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I ATLAS HIS IUKIA DA ARTE J . Bassegoda Nonell Tradução direta da pr imeira edição espanhola de •MARIA TRAVASSOS ROMANO Professora d ip lomada pelo Colégio Notre Dame de Sion, do Rio de Janeiro EDIÇÃO ESPECIAL REVISADA PARA LIVRO IBERO-AMERICANO, LTDA. RIO DE J ANE I RO ©EDICIONESJOVE 1980 ISBN: 84-7093-148-2 Oepódto Legal: B-20855-80 3 . ' E O l C I O N PORTUGUESA G. Ranacimlento-Avda. CataluAa, 3 1 - S t a . Coloma de Gramanat BIBUOTECA A lli\li>ii(i (1(1 Aric c a história daquilo que de mais hclii iirii(lii.:iii D homem. A contemplação desta histó- i i i i , (Ir iiKulti ordenado, é mais uma satisfação do es- Itllitii dii (iiie um traltalho meramente ciUtural. A imensidão do ciinipo artístico, que valoriza e digni- lltii I I liiiineni. ifue, i>or outro lado, é capaz de tantas hrntiilidiule\, ohriy.aiios a restringir, enormemente, o eonleiulii í / r unia ol>ra de divulgação como a que ora iipi eseiiliiniiis iiii leitor. Paru se evitar que o critério ie:liiliv(i possa empanar a visão de conjunto da arte I uuUnnir. ijiie uma estudada seleção facilitasse o pano- iiiniii i;eiiil dii história dii arte, de modo satisfatório, \eiii e:(ineeer artista algum de primeira grandeza como iiiniliein nenliuiiia obra imortal. Meiíi (III escolha de ilustrações com seus respectivos eoinenldi ios, i''ste livro, em cada um de seus capítulos, foi e.;eiito com o intuito de ser um roteiro geral de I l i d a e\iiilii artística e de cada momento histórico. Em liieves mas siihstuiieiosas linhas —assim esperamos— é e\posta a razão de ser de cada época, para depois l>ii\sarnii>s ii discrição e ao comentário das obras. tispeid II autor que a leitura de seu livro sirva para iiliiii as portas a um conhecimento sumário da história i / i í mie, siilieieiite, sem dúvida, para despertar o inte- 1 1 " . M ' ( ' ( I desejo de aumentar esse pequeno cabedal atiaves de outras obras maiores. /' liiiidiiniental que esta primeira impressão seja real- mente posíliva, porquanto uma exposição errónea, de no;:ii parle, poderia fechar as ditas portas em vez de iitui ias. [•'isando uma boa primeira impressão, esforçou-se o ajilor no interesse de seus leitores e em vista do pro- fundo respeito e amor que sente pela arte. O A U T O R PRÉ-HISTÓRIA Paradoxalmente, a arte pré-histórica se oferece ao século xx como uma arte plenamente moderna. As formas rotun- das de sua arquitetura, que permane- cem até hoje graças ao seu tamanho colossal e a sua pétrea solidez, a sim- plicidade e o abstracionismo de sua es- cultura ou o expressionismo de sua pintura têm vigência na hora presente. Tem-na porque a Pré-história não co- nheceu decadência. Foi o mais longo período da vida humana sobre a Terra, tendo sido também uma constante su- peração de dificuldades, um avançar a novas conquistas sem possibilidade de retrocesso, o que lhe teria sido fatal. Fora lenta a evolução, lentíssima, mas produziu tão excelente resultado artís- tico como o melhor de qualquer outra época histórica. Ignorada até o século passado, a arte pré-histórica chegou até nós reduzida a uma expressão mínima, suficiente, no entanto, para poder traçar seu pro- cesso em linhas gerais. Sua arquitetura, a mais tardia das artes pré-históricas, só apareceu depois que o homem, abandonando a árvore e a caverna, aprendeu a viver em uma casa. Serão as cabanas e as palafitas as primeiras moradias de que se tem notícia, através de escassos vestígios; lerramari italianas, ou equivalentes en- tre os povos primitivos atuais. Já no início sentiu o homem que a casa não era suficiente para seu espí- rito e que iria precisar do monumento, a arquitetura da mente, e da tumba, a arquitetura da morte. Com a paciência e o suor de legiões de homens fincaram-se no solo de toda Europa enormes monolitos, de até 20 metros de altura, no intuito de se perpetuar a memória invocando-se di- vindades estranhas e obscuras magias. Quando estes monolitos se agrupam em forma de círculos ou de linhas re- tas, vemos, por seus nomes bretões (menir, cromlech), o sentido do tem- plo organizado segundo um projeto que, em alguns casos, como em Sto- nehenge (fig. 1), denuncia-se a prática do culto ao Sol. A arquitetura mortuária se perpetuou nos dólmenes (fig. 2), simples estru- turas com pórticos, construídas com pedras verticais que sustentam um teto formado de outra pedra horizontal. Na maioria das vezes estas construções se achavam cobertas de terra, à maneira de túmulos, e que, em época posterior, se complicaram, formando cavernas compostas por um grande corredor com pórticos e por uma sala funerária circular coberta com abóbodas obtidas pelas sucessivas saliências das fileiras de pedra. Desde a Espanha até a Rús- sia encontram-se grandes dólmenes, en- quanto que em Portugal, assim como no sul da Espanha, como, por exem- plo, em Antequera, encontram-se os exemplos mais notáveis de covas. Posterior a esta cultura, a mediter- rânea insular, especialmente em Me- norca. Malta e Cerdenha, apresenta as navetas (fig. 3), túmulos de pedra de dois pavimentos; os templos de curio- sa forma oval, os íalaiots e os nuraghi, ou grandes torres de forma cónica que têm uma original semelhança com os brochs escoceses. Na escultura, o artista pré-histórico invoca as forças ocultas protetoras da fecundidade (tanto animal como vege- tal) e da caça. As pequenas «vénus» esteatopígicas de Willendorf, Savignano, Lespugue, Laussel (fig. 4) são como pétreas ora- ções, mudas, íntimas, secretas e mes- mo um pouco inconfessáveis. A par disso, nas representações ani- mais o realismo é patente. O artista observa pacientemente, isto é, com a grande virtude da Pré-história, os mo- vimentos dos animais e os reproduz de maneira engenhosa sobre pedras cuja forma lhe sugere aqueles movimentos (mamut de Predmost, Moravia) ou so- bre massas argilosas, como em Tuc d'Audoubert (Ariège) (fig. 5), ou no in- terior das cavernas onde, na penumbra, pensa vislumbrar as formas dos ani- mais movendo-se em grupos (Cap Blanc, Dordogne). Na pintura acontecerá o mesmo, e embora os maravilhosos afrescos da escola cantábrica (Altamira, Puente Viesgo, etc.) tenham reproduzido viva- mente as figuras dos animais cuja ca- ça era usual (fig. 6), na escola levanti- na espanhola (CoguI, Pinateda, Morei- la) ou na norte-africana de Tassili, o homem aparece somente em esquema, como um símbolo matemático fruto de sua inteligência superior, e geralmente em uma só còr. O descobrimento do uso dos metais e da cerâmica abrirá vasto campo às artes menores, antes restritas apenas à toscas pedras da era Paleolítica, ou pe- dras polidas, tochas, facas e pontas de flecha da Neolítica. As culturas de IJallstatt e de La Têne abriram caminho à arte chamada cél- tica, cujo trabalho, de decorações reti- líneas no primeiro caso, e curvilíneas no segundo, obteve resultados de gran- de interesse (escudo de Battersea). lliit.\iU IIISI()IU\i ARTE s^'ir I |i/\',M(,i i|iA Ni iNI 11 , IA i : : ; (H l ,A : ; in ' . | i i :M<OUn' t :TURADEBARCELONA ••B PRÉ- HISTORIA^niMMIV^H Núm 1 i ' A i i OLITICO, NEOLÍTICO E IDADE DOS METAIS I ly t ( lintílitli i\ iiHMIillMltM ch iM i i i l i l ; ) "nnveta dEs Tudons" Fig. 4. - A "Vénus" de Laussel (França) t li| •* Ml t MH t i l í t t i i i l o s e m argila, de Tuc d Aiidouberl Frf) 6 Bisão da cova de Altamira ÍEspantia). II 1.111^*1 IDADE ANTIGA MESOPOTÂMIA As primeiras civilizações de que se tem notícia na História, ou seja as que deixaram documentos escritos, lo-calizam-se na zona chamada do «Fértil Crescente», ou seja no Levante me-diterrâneo, desde o Egito até Anatólia.Nesta região destinguem-se duas zonas, banhadas uma pelos rios Tigre e Eufra-tes e a outra pelo Nilo. Ali iniciam-se os impérios agrícolas, ou seja as pri-meiras grandes organizações políticas que se fundamentam na agricultura, que era ainda desconhecida na Pré-história. O império agrícola da Meso-potâmia, que se inicia no quinto mi-lénio antes de Cristo, dá lugar a uma .série de dominações de diferentes po-vos, que é a causa da variedade de raças que se encontra naquela região. Depois de um período proto-histórico de cidades-estados, forma-se o primei-ro Império sumério, que, como os de-mais, subsistirá pêlo cultivo da terra e a organização militar e religiosa, esta última baseada no terror das horríveis divindades que deviam ser aplacadas por sacrifícios, quando se manifesta-vam através dos fenómenos naturais prejudiciais ao homem. O rei tinha po-der supremo e os sacerdotes, que se dedicavam também à astrologia, domi-navam o povo com uma religião incle-mente e cruel. Todas as manifestações da arte en-contram-se neste império que se ini-cia, cronologicamente, com o período Pré-sumério (5000-2800 a. C ) ; datam des-ta época os mais antigos templos cons-truídos com tijolos, o principal mate-rial na Mesopotâmia, onde a pedra é escassa; são desta época também a cerâmica de Susa e os ídolos de bar ro (fig. 1), simples, porém fortemente ex-pressivos. O primeiro Império sumério (2800-2500) localiza-se em Ur, onde aparecem os famosos zigurats, monumentos es-calonados que possuem um pedestal e uma escada por onde o deus é chama-do à descer a terra. Desta época pro-cedem numerosas esculturas (fig. 2), como a estrela dos abutres, onde apa-recem, em baixo relevo, as perspecti-vas convensionais sumérias, num im-pressionante destile de guerreiros que calcam aos pés seus inimigos derrota-dos. Enquanto que o chamado estan-darte de Ur mostra a tranqiiila cena de um banquete real, amenizado com músicas e cantos. Entre 2500 e 2300 os sumérios, de ori-gem camita, são