Assim, vamos analisar mais detidamente formas da comunicação oral, a dicção, o discurso nas suas especialidades e organização, principalmente no que se refere às figuras de expressão e à argumentação. A questão central deste encontro é: você já teve oportunidade de apresentar trabalhos escolares, com um público conhecido - os seus colegas. Tudo bem, dá para salvar-se sem qualquer prejuízo. Agora, já se apresentou para uma platéia desconhe- cida, discutindo um assunto mais polêmico? Já participou de uma mesa de debates, num painel sobre determinado assunto do seu interesse? Já tirou resultados mais do que positivos em um seminário no qual foi um dos expositores? Se você passou por esses momentos e “se deu bem”, merece elogios e parabéns, pois, falar em público tem sido uma dificuldade para muitas pessoas, talvez por falta de orientação de como comportar-se em uma exposição oral. Bom proveito nesta aula. A LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL No processo de comunicação emissor e receptor utilizam-se de dois tipos de linguagem: verbal e não verbal. Na linguagem verbal são usadas as palavras e frases enquanto a linguagem não verbal é constituída por gestos, tonalidade da voz, postura corporal entre outros sinais emitidos pelos falantes. O que não se pode negar é a importância da linguagem não verbal, como, por exemplo, um dos nossos amigos diz que tudo está bem, mas notamos sua voz enfra- 122 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ quecida, seu olhar triste e, não acreditamos no que ele acabou de afirmar. Assim, numa apresentação oral, há uma grande influência dos aspectos psico- lógicos principalmente naquelas apresentações mais formalizadas: palestra, seminá- rio, defesa de trabalhos, etc. Entre aqueles aspectos incluem-se o gestual, a postura do corpo ante a platéia e modalidade da voz de quem faz a explanação. Um outro componente é a entonação para evitar o esfriamento da atenção do ouvinte (dimi- nuindo, crescendo, dando-lhe maior ou menor velocidade), enfatizando-se como fator principal a dicção, evitando os problemas referentes ao uso da voz. PROBLEMAS DA VOZ Entre os problemas relacionados à voz, talvez o maior deles seja o mau uso que os falantes fazem ao utilizá-la. Tanto quanto aos problemas de audição, ambos estão relacionados com os verdadeiros abusos com os quais temos de conviver especial- mente por força dos avanços tecnológicos na atualidade. Falar com um timbre de voz muito alto ou sujeitar-se ao som muito estridente das baladas, por exemplo, ou outras atividades que abusem da intensidade do som, prejudicam a voz e a audição; Os problemas com a voz traduzem-se por dificuldades da fala, gagueira, troca de letras, dificuldade de leitura e escrita, aos quais se podem acrescentar os problemas de ordem neurológica ou doenças degenerativas, entre outras causas. Assim, na expressão oral, desde um simples, mas acentuado limpar a garganta, até falar muito alto e aos gritos são altamente prejudiciais para o entendimento do que foi dito; por outro lado, permanecer em ambientes onde os ruídos acusam altos decibéis e, até o uso de aparelhos aparentemente inocentes como os fones de ouvido e, no que pese, a desconsideração com sintomas que conduzam a detectar problemas da audição e da voz. Tudo isto pode prejudicar e muito o nosso discurso verbal. O DISCURSO VERBAL Tanto quanto o discurso escrito, o discurso verbal carece de uma organização por parte do falante ou expositor. Na organização do discurso, ensina Vanoye (1996) que, de acordo com a retórica ou a arte de falar bem, há alguns passos a atender: a) encontrar o que se vai dizer (argumentos); b) dispor o que se encontrou numa ordem que depende do objetivo da comunicação: informar, demonstrar, convencer, emocionar; c) cuidar da elaboração, do começo e do fim do discurso. Numa última etapa deve-se “atentar para o modo de apresentação 123 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al dos argumentos, recorrendo-se às figuras e, por fim, dizer o discurso, utilizando os recursos vocais (dicção) e os gestuais”. (VANOYE, 1996, p.47). Em relação às figuras, sintetizando a explicação do autor citado (1996, p.48), “elas constituem os ‘ornamentos’ do discurso”. Cria-se uma linguagem nova, qualifica- da, às vezes “florida”, como diz Vanoye, tais como: [...] a aliteração (repetição de sons: o rato roeu a roupa do rei de Roma) hipérbole (exagero: história escrita com sangue); perífrase (grupo de palavras sobre o que poderia ser expresso por uma só palavra:astro da noite ao invés de lua); ironia (exprimir pelo discur- so uma coisa diferente do que disse: como você é inteligente, dito, por exemplo, a uma pessoa que não entende aquilo do que se está falando); metonímia (exprime um objeto por um outro objeto uni- do ao primeiro por uma relação estreita: ouviu o relógio e saiu às pressas = ouviu as horas); comparação (identifica dois objetos a partir de um elemento que lhes é comum: Ele é teimoso como uma porta); metáfora (comparação mental: ele é uma porta. (VANOYE, 1996, p.49). A observação desses cuidados é de grande importância quando da seleção e definição das técnicas que devem ser usadas nas apresentações. TÉCNICAS DE EXPOSIÇÃO Você já participou de situações acadêmicas ou no trabalho, onde são aplica- das as técnicas de apresentação? Se a resposta for afirmativa, cabe perguntar: você gostou? Sentiu-se à vontade? Ou evitou expor-se em situações semelhantes? Em caso negativo, talvez lhe faltasse o domínio das chamadas técnicas de exposição. Então, vamos a elas. Para tratarmos das técnicas de exposição, tomamos como exemplos duas situ- ações comuns no ambiente universitário: o seminário e o painel. No seminário, cujo objetivo é despertar a reflexão sobre determinado assunto através do debate, há a possibilidade de interação do(s) expositor(es) com o público, requerendo uma argu- mentação fundamentada para fazer face aos questionamentos originados da platéia, o que também exige cuidado com as técnicas de exposição. Na elaboração do plano da exposição, alguns critérios devem ser adotados como: adequação ao público, delimitação e unidade do tema, sequência lógica ou cronológica, pertinência dos subtemas abordados, planejamento do tempo disponí- 124 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ vel para a apresentação, e uma conclusão objetiva. Para você planejar as etapas de sua apresentação, deve observar o seguinte questionamento, segundo sintetizamos afirmações de Mayamoto (1987) e Vanoye (1996): O que comunicar? (tema/conteúdo). Para quê? (objetivos). Para quem? (público alvo). Como? (metodologia/estratégias) Quanto tempo? (duração) Quando (data e frequência) Onde? (local) Finalidade? Falar/Ouvir? Em relação a você mesmo, pergunte-se: Quais são os seus interesses? O que tem a oferecer? Que diferenciais tem da concorrência? Quais os interesses e valores da outra parte? Que oportunidades se apresentam? Ainda entre as técnicas de expressão, para Mayamoto (1987, p. 20): “É reco- mendável a elaboração de um texto síntese do trabalho desenvolvido, que deverá ser distribuído ao público com uma semana de antecedência.” Isto vai facilitar para o pú- blico a formulação de questões pertinentes e a elaboração de argumentos críticos ou contra-argumentos. Também para Mayamoto (1987, p. 20), a sequência da exposição deve atender esses itens: a) introdução (situar o assunto); b) metodologia (descrição do desenvolvimento do trabalho); c) resultados (organizados de forma seletiva e podem ser ilustrados com tabe- las, quadros, gráficos ou mapas seguidos de interpretação); d) discussão (destacar a relevância do trabalho, devendoo expositor ser convin- cente e transmitir credibilidade sobre o que acabou de apresentar); e, e) conclusões (podem ser apresentadas e até projetadas sob a forma de propo- sições simples e curtas devidamente fundamentadas no trabalho exposto). Ainda para o referido autor (1987), são características de uma boa apresenta- ção: 125 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al A adequação da linguagem ao público, cuidando das restrições gra- maticais e de acordo com a formalidade da língua culta; concisão, clareza e correção da linguagem empregada; uso de terminologia específica referente à área discutida; elaboração prévia de um plano da exposição, competência e entusiasmo do expositor para desper- tar interesse pelo tema e prender a atenção dos ouvintes; uso de re- cursos de forma adequada e uma abordagem original (MAYAMOTO, 1987, p. 21), Quanto ao painel, explica o autor referenciado: O painel é um tipo de reunião derivado da mesa-redonda A diferen- ça entre eles está em que, no painel, os expositores debatem entre si o assunto em pauta, cabendo ao público assistente tão-somente funcionar como espectador, sem direito a formular perguntas à mesa. É uma forma de reunião limitada a um pequeno número de especialistas. Além do presidente, o