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O livro Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada, apresenta a dissertação de mestrado da historiadora Anna Cristina Camargo Moraes Figueiredo. A autora trabalha nele a publicidade comercial e seus efeitos sobre o imaginário coletivo na sociedade brasileira no período anterior ao Golpe de 1964. Figueiredo nota que a liberdade, os direitos civis são transferidos para o poder de consumo do individuo, ou seja, o que a sociedade não consegue fazer na esfera política é transferida para o consumismo.O estudo dessa publicidade traz a tona o imaginário da camada média da sociedade vigente, mostrando assim, o comportamento político desses, que teve maior abertura para o anticomunismo. Cria-se um imaginário para as camadas médias através da propaganda, veiculada em revistas e jornais. A propaganda se torna um agente da sociedade, e nesse pré- golpe ela se encontra em período de modernização, assim o como o país na gestão de Juscelino. O contexto social é a aceleração das indústrias, maior nascente classe urbana (florescimento da classe média). A democracia acabou sendo visto como o poderio de consumo que cada um poderia atingir, e a liberdade também. Logo na introdução, a autora apresenta o objetivo do estudo, que é o de contribuir para o debate acerca da democracia. Assim, mostra a importância de seu objeto, já que as propagandas reproduzem o perfil de seu público-alvo e as dirigidas às camadas médias urbanas são de grande valor, pois essas classes tiveram um papel primordial no Golpe, posto que foi na insatisfação com o governo de João Goulart que os militares encontraram o argumento que faltava para se concretizar a ditadura. Sendo assim, para Figueiredo, estudar o imaginário coletivo que legitimou o Golpe Militar ajuda a compreender a transição do conceito de democracia. Uma perspectiva que circulava no país entre 54 e 64, era a de modernização, de que o Brasil deveria sair do “atraso” camponês para uma postura agressiva no mundo industrial, e a publicidade se utilizava desse conceito. Quando o país se encontrasse totalmente industrializada seria verdadeiramente uma nação, o conceito de nacionalismo embutido pelos empresários. A propaganda afirmava o esmagamento do passado em prol da modernização. Nesse período também houve uma mudança no sentido de liberdade, baseado no consumismo, no qual o cidadão era livre para comprar quantos bens desejar, mas a liberdade de opinião foi abandonada progressivamente, posto que não satisfizesse os desejos imediatistas consumistas presentes no imaginário coletivo das camadas médias urbanas. O Brasil passava por um momento político conturbado, onde as ideologias da Guerra Fria se disseminavam, e o governo de João Goulart, no qual o programa de estatização não agradava a burguesia industrial, que refletia seus anseios na propaganda e, logo, massificava tal pensamento. Os conservadores se embatiam, a idéia de comunismo era difundida como o atraso que o país não necessitava, e para uma classe média com fúria em consumir não agradava. Figueiredo mostra que, durante o governo de Kubitschek, o projeto da industrialização se concretizaria através de investimentos de capitais privados, sendo eles nacionais ou estrangeiros, e do subsídio do governo, tendo como objetivo incorporar definitivamente o Brasil ao sistema capitalista. Naquele momento, o crescimento econômico era supervalorizado e o imaginário coletivo, estimulado pelo Estado e pelas grandes indústrias, via nele a possibilidade de progresso do país. Ao longo dos anos 50 a publicidade foi se utilizando de recursos cada vez mais sofisticados para persuadir o consumidor, usando recursos que faziam com que ele acreditasse que ao comprar determinado item iria satisfazer seus desejos mais íntimos.A forma da propaganda foi se modificando os textos compridos, com informações técnicas, foram substituídos por textos curtos, objetivo e de forte apelo emocional, isso pelo fato da amplitude de consumidores que se queria atingir. A autora ainda expõe a questão da representação do lazer na publicidade, em contraste