submetidos aos semi-tas, chefiados por Sargão I. Esta é a primeira das grandes mudanças raciais no poder. O Império acádio entra na história da Arte especialmente com a estrela de Naram-Sin (fig. 3), que su-pera definitivamente os protjlemas da perspectiva, e onde se reflete com per-feição a impressão de movimento as-cendente e um sinal de vitória. Nova-mente os sumérios dominam o país, entre 2300 e 2100; constroem suntuosos palácios e deixam um testemunho de sua capacidade artística nas inúmeras estátuas de Gudea, patesi ou governa-dor de Lagash (fig. 4), esculpidas em pedra negra, o que as torna mais va-liosas, representando o patesi em ati-tude de oração, em majestuosa imobili-dade e tremenda força interior. Babilónia, uma das cidades submeti-das em época anterior, consegue a he-gemonia, voltando assim os semitas a chefiar a Mesopotâmia (2100-1600). Da-tam desta época a estrela do rei Ha-murabi (Louvre), uma das tentativas de coligação de leis mais antigas da História, e as pinturas do palácio de Mari. A história da Mesopotâmia está nar-rada na curiosa escrita cuneiforme (se-melhante a pegadas de pássaros sobre o limo) em tabuinhas de bar ro que conservam o texto depois da cosedura. São de época elamita os kudurrus, ou sejam pequenas pedras esculpidas onde se consignavam propriedades e, do mesmo modo, ofertas de terras ao templo. Surge do norte da Mesopotâmia um novo poder, o assírio, originado em Asur, Nimrud e Korsabad (1100-612). É este o mais forte e cruel dos impé-rios, do qual se conservam majestosas ruínas do palácio de Korsabad, vasta região de 30 hectares, onde se mistu-ram as fortificações com o zigurat real e as grandiosas salas de recepção. Todo êle, com gigantescos muros elevados e portas protegidas pelos lamassus, ou génios alados (fig. 5), constituídos de cabeça humana, corpo de touro ou de leão e grandes asas ponteagudas, cuja missão era espantar os maus espíritos. Os relevos do palácio de Nínive, que descrevem as caçadas de Asurnasirpal (fig. 6), apesar de re tomarem temas an-tigos encerram em seus relevos toda a delicadeza de que é capaz a imaginação artística do Oriente Médio. O último império babilónico nos dei-xou a porta de Isthar, recoberta de tijolos vitrificados de cores violentas. Ilhi.^ih inSTOIÍI} D\ s . . I i i t , . i i . n i i/vKi iN i i i , ri'iii HA i::;iiii,A:,ni'i)i:Ai<ijniTi:Tiii(Ai)i:MAi<(:i;uiNA Q IDADE ANTIGA N ú m . 1 t MLSOPOTAMIA r t i,i t t . ) . : l . . I. M n u I I M 1 1 ) 1 I I . I I | I M O !(]. 7. l . - i b i u i v o i í v i i d e U r lliui I 1,1 I I . h t l>i i i i i i n l i i l i l i - N<H<Hn ' > i n , i l i i SuK» (Uã). F i g . 4 . - E s t á t u a d e G u d e a I. d e T e l o ( I r a q u e ) . • T I i i ( 'i I iMii in i ih td i ) l l . i i i i i i s s u s ) d o p a l á c i o d e | - M I ' H | I . H I II I M . ) F i g . 6 . - R e l e v o d e A s u r n a s i r p a l c a ç a n d o l e õ e s N í n i v e ( I r a q u e ) . EGITO O chamado grande império agrícola se desenvolveu no Egito, ao longo do leito do rio Nilo. A sujeição às periódicas cheias do rio, que fertilizam as terras de culti-vo; as condições climatológicas e o isolamento do país, cercado por dois desertos, determinam as características especiais da mentalidade e da arte dos egípcios. Somente uma férrea organi-zação, centralizada no faraó, rei do alto e baixo Egito, permite ordenar de mo-do harmonioso os diversos cultivos. O sol, elemento preponderante do clima egípcio, é reconhecido como suprema divindade, inspirador da crença no além, fundamento da arte funerária dos faraós. O isolamento do país em relação ao resto do mundo, e sua uniformidade racial, justificam a continuidade de uma escola artística que sobrevive três mil anos. Desde os últimos tempos pré-históri-cos até a primeira dinastia sucedem-se dois milénios (5000-3000) de progresso lento, que alcançam já resultados ar-tísticos notáveis, como a pateta dos touros (Louvre), baixo relevo cuja téc-nica se propagará ao longo de toda a história egípcia. A divisão desta histó-ria em 30 dinastias deve-se a um sacer-dote da época tolemaica, chamado Ma-netón, que assim classificou as dinas-tias numa tentativa audaciosa de cro-nologia. O período tinita (i e ii dinas-tias), cuja capital é Tinis, produziu mui-tas obras artísticas, como a paleta de Narmer (museu do Cairo), onde já aparecem definidas as convenções egíp-cias do baixo relevo, que tão fortemente caracterizam a arte dos faraós. As figu-ras são apresentadas de perfil, com o olho e os ombros de frente, e as per-nas afastadas, dando ideia de movi-mento. A escrita Jiierográfica contri-bue, com o encanto e a esquematização de seus traços, para embelezar ainda mais o mistério dos baixo relevos, ple-nos de delicadeza, mesmo quando re-presentam cenas cruéis. O Antigo Império abrange mais ou menos 500 anos, contidos no segundo milénio, compreendendo a i i i e a iv di-nastias. A arquitetura fúnebre tem neste período sua mais perfeita apre-sentação. A pirâmide, derivada da mas-taba, ou seia um túmulo de formato de trapésio sobre uma câmara subter-rânea na qual está o sarcófago, adotou primeiramente formas diversas. Temos como exemplo a de Sakkara (fig. 1), que é o túmulo de rei Zoser, de for-mato escalonado e belas proporções, apesar de seu tamanho exagerado, e rodeado de um templo, obra do ai-quiteto Imhotep, que conseguiu novos efeitos de luz e sombra pela decoração dos muros com pilastras encostadas. A perfeição deste tipo de monumentos foi obtida no conjunto de Gize, onde as três tumbas reais de Keops, Kefrcii e Micerino reduzem-se a uma simples forma de pirâmide de base quadran-gular, símbolo do deus solar Rã, que ocupa o vértice, donde partem os raios que envolvem o corpo do faraó, cuida-dosamente oculto e embalsamado, o qual continua «vivo» em união com a divindade. Junto às pirâmides da iv dinastia, a esfinge de Gize permanece contem plando impassível a eternidade (fig. 2). Misterioso monumento de data incerta. Desbastado inteiramente na penha, comexceção dos braços, que são de silhai, constitui um símbolo da arte egípcia, com a face voltada para o infinito, ;i serenidade, a imobilidade e a solidez. A escultura do Antigo Império (fig. 3) está a altura de sua arquite-tura; temos como exemplo as figuras de Rahotep e Nofret (Cairo), tão vivas e delicadas na rigidez imposta por sua atitude de oração. Na pintura o afresco das ocas de Medum (Cairo), de extrema símplici dade e realismo, demonstra as possi-bilidades da arte egípcia quando, eni pequeninos detalhes, se libera da rigi dez habitual. A maturidade deste pc ríodo está resumida na estátua seden te, em pedra esver-^eada, de Sesos-tris III, de aspeto grave e humano. A Segunda Idade Média separa o Im-pério Médio do Novo (xvii-xxii dinas-tias); alcança a arte neste período sua máxima maturidade. O templo fú-nebre da rainha Hatseput, em Deir-el Bahari, é um conjunto de pórticos c terraços, unidos por suaves rampas, que conduzem ao centro da base de uma gigantesca rocha, que forma par-te do monumento. Os templos de Kar-nak (fig. 4) e Luxor, com seus grupos de colunas e seus pátios amplos, defi-nem a grandeza de uma religião, terrí-vel por sua gravidade e dimensão, po-rém sensível e capaz de dar proporção à arquitetura. As pinturas murais dos túmulos de Tebas (fig. 5) resumem amorosa e de-talhadamente a vida cotidiana do Egito e contrastam com a riqueza e luxo do túmulo de Tutankhamon e o egocen-trismo do túmulo subterrâneo de Ram-sés II em Abu-Simbel (fig. 6), início de uma decadência que dará frutos notá-veis entre os persas, gregos e romanos. l i ' ///</.,,/. IIISI(Htl\ [l'!' ' • "•)i" i i iM . n'i i i hA I ; : . I Í I I , A ; ; I I I ' 1 ) I :M<O I I IT I : TURADEBARCELONA B IDADE ANTIGA Núm 2 EGITO l-iç). 2, A esfinge de Gizé. (Egito.) mm/.'- mi |. 4, l'(;tspaciiva estruiural do templo de Kons Karnak (Egito). -!Çj. fci. Templo rle Abu bimbel (Egilo), ART E MED I T ERRÂNEA : M I NÕ I C A E M I C É N I C A Entre a arte pré-histórica e a dos im- périos agrários desenvolve-se uma nova civilização que, embora tendo pontos comuns com as precedentes, se carac- terizará até dar origem à arte medi- terrânea, que dá início, por sua vez, ao esplendor grego. O mar Mediterrâneo é como ampla via de comunicação entre as costas continentais e as de suas ilhas. Sua arte será principalmente uma arte de movimento: dinâmica, inteligente e en- genhosa. Não se deixará tentar pelo monumentalismo egípcio, pois, ainda que o mesmo sol ardente brilhe sobre o mar e sobre o Nilo, naquele a brisa o transforma em carícia, enquanto nes- te o vento do deserto torna-o açoite. Nas ilhas Ciciadas, durante os i i e I I I milénios desenvolveu-se uma cultu- ra de curiosos e pequenos ídolos, re- presentação da deusa mãe (tig. 1), cu- jas faces reduzidas a um simples es- quema, sem olhos nem boca, levam o observador a um mundo familiar, do- méstico, com escala humana. Em Creta nasce a arte egéia ou mi- nóica; quanto ao mais, esta ilha é, nes- ta ocasião, de excepcional interesse, pois constitue a mais completa organi- zação do Mediterrâneo, através de grande persistência (2600-1200), e se di- vide em vários períodos. O Minóico Antigo (2600-2000) corres- ponde à época em que povoam a ilha povos da Africa do Norte e da Asia Antiga, que se manifestam artistica- mente por uma cerâmica com temas tirados de animais. A partir do ano 2000 produzem-se in- vasões no norte, as quais culminam em 1400 com a vinda dos aqueos, que estabelecem em Creta um novo con- ceito de arte: primeiro os grandes pa- lácios do Minóico Médio, entre os quais o de Cnossos (fig. 2), centro