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Revisão Anual de Patologia de Plantas Capitulo5 ( Manejo integrado de Fitobacteriose de importancia economica do brasil )

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Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 145 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
MANEJO INTEGRADO DE FITOBACTERIOSES 
DE IMPORTÂNICA ECONÔMICA NO BRASIL. 
 PARTE 2 
 
João Sebastião de Paula Araujo, Charles Frederick Robbs
*
 e 
Raul de Lucena Duarte Ribeiro 
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 
Instituto de Agronomia, Departamento de Fitotecnia 
23851-970, Seropédica, RJ 
* Consultor do Sebrae 
araujoft@ufrrj.br 
 
 
RESUMO 
 
Na primeira parte desta revisão (RAPP, v. 11, 2003) foi feita uma 
abordagem geral do manejo integrado das fitobacterioses. Foram discutidas as 
bases desse manejo, incluindo: sanidade do material propagativo, resistência 
genética, controle biológico, controle químico, métodos culturais e ativação 
da resistência da planta hospedeira. Concluindo a revisão, é agora apresentada 
uma lista, detalhadamente comentada, de 14 doenças bacterianas de 
importância econômica e social no Brasil, elencando medidas de controle 
específicas e aplicáveis a cada caso. 
 
 
SUMMARY 
 
INTEGRATED MANAGEMENT OF ECONOMICALLY IMPORTANT 
BACTERIAL PLANT DISEASES IN BRASIL. PART II 
In the first part of this review article (RAPP, v. 11, 2003) general 
concepts of integrated management of bacterial plant diseases were 
presented. The basis of this management were discussed including: disease-
free propagative material, genetic resistance, biological control, chemical 
control, cultural methods, and induced resistance of host plants. As a 
conclusion of the review a list of 14 bacterial diseases of economic and social 
importance in Brazil is commented in detail along with specific control 
measures applicable to each case. 
 
 
146 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
INTRODUÇÃO 
 
Em um primeiro capítulo, de caráter genérico e recém-publicado 
(Araujo et al., 2003), foram apontadas as crescentes dificuldades relacionadas 
à busca pela redução dos prejuízos devidos às fitobactérias e a conseqüente 
importância que assumem na questão fitossanitária, especialmente em regiões 
tropicais. 
No Brasil, como em outros países, tem-se priorizado o uso de 
cultivares geneticamente resistentes como estratégia de controle. Essa 
alternativa, entretanto, é válida apenas em determinadas situações, ou seja, 
para um número relativamente restrito de culturas, ainda muito aquém do 
desejável. Isto certamente reflete, acima de tudo, a extrema variabilidade das 
fitobactérias e sua alta capacidade patogênica. 
Tendo em vista, ainda, as limitações inerentes ao controle químico 
e sua comum ineficácia, o manejo de fitobacterioses com freqüência se baseia 
num elenco de medidas profiláticas e de cunho cultural. 
Esta segunda parte da revisão discute esse manejo integrado, 
especificamente direcionado a 14 fitobacterioses selecionadas dentre aquelas 
de relevância econômica e social no Brasil. 
Da lista, anotada e detalhadamente comentada, constam espécies 
cujos hospedeiros cultivados detêm reconhecida expressão no cenário da 
agricultura nacional, incluindo: cafeeiro, citros, rosáceas, cana-de-açúcar, 
feijoeiro, videira, goiabeira, bananeira, solanáceas, crucíferas (brassicáceas) e 
cucurbitáceas, cuja produtividade pode ser comprometida por doenças de 
etiologia bacteriana. 
Muitas outras bactérias fitopatogênicas ocorrem no país, 
acarretando danos às lavouras, mas não puderam ser, de momento, 
consideradas em virtude da necessidade de obedecer o espaço reservado ao 
artigo na formatação deste volume. Não obstante, a grande maioria das ações 
que constituem a estratégia do manejo integrado das fitobacterioses está 
contemplada nos diversos patossistemas ora abordados. 
 
 
MURCHA BACTERIANA E MOKO 
(RALSTONIA SOLANACEARUM) 
 
Ralstonia solanacearum é, sem dúvida, para os trópicos, a mais 
destrutiva das espécies de bactérias fitopatogênicas. Está presente na maioria 
dos solos brasileiros, mesmo naqueles sem histórico de cultivos com 
representantes de solanáceas, musáceas e outras plantas suscetíveis. Em nível 
mundial, os registros indicam que R. solanacearum possui hospedeiros 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 147 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
distribuídos em 53 famílias botânicas, abrangendo mais de 200 espécies 
(Hayward, 1994). No Brasil, sua presença já foi assinalada desde o Amazonas 
até o Rio Grande do Sul, mormente incidindo sobre culturas de tomateiro e, 
dependendo das condições do ambiente, ocasionando prejuízos totais 
(Tokeshi & Carvalho, 1980; Batista & Guedes, 1981). Em batata, a murcha 
bacteriana representa uma das mais importantes doenças (Lopes, 1993). Na 
produção para consumo, em regiões que tradicionalmente não utilizam batata-
semente certificada, estimam-se perdas acima de 50 %, agravadas, ainda, pelo 
apodrecimento de tubérculos doentes durante o transporte e o armazenamento. 
Maiores prejuízos, contudo, relacionam-se à certificação de batata-semente, 
em que o organismo é considerado dentre os principais entraves aos 
programas nacionais de produção em bases permanentes, responsável pela 
condenação de muitos campos de multiplicação, representando mais do que a 
soma de todos os outros fatores limitantes. Em pimentão, R. solanacearum é 
de pouca importância para a Região Centro-Sul do Brasil (Tokeshi & Salgado, 
1980; Kimura, 1984; Matos et al., 1990). Constitui-se, entretanto, em 
problema sério para essa olerícola na Região Amazônica (Cheng et al., 1984; 
Cheng, 1987), assim como em regiões baixas do nordeste brasileiro 
(Deslandes, 1940; Batista, 1953). A bactéria foi também detectada no 
município de Magé, Estado do Rio de Janeiro, causando murcha em cultivares 
de feijão-de-vagem (Akiba et al., 1981); porém, estranhamente, nunca mais 
foi assinalada sobre essa hortaliça na região, muito embora a doença ocorra 
intensamente em outras hospedeiras lá cultivadas. 
Em bananeira, R. solanacearum, que incita a doença conhecida 
como moko, está amplamente disseminada pelas principais áreas de produção 
da Região Norte, com exceção do Estado do Acre (Cares, 1988). Na Região 
Nordeste, focos da doença foram detectados nos Estados da Paraíba, Ceará 
(Ponte & Freire, 1972), Sergipe (Cares,1988), Pernambuco e Bahia (Peixoto 
et al., 1995a). Considerada exótica, a enfermidade já poderia, contudo, ter 
existido em helicônias, antes de seu registro sobre bananeira, na Amazônia 
brasileira. A primeira observação do moko no país foi feita de material 
coletado no Amapá, em várzeas inundadas do rio Pedreira (Tokeshi & Duarte, 
1976), sendo a bactéria caracterizada como estirpe A da raça 2. Quase 
simultaneamente, Robbs & Kimura identificaram a estirpe SFR (semi-flúida-
redonda), de material procedente de áreas não alagadiças do vale do mesmo 
rio (Reale & Melo, 1982), registros esses que, no entanto, careceram de 
provas de patogenicidade. Sobre Heliconia spp., a notícia mais recente de 
ocorrência procede do Estado de Pernambuco (Assis et al., 2001). 
Os estudos sobre a patogenicidade da bactéria e sua variabilidade 
genética, ainda que incompletos, fornecem idéia mais consistente sobre a 
composição das populações prevalentes nas diversas áreas agrícolas. Nesse 
sentido, a identificação de biovares, serovares ou patotipos, e sua respectiva 
148 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
distribuição geográfica, é altamente desejável, especialmente para melhor 
compreensão da ecologia do patógeno e de questões de natureza etiológica, 
bem como para orientar a incorporação de resistência em cultivares. 
Considerando o círculo de hospedeiros da bactéria,a raça 1 afeta um maior 
número de solanáceas cultivadas (tomateiro, batata, berinjela, jiló, fumo), 
incluindo as biovares I, III e IV. A raça 2 da bactéria afeta bananeira e 
helicônias, enquanto a raça 3 (biovar II) é considerada específica de batata, 
ocorrendo em regiões mais frias, embora possa infectar naturalmente algumas 
outras solanáceas. 
Conquanto a bananeira (Musa spp.) possa ser ocasionalmente 
infectada pela raça 1 de R. solanacearum, é a raça 2, biovar 2, que promove 
elevadas perdas nas áreas onde se estabelece. Alguns fatores como umidade 
do solo de várzeas situadas às margens dos rios da Bacia Amazônica, que 
sofrem influência das marés, ou o manejo inadequado da irrigação em solos 
compactados, poderão predispor à doença. O patógeno é capaz de sobreviver 
indefinidamente em musáceas selvagens ou no solo, desde que haja umidade 
suficiente. Pereira & Normando (1993) verificaram que a sobrevivência da 
bactéria em solos de terra firme do Estado do Amazonas diminui à medida 
que se prolonga a estiagem na região. Em helicônias no Havaí (EUA), as 
epidemias de moko foram devastadoras, obrigando a aplicação de medidas de 
erradicação (Mariano et al., 2001). 
A disseminação do agente da murcha bacteriana pode ser efetivada 
pelo solo, pelas águas de superfície, tratos culturais, cachos e rizomas 
(bananeira), mudas e tubérculos infectados, implementos agrícolas, insetos e 
nematóides. A interação R. solanacearum-planta hospedeira é influenciada 
por fatores meteorológicos: temperatura e umidade do solo, luminosidade e 
comprimento do dia. Em tomateiro, a incidência da murcha bacteriana é 
favorecida por temperaturas elevadas do solo e do ar, altos níveis de umidade 
no solo, baixa intensidade de luz e dias curtos (Noda et al., 1986). Martins et 
al. (1989) constataram diferenças na virulência das biovares I e III de R. 
solanacearum para as cultivares de tomateiro Ângela Gigante, Bonny Best e 
Caraíba, relacionadas a faixas de temperatura variando de 25 a 40 ºC e de 17 a 
32 ºC. 
A existência das três raças e de três (I, II, III) das cinco biovares de 
R. solanacearum no Brasil, aliada ao vasto círculo de plantas hospedeiras, 
acarreta aspectos epidemiológicos complexos. Levantamentos conduzidos em 
diversas regiões brasileiras, com ênfase em solanáceas, indicaram a presença 
da biovar I em todas elas, da biovar II predominantemente em climas amenos 
(Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste) e da biovar III no norte e nordeste. 
O controle de R. solanacearum é difícil por ser uma bactéria 
vascular, possuir ampla gama de hospedeiros, apresentar alta variabilidade 
genética e capacidade de sobreviver no solo por longo período. As principais 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 149 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
medidas preconizadas devem ser integradas e incluem: 
 
