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ERP_Affeldt_2011_ENADI80

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1 
Uma Visão dos Sistemas Integrados de Gestão Empresarial (ERP) Sob a Perspectiva do 
Controle Sobre as Pessoas. 
 
Autoria: Fabrício Sobrosa Affeldt 
 
Resumo 
As empresas sofreram diversas transformações nas últimas décadas, sendo de ordem 
comportamental, internas, externas, na suas estruturas de poder e controle e nas suas estruturas 
tecnológicas. Em relação à tecnologia, desde meados dos anos 90 os sistemas integrados, 
conhecidos como Enterprise Resource Planning – ERP, têm sido implantados em empresas de 
variados setores, com o intuito de agilizar os processos de negócios e melhorar as informações 
para a tomada de decisão empresarial. A maioria dos projetos relacionados à implantação dos 
sistemas ERP refere-se a empresas de grande porte, ainda que o mercado esteja se direcionando 
para as pequenas e médias empresas. Este ensaio, a partir de avaliação teórica, tem por objetivo 
apresentar uma análise crítica acerca da implementação dos sistemas ERP, sob a perspectiva do 
controle. Os ERP podem ser entendidos como conjuntos de sistemas integrados, geralmente 
vendidos como um pacote ou um conjunto de módulos (DAVENPORT; 2002), sendo que o 
objetivo é suportar a maior parte das funções empresariais, integrando os processos e 
centralizando as informações em um banco de dados único. O controle é definido como um 
processo busca para a redução da incerteza, podendo determinar o comportamento das pessoas de 
acordo com a deliberação das empresas. Está ligado às relações de poder nas empresas e nas 
organizações como um todo, uma vez que existem relações de influência de um sobre o 
comportamento do outro, refletindo os interesses presentes e seu posicionamento acerca dos 
eventos. A relação permite aos controladores a capacidade de conceber e impor a sua realidade 
diante das pessoas. A dimensão tecnológica do controle está relacionada aos sistemas ERP, 
implementada de forma sistêmica sobre toda e qualquer ação sobre as informações empresariais, 
permitindo o rastreamento e a identificação de tudo o que ocorre na empresa. Como um estudo 
inicial, este ensaio baseou-se em um levantamento bibliográfico, utilizando-se uma visão crítica 
sobre o ERP e analisando-se alguns estudos, ainda incipientes, que tratam da perspectiva do 
controle. Acredita-se que foi importante para identificar críticas em relação à tecnologia da 
informação e, em especial, ao controle realizado a partir dos sistemas ERP. O número de estudos 
que tratam especificamente do sistema ERP como uma ferramenta para o controle sobre as 
pessoas ainda é reduzido. Conclui-se que é fundamental abrir a discussão sobre essa tecnologia, 
sendo que a realização de um estudo crítico pode contribuir para que se possa avançar no sentido 
da implementação dos sistemas no futuro, proporcionando melhorias em seu próprio 
funcionamento, levando-se em consideração as expectativas das pessoas e trazendo à tona 
questões que são apenas subjacentes em outros estudos. 
 
2 
Introdução 
 
 As empresas sofreram diversas transformações nas últimas décadas. Essas transformações 
são de ordem comportamental, internas, externas, na suas estruturas de poder e controle e nas 
suas estruturas tecnológicas. A utilização da tecnologia da informação tem sido crescente, 
fazendo parte das operações empresariais em todos os sentidos. Nas empresas, uma das 
tecnologias que tem recebido constante atenção na área de tecnologia da informação desde 
meados dos anos 90 é a tecnologia chamada Enterprise Resource Planning - ERP. 
Alguns autores ressaltam que o ERP foi um dos grandes inventos tecnológicos das últimas 
décadas, sendo capaz de impactar nas variáveis estratégicas das empresas, na sua estrutura de 
processos e no trabalho dos indivíduos (DAVENPORT, 2002; SACCOL et al. 2004). A grande 
maioria dos projetos relacionados à implantação dos sistemas ERP refere-se a empresas de 
grande porte (BERGAMASCHI; REINHARD, 2000). No entanto, dada a saturação do mercado 
para as grandes empresas, existe um movimento dos vendedores de soluções integradas para 
conquistar a fatia do mercado das pequenas e médias empresas. 
Sobretudo em grandes empresas, são apresentados na literatura da área de sistemas de 
informação, diversos casos de sucesso em sua implementação e os benefícios que as empresas 
obtêm com sua utilização. Porém, poucos são os estudos que ressaltam os problemas da 
implementação deste tipo de sistema, casos de insucesso, controle sobre os indivíduos que o 
sistema ERP desenvolve, as relações de poder e as regras que são utilizadas para a sua utilização 
nas empresas. 
 Este ensaio tem por objetivo realizar uma análise crítica acerca da implementação dos 
sistemas ERP, sob a perspectiva do controle sobre as pessoas. Isso é realizado com uma 
apresentação dos principais conceitos acerca dos sistemas ERP, chamados também de sistemas 
integrados de gestão, uma descrição dos principais benefícios e dos problemas que esse tipo de 
tecnologia gera sobre os indivíduos - segundo a literatura da área -, e uma relação desse tipo de 
sistema sob a ótica do controle sobre os indivíduos, suportado por essa ferramenta tecnológica. 
 Este ensaio parte de uma revisão teórica em que são apresentados, inicialmente, alguns 
conceitos acerca dos sistemas ERP. Posteriormente, são apresentadas algumas características 
desse tipo de sistema de informação. Então, segue-se apresentando uma breve revisão sobre o 
controle e, em seguida, uma relação desses conceitos com os sistemas ERP, em que são descritos 
alguns exemplos de estudos que tratam dessa relação entre o sistema e o controle sobre as 
pessoas. 
1. Sistemas de Integrados Gestão– ERP 
 