co- mercial do estanho e do cobre. Na úl- tima fase, o Minóico Recente (1400- 1200), se constroe o palácio de Hagia Triada e se acentua o comércio com o Egito. Vem de Creta a lenda do Minotauro, monstro derrotado por Teseu graças ao fio de Ariadne, que lhe permitiu .sair do labirinto do palácio de Cnossos. A religião egea centraliza-se em torno da divindade masculina representada pêlo touro, símbolo da força e da abun- dância, e a divindade feminina, deri- vada dos antigos ídolos protetores da fecundidade e que são representados em deliciosas figuras de cerâmica re- presentando damas com o seio desco- berto, símbolo de alimento, e porta- doras de serpentes, símbolo da íccirii didade (fig. 3). O rito da Taurocatapsia (fig. 4) <• mais um dos cultos religiosos em Ion vor ao Minotauro, representado com grande beleza no palácio de Cnos.sos, escavado por Evans. Este palácio, bem como os de Fiv. tos e Hagia Triada, caracterizam-se por suas plantas irregulares, suas vasl:is lojas e a aquisição de elementos novos à arquitetura, tais como o teatro de forma retangular, evidente precursoi do teatro grego, e a coluna de base menor que a parte superior reco berta com cores variadas. A cerâmii .i alcança grande desenvolvimento e, alem de descobrir novas formas (ritones, cr.i terás), lança nova decoração, especial mente na de Camares (fig. 5 ) , onde .i côr se associa à forma e onde sc c. boçam vultos de polvos que dão a .sen sacão de constante movimento. Paralelamente à arte cretense, dcsni volve-se nas costas da Grécia a micém ca ou heládica, escola artística forma da nas cidades-estados, vizinhas de Mi cenas, Tirinto e Orcómeno. Escavadas no século passado por Schliemann, o arqueólogo que acreditou sem resiri ções nos relatos de Homero e que pôilc comprovar sua veracidade, mostiam uma cultura menos refinada que a cre tense, porém sábia em sua arquitetura, na qual a falsa cúpula do Tesouro de Atreo, em Micenas (fig. 6), substitue u tipo de «tholos» ou sepulcro com j;a leria, que deriva das covas sepulcrais pré-históricas. Na própria cidadela de Micenas a «porta dos Leões» (sécn lo X I V a. C.) é uma construção ciclópii a de estilo egípcio (fig. 7), porém apir sentando novas soluções e um senticln muito mais livre da composição. As ci dades gregas constroem uma primeira forma de sala com colunas, chamatia mégaron, que será o antepassado do templo clássico grego. Procede também de Micenas o famo so tesouro que Schliemann acreditou ser o de Agamenon, do qual ressaltam as máscaras de ouro, de impressionaii te realismo. Outro centro cultural foi Chipre, qiir, apesar de vizinho do Oriente Médii), foi mais atraído pela arte cretense, qm já conhecia através dos navegadores minóicos que lá iam à procura de cu bre. Ídolos cerâmicos de tosca fabi i cação e expressão rudimentar são <>s principais objetos de arte conservados até hoje. Vizinha a Chipre, desenvolve-se a ei vilização fenícia, caracterizada por foi te ecletismo, que lhe permitiu reunii através de suas relações comerciais ele mentos de todas as escolas. ,f™l///i.>,A///,v/y^///i /\im: ' " I ' 1 i|i« 1(1 iMi 11 r i í i I I jiA I :M iH.A s . i i r A K O I I I T I I T I I K A D I : I I A K C I I L O N A B IDADE ANTIGA N ú m 3 A I M I M l 1)111 KW A N I A : M I N Ô I C A E M I C É N I C A I" M •<-> li'l / A chjiníicla "Porta dos Leões" (Micenas). GRfCIA ANTIGA No t ranscorrer de um milénio a Gré- cia produzirá uma nova f o rma de pen- samento. Esgotada a civi l ização creten- se, e a micênica, com as invasões nór- dicas, especialmente por as de povos dórios, surgirá na península e nas i lhas da Hélade a arte oc identa l por antono- másia, oposta ao conceito o r i en ta l dos impérios agrícolas. Manifestam-se nela três influências: o espírito dinâmico, com l inhas curvas, de arte crético-micê- nica; o geometr i smo retilíneo de o r i - gem ariana, obra dos povos dórios; e o real ismo, convencional talvez, dos po- vos or ientais . A convergência destas influências so- bre a Grécia mode lam uma raçaque aprende um novo modo de v iver em cidades (polis), nas quais o homem tem interesse por si mesmo, desliga-se do cu l to a deuses terríveis, humaniza as divindades e coloca como meta de seus esforços a lcançar a Beleza atra- vés do prazer, do hedonismo e do re- f inamento . Seu modo de pensar fun- damenta-se na lógica; estuda e enten- de os números por influência de Pitá- goras, a l i j a de suas obras de arte os monstros , f ru tos da imaginação, e aperfeiçoa a natureza com os estudos da perspectiva e o real ismo, t r a tando a arte com moderação , laboriosidade e delicadeza. O período arcaico compreende os sé- culos V I I , VI e parte do v a. C. Nesta época surge o t emplo dórico ( f ig . 1), edifício de pequenas proporções , se o compararmos com os grandiosos mo- numentos egípcios, destinados a abr i - gar a imagem do deus em uma sala geralmente retangular , chamada naos ou cella, rodeada de colunas (perista- sis), com um pórtico anter ior (pro- naus) e um vestíbulo poster ior (opÍ5- tódomo), coberto a duas águas com pequeno declive. Eleva-se o t emplo so- bre escadas (estilóbato) que, j u n t o às colunas, f o rmam a parte sustentadora e o entablamento, ou seja, a parte sus- tentada. O cu l to realiza-se em to rno do edifício cuja cella é somente accesível aos sacerdotes. A coluna dórica é regida por uma proporção f ixa , que se baseia no nú- mero certo de vezes que o ra io da co- luna (módulo) está cont ido em sua al- tura . A coluna possue uma haste sul- cada que se costumava lavrar no local , a f im de obter uma absoluta perfeição nas arestas. Esta parte denomina-se iuste, e a superior , capitel; este é for- mado de uma mo ldu ra curva (equino) e um paralelepípedo super ior (ábaco). Fo rmam o entablamento i in i . i i . i lisa (arquitrabe); uma o u l i i i i i . i i i ' que se a l t e rnam os trígiifos, < l im . , i destinados, em princípio, a I M U H . I . • parte superior das vigas que M ' , I I sobre o a rqu i t rabe , e os i>ifliiii,i\, m lajes quadradais situadas e t i l i c c i i l i i glifos e que sao decoradas loiíi Im ln relevos. A corn i j a que sobnss . i r n i i 1» a inclinação da cober tura c o «lei !• com molduras , destinadas a p im n i H jogos de sombra sobre o M I ; I I M O esti lo dórico assemelha-se a<i i m n . .. que se rege por proporções r 11,11 . beltas («femininas», como f o i 1 l i . do); seus capiteis são ornado' , ( d deados enfeites, e os pés ilas m l com bases emolduradas , Du ra i i l r n | i i r íodo arcaico os dois estilos 111 se, dando lugar a qua t ro n io iL ih i l nl. artísticas: o jónico de Analo l i : i , i . i i J . influência o r i en ta l é mais viva, i . i n i . . 1 . escultura como na a rqu i t e lu ra ; 1 . |. CO das i lhas Ciciadas, suave e dr ln .1 o dórico do Peloponeso, mais I n . pesado, e o sensível esti lo ático niense, o mais per fe i to e e t iu lh ln . 1 Os exemplos arquitetônicos ni.n teressantes no esti lo dórico sao <• !• p io c i rcu lar , ou tholos, de M a i m u i . em Delfos (séc. v i ) ( f i g . 2 ) ; o i r m i 1 de Poseidón, em Selinonte e, n o • jónico , o Hera ion de Samos. A escultura mos t ra sua p i cd i l . pelas formas isoladas: nias< n i n . (kuuroi) e femininas (korai), -.v. 1 1 meiras desnudas e em rígida 110 i . . canónica, com o pé esquerdo : U , M do e mister ioso sorr iso nos lábio mo se vê no kúuros S t r an fo rd , i l i . M u seu Bri tânico ( f ig . 3 ) . As koxii M U . sentam-se vestidas, mas igual 1 hieráticas, como a Hera de .S.i ( f ig . 4 ) ou a Dama de Auxcr i c 1 • início da lu ta pela conquista do l o i í l n c imento da anatomia humana , ( |MC H I U se conseguirá senão no período • 1 • sico. Outros elementos da escul lur: i ut i l izados para comple ta r a d c cm i . . dos templos, p r inc ipa lmente nas nu i . . pas do friso ou no vão t r i ang i ih i i cobertura , e na fachada, chamada / n u tão, onde se encontram c omp o . i v . com argumento , como o combale 1. Perseu e a Medusa, do frontão d. / \ temises, de Cor fu ( f ig . 5 ) e, piiuí i|iiil mente, no Hekatómpedon, da Ac i ( i | " i l ' de Atenas. A p i n t u r a é mu i t o impor t an t e d. 1. as origens, pois todos os tenipln • esculturas eram pol i cromados , ni.i-. a conhecemos, a inda que nos doa, |M l . i . descrições l iterárias. iihi \ iiisKuii I n 1 1///7; ' ' • < ' • " M . | M iH i i i i i ni|/Mi|, |1AI(C|;|JINA I I M V I i l A N I K i A B Núm. I l l I l / k A I K AH A I > i|l !) I'i!i-;cii iii.il.iiulo ii Medus, GRÉCIA CLÁSSICA Os séculos V e iv a. C. cons t i tuem uma época de esplendor grego. Definitiva-mente alcançado o equilíbrio en t r e pen-samento lógico, técnica depurada , ideal de beleza e organização, empreendem-se as grandes obras, p r inc ipa lmente em Atenas, que ressurge após a invasão persa (guerras médicas). O u rban i smo grego cria a polis, ou cidade, o nde se dispõe de espaço para a vida em co-mum ao ar livre; a agora, ou praça; a stoá, ou rua porticada; o boiíley-teérion, ou prédio do governo, com os templos e edifícios de diversão, t ea t ros , circos e conferências. Por iniciativa de Péricles é res taura-da a Acrópole, ou cidadela ateniense, e edificado o Partenón (fig. 1), grandio-so templo dórico, construído em már-more por Ictino e Calícrates e deco-rado com esculturas de Fídias, tanto nas realistas métopas como no friso das Panateneas (fig. 2), de forma fluída e imaginativa e ri tmo suave de puro lógico. No interior, Fídias ergueu a imponente estátua de Atenea Par tenos , de técnica «criselefantina», ou seja com a par te interna de madeira, as roupa-gens em ouro e as