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1 Pressões Institucionais e o Isomorfismo dos Relatórios de Administração publicados por empresas do setor de Energia Elétrica Autoria: Fábio Viana de Moura, José Maria Dias Filho Resumo Este estudo visou testar a hipótese de que quanto mais empresas do subsetor de Energia Elétrica se sentiam pressionadas por forças institucionais, mais isomórficos, a certo padrão ambiental, seriam os Relatórios de Administração (RA) publicados por elas. Técnicas e protocolos da Análise de Conteúdo foram manuseados com o objetivo de capturar, nos RA, dados das variáveis dependentes e independentes. Análises das Componentes Principais e Fatorial foram utilizadas para sintetizar variáveis observadas. Para teste de hipótese utilizou- se regressão múltipla. As evidências encontradas revelam que pressões institucionais fazem com que empresas observadas tendam a publicar RA mais próximos a um padrão ambiental. 1 Introdução É comum escutar em salas de aula ou de profissionais que corporações escolhem ou moldam suas práticas de divulgação financeira visando a atingir ou melhorar seus resultados, norteados pelo desejo de transferir para si mais recursos, de aumentar suas riquezas, enfim, seu bem estar. É como se a decisão por utilizar esse ou aquele protocolo de evidenciação contábil fosse exclusivamente subsidiada pela análise racional dos custos e benefícios envolvidos. O presente trabalho, embasado na Teoria Institucional, desenhada inicialmente por Meyer e Rowan (1977), Zucker (1977), Dimaggio e Powell (1983) e Scott (1991) questiona essa proposição e apresenta evidências de que o comportamento organizacional, no que tange à seleção ou a construção de certo método de divulgação financeira, é influenciado por mecanismos institucionais que exercem pressão sobre as organizações inseridas em determinado ambiente. Boa parte da literatura contábil desenvolveu-se, com grande mérito, sob delineamentos teóricos radicados no modelo do homem racional. Os supostos e conceitos definidos e elaborados por Jensen e Meckling (1976) e por seus seguidores, tais como Watts e Zimmerman (1978, 1979, 1986), protagonizaram tal evolução. Partindo do princípio que o homem decide e age, preponderantemente, de modo racional, predizem que, em certas condições, agentes teriam incentivos para optar por esse ou aquele procedimento de contabilidade. Por tal óptica, gestores seriam motivados a escolher métodos contábeis que aumentassem o lucro de um período, em situações nas quais sua remuneração fosse definida com base no resultado líquido contábil. Alternativamente, ainda por esse caminho analítico, observadas determinadas circunstâncias, corporações desenhariam e passariam a utilizar práticas contábeis objetivando reduzir custos contratuais e, com isso, aumentar a riqueza por elas produzida (WATTS; ZIMMERMAN, 1986). É fora de dúvida que os achados e evidências empíricas produzidas por tal agenda de pesquisa foram e continuam sendo muito importantes para o conhecimento contábil. O que não torna menos necessário e pertinente ao seu desenvolvimento à construção e elaboração de trabalhos que tentem oferecer uma explicação diferente aos determinantes da escolha contábil organizacional. É também este o argumento que deu causa à proposta e à realização deste esforço de pesquisa. 2 Dessa maneira, respaldando-se na ideia de que a ação dos membros de uma coletividade não representa o agregado de comportamentos gestados em esfera intra- individual; pelo contrário, seria em grande parte formada e mediada por arranjos institucionais (DIMAGGIO; POWELL, 1991, p. 2); esta pesquisa busca investigar até que ponto mecanismos institucionais contribuiriam para que relatórios de administração publicados por empresas do subsetor de energia elétrica tendessem a um padrão médio vigente no ambiente. Com isso, visou testar se de fato pressões institucionais fariam com que empresas que operam no contexto organizacional do subsetor de energia elétrica, reproduziriam padrões de divulgação financeira, no que se refere a características contábeis e estruturais dos relatórios de administração, coletiva e homogeneamente entendidos por seus pares como essenciais ao processo de evidenciação; como nos faz crer delineamentos teóricos de Meyer e Rowan (1977), Zucker (1977), Dimaggio e Powell (1983), Meyer (1986) e Zald (1984), dentre outros. Subsidiariamente, espera-se que os resultados encontrados, a argumentação teórica utilizada e a metodologia empreendida estimulem e fortaleçam o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa cuja intenção é melhor compreender e explicar a escolha, a persistência e os usos dos protocolos de contabilidade, observando-se aspectos sócio-institucionais vigentes e operantes nos mais diversos contextos organizacionais. 