Os sistemas integrados de gestão, também conhecidos como sistemas de gestão 
empresarial, vêm da sigla inglesa ERP - Enterprise Resource Planning. São chamados dessa 
forma por que são sistemas que objetivam a integração de todas as funções empresariais. Ou seja, 
implementam a integração informatizada dos bancos de dados e processos de negócios que fazem 
parte de uma empresa. 
Os sistemas de ERP são considerados grandes desenvolvimentos na área de sistemas de 
informação a partir da década de 90 (DAVENPORT, 1998). Os autores os consideram 
importantes por que eles permitem às empresas a obtenção de eficiência, através de integração 
dos processos de negócios, redução de custos e melhoria da comunicação entre as áreas, pois 
 
3 
adotam práticas mundiais de padronização de processos e mudança nas atividades operacionais – 
as chamadas best practices. Geralmente, são pacotes de sistemas computacionais, vendidos e 
implementados em conjunto com horas de consultorias, que variam desde o redesenho dos 
processos de negócios, modificações nos sistemas atuais das empresas ou em seus componentes e 
até a gestão da mudança na empresa durante todo o projeto de implementação. 
 A questão da integração é o ponto chave dos sistemas de gestão, sendo que esse elemento, 
em relação aos sistemas de informação, não é novo. Desde meados da década de 50 já eram 
estudadas formas de integração entre sistemas, que inicialmente eram isolados (ALSÈNE, 1999). 
Com o advento da Internet e as possibilidades de conexões em rede, que são fatores relativamente 
recentes na área de tecnologia, as integrações entre sistemas e processos de negócios deixaram de 
ser restrições e passaram a fazer parte dos sistemas de informação e seus processos de 
implementação. 
 Durante a década de 90, principalmente na segunda parte, esses sistemas tiveram um 
incremento em sua utilização, principalmente em grandes empresas, impulsionados pelos avanços 
tecnológicos, pelas ameaças do chamado bug do ano 2000 (ameaças tecnológicas) e pela 
globalização dos mercados (HANSETH, CIBORRA, BRAA; 2001). No Brasil, as implantações 
tiveram um incremento a partir do final da década de 90, sendo que a grande maioria das 
implementações foi realizadaem grandes empresas (BERGAMASCHI; REINHARD, 2000; 
SOUZA; ZWICKER, 2002; SACCOL et al., 2004). Atualmente, as grandes fornecedoras desse 
tipo de tecnologia, no Brasil, estão se focando para o mercado de pequenas e médias empresas. 
No entanto, esse mercado ainda é incipiente e o número de estudos sobre o sistema ERP em 
pequenas e médias empresas é bastante limitado. 
2. Principais características dos ERP 
 
As principais características dos sistemas ERP envolvem o seu formato de comercialização e 
implementação nas empresas. Podem ser entendidos como conjuntos de sistemas computacionais 
integrados, que geralmente são vendidos de maneira conjunta (em um pacote) ou na forma de 
módulos (DAVENPORT; 2002). O objetivo é dar suporte a maior parte das necessidades de 
informação das empresas, sendo que uma de suas funções está relacionada à integração dos 
processos empresariais. A sua característica principal é a integração de todas as informações em 
um banco de dados único, que centralizaria as informações referentes a todas as áreas funcionais, 
processos e realizações de trabalho efetuadas em uma empresa (BERGAMASCHI; REINHARD, 
2000; MENDES; ESCRIVÃO FILHO, 2001; SOUZA; ZWICKER, 2002; SACCOL et al., 2004). 
O'Leary (2000) caracteriza um ERP como um pacote de software que integra a maioria 
dos processos de negócio, processa a maioria das transações organizacionais, usa uma base de 
dados empresarial e permite acesso aos dados em tempo real. O que se pretende que ocorra, 
geralmente, é a padronização dos dados que são utilizados dentro dos sistemas, bem como a 
concessão de acesso aos dados para pessoas autorizadas, que podem acessá-los sempre que haja a 
necessidade (DAVENPORT, 1998; KLAUS; ROSEMANN; GABLE, 2000; SHANKS; 
SEDDON, 2000). 
Os sistemas ERP possuem algumas características que os distinguem de outros tipos de 
sistemas utilizados nas empresas. Dentre essas características pode-se destacar: 
 
4 
a) são pacotes comerciais de software: geralmente são vendidos na forma de um conjunto de 
sistemas, ou seja, formam um pacote e devem estar orientados às características 
funcionais das empresas e de seus processos; 
b) incorporam modelos de processos de negócios: geralmente são desenvolvidos com base 
em estudos de processos padronizados, isto é, que são comuns a diversas empresas; 
c) são sistemas de informação integrados: utilizam banco de dados corporativo, ou seja, 
objetiva-se que todas as informações relativas aos processos de negócios e às atividades 
do dia-a-dia de uma empresa fiquem registradas no banco de dados de informações do 
ERP; 
d) possuem abrangência funcional: objetiva-se, com a sua implantação, que a maioria das 
atividades, sendo relativas às mais diversas áreas da empresa, possam ser atendidas por 
esse tipo de sistema; 
e) requerem procedimentos de ajuste: geralmente, os processos das empresas podem não 
encaixar com os módulos de um sistema ERP, sendo que são necessárias adaptações do 
sistema – chamadas de customizações. 
 