carnes em marf im. Mnesicles construiu os Propíleos, porta de acceso a Acrópole, em estilo dórico e jónico, ao lado do pequenino e bera proporcionado templo de Niké Áptera, jónico como o templo do Erec teo , irre-gular quanto às leis e ado rnado com a original tr ibuna das Cariátides (fig. 3). Junto da Acrópole, o templo chamado de Teseu, ou Teseion, é o exemplar dó-rico que chegou até nós em melhor estado de conservação. O classicismo na escultura compreen-de vários estilos que se sucedem. O es-tilo severo representado pelo Auriga, de Delfos, bronze original que mos t ra t o d a a sobriedade desta escola, e o Discóbolo, de Miron (fig. 4), imóvel em seu dinamismo, ou a suprema elegân-cia de Poseidón, de Histea, glorifica-ção do nu masculino. A obra de Fídias representa o auge da escultura grega. Por sua técnica perfeita, que sabe representar a s vesti-mentas do grupo das Parcas do Parte-nón dando a impressão de vida, deve ser colocado entre os escultores ma i s no-táveis da época. Policleto é o au t o r do Doríforo, o portador da lança (fig. 5), traçado segundo uma regra ou pro-norção ideal, na qual se resume o sen-tido ordenador dos gregos, que sabem reduzir a níimeros as formas da ana- tonía humana. No século iv, ainda na pleiitude, aparecem as figuras de Pra-xit:les, Lisipe e Escopas. O pr imeiro coisegue, depois da tensão de Fídias, una arte mais refinada, mais doce, qu; terá no famoso Hermes (fig. 6) sua más radical expressão. Da Afrodita de Cndo, apesar de sua intenção religio-sa, emana um encanto sensual inegá-ve, resultante da perfeição de sua ana-tonia. Escopos representa o renasci-minto jónico com uma ar te plena de suive mistério. Suas obras decoram o m.usoléu de Halicarnase, o linico gran-de edifício funerário da Grécia, e o Aremision de Éfeso. Ião também de influência jónica as esiulturas de Cresilao, Alcamenes e Ca-línaco, mais conhecidas através da li-tea tu ra que por seus originais, em-bcra se atr ibua a Cresilao a majestosa e ierena Afrodite Genitrix. Calímaco é ti(o como o inventor do capitel co-ríitio, formado com folhas de acanto e jue deu origem à terceira ordem ar-qiitetônica grega. i pintura grega está totalmente de-sajarecida, porém se conservam as dscrições das pinturas realizadas por Cmon de Cleone, Polignoto, Parrasio e Zeuxis, embelezando as construções at;nienses. Mos séculos V e iv, a cerâmica mu-d(u de técnica, e nos vasos pintados, n;s ânforas, ritones, e t c , se esboçam fi;uras vermelhas em fundo negro, cem maior realismo que o da época acaica (fig. 7). O equilíbrio grego, seu modo de pen-sar e filosofar, é a fonte de toda a ciltura ocidental; a ideia de deuses de p«rte humano e vícios humanos no Oimpo, a instituição do teatro como prazer intelectual, a criação de uma iritologia cheia de riqueza que encer-rí todas as imagens psicológicas idea-l iadas pelo homem, o aperfeiçoamen-tc da poesia e da dansa formam um anbiente propício para o desenvolvi-nento das artes plásticas. Os gregos consideravam estas artes como sim-pes obra artística, sem lhes atr ibuir smtido divino, como à oratória e à djnsa; isto os fazia considerar os ar-tistas como simples operários, profun-damente amantes de seu ofício. Esta tícnica humilde e depurada estava a s;rviço de algumas cidades, que t inham par norma e por lei a medida de homem e, com a divinização de tomem, invertiam o processo religioso das religiões anteriores. MEfU de HISTORIA DA ARTE POR J . BASSEGODA NONELL. PROF. DA ESCOLA SUP. DE AROUITETURA DE BARCELONA IDADE ANTIGA GRÉCIA CLÁSSICA Série B N ú m . i ' , 11 l l„ i l lor( , . F,g. 6. - Prnxí le íes Heimt-s Fig. 7. - Cratera grega com finuras vi- ' I O l ímp ia IG réc i a l . meil ias (Paris.) HELENISMO Fecha-se o ciclo da arte grega com o Helenismo, sem que isso suponha, porém, uma decadência. Não encon- tramos no Helenismo uma fraca imita- ção dos estilos clássicos, mas sim a introdução de novas formas e o ad- vento de novas soluções. Todo êle é fruto de um modo de pensar diferente, de uma nova maneira de entender a vida, mais transcendental, mais inquie- ta, em uma palavra, mais oriental. De- senvolve-se o Helenismo no reinado de Alexandre o Magno, e depois, quando este, desenvolvendo o sistema de cida- des-estados que se havia organizado em torno do binómio Atenas-Esparta, criou a unidade dos gregos e organizou o império, ou seja a expansão da Gré- cia, que vence definitivamente sua eter- na rival: a Pérsia aquemênida. Alexan- dre chega até o Indo, casa-se com a princesa persa Roxana, buscando maior união entre Oriente e Ocidente, mas, com sua morte, os generais repartem a nação, formando diversos estados, nos quais as características de cada região se unem à herança comum gre- ga, formando o mosaico artístico do Helenismo. Os Seléucidas na Síria, os Ptolomeos no Egito, os Antígonos na Macedónia e os Atálidas no Pérgamo criam esco- las que, mais tarde, Roma assimilará. Na arquitetura se manifestará uma evolução jónica, resumida pelo ar.qyi- teto Hermógenes, em detrimento ao dórico, quase desaparecido. O estilo co- ríntio dará então seus mais belos fru- tos como o templo do Zeus Olímpico, de Atenas. Digno de interesse é tam- bém o urbanismo helénico, que criou as chamadas cidades hipodámicas, ca- racterizadas por rigorosa simetria, em contraste com a liberdade dos clássicos gregos. Na escultura, Atenas cria no sécu- lo i n um novo tipo de Afrodita, livre- mente sensual, obra dos escultores Ce- tisodoto e Timarco, filhos de Praxíte- les, autores da Afrodite de Médicis (figura 1) . Notáveis são os retratos de Alexan- dre, bem como seus perfis em meda- lhas e moedas, os retratos de corpo inteiro de políticos e a escultura mo- numental, como no caso do colosso de Rodes. Do século n temos, como a mais po- pular amostra do Helenismo, a famosa Afrodite de Milo (museu do Louvre) (fig. 2), com uma série de lendas. O século I será o do chamado renas- cimento neoático, que, em Atenas, dará força e expressão às esculturas, como o busto de Belvedere, de Apolônio, ou o Herakles Farnesio, de Glicón. Em Pér- gamo, na Ásia jónica, desenvolve-se uma escola independente desligada da escola grega propriamente. Os gálatas moribundos, conhecidos pelas inúmeras réplicas romanas, dão ideia desta nova forrna de escultura, propriamente dra- mática, que exalta o sentimento em de- trimento da serenidade dos clássicos. O colossal altar de Zeus, do museu de Berlim, construído por Eumenes II, apresenta em sua base, em relevo, uma gigantomaquia, obra de nada menos de quarenta escultores, vindos a Pérgamo, de todos es cantos do mundo helénico, para executar esta obra monumental, chamada pelos cristãos trono de Sa- tanás. De Rodes vem a vitória alada de Samotracia (fig. 3), símbolo do hele- nismo, desbordado e triunfante, hoje orgulho do Louvre, é o torturado gru- po de Laocoonte e seus filhos, atormen- tados por terríveis serpentes (fig. 4 ) , próximo aos muros de Tróia. De Tralles, o grupo do touro Farnesio. O gracioso grupo do menino jogando com uma oca, da escola da Calcedónia, e a bar- roca Afrodita, proveniente das oficinas de Bitinia, não são menos interessan- tes, familiares e íntimas que a Afrodita Calipigia do museu de Nápoles (fig. 5). Do conjunto de Afroditas helenísticas destaca-se o corpo perfeito da Cirene, no museu de Roma. A inclinação para os jogos olímpicos, herdada dos gregos do Século de Ouro, manifesta-se, no que se refere à arte, nas estátuas dos gladiadores, ora em- penhados em luta, ora em repouso. Em contraste com estas violências, o calmo sono do hermafrodita dá uma nota de delicada decadência. A técnica do re- levo, em combinação com a arquite- tura, dará notáveis exemplos, como o monumento de Lisícrates, em Atenas e, na mesma cidade, os tetos, em alto relevo, da Torre dos Ventos. Finalmente, a cerâmica perderá sua força e a arte dos vasos clássicos pin- tados, mas dará uma extraordinária expansão às figuras de barro, de cores variadas, procedentes das oficinas de Tanagra (fig. 6), pequenas, porém de formas variadas e joviais, exprimindo uma finalidade puramente decorativa. lll<i.ideirJSTORIA DA ARTE s . . . I •! '\ . I. HASSEGODA NONELL. PROF. DA ESCOLA SUP. DE ARODITETURA DE BARCELONA R IDADE ANTIGA ^ 6 Num. \m/ HELENISMO PÉRSIA AOUEMÊNIDA As invasões dos povos arianos, vin-dos do Norte, alcançaram não só a Grécia, pois tribos medas e persas ins-lalaram-se também no planalto do Irã. Os persas, devido ao casamento de Cambises I com uma princesa meda. obtiveram o poder em meados do sécu-lo IV a. C ; Ciro I encabeçará a dinastia dos Cambises, Dários e Xerxes, que es-tenderam seus domínios até a Babiló-nia, Egito e Grécia, até serem derrota-dos por Alexandre Magno na batalha de Issos. Os persas professavam a religião de Zoroastro, que estabelecia o culto ao fogo e o dualismo fundamentado na luta entre o princípio do Bem, Ormuz, e o do Mal, Arimán. De raça ariana, como os gregos, têm êles um sentido de equilíbrio e de medida muito mais acentuado que o de seus antepassados assírios. ,Sua arqui te tura está exclusivamen-te a serviço da realeza. A escultura ser-virá para adornar a régia arquitetura, representando frisos intermináveis, em baixo relevo, os tributários trazendo oferendas em demanda do trono do «rei dos reis». A pintura manifestar-se-á gloriosamente nos frisos de cerâmi-ca vidrada do palácio de Susa (fig. 1). De maneira geral, a Pérsia aquemènida não trará nenhuma inovação à arte, mas saberá harmonizar de modo ori-ginal as culturas precedentes, criando conjuntos monumentais e túmulos reais de grande interesse. O palácio de Persépolis é de todos o mais majestoso (figs. 2. 