painel poderá ter um coordena- dor e um moderador. (MAYAMOTO, 1987, p. 21). Observe que o painel é um tipo de comunicação que não permite o intercâm- bio, a não ser entre os que estão à mesa de debates. Entretanto, podemos adaptar este tipo de discussão estendendo a todos os participantes o direito de formular pergun- tas ou apresentar seus argumentos ou contra-argumentos. Neste caso, a realização do painel deve ser precedida da distribuição de um resumo aos assistentes para que tomem conhecimento do assunto a ser debatido pelo nosso discurso. O DISCURSO ARGUMENTATIVO Esta expressão é estranha a você? É a mesma coisa discursar e argumentar? Esclareçamos a respeito da argumentação nossa companheira em muitas das nossas falas. Tanto quando narramos um acontecimento, quanto comentamos sobre ele, sempre usamos uma linguagem que, em sentido amplo, é sempre argumentativa, pois usamos a palavra para influenciar pessoas e modificar comportamentos e contextos. A diferença entre a exposição e a argumentação deve-se ao fato de que esta última, mais que apresentar ideias, busca comprovar um ponto de vista sobre um as- sunto polêmico. Em outras palavras: faz uso da linguagem para, em sentido estrito, argumentar, convencer o interlocutor. Por tudo isto, ao usarmos o discurso argumentativo, temos como objetivo con- vencer o nosso interlocutor (ouvinte ou leitor) sobre nosso ponto de vista acerca de uma questão polêmica. 126 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Ao assumir a posição como expositor, pode-se defender a própria tese a fim de chegar àquele momento do convencimento do ouvinte ou leitor. Assim, reiterando Blikstein (2000), citado em aula anterior objetivamos na nossa explanação: a) produzir uma resposta - nossa linguagem deve ser clara, precisa e objetiva a fim de garantir esta resposta; b) tornar o pensamento comum - exprimir o nosso pensamento com redação clara, sintaxe e vocabulário adequados, coerentemente or- ganizados, produzindo uma significação desejada; e, c) persuadir - nosso texto deve parecer ao nosso interlocutor (o ou- vinte/leitor) de que necessitamos de sua resposta - convencê-lo, por- tanto de que esta resposta nos é importante, ou seja “estimular as pessoas a quem nos dirigimos para que produzam a resposta de que necessitamos” (BLIKSTEIN, 2000, p.23). Dessa forma, podemos resumir que a argumentação deve ser estruturada em etapas, porém devidamente encadeadas desde a parte introdutória que apresenta o tema, e indica-se o assunto, tentando assegurar o interesse da platéia até a fase em que se completa o convencimento do ouvinte ou leitor. Apesar de ninguém nascer já um orador, você pode tornar-se um expositor con- fiante, desde que esteja consciente do assunto a apresentar, domine algumas técnicas de expressão e as aplique sempre que tiver oportunidade e no momento certo. Vamos à nossa próxima aula: A comunicação oral e escrita sob os efeitos da contemporanei- dade. Por hoje, também, sucesso para você! SÍNTESE A linguagem verbal é a forma mais utilizada para dizer os nossos pensamen- tos e trocar conhecimentos, confidências, e, até como forma de defesa. Associa-se à linguagem verbal, reforçando-a, a linguagem não verbal ou gestual que envolve posi- ções do corpo, forma de apresentação, olhares, tom de voz, movimentação das mãos, presença formal ou mais informal, a depender do tipo do discurso, do seu objetivo e do(s) respectivo(s) ouvinte(s). Ainda para uma explanação oral, deve-se ter cuidados com o uso da voz, a fim de evitar problemas tais como, voz muito apagada, adotando uma gestualidade de acordo com a expressividade que o texto exige. Para uma fundamentação sobre o as- sunto acesse <www.espm.br/eneri2010>. Manual de apresentação. I Ciclo de Debates Universitário ENERI 2010. Assim, se queremos defender nossas ideias, elaboramos o discurso argumen- tativo, quando apresentamos nossas razões em defesa de nossa tese ou pensamento 127 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al a ser discutido. Para uma apresentação subtende-se a preparação de um plano que orienta o expositor tanto quanto um resumo do assunto tratado a ser entregue aos participantes do evento com certa antecedência, favorecendo a preparação de per- guntas ou contra-argumentos. Na preparação do plano de apresentação, deixar claro o objetivo da explanação, as idéias principais, sem esquecer de preparar a apresenta-ção dentro do tempo que lhe foi antecipadamente destinado. LEITURAS INDICADAS GREGÓRIO, Sérgio Biagi. O discurso. Disponível em: <office.microsoft.com.