Exclusão: devido à variabilidade de R. solanacearum, existem 
estirpes que ainda não ocorrem no Brasil e, portanto, medidas cabíveis devem 
ser tomadas, de acordo com a legislação vigente, no sentido de impedir essas 
introduções. São exemplos, as estirpes que causam murcha bacteriana do 
amendoim, gengibre e da batata-doce (Takatsu & Lopes, 1997). 
Em relação ao moko, para a saída de helicônias e de quaisquer 
partes de bananeira de áreas de registro de ocorrência das Regiões Norte e 
Nordeste, é exigida a “Permissão de Trânsito” conforme portaria ministerial 
(Reale & Melo, 1982; Cordeiro & Kimati, 1997). 
 
Erradicação: muito importante no que diz respeito à batata, 
devendo-se sempre providenciar o descarte de tubérculos infectados por R. 
solanacearum (Lopes et al., 1989). Essa modalidade de controle torna-se 
também relevante para o moko da bananeira, tanto para as estirpes que se 
disseminam mais lentamente, através do contato de raízes ou pelos rizomas 
infectados (estirpe A – Região Amazônica), como para aquelas também 
disseminadas por insetos visitadores das inflorescências e já registradas nos 
Estados de Alagoas e Sergipe. Em bananais doentes, a erradicação pode ser 
efetivada com o emprego de herbicidas introduzidos no pseudocaule por meio 
de flexas de bambu previamente imersas nos produtos (Cordeiro & Kimati, 
1997). 
 
Práticas culturais: a rotação de culturas tem sido destacada como 
uma importante medida a ser adotada no controle de R. solanacearum 
(Batista, 1953; Choudhury, 1981; Reifschneider & Takatsu, 1985). As 
gramíneas, dentre elas: sorgo, milho, cana-de-açúcar e arroz, têm se mostrado 
eficientes na redução dos níveis populacionais do patógeno no solo (Robbs, 
1960; Drummond & Drummond, 1980; Jabuonski & Hidalgo, 1987). Embora 
capaz de diminuir o potencial de inóculo, a rotação é insuficiente para 
erradicar a bactéria, dada a possibilidade de sobrevivência em hospedeiras 
nativas ou na rizosfera de plantas não-hospedeiras (Robbs, 1960). Em áreas de 
cultivo de batata, a raça 3 de R. solanacearum pode ser efetivamente 
controlada por dois a três anos de rotação com gramíneas; porém, para a raça 
1, 10 anos consecutivos de cultivo de cana-de-açúcar não foram suficientes 
(Lopes, 2001). Admite-se que uma população residual de 10
2
 ufc/g da bactéria 
no solo seja bastante para iniciar epidemias da doença (Civerolo,1982). Em 
bananeira, infecções aéreas podem ser reduzidas através da eliminação do 
“coração” do cacho, logo após a emissão da última penca, cortando-o com 
ferramenta desinfestada, a fim de evitar atrativo para insetos visitadores de 
inflorescência, tais como a abelha irapuá (Trigona spp.) e vespas (Polybia 
150 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
spp.). 
Na Região Norte, onde R. solanacearum é indígena em extensas 
áreas, pode-se empregar a enxertia do tomateiro sobre espécies de Solanum, 
como jurubeba (S. jurubeba) e juna (S. toxicarium) (Robbs, 1985). O uso de 
porta-enxertos resistentes vem controlando eficazmente a murcha bacteriana 
do tomateiro em cultivos protegidos (plasticultura). Já existem no comércio 
sementes de porta-enxertos altamente resistentes a R. solanacearum e que 
vêm sendo usados com pleno sucesso no plantio de cultivares suscetíveis de 
tomate “cereja” em municípios do Médio Paraíba, Estado do Rio de Janeiro 
(H. Watanabe, comunicação pessoal). 
 
Controle biológico: embora venha sendo bastante pesquisado 
(Mariano et al., 1992a,b; Araujo, 1995; Peixoto et al., 1995b; Silveira et al., 
1995; Moura, 1996), o controle biológico de R. solanacearum ainda não 
gerou resultados práticos que assegurem recomendações. 
Drummond & Gomide (1983) trataram tubérculos de batata com 
Streptomyces griseochromogenes em diferentes formulações e obtiveram 
resultados promissores de controle em solos infestados por R. solanacearum. 
Drummond (1985) relacionou supressividade quanto à murcha bacteriana a 
solos com alta população do antagonista Streptomyces griseus. 
Mariano et al. (1992a,b), testando isolados de Pseudomonas 
fluorescens e P. marginalis, a par de cinco espécies de Trichoderma, em 
tomateiros cultivados em solo infestado com R. solanacearum, identificaram 
cepas de P. fluorescens e de T. pseudokoningii como capazes de 
proporcionar redução da severidade da murcha. Em solo não esterilizado, 
esses autores conseguiram maior eficácia de microrganismos antagonistas, 
indicando possíveis interações sinergísticas com a biota do solo. 
Ao testarem 35 isolados de Pseudomonas spp. fluorescentes 
visando ao controle de R. solanacearum em tomateiro, sob condições de casa 
de vegetação, Peixoto et al. (1995b) destacaram a cepa TR25 (P. aeruginosa) 
como melhor antagonista, proporcionando 18,1 % de redução da severidade 
da doença. A partir deisolados de P. aeruginosa, selecionados pelo grau de 
antagonismo, obtiveram mutantes resistentes in vitro a 150 ppm de 
rifampicina e ácido nalidíxico. De três mutantes testados, o FR61 (Rif-Nal) 
reduziu a severidade da murcha bacteriana em 21,3 %. 
Ao avaliarem a capacidade antagônica de 35 isolados de Bacillus 
spp. contra R. solanacearum, causando murcha em tomateiro, Silveira et al. 
(1995) detectaram representantes das espécies B. coagulans, B. megaterium e 
B. cereus aptas a reduzir a severidade da murcha em até 54,6 %. Porém, ao 
serem cotejadas com diferentes concentrações de inóculo e isolados do 
patógeno, esse antagonismo mostrou-se inconsistente, indicando a 
necessidade de avaliações mais aprofundadas e sob condições variadas, no 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 151 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
sentido de evitar recomendações precipitadas e de pouca utilidade prática. 
 
Variedades resistentes: o melhoramento de plantas visando 
resistência a R. solanacearum tem ocupado um número de pesquisadores no 
Brasil. Entretanto, segundo Reifschneider & Takatsu (1985), a grande 
variabilidade do patógeno e a distribuição inadvertida de material infectado, 
contribuindo para intensificar essa variabilidade em cada região, dificultam 
sobremaneira a utilização da resistência genética como estratégia eficiente e 
durável de controle. 
Trabalhando com sementes sexuais de batata, Ribeiro et al. (1973) 
avaliaram progênies híbridas entre as espécies Solanum phureja e S. 
tuberosum, obtendo clones derivados de indivíduos da progênie do 
cruzamento A-1 (S. phureja x S. tuberosum) com a cultivar mexicana Greta 
(S. tuberosum), que apresentavam elevada resistência a isolados de R. 
solanacearum. Entretanto, Lopes & Giordano (1983) relataram, anos depois, 
que a resistência de S. phureja pode ser quebrada a temperaturas acima de 
30 ºC. 
A cultivar Achat vem sendo reportada como portadora de 
resistência ao agente da murcha bacteriana, capaz de reduzir 
significantemente as perdas provocadas pela bactéria, tanto em locais onde 
predomina a raça 1 de R. solanacearum como naqueles de ocorrência da raça 
3 (Lopes, 1993). 
A herança da resistência a R. solanacearum em tomateiro é 
complexa e sua expressão está fortemente relacionada a condições ambientais, 
bem como à idade da planta (Cheng et al., 1984; Noda et al., 1986). 
Nagai (1988) e Makishima & Miranda (1992) relacionaram 
diversas variedades de tomateiro como resistentes a R. solanacearum. 
Algumas delas constam de ambas as listas, mas, ao que parece, não estão 
ainda disponíveis cultivares resistentes e adequadas a plantios comerciais. 
Segundo Matos et al. (1990), não se dispõe de sementes comerciais 
de pimentão e pimenta com nível satisfatório de resistência a R. 
solanacearum. Estes autores avaliaram 50 acessos de Capsicum spp., 
envolvendo diferentes espécies, e detectaram alta resistência a R. 
solanacearum em diversos deles, pertencentes a C. annuum, que poderiam 
vir a ser utilizados em programas de melhoramento de pimentão e pimenta 
para as regiões Norte e Nordeste do Brasil. 
Cheng (1987) destacou a cultivar de pimentão AMA-3 como 
resistente à murcha bacteriana, sendo adaptada para plantio no trópico úmido 
brasileiro. Quezado-Soares & Lopes (1994) avaliaram a linhagem de 
pimentão “MC-4”, internacionalmente considerada como das mais resistentes, 
detectando, no entanto, significativas diferenças no comportamento deste 
genótipo em relação a 20 isolados de R. solanacearum pertencentes às 
152 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
biovares I e II. 
Akiba et al. (1972) relataram a ocorrência de elevado nível de 
resistência na variedade de berinjela japonesa Nihon Nassu a isolados 
nacionais de R. solanacearum. Estudo sobre o mecanismo genético que 
governa a resistência nessa variedade, mediante cruzamento com a cultivar 
suscetível Florida Market, indicou herança monogênica e dominante para o 
caráter. 
Morgado et al. (1992) avaliaram 92 genótipos de berinjela 
provenientes da coleção da EMBRAPA-CNPH. Apenas dois desses genótipos 
foram considerados resistentes e oito deles como medianamente resistentes. 
Os quatro genótipos mais resistentes, quando inoculados com 10 isolados de 
R. solanacearum de diferentes localidades e hospedeiras, comportaram-se 
como tal, indicando o potencial desses materiais como fontes de resistência ao 
agente da murcha bacteriana. 
Já vêm sendo cultivadas no sul do Brasil diversas variedades 
melhoradas de fumo com resistência à murcha bacteriana, as quais são 
multiplicadas localmente e especificamente destinadas às áreas infestadas. 
Com relação à bananeira, as cultivares Pelipita (ABB), Manag 
(AA) e FHIA-3, esta última com características semelhantes a „Pacovan‟, são 
consideradas como resistentes ao patógeno (Cordeiro & Kimati, 1997; Robbs 
& Rodrigues Neto, 1999). 
 