3 e 4), Construí-do em uma antiplanície rochosa, onde se erigiam os altares do fogo e as cha-madas torres do silêncio, únicos tem-plos do culto mazdeista, o palácio es-tende-se por uma sucessão de pátios e estâncias «apadanas», a que setem acesso por uma rampa, onde se en-contrarii baixo relevos de portadores de oferendas e ainda o simbólico com-bate entre o leão e o touro, com evi-dentes reminiscências do culto solar ou mitraico. Amplas portas de pedra, cer-cadas por uma moldura chamada gola egípcia, abrem-se nos muros, cuja gros-sura era de cerca de um metro; nos la-dos das portas situam-se os relevos do rei, acompanhado de seus escudeiros, que sustentam sobre sua cabeça o guar-da-sol; sua grandeza e majestade im-buem o* visitante da solenidade do lu-gar em que penetra. A es t ru tura do palácio tem por base colunas elevadísimas (fig. 4) alcançan-do até 20 metros de altura, enriqueci-das com bases de tipo grego ou egíp-cio, de haste esbeltíssima e coroadas por original remate formado por dois touros ou cavalos, que funciona como suporte ao peso das vigas de cedro do Líbano que formam a cobertura. Outros palácios, como o de Pasar-gada ou Susa, têm a mesma disposi-ção. Os túmulos reais são edificados de acordo com a nova religião, tão dife-rente do teocratisrao dos assírios e do humanismo intelectual dos gregos. Em Naq-i-Rustan conservam-se os túmulos típicos dos reis persas (fig. 5). Num escarpado rocho.so situam-se as escava-ções, ou túmulos subterrâneos forman-do cruzes de braços iguais. No centro encontra-se a capeia funerária apenas accessível em escaladas e precedida por colunas semelhantes às dos palácios reais; no interior há uma cela onde o corpo do rei morto é abandonado às aves de rapina, pois a religião consi-derava que o cadáver tornaria impuro o fogo que o consumisse ou a terra que o guardasse. Por cima do pórtico de entrada, expressivos baixo relevos con-tam as glórias do rei. É uma exceção o túmulo de Ciro, em Pasargada, for-mado por uma pirâmide de sete pata-mares, terminando por um pequeno edifício em forma de paralelepípedo com coberta a dois vertentes. A predileção dos persas pelos locais de difícil acesso se faz sentir princi-palmente no relevo de Bishutún, per-dido na encosta de um penhasco de um dos locais mais i,solados do Iran. Ali é comemorado o triunfo de Dário I con-tra seus oponentes, vendo-se o rei, com sua barba em estilo assírio, calcando aos Dés os vencidos e dirigindo aos seus o discurso da vitória. Tais cenas de crueldade não são freqiientes na Pér-sia aquemènida, que soube organizar uma espécie de federação de Estados (satrápia) na qual cada país conserva sua personalidade. O friso dos arqueiros do grande pa-lácio de Susa (fig. 6) mostra a conti-nuidade do estilo que a Babilónia en-controu na porta de Isthar. Na região de Susa desenvolveu-se uma escola de cerâmica digna herdeira de sua antepassada suméria. Grande abun-dância de objetos da ourivesaria pre-ciosa atesta uma forte influência grega no seio do país persa. PÉRSIA AQUEMÈNIDA Série /leoAdeBISTORIà DA ARTE í< J. BASSEGODA NONELL. PROF. DA ESCOLA SUP DE AROOITETURA DE BARCELONA IDADE ANTIGA Núm. * V j » — - ^ A n i i i i í i l m i t o l ó g i c o d e S u s a ( l r á ) . F i g . 2 . - O m b r e i r a d a p o r t a d e P e r s é p o l i s ( I r à ) . I t i | I l ' . i l i n : | { i lUí D í i r i o e m P e r s é p o l i s ( I r à ) Fic)- 4 . - E s c a d a r i a d a " a p a d a n a " . P e r s é p o l i s ( I r ã ) . ' l i H l i l i i i r i i i i i i i s ( I c N a q - i - R u s t a n ( I r à ) F i g . 6. - F r i s o d o s A r q u e i r o s , d e S u s a . ARTE DO MEDITERRÂNEO OCIDENTAL: PÚNICA, IBÉRICA. ETRUSCA A bacia o r ien ta l do Me d i t e r r â n e o fo i o b e r ç o de grandes c iv i l i zações agrá- r ias e comerciais: Eg i to e Mesopo t â - mia , Creta, Fen í c i a e Gréc i a . Enquanto isso, na parte ocidental , Espanha, Fran- ça e I t á l i a peninsular, a l ém do atual Mogreb , que pa r t i c i pa r am na p ré -h i s tó - r i a com no t áve i s c o n t r i b u i ç õ e s a r t í s t i - cas, parecem extintas. G r a ç a s à s colo- n i z a çõe s gregas, fen íc ias e chiprianas, a cu l tu ra ocidental se r e e r g u e r á , dando f ru tos de grande interesse pelas con- s e q u ê n c i a s nacionais que t rouxe ram. Um grupo de emigrados da cidade fe- n íc i a de T i r o fundou, à s costas da atual Tunis , a cidade de Cartago. I s to se deu em 814 a. C. Na lu ta cont ra Roma, posta em perigo por An íba l , durante as guer- ras p ú n i c a s , fo i arrasada e completa- mente banida da h i s t ó r i a . As manifes- t a ç õ e s a r t í s t i c a s ptmicas temos que bu s cá - l a s entre os escassos recursos que dela res tam. Como descendentes dos fen íc ios , povo ar t is t icamente ec léc t i co , sua escultura, pois a a rqu i t e tu ra é quase desconhecida e a p i n t u r a ine- xistente, t r a i r á i n f l u ênc i a s eg ípc i a s (h ie ra t i smo) , cretenses ( s imbohsmo) e orientais ( o r n am e n t a ç ã o ) . S ã o p r inc i - palmente no t á v e i s os ex-votos de ce râ - mica da n e c r ópo l e de Puig des Mol ins , na i lha de Ib iza ( f ig . 1). A p e n í n s u l a I b é r i c a , que apresenta u m panorama fraco na Idade dos Me- tais, recebe uma sé r i e de i n f l uênc i a s sucessivas que desenvolveram o natu- r a l pendor a r t í s t i c o de seus habitantes. Fen í c i o s , gregos e cartagineses esta- beleceram-se no l i t o r a l espanhol e nas ilhas, onde im p r im i r am sua in f luênc i a e a das cul turas que hav iam herdado: S i r í a , Eg i to , H i t i c i a . C o n v ém considerar as c a r a c t e r í s t i c a s par t iculares da arte i b é r i c a , ainda que incer ta quanto à cronologia, pois ela s u b s i s t i r á po r toda a h i s t ó r i a da arte espanhola. Ves t í g io s de uma a rqu i t e tu ra agressi- va e colossal fazem crer na ex i s t ênc i a de um povo de guerreiros, mu i t o apre- ciados entre cartagineses e romanos. Pequenas figuras de bronze, proceden- tes dos s a n t u á r i o s de Despenaperros, mos t r am profunda religiosidade, que t em suas mais expressivas formas na b r i l han te e s t a t u á r i a do Cerro dos San- tos (Albacete), onde in i imeras f iguras esculpidas em pedra representam sa- cerdotisas toucadas com curiosos ador- nos em que se mesclam as i n f l uênc i a s precedentes. \]m g rupo disperso de es- cul turas de ijjiimais, como a bicha de Balazote, o tpuro de Osuna ou o l eão de Baena, alçsta a a d o ç ã o da arte es- panhola às formas or ientais . A obra p r ima de art(; i bé r i ca é a «D ama de E l - che» ( f ig . 2),(;íbeça esculpida em pedra calisa, de côijs variadas. Sua face par- t ic ipa da sei-^nidade do a r c a í sm o he- lén ico e da imobilidade transcendental dos egípcios, ijnquanto seu toucado cu- rioso, claraiVi^nte de a s c e n d ê n c i a pú- nica, deixa l|-jnsparecer o conceito de d e c o r a ç ã o aSsírio. Seu ma io r interesse e s t á em que, mostrando as i n f l u ênc i a s que d ã o orjgem ao modelo, aparece como uma Cfiação to ta lmente o r ig ina l , com for te sa|jor, e x p r e s s ã o esp i r i tua l e uma grandicija dignidade, c a r a c t e r í s t i - ca da arte ypanhola , desde A l t am i r a ate Goya. A penínsul. I t á l i c a havia recebido a co lon i zação giega nas r eg iõe s mer id io- nais, mas o í e n t r o e o nor te f i cou à m e r c ê de u^a cu l tu ra v inda da Idade dos Metais, (jjie teve seu centro em Bo- lonha e chaijja-se cu l tu ra de Vi lanova . Uma centCjja de anos depois da fun- d a ç ã o de Ci,(tago registra-se em Tos- cana e no Lijíio a i n t r o d u ç ã o da cu l tu - ra etrusca, cya or igem, o r i en ta l , abo- r í g ene ou rujfdica, ainda é d iscut ida , e que desenv(iíveu-se a t é a der ro ta da f rota etrusci^em Cumas (474) pelos gre- gos de Sir^usa. I n f l u ên c i a s f en í c i a s , chiprianas e jregas ma rca r am o desen- volv imento jessa arte. Povo obsecado pela ideia di^ mor te e do a l ém , que t ã o poucopreo(;iipou os gregos, cons t ru iu tumbas suntuosas, t úm u l o s de terra , com base cljjndrica de pedra e c âma - ras sepulciys s u b t e r r â n e a s com b r i - lhantes pinlyras mura i s representando dansas fúnebres ( t umba de Ruvo, mu - seu de NáPolis) ( f ig . 3) ou exe r c í c i o s de ginastas ( tumba dos a u g ú r i o s , de T a r q u í n i a ) . Mestres f und i ç ão de bronze, cuja arte transiHjtiram aos romanos, deixa- r am brilhaii(ís amostras como o A r r i n - gatore (muSçu de F l o r e n ç a ) e a famosa Loba capitu]jna ( f ig . 4) do museu dos Conservadoh^s, em Roma. A cerâmii;;! lhes p e rm i t i u cons t ru i r grandes figjjras modeladas, po r exem- plo, o Apokj de Veyes ( f ig . 5) ou o sor- r idente Hei-jnes da V i l l a - Giu l ia , em Roma. Os etrusíips, como arqui tectos , pla- nejaram cidades ortogonais cruzadas por duas t^as (cardo e decumanus) e como decoradores conheciam a t écn ica do lelêvo em estuque ( t úmu - lo dos reliSvos, Cerveter i ) . jlfaA de HISTORIA DA ARTE ^« •'•"^SSEGODA NONELL. PROF.DA ESCOLA SURDE AROUITETURA DE BARCELONA B IDADE ANTIGA NÚ^B Tfe DO MEDITERRÂNEO OCIDENTAL: PÚNICA, IBÉRICA E ETRUSCA I R o ^ i a l F i p . 