2 Fundamentação Teórica e hipótese O pensamento neo-institucional, alicerce deste estudo, surge com intuito de explicar desenvolvimentos de uma antiga agenda de pesquisa destinada a compreender os mecanismos por meio dos quais as ações sociais e políticas se materializam - a Economia Política, com os esforços de autores funcionalistas, como Parsons e Selznick, interessados em explicar a duradoura interconexão entre política, economia e sociedade. Mais do que uma justaposição conceitual, mescla aperfeiçoamentos teórico-metodológicos dessas correntes com vistas a responder questões acerca de como escolhas sociais são formadas, mediadas e canalizadas por arranjos institucionais (DIMAGGIO; POWELL, 1991, p. 02). Apresenta-se como uma alternativa conceitual ao modelo organizacional do ator- racional e enxerga a institucionalização como processo que torna as organizações instrumentalmente menos racionais, por limitar as opções de ação que elas podem perseguir (DIMAGGIO; POWELL, 1991, p. 12). Em um dos trabalhos seminais dessa tradição teórica, Meyer e Rowan (1977), afirmam que outro propósito da Teoria Institucional seria oferecer uma explicação para as difundidas estruturas formais das organizações, pelo argumento de que nas sociedades modernas estruturas organizacionais surgiriam em contextos altamente institucionalizados, nos quais profissões, políticas, programas, produtos e serviços seriam criados e mantidos por serem coletiva e quase que consensualmente tidos como racionais e eficientes. Sob o olhar da Teoria Institucional, organizações tenderiam a incorporar novas práticas e procedimentos que fossem definidos como tarefas e atividades organizacionais racionalizadas (MEYER; ROWAN, 1977, p. 340). O constituinte de um determinado meio que assim se comportasse aumentaria sua legitimidade e, por conseguinte, suas perspectivas de sobrevivência, independentemente da eficácia imediata das práticas e procedimentos incorporados por sua estrutura. Por essa linha de raciocínio, produtos, serviços, técnicas, políticas e programas funcionariam como mitos poderosos, e muitas organizações adotá-los- iam cerimoniosamente, como nos ensina Meyer e Rowan: [...] posições, políticas, programas e procedimentos de modernas organizações são feitos cumprir pela opinião pública, pela visão de cidadãos importantes, por conhecimentos legitimados através do sistema educacional, por prestígio social, pelas leis e, por definições de negligência e prudência, 3 usadas pelos tribunais. Tais elementos da estrutura formal são manifestações de poderosas regras institucionais que funcionam como mitos altamente racionalizados, que passam a ser obrigatórios a determinadas organizações (MEYER; ROMAN, 1977, p.343) [tradução nossa]. Seguindo essa argumentação, vale frisar que muitos programas organizacionais formalizados são institucionalizados pela sociedade. Ideologias definem funções apropriadas para um negócio, tais como as de venda, produção, publicidade ou contabilidade, bem como para uma universidade, taiscomo as de introdução e pesquisa em história, engenharia e literatura, ou para um hospital, como as de cirurgia, obstetrícia, ambulatório (MEYER; ROWAN, 1977, p. 342). Da mesma forma, tecnologias são também institucionalizadas, tornando-se mitos obrigatórios às organizações. Procedimentos de produção, contabilidade, seleção de pessoal e processamento de dados são aceitos sem quaisquer questionamentos como meios de realizar os fins organizacionais. Aparte sua possível eficiência, tais técnicas institucionalizadas dariam a uma organização o status de apropriada, racional e moderna (MEYER; ROWAN, 1977, p.344). Perrow (1985, p. 152) comenta que organizações institucionalizadas são julgadas por suas formas, não por sua produção. Por isso, elas pouco monitorariam sua produção, entretanto, protegeriam suas estruturas — sua principal fonte de legitimidade. Meyer e Rowan (1977, p. 347) apresentam três circunstâncias dos ambientes organizacionais que supostamente seriam catalisadoras da formação e difusão de mitos institucionais racionalizados, quais sejam: a elaboração de complexas redes relacionais; o grau de coletiva organização de um ambiente e; os esforços de organizações locais líderes. Já Scott (1991, p. 167) aponta alguns exemplos de potenciais fontes de criação de mitos racionalizados: a opinião pública, sistemas educacionais, leis, tribunais, profissões, ideologias, tecnologias, estruturas regulatórias, recompensas e prêmios, corpos de certificação e acreditação e requisitos e aprovações governamentais. Tais autores preveem que quando redes relacionais se tornam mais densas numa sociedade haveria um aumento do número de mitos racionalizados que aparecem e passam a vigorar no ambiente. Como exemplo, eles pontuam que em sociedades modernas, em contextos mercantis onde há fortes redes relacionais, empresas de um tipo específico de indústria são aproximadamente similares em locais diferentes. Outro importante fator criador e difusor de mitos institucionalizados seria organização coletiva do ambiente. Pois, em sociedades ou ambientes em que há um maior número de fortes entidades — tais como varas de justiça, agências reguladoras e órgãos como sindicatos e confederações — mitos racionalizados passariam a existir e seriam mais amplamente difundidos. Por esse ponto de vista, sociedades que, por meio da construção e formação do estado, têm ordenamentos legais desenvolvidos seriam particularmente mais propensas a atribuir uma coletiva autoridade a instituições legitimadoras de uma estrutura organizacional particular (MEYER; ROWAN, 1977, p. 347). De modo semelhante, esforços de lideranças locais fomentariam o aparecimento e difusão de práticas e procedimentos com forte valor simbólico, tendo em vista que poderosas organizações forçariam sua imediata rede relacional a se conformar aos seus objetivos e estruturas institucionalizadas. A indústria automobilística, comumente, ajuda a criar demandas por tipos específicos de estradas, de sistemas de transporte e de padrões de combustíveis. Adicionalmente, produtores de automóveis tentariam transformar suas metas e objetivos em regras socialmente institucionalizadas, visando moldar a opinião pública acerca do modelo de veículo a ser desejado, forçando e defendendo um padrão legal de carro satisfatório, suficientemente capaz de protegê-los de responsabilidades de produção; ao 4 mesmo tempo em que constrangem seus clientes a desejar e adquirir tais produtos (DIMAGGIO; POWELL, 1983). Todos esses fatores colaborariam com o surgimento e expansão de mitos racionalizados, e tal processo — de crescimento de estruturas institucionais racionalizadas — tornaria as organizações de uma sociedade mais semelhantes e elaboradas ao longo do tempo. Dessa importante conclusão, decorre o conceito de isomorfismo institucional que, como será apresentado a seguir, assumiu um papel central na discussão proposta por este estudo. 