Sanidade do material propagativo: os cuidados com o material 
propagativo não se restringem à batata e às musáceas. Outras culturas 
importantes devem ser, também, consideradas, especialmente quando 
vinculadas à aquisição de mudas para transplantio. Neste caso incluem-se: 
eucalipto (Eucalyptus spp.), bracatinga (Mimosa scabrella) (Sudo et al., 
1983; Robbs et al., 1988) e maracujazeiro, assinalado como um novo 
hospedeiro de R. solanacearum (Lopes et al., 1999; Robbs et al., 2002). No 
mesmo caso situam-se solanáceas cultivadas a partir de mudas produzidas 
pelo sistema de bandejas em estufas. Akiba et al. (2000), por exemplo, 
detectaram contaminação com R. solanacearum da água de irrigação usada 
na produção de mudas de tomateiro comercializadas, em larga escala, para 
distribuição a diversos municípios produtores do Estado do Rio de Janeiro. 
 
Manejo e qualidade das águas: irrigações por infiltração favorecem 
alta umidade e propiciam o arraste superficial de partículas de solo, 
representando um mecanismo eficiente de distribuição local do inóculo da 
bactéria. Dessa forma, o emprego de métodos alternativos de irrigação, tais 
como o gotejamento, poderia contribuir positivamente para o manejo da 
doença. Reveste-se de muita importância garantir o uso de água não 
contaminada, evitando-se, por exemplo, a construção de reservatórios em 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 153 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
áreas mais baixas nas unidades de produção, passíveis de receber enxurradas. 
Anos atrás, no vale do Rio Paraíba do Sul, era comum o emprego 
de sistemas de rotação de culturas entre arroz (verão) e batata (inverno). A 
incidência da murcha bacteriana permaneceu sempre baixa na batata, 
atribuindo-se este fato à prolongada inundação dos tabuleiros durante o 
cultivo do arroz, o que possivelmente carreava o inóculo da bactéria para 
camadas mais profundas do solo. 
 
Resistência sistêmica induzida: o acibenzolar-S-methy (aSm), um 
ativador de reações de defesa das plantas, já vem sendo utilizado 
comercialmente para proteção a campo contra um amplo espectro de 
patógenos de diversas espécies cultivadas (Csinos et al., 2001). A aplicação 
do aSm em tomateiro resultou em atraso significativo no desenvolvimento de 
sintomas da murcha bacteriana e na redução do grau de severidade da doença 
em solo artificialmente infestado com R. solanacearum, sob alta pressão de 
inóculo (Araujo et al., 2002). Resultados semelhantes foram obtidos por 
vários outros pesquisadores, em experimentos realizados com diferentes 
patossistemas (Latunde-Data & Lucas, 2001; Csinos et al., 2001; Louws et al., 
2001), sinalizando para o potencial de indutores de resistênciano contexto do 
manejo integrado de fitobacterioses. 
 
Solos supressivos: batata plantada sucessivamente por quase duas 
décadas em solos turfosos do “cinturão verde” de Brasília não tem sido 
afetada pela murcha bacteriana, embora a doença pareça ter ocorrido nos 
primeiros anos. A supressividade desses solos permanece não elucidada, 
embora possa ser atribuída, em parte, à intensa utilização da cultivar Achat 
durante o período (Lopes, 1993). 
Outro tipo de supressividade do solo foi detectado no cerrado 
brasileiro, com a incidência de R. solanacearum, bastante intensa (até 80 % 
de plantas murchas) no primeiro ano de cultivo da batata em terreno recém 
desbravado, regredindo à quase insignificância nos anos subsequentes, 
independentemente da cultivar utilizada, fenômeno que produtores de origem 
japonesa chamaram de “campo-biô” (Reifschneider et al., 1984). 
 
 
154 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
CANCRO CÍTRICO 
(XANTHOMONAS AXONOPODIS PV. CITRI / X. 
AXONOPODIS PV. AURANTIFOLII / 
X. AXONOPODIS PV. CITRUMELO) 
 
Considera-se o cancro cítrico, incitado por Xanthomonas 
axonopodis pv. citri / X. axonopodis pv. aurantifolii / X. axonopodis pv. 
citrumelo, uma das enfermidades mais sérias e de maior importância 
econômica para a citricultura nacional. 
Foi primeiramente registrado em São Paulo e, atualmente, ocorre 
em várias outras regiões citrícolas, abrangendo os Estados do Paraná, Santa 
Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Cinco tipos 
ou grupos patogênicos da bactéria podem ser diferenciados pela capacidade de 
indução de sintomas em determinadas espécies e variedades (Rodrigues Neto 
& Baldini Ribeiro, 2002): 
 “cancrose A” – atribuída a X. axonopodis pv. citri e também 
denominada de cancro cítrico asiático, amplamente disseminada pelos 
continentes, possuindo o maior espectro de hospedeiros, afetando todas as 
espécies e variedades cítricas e, conseqüentemente, a mais importante do 
ponto de vista econômico; 
 “cancrose B” – devida a X. axonopodis pv. aurantifolli (tipo B), 
ocorrendo na Argentina, Paraguai e Uruguai. Os limões verdadeiros (Citrus 
limon) são suscetíveis; 
 “cancrose C” – causada por X. axonopodis pv. aurantifolii (tipo 
C), descrita por Namekata (1971) e limitada a determinadas regiões do Estado 
de São Paulo, afetando apenas o limão Galego (C. aurantifolia); 
 “cancrose D” – registrada no México sobre limão Galego, tendo, 
entretanto, sua validação questionada, pois a doença foi também atribuída ao 
fungo Alternaria limicola (Palm & Civerolo, 1994); 
 “cancrose E” – também denominada de mancha bacteriana das 
folhas dos citros, é causada por X. axonopodis pv. citrumelo. Esta doença foi 
descrita em 1984, em viveiros da Flórida, EUA, afetando, principalmente, o 
porta-enxerto „Swingle‟ de citrumelo (C. paradisi x Poncirus trifoliata) (Stall 
& Civerolo ,1991); 
 “cancrose A star” – pode ser considerada como o quinto tipo da 
bacteriose, mas, em verdade, corresponde a linhagens atípicas de X. 
axonopodis pv. citri adaptadas a temperaturas elevadas e ocorrendo no 
sudoeste da Ásia. Verniere et al. (1998), baseando-se em determinadas 
características de patogenicidade, reações a anticorpos policlonais e 
bacteriófago, concluiram tratar-se de uma variante de X. axonopodis pv. citri, 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 155 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
tipo A. 
O conhecimento do tipo de cancrose presente e das formas de 
sobrevivência da bactéria, inclusive em tecidos vegetais infectados, é básico 
para o sucesso do controle. No Paraná, Leite Jr. & Mohan (1990) verificaram 
que o período de sobrevivência associada a folhas caídas ao solo em pomares 
cítricos não chegou a quatro meses, condição esta anteriormente relatada por 
Robbs & Deslandes (1972). Pereira et al. (1978) constataram a sobrevivência 
da bactéria na rizosfera de capim Colonião (Panicum maximum). 
A disseminação da bactéria à longa distância tem sido 
principalmente efetuada à conta do trânsito e da introdução de material 
propagativo infectado (mudas e borbulhas), que podem não manifestar 
sintomas visíveis em variedades cítricas mais resistentes, como, por exemplo, 
tangerina Ponkan. A introdução no país do minador das folhas dos citros 
(Phyllocnistis citrella) tem contribuído para danos maiores pelo cancro 
cítrico, na medida em que suas galerias abrem caminho para o patógeno. A 
média e curta distâncias, a disseminação ocorre a partir de exsudatos levados 
por chuva e ventos, bem como através do transporte da bactéria pelos 
trabalhadores, vestuário, utensílios, caixaria etc. 
Uma vez introduzida a bactéria em determinada região, o controle 
torna-se extremamente difícil. Tentativas de erradicação da doença vêm sendo 
conduzidas pelos órgãos públicos, desde seu surgimento na década de 50. Foi 
instituída no país a Campanha Nacional de Erradicação do Cancro Cítrico – 
CANECC/SP (Decreto 75.061, de 09 de dezembro de 1974), cujo objetivo 
reside na erradicação de focos da doença, através de poda drástica, desfolha 
química e eliminação de pomares vizinhos, em raios de 30m. Desde 1997, 
esses métodos de poda e desfolha deixaram de ser adotados, uma vez que não 
surtiam o efeito desejado na redução de novos focos, principalmente devido 
à participação da larva minadora como agente disseminador. Isto resultou em 
nova proposição da Comissão Executiva da CANECC/SP, implementada pela 
Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (Portaria n
o
 