> Acesso em 29/10/2010. PARKI, Kelly; BEHLAU; Mara. A voz humana. Perda da voz em professores e não professores. São Paulo: Rev. Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. vol.14, n.4. 2009. Disponível em: <www.profala.com/arttf57.> Acesso em: 26/10/2010. LEITURAS COMPLEMENTARES OBRIGATÓRIAS GABANINI, Adriana Pizzo Nascimento. A voz humana. Disponível em: www.profala.com/arttf57. Acesso em: 26/10/2010. GREGÓRIO, Sérgio Biagi. Enunciação do discurso lógica e dialética. Disponível em: www.ceismael.com.br./oratoria/discurso. Acesso em: 26/10/2010. SITES INDICADOS office.microsoft.com www.profala.com/arttf57 www.ceismael.com.br REFERÊNCIAS ANDRADE, M. M. de; HENRIQUES, A. Língua portuguesa: noções básicas para cursos superiores. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1996. ANDRADE, M. M.; MEDEIROS J. B. Comunicação em língua portuguesa: para cursos de jornalismo, propa- ganda e letras. São Paulo: Atlas. 2 ed., 2001. BLIKSTEIN, I. Técnicas de comunicação escrita. 20 ed. São Paulo: Atica, 2000. 128 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING. Manual de apresentação. I Ciclo de Debates Universi- tário ENERI 2010. Disponível em <www.espm.br/eneri2010>. Acesso em 28/10/2010. MARTINS, D. S. Português instrumental. 17.ed. Porto Alegre: Sagra, 1996. PENTEADO, J. R. Whitaker. A técnica da comunicação humana. 2 ed. São Paulo: Pioneira, 1969. VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. Trad. de Clarice M. Sabóia e outros. 10 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 129 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al AULA 03 - A COMUNICAÇÃO ORAL E ESCRI- TA: ELEMENTOS E CARACTERÍSTICAS. CO- MUNICAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE Autora: Rosalice Carvalho “Somente com confiança pode haver qualquer comunicação real e até que esta confiança seja alcançada, as técnicas e recursos da comunicação não passam de esforço perdido” William H. White Nos nossos encontros anteriores, procuramos apreender algumas considera- ções de autores estudados sobre a Comunicação Humana. É uma fundamentação também para as aulas seguintes, pois todos os seus temas deverão valer-se daqueles princípios. Vimos também que a língua oral e a língua escrita apresentam características diversas sem que, no entanto, se oponham, a não ser quanto ao fator tempo e espaço, quanto a sua permanência e às possibilidades ou modos de expressão da oralidade. Nesta aula, vamos enveredar pelo campo da expressão humana nas suas duas modalidades: oral e escrita e analisar mais um pouco sobre a influência da contempo- raneidade nos nossos modos de expressão. Assim, vamos reforçar conhecimentos adquiridos sobre este subtema come- çando pelos registros ou níveis de linguagem para entender que, embora habitando um mesmo país, às vezes parece que lemos, escrevemos ou nos expressamos em dife- rentes línguas ou adotamos diferentes códigos de linguagem. REGISTROS OU NÍVEIS DE LINGUAGEM A existência de um código de expressão comum aos interlocutores torna-se indispensável para que se realize a comunicação, o que quer dizer que emissor e re- ceptor devem utilizar a mesma “língua”, no nosso caso, a língua portuguesa. Assim, apesar de a língua portuguesa ser o nosso idioma, você pode notar que, dentro dela, nos expressamos de formas diferentes. Você pode até questionar: Seriam, então várias línguas portuguesas? Claro que não. Mas não dá para negar que o por- tuguês falado pelo baiano não é o mesmo português do maranhense, do carioca, do gaúcho. Temos de admitir que a língua é a mesma, porém, sujeita a várias influências (linguísticas, geográficas, climáticas, ambientais) que dão origem aos falares diversos, os chamados dialetos. Se você observar, até no nosso cotidiano podemos notar algumas diferenças, como por exemplo: o português usado por um médico é igual ao falado por seu pa- 130 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ciente? Qual o papel do ambiente social e o cultural sobre a mesma expressão emitida na mesma região ou território habitado pelo usuário da língua? E em locais diferen- tes? Você conseguiu responder a estas perguntas? Se teve alguma dúvida, então, vamos em frente, pois, tais questões nos fazem constatar que existem diferenças no que se convencionou chamar de níveis de linguagem os quais influenciam o vocabu- lário, a sintaxe e mesmo a pronúncia de alguns vocábulos. Veja o texto de Caetano Veloso ora transcrito: Língua Caetano Veloso Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões Gosto de ser e de estar E quero me dedicar A criar confusões de prosódias E uma profusão de paródias Que encurtem dores E furtem cores como camaleões Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa E sei que a poesias está para a prosa Assim como o amor está para a amizade E quem há de negar que esta lhe é superior E deixa os portugais morrerem à míngua “Minha pátria é minha língua” Fala mangueira! Fala! Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas E o falso inglês relax dos surfistas Sejamos imperialistas Vamos na velô da dicção choo choo de Carmen Miranda E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate E - xeque-mate - explique-nos Luanda Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo Sejamos o lobo do lobo do homem Adoro nomes Nomes em à De coisas como Rã e Imã Nomes de nomes Como Scarlet Moon Chevalier Glauco Matoso e Arrigo Barnabée Maria da Fé e Arrigo Barnabé Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? Incrível É melhor fazer um canção Está provado que só é possível Filosofar em alemão 131 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al Se você tem uma idéia incrível É melhor fazer um canção Está provado que só é possível Filosofar em alemão Blitz quer dizer corísco Hollyood quer dizer Azevedo E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo Meu medo! A língua é minha pátria E eu não tenho pátria: tenho mátria E quero frátria Poesia concreta e prosa caótica Ótica futura Samba -rap, chic-left com banana Será que ela está no Pão de Açúcar? Tá craude brô você e tu lhe amo Qué queu te faço, nego? Bote ligeiro Nós canto-falamos como que inveja negros Que sofrem horrores no gueto do Harlem Lívros, discos, vídeos à mancheia E deixe que digam, que pensem e que falem Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões Gosto de ser e de estar E quero me dedicar E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate E - xeque-mate - explique-nos Luanda Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo Sejamos o lobo do lobo do homen Adoro nomes Nomes em à De coisas como Rã e Imã Nomes de nomes Como Scarlet Moon Chevalier Glauco Matoso e Arrigo Barnabé e maria da Fé e Arrigo barnabé Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? Incrível É melhor fazer um canção Está provado que só é possível Filosofar em alemão Se você tem uma idéia incrível É melhor fazer um canção Está provado que só é possível Filosofar em alemão Blitz quer dizer corísco Hollyood quer dizer Azevedo 132 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo Meu medo! A língua é minha pátria E eu não tenho pátria: tenho mátria E quero frátria Poesia concreta e prosa caótica Ótica futura Samba -rap, chic-left com banana Será que ela está no Pão de Açúcar? Tá craude brô você e tu lhe amo Qué queu te faço, nego? Bote ligeiro Nós canto-falamos como que inveja negros Que sofrem horrores no gueto do Harlem Lívros, discos, vídeos à mancheia E deixe que digam, que pensem e que falem Curiosamente, o compositor Caetano Veloso, num tempo histórico, faz referên- cia à língua de Camões, a mesma língua portuguesa que atravessou o tempo para chegar até nós; outra referência a Luanda, um outro espaço onde a língua portugue- sa também é usada. Ao tratar de termos estrangeiros inseridos na nossa fala, o autor alerta para a riqueza da língua falada no Brasil: “O que quer, o que pode esta língua? Incrível.” a música Língua foi inserida no disco Velô, na década de 80. De acordo com Teyssier (1982, p.79), apud Andrade e Medeiros (2001, p.28), “as divisões dialetais no Brasil ocorrem mais num plano vertical que no horizontal” como explica aquele autor: A realidade, porém, é que as divisões dialetais, no Brasil são menos geográficas que sócio-culturais. As diferenças na maneira de falar são maiores num determinado lugar entre um homem culto e o vi- zinho analfabeto que entre dois brasileiros do mesmo nível cultural originários de duas regiões distintas uma da outra. (TEYSSIER, 1982, p.79), 133 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al Explicando: “menos geográficas” (plano horizontal) e “mais socioculturais” (pla- no vertical). As divisões dialetais a que se referem os autores citados são as variadas formas de uso da língua, sobressaindo os dialetos sociais classificados por