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Disciplina: Sociologia Weber: Economia, Sociedade, Ciência e Religião Professor: Marcelo Ottoni Durante Universidade Federal de Viçosa Bibliografia: • ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico, São Paulo: Martins Fontes, 2008 – Segunda Parte - Weber 02/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Argumentos Fundamentais da Sociologia Weberiana • As ciências da cultura são causais no sentido histórico (identificação da eficácia causal dos antecedentes de uma única conjuntura) e sociológico (identificação de relações de sucessão que se repetiram ou que são sucessíveis de repetição). • O instrumento principal da compreensão é o tipo ideal cujo traço é a tendência para a racionalização ou a percepção da lógica de um tipo de conduta ou de um fenômeno histórico singular. O tipo ideal é sempre um meio e não um fim. • O objetivo das ciências da cultura é compreender os sentidos subjetivos das condutas, isto é, a significação que os homens atribuem à sua existência histórica, que constitui essencialmente a criação e afirmação de valores. A ciência da cultura busca compreender essa existência e sua abordagem é a relação com os valores. • A vida humana é feita de escolhas pelas quais os homens edificam um sistema de valores, que não são dados nem no plano sensível e nem no plano transcendente, mas criados pelas decisões humanas. • Há uma diferença fundamental entre a ordem da ciência e a ordem dos valores. A essência da primeira é a sujeição da consciência aos fatos e as provas e a essência da segunda é o livre-arbítrio e a livre-afirmação. Ninguém pode ser obrigado, por uma demonstração científica, a reconhecer um valor ao qual não adere. 03/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Antinomia da Conduta Humana: Responsabilidade X Convicção • A ética da responsabilidade é adotada pelo homem de ação e o ordena a prever as conseqüências das suas possíveis decisões e a procurar introduzir na trama dos acontecimentos um ato que atingirá os resultados que desejamos. Esta ética não basta a si mesma, pois trata apenas da busca dos meios adaptados aos objetivos e o seu extremo seria aceitar qualquer meio desde que seja eficaz. Às vezes cansamos de fazer cálculos e entregamos à Deus as conseqüências de nossos atos. • Weber propõe que os grupos sociais estão empenhados numa competição de poder permanente: cada um possui uma certa cultura e se defrontam pretendendo uma superioridade cultural, sem que se possa resolver a disputa. O caráter voluntarista do processo de criação dos valores pelos homens impede a existência de um acordo sobre o objetivo a ser alcançado por todos, pois cada um escolhe entre valores que são incompatíveis entre si. • O problema da escolha dos valores leva à ética da convicção, que nos incita a agir de acordo com nossos sentimentos, sem referencia às conseqüências. Esta não pode ser a ética do homem na política pois todas as palavras e atos tem consequências para todos. • A ética da convicção e a ética da responsabilidade não são contraditórias, mas se complementam constituindo o homem autêntico, isto é, o homem que pode pretender à vocação política. 04/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Capitalismo • Empresas cujo objetivo é ter o maior lucro possível por intermédio do mercado e cujo meio é a organização racional do trabalho e da produção (burocracia). – Os comerciantes sempre quiseram auferir o maior lucro possível; o que destaca o capitalismo é o fato dele estar animado pelo desejo de acumular sempre, cada vez mais, de sorte que também a vontade de produzir se torna indefinida. – A burocracia é definida por alguns traços estruturais: • Organização de uma cooperação permanente entre indivíduos, na qual cada um exerce uma função especializada. • O burocrata exerce sua função separado da sua vida familiar estabelecendo uma impessoalidade fundamental para a burocracia: todos agem em virtude das ordens abstratas de uma regulamentação estrita. • A burocracia assegura a todos que trabalham uma remuneração determinada por normas. • Seguindo as idéias de Marx, Weber propõe como essência do regime capitalista: – a procurado lucro, por intermédio do mercado, – a presença de trabalhadores livres que alugam a sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção e – o progresso técnico é o resultado não procurado da concorrência dos produtores visando acumular lucros cada vez maiores. 