17/99), que determina a eliminação total do talhão quando a incidência do 
cancro cítrico for superior a 0,5 %. 
Em áreas ainda livres da enfermidade, o principal instrumento de 
controle traduz-se pela regulamentação oficial de trânsito vegetal, 
caracterizando X. axonopodis pv. citri como praga quarentenária A2, o que 
implica em exigências de Certificado Fitossanitário de Origem (CFO) e 
Permissão de Trânsito Vegetal (PTV), para o comércio de cítricos no mercado 
nacional. É curioso e interessante o fato de que a bactéria não tenha sido ainda 
assinalada na citricultura fluminense dada à proximidade com Estados 
vizinhos onde ocorre o cancro e à constante introdução de frutas in natura 
para comercialização, com certa freqüência beneficiadas em “packing houses” 
situadas em áreas produtoras do Rio de Janeiro. É possível que o agente 
156 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
causal do cancro cítrico encontre dificuldade de se estabelecer na Baixada 
Litorânea do Estado, em virtude de temperaturas demasiadamente elevadas 
que são características da região. A propósito, o mesmo parece ocorrer com 
outras bactérias, tais como a que incita o cancro bacteriano do tomateiro (C. 
michiganensis subsp. michiganensis), importantíssima para as regiões de 
altitude do interior fluminense, mas praticamente inexistente nas baixadas. 
No caso de importações, a Instrução Normativa DAS/MA PA N
o 
002/98, requisita, da mesma forma, o CFO com declaração adicional de que o 
produto provém de área livre de cancrose dos citros, reconhecida pela 
Organização Nacional de Proteção Fitossanitária do Brasil (Rodrigues Neto & 
Baldini Ribeiro, 2002). 
Em novos plantios, devem ser utilizadas borbulhas e mudas 
garantidamente livres do patógeno, procedentes de viveiros registrados. Com 
relação à resistência genética, em estudos realizados nas condições do Estado 
do Paraná (Leite Jr. & Mohan, 1990), classificaram-se variedades de citros 
em: 
 altamente suscetíveis – limão Galego, limão Siciliano, tangelo 
Orlando, lima de Umbigo e pomelo Marsh Seedless; suscetíveis – laranjas doces: Bahia, Baianinha, Seleta, Hamlim, 
Vermelha e Piralima; 
 moderadamente suscetíveis – mexerica Rio, tangerina Dancy; 
laranjas doces: Lima Verde, Navelina, Sanguínea de Mombuca, Valência e 
Pêra, e cidra Diamante; 
 resistentes – tangerinas Ponkan, Satsuma, Clementina e Tankan, 
laranjas doces Folha Murcha e Moro, lima ácida Tahiti, laranja azeda Doublé 
Cálice ; 
 altamente resistente – Calamondin. 
A formação de quebra-ventos arbóreos nos pomares é 
indispensável no manejo do cancro cítrico em áreas endêmicas. Segundo 
Koizumi et al. (1996), aerossóis formados pela associação de chuva e vento 
podem deslocar-se por mais de 90 m quando a umidade do ar alcança 100 %. 
Observações de Stall & Seymour (1983) indicaram que, quando a velocidade 
do vento é superior a 8 m/s, há aumento nas taxas de infecção e que em folhas 
senescentes as infecções ocorrem principalmente através de ferimentos 
causados pela ação de abrasivos. Tendo em vista esses conhecimentos, 
Graham & Gottwald (1991) sugeriram que quebra-ventos são tão importantes 
quanto pulverizações dos pomares com produtos cúpricos, para controle do 
agente incitante do cancro cítrico. 
Com o objetivo de proteger as brotações e frutos jovens, bem como 
galerias abertas pela lagarta minadora dos citros, pulverizações preventivas 
com cúpricos têm apresentado eficiência em diferentes regiões. Contudo, o 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 157 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
sucesso do controle químico à doença depende de vários fatores, como a 
suscetibilidade da cultivar, adoção de outras medidas preventivas, tipo de 
formulação cúprica, bem como época e número de aplicações (Kuhara, 1978; 
Stall & Seymour, 1983; Leite Jr., 1990; Koizumi, 1997). Aplicações de 
hidróxido de cobre, em comparação com outros cúpricos (oxicloreto de cobre, 
óxido cuproso e hidróxido de cobre + mancozeb), para prevenção do cancro 
cítrico em cultivares representando vários níveis de resistência, foram 
avaliados no Estado do Paraná. Os resultados mostraram que cinco a seis 
pulverizações de hidróxido de cobre, durante a estação chuvosa, promoveram 
redução significativa da incidência do cancro em folhas e frutos; maior 
efetividade na prevenção à doença foi alcançada para cultivares com níveis 
intermediários de resistência, como as laranjas Pêra e Valência e a lima ácida 
Tahiti, obtendo-se controle de 90 % em folhas e de 70 % em frutos dessas 
cultivares. Sob condições climáticas menos favoráveis à doença, com apenas 
três aplicações do hidróxido de cobre foi possível chegar-se a resultados 
equivalentes em folhas e frutos de laranja Natal (Leite Jr., 2002). 
Desinfestações de ferramentas, caixaria etc., rodolúvios e 
pedilúvios representam medidas de exclusão recomendáveis. Para essa 
finalidade, vem sendo preconizado o uso de solução de hipoclorito de sódio, 
na concentração de 150 a 250 ppm (pH 6,0 a 7,5) (Leite Jr., 1990). 
Segundo Rodrigues Neto & Baldini Ribeiro (2002), pode-se 
resumir o manejo integrado do cancro cítrico em: 
 inspeções regulares em áreas não afetadas, inclusive sítios e 
quintais que possuam plantas cítricas, observando-se a direção predominante 
dos ventos para orientar a implementação de barreiras vivas; 
 inspeções freqüentes na totalidade de plantas em viveiros e 
borbulheiras, lavrando-se o “Ato de Interdição” no caso de diagnóstico 
positivo; 
 rigorosa fiscalização no trânsito de mudas e borbulhas, bem 
como de caixaria e frutos; 
 podas drásticas nas áreas afetadas, chegando, inclusive, à 
esqueletização, com imediata remoção e queima do material infectado e 
pulverizações subsequentes com cúpricos; 
 controle químico periódico com formulações cúpricas e 
inseticidas, quando presente o minador das folhas, direcionando as 
pulverizações principalmente às brotações novas; 
 privilegiar o cultivo de variedades tolerantes, como limões, 
algumas tangerinas e laranjas doces, em detrimento de variedades com 
acúleos, especialmente no tocante a clones novos; 
 novos plantios preferencialmente em locais de clima menos 
favorável ao patógeno; 
158 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
 cobertura viva ou morta do solo, evitando a ação de abrasivos, 
representados por partículas de diferente origem, deslocadas pelo vento. 
 
 
CANCRO BACTERIANO DA VIDEIRA 
(XANTHOMONAS CAMPESTRIS PV. VITICOLA) 
 