A literatura sugere que há razões para que as empresas realizem a implementação dos 
sistemas ERP. Primeiramente, o ERP oferece um sistema integrado, em que as informações 
podem ser compartilhadas por diversas pessoas, sendo um sistema único e compartilhado 
(OLSON, 2004). No argumento dos autores da área, existem problemas na utilização de sistemas 
não integrados, pois ficaria difícil coordenar atividades de diferentes áreas da empresa, gerando 
tarefas e informações redundantes (LOZINSKY, 1996; HOLLAND; LIGHT, 1999). 
Para Colângelo Filho (2001), existem três classes de motivos que podem justificar a 
compra de ERP pelas empresas: negócios, legislação e tecnologia. Em relação aos negócios, os 
motivos se associam às questões de lucratividade, melhora ou fortalecimento da posição 
competitiva da empresa. Em relação à legislação, os motivos estão ligados a exigências ou 
situações legais que a empresa deve cumprir e podem não estar contemplados nos sistemas atuais. 
Já em relação à tecnologia, os motivos estão vinculados às mudanças necessárias em razão de 
obsolescência econômica das tecnologias em uso ou a exigências de parceiros de negócios. 
Em relação ao processo de implementação desse tipo de sistema, geralmente são 
utilizadas quatro fases distintas (SOUZA; ZWICKER, 2002): 
 
Seleção: é a etapa do processo em que se escolhe o fornecedor e se define o sistema que 
deverá ser adquirido e instalado na empresa; 
Implementação: é o processo de resolver as diferenças entre os processos de negócios e 
as características do sistema. Nessa fase se toma a decisão de alteração do sistema 
(customização) ou adaptação dos processos de negócios para se alinharem ao sistema; 
Estabilização: é a fase em que o sistema está instalado e sendo utilizado na empresa. No 
entanto, podem surgir questões que tragam problemas para a empresa, resultados da má 
utilização do sistema. Então, existem tarefas específicas para estabilizar o sistema e os 
processos de negócios; 
Utilização: é a fase em que o sistema já está estável e em plena utilização na empresa. 
Geralmente, existe uma equipe que fica responsável pela resolução de problemas de 
utilização, prestando suporte aos usuários do sistema. 
 
5 
3. Impacto dos Sistemas ERP nas Empresas 
Os sistemas ERP, por serem sistemas que exigem uma série de mudanças, causam 
impacto em diversas dimensões das empresas: culturais, tecnológicas e estruturais. Estudos como 
o de Saccol, Macadar e Soares (2003), identificam três tipos especiais de mudanças podem ser 
observadas com a implantação dos sistemas ERP: mudanças tecnológicas, envolvendo a 
tecnologia, qualidade da informação, eficácia e técnicas aplicadas aos processos de trabalho; 
mudanças estruturais, envolvendo os mecanismos de coordenação e o desenho hierárquico das 
empresas e; mudanças comportamentais, envolvendo motivação, habilidades e capacidades, bem 
como a resistência a essas mudanças. 
Os estudos, no entanto, revelam pequeno impacto em relação a certos fatores estratégicos, 
como: clientes e consumidores, rivalidade competitiva e mercado. A maioria dos impactos, 
segundo os estudos, relaciona-se às operações, influenciando fatores como a eficácia, os custos 
de produção e a produtividade, ou fatores de comunicação entre as unidades de uma empresa ou 
entre as empresas (SACCOL et al., 2004). Acerca do impacto no trabalho dos indivíduos, o 
trabalho de Strauss e Bellini (2006), em uma universidade brasileira, identificou impactos na 
motivação, na integração, nos processos de trabalho e no controle gerencial sobre os processos, 
que se tornou maior. 
Bergamaschi e Reinhard (2000) ressaltam a vantagem da implantação dos sistemas 
integrados, afirmando que o ERP pode ser atualizado com as últimas novidades tecnológicas e de 
negócios e os dados da empresa estariam centralizados, permitindo a agilidade na tomada de 
decisão por parte dos gestores. O fato de poder armazenar todos os dados de forma centralizada, 
ou seja, em um banco de dados único (denominado banco de dados corporativo) é outra 
vantagem sugerida pelos que estudam os sistemas ERP (SOUZA, 2000; DAVENPORT, 2002; 
SOUZA; ZWICKER, 2002). 
Os sistemas ERP, no entanto, são sistemas complexos e a sua implantação requer diversas 
mudanças. Os projetos de implantação de ERP são considerados caros, demorados e 
complicados. Por isso, alguns estudos ressaltam que esses projetos são arriscados, devido ao alto 
investimento em dinheiro e tempo (BERGAMASCHI; REINHARD, 2000; DAVENPORT, 
2002). No entanto, em sua grande maioria, esses estudos apresentam mais vantagens do que 
desvantagens para a sua implantação nas empresas. 
Outro fator importante a ser destacado em relação aos sistemas ERP é a inflexibilidade do 
sistema em adaptar-se aos processos de negócios das empresas. As empresas possuem 
características diferentes umas das outrase os sistemas ERP são considerados uma forma de 
padronizar processos a partir de um padrão pré-definido. O custo para a alteração do sistema, de 
forma que atenda de uma forma mais coesa às necessidades da empresa, são considerados altos 
(DAVENPORT, 2002). Dessa forma, as empresas necessitam fazer uma escolha entre customizar 
os sistemas ERP (adaptá-lo aos seus processos) ou alterar seus processos de negócios para se 
adaptar ao sistema. O ERP pode encaminhar a empresa para a utilização de processos 
padronizados, mesmo quando esses processos – personalizados - são a fonte da diferenciação e 
do sucesso da empresa no mercado. 
Além da característica de sistema inflexível, que muitas vezes não permite à empresa a 
sua personalização, existem fatores que são propostos na literatura como fatores críticos para a 
implantação desse tipo de sistema. Bergamaschi e Reinhard (2000), por exemplo, ressaltam que 
um dos fatores críticos da implementação de um sistema ERP é o apoio da alta administração 
para a implantação do sistema, em todas as fases do projeto, pois a alta administração garantirá 
 