6 . - A r c o e l r u s c o d e V o l t e r r a (Itália). ARTE ROMANA: MONARQUIA E R E PÚB L I C A Alexandre Magno definiu o novo con- ceito de império, baseado não somente no domínio territorial, mas também no domínio cultural e colonizador. A ci- dade de Roma herdará es te espírito, dando-lhe uma forma real e duradoura e prolongando o helenismo. A arte romana será plenamente im- perial e eclética, mas deverá amadu- recer nos períodos de monarquia e re- pública. Uma tribo montanhesa fixada às mar- gens do Tibre fundou a cidade de Ro- ma, fundação esta cercada de lendas, e que data de meados do século VT i a. C. As influências artísticas que caracte- rizam o início de Roma são conse- quência da cultura de Vilanova e, es- pecialmente, da etrusca, que dá a arte romana um sentido vir i l e austero. No período republicano estende-se a cultura romana pela península e, mais tarde, pela Macedónia, Síria e Espa- nha. Após as ditaduras militares de Mário, Sila, Pompeu e César inicia-se o período imperial (flg. 1) com Otávio Augusto (século I ) . A arte romana receberá dos etruscos a habilidade na fundição do bronze, a inclinação para o retrato, o emprego do arco e da abóboda, além do sentido prático, a austeridade e o naturalismo. Depois das conquistas é patente a in- fluência grega, de quem receberá as regras arquitetônicas dórica, jónica e coríntia, às quais jun ta rá o toscano (dó- rico simolificado) e o composto (jóni- co e coríntio). São de origem grega os teatros e anfiteatros. Do Oriente receberá não somente os deuses, mas também os ti- pos característicos de escultura e de arquitetura. A arte romana prescindirá do ideal de beleza grego e de seu sentido linear de decoração, substituindo-os pelo na- turalismo. Trará novas soluções técni- cas, como o emprego da argamassa para erguer muros e tetos. Criará novos ti- pos de construções, como o troféu e o arco do triunfo. A engenharia será aperfeiçoada com a construção de pon- tes (Alcântara), aquedutos (Pont du Gard), estradas (Via Apia). Não são muitos os monumentos con- servados da época monárquica e repu- blicana. Citam-se entre êles o templo de Apolo, em Pompéa, e o original tem- plo dórico de Hércules, em Cori. Sen- te-.se neles a modificação de templo grego, substituindo o simples estiló- bato por um alto pódio. Parece ser do período republicano o templo da For- tuna Vi r i l , em Roma (fig. 2), que se conserva graças a sua transformação em igreja a partir do século ix. Ê de estilo jónico, levantado sobre pódio, ao qual se chega por uma pequena esca- da fronteira. A cela ou nave está divi- dida em três partes, da maneira etrus- ca, ocupando toda a largura do pódio (seudoperíptero). Nesta primeira fase as construções são de tipo grego, com muros de pedra quadrada (opus quadratumj, mas logo o emprego da argamassa permite cons- truir muros de alvenaria, que na época imperial alternam com os de tijolos. Entre as construções de procedência estranha avulta a basílica, ainda não empregada até a época imperial, que consistia em amplo salão retangular ou tribunal de justiça, e nas termas, de origem oriental, amplos edifícios abo- badados, nos quais, por meio de con- dutos de ar quente em baixo do pavi- mento, obtinham-se locais para banho frio (irigidarium), morno (tepidarium) e quente (caldarium), além de ginásios, bibliotecas e salas de reunião. O teatro, de herança grega, evoiue, e já nao é costruído em terrenos de dechve, mas ergue-se a gradaria sobre o solo e muda-se a forma circular da orjeés- tra (separação entre gradaria e cená- rio) pela semicircular, onde se insta- lam os lugares preferenciais. Data da época republicana o grande esgoto, ou Cloaca .Máxima, construída pelos etruscos, e o templo circular ou Tholos de Vesta, em Roma (fig. 3) e, também circular, o de Vesta, em Tivoli. Do século I a. C. data o grande túmulo de Cecília Metela, na Via Apia (fig. 4), edifício circular primeiramente coroa do por um túmulo cónico de terra que, na Idade Média, foi substituído por ameias. A escultura distingue-se, por um lado, pela influência helenística, com repeti- ção de tipos de animais e plantas dc grande efeito naturalista, e, por outro, no interesse pelo retrato, que vem dos etruscos, e que em Roma se acentua com o «jus imaginum», que é o direilu das persoas notáveis ao retrato, r com as «imagines majorum», retratos dos antepassados que adornavam <)•. vestíbulos das casas. Como exempln' notáveis temos os retratos de Pompiu (museu Ny-Carlsberg) e o de César (mu seu de Nápoles) (fig. 5). liea^deHJSTORIA DA ARTE r i )K J. BASSEGODA NONELL, PROF. DA ESCOLA SUP. DE AROUITETURADE BARCELONA IDADE ANTIGA ARTE ROMANA: MONARQUIA E REPÚBLICA Série B Núm. Fig. t. - Mapa do Império romano. ARTE ROMANA: IMPERIAL E PROVINCIAL Consolidado o Império Romano, re- vestidos os imperadores de poderes d i - v inos, o génio de Roma se mostrará ca- paz de mantê-Io durante séculos per- fe i tamente organizado, com u m sentido lógico e rac ional , e fundamentado em leis que, algumas, a inda estão em v i - gor. Em to rno dos imperadores erguem- se monumentos artísticos cuja f ina l i - dade é exaltar a ma io r f i gura do Im - pério, in fund indo em seus vassalos respeito e admiração. As várias escul- turas de Augusto far tamente o demons- t r am . Aparece vestido como pontífice (museu de Roma); n u , como div indade (museu do Louvre ) , ou armado como general em chefe (Porta Pr ima ) . O A l ta r da Paz Augusta (Ara pacis Aiigustae), hoje espalhado por vários museus, apresenta a mais pura f o rma do baixo relevo romano ( f ig . 1), p r i - moroso e real ista. O anf i teatro Flávio (Colosseum), inaugurado por T i t o no ano 80, é o mais impor tan te edifício deste t i po , im i t ado em todo o Império ( f ig. 2). É de p lanta elítica, com quat ro pavi- mentos que se d is t inguem, na parte exter ior , po r curvaturas entre séries de colunas superpostas. O imperador espanhol Tra jano enco- mendou ao sírio Apolodoro , de Damas- co, o ma io r de todos os foros romanos ( f ig . 3), verdadeiro con junto cenográ- f ico, pres id ido pela estátua do impera- do r no a l to da coluna; em cuja haste estão descritos, em baixo relevos, os feitos imper ia is . A presença em Roma de um or i enta l como arqu i te to de Tra- jano demonstra a grande, ainda que incontessada, admiração dos romanos pelo grego e ori enta l . Adr iano, imperador e a rqu i t e to , dei- xou também duas obras colossais em Roma. A p r ime i ra , o Panteon chama- do de Agripa, talvez o i in ico grande edifício romano que chegou inal terado até nós. A out ra grande obra de Adria- no é o majestoso mausoléu j un t o ao T ibre , em frente ao Vat icano (Castelo de Santo Angelo). Também é de Adr ia- no a v i la de T i vo l i , que resume o bom gosto a serviço da a rqu i t e tu ra de pra- zer. Mu i t o mais v i r i l é o mausoléu de Dio- cleciano, em Spalato (Sp l i t ) , vasto edi- fício ainda hoje apreciado entre as no- vas edificações. Os arcos de t r i un f o são uma forma a mais de enaltecer o imperador ( f i - gura 4 ) . Const i tuem um elemento t i p i - camente romano, fo rmado por um ou três arcos entre colunas encimadas po r um amplo f r iso , onde estão inscr i tas as legendas laudatórias. São notáveis os de Setímio Severo, em Roma, e os de Orange e de T imgad, na Argélia, este último em louvor a Tra jano . As termas de Caracala (na verdade, de Setímio Severo) e as de Dioclecia- no (realmente de Max im iano ) c ob r i am com cúpolas e abóbodas dezenas de hectáreas no in tento de r eun i r n um só local o monumenta l i smo e o deleite fí- sico e inte lectual . Após o trágico incêndio de Roma, Nero p r o cu rou reorganizar urban icamente a cidade, sup r im indo as «insulae», ou vivendas de vários pav imentos para o povo, uma vez que, sem água e com um sanitário c omum, não apresenta- vam condições higiénicas. A mor t e do imperador de i tou por t e r ra seu inten- to urbanístico, que t inha s igni f icado uma busca das técnicas urbanas helé- nísticas de Hipódamo em Roma. Temos conhecimento das casas romanas pela mumificação que de algumas delas dei- xou a erupção do Vesúvio em Pompéa e Hercu lano . A v ida se desenrolava em to rno de um pátio centra l com um tanque, que separava a v ida social da v ida íntima, que t ranscorr ia no gineceu. A escultura em bronze aperfeiçoou se até ser capaz de dar a estátua eques tre de Marco Aurélio, no Capitólio dc Roma ( f ig . 5), extraordinário exemplai que une à uma técnica per fe i ta a ex traordinária qual idade artística refle t ida na f i s ionomia afável e também enérgica do imperador filósofo. A p i n t u r a é conhecida através dos afrescos da Domiis áurea neronian : i , representando vistas suaves, nas quais as edificações parecem sup r im i r u'. muros e abrir-se à paisagem. Mais reservadas são as p in tu ras de Pompéa ( f ig . 