2.1 O conceito de Isomorfismo Segundo Hawley (1968, apud DIMAGGIO; POWELL, 1983), o isomorfismo é o processo de constrangimento que força uma unidade de uma população a se assemelhar a outras unidades diante do mesmo conjunto de forças ambientas. Para a Teoria Institucional o isomorfismo organizacional num ambiente se dá porque estruturas organizacionais refletem uma realidade socialmente construída, passando a incorporar, de modo take-for-granted, práticas e tecnologias que, miticamente, são tidos como racionais e eficientes por seus pares. Dimaggio e Powell (1983) foram quem melhor especificaram as relações entre ambiente institucional e isomorfismo organizacional. Para eles, a burocratização e outras formas de mudança organizacional ocorrem como resultado do processo que tornam as organizações mais similares, sem necessariamente torná-las mais eficientes. Expandindo as ideias de Hannan e Freeman (1977) e Meyer (1977), Dimaggio e Powell (1983) refinam o conceito de Isomorfismo organizacional e identificam três mecanismos através dos quais mudanças institucionais isomórficas aconteceriam: coercitivos, miméticos e normativos, cada qual com seus próprios antecedentes. O isomorfismo coercitivo origina-se de influências políticas e de problemas de legitimidade. Ele seria consequência das pressões formais e informais exercidas sobre organizações das quais elas sejam dependentes ou por expectativas culturais da sociedade, dentro da qual uma organização se encontra inserida (DIMAGGIO; POWELL, 1983, p. 150). Tais pressões poderiam ser sentidas como forças, persuasões ou convites a se juntar em coalizões. Para ilustrar esse tipo de isomorfismo, Coser e outros (1982, apud DIMAGGIO; POWELL, 1983) asseveram que, em conglomerados, subsidiárias adotam práticas contábeis, avaliações de desempenho e planos orçamentários compatíveis com as da companhia controladora, sem estarem sujeitas a nenhuma obrigação formal que as forçasse a esse comportamento. Já o processo isomórfico mimético seria resultante de padrões de respostas a incertezas. Para Dimaggio e Powell (1983, p. 151) a incerteza também seria uma poderosa força encorajadora da imitação. Embasados nas ideias de March e Olsen, eles afirmam que, quando tecnologias organizacionais são mal entendidas, quando metas são ambíguas ou quando o ambiente cria incertezas simbólicas, as organizações podem se modelar espelhando- se em outras, tidas como sólidas e eficientes em seu meio. Exemplificam esse tipo de mecanismo, que leva à homogeneidade estrutural, com o movimento de adoção a modelos de gestão japoneses realizado por corporações norte-americanas para enfrentar espinhosos problemas de produtividade e de pessoal. E, por fim, o isomorfismo normativo que teria como fonte primária a profissionalização. Segundo Dimaggio e Powell (1983, p. 152) a profissionalização seria um esforço coletivo de membros de uma determinada ocupação para definir condições e métodos 5 de trabalho com fins de controlar a elaboração de procedimentos e de estabelecer uma base cognitiva e de legitimação para sua autonomia ocupacional. Profissões estariam sujeitas a pressões coercitivas e miméticas, assim como as organizações. Entretanto, enquanto vários tipos de profissionais dentro de uma organização se diferenciam uns dos outros, eles demonstram ser muito similares às suas contrapartes em outras organizações. Adicionalmente, em muitos casos, o poder profissional é tanto designado pelo estado como é criado por atividades profissionais (DIMAGGIO; POWELL, 1983, p. 152). Como notado, os argumentos e delimitações acerca dos fatores que levariam ao isomorfismo organizacional mostram-se muito coerentes com a realidade. E no que se refere ao estudo da prática contábil, essa tipologia de mecanismos sócio-comportamentais, possivelmente determinantes da estrutura organizacional, torna-se muito útil à previsão e explicaçãode suas variações e uniformidades, como nos relata Dias Filho (2004, p. 37). 2.2 A Hipótese Como anteriormente exposto, no âmago do pensamento neoinstitucional está a ideia de que as organizações passam a acatar, tomando como efetivos e eficientes, sem qualquer espécie de contestação, práticas e métodos que, com forte valor mítico, são coletivamente utilizados e entendidos como racionais e eficientes por seus pares. Assim sendo, a ação de um indivíduo reproduziria o que é costumeiramente feito pela sociedade na qual ele se encontra inserido, sem haver fortes resistências, ou seja, com uma quase ausência de qualquer tipo mais aprofundado de reflexão a respeito (MEYER; ROWAN, 1977). Adaptando esse pensamento ao campo de atuação da pesquisa contábil, pode-se, analogamente, argumentar que organizações tenderiam a optar pelo uso de práticas contábeis aceitas e já amplamente manuseadas por suas congêneres, uma vez que a adesão a tais práticas as tornaria mais legítimas, aumentando suas chances de sobrevivência. Num sentido oposto, como observado por Scott (1991, p.170), quanto mais