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CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM OVINOCULTURA Palestrantes: Carlos Eduardo C. Belluzo Carlos N. Kaneto Gustavo Martins Ferreira Coordenação e Organização: Prof. Dr. Hamilton Caetano Prof. Dr. Luiz Eduardo Corrêa Fonseca Promoção: UNESP – CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE APOIO, PRODUÇÃO E SAÚDE ANIMAL CAMPUS DE ARAÇATUBA – SP Novembro - 2001 ÍNDICE I. INTRODUÇÃO A OVINOCULTURA 1 1. Introdução 1 2. Origem e seleção natural 1 3. Classificação zoológica 2 4. Domesticação 3 5. Clima 3 6. Informações fisiológicas sobre ovinos 6 7. Solo, topografia e qualidade das pastagens 7 II. PRINCIPAIS RAÇAS OVINAS 8 1. Raças especializadas na produção de lã fina 8 2. Raças mistas 9 3. Raças especializadas na produção de carne 9 4. Raças deslanadas 11 III. SISTEMA DE PRODUÇÃO 12 IV. INSTALAÇÕES PARA OVINOS 13 1. Pastagens 13 2. Cercas 14 3. Centro de manejo 16 4. Cabanha 19 5. Cochos 19 6. Bebedouros 20 7. Equipamentos 20 V. PASTAGENS PARA OVINOS 20 1. Introdução 20 2. Princípios básicos 23 3. Hábitos de pastejo do ovino 24 4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos 26 5. Forrageiras mais indicadas 27 6. Consorciação de gramíneas com leguminosas 30 7. Manejo e lotação do pasto 32 8. Importância da fertilidade do solo 35 VI. CONSORCIAÇÃO DE OVINOS COM CULTURAS ANIMAIS E VEGETAIS 35 1. Introdução 36 2. Algumas culturas vegetais viáveis 36 3. Consorciação com culturas animais: pastoreio múltiplo 41 VII. NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS 45 1. Exigências nutricionais 46 2. Suplementação e rações 46 3. confinamento de cordeiros 48 4. Creep-feeding 51 5. Alimentos para ovinos: suas características 52 VIII. ASPECTOS BÁSICOS EM UMA CRIAÇÃO DE OVINOS 61 1. Reprodução 61 2. Parição e lactação 66 IX. SELEÇÃO E DESCARTE DE OVINOS 71 1. Aspectos gerais 71 2. Principais causas de descarte 72 X. SANIDADE: PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS OVINOS 76 1. Clostridioses 76 2. Pasteurelose 78 3. Diarréia dos cordeiros 79 4. Podridão dos cascos (foot rot) 79 5. Queratoconjuntivite 80 6. Ectima contagioso 81 7. Mastite 81 8. Controle sanitário: principais recomendações 82 9. Vias de aplicação de medicamentos 84 XI. SANIDADE: PRINCIPAIS DOENÇAS PARASITÁRIAS NA OVINOCULTURA 89 1. Considerações gerais 89 2. Controle 103 XII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 105 APÊNDICE: RAÇAS DE OVINOS 106 OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO I. INTRODUÇÃO A OVINOCULTURA Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993). 1. Introdução A ovinocultura foi uma das primeiras explorações animais levadas a efeito pelo homem, no começo da civilização, proporcionando-lhe alimento, em forma de carne e leite, e proteção através da lã e da pele. As fibras de origem vegetais têm suas produções limitadas em determinadas regiões. A lã, ao contrário, é um produto que, em maior ou menor escala, é obtido em quase todas as latitudes. Com a reativação da ASPACO (Associação Paulista dos Criadores de Ovinos) em 1984 e a criação do departamento de Ovinocultura pela CAFENOEL (Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de São Manuel) em 1985, a ovinocultura paulista passou a se destacar como mais uma opção agropecuária, lembrando-nos de que a ovelha foi a primeira espécie domesticada pelo homem, acompanhando-o pelo mundo inteiro, além de ser considerada, em muitas regiões, fonte de subsistência para populações desfavorecidas. As universidades, instituições e órgãos de pesquisa ligados à ovinocultura têm mostrado que o estado de São Paulo apresenta excelentes condições tecnológicas e ambientais para produzir racionalmente carne, lã, pele e até leite de ovinos. A idéia de que ovino lanado só deve ser criado em regiões frias é errônea. A lã é isolante térmico, protegendo tanto do frio quanto do calor. Temos como exemplo a Austrália, que com seus rebanhos da raça Merino Australiano, criados em condições semidesérticas, é a maior produtora mundial de lã fina. Esta atividade é viável economicamente desde que obedecidas certas normas, principalmente relacionadas aos manejos reprodutivo, nutricional e sanitário. 