O cancro bacteriano da videira no Brasil é devido à bactéria 
Xanthomonas campestris pv. viticola, uma estirpe apigmentada do gênero. 
Antes limitada à Índia, tornou-se a primeira espécie bacteriana assinalada 
sobre videira na região produtora do Submédio do Vale do Rio São Francisco. 
Passados cerca de cinco anos do registro dos primeiros surtos, a doença já está 
presente nos Estados de Pernambuco, Bahia e Piauí, sobre as cultivares Red 
Globe, Itália, Rubi, Benitaka, Festival, Piratininga, Catalunha e Christmas 
Rose, além das cultivares sem sementes: Perlette e Superior, dentre outras. 
Diante da limitada distribuição geográfica de X. campestris pv. 
viticola (Índia e Brasil), a hipótese mais plausível é de que a introdução da 
bactéria se tenha dado em associação com material genético de Vitis vinifera 
importado da Índia. Robbs & Rodrigues Neto (1999) sugeriram que a doença 
estabeleceu-se através de bacelos contaminados da cultivar Red Globe 
trazidos daquele país. A ampla e rápida distribuição desses elementos de 
propagação vegetativa, associada a condições climáticas conducivas, teria 
resultado na epidemia primeiramente assinalada em Pernambuco (Malavolta 
et al., 1998; Lima et al., 1999; Araujo et al., 1999a; Araujo & Robbs, 2000; 
Araujo, 2001). 
A fase patogênica de X. campestris pv. viticola parece acontecer no 
período chuvoso do Semi-Árido do São Francisco (de novembro a março), 
quando surgem sintomas foliares permanentes, fornecendo inóculo para 
outros órgãos aéreos da videira. De forma diferente, na estação seca (maior 
parte do ano), quando não há desenvolvimento de sintomas visíveis, células 
do patógeno permanecem protegidas pelos tecidos vegetais ou sobrevivem 
como epífitas nas folhas, provavelmente constituindo inóculo para o 
ressurgimento da doença no início da estação chuvosa. Exames de órgãos 
aéreos de videira ao microscópio eletrônico revelaram que X. campestris pv. 
viticola reside sobre folhas, com ou sem sintomas aparentes, em áreas de 
produção de uva do Submédio São Francisco onde o cancro já tenha sido 
registrado. Essas populações epífitas seriam, em parte, responsáveis pela 
sobrevivência local da bactéria e pela manutenção do inóculo na ausência de 
condições predisponentes à infecção (Araujo et al., 2000). Adicionalmente, a 
sobrevivência da bactéria está associada a cancros ativos, remanescentes nos 
ramos podados ou partes vegetais deixadas no pomar. 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 159 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
Dada à facilidade de exteriorização do patógeno, por meio de 
exsudados de lesões foliares e cancros nos ramos, é provável que a 
disseminação de X. campestris pv. viticola se dê em aerossóis formados pela 
ação de ventos, constantemente presentes na viticultura nordestina, em 
associação com a água de condensação, de chuvas ou irrigações. Essas 
partículas em suspensão, levadas por correntes aéreas, promoveriam, então, a 
redistribuição da bactéria a curta distância, à semelhança do que foi registrado 
na cultura do arroz, com a disseminação de X. oryzae por cerca de 64 m, após 
ocorrência de chuvas fortes (Goto, 1992). As formas variadas e eficientes de 
sobrevivência e disseminaçãoacarretam dificuldades no controle dessa 
bactéria e apontam para a necessidade da adoção de múltiplas práticas 
culturais pelos agricultores, que possam reduzir a incidência e a severidade 
da doença. 
O viticultor deve começar por certificar-se sobre a procedência das 
mudas, verificando as condições sanitárias do local de sua produção e as 
medidas preventivas de controle adotadas pelo viveirista. 
Fatores que possam reduzir umidade e tempo de molhamento no 
filoplano da videira, tenderiam a desfavorecer o desenvolvimento do cancro. 
Insere-se nesse contexto a opção pelo método de irrigação a ser empregado, 
lembrando que o uso de aspersão, microaspersão ou sulcos de irrigação 
distribuem grande volume de água, com expectativa de elevação da umidade 
relativa do ar, quando comparados ao sistema de irrigação por gotejamento, 
certamente mais adequado. 
Considerando-se importante a participação dos ventos na 
disseminação da bactéria, a formação de “barreiras vivas” seria prática 
cultural indispensável ao controle. Por outro lado, o registro indiano (Nayudu, 
1972) de que X. campestris pv. viticola foi encontrada infectando 
naturalmente o neem ou nim (Azadirachta indica), patogenicidade também 
revelada para essa meliácea pelos isolados nacionais da bactéria (Araujo et al., 
1999b; Malavolta & Almeida, 2000), descredenciam o seu uso em quebra-
ventos e sinalizam para a necessidade de investigação envolvendo outras 
espécies, como: grevilha, capim Cameron, sansão do campo e casuarina, já 
amplamente empregadas na viticultura do nordeste para proteção dos cachos. 
Práticas de poda em épocas de chuvas ou muito próximas ao 
período chuvoso oferecem riscos de maior incidência do cancro e precisam 
ser levadas em conta no planejamento da produção de uva no nordeste 
(Chand & Kishum, 1990; Chand et al., 1991). 
A formação de exsudados da bactéria sobre cancros ativos, bem 
como a sobrevivência em latência sobre ramos podados ou partes vegetais 
infectadas e deixadas no pomar, tais como gavinhas aderidas ao aramado da 
latada, contribuiriam como nichos de preservação do inóculo. Dessa maneira, 
recomenda-se treinamento de pessoal para exame criterioso e frequente das 
160 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
plantas, a fim de detectar os primeiros focos e providenciar imediata 
eliminação das partes removidas através de queima. 
Uma vez demonstrado que plantas de mangueira (Mangifera 
indica), umbuzeiro (Spondias tuberosa), cajueiro (Anarcadium occidentale), 
cajá-manga (Spondias dulcis) e aroeira (Schinus terenbenthifolius), além do 
neem (A. indica), são suscetíveis a isolados nacionais de X. campestris pv. 
viticola, artificialmente inoculados, atenção deveria ser dada ao potencial 
desses possíveis hospedeiros enquanto fontes locais de inóculo, já que fazem 
parte da fruticultura do nordeste brasileiro (Araujo et al., 1999b; Malavolta & 
Almeida, 2000). 
De fundamental importância é a desinfestação de ferramentas e 
utensílios durante operações de poda, desbaste, raleio e colheita, bem como 
conscientizar os trabalhadores sobre a necessidade de higienização antes de 
seu ingresso nas áreas de cultivo. 
O controle químico preventivo vem sendo tentado com 
pulverizações de produtos à base de cobre. Entretanto, existem dados sobre a 
ocorrência de resistência ao cobre e à estreptomicina em isolados de X. 
campestris pv. viticola (Chand et al., 1994; Silva et al., 2000; Araujo et al., 
2001), reduzindo as perspectivas de êxito quanto ao manejo químico da 
doença e enfatizando a necessidade de pesquisas em busca de outras 
modalidades de controle. Reforçando essas evidências, Lima & Mashima 
(2000) relataram que tratamentos químicos de bacelos de videira, infectados 
por X. campestris pv. viticola, com oxitetraciclina, sulfato de cobre, amônia 
quaternária ou cloranfenicol não foram eficazes como curativos. 
O controle da bactéria via resistência genética parece, por ora, 
pouco promissor, visto que as cultivares disponíveis de V. vinifera 
mostraram-se suscetíveis (Chand, 1992), sendo que cultivares de uva sem 
sementes (“seedless”) e aquelas que produzem bagas de pigmentação 
avermelhada foram citadas como altamente suscetíveis à bactéria. 
Diante do exposto, o caminho mais adequado para o controle do 
agente causal do cancro bacteriano da videira, como já referido, seria o uso de 
material propagativo livre de contaminação, associado a práticas capazes de 
limitar a disseminação da bactéria. 
Métodos imunológicos e de biologia molecular vêm sendo 
avaliados para emprego na identificação e detecção de X. campestris pv. 
viticola em material propagativo (Araujo, 2001; Trindade & Ferreira, 2001). 
Os viveiros de mudas deveriam ser credenciados e implantados em locais 
distantes de parreirais afetados pela doença, sendo inspecionados através de 
exames periódicos de sanidade. 
Para as regiões vitícolas do sul e sudeste do país, até então não 
atingidas, deve-se, obviamente, adotar medidas de exclusão. Para isto, 
programas imediatos devem ser implementados pelos órgãos de defesa 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 161 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
sanitária vegetal, a fim de restringir o trânsito de material propagativo de 
videira e para os produtos colhidos, originários do Médio São Francisco, 
exigir o certificado fitossanitário de origem – CFO, haja vista tratar-se de 
praga quarentenária A2. 
 
 
MANCHA BACTERIANA DO PIMENTÃO E 
TOMATEIRO 
(XANTHOMONAS AXONOPODIS PV. VESICATORIA E X. 
VESICATORIA) 
 
A mancha bacteriana é considerada uma das doenças de hortaliças 
mais difundidas no país, desde o seu aparecimento na Região Nordeste, em 
1947. Sua ocorrência sobre tomateiro e pimentão pode causar redução 
significativa da produtividade e da qualidade dos frutos, especialmente sob 
prevalência de períodos chuvosos e quentes (Shekhawat & Chakravarti, 1976; 
Hibberd et al., 1988). Através de proposta de classificação taxonômica 
validada, a bactéria causadora da doença em pimentão foi renomeada para 
Xanthomonas axonopodis pv. vesicatoria, ao passo que isolados patogênicos 
ao tomateiro foram elevados à espécie X. vesicatoria (Jones et al., 1998). 
A incidência da doença está diretamente relacionada a umidade, 
temperaturas entre 22 e 32 ºC, pluviosidade e variedade cultivada (Shekhawat 
& Chakhavarti, 1976). Sérios prejuízos às lavouras podem ocorrer sob 
condições de chuvas prolongadas ou de irrigação por aspersão, principalmente 
quando acompanhadas de rajadas de ventos, que promovem rápida 
disseminação da bactéria na cultura (Pohronezny et al., 1992). Estudos 
realizados na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica-RJ, 
mostraram que 0,01 % de sementes de pimentão contaminadas pelo patógeno 
podem resultar, sob condições de ambiente favorável, em 100 % de mudas 
contaminadas ao final de 30 dias (Carmo et al., 1996). 
A disseminação do agente da mancha bacteriana nas lavouras 
ocorre através de chuva ou irrigações associadas a ventos, que distribuem o 
inóculo com grande eficiência. À longa distância, faz-se por meio de sementes 
contaminadas, as quais constituem a principal fonte de inóculo primário do 
patógeno (McGuire & Jones, 1989). Kimura (1984) relatou que X. 
axonopodis pv. vesicatoria pode manter sua viabilidade e patogenicidade por 
até 10 anos em sementes de pimentão armazenadas. 
Medidas de caráter preventivo, incluindo o uso de sementes livres 
do patógeno, práticas de rotação de culturas por períodos curtos e emprego 
de variedades menos suscetíveis são adequadas e acessíveis ao agricultor, por 
serem simples, de baixocusto e não agredirem o agroecossistema. 
162 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
O manejo da doença pode também começar pelo tratamento de 
sementes de tomate e pimentão. Para isto, são indicados diferentes métodos, 
desde a imersão em água a 50 ºC por 20-25min (Reifschneider & Lopes, 
1982), calor seco (70 ºC) por 96 h (Azevedo, 1991) até o emprego de 
químicos. Maringoni & Kurozawa (1994) avaliaram o efeito de diferentes 
produtos químicos, em várias concentrações e tempos de imersão de sementes 
de tomateiro inoculadas com X. vesicatoria. Dos produtos testados, apenas o 
ácido clorídrico a 5 %, durante 5 h, erradicou a bactéria, causando, porém 
uma pequena redução no percentual de emergência das plântulas. O 
tratamento térmico, via calor seco, além de eficiente abrange um amplo 
espectro de patógenos transmissíveis por sementes de solanáceas cultivadas 
(Kimura, 1991). Dessa forma, sementes de tomateiro contaminadas com X. 
vesicatoria e tratadas termicamente a 70 ºC/96 h, via calor seco, resultaram 
em erradicação do patógeno, não sendo verificados quaisquer efeitos sobre a 
germinação (Silva, 1999). 
Com relação à resistência genética, pouco progresso tem sido feito 
no Brasil. No entanto, a cultivar híbrida Melody de pimentão é citada como 
resistente a X. axonopodis pv. vesicatoria (Lopes & Quezado-Soares, 1997). 
Ribeiro et al. (1981) detectaram resistência devida a genes recessivos na 
variedade de pimenteira Santaka (C. annuum) e distribuíram sementes 
genéticas das linhagens “RMB” (resistentes à mancha bacteriana) procedentes 
de cruzamento com cultivares de pimentão. Ao que parece, no entanto, essas 
linhagens não chegaram a ser utilizadas em programas de melhoramento do 
pimentão. 
A nutrição das plantas parece ter relação com epidemias da mancha 
bacteriana. Níveis elevados de carbonato de cálcio no solo podem 
proporcionar menor severidade de X. axonopodis pv. vesicatoria em 
pimentão (Jones et al., 1983). Estes últimos autores verificaram, também, que 
níveis mais altos de magnésio, via adubação foliar ou do solo com cloreto de 
magnésio, estavam relacionados com a maior incidência da doença naquela 
solanácea. 
Uma outra tática, que deve ser considerada no manejo da doença, é a 
aração profunda, visando à remoção de restos culturais, uma vez que no solo a 
sobrevivência da bactéria se restringe a poucas semanas, por não revelar 
capacidade competitiva com a biota habitual. Acrescente-se, ainda, a 
necessidade de evitar-se proximidade entre lavouras de idade diferente 
(Kimura & Carmo, 1995). 
A desinfestação de bandejas de semeadura, assim como a utilização 
de substratos e água de irrigação livres do patógeno, são práticas que devem 
ser observadas na produção de mudas. Essas práticas, ainda que não eliminem o 
patógeno, podem determinar redução significativa do potencial de inóculo e da 
taxa de progresso da mancha bacteriana no campo. 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 163 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
Aplicações de fungicidas cúpricos, apesar de recomendáveis no 
início da ocorrência da doença, têm se mostrado pouco eficientes e 
contribuem para a seleção de populações bacterianas resistentes ao cobre 
(Aguiar et al., 2000). O mesmo se aplica à utilização de antibióticos, que 
infere riscos de contaminação do meio ambiente, além de onerar a produção 
(Kimura, 1984). 
Ativadores de resistência sistêmica vêm sendo testados com algumas 
cultivares de pimentão e tomateiro. O acibenzolar-s-methyl, primeiro produto 
comercial com essa característica registrado no Brasil, foi aplicado em 
pulverização foliar ou irrigação do solo e, independentemente do método 
adotado, provocou maior redução nos sintomas quando aplicado um dia antes 
da inoculação com a bactéria, comparado a três, sete e 14 dias antes dessa 
inoculação. A proteção induzida, medida pelo grau de redução da severidade da 
doença nas folhas, chegou a 70 % (Silva et al., 2000). Resultados positivos da 
aplicação do mesmo indutor foram também verificados por Romero et al. 
(2001), com referência a X. axonopodis pv. vesicatoria. 
 