05/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Ética Protestante • A conduta dos homens nas diversas sociedades só pode ser compreendida dentro do quadro da concepção geral que esses homens tem da existência e os dogmas religiosos são parte integrante dessa visão do mundo. • Processo de instituição social do capitalismo: o espírito do protestantismo leva a adoção de uma certa atitude em relação à atividade econômica que é adequada ao capitalismo. • A ética protestante parte da concepção calvinista: 1. Existe um Deus absoluto, transcendente e infinito, que criou o mundo e o governa, mas que não pode ser percebido pelo espírito finito dos homens. 2. Este Deus todo poderoso e misterioso determina para cada um de nós à salvação ou à condenação, sem que, por nossas obras, possamos modificar este decreto divino. 3. Deus criou o mundo para a sua glória e o homem tem o dever de trabalhar para a glória de Deus e de criar seu reino sobre a terra. 4. As coisas terrestres, a natureza humana e a carne pertencem à ordem do pecado e da morte e a salvação constitui um dom totalmente gratuito da graça divina. 06/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Espírito do Capitalismo • O indivíduo se dedica ao trabalho para vencer a angústia provocada pela incerteza da salvação. O trabalho racional, regular, constante, termina sendo interpretado como a obediência a um mandato divino. Por uma inclinação não-lógica, mas psicológica, o indivíduo procurará no mundo os sinais da escolha de Deus favorecendo o individualismo e enfraquecendo o sentido da comunhão com o próximo e do dever com relação aos outros. • A ética protestante convida o crente à desconfiar dos bens deste mundo e a adotar um comportamento ascético. Surge um comportamento estranho, de que não há exemplos nas sociedades não-ocidentais, a busca do lucro máximo, não para gozar a vida, mas para a satisfação de produzir cada vez mais. Esta é uma conduta necessária ao capitalismo, sinônimo do re-investimento contínuo do lucro não consumido no aumento da produção. • A ética protestante exclui o misticismo, ritualismo e idolatria, pois a comunicação entre os espíritos finito do homem e infinito de Deus é interditada, inclinando a consciência no sentido de uma ordem natural que a ciência pode explorar. • No presente, o sistema capitalista constitui o meio social que comanda os comportamentos econômicos e não há necessidade de motivação metafísica ou moral para que os indivíduos se conformem com às leis do capitalismo. 07/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Porque o Capitalismo Não Surgiu na China ou na Índia • Não é possível encontrar condições nestes países iguais à do ocidente, onde o único fator diferencial seria a ausência da ética protestante. Contudo, Weber verifica que havia muitas das condições necessárias à evolução do capitalismo e que, sempre, a variável religiosa estava ausente. • CHINA: Conduta humana resulta de uma racionalidade material característica de uma sociedade que vive de acordo com um concepção de determinada ordem cósmica e adota uma maneira de viver segundo a tradição. Os objetivos da sua existência e o estilo de vida são determinados por esta ordem cósmica: trabalhar tanto quanto for necessário para atingir umcerto equilíbrio, felicidade e prazer. O surgimento do capitalismo exigia uma atitude humana, à qual só uma moral ascética podia dar sentido: produzir o máximo e consumir o menos possível. • ÍNDIA: Conduta humana resulta de uma racionalidade trazida por uma religião ritualista no contexto de uma metafísica cujo tema central era a transmigração das almas, que desvaloriza o destino terreno de cada um e faz com que os desfavorecidos esperassem em outra vida uma compensação para a injustiça aparente da sua vida atual. Segundo Weber, o ritualismo religioso é um principio muito forte de conservadorismo social, promovendo o equilíbrio da ordem social. 