consensual for o uso de certa prática entre membros de um grupo, mais legitimidade ela transferiria àqueles indivíduos que a incorporam em sua estrutura burocrática. Adicionando a essas ideias o conceito isomorfismo organizacional, poder-se-ia supor, em um problema contábil, que, diante de determinadas circunstâncias, uma organização tenderia a lançar mão de práticas contábeis já dominantemente utilizadas pelos demais elementos de sua população. Logo, por esse raciocínio, chegar-se-ia à conclusão de que um conjunto de empresas, circunscritas ou expostas à mesma sorte ambiental, infundida por forças coercitivas, miméticas ou normativas, tornar-se-ia isomórfico, no que tange as suas práticas contábeis, em certo lapso de tempo. E, conforme construções teóricas de Dimaggio e Powell (1983), quanto mais sujeitas a pressões institucionais mais isomórficas ao seu ambiente uma dada organização se tornaria. Levando em consideração todas essas ideias, esta pesquisa testou a hipótese de que quanto mais sujeitas e pressões institucionais mais isomórficos seriam os relatórios de administração publicados por empresas do subsertor de Energia Elétrica. 3 Procedimentos Metodológicos O eixo de desenvolvimento desta pesquisa centrou-se na interação entre ambiente e prática contábil organizacional de empresas que operavam no subsetor de Energia Elétrica. De modo que este trabalho buscou verificar até que ponto a sujeição organizacional a pressões 6 institucionais vigentes em seu meio fariam com que empresas do referido setor tendessem a publicar Relatórios da Administração mais semelhantes a um padrão médio ambiental, no que tange a algumas de suas características contábeis e estruturais, observadas nos textos. Para isso, foram observados e manuseados Relatórios de Administração (RA) publicados no ano de 2009, referentes ao exercício de 2008, de 29 das 64 companhias abertas, que estavam classificadas pela Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) nesse setor. A seleção dos elementos da amostra foi realizada por meio de um processo randômico. 3.1 Construindo a variável dependente – tendência ao isomorfismo Num segundo momento, por meio da aplicação de técnicas do método Análise de Conteúdo, foram computadas as freqüências com que seis características contábeis e duas estruturais se faziam presentes nos textos observados; elencadas no quadro a seguir: Variáveis Dependentes observadas Número Nome Número Nome 1 Receita 5 Custos 2 Despesa 6 Capital 3 Ebitda 7 Número de páginas 4 Lucro 8 Subtítulos Fonte: Elaboração própria, 2010 Tais variáveis funcionaram como variáveis dependentes. Mais especificamente, elas serviram de insumo para construção de um parâmetro, de um índice, que resumiu as oito dimensões observadas nos textos escrutinados em apenas uma. A técnica utilizada nesse processo de resumo dessas informações foi a Análise das Componentes Principais que, como exposto por Johnson e Wichern (1998, p.458), preocupa-se em explicar a estrutura de variância e covariância de um conjunto de variáveis em apenas poucas combinações lineares. Tendo lógica central reduzir para melhor interpretar, assume a seguinte forma geral: 1 1 2 2j j j jp pY e Z e Z e Z= + + +L Onde: jY = j-ésima componente principal, estimada por meio das observações das variáveis dependentes, sendo p = 8; ( )p p p p x x Z S −= = p-ésima variável padronizada observada. Seguindo Hair e outros (2005); Johnson e Wichern (1998) e Mingoti (2005), foram observados três critérios na avaliação da primeira componente principal que, pela sistemática algébrica do processo, explicaria maior parte da variância total dos dados. O primeiro e um tanto quanto heurístico critério foi o da avaliação dos valores que os pesos êjp assumiram na formação da primeira componente principal. O segundo consistiu na avaliação da proporção da variação total explicada pela variante focalizada. E o terceiro foi o razão do Alfa de Cronbach, que permite avaliar a confiabilidade da proporção da variação total explicada pela componente (HAIR et al., 2009; MAROCO, 2007). Após validação, a componente principal estimada foi utilizada para calcular escores amostrais dos RA, elementos da amostra, que funcionaram como uma nova variável dependente – que transportavam consigo grande parte da informação acerca das características contábeis e estruturais dos relatórios de administração observados. Os escores amostrais calculados por meio da primeira componente principal estimada foram utilizados na construção de uma terceira variável – tendência ao isomorfismo contábil e 7 estrutural dos relatórios de administração publicados pelos elementos da amostra. Como adiante demonstrado, essa nova variável entrou como variável dependente em ajuste de modelo de regressão múltipla. Tendo a seguinte forma algébrica: ( )n nTi y y= − Onde: nTi = Índice de isomorfismo do n-ésimo elemento da amostra; ny = escore amostral do n-ésimo elemento da amostra calculado por meio da primeira componente principal estimada; 29 1 1 n n y y n = ⎛ ⎞= ⎜ ⎟⎝ ⎠∑ É importante entender que o raciocínio empregado aqui foi o de que a média y , dos escores amostrais ny , representaria o padrão dos relatórios de administração publicados por empresas do subsertor de Energia Elétrica, no que tange algumas de suas características contábeis e estruturais. E que, o desvio em relação à média nTi , captaria uma tendência a esse padrão, ao isomorfismo ambiental, uma vez que, quanto mais próximo da média um elemento de uma população se encontra, mais semelhante ao padrão ambiental, média, ele é. Já valor modular justifica-se porque não interessa a essa pesquisa conhecer se determinado elemento encontrava-se abaixo ou acima da média, mas sim a magnitude dessa distância. E também porque, caso isso não fosse corrigido, o modelo de regressão ajustado não descreveria adequadamente a relação entre as variáveis observas, pretendida por este estudo. 