6 
recursos e poderá intervir quando necessário. Outro fator importante destacado relaciona-se à 
revisão dos processos, em que a implantação do sistema geralmente é precedida por mudanças 
drásticas nos processos de negócios, através de revisões de processos, reengenharia de processos 
e outras ferramentas gerenciais para modificá-los, documentá-los e sistematizá-los. A venda, para 
os empregados, das melhorias que o sistema trará para a empresa também é citada como um fator 
importante para que o sistema possa ser implantado com sucesso. O próprio envolvimento dos 
empregados (futuros usuários do sistema) e seu efetivo treinamento são outros fatores que 
influenciam no sucesso da implantação dos sistemas ERP nas empresas. 
Existem poucos estudos que ressaltam o controle exercido sobre as pessoas, através dos 
sistemas ERP. No entanto, existem alguns estudos críticos em relação a essa tecnologia. Neste 
ensaio, os sistemas ERP são abordados como uma forma de controle, implementada através da 
tecnologia. Para que seja realizada uma relação entre o controle e o sistema ERP, a seguir 
apresenta-se uma breve revisão acerca do controle nas empresas. 
4. Controle nas empresas 
O controle, conforme Silva (2002), pode ser entendido como um processo de busca para a 
redução da incerteza, podendo determinar o comportamento das pessoas de acordo com a 
deliberação das empresas, sendo que pode ser definido em termos de uma dimensão técnica. O 
controle também está intimamente ligado às relações de poder nas empresas e nas organizações 
como um todo, uma vez que existe a relação de influência de um sobre o comportamento do 
outro, refletindo os interesses presentes e seu posicionamento acerca dos eventos. Essa relação 
permite aos controladores a capacidade de conceber e impor a sua realidade diante das pessoas. 
Neste ensaio, essa dimensão está relacionada aos sistemas ERP, tecnologia que 
implementa de forma sistêmica o controle sobre toda e qualquer modificação das informações 
sobre os processos das empresas, permitindo o rastreamento e identificação de todas as ações que 
ocorrem nas mais diversas áreas. Especialmente, podem ser acompanhadas de modificações nos 
processos, realizadas através de técnicas de padronização, como reengenharia ou mapeamento de 
processos, que visam a limitar a incerteza dos gestores pelo controle sobre os empregados e as 
informações que trafegam na empresa. 
Courpasson (2000) propõe o conceito de burocracia soft (branda), partindo de uma 
perspectiva weberiana em que as coordenações e os controles dispersos não são exatamente o 
oposto da dominação racional legal (Weber, 1976), conforme boa parte dos estudiosos de 
organizações propõe. Pela visão do autor, a burocracia também se perpetua pela incorporação de 
práticas soft, que são articuladas com práticas hierárquicas e formais, o que pode ser entendido 
pelo conceito de dominação legítima proposto por Weber (1976). Dessa forma, os controladores 
utilizam ferramentas de dispersão do controle, como empowerment e descentralização de funções, 
objetivando a continuidade da dominação e sua legitimação, que ocorre dentro da empresa. 
Ressalta-se que a administração burocrática é tratada como a forma atual de exercício da 
dominação, com a inclusão de práticas brandas, conforme ressaltado por Courpasson (2000). A 
organização pode ser vista como uma das bases do processo de modernização e a observação de 
que a dominação racional legal, através do corpo administrativo burocrático, é considerada a mais 
racional e conhecida forma para o exercício de dominação (Weber, 1976). Argumenta-se que 
uma das funções dos sistemas ERP, bem como das metodologias que o suportam, como a 
reengenharia de processos, modelagem e mapeamento de processos, são maneiras de manter e 
 
7 
reforçar a dominação legitimada através de características impessoais, baseadas na racionalidade 
e no conhecimento técnico. Conforme ressaltou Weber: 
 
 
A fonte principal da superioridade da administração burocrática reside no papel do 
conhecimento técnico que, através do desenvolvimento da moderna tecnologia e dos 
métodos econômicos na produção de bens, tornou-se totalmente indispensável (WEBER, 
1976, p.25). 
 