6), onde se d ist inguem qua t r o estilos: arquiletônico, ornameii tal, decorado e fantástico, de gramU efeito decorativo e s ingular expressíin na A flagelada e a bacante, da v i la di> Mistérios, em Pompéa, onde as figurai, femininas, hab i lmente esboçadas, ic cortam-se num fundo vermelho vii> lento. A arte romana da época in f e r i o r , < i n romano ta rd io , t em especial interêsM pois se entrelaça às cul turas precedeu tes. Os retratos funerários de Fayíim (Eg i to ) , no século i i , precedem à ail^ b isant ina . Os sepulcros ou templos m pestres de Petra, na Síria, são u m pc i longamente da arte persa e helenístii.i Também na Síria, as colossais ru i i i . i de Baalbek e a rua por t i cada de Palmi ra expressam o a l to va lor construt ivo . inovador da arte romana ta rd ia . /1l£(iò de HISTORIA DA ARTE I'()K J. BASSEGODA NONELL. PROF.DA ESCOLA SUP. DE AROUITETURA DE BARCELONA B • f t IDADE ANTIGA N.JO ARTE ROMANA: IMPERIAL E PROVINCIAL l i o n a p r a ç a d o F i g 6 . - P i n t u r a m u i a l p o r r i p e í a n a d a V i l a d o s M i s t é r i o s . I P o r n p é i a , 1 - ARTE PALEOCRISTA O pensamento raciona] que caracte- r i zou os gregos transmit iu-se a Roma, que lhe acrescentou boa dose de senso prático. Ambos exerceram sua influên- cia no Oriente, que dom inou os gregos de Alexandre Magno e os romanos de Valer iano, Germânico e T i t o . Porém este domínio mate r ia l do Ocidente s o - bre o Oriente não fo i parale lo ao do- mínio esp i r i tua l , pois o Oriente i n f i l - trou-se lentamente em Roma, pr ime i ra - mente com as divindades pagãs que os romanos impo r t a r am , depois com a força nova, impetuosa e doce do cris- t ian ismo. O cr is t ian ismo ora fo i perse- guido, ora tolerado, e em certas oca- siões proteg ido pelos patrícios, e o im - perador, depois da terrível perseguição de Dioclesiano, real izou o feito cu lm i - nante do Édito de Milão (313), decla- rando o cr i s t ian ismo religião o f ic ia l do Estado. Mais uma vez impunlia-se o Oriente ao Ocidente. A arte cristã p r im i t i v a compreende uma p r ime i r a época, a das catacumbas, na qual desenvolve-se às escondidas, f ie l à nova fé, porém ainda carente de elementos artísticos or ig inais . Im i t a - ram-se os temas pagãos, e art istas pa- gãos, escultores e p intores , decoram as catacumbas com afrescos no esti lo ro- mano, mudando o signi f icado dos sím- bolos, como o pavão real ou a v inha, representando Cristo na f i gura de pas- t o r ou ainda como Cr is to doutor ( f i - gura 1), sentado e revestido com a toga. Uma vez reconhecida a religião de Cristo pelo imperador Constant ino, inicia-se no século i v a construção dos pr ime i ros templos. A nova religião prevê o cu l to no in t e r i o r do templo , não ao seu redor, como na Grécia, e a ela se adaptam t ipos já empregados para outros f ins. O t ipo mais c omum apresenta três partes: a nave, separa- da por colunas —destas, a centra l , mais elevada—, é i luminada por janelas (cla- ristorio). A entrada fixa-se em um ex- t r emo e, oposto a ela, encontra-se o presbitério, geralmente rodeado por um ábside semic ircular , coberto po r uma cúpula de quar to de esfera. A ha- silica não é coberta p o r abóbodas, e s im por armaduras de made i ra , vigas e telhas. Local de oração e pregação, no centro situa-se a «schola cantorum». Constant ino ergueu em Roma e Jerusa- lém importantes basílicas, como São Pedro do Vat icano, São Paulo Extra- muros ( f ig . 2), São João de Latrão e São Lourenço, na Cidade Eterna; a Nat iv idade, em Belém, e a de São João, em Jerusalém. Todas obedeciam ao t i - po descrito, se bem que a de São Pedro tivesse cinco naves e não três, e u m transepto ou cruzeiro, isto é, uma nave transversal defronte ao presbitério, se- parada da nave centra l po r um arco t r i un f a l , ou iconostasio. Diante da por- ta de entrada estendia-se o nártex, ou pórtico c laustra l , destinado aos não batisados. A este t ipo de edifícios de p lanta alargada, simétrico em relação a um eixo l ong i tud ina l , junta-se ou t r o t ipo de construção que se caracteriza pelos batistérios ou tnartiria. São estes lugares onde repousam os corpos dos santos mártires e onde somente cele- bra-se missa no dia de sua festividade. O batistério é o lugar destinado a ad- m in i s t r a r o sacramento do bat ismo, que se realizava então por imersão nu- ma pequena piscina. São edifícios de p lanta concentrada, ou seja simétrica em relação a um ponto centra l , e co- bertos por uma cúpola. O batistério de São João de Latrão ( f ig . 3) e o l mausoléu de Santa Constança em Roma ( f ig. 4) são exemplos deste t ipo . O cr i s t ian ismo, que fo i o f ic ia lmente reconhecido em Roma, expandiu-se ra- pidamente pelos arredores de seu país de or igem, a Palestina. Na verdade, já no século v ergueram-se na Síria gran- des templos, mu i t o diferentes dos ro- manos. E r am em homenagem aos san- i tos anacoretas que no deserto f izeram penitência; o mais famoso deles é o Qara t S imaan, dedicado a são Simão | Es t i l i ta . Um grande hexágono central , onde se encontra a co luna de são Si mao, é rodeado pela igreja, o hospit ; i l e a hospedaria, e t c , como em geral no'. centros de peregrinação. Este t ipo dr a rqu i t e tu ra estendeu-se a Anatólia e ; i Armênia. No Eg i to desenvolveu-se a arte cha mada copta, caracterizada pelos grau i des monastérios perdidos no deserto, tendo todos êles como or igem o fu i i ' dado por são Pacómio, verdadeiro ini c iador da v ida conventual , e que fo i In troduzída na Europa por seu compa t r i o t a são Bento de Nurs ia , fundadoi da o rdem benedit ina. São estes mo nastérios uma mis tu ra de basílica coiis tant in iana e edifício faraónico. A a i l r copta é interessantíssima por suas c. cu l turas , or iundas do romano posl i ' r i o r , e pela p i n tu ra , da qua l sobn • saem os afrescos do convento de Far.r a tua lmente no museu de Varsóvia. Em Capadócia (Turqu ia ) f o r m o i i M ^ uma escola cristã de monjes, que vi " v i am em estranhas igrejas rupeshr ( f ig . 5), embora que bem decorad.i com p in tu ras em afresco. /llEa^ de HISTORIA DA ARTE s e . 'OK J . B A S S E G O D A NONE L L , PROF.DA ESCOLA SURDE ARQUITETURA DE BARCELONA Q IDADE ANTIGA N úm 1 1 ARTE PALEOCR ISTA ARTE PARTA, SASANIDA E BIZANTINA O fim d o império de A lexand re Mag- n o n ã o foi o fim da in f luênc ia grega n a Asia, m a s s omen t e um a mudança. O E s t a d o seléucida es t abe l ec ido na Sí- r ia e na Mesopotâmia continuará sen- do grego pe la raça e pela a r t e . Com a invasão dos p a r t o s , p r oven i en t e s d a Esc i t i a , ao sul do m a r Cáspio, fundou- se a d inas t i a arsácida em 250 a. C. A m i s t u r a de grego e o r i en t a l acen- tua-se com a con s t r u ç ão de palácios abob a d a d o s , c om sa las a b e r t a s p a r a o ex te r io r (iwanes) e r a r a s e s cu l t u r a s f und ida s em b ronze , c omo a do prín- cipe Sh am i . Os i n doeu r opeu s , p a r t o s arsácidas, fo r am venc idos pe los sasánidas, povo s em i t a que , desde 224 a.C. até a in- vasão muçulmana, em 624 a. C , domi- nou a Pérsia. Os sasánidas cons ide r avam-se des- c enden t e s dos p e r s a s a q u emên i d a s e p r a t i c a v am a re l ig ião mazde i s t a . Em sua s l u t a s com Roma é de n o t a r a fa- mo s a vitória de Ede s a e a c a p t u r a do imp e r a d o r Va le r i ano . Seus t r iun fos fo- r am ce l eb r ados em ba ixo re levos , es- cu l p i do s ao pé das t umb a s r ea i s aque- mên i d a s de Naq- I -Rus t em (t ig. 1) e Taq-I-Bustán, ond e são v i s tos os mo- n a r c a s sasánidas a cava lo , o r a rece- b e n do da s m ã o s da d i v i ndade o símbo- lo do pode r , o r a em a t i t u d e v i t o r io sa d i a n t e dos impe r a do r e s r om a n o s der- r o t a do s . Notáveis as ruínas do palá- cio de Ctes i fonte (fig. 2), de abóbadas amp l a s , construídas p o r a r g u i t e t o s bi- z an t i no s . E n q u a n t o os sasánidas d om i n a v am a Asia Menor , no Mediterrâneo or i en t a l t o rmava - s e o Império b i zan t i no , último resquício do esp l endo r r oma n o , que foi d iv id ido po r Teodósio o G r a n d e en- t r e seus f i lhos Honório e Arcádio, e cu jo s e to r oc iden ta l ext ingui-se com a qu ed a de Roma em p od e r dos povos bárbaros (século v) . A cap i t a l do Império do Or i en t e e ra a c i dade de Cons t an t i nop l a , f undada c om es te n ome , no local da an t iga Bi- zância, po r Con s t a n t i n o o G r and e . Cons t an t i nop l a teve que c omb a t e r c on t r a es lavos , ava ro s e p e r s a s , m a s teve um mome n t o de g r a n d e expan s ão sob Ju s t i n i ano , que r e c up e r o u o le- van t e da península e spanho l a , b em c omo a Itália e Ca r t ago . A a r t e desen- volveu-se p a r a l e l amen t e a es t e s p ro- g ressos e c omp r e e n d e t r ê s períodos: o de J u s t i n i a no , até a c h am a d a gue r r a d a s imagens ; o período dos impe r ado - r e s macedônios e dos Comneno s , e o c h ama d o r e n a s c imen t o paleológico. Ao p r ime i r o chama-se g ene r i c amen t e bi- z an t i no , e d eu t e r ob i z an t i no aos o u t r o s do i s . O período b i zan t i no formar-se-á de t rês c ompon en t e s . P r ime i r o , a a r t e ro- m a n a clássica, sua a r t e ideal , um a vez que , q u a n d o a i nda o grego e r a a lín- gua de Bizâncio, os s obe r ano s in t i tu - lavam-se imp e r a d o r e s e con s i d e r avam- se suces so re s de Augus to e T r a j a no . O s e gundo c ompon e n t e e r a o o r ien ta l i s - mo , r e ceb ido através de s eus c o n t a t o s com os p e r s a s e os sírios e qu e lhes p r opo r c i o nou mode l o s e x t r emo or ien- tais levados pe la r o t a da seda , e, p o r fim, a a r t e bárbara, t r a z ida pe los po- vos de ao r e d o r de suas f r on t e i r a s que c h e g a r am ao Mediterrâneo pe lo s Bal- c an s . O período en t r e J u s t i n i a no e a cr i se i conoc las ta , o u gu e r r a d a s imagen s (527-843), ca rac te r iza -se pe lo dogma t i s - m o da p r o du ç ã o artística, que dará luga r a uma a r q u i t e t u r a de t i po s im bólico cheia de forca . É o período das g r a nd e s ig re j a s c upu l a r e s . Os p r i nc i pa i s m o n um e n t o s des t a época encon t r am- s e em Cons t an t i nop l a e Ravena , s i t u ada na cos ta adriática i ta l iana , o nd e os bi- z an t i no s f u nd a r am um a colónia. S an t o Apolinário em Classe, em Ravena (fi- gu r a 3), é um exemp lo de um a cons- t r u ç ão bas i l ica l a l ongada , c ob e r t a com t e to de mad e i r a . São de p l a n t a s con c e n t r a d a s a s ig re jas dos S a n t o s