 
PODRIDÃO MOLE, TALO OCO E CANELA PRETA 
(PECTOBACTERIUM CAROTOVORUM / P. 
CAROTOVORUM SUBSP. ATROSEPTICA / P. 
CHRYSANTHEMI) 
 
As pectobactérias incitantes de doenças em plantas estão 
atualmente agrupadas em quatro espécies: Pectobacterium cacticida, P. 
carotovorum, P. chrysanthemi e P. cypropedii (Duarte & El Tassa, 2003). 
Pectobacterium carotovorum (= Erwinia carotovora) é a mais importante 
espécie do grupo das pectinolíticas, sendo nativa na maioria dos solos 
brasileiros e responsável pelo desenvolvimento de sintomas de podridão mole 
(“soft rot”) em importantes culturas, tais como: batata, cenoura, tomateiro, 
pimentão, brássicas, melão, orquídeas etc. (Duarte, 1999). A doença pode 
ocasionar prejuízos tanto no campo como na fase de pós-colheita. Apesar de 
não existirem estimativas, a importância econômica das perdas causadas por 
essa bactéria pode ser muito grande, dependendo do manejo adotado no 
cultivo, na colheita, embalagem, transporte e comercialização dos produtos 
(Jabuonski et al., 1979). 
Pectobacterium carotovorum tem capacidade de sobreviver em 
distintos ambientes, inclusive no solo em associação com restos culturais. 
Pode, também, manter-se como epífita na filosfera de mais de 70 espécies 
botânicas hospedeiras, em elementos de propagação vegetativa, ou associadas 
a plantas da vegetação espontânea. Em batata, as fontes primárias de inóculo 
164 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
são representadas por tubérculos infectados. Os restos de culturas onde a 
doença ocorreu são inicialmente responsáveis pela sobrevivência do patógeno 
no solo (Pérombelon & Kelman, 1980; Goto, 1992; Gudmestad & Secor, 
1993). 
Temperaturas entre 25 e 35 C, associadas a elevada umidade e 
deficiência de aeração, são favoráveis ao desenvolvimento de infecções. 
Outros fatores de predisposição à doença são os ferimentos decorrentes de 
práticas culturais, ventos fortes, atritos entre as próprias plantas ou injúrias de 
insetos. Adubações excessivas com nitrogênio (Goto, 1992; Lopes & 
Quezado-Soares, 1997), assim como a presença abundante de matéria 
orgânica em decomposição (ex: solo de áreas de “derrubada” recente) também 
constituem fatores predisponentes. A disseminação da bactéria dá-se pela 
água, raízes e tubérculos infectados, insetos, tratos culturais e implementos 
agrícolas (Tokeshi & Carvalho, 1980). 
Diante da natureza polífaga de P. carotovorum, as medidas de 
controle a empregar são, quase que exclusivamente, de ordem sanitária ou 
cultural. Assim, deve-se direcionar os plantios para áreas com solos bem 
drenados, adotando-se espaçamento que possibilite boa ventilação. Além 
disso, é fundamental a utilização de tubérculos-semente sadios, a 
implementação de rotações de culturas ou pousio por tempo prolongado, 
nutrição equilibrada das plantas, bem como cuidados para evitar-se 
ferimentos. 
Capinas e amontoas devem ser feitas por pessoal treinado e em 
ocasiões de menor umidade no solo. Quando feitas mecanicamente, os 
implementos devem ser adequados e bem regulados. Desbrotas, próximas ao 
nível do solo, podem ocasionar a disseminação de planta a planta nas lavouras 
de tomateiro e pimentão, provocando os sintomas de talo ôco ou canela preta 
(Pectobacterium carotovorum / P. carotovorum subsp. atroseptica). Logo, 
recomenda-se que sejam procedidas quando as plantas estiverem secas e que o 
agricultor lave as mãos com sabão, antes de qualquer operação que envolva o 
manuseio das plantas.Especialmente após as desbrotas, deve-se pulverizar a 
lavoura com compostos à base de cobre, a fim de proteger os ferimentos. 
O manejo da irrigação na cultura da batata pode ditar o controle à 
canela preta. O plantio de lotes de tubérculos com alto percentual de infecção 
não resulta necessariamente em incidência elevada da doença no campo. 
Gumestadt & Secor (1993) afirmaram que essa correlação pode ser baixa, se 
condições de excesso de umidade forem evitadas. 
A incorporação de restos culturais doentes deve ser evitada, uma 
vez tratar-se de espécie bacteriana que sobrevive eficientemente no solo. 
O manejo da doença na cultura da batata, portanto, requer medidas 
integradas que incluem: evitar solos mal drenados; usar tubérculos-semente 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 165 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
certificados; erradicar plantas doentes; queimar ou remover restos culturais; 
proceder rotações de culturas por três a quatro anos, preferencialmente com 
gramíneas; não transportar ou armazenar tubérculos apodrecidos; assegurar 
armazenagem em local bem ventilado e seco, se possível refrigerado; 
desinfestar ferramentas e implementos usados na colheita; evitar ferimentos 
por tratos culturais; controlar insetos; empregar água de irrigação livre de 
contaminação; evitar o excesso de umidade, adotando o maior espaçamento 
possível entre plantas; efetuar adubação equilibrada e rica em cálcio; utilizar 
cloro (hipoclorito) na água de lavagem dos tubérculos. 
Controle biológico do patógeno em batata foi relatado com 
espécies antagonistas de Pseudomonas (Xu & Gross, 1986), mas, 
aparentemente, essa alternativa ainda não alcançou viabilidade para uso em 
maior escala. 
Tratamentos com produtos cúpricos e/ou antibióticos 
(kasugamicina, tetraciclina ou estreptomicina) podem ser empregados na 
proteção de elementos de propagação vegetativa (Zambolim et al., 1997; 
Kimati et al., 1997; Lopes & Quezado-Soares, 1997, 2000). No entanto, a 
imersão em calda de agroquímicos acarreta a transferência da bactéria de 
tubérculos infectados para os demais, além de prover o filme d‟água 
necessário ao processo de infecção. Partículas de solo e de matéria orgânica 
na calda, por outro lado, podem ocasionar a inativação dos princípios ativos 
utilizados (Lopes & Quezado-Soares, 2000). 
Ultimamente, tem-se verificado níveis incomuns de podridão mole 
em frutos de pimentão, quase sempre relacionados à infecção bacteriana 
através de lesões ou queimaduras devidas à radiação solar. Nesses casos, seria 
conveniente o emprego de algum tipo de sombreamento com telados (cultivos 
protegidos) ou por meio de consórcios com espécies de porte alto e rápido 
crescimento, como o milho ou crotalárias. 
Em orquídeas, P. carotovorum pode induzir perdas severas, 
especialmente em espécies de Phalaenopsis, cujas folhas formam ângulo de 
inserção com o caule próximo a 90°, resultando em acúmulo de água. Tal 
exemplo aponta, mais uma vez, para a importância da irrigação, devendo-se 
dar preferência a métodos que reduzam ao máximo o tempo de molhamento 
foliar. 
O indutor de resistência acibenzolar-S-methyl foi avaliado para 
controle da podridão mole em cenoura, efetuando-se pulverizações foliares a 
campo. Os resultados indicaram que a dose de 12,5 g i.a./ha, aplicada sete dias 
antes da colheita, confere proteção das raízes contra a bactéria causadora, 
diminuindo significativamente a incidência da podridão mole na fase de pós-
colheita; avaliações procedidas até sete dias revelaram redução de 60 a 90 % 
na incidência da doença (Silva, 2002). 
 