 
Para este ensaio, utiliza-se a dominação racional legal e seu corpo administrativo, que visa 
a garantir a sua perpetuação: a burocracia. A administração burocrática, segundo Weber (1999), 
significa: 
 
 
Dominação em virtude de conhecimento; este é seu caráter fundamental especificamente 
racional. Além da posição de formidável poder devida ao conhecimento profissional, a 
burocracia (ou o senhor que dela se seve) tem a tendência de fortalecê-la ainda mais pelo 
saber prático de serviço: o conhecimento de fatos adquirido na execução das tarefas ou 
obtido via “documentação”. O conceito (não só, mas especificamente) burocrático do 
“segredo oficial” – comparável, em sua relação ao conhecimento profissional, aos 
segredos das empresas comerciais no que concerne aos técnicos – provém dessa pretensão 
de poder (WEBER, 1999, p.147). 
 
 
 As categorias fundamentais da dominação racional legal, segundo Weber (1976) são: 
1) Organização contínua de cargos, delimitados por normas; 
2) Uma área específica de competências, significando uma esfera de obrigações no 
desempenho de uma função com parte da divisão do trabalho, a atribuição de poderes, bem como 
uma limitação clara dos instrumentos coercivos eventualmente admissíveis e condições de sua 
aplicação; 
3) Organização de cargos, obedecendo o princípio da hierarquia, sendo essa hierarquia 
oficial, com possibilidade de exposição de queixas dos inferiores aos superiores; 
4) Regras para os procedimentos, ou seja, normas ou regras técnicas, para as quais é 
necessário que haja uma qualificação profissional, a fim de ser atingida a racionalidade plena; 
5) Separação entre os membros do quadro administrativo e os meios de produção e 
administração; 
6) Completa ausência de apreciação do cargo pelo ocupante, em que os direitos ao cargo 
somente servem para garantir o caráter objetivo de seu trabalho; 
7) Documentação dos processos administrativos do cargo, mesmo em casos em que seja 
necessária a prescrição ou a discussão oral; 
8) Ampla variedade de diferentes formas de exercício da autoridade legal. 
 
O exercício do controle pode se apresentar de diferentes formas, sendo que algumas 
dessas formas são apresentadas a seguir. Para Perrow (1986), há três tipos de controle: o direto, 
completamente intrusivo, relacionado a uma supervisão direta; o burocrático, menos intrusivo, a 
partir de um caráter normativo e mais eficiente que o anterior; e o controle por premissas 
 
8 
cognitivas, que é considerado completamente não intrusivo e faz comque os indivíduos 
internalizem os comportamentos necessários para que desenvolvam suas atividades. 
Há também o controle difuso, que segundo Etzioni (1967), pode ser encontrado em 
organizações normativas, onde o controle depende mais de qualidades pessoais do que nas 
organizações coercitivas. Ou seja, a liderança informal pode, através do poder pessoal, apoiar o 
exercício do controle sobre os indivíduos das organizações através de processos de seleção e 
socialização e combinados com o controle normativo. O controle difuso também possui 
componentes como a persuasão e o consenso, pois as pessoas controladas por esse tipo de 
controle possuem uma visão compartilhada do mundo (SILVA, 2003). 
O controle burocrático, utilizado nas empresas, é realizado através de mecanismos menos 
intrusivos, impessoais, sendo, na visão de Perrow (1986), mais eficiente que o controle direto. 
Silva (2002) ressalta que, ao se buscar redução da incerteza nas organizações, o controle pode se 
configurar de duas formas: na forma burocrática, agindo diretamente sobre o comportamento, 
através de regras; na forma normativa, agindo diretamente sobre os símbolos, objetivando a 
influência sobre a visão de mundo daqueles que são controlados, sendo que o controle não é 
encontrado de uma ou outra forma dentro das organizações, mas através de uma junção de traços 
de uma ou outra forma. 
Ao apresentar o termo concertive control, Barker (1993) ressalta que o controle 
consensual, em que os indivíduos realizam o autocontrole, é menos aparente e mais restrito que o 
controle burocrático. A gaiola de ferro (iron cage) se torna mais apertada e a resistência pode 
representar riscos à dignidade humana dos indivíduos. 
Segundo Silva (2002), o controle pode assumir diferentes proporções e ser analisado de 
diferentes formas nas organizações. Não existe um único tipo de controle realizado, sendo que a 
ocorrência, quase sempre, é de um mix de diferentes tipos de controles que formam um conjunto 
utilizado para direcionar o comportamento das pessoas. Assim, considera-se o controle realizado 
através dos sistemas, como uma das formas de manter a legitimação da dominação racional legal, 
que se expressa a partir dos sistemas de informações, em particular dos sistemas ERP, como uma 
forma de descentralização do controle, acompanhado de práticas da burocracia soft (Courpasson, 
2000). 
A liderança ocupa um papel importante em relação ao controle. Seja através da cultura, 
das formas organizacionais ou das tecnologias de gestão, a liderança exerce o papel de construção 
e modificação dos sentidos ou visões de mundo para os controlados. Esse fator é ressaltado por 
Solè e Pham (2003), que questionam o fato de as organizações estarem formando líderes, 
responsáveis pela “direção e o controle -sempre mais e melhor – das empresas” (2003, p. 38). O 
papel da liderança está ligado à dominação, ao controle e a manter o aparato que sustenta o poder 
nas relações empresariais controladores-controlados. 
O que se argumenta com este ensaio é que os sistemas ERP são uma forma de manter um 
aparato para sistematizar o controle sobre as pessoas dentro das empresas, de forma ubíqua e 
reforçada, dessa forma, centralizando as informações através da tecnologia. Nesse sentido, o 
ensaio corrobora com a visão de Silva (2002) que apresenta a tecnologia, em especial tecnologia 
da informação, como uma forma de sistematizar as regras burocráticas. Assim, é realizada, a 
seguir, uma análise dos sistemas ERP como uma das formas mais atuais de controle sobre os 
indivíduos nas empresas, motivados pela sugestão de Silva (2002, p 12): 
 