3.2 Variáveis Independentes – pressões institucionais As variáveis independentes — que intentaram capturar a exposição organizacional a pressões institucionais vigentes em seu ambiente — foram também extraídas do conteúdo dos próprios RA amostrados. Os procedimentos envolvidos nesse processo, bem como a abordagem analítica nele dispensada estão fundamentados em instrumentos metodológicos testados, aceitos e difundidos na sociolinguística, na psicologia-social e na análise das comunicações, dentre outras áreas do conhecimento (BARDIN, 2009). Todos materializados em protocolos do método de Análise de Conteúdo. Vale frisar que, assim como ensinado por Duriau, Reger, Pfarrer (2007) e Bardin(2009) e executado por Sonpar e Golden-Biddle (2008), Deegan, Rankin e Tobin (2002), Gray, Kouhy e Lavers (1995), este estudo utilizou a frequência com que certos temas se apresentavam na comunicação organizacional escrutinada, relatórios de administração, para tirar conclusões, fazer inferência, acerca das condições de produção das mensagens. A condição de produção dos RA que interessava a esta pesquisa era a do contexto social no qual operavam as empresas estudadas. Mais diretamente, o meio institucional, supostamente, influente sobre o comportamento das organizações investigadas, tal como delineado pela Teria Institucional (MEYER; ROWAN, 1977; ZUCKER, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; SCOTT, 1991). Sendo, para isso, necessário selecionar unidades de registro, elementos do léxico presentes nos documentos em análise, cujos conteúdos semânticos pudessem ser considerados como respostas a pressões institucionais vigentes no contexto social observado. Em síntese, frisa-se que foram inferidas como mais sujeitas a pressões institucionais aquelas organizações que, com mais frequência, fizeram referência a certos temas, 8 previamente definidos como resposta às pressões institucionais do ambiente em que organizações observadas operavam. Respeitados os princípios da exclusão mútua e objetividade ou fidelidade do método Análise de Conteúdo, foram selecionadas as seguintes doze variáveis: nº Nome Unidades de registro computadas 1 Lei lei, leis, legais, legislação, legal, legislações, instrução 2 CVM Comissão, BACEN 3 ANELL ANELL 4 CPC CPC, CRC, CFC 5 Ambiente Ambientais, ambiental, ambientalmente 6 Clientes Cliente, Clientes 7 Responsabilidade Responsabilidade, sustentável, socialmente, 8 Projetos Projetos, programas 9 Colaboradores Colaboradores, funcionários 10 Educação Educação, educativas, educacional, educacionais, educando, educadores (as) 11 Crianças Crianças, criança, cultura, escola(s), arte, cultural, culturais, escolar, escolares, artesanato, artesanatos 12 Comunidade Comunidade, comunidades Fonte: elaboração própria Dada a quantidade de variáveis independentes observadas nesse processo, bem como a suposta correlação existente entre elas, foi empreendida uma Análise Fatorial na matriz de dados que colecionavam informação acerca da exposição organizacional a pressões institucionais. O que, a semelhança do realizado no processo de resumo das variáveis dependentes em um único índice, visou agrupar as variáveis correlacionadas em um menor número de fatores que, possivelmente, capturavam uma mesma dimensão, um mesmo fenômeno, no caso desta pesquisa, uma mesma espécie de pressão institucional. Os fatores extraídos foram validados via procedimentos e testes sugeridos e aceitos pela literatura de referência (JOHNSON; WICHERN, 1998; HAIR et al., 2005; MINGOT, 2005; MAROCO, 2007). O método de extração e os critérios de validação dos fatores são demonstrados na seção que apresenta e analisa os dados. Os fatores validados foram utilizados para estimar escores para cada um dos elementos da amostra. Esses escores, por sua vez, fizeram o papel de variáveis independentes no processo de ajuste de modelo de regressão múltipla, representando a exposição organizacional a pressões institucionais operantes no contexto investigado. 3.3 Regressão múltipla Visando testar a relação entre pressões institucionais e isomorfismo dos relatórios de administração publicados por empresas do subsetor de Energia Elétrica, foi utilizado um modelo de regressão múltipla, ajustado por meio do método dos Mínimos Quadrados Ordinários. Na avaliação da boa forma do modelo ajustado foram observados o coeficiente de determinação R2 e o coeficiente de determinação ajustado R2 ajustado. O teste F foi aplicado com a finalidade de verificar se o modelo estimado se ajustava aos dados, ou melhor, se há variáveis preditoras importantes ao ajuste do modelo. Na avaliação da contribuição individual das variáveis independentes foram aplicados testes t de student. E, por fim, devido ao tamanho da amostra manuseada no ajuste do modelo, tornou-se necessário testar a normalidade dos resíduos de regressão, para que pudessem ser aceitos e validados os resultados dos testes F e t supracitados. O teste de normalidade recomendado para amostras com 29 elementos (HAIR et al., 2005; MAROCO, 2007), utilizado por esta pesquisa, foi o de Shapiro-Wilk. 9 4 Apresentação e Análise dos dados De antemão, ressalta-se que na operacionalização dos procedimentos estatísticos apresentados a seguir foi utilizado o software SPSS versão 15, devidamente licenciado. 