08/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Contradição entre Ciência e Religião: Desencantamento do Mundo • O ponto de partida da história religiosa da humanidade é um mundo onde o carisma se associava aos seres que nos rodeiam. Na atualidade, o mundo perdeu este encantamento e passou a ser visto como um conjunto de coisas que se encontram à disposição da humanidade e a religião se retirou para a intimidade da consciência ou escapou para um destino individual após a existência terrena. • No passado não existia uma diferença entre as ordens de atividade e os valores sociais e religiosos impregnavam a economia, a política e a vida privada. O mundo atual abriu caminho para a autonomia crescente de cada ordem de atividade e colocou problemas difíceis para a razão humana como a contradição entre os valores religiosos e os valores políticos, econômicos e científicos e a dificuldade de justificar a existência do mal se admitirmos a existência de um único Deus criador. • A ciência positiva, ao expulsar o sagrado que existia no nosso mundo, deixou-nos num universo utilizável mas sem sentido. Não existe uma resposta científica definitiva logicamente imperativa para o sentido da existência humana, mas inúmeras possíveis respostas significativas resultantes de decisões individuais, arbitrárias e incondicionais. Cada um de nós escolhe seu Deus. • Há, portanto, uma contradição fundamental entre o saber positivo, demonstrado mas eternamente inacabado, e o saber nascido nas religiões, que não pode ser provado mas que dá resposta às questões essenciais. 09/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Necessidades Prementes da Sociedade Moderna • O que ameaça a dignidade dos homens para Weber é a servidão dos indivíduos com relação a organizações anônimas. Quanto mais racional a sociedade, mais cada um de nós está condenado ao que os marxistas denominavam por alienação. Sentimo-nos sujeitos a um conjunto que vai além de nós, condenados a realizar só uma parte daquilo que poderíamos ser e a exercer uma ocupação limitada. • Necessidades: – Salvaguardar os direitos humanos que dão à cada indivíduo a possibilidade de viver uma existência autêntica e independente do lugar que ocupa na organização racional. – No contexto político, necessidade de salvaguardar a margem da livre competição graças à qual se afirma a personalidade e podem ser escolhidos os líderes verdadeiros e não meros burocratas. – Como não há um árbitro decidir as lutas entre as classes, as nações e os deuses, só existe uma atitude adequada à dignidade: a escolha solitária diante da consciência individual. Neste contexto, a decisão é menos a escolha entre dois partidos seguindo uma lógica científica e mais o engajamento em favor de um Deus. Por esta razão, é preciso salvaguardar a liberdade de consciência e de confronto entre as pessoas e preservar os direitos de seguir uma religião puramente interior. 10/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião • Os homens são desigualmente dotados do ponto de vista físico, intelectual e moral. • A desigualdade é um fenômeno natural e nossa orientação pode ser reduzi- la ao máximo pelo esforço social ou retribuir a cada um em função das suas qualidades. • As decisões políticas com foco no problema da desigualdade social devem ser subsidiadas pela reflexão científica mas serão sempre ditadas por julgamentos de valor não suscetíveis de demonstração, pois: – não há política que não traga sacrifício para uma classe e vantagem para outra e – não há como determinar científicamente a medida em que um indivíduo ou grupo deve ser sacrificado pelo bem dos outros. 11/12 Enfrentamento da Desigualdade Social Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião Democracia: Necessidade de um Líder Carismático • A dominação burocrática caracteriza todas as sociedades modernas, mas o burocrata não foi treinado para exercer funções políticas e sim para aplicar os regulamentos conforme os precedentes. Formou-se na disciplina, não na iniciativa e na luta, e por isso será normalmente um mau político. • As assembléias no ambiente parlamentarista dariam oportunidade de aparecerem líderes mais bem formados para a batalha política. No entanto, ele não acreditava na vontade geral ou no direito dos povos de dispor de si mesmos, nem na ideologia democrática. • Observando as democracias, Weber imaginava a necessidade de um líder carismático, que como chefe partidário, adquirisse na luta as qualidades sem as quais não há um estadista: a coragem de decidir, a audácia de inovar, a capacidade de despertar a fé e conseguir obediência e a responsabilidade perante a sua consciência e a história. • O carisma do líder político representava, para Weber, uma salvação ao reinado anônimo dos burocratas. No entanto, atualmente, temos aprendido a temer mais as promessas dos demagogos do que a banalidade da organização racional. 12/12 Curso Sociologia Weber: Ecomomia e Sociedade / Ciência e Religião
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