 
 
9 
Inicialmente, o papel desempenhado pelas tecnologias da informação e pelas 
tecnologias que permitem a vigilância virtual ainda apresentam um campo de 
investigação que pode trazer importantes contribuições aos estudos organizacionais. 
 
5. Sistemas ERP e o Controle nas Empresas 
 
Dispositivo importante, pois automatiza e desindividualiza o poder. [...] Há uma 
maquinaria que assegura a dessimetria, o desequilíbrio, a diferença. Pouco importa, 
consequentemente quem exerce o poder (FOUCAULT, 1987, p. 167). 
 
A maioria das pesquisas relacionadas aos impactos dos sistemas ERP em empresas tratam 
dos processos de implantação, impactos em variáveis estratégicas (SACCOL et al., 2004) e no 
trabalho individual (SACCOL; MACADAR; SOARES, 2003; STRAUSS; BELLINI, 2006). 
Porém, poucos são os estudos que apresentam os aspectos críticos relativos aos sistemas ERP, 
sendo que alguns o apresentam como um modismo, outros como sistemas totalitários, ou como 
sistema não aberto a mudanças, que exige a adaptação da empresa ao sistema de informação 
(CALDAS; WOOD Jr., 1999; POZEBON; PINSONNEAULT, 2003). No entanto, um dos fatores 
que poderia ser ressaltado em relação aos sistemas ERP nas empresas é o controle sobre os 
indivíduos (WOOD Jr.; de PAULA; CALDAS, 2003) e as relações de poder que ocorrem a partir 
dessas novas tecnologias. Os sistemas ERP permitem às empresas criar um controle sobre todas 
as áreas, desde as áreas de produção, até as áreas comerciais ou de suporte aos clientes, 
oferecendo uma forma de controle com informações centralizadas e, ao mesmo tempo, 
amplamente difundidas. 
Elmes, Strong e Volkoff (2005) realizaram uma análise acerca dos sistemas ERP 
relacionando a tecnologia ao controle e ao empowerment. Os autores ressaltam que as empresas 
adquirem os pacotes ERP com a esperança de que a melhora da visibilidade acerca das 
informações será benéfica para os empregados, permitindo que eles sejam mais responsivos aos 
clientes, melhorando a motivação, a autonomia e a satisfação. No entanto, o ERP incrementa a 
disciplina e o controle sobre essas pessoas, representando uma contradição em relação aos 
benefícios esperados, pois o controle causa a perda da motivação, a sensação de impotência e a 
falta de iniciativa dos empregados. O empowerment ocorre por que as pessoas recebem mais 
responsabilidades, mais informações sobre as suas tarefas trafegam pela empresa e aumenta a 
necessidade de executarem seu trabalho da maneira que o sistema exige, pois suas tarefas ficarão 
visíveis para um número maior de pessoas. 
Os sistemas ERP, por forçarem a revisão dos processos de negócios em toda a empresa, 
são considerados problemáticos. As modificações que são necessárias para que a empresa adapte 
seus processos ao sistema também exigem a modificação estrutural e em relação às pessoas. Essa 
inflexibilidade de adaptação do sistema exige, muitas vezes que os processos da empresa se 
adaptem ao sistema, contrastando com a necessidade de flexibilidade que se exige no mercado, 
cada vez mais competitivo. Além desse fator, existe a importância do fator custo para a adaptação 
dos sistemas, que geralmente extrapola as possibilidades das empresas. 
Um dos fatores que aparecem como resultados positivos em relação à implantação dos 
sistemas ERP é a redução da burocracia. No entanto, essa visão representa uma contradição, 
possivelmente causada por uma conceituação equivocada sobre o quadro administrativo 
burocrático. Por exemplo, o software realiza a função de exigir que as pessoas possuam papéis 
 