Sérgio e Baco , de Cons t an t i nop l a , e de São Vi ta l , em Ravena , com a i r o s a s cúpulas sob r e ga le r i as de co luna s . Nos San to s Apóstolos, de Cons t an t i nop l a , e n con t r a se o t i po de c ruz grega . O t emp l o bi z an t i no p o r excelência é o de Hagi:i Sofia (a S an t a S abedo r i a ) de Cons t an t i nop la (fig. 4). Uma imen s a cúpula de 31 me t r o s , construída po r A r t êm io cli- Tra l l es e I s o do r o de Mi le to , ergue-sc, c omo um símbolo da abóboda celesti ' c o b r i n do o povo c r i s t ão d e n t r o do tem pio . A d e co r a ç ão de mosa i co , típica do es t i lo b i z an t i no , encon t r a - se em Raveri;i (fig. 5), em São Vital e S an t o Apolin:i r io o Novo , onde uma fileira de s a n t o , move-se pe los m u r o s do t emp l o num.i b r i l h an t e p r o c i s s ão de p e r s onagen s , (u j o s o lhos , mu i t o abe r t o s , a t e s t am un i i p r o f u nd a v ida i n t e r io r . O deco ra t i v r . m o b i z an t i no t r aduz-se em capitéis m o v imen t a do s , t r a b a l h a do s a trépano; n o . de l i cados t r a b a l h o s de ma r f im , c omo o re levo Ba rbe r i n i , ou a s u r p r e e nd eu h cátedra de Max im i ano (fig. 6), conserv.i da no mu s e u de Ravena . Os iconos on imagen s a d qu i r em p rog r e s s i va r ig idr / Em 726, Leão I I I , Isáurio e, ma i s l:ir de , s eu f i lho Con s t an t i no V, Copm n imo (740), p r omu l g a r am éditos proi b i n do as imagens . F o r am a or igem d a c h am a d a c r i se i conoc las t a , refliMi da que , na m e sm a época, dom inou n Is lã , e q u e t ão p r o f u n d amen t e afcloii, inc lus ive , a História do Ar te . r/lãuAeEmORlà DA ARTE s. . I'I)K J, BASSEGODA NONELL. PROF.DA ESCOLA SUP. DE ARODITETURA DE BARCELONA B IDADE ANTIGA ARTE PARTA, SASANIDA BIZANTINA Núm €|]lIlTÍlulí i iM i I|M • V i i . i l . Hcivena [liélia.l Fig. 6, - Cátedra de marfim de Maximiano. Rave. (Itália).ARTE DEUTEROB I ZANT INA A crise iconoclasta, rompendo a tra- d i ç ã o f igura t iva da ar te bizant ina, dei- xou ves t íg ios no esti lo das c o n s t r u ç õ e s a r q u i t e t ó n i c a s , especialmente no Pa lá - cio Sagrado de Constant inopla , e na escultura s implesmente decorat iva de p ú l p i t o s e g r a d í s , que se r ecob r i r am de elegantes l inhas g e omé t r i c a s de or igem or ien ta l . Os l ivros de minic turas f o r am o re- fúgio dos pintores, impedidos de deco- r a r as igrejas com figuras de santos. Os s a l t é r i o s e l ivros de o r a ç ã o man t i - veram a t r a d i ç ã o f igura t iva , p r inc ipa l - mente nos mo n a s t é r i o s . A crise icono- clasta t rouxe como c o n s e q u ê n c i a a emi- g r a ç ã o de mui tos monjes art istas que se estabeleceram ao sul da I t á l i a , na Sic í l ia e em Veneza. Sua i n f l u ênc i a na ar te i ta l iana se p r o l o n g a r á a t é C io t to . O maravi lhoso mosaico absidal de Torce l lo ( f ig . 1), p r ó x im o a Veneza, mos t ra uma das mais imponentes ima- gens da V i rgem Mã e de Deus (Zeo- tókos). A vol ta ao cul to das imagens, com os imperadores m a c e d ô n i c o s e os Com- nenos ( s écu lo s i x - x i i ) , s u p õ e um re- t o rno ao estudo da ant iguidade clás- sica; o conhecimento da fi losofia e da cu l tu ra gregas c on t r i b u i u para dar à ar te um esplendor impe r i a l . Nas igre- jas cont inua sendo usada a planta em cruz grega, coberta com um conjun to de cinco c ú p u l a s , que n ã o s ã o rebaixa- das, como as de Santa Sofia, mas que se erguem sobre um p r i sma pol igonal , em geral otavado, chamado tambor. Cobrem-se com telhas e abrem-se ja- nelas no tambor . I n t e r i o rmen t e forma- se ou t ra c ú pu l a decorada com mosai- cos de fundo dourado. A Z e o t ó k o s , de S a l ô n i c a (1028), e, na mesma cidade, os Santos Após t o l o s ( s é cu l o .X IV ) s ão exemplos deste t ipo de igreja, que ex te r io rmente s ã o de- coradas com jogos de c ô r e de fo rma , obt idos com a diversidade de coloca- ç ã o dos ladr i lhos . A pequena Me t r ó p o - le de Atenas ( s écu lo x ) é um pequeni- no r e l i c á r i o adornado com relevos da é poc a anter ior . Na A rmên i a desenvolveu-se uma es- cola paralela, sob a dinast ia dos Bra- g á d i t a s ( s écu lo s x e X l ) que deixou obras impor tantes , como a catedral de An i (1000), onde se encon t ram os p r i - meiros ensaios de arcos ogivados com nervaturas, precursores do gó t i co . As figuras que naquela é p o c a se re- presentavam por s ím b o l o s ou anagra- mas mostram-se agora r í g i d a s , e s t á t i - cas, n ã o com um in ten to decorat ivo. mas com uma o rdem que a l i t u rg i a estabelece inf lexivelmente . Cr i s to em toda a majestade preside a igreja, desde a c ú p u l a a t é o á b s i d e , c as cenas de sua vida dom inam todo o templo , relegando os santos a lugar de menos im p o r t â n c i a . S ã o n o t á v e i s os mosaicos da igreja de Dafn i , per to de Atenas ( s é cu l o x i ) ; S ã o Lucas, de Fó- cida ( s é cu l o x i i ) e a Nea Mon i , de Quio ( s écu lo x i ) . Mais conhecida é a catedral de S ão Marcos, em Veneza ( f ig . 2), o rgu lho dos r icos negociantes venezianos, sempre em contato comercia l com o Oriente. In ic iada po r bizant inos no s é cu l o x i , sobre ant igo monumen to , é uma ign ; j : i de t i j o l o , com cinco c ú p u l a s duplas, decoradas com mosaicos as exteriores, de fo rma bulbosa, e sustentadas por elementos de madeira as inter iores . Mais tarde seu exter ior fo i enr iquecido com ap l i c a çõe s de m á r m o r e e pedras preciosas trazidas do Oriente , assim como com esculturas, entre as quais salienta-se, sobre a por t a p r i nc i pa l , a quadr iga de bronze, que t inha estadn no h i p ó d r om o de Constant inopla . Nu a l tar p r i n c i pa l , a famosa Pala de Oum ( f ig . 3), ou r e t á b u l o de ouro , com in c r u s t a ç õ e s de esmalte e pedrarias , qm cons t i tu i a p e ç a mais n o t á v e l da Jir. t ó r i a da ourivesaria . Na Sic í l ia , i i . i Capela Palatina, na Mar to rana , de f . i l e rmo , e nas catedrais de Cefa lú e Mon reale ( f i g . 4) nota-se todo o luxo do T I H . saico b izant ino , combinado a e lemcnl í l^ sarracenos. Nos Balcans, Santa Sol i ; i , de Oh r i d , é interessante po r sua d em r a ç ã o de p in tu ras em afresco. No Renascimento dos Pa l eó l ogo s (se culos x i i i - x v ) , a inda que n ã o se Ic nham inventado novas formas, t o i i sagra-se def in i t ivamente o esti lo bi/.aii t i no . A Apend iko , de M i s t r a (Pelopn neso), do s é cu lo x i v , é uma das niai< c a r a c t e r í s t i c a s igrejas, coroada poi grande n úm e r o de c ú p u l a s numa hcln variedade de p r o p o r ç õ e s . No M(iiil<> Athos , da Gréc i a , constroem-se famosun conventos, ainda existentes, e que Í K I I lhem os monjes sucessores dos eni i l t ã o s de Tebaida e Palestina, em lutiii res de dif íci l acesso, plenos de tcsmi ros a r t í s t i c o s . Depois da c o n v e r s ã o do p r í n c i p e Vlii d im i r o de Kiev (864), a arte bizanl i i i i i , que j á havia conquis tado a Mokiáviíi , V a l á q u i a , Sé rv i a e Bu l g á r i a , estende IK à Rú s s i a , onde se f ixa rá a t é o .s<-i i i lo x v i i i . Procede do s é cu l o x v i a m nhecida igreja de Bemaventurado San Bas í l i o , de Moscou (1560) ( f ig . S). NN Po l ón i a nota-se a i n f l uênc i a deu lcml i l zant ina ( igreja de S ão F lor iano) . nínòdeJUSTOKíA DA ARTE •'Hi ,1 DASS EGODA NONELL . PROF. DA ESCOLA SUP. DE AROUITETURA DE BARCELONA IDADE ANTIGA ARTE DEUTEROBIZANTINA Serie B Núm. 13 M.'M l í KH í l I o ( l l á l l a ) . Fig. 2. - Catedral de Sào Marcos, Veneza (hálial. mm»,;.- k « Fig, 3. - Uma parte do retábulo áureo de Sao Marcos, Veneza (Itália), i i i i i " .hl H l iH i l n ,1 I de Monreale (lláliai Fig, 5, - Igreia de São Basílio, de Moscou. ORIENTE ARTE NA ÍNDIA Comentando a arte o r i en ta l é neces- sário advertir-se que esta não pode ser estudada com o mesmo critério que se apl ica à arte do Ocidente. A emoção estética que domina um ocidental na contemplação de uma regra, de uma harmon ia ou uma proporção não é a mesma que o or i enta l p rocura na sua arte. Em troca, buscará êle um reflexo da integração do mundo com a d iv in - dade através de uma arte de formas inusitadas. O h indu sempre teve intuição do d i - v ino, a qual t raduz mater ia lmente nos objetos artísticos. Estes nascem e mu l - tipl icam-se, fora de todo marco e toda ordenação, no sentido que dela nos dá a lógica helénica. Como seres orgâ- nicos, as obras de arte h indus crescem e renroduzem-se, pois que pers istem no decorrer dos séculos, sem balbúcios p r im i t i v o s , evolução ou poster ior deca- dência. A península da Índia une-se ao resto da Ásia pela cord i lhe i ra do H ima la ia , de difícil acesso, e por isso a passagem para as planícies do Indo fêz-se atra- vés do Afganistão, em contato com a Pérsia. Por aí chegaram à Índia os povos mesopotámicos e, logo, os gregos de Alexandre. Em Harappa e Mohenho Daro exist iu uma civilização p r im i t i v a de or igem mesopotâmica que foi arrasada no se- gundo milénio antes de Cr is to po r uma invasão ariana. Estes invasores levaram à índia a língua sanscrita e uma re- ligião, o vedismo, que evo lu iu para o braman ismo ; este prega a união de todas as almas numa só, e a redenção pelas reincarnações (metempsicose). No século VI a. C. Buda pregou uma nova religião, que se opõe ao panteís- mo bramanis ta e estabelece o caminho
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