com o trabalho. Ela enfatiza que para satisfazer o seu público-alvo, as propagandas retratavam o trabalhador num estereótipo de responsável e esforçado, dependendo do tipo de produto que se pretendia vender. Da mesma maneira, as fábricas eram apresentadas como um lugar acolhedor, o qual oferece condições para seus funcionários conquistarem um novo padrão de vida. Porem, a realidade do trabalhador era diferente da retratada na propaganda. Segundo Figueiredo, desde a década de 1930, a classe trabalhadora era menosprezada, apesar de ser responsabilizada pelo crescimento do país, devido à sua força de trabalho. Com medo de greves e sindicatos, o empresariado organizou a massa trabalhadora através de princípios fordistas e tayloristas, que provocam o individualismo no trabalhador e impedem-no de se levantar contra o patrão.O lazer, representado na propaganda, se tornou a única recompensa do trabalho. Este, por sua vez, seria uma etapa desagradável na vida do indivíduo, mas que seria recompensada nos bons momentos proporcionados pelo dinheiro e pelos bens de consumo produzidos pelas indústrias. Da mesma forma, o tempo passou a ser um objeto de consumo e usado como argumento da publicidade, na qual a aquisição de bens que facilitariam as tarefas domésticas resulta em sobra de tempo para, segundo a autora, ser aproveitado no lazer. Na luta entre comunismo e socialismo ao longo desses anos, a publicidade foi de extrema importância exibindo valores capitalistas, e também ao mostrar o mundo capitalista como cheio de paz e positividade e o comunismo como um lugar de guerras, fome e funesto. A liberdade era um assunto cada vez mais colocado em pauta, e ao adotar um estilo de compra, estava fazendo uso da sua liberdade, não de falar, mas de consumir. No período da ditadura houve um retrocesso na economia brasileira, isso causou um medo nas camadas médias de que seu poder de consumo diminuísse, mas foi nessa cama que conseguiram apoio e se assentou nela, mostrando valores compatíveis ao deles, e bombardeando os meios de comunicação de propagandas. Assim, mostra- se como o fato não era apenas de vender os produtos, mas sim, de embutir uma ideologia por trás desse consumo, uma ideologia que o Estado difundia com a ajuda da publicidade. O estudo da publicidade permite concluir que ao longo do fortalecimento do capitalismo formou-se uma cultura de consumo. Pode-se concluir que a publicidade incentivou por diversos motivos uma sociedade pautada no consumo, a classe que mais incorporou todo esse processo foi a camada média da sociedade. As tensões entre capitalismo e comunismo gerada pela Guerra Fria, fizeram com que a publicidade tomasse partido pelo capitalismo, claro. Assim a camada média foi a que mais apoiou o golpe militar com medo do comunismo abalar seu poderio de consumo e também pelo fato da propaganda e do Estado difundir os “horrores” do comunismo.Figueiredo nos mostra como, através da propaganda, os militares conseguiram legitimar o Golpe de 1964 com o auxílio das classes médias urbanas. Massificando assim o pensamento anticomunista e mostrando aproximações do atual governo do período com tal política, o empresariado conseguiu formar uma forte opinião a favor do Golpe, pois, para a sociedade da época a liberdade de compra era vista como primordial para o ser humano e atitudes ditas repressivas por partes dos comunistas não eram bem-vistas pela classe média brasileira. O livro, destarte, tem grande importância para a compreensão das pressões que resultaram no Golpe Militar, pois analisade um novo ângulo a massificação do pensamento anticomunista e, diferentemente da maioria dos estudos sobre o assunto, mostra a adesão popular a tal movimento e não a resistência, como sempre foi trabalhado. Resenha: “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada” Publicidade, Cultura de consumo e comportamento político no Brasil (1954-1964) Resenha dirigida ao curso de Brasil Republicano II. Docente: Profª. Drª. Zélia Lopes da Silva. Discente: Janainna Zanella Gomes Período: Segundo Semestre, noturno ASSIS 2013
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