10 
específicos para acessar partes específicas do sistema e a realização de tarefas específicas em 
determinados módulos – uma hierarquia de funções dentro do sistema. 
Para Dillard, Ruchalab e Yuthasa (2005), o ERP é a forma física da racionalidade 
instrumental, manifestada através da expertise administrativa e das estruturas hierárquicas, 
empregadas em artefatos e instrumentos da chamada era da informação. Como um instrumento 
de controle e dominação, esse tipo de sistema impõe um modo de se trabalhar, perpetuando e 
mudando os relacionamentos sociais, refletindo a instrumentalidade racional e conformando-se 
com a ideologia dominante. Na visão dos autores, o sistema ERPé a versão eletrônica atual do 
que Weber definiu como a gaiola de ferro (iron cage), pois se configura em um instrumento de 
controle, impondo um modo de organizar, baseado na hierarquia e no conhecimento técnico. 
Outros fatores do quadro administrativo burocrático também podem ser observados. Por 
exemplo, a existência de regras para todos os procedimentos, que ficam documentados e devem 
ser seguidos de forma rígida para que o sistema possa fornecer as informações que os decisores 
necessitam para as suas decisões. As regras ficam internalizadas em manuais de utilização e o 
conhecimento acerca do sistema e dos processos de negócios geralmente ficam a cargo de 
usuários chave (chamados key users), que detêm aquele conhecimento e são responsáveis por 
repassá-los aos empregados que necessitam de apoio. Ou seja, a documentação dos processos 
administrativos de cada função a ser executada no sistema ERP fica documentada. 
Em paralelo, há uma ampla variedade de diferentes formas de exercício da autoridade, 
pois os sistemas ERP permitem a execução de auditorias que identificam quem fez tal tarefa. 
Dessa forma, caso um empregado execute algum processo de maneira incorreta, isso poderá 
causar um erro em cascata, de forma que todos os empregados, geralmente, se autodisciplinam 
para que esses erros sejam minimizados. 
 Loarne (2005) realizou um estudo de caso sobre a implementação do sistema ERP em 
uma empresa multinacional e ressaltou que o controle que os empregados se submeteram eram 
realizados a partir de diferentes origens, tanto de acordo com a hierarquia da empresa, como do 
próprio sistema, que registrava todas as informações de suas tarefas. Até mesmo os compradores 
(pessoas de outras empresas) podiam saber – através de consultas ao sistema - se os seus pedidos 
estavam sendo processados da forma correta. O autor fez uma relação com o big brother, 
explicitando o controle de forma ampla em que até mesmo os gerentes podiam ser mais 
controlados dentro da empresa. Percebeu-se, no estudo, algum nível de transgressão às regras e 
ao controle, uma vez que os gerentes passavam suas senhas e códigos de acesso aos empregados. 
A relação com o big brother também foi realizada por Wood Jr., Paula e Caldas (2003), 
que relacionaram o sistema ERP ao filme denominado “1984”, de George Orwell. Neste trabalho, 
os autores relacionam partes do filme com os artefatos utilizados para implementar o controle e 
padronização organizacional, relacionando também autores que tratam dos temas. Em relação aos 
sistemas ERP, ressaltam 
 
 
os sistemas empresariais expressam a racionalidade tecnológica que 
unidimensionaliza as organizações, criando um universo que repele e expulsa tudo 
que é estranho aos seu domínio técnico e simbólico, com a colaboração intensiva dos 
próprios membros da organização, cada vez mais alienados dos colegas e de si 
mesmos (WOOD Jr.; PAULA; CALDAS, 2003; p. 320). 
 
 
11 
 Outro fator a ser observado, está relacionado ao sentimento que os empregados de uma 
empresa que implementa o sistema. Eles comportam-se de forma mais disciplinada, obrigados a 
isso pelo controle imposto através do sistema, de forma hierarquizada. Esse fator é ressaltado por 
Elmes, Strong e Volkoff (2005), que tratou o controle exercido sobre os empregados que 
utilizavam o sistema de duas formas: 
 
Panóptico: a primeira forma é através de uma arquitetura panóptica – baseada em 
Foucault (1987) - que é desenvolvida para o sistema, envolvendo uma visão fixa (gaze) e 
ampla de todas as atividades que são executadas pelo empregado. Essa visão permite ao 
observador visualizar em tempo real as atividades do observado, mas também permite que 
essa função não seja contínua. Porém, o observado sabe que pode ser observado a 
qualquer momento e não sabe quando exatamente o observador irá efetivar esse controle. 
O fato dos sistemas ERP gravarem todas as ações dos usuários e permitir a realização de 
auditorias, para que se saiba quem efetivou determinada tarefa, dá a ele tais 
características. Sem esforços adicionais, a vigilância essencialmente contínua é 
implementada; 
 
Poder disciplinar: é incrementado a partir da visão fixa que se possui dos empregados, 
que ficam acostumados ao controle constante, aprendendo a realizar a autodisciplina, 
mesmo enquanto não estão sendo efetivamente observados pelo sistema. 
 
Silva (2002) argumenta que a literatura tem procurado demonstrar que o corpo 
administrativo burocrático se mantém atual e, nesse sentido, o papel da liderança tem se 
transformado para um papel em que objetivam modificar as visões de mundo dos empregados de 
forma a construir uma visão compartilhada, dando sentido às decisões e às ações do poder 
centralizado. Esse fator aparece nos estudos acerca da implantação de ERP, em que três fatores 
são citados como importantes para a sua implantação: a participação da gestão sênior em todas as 
fases do projeto; a venda do sistema para os empregados e o envolvimento dos empregados. 
Assim, corrobora-se com a visão da autora acerca do papel da liderança. É necessário um 
convencimento dos empregados, que farão parte dessa mudança, muitas vezes radical, bem como 
o envolvimento dos líderes da organização é ressaltado para que eles possam intervir de modo a 
exercer seu poder no caso da ocorrência de algum problema na implantação. A liderança serve 
para criar e manter a visão acerca do futuro da empresa, com a utilização do sistema, 
independentemente dos percalços que possam ocorrer em relação aos que não se adaptam e 
resistem às mudanças, nesse caso, tecnológicas. 
O sistema ERP pode ser uma ferramenta para a integração de áreas e integração das 
informações, facilitando a execução de atividades. No entanto, é uma ferramenta que centraliza o 
controle e descentraliza as atividades e padroniza os processos, tornando as formas de controle 
sistematizadas e as pessoas com maior número de responsabilidades em suas tarefas, podendo 
serem vistas em toda a empresa. O estudo de Lage e Pontes (2006) observou a relação desse tipo 
de sistema com as relações de trabalho. Ressalta-se, no estudo, a padronização das atividades de 
usuários do nível operacional, diminuindo sua autonomia e responsabilidade – causadas pela 
padronização dos processos. Em relação a outras variáveis, identificou-se maior controle por 
parte das gerências e a delegação de controle, em alguns casos, para áreas operacionais. 
 