4.1 Análise das Componentes Principais A primeira componente principal estimada da matriz de dados que continha oito variáveis dos textos analisados - seis contábeis e duas estruturais, apresentadas anteriormente - assumiu a seguinte forma: 0,975 ( ) 1, 027( ) 0,893( ) 1,001( ) 0,688( ) 1, 018( ) 0,930( ) 0, 271( )npag tit rec des Ebit luc cust capY Z Z Z Z Z Z Z Z= + + + + + + + ) Observando o primeiro critério de avaliação, percebe-se que a maioria das variáveis tem forte influência na composição da primeira componente principal estimada. A tabela a seguir apresenta a razão Alfa de Cronbach e a proporção da variação total dos dados explicada pela métrica acima transcrita. Análise das Componentes Principais - dados RA do subsetor de Energia Elétrica CPs Alfa de Cronbach Variância Explicada Autovalores Proporção da Variância Total 1 0,909 4,88 61,06 Fonte: Elaboração própria, 2011 A última coluna da tabela demonstra que a primeira componente principal, Y ) , explica 61,06% da variação total da matriz de dados em análise. Segundo Hair e outros (2005, p. 120), em ciências sociais, costuma-se aceitar como válidas proporções da variância total explicada até um pouco menores que 60%. O valor da razão Alfa de Cronbach, apresentado na segunda coluna, 0,909 — é considerado (HAIR et al., 2005) como alto, revelando, com isso, a fidedignidade dessa dimensão (componente principal) na representação da variação total dos dados. Aceita como válida e entendida como uma síntese bem aproximada das características contábeis e estruturais do texto, a formula acima foi utilizada para calcular escores, yn, e seus respectivos índices de tendência ao isomorfismo, Tin, descritos na seção anterior. 4.2 Análise Fatorial e as proxies de pressões institucionais Seguindo sugestão de Hair e outros (2009, p. 107), ao aplicar tal método, este trabalho buscou sumarizar as variáveis que representavam a exposição organizacional a pressões vigentes em seu ambiente em dimensões, fatores, extraídos da estrutura subjacente dos dados. Os fatores resultantes desse processo foram utilizados na estimação de escores fatoriais — variáveis não diretamente observáveis — para os elementos das amostras. As novas variáveis construídas, resumo da exposição organizacional a determinadas pressões institucionais, foram utilizadas em teste, para ratificar se de fato elas apresentavam alguma capacidade de explicar o isomorfismo dos RA observados, como faz crer o pensamento neoinstitucional (MEYER; ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1977; ZUCKER, 1977; SCOTT, 1987; SOCTT, 1991). Para resumir as doze variáveis independentes observadas em um menor número de outras não observáveis, aplicando a Análise Fatorial, recorreu-se ao método das componentes principais, estabelecendo como critério de corte para extração dos fatores o das raízes características, autovalores, que assumissem valor > 1. Este procedimento permitiu a extração de apenas dois fatores, com descreve disposta a seguir: 10 Análise Fatorial exploratória dos dados das variáveis independentes- subsetor de Energia Elétrica Componente Autovalores Iniciais Variação explicadapelas dimensões Total %Variância % Acumulado Total % Variância Acumulado 1 5,912 49,267 49,267 5,912 49,267 49,267 2 2,879 23,992 73,260 2,879 23,992 73,260 3 0,936 7,798 81,058 4 0,760 6,332 87,389 5 0,624 5,200 92,589 6 0,315 2,624 95,214 7 0,173 1,442 96,656 8 0,152 1,263 97,919 9 0,121 1,007 98,926 10 0,073 0,609 99,535 11 0,045 0,372 99,906 12 0,011 0,094 100,000 Fonte: Elaboração própria, 2011 A tabela apresentada a seguir, põe em relevo as cargas, pesos, originais e derivados do processo rotacional, com que cada uma das variáveis se mostrou intrinsecamente relacionada com os fatores extraídos, conforme procedimento acima descrito. Tal informação foi importante para que se observasse a consistência teórica dos dados explorados. Análises das correlações entre as variáveis e os fatores extraídos – subsetor de Energia Elétrica Pesos Originais Pesos – Rotação Componentes Componentes 1 2 1 2 Lei 0,538 0,753 0,302 0,875 CVM 0,095 0,947 -0,177 0,935 ANEEL 0,583 0,605 0,388 0,745 CPC 0,203 0,902 -0,061 0,923 Ambiente 0,779 -0,083 0,770 0,141 Clientes 0,744 -0,213 0,773 0,006 Responsabilidade 0,786 -0,188 0,807 0,042 Projetos 0,895 -0,200 0,916 0,061 Colaboradores 0,766 -0,258 0,807 -0,030 Educação 0,893 -0,149 0,899 0,110 Criança 0,703 -0,068 0,694 0,134 Comunidade 0,881 -0,116 0,878 0,138 Fonte: Elaboração própria, 2011 Como é possível observar analisando os valores destacados na tabela acima, pesos originais e respectivos pesos derivados do processo rotacional, a primeira dimensão, fator, é principalmente formada pelas variáveis: ambiente, clientes, responsabilidade, projetos, colaboradores, educação, criança e comunidade. De igual maneira, a segunda dimensão é primordialmente, constituída e influenciada pelas variáveis: Lei, CVM, ANELL e CPC. Ante os dados supra apresentados, pôde-se entender que o primeiro fator representava e resumia a exposição organizacional a “Pressões Institucionais derivadas de fontes informais” (DIMAGGIO; POWELL, 1983), tratado doravante pela sigla PII. Ou seja, o primeiro fator está mais fortemente relacionado com variáveis conteúdo fazia alusão a um cuidado organizacional com a sociedade. Uma espécie de atenção voluntariosa. Nesses casos, não há uma exigência legal ou regulamentar (formal) determinadora de tal comportamento. A 11 sociedade exige e pressiona informalmente, não por meio de um instituto legal ou pela ação de agências reguladoras. Pode ser interpretada como uma forma utilizada pelas organizações para se legitimarem como empresas que “cuidam” da sociedade, como ela requer e merece, independentemente de lei ou regulamento que as obriguem a fazê-lo. Já o segundo fator sumarizaria a exposição organizacional a “Pressões Institucionais Formais”- PIF. Neste caso, a interpretação coerente com a Teoria Institucional (DIMAGGIO; POWELL, 1983) é a de que tal variante captaria a necessidade organizacional de se mostrar como uma empresa que respeita as instituições legais, normativas e fiscalizadoras, respectivamente, vigentes e presentes no ambiente em que ela opera. Sua magnitude poderia ser entendida como uma medida do sentimento organizacional sobre importância e essencialidade desse comportamento na obtenção de legitimidade organizacional. 