166 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
PODRIDÃO NEGRA DAS CRUCÍFERAS 
(XANTHOMONAS CAMPESTRIS PV. CAMPESTRIS) 
 
Dentre as doenças que podem limitar a produtividade de cultivos de 
couve, repolho, couve-flor, brócolos e outras brássicas cultivadas, destaca-se a 
podridão negra das crucíferas causada por X. campestris pv. campestris, 
fitobactéria disseminada no mundo inteiro (Robbs, 1946; Williams, 1980; 
Harman et al., 1987; Goto, 1992). Gomide & Romeiro (1992) assinalaram a 
grande importância das brássicas em municípios do “cinturão verde” de Belo 
Horizonte, Minas Gerais, apontando a podridão negra como principal doença 
em praticamente toda a região, o mesmo ocorrendo em Pernambuco sobre 
cultivos de couve, couve-chinesa, couve-flor, rabanete e repolho (Mariano & 
Michereff, 1994). A podridão negra é ainda considerada como a enfermidade 
mais comum das brássicas em diversas outras regiões produtoras do país, 
principalmente em cultivos de verão (Lopes & Quezado-Soares, 1997). 
Mudas provenientes de sementes infectadas pela bactéria 
constituem a principal fonte de inóculo no campo. Uma vez introduzida a 
doença, a chuva, o vento, os insetos e as práticas culturais são os principais 
agentes de disseminação local (Schaad & Dianese, 1981; Yokoyama & Silva 
Junior, 1984; Kimura,1991). Distribuição por aerossóis e sobrevivência da 
bactéria no filoplano de brássicas, sem expressão de sintomas, foram 
detectadas por Kuan (1986). Ramos et al. (1980) consignaram uma taxa 
significante de infecção (10,7 %) por X. campestris pv. campestris em lotes 
comerciais de sementes de couve comum, associada ao baixo poder 
germinativo. No Estado da Geórgia (EUA), é proibida a comercialização de 
sementes de crucíferas sem o laudo de sanidade para X. campestris pv. 
campestris (Schaad, 1982; 1988). 
Além de sementes, incluem-se entre repositórios de inóculo: 
perfilhos infectados (no caso de propagação vegetativa), restos culturais e 
espécies hospedeiras da vegetação espontânea (Schaad & White, 1974; 
Alvarez et al., 1985). 
No Brasil, X. campestris pv. campestris adapta-se a condições de 
ambiente prevalentes nas regiões de produção (Batista, 1953; Tokeshi & 
Salgado, 1980), sendo a doença favorecida por temperaturas entre 20 e 35 ºC. 
Alta umidade no solo permite um fluxo continuo de água a partir dos 
hidatódios até as células do mesófilo, o que facilita a invasão dos tecidos 
foliares pela bactéria (Conceição et al., 1975; Silva Junior et al., 1984 ). 
As medidas mais efetivas de controle referem-se ao uso de 
sementes garantidamente livres da bactéria e ao plantio de cultivares 
resistentes. 
Mariano et al. (2001) relacionaram cultivares de brócolo, repolho e 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 167 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
couve-flor atualmente exploradas comercialmente no Brasil e portadoras de 
alto nível de resistência a X. campestris pv. campestris. Dentre essas 
cultivares encontram-se diversos híbridos importados, cujas sementes são de 
preço elevado, mas, também, algum material genético melhorado no país. 
Hoje, constata-se que a podridão negra caiu de importância, pelo 
menos no sudeste e centro-sul do país, em função do plantio progressivo de 
cultivares resistentes. O mesmo não se aplica à couve de folha (Brassica 
oleracea var. acephala), comumente propagada vegetativamente pelos 
próprios agricultores, em que a doença ocorre de forma generalizada. 
Entretanto, em alguns locais de produção, como na Região Serrana do Estado 
do Rio de Janeiro, já se cultiva, em larga escala, genótipos de origem incerta, 
mas que revelam alto grau de resistência à bactéria (Souza, 1995; Souza et al., 
2001). 
Vários tratamentos têm sido recomendados visando à erradicação 
de X. campestris pv. campestris de sementes infectadas. Dentre eles, 
destacam-se: embebição de sementes em água a 50 ºC por 15 (mostarda e 
rabanete), 20 (brócolos), 20-25 (couve-flor), 25 (couve de Bruxelas) ou 25-
30min (repolho),e tratamentos químicos com antibióticos e fungicidas à base 
de captan e thiran (Grondeau & Samson, 1994). Tratamentos de sementes de 
brássicas com 2,7 % de NaClO em ácido lático a 15,1 %, resultou em 100 % 
de controle de X. campestris pv. campestris. (Harman et al., 1987). No 
tratamento térmico, freqüentemente acontece uma redução no percentual de 
germinação das sementes e no vigor das mudas produzidas. Por seu turno, o 
tratamento com antibióticos, além da eficiência duvidosa, pode acarretar 
toxicidade (clorose e subdesenvolvimento) nas plântulas. 
Medidas complementares envolvem práticas culturais específicas 
como: aração profunda para o enterrio de restos culturais e plantas 
voluntárias, pousio ou rotação por dois a três anos com espécies não 
hospedeiras, descontaminação de máquinas e equipamentos, e aplicação 
preventiva de fungicidas cúpricos. No sistema de semeadura em bandejas no 
interior de estufas, partindo de sementes sadias, o substrato deve estar isento 
de contaminação. O uso de água “limpa” e métodos de solarização de 
substrato, em caso de dúvida, são preconizados (Tokeshi & Salgado, 1980; 
Maringoni, 1997; Carrijo & Regoa, 2000). 
 
 
CRESTAMENTO BACTERIANO COMUM DO 
FEIJOEIRO 
(XANTHOMONAS AXONOPODIS PV. PHASEOLI) 
 
O crestamento bacteriano comum, causado por Xanthomonas 
168 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
axonopodis pv. phaseoli e sua variante “fuscans” (produtora de melanina), 
representa uma das mais importantes doenças do feijoeiro, levando, por vezes, 
a pesadas perdas no rendimento das culturas (Faria & Melo, 1989; Singh & 
Munoz, 1999; Vieira,1999). A bacteriose é encontrada em várias partes do 
mundo onde o feijoeiro é cultivado (Vieira, 1983; Silva et al., 1999), sendo 
mais destrutiva em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, o primeiro 
registro de sua ocorrência foi feito por C. F. Robbs em 1954. Sementes 
infectadas são apontadas como principais fontes de inóculo da bactéria, que 
nelas pode permanecer viável durante anos (Aggour et al., 1989; Maringoni et 
al., 1993). 
O controle químico de X. axonopodis pv. phaseoli é tido como 
ineficiente (Mohamed et al., 1993). Os principais meios de controle residem 
no uso de sementes livres do patógeno, na rotação de culturas e no emprego 
de cultivares resistentes ou tolerantes. 
A resistência em Phaseolus spp. a X. axonopodis pv. phaseoli é 
parcial, na maioria das vezes herdada quantitativamente (Webster et al., 1980; 
Singh & Munoz, 1999; Silva et al., 1999). Embora o uso da resistência 
configure-se como eficaz no controle da bactéria, a grande maioria das fontes 
de germoplasma resistente mostra pouca adaptabilidade ao cultivo comercial 
e alguns estudos demonstraram baixa herdabilidade do caráter (Miklas et al., 
2000). 
Torres & Maringoni (1997) identificaram as variedades A-417, A-
420 e XAN-161 como resistentes à bactéria. Singh & Munoz (1999), a seu 
turno, avaliaram acessos de P. vulgaris, P. coccineus, P. lunatus e P. 
acutifolius, identificando G40029 e G 40156 (P. acutifolius) como os mais 
resistentes. Jara et al. (1999) confirmaram a resistência das linhagens VAX-4, 
VAX-5 e VAX-6, derivadas de cruzamentos interespecíficos, mediante testes 
com 20 isolados de X. axonopodis pv. phaseoli, de diferentes origens. 
Ultimamente, resistência à bactéria vem sendo transferida para 
cultivares de feijoeiro comum de diferentes tipos ou classes de mercado 
(Singh & Munoz, 1999). Uma linhagem bastante utilizada em programas de 
melhoramento para resistência a X. axonopodis pv. phaseoli é designada 
como IAPAR-BAC-6, originada de cruzamento entre a cultivar nacional 
Carioca e a Seleção GN # 1 Sel. 27 (Aggour & Coyne, 1989; Arnaud-Santana 
et al., 1994; Jung et al., 1996; Freyre et al., 1998). 
Encontra-se em andamento, na Universidade Estadual do Norte 
Fluminense (Campos dos Goytacazes-RJ), um programa de melhoramento do 
feijoeiro visando a resistência ao agente do crestamento bacteriano comum e 
usando a linha BAC-6 como genitora, bem como o mapeamento genético para 
identificação de loci associados ao caráter de resistência à bactéria (Ferreira, 
2002). 
Embora, como se percebe pelo exposto, esteja havendo um esforço 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 169 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
meritório com o intuito de desenvolver e liberar cultivares de feijoeiro 
geneticamente resistentes a X. axonopodis pv. phaseoli, parece não ser o caso 
em relação à certificação de sementes. Como ocorre em outros países, o Brasil 
deveria estimular programas de produção de sementes de feijoeiro em regiões 
de clima seco e desfavorável à ocorrência da bactéria, sob rigorosa inspeção 
técnica, com o objetivo de distribuir material propagativo livre de 
contaminação. 
Incorporação de restos culturais infectados à profundidade de 15 a 
20 cm, rotação de culturas com plantas não hospedeiras da bactéria por 
período mínimo de um ano e controle de insetos disseminadores são algumas 
medidas complementares no manejo da doença (Vieira, 1983). 
 
