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Independência de caminhos Se −→ F é um campo vetorial contínuo, então dizemos que a integral de linha ∫ C −→ F • d−→r independe do caminho se ∫ C1 −→ F • d−→r = ∫ C2 −→ F • d−→r para quaisquer dois caminhos C1, C2 ⊂ Dom(−→F ) cujos pontos iniciais e finais coincidam. Já sabemos que as integrais de linha dos campos conservativos contínuos independem do caminho. Uma curva C dada por −→r (t), t ∈ [a, b] é dita fechada se seu ponto final e seu ponto inicial coincidem, ou seja, se −→r (a) = −→r (b). Observação 1. Cuidado para não confundir o fato de uma curva ser fechada com o fato do seu traço ser fechado. O importante são os pontos inicial e final da curva e não o seu traço. Por exemplo, a curva dada por −→r (t) = cos t−→i + sen t−→j , t ∈ [0, 2pi] é uma curva fechada, enquanto a curva dada por −→r (t) = cos t−→i + sen t−→j , t ∈ [0, 3pi] não é fechada! Suponha que a integral de linha ∫ C −→ F •d−→r independe do caminho e que C seja uma curva fechada contida no domínio de −→ F . Sejam A e B dois pontos distintos sobre a curva C. Se vermos C = C1∪C2 onde C1 liga A a B e C2 liga B a A, então (lembrando que ao invertermos a orientação da curva trocamos o sinal da integral de linha)∫ C −→ F • d−→r = ∫ C1 −→ F • d−→r + ∫ C2 −→ F • d−→r = ∫ C1 −→ F • d−→r − ∫ −C2 −→ F • d−→r = ∫ C1 −→ F • d−→r − ∫ C1 −→ F • d−→r = 0 (uma vez que tanto C1 quanto C2 possuem os mesmos pontos iniciais e finais). Por outro lado, suponha que −→ F seja um campo vetorial contínuo tal que ∫ C −→ F • d−→r = 0 para qualquer caminho fechado C ⊂ Dom(−→F ). Se tomarmos dois caminhos distintos C1, C2 ∈ Dom(−→F ) conectando A a B e se C = C1 ∪ −C2, então C é uma curva fechada e 0 = ∫ C −→ F • d−→r = ∫ C1 −→ F • d−→r + ∫ −C2 −→ F • d−→r = ∫ C1 −→ F • d−→r − ∫ C2 −→ F • d−→r Logo, ∫ C1 −→ F • d−→r = ∫ C2 −→ F • d−→r e concluímos que −→F independe do caminho. Com isso, demonstramos o seguinte teorema: Teorema 1. A integral de linha ∫ C −→ F •d−→r é independente do caminho se, e somente se, ∫ C −→ F •d−→r = 0 para todo caminho fechado C ⊂ Dom(−→F ). 1 Como as integrais de linha de campos conservativos independem do caminho, então (pelo teorema acima) concluímos que o trabalho realizado por um campo de força conservativo para mover uma partícula ao longo de um caminho fechado é zero. Dizemos que um conjunto D ⊂ R2 é aberto se ele não contém seus pontos de fronteira. Dizemos que D é conexo se quaisquer dois pontos dentro do conjunto D podem ser conectados por um caminho completamente contido em D (em outras palavras, D não é a união de conjuntos disjuntos do plano). O seguinte teorema nos dá condições suficientes para que um campo vetorial contínuo −→ F do R2 cujo domínio seja uma região aberta e conexa do plano seja conservativo: Teorema 2. Suponha que −→ F seja um campo vetorial contínuo do R2 cujo domínio seja um conjunto aberto e conexo do plano. Se ∫ C −→ F • d−→r for independente do caminho em seu domínio, então −→F é um campo vetorial conservativo (ou seja, existe uma função f de duas variáveis tal que −→ F = ∇f). Suponha que −→ F é um campo vetorial conservativo do R2 dado por −→ F (x, y) = P (x, y) −→ i +Q(x, y) −→ j onde P e Q possuem derivadas parciais de primeira ordem contínuas sobre Dom( −→ F ). Como −→ F é conservativo, existe uma função f de duas variáveis tal que −→ F = ∇f = (fx(x, y), fy(x, y)) = fx(x, y)−→i + fy(x, y)−→j Portanto, P (x, y) = fx(x, y) e Q(x, y) = fy(x, y) e, pelo Teorema de Clairaut, temos que ∂P ∂y (x, y) = fxy(x, y) = fyx(x, y) = ∂Q ∂x (x, y) Com isso, concluímos o seguinte teorema: Teorema 3. Se −→ F (x, y) = P (x, y) −→ i +Q(x, y) −→ j é um campo vetorial conservativo do R2 e se P e Q possuem derivadas parciais de primeira ordem contínuas sobre Dom( −→ F ), então ∂P ∂y (x, y) = ∂Q ∂x (x, y), para todo (x, y) ∈ Dom(−→F ) 2 Exemplo 1. Determine se o campo vetorial −→ F (x, y) = (x− y)−→i + (x− 2)−→j é ou não conservativo. Neste caso, temos que P (x, y) = x− y e Q(x, y) = x− 2. Como ∂P ∂y (x, y) = −1 e ∂Q ∂x (x, y) = 1 então ∂P ∂y (x, y) 6= ∂Q ∂x (x, y) e, portanto, o campo não é conservativo. A recíproca deste teorema só vale quando o domínio do campo vetorial é um conjunto aberto simplesmente conexo do plano. Para definir o conceito de conjunto simplesmente conexo precisamos definir inicialmente o conceito de curva simples. Dizemos que uma curva C é simples se C não tem auto-interseção, exceto possivelmente nos seus pontos terminais. Ou seja, a curva C descrita pela função vetorial −→r (t), t ∈ [a, b] é simples se −→r (t1) 6= −→r (t2) para quaisquer t1, t2 satisfazendo a < t1 < t2 < b Um conjunto do plano D é dito simplesmente conexo se D é conexo e se todos os pontos contidos dentro de toda curva simples fechada de D está contido em D (ou seja, se D é um conjunto conexo sem buracos). 3 Teorema 4. Se −→ F (x, y) = P (x, y) −→ i + Q(x, y) −→ j é um campo vetorial do R2 cujo domínio é um conjunto aberto e simplesmente conexo e se P e Q possuem derivadas parciais de primeira ordem contínuas sobre Dom( −→ F ) satisfazendo ∂P ∂y (x, y) = ∂Q ∂x (x, y), para todo (x, y) ∈ Dom(−→F ) então −→ F é um campo conservativo (ou seja, existe uma função f de duas variáveis tal que −→ F = ∇f). Exemplo 2. Determine se o campo vetorial −→ F (x, y) = (3 + 2xy) −→ i + (x2 − 3y2)−→j é ou não conser- vativo. Neste caso, temos que P (x, y) = 3 + 2xy e Q(x, y) = x2 − 3y2. Como ∂P ∂y (x, y) = 2x e ∂Q ∂x (x, y) = 2x então ∂P ∂y (x, y) = ∂Q ∂x (x, y). Como Dom( −→ F ) = R2 e R2 é um conjunto aberto e simplesmente conexo, então o campo vetorial −→ F é conservativo. Exemplo 3. Considere o campo vetorial −→ F (x, y) = (3 + 2xy) −→ i + (x2 − 3y2)−→j . • Determine uma função f tal que −→F (x, y) = ∇f(x, y). • Calcule a integral de linha ∫ C −→ F • d−→r onde C é a curva dada por −→r (t) = et sen t−→i + et cos t−→j , t ∈ [0, pi] Queremos determinar uma função f para a qual fx(x, y) = 3 + 2xy fy(x, y) = x 2 − 3y2 (∗) Integrando fx(x, y) com relação à x e utilizando o teorema fundamental do cálculo, temos que f(x, y) = ∫ fx(x, y) dx = ∫ 3 + 2xy dx = 3x+ x2y + g(y) (observe que a constante de integração pode depender de y já que estamos integrando com relação à x e y independe x). Diferenciando o resultado com relação à y: fy(x, y) = ∂ ∂y (3x+ x2y + g(y)) = x2 + g′(y) Comparando esta derivada com a equação (∗) temos que x2 + g′(y) = x2 − 3y2 ⇒ g′(y) = −3y2 Calculando a integral de g′ com relação à y e utilizando o teorema fundamental do cálculo: g(y) = ∫ g′(y) dy = ∫ −3y2 dy = −y3 + k Portanto, as funções da forma f(x, y) = 3x+ x2y − y3 + k 4 são funções potenciais para o campo conservativo −→ F para qualquer k ∈ R. Em particular, se k = 0, então temos f(x, y) = 3x+ x2y − y3 Seja C a curva dada por −→r (t) = et sen t−→i + et cos t−→j , t ∈ [0, pi] O ponto inicial de C é o ponto de coordenadas −→r (0) = (0, 1) e o ponto final de C é o ponto de coordenadas −→r (pi) = (0,−epi). Pelo teorema fundamental das integrais de linha, temos que∫ C −→ F • d−→r = f(0,−epi)− f(0, 1) = e3pi + 1 5
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