4.2.1 Validando os fatores PII e PIF Para testar a unidimensionalidade dos dois fatores PII e PIF foi utilizada uma análise fatorial exploratória, extração pelo método das componentes principais, que confirmou essa propriedade nos referidos fatores. Esse procedimento foi validado por meio do Índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e pelo teste de esfericidade de Bartlett, apresentados na tabela a seguir: Resultado dos testes KMO e Bartlett – PII e PIF FATOR PII Medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin 0,753 Teste de Esfericidade de Bartlett Qui-Square 205,795 DF 28,000 Sig. 0,000 PIF Medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin 0,801 Teste de Esfericidade de Bartlett Qui-Square 70,927 DF 6,000 Sig. 0,000 Fonte: Elaboração própria, 2011 Os índices KMO calculados para os fatores PII e PIF foram, respectivamente, 0,753 e 0,801, considerados por HAIR e outros (2005) como satisfatórios. Eles medem o grau com que as variáveis que constituem os fatores sob análise estão intercorrelacionadas. Os testes de esfericidade de Bartlett, semelhantemente, mostram-se estatisticamente significantes (sig.< 0.000) para os dois fatores, corroborando a existência de correlações entre as variáveis. A confiabilidade dos fatores PII e PIF foi analisada via Alfa de Cronbach. Os respectivos valores calculados foram 0,861 e 0,747. Tais magnitudes dessa razão são entendidas como altas (HAIR et al., 2005) e depõem fortemente a favor da confiabilidade dos fatores. Por fim, testando agora a validade de convergência dos fatores PII e PIF, procedeu-se ao cálculo dos coeficientes de correlação Rô de Spearman. E, com exceção da correlação entre a variável ANELL e CVM (sig.= 0,163) que integram o fator PIF, todas as demais são tidas como correlacionadas com significância estatística < 0,05 — o que vai ao encontro da validade de convergência dos fatores por hora testados. Mediante os resultados mencionados, aceitou-se como válidos os fatores PII e PIF. Eles serviram para estimar escores fatoriais amostrais. Processo realizado por meio do método de Bartlett — Míminos Quadrados Ponderados. Os valores dos escores estimados para os elementos da amostra entraram como observações das variáveis independentes no ajuste do 12 modelo de regressão múltipla, representando a exposição organizacional a pressões institucionais informais (PII) e formais (PIF). 4.3 Modelo de Regressão Múltipla Esta fase da pesquisa procurou verificar em até que ponto as variáveis PII e PIF, proxies da exposição organizacional a certas pressões institucionais, explicavam a aderência dos Relatórios de Administração, publicados pelas empresas do subsetor de Energia Elétrica, ao padrão ambiental médio. Desejando, com isso, observar se tais variáveis explicariam o isomorfismo dos RA publicados pelas empresas desse ambiente. O modelo ajustado assumiu a seguinte forma: 0,649 0,376 0,655Ti PII PIF= − +) Onde: ( )Ti y y= −) ) PII = Escore Fatorial estimado por meio da variante PII - Pressões Institucionais Informais; PIF = Escore Fatorial estimado por meio da variante PIF - Pressões Institucionais Informais. O coeficiente de determinação R2 e o coeficiente de determinação ajustado, R2 Ajustado, relativos ao modelo foram, respectivamente, 0,571 e 0,538. Indicando que parte da variação total de Ti é explicada pelas variáveis explanatórias PII e PIF. Ou seja, que as variáveis independentes predizem, em parte, a variação no isomorfismo dos Relatórios de Administração publicados pelas empresas do subsetor de Energia Elétrica. Esse resultado vai de encontro com relações conceituais delineadas pela Teoria Institucional (MEYER; ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; ZUKER, 1977). O teste F, resultante do ajuste do modelo, corrobora essa conclusão, demonstrando que o modelo se ajusta aos dados, ou seja, explica o comportamento da variável predita, com significância estatística (p-valor < 0,000). Resultados dos teste t-Student nos coeficientes de regressão estimados Parâmetro Estimativa Estatística - t p-valor 0β 8,427 0,000 1β -0,376 -2,928 0,007 2β 0,655 5,103 0,000 Fonte: Elaboração própria, 2010 A última coluna da tabela acima, que expõe a significância do teste t-student para cada coeficiente das variáveis preditoras, revela que ambas as variáveis PII e PIF são estatisticamente significativas na predição da variação dosRelatórios de Administração, publicados por empresas do subsetor de Energia Elétrica. Em uma análise qualitativa ou teoricamente orientada, observou-se que a variável PII explica o isomorfismo dos relatórios de Administração publicados por empresas do subsetor de Energia Elétrica. O que revela que pressões institucionais, derivadas da busca por legitimidade, relacionadas a práticas ainda não formalizadas pela sociedade, contribuem para que organizações que operam no subsetor de Energia Elétrica tendam a publicar RA adotando características contábeis e estruturais aceitas e amplamente utilizadas por suas congêneres. Entretanto, a variável PIF contribui para que os RA publicados por empresas do subsetor de Energia Elétrica sejam diferentes, menos isomórficos ao padrão ambiental. 