Preti (1982, p. 32) apud Andrade e Medeiros (2001, p.37). Para esses autores, considere-se um nível padrão usado em situações formais e um nível mais popular usados por pessoas de baixa escolaridade. Entre esses dois níveis há o que se pode chamar de língua comum utilizada pelos falantes medianamente escolarizados e pelos atuais meios de comuni- cação Quanto à língua oral versus língua escrita, explicam Andrade e Henriques (1996, p. 35): Em resumo, na língua falada, além da restrição do vocabulário, não há grande preocupação com as regras gramaticais de concordân- cia, regência e colocação, nem com a clareza das construções sintá- ticas. (ANDRADE; HENRIQUES, 1996, p. 35) Por sua vez, na escrita “há maior grau de adesão à gramática normativa, preocu- pação com a clareza, além da riqueza vocabular.” Graficamente poderíamos representar estas afirmações, sobre os dialetos so- ciais, pela figura 1 adiante inscrita: Figura 1: Dialetos sociais Fonte: Adaptado de Andrade e Henriques (1996, p.37) No confronto entre esses dialetos, o nível culto predominando entre os falantes em determinada circunstância pode gerar a censura sobre um falar mais popular, ex- ternando-se o que se denomina por preconceito linguístico. Para Faraco e Tezza (1999, p. 23) tal preconceito não está “no que é falado”, mas “em quem diz o quê”, tornando-se decorrente de um preconceito social, marcando como errada a fala de determinadas classes sociais consideradas incultas e originárias de determinadas regiões (o falar baiano, pernambucano, cearense, etc.). 134 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Essa desvalorização dos diversos falares corresponde mesmo a um verdadei- ro preconceito social e individual do falante ou sobre o falante. Logo, nada de achar certo ou errado na língua. “O que há são registros, níveis ou variedades da língua mais prestigiadas ou menos valorizadas pelo falante e pelo meio social”. (ANDRADE; HENRI- QUES,1996, p.37). Ainda explicam os autores referenciados que esses níveis ou registros só apa- recem na língua falada; todavia, podem também influenciar na escrita como veremos adiante. Você mesmo cuida da sua fala, a depender de quem o ouve. Certo? Isto porque, como admitem os linguistas, no interior da língua falada existe uma língua comum, conjunto de palavras, expressões e construções mais usuais, língua tida geralmente como simples, mas correta. Acompanhe essas diferenciações na ilustração a seguir, conforme Andrade e Medeiros (2001, p. 53): Registro formal Registro comum Registro informal Nível culto Nível familiar ou coloquial Nível popular Quadro 1: Registros/níveis de linguagem Fonte: Andrade e Medeiros (2001, p. 53) Assim, a partir do nível comum, em ordem crescente do ponto de vista da ela- boração, temos a linguagem cuidada ou tensa e a linguagem padrão. E, no sentido contrário, num caráter de informalidade, temos a linguagem fami- liar e o registro informal ou “popular”. Sobre o mesmo assunto, veja o que registra Vanoye (1996): Essas distinções são um pouco fluidas, uma vez que se estabelecem segundo critérios heterogêneos. A distinção linguagem popular/lin- guagem cuidada, por exemplo, apóia-se num critério sócio-cultural, ao passo que a distinção linguagem informal/linguagem oratória apóia-se, principalmente, numa diferença de situação (o mesmo in- divíduo não empregará a mesma linguagem ao fazer um discurso e ao conversar com os amigos num bar). (VANOYE, 1996, p. 31) Além disso, acrescenta Vanoye (1996, p. 31) que o uso da expressão oral as in- correções gramaticais aparecem sem maior prejuízo para o entendimento da mensa- gem. Não se pode esperar que um comentarista esportivo ao comentar uma partida ao vivo possa manter sua narrativa num linguagem especialmente cuidada. 135 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al Essas diferenciações e suas aplicações podem ser melhor visualizadas no Qua- dro 2: Níveis de linguagem Língua falada Língua escrita oratória discursos, sermões linguagem literária, cartas e documentos oficiais cuidada cursos, comunicações orais comum conversação, rádio, televisão comunicações escritas comuns familiar popular conversação informal não “elaborada” linguagem descuidada, incorreta, ou linguagem literária que procura imitar a língua falada. Quadro 2: Níveis de linguagem Fonte: Adaptado de Vanoye (1996, p.31) Geralmente, ao usarmos uma linguagem mais elaborada utilizamos um reper- tório com termos mais precisos, menos