12 
As relações de autorizações intermediárias em relação sistema foram estudadas em um 
caso de implantação de sistema ERP por Ignatiadis e Nandhakumar (2007), sendo que os autores 
ressaltam a perda de flexibilidade da empresa e o controle sobre os empregados, bem como as 
relações em que as pessoas que obtiveram maior conhecimento do uso do sistema receberam 
maiores poderes dentro da empresa, criando alguns nichos de poder. Esse poder se refletiu a 
partir da utilização do sistema, em que as pessoas com maior conhecimento recebiam autorização 
para executar tarefas mais elevadas, podendo controlar as tarefas das pessoas com níveis de 
acesso inferiores. 
As diferenciações encontradas pelos autores fizeram com que algumas pessoas, ao 
enfrentarem determinados problemas dentro do sistema, não consultassem pessoas especialistas e 
tentassem resolver o problema da sua maneira. A rigidez do sistema causou, em certos casos, 
uma perda na capacidade de recuperação da empresa, pela rigidez do controle e a dificuldade na 
resolução dos problemas de forma ágil. Isso ocasionou uma forma de transgressão ao sistema, 
com o registro de algumas informações em planilhas ou sistemas separados do ERP. A 
reformulação de algumas funções no sistema, eliminando uma parte da complexidade e rigidez, 
permitiu retomar uma parte da flexibilidade perdida. 
6. Considerações Finais 
 Os sistemas ERP tem sido alvo de diversos estudos nos últimos anos,pois representam 
uma volumosa cifra de investimentos nas empresas. Muitos estudos identificam fatores 
importantes para o sucesso da sua implantação, as vantagens que o sistema pode trazer para as 
empresas e os resultados da sua implantação sobre o trabalho individual e sobre as variáveis 
estratégicas das empresas, como produtividade e redução de custos. 
 Existe um número ainda reduzido de estudos que tratam especificamente do sistema ERP 
como uma ferramenta para o controle sobre as pessoas, sendo que, geralmente, tratam esse 
problema em conjunto com os demais problemas da sua implantação. Os sistemas ERP estão 
diretamente ligados ao controle executado sobre as pessoas, seja para a redução da incerteza, 
conforme ressalta Silva (2002), seja como uma forma de centralização das informações e do 
controle administrativo burocrático, baseado no conhecimento técnico, na hierarquia de funções e 
na padronização das rotinas da empresa. Também são utilizados para descentralizar parte do 
controle, delegando tarefas a pessoas de todos os níveis, criando nichos de controle 
intermediários, ubíquos. 
Ressalta-se neste ensaio, a existência da burocracia soft apresentada por Courpasson 
(2000), em que práticas mais brandas são incorporadas às características do corpo administrativo 
burocrático, com a utilização da tecnologia da informação de forma a dar suporte para o 
acirramento dos controles descentralizados, que se mostra como a versão tecnológica da gaiola de 
ferro (Weber, 2002, p. 135): 
 
 
Ninguém sabe a quem caberá no futuro viver nessa prisão [iron cage] ou se, no final 
desse tremendo desenvolvimento surgirão profetas inteiramente novos, ou se haverá 
um grande ressurgimento de velhas idéias e ideais ou então, no lugar disso tudo, uma 
petrificação mecanizada ornamentada com um tipo de convulsiva significância. 
Nesse último estágio de desenvolvimento cultural, seus integrantes poderão de fato, 
ser chamados de ‘especialistas sem espírito, sensualistas sem coração, nulidades que 
imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado’. 
 
13 
 
Este ensaio baseou-se em um levantamento bibliográfico, sendo que foi importante para 
que o pesquisador pudesse identificar alguns estudos críticos em relação à tecnologia da 
informação e, particularmente, aos controles realizados nas empresas a partir dos sistemas ERP. 
Cabe ressaltar que outros elementos são importantes para estudos futuros, como as relações de 
poder e a resistência aos controles, que neste ensaio ficaram limitadas. Outra oportunidade para 
estudos futuros seria a relação entre os sistemas ERP com a teoria institucional, uma vez que eles 
empregam características de homogeneização realizadas através das chamadas best practices 
(melhores práticas do mercado), reduzindo a diferenciação que as empresas poderiam obter em 
seus processos de negócios, que ficariam padronizados. 
Enfim, espera-se que, com a realização de estudos críticos acerca da área da tecnologia da 
informação, se possa avançar no sentido da implementação dos sistemas nas empresas, trazendo à 
tona questões que são apenas subjacentes em outros estudos. Argumenta-se que somente com a 
conscientização das relações de controle e poder que ocorrem em cada implementação de 
tecnologia, será possível que essa área experimente um avanço em relação aos seus impactos 
individuais e sociais. 
 
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