13 Contraria-se, então, a relação teoricamente esperada, para a qual as variáveis preditoras deveriam se apresentar inversamente relacionadas com a variável dependente, não diretamente, como foi observado. Para finalizar e validar os testes estatísticos interpretados ao longo desta seção foi realizado teste de normalidade de Shapiro-Wilk, na distribuição dos erros estimados, gerados especificamente com essa finalidade. Com p-valor igual a 0,182, não se rejeitou a normalidade dos erros estimados. 5 Considerações Finais O eixo de desenvolvimento desta pesquisa centrou-se na interação entre ambiente e prática contábil organizacional de empresas do subsetor de Energia Elétrica. Buscou-se verificar até que ponto a sujeição organizacional a pressões institucionais vigentes em seu meio fariam com que empresas do referido setor tendesse a publicar Relatórios da Administração mais semelhantes a um padrão médio ambiental, conforme nos permite prevê a Teoria Institucional (MEYER; ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; ZUCKER, 1977; SCOTT, 1991). Os achados dessa pesquisa vão ao encontro das predições delineadas pelo pensamento neo-institucional (MEYER; ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; ZUCKER, 1977; SCOTT, 1991), corroborando, de certo modo, evidências relatadas por alguns autores, tais como Moura e Dias Filho (2009); Ventura (2005); Deegan e Rankin (2002); Carpenter e Feroz (2001) e Mezias (1990). O modelo de regressão estimado com os dados de empresas do subsetor de Energia Elétrica revela-se estatisticamente significativo na explicação das variações das características estruturais e contábeis presentes dos referidos documentos textuais. Entretanto, a hipótese de que quanto mais fortes forem as pressões institucionais mais isomórficos seriam os RA observados, lastreada em ideias de Dimaggio e Powell (1983), apenas se mostra válida para a variável PII, que capturou, como demonstrado ao longo do texto, a exposição das organizações a pressões institucionais informalmente estatuídas naquele ambiente. Inversamente ao esperado, a variável PIF — Pressões Institucionais Formais mostrou- se estatisticamente significativa na explicação da variação dos relatórios de administração publicados pelas empresas do subsetor de Energia Elétrica. Ou seja, quanto mais uma empresa se sente pressionada por tais forças, mais ela tende a publicar RA distante do padrão médio divulgado por seus pares — não coerente com os conceitos de pensamento neoinstitucional (MEYER; ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; SCOTT, 1991). Várias seriam as explicações para esse acontecimento. Primeiramente, poder-se-ia atribuir tal resultado ao erro amostral, inerente à forma como se estruturou este trabalho, cuja comprovação depende de realização de outras pesquisas que manuseiem amostras diferentes. Outra possível explicação para esse resultado é a de que o fator PIF foi formado com maior peso pelas variáveis: CPC, CVM, ANELL e LEI que têm, em alguma medida, uma dimensão técnica. Na variável lei, por exemplo, foi codificada a frequência com que empresas faziam alusão ao atendimento de instruções normativas a que se encontravam obrigadas. A interpretação e a implementação de tais regras impactariam diretamente o arranjo operacional das organizações, forçando-as a mudarem práticas e métodos já adotados. Outra importante consideração diz respeito ao atual processo de harmonização dos padrões de contabilidade brasileiros aos internacionais. Alterações promovidas na lei 6.404/76 e novas regulamentações da CVM ou do CPC, na época em que os RA estudados foram publicados, ainda na fase inicial de interpretação e aplicação, podem ter provocado esse fenômeno de heterogeneidade dos RA observados. Tal efeito, ao longo do prazo, tenderia a ser inverso, se predições da Teoria Institucional forem aplicáveis ao estudo do fenômeno em foco (MEYER; 14 ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983). Mas ratificar essa interpretação dependerá da realização de estudos que observem a variação ao longo de vários períodos, ficando aqui uma sugestão para futuras pesquisas. Ante o apresentado, espera-se que o presente estudo forneça contribuições para o desenvolvimento da pesquisa contábil brasileira. Especificamente para a agenda de pesquisa que esteja interessada em revelar como o comportamento contábil organizacional pode ser explicado por atributos e variáveis dos contextos sócio-institucionais nos quais corporações encontram-se inseridas. Referências Bibliográficas BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. CARPENTER, Vivian L., FEROZ, Ethan H. Institutional theory and accounting rule choice: an analysis of four US state governments’ decisions to adopt generally accepted accounting principles. Accounting Organizations and Society, v. 26, p. 565-596, 2001. DEEGAN, Craig; RANKIN, Michaela; TOBIN, John. An examination of the corporate social and environmental disclosures of BHP from 1983 – 1997: a test of legitimacy theory. Accounting, Auditing e Accountability Journal. Vol. 15 Nº. 3, p. 312 – 343. 2002. 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