comuns, expondo nossos pensamentos de uma forma mais cuidadosa do que o que faríamos ao nos expressarmos na linguagem comum ou familiar. Assim, de acordo com Vanoye (1996, p.32), na linguagem oratória, o falante usa e até abusa dos efeitos sintáticos, rítmicos e sonoros e ainda utiliza ima- gens ilustrativas do seu discurso. Conforme se pode verificar nas comparações que compõem o Quadro 2, nas linguagens familiar e popular, como afirma Vanoye (1996, p.32): “há uma recorrência, às expressões pitorescas, à gíria, e muitas de suas expres- sões são tidas como “incorreções graves” nos níveis de maior formalidade”. É por isso que espero que estejamos nos entendendo nesta conversa. Estamos falando a mesma língua, muito embora distantes um do outro. Há sempre uma es- pécie de acordo entre os usuários da língua, lembrando que na comunicação oral, o sentido de uma palavra pode se transformar por influência de certos comportamentos não-verbais como, a expressão fisionômica, gestos, tom de voz, entre outros. Quanto ao sentido a ser conferido à palavra, presume-se que os usuários da língua detêm “um repertório de palavras em comum e compreendem tais palavras do mesmo modo”. Este fato seria necessário para que houvesse a compreensão da men- sagem, justamente pela uniformidade do sentido/significado da palavra para esses vários indivíduos e fixado pelo uso da língua no seu léxico. (VANOYE, 1996, p.33-34). O léxico O que se tem a observar é que não há um limite para a listagem ou léxico das palavras de uma língua. Na prática, conhecemos apenas uma pequena parte desse conjunto. Assim mesmo, quando falamos ou escrevemos utilizamos apenas uma fra- ção do que conhecemos daqueles vocábulos, cujo sentido nos é familiar, seja pelo conhecimento objetivo (aspecto cognitivo), seja pelo baseado na experiência e nos sentimentos pessoais. (aspecto afetivo). 136 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Ainda com o apoio do autor antes citado veja a definição do termo “léxico”: Léxico é o conjunto de palavras de uma língua. Emprega-se também esse termo para designar o conjunto de palavras de uma língua par- ticular a um grupo social ou a um indivíduo (fala-se do léxico da construção civil, do léxico de Drummond de Andrade, etc.). O léxico da língua portuguesa constitui, então, um conjunto onde se incluem os léxicos particulares. (VANOYE, 1996, p.33-34). Quanto ao significado das palavras, o sentido depende de vários fatores, ne- cessitando na sua transmissão de outras definições (sinônimos) as quais também po- dem ter “diferentes significações, pois podem variar de pessoa para pessoa seja no seu sentido denotativo, (concreto) quanto pelo sentido conotativo (linguagem figurada) influenciando a expressividade.”, como diz Vanoye (1996, p.34). Para melhor explicação sobre denotação e conotação, veja o que disponibiliza no site (www.planetaeducacao.com.br), a professora Erika de Souza Bueno: Dizemos que sentido denotativo é a palavra com sentido real e imutável. O dicionário é o melhor exemplo, ou seja, definição do significado, sentido literal. Podemos afirmar também, que é a representação mental da palavra tal como está no enunciado.Para exemplificar, pense na palavra “caderno” (folhas de papel sobrepostas) e perceba que tem o mesmo sentido em todo lugar, por isso o sentido denotativo é também universal. O sentido denotativo remete nossos pensamentos aos sinônimos, que são palavras que mesmo não possuindo grafia idêntica, são semelhantes em seu significado. Já o sentido conotativo é figurativo, metafórico e simbólico que podem sugerir várias interpretações. É freqüentemente utilizado para transmitir idéia de depressão, tristeza ou em algumas vezes, até mesmo sentido cômico. Você deve conhecer alguns ditados populares os quais também são exemplos de conotação: “Santinha de pau oco”. Pessoas que possuem boa índole apenas aparentemente, pois antigamente os bandidos utilizavam de imagens ocas de santos para esconderem os produtos do furto. “Sem eira nem beira”. Ausência de bens ou posses, ou em alguns casos, expressões que não tem sentido lógico. 