 
MANCHA BACTERIANA DO MARACUJAZEIRO 
(XANTHOMONAS AXONOPODIS PV. PASSIFLORAE) 
 
As medidas de controle ao agente da mancha bacteriana do 
maracujazeiro são de caráter genérico e sempre preventivas. Pode haver 
interação entre X. axonopodis pv. passiflorae e fungos patogênicos, o que 
dificulta bastante o controle. Resistência à bactéria, embora presente em 
determinadas espécies de Passiflora (Malavolta et al., 1998), ao que consta 
não foi ainda incorporada em cultivares comerciais de maracujazeiro. Embora 
a taxa de transmissão pelas sementes seja relativamente baixa (cerca de 1 %), 
acredita-se que seja suficiente para iniciar uma epidemia (Robbs & Rodrigues 
Neto, 1999). Sementes livres de contaminação pela bactéria podem ser obtidas 
através de tratamento térmico (via calor seco) por até 60 min à temperatura de 
50 ºC, sem que haja alteração no poder germinativo (Dias, 1990). Mais 
recentemente, sementes destinadas a plantios comerciais têm sido enviadas, 
com freqüência, para tratamento térmico na Universidade Federal Rural do 
Rio de Janeiro. Essas sementes são submetidas a 60 ºC em estufa com 
circulação forçada de ar por período de 96 h, condições que também não 
afetam significativamente a germinação. O tratamento de sementes com 
bactericidas visando à eliminação do patógeno pode ser eficiente, existindo 
vários produtos disponíveis para tal fim (Beriam & Malavolta, 2000). 
A disseminação à curta distância nas lavouras se dá pela água, pelo 
vento ou por meio de tratos culturais (poda, desbrota e penteamento), bem 
como pela infecção de flores por dedeiras durante a polinização. 
Considerando esses fatores epidemiológicos, as medidas de controle a serem 
adotadas baseiam-se no seguinte: 
 novos plantios em áreas em que não ocorra a doença; 
 evitar a implementação de pomares próximos a áreas 
170 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
contaminadas por X. axonopodis pv. passiflorae; 
 erradicar mudas doentes nos viveiros, inspecionando-os 
regularmente; 
 implantar barreiras vivas (quebra-ventos) que dificultem a 
disseminação da bactéria; 
 evitar o trânsito nos pomares durante o período da manhã, visto 
que o orvalho favorece a disseminação da bactéria; 
 com a periodicidade possível, desinfestar implementos agrícolas 
com germicidas (hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio, álcool ou amônia 
quaternária). 
No controle químico, podem ser utilizados produtos à base de 
cobre, tais como: hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre e óxido cuproso, ou 
um dos antibióticos registrados(estreptomicina, oxitetraciclina) (Agrofit, 
2003). É oportuno considerar que quando a bactéria ocorre de forma 
sistêmica, somente produtos apropriados teriam ação efetiva de controle. É 
importante, além disso, que sejam desenvolvidos estudos no sentido de 
monitorar a população bacteriana de cada região produtora quanto à 
resistência ao principio ativo que se pretende utilizar, visto que há diferenças, 
por exemplo, com relação a antibióticos (Almeida et al., 1992). Deve-se, 
finalmente, evitar o uso continuado de um mesmo produto químico, o que 
facilitaria a seleção de estirpes resistentes. 
 
 
MANCHA-AQUOSA DO MELÃO 
(ACIDOVORAX AVENAE SUBSP. CITRULLI) 
 
A cultura do melão é de grande importância econômica para a 
Região Nordeste, responsável por aproximadamente 74 % da produção 
nacional, principalmente oriundos dos Estados do Rio Grande do Norte e 
Ceará. O Agropolo RN-CE é responsável por 95 % dessa produção, 
predominantemente direcionada ao mercado externo. Dentre as doenças que lá 
ocorrem destaca-se a mancha-aquosa, causada pela bactéria Acidovorax 
avenae subsp. citrulli, sobretudo durante os períodos chuvosos. 
A doença foi inicialmente relatada sobre frutos de melancia (Robbs 
et al.,1991) e, em seguida, de melão, assinalada nas Regiões Sudeste e Centro-
Oeste (Robbs et al., 1992). Na Região Nordeste, A. avenae subsp. citrulli foi 
primeiramente detectada no Rio Grande do Norte (Assis et al., 1999) e, 
posteriormente, no Ceará (Santos & Viana, 2000) e Pernambuco com altos 
índices de incidência, depreciando comercialmente o fruto. Todos os tipos de 
melão apresentam suscetibilidade à bactéria, incluindo Amarelo, Orange, Pele 
de Sapo, Charantais e Gália (Mariano et al., 2001). A bactéria é também capaz 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 171 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
de infectar a melancia, provocando sintomas similares (Macagnan et al., 
2002). 
Sementes contaminadas, plântulas infectadas e restos culturais 
constituem as principais fontes de inóculo da bactéria (Hopkins et al., 1996). 
Sua disseminação à longa distância ocorre principalmente por sementes 
infestadas ou infectadas. A bactéria é facilmente transportada para plantas 
vizinhas através de respingos da água de chuva ou de irrigação por aspersão e 
em decorrência de tratos culturais. Das lesões foliares o patógeno passa para 
os frutos, que representam fontes de inóculo para o próximo plantio. A 
penetração da bactéria ocorre, tanto na folha como no fruto, através de 
aberturas naturais e ferimentos. Em estádio inicial de desenvolvimento os 
frutos são mais suscetíveis, uma vez que quando maduros apresentam a 
superfície coberta por uma espessa camada de cera, o que dificulta a 
penetração da bactéria (Frankle, 1993). Após infectar o fruto, a bactéria 
possivelmente permanece em estado latente até início do amadurecimento, 
quando então se multiplica intensamente, atingindo a polpa e as sementes 
(O'Brien & Martin, 1999). Aparentemente, A. avenae subsp. citrulli não 
sobrevive no solo mais que algumas semanas, fora da espécie hospedeira 
(Isakeit, 1999). No entanto, frutos infectados e abandonados nas áreas de 
cultivo ou mesmo incorporados ao solo durante o preparo, são repositórios de 
inóculo primário para o plantio subsequente, já que as sementes germinam, 
resultando em plantas voluntárias infectadas. A bactéria sobrevive, ainda, em 
hospedeiras alternativas como as cucurbitáceas: melão-de-são-caetano, bucha 
(Santos & Viana, 2000) e maxixe (Mariano et al., 2001), todas presentes na 
vegetação espontânea das áreas de produção de melão. Na semente, existem 
relatos de transmissão do patógeno após armazenagem por 12 meses (Hopkins 
et al., 1996). 
O progresso da doença no campo é favorecido por temperatura e 
umidade altas, infecções bem sucedidas ocorrendo dentro de período de 
apenas 30 min de molhamento foliar à temperatura de 26 C (Latin, 2000). 
A principal e mais efetiva medida de controle preconizada para a 
mancha-aquosa do melão refere-se ao uso de sementes garantidamente sadias. 
Assim, as sementes devem ser adquiridas de firmas credenciadas, que 
respondam pela isenção de contaminação com a bactéria, em embalagens 
seladas e devidamente rotuladas. Desinfestações de sementes com hipoclorito 
de sódio -0,5 % por 20 min, ácido clorídrico -1,8 % por 5 min (Rane & Latin, 
1992) ou ácido lático -2 % por 20 min (Santos & Viana, 2000), reduzem 
consideravelmente a taxa de transmissão, embora não sejam capazes de 
erradicar a bactéria. O tratamento hidrotérmico das sementes, mediante 
imersão a 52 C por 10 min, é, também, uma medida recomendada (Santos & 
Viana, 2000). 
172 – João Sebastião de Paula Araujo et al. 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
Para proteção das culturas podem ser empregadas pulverizações 
preventivas semanais com produtos à base de cobre, desde o início da 
formação dos frutos, prolongando-se até próximo à maturação. Contudo, esses 
tratamentos têm pouca eficiência em períodos chuvosos e podem provocar 
fitotoxicidade. Medidas complementares de controle incluem: rotação de 
culturas com espécies de outras famílias botânicas; erradicação de plantas 
com sintomas na lavoura, bem como de plantas voluntárias; evitar o plantio 
em épocas chuvosas e, quando possível, não utilizar o sistema de irrigação por 
pivô central; destruir restos culturais; e restringir a movimentação de pessoas 
e o uso de implementos quando as plantas ainda estiverem molhadas pelo 
orvalho e após irrigação ou chuva (Isakeit, 1999; O'Brien & Martin, 1999; 
Latin, 2000). Finalmente, deve-se dar preferência à semeadura pelo sistema de 
bandejas, que possibilita o descarte de plântulas doentes, evitando seu 
ingresso na área a ser cultivada. 
 
 
CANCRO BACTERIANO DO TOMATEIRO 
(CLAVIBACTER MICHIGANENSIS SUBSP. 
MICHIGANENSIS) 
 
Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis, agente causal do 
cancro bacteriano do tomateiro, é transmitida à longa distância por sementes 
infectadas (Fatmi & Schaad, 1988). Nas lavouras, o patógeno se espalha pela 
água da chuva ou irrigação e por práticas culturais como desbrota, amarrio e 
“capação”. Alta umidade relativa do ar, temperaturas amenas (24-28 °C) e 
baixa intensidade luminosa são condições que favorecem as epidemias. 
A bactéria pode sobreviver em restos culturais no solo por vários 
meses, parasitando solanáceas espontâneas como Solanum americanum 
(maria-pretinha), em plantas voluntárias das espécies cultivadas suscetíveis, 
incluindo o pimentão (Almeida et al., 1996) e através de estacas 
contaminadas. 
Populações do patógeno remanescentes em restos de cultura 
declinam gradativamente no solo dependendo das condições climáticas. Os 
estudos de sobrevivência da bactéria indicam como práticas recomendáveis 
no manejo do cancro: rotação mínima por dois anos e enterrio profundo dos 
resíduos vegetais. 
O uso de sementes certificadas, produzidas em áreas de clima semi-
árido ou árido, desfavoráveis a C. michiganensis subsp. michiganensis, é 
indispensável. Adequação de capinas e desbrotas, com as plantas doentes 
previamente marcadas, evita a disseminação da bactéria em tomateiro 
estaqueado. Algumas cultivares de tomateiro, comercializadas no Brasil, são 
Manejo integrado de fitobacterioses de importância econômica no Brasil – Parte 2 – 173 
 
RAPP – Volume 12, 2004 
relacionadas como resistentes ao cancro (Lopes & Quezado-Soares, 1997). 
O uso de compostos cúpricos, particularmente óxido cuproso em 
baixa dosagem, propicia resultados satisfatórios. A eliminação do patógeno 
das sementes pode ser tentada por métodos biológicos (fermentação), 
químicos (acidificação)

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