137 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al Todos esses contextos lexicais, como procedimentos, e aos quais se referem An- drade e Medeiros (2001), vêm a constituir, [...] um sistema de comunicação entre as espécies; contudo, en- quanto as “linguagens” animais são inatas, instintivas, a linguagem humana é uma habilidade aprendida. É uma lenta invenção cole- tiva que se foi aprimorando com o decorrer dos séculos. É fruto da aprendizagem social ou de grupo, espelho da cultura da comunida- de, vetor de suas influências culturais, constituindo-se em processo social de inserção do indivíduo em dada sociedade. (ANDRADE; ME- DEIROS, 2001, p. 16.), Revendo seus conhecimentos sobre a nossa expressão oral ou escrita, você de- verá estar lembrado dessas particularidades inerentes ao significado das palavras, o que é melhor visualizado no Quadro 3, que resume o assunto, referindo-se a esses casos particulares da significação e exemplos. Casos Significação Exemplos Sinonímia Palavras com significado igual ou aproximado. combinar/ajustar brado/grito Antonímia palavras de significação oposta alto/baixo; subir/descer; conceder/negar Paronímia Palavras semelhantes na forma mas diferentes na significação infringir/infligir; eminente/ iminente Homonímia Palavras iguais na forma ou na pronúncia e com significações diferentes homógrafas (sábia, sabia, sabiá) homófonas (manga fruta / parte do vestuário Polissemia Palavras com mais de uma significação pena – pluma, peça para escrever, dó; dó – nota musical, pena (compaixão) Eufemismo Criação para substituir palavras com conotações negativas tumor maligno = câncer entregar a alma a Deus = morrer denominações para os órgãos genitais Quadro 3: Sentido das palavras Fonte: Adaptado de Martins e Zilberknop (2000, p. 44-52). Reforçamos as diferenças quanto ao repertório do falante: há um vocabulário, um “sotaque” próprio para cada região do nosso país, dando origem àquelas diferen- ças regionais; e, as pessoas de classes sociais diferentes usam linguagens parcialmente diferentes e, às vezes, dependendo da circunstância, a linguagem é considerada co- mum. Em se tratando da nossa língua portuguesa, insistimos atentar para duas dife- renças no uso da expressão oral, o que é explicado por Faraco e Tezza (1999): 138 co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n al ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ O ato de falar e escrever revela muito mais do que simplesmente foi dito ou escrito. Por exemplo: pela fala das pessoas podemos saber imediatamente de onde elas são (Rio de Janeiro ou da Bahia...) se são pobres, ricas ou remediadas, se frequentaram escola ou não, se leem livros e revistas ou se nunca leram nada, até mesmo - a ativi- dade profissional delas - mesmo que o que elas estejam dizendo não tenha nenhuma relação com esses dados. (FARACO; TEZZA, 1999, p.22) Você deve estar ciente de que ninguém está obrigado a conhecer todo o léxico de uma língua; mas, devemos dominar um vocabulário bastante amplo para que a nossa comunicação seja perfeitamente entendida pelo nosso interlocutor. Resta acres- centar que, como bem afirma Vanoye (1996, p. 41), “na mensagem falada, por estarem os interlocutores em presença, atuam também significações não-verbais suplementa- res: mímica, gestos e outros comportamentos.” Contanto que esses comportamentos possam ser eticamente socializados. A depender do contexto em que vivem os interlocutores, a troca de mensa- gens entre eles pode sofrer modificações ou influência desse contexto, importante componente da comunicação. Esta agrega todas as possibilidades que alguém usa para afetar o outro, seja na forma verbal (oral ou escrita), seja num aspecto não verbal (sinais, mímica, sons, etc.). A expressão escrita Todos nós temos uma certa dúvida, senão algumas dúvidas, quando precisa- mos nos expressar por escrito. Você também já sentiu esta dúvida? Se este não é o seu caso, meus parabéns por ser um escritor nato. Sabemos que a língua escrita é, geralmente, mais elaborada que a língua falada (até parece, muitas vezes, que se trata de uma outra forma de expressão). Na modali- dade escrita, os níveis de linguagem estudados quando tratamos da língua oral, são menos numerosos e diretamente relacionados com o condicionamento sociocultural. Assim, como explicam Andrade e Henriques (1996, p. 33), [...] embora a língua seja a mesma, a expressão escrita difere muito da oral, sendo ponto pacífico, largamente comprovado, que nin- guém fala como escreve, ou vice-versa. (ANDRADE; HENRIQUES, 1996, p. 33) 139 ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ co m u n ic aç ão o rg an iz ac io n alAcrescentam esses autores que: Algumas características da linguagem oral como entonação, timbre, altura,
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