2. Origem e Seleção Natural O tronco original dos ovinos domésticos deve ser procurado no gênero Ovis e, dentro deste, nos grupos de ovinos selvagens representados pelo Argali (Ovis OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO ammon), Urial (Ovis vignet) e Mouflon (Ovis musimon). Desses grupos, o Mouflon ainda é encontrado em estado selvagem nas montanhas da Córsega e da Sardenha. O Urial ainda existe no Irã, Afeganistão, partes da Índia e do Tibet. É conveniente reconhecer duas espécies de ovelhas selvagens: Ovis canadensis, a ovelha de corno grosso americana e Ovis ammon, a ovelha selvagem asiática e européia. A Ovis canadensis nunca foi domesticada e foi eliminada como antepassado das ovelhas domésticas por razões zoogeográficas. Só restou, como animal primitivo para a domesticação, a Ovis ammon com suas subespécies. Atualmente, existem no mundo mais de 800 raças de ovelhas domésticas. A grande variedade de fenótipos sugeriu investigações sobre quais seriam as subespécies selvagens da ovelha doméstica, sendo provável que algumas subespécies tenham mudado de lugar devido a alterações climáticas ao final da época glacial. Também podem ter desaparecido algumas subespécies anteriores que intervieram na domesticação. Durante as migrações dos povos e entre as tribos vizinhas, trocavam-se animais de cria. Alguns rebanhos de ovelhas domésticas chegaram a regiões nas quais viviam outras subespécies, e com elas podem ter se cruzado. Daí ser impossível definir, atualmente, a espécie de ovelha selvagem que deu origem às raças ovinas atuais. O menor tamanho dos animais é uma característica da domesticação, referente às ovelhas que, em algumas estações do ano, sofriam restrições alimentares, determinando perdas de peso e diminuição da produção de leite. No início, o homem domesticou as ovelhas por sua carne e depois demonstrou interesse pelo leite, ordenhando as ovelhas, constituindo uma nova orientação a cria. Entretanto, a mudança mais importante para o homem, quanto à domesticação, aconteceu quando o pêlo da ovelha selvagem foi substituído por fibras de lã. Não se pode demonstrar se o aparecimento da ovelha de lã fina foi devido à mutação ou seleção, aproveitando-se crias obtidas através de cruzamentos consangüíneos. 3. Classificação Zoológica Reino: Animal Sub-reino: Vertebrata Filo: Chordata OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Classe: Mammalia Ordem: Ungulata Sub-ordem: Artiodactyla Grupo: Ruminantia Família: Bovidae Sub-família: Ovinae Gênero: Ovis Espécie: Ovis aries (ovinos domésticos) 4. Domesticação A ovelha foi domesticada pelo homem primitivo, no período neolítico, quatro ou cinco mil anos a.C. Quase todos os animais domésticos têm seus antecedentes selvagens na Europa e na Ásia. A ovelha e a cabra parecem ser os primeiros animais a serem domesticados. O homem domesticou a ovelha selvagem em seu habitat, facilitada pela redução do estresse de adaptação. 5. Clima 5.1. Temperatura O clima é um dos principais fatores que determinam as possibilidades de êxito em uma criação de ovinos. O comportamento e a adaptação dos ovinos ao clima é variável com o indivíduo, a raça e o manejo que lhe é dispensado. Embora a espécie ovinase encontre difundida em todas as regiões do mundo, verifica-se que as maiores concentrações populacionais desta espécie estão nas zonas de clima temperado frio, isto é, em latitudes de 25º a 40º em ambos os hemisférios. Exceções a esta regra são observadas quando a redução da latitude é compensada pela altitude, como no Peru, em zona equatorial (clima tropical), onde ovinos são criados nos altiplanos da cordilheira dos Andes a mais de 3000 metros de altura. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO A temperatura tem atuação preponderante sobre os ovinos, principalmente nas propriedades da lã. Altas temperaturas contribuem para a congestão permanente das partes superficiais da derme, podendo as camadas profundas da derme ficar com má circulação, o que se contrapõe à nutrição dos folículos pilosos, com fibras tendendo a se tornarem finas e curtas. Com frio permanente, os fenômenos são inversos, tornando as fibras mais grossas e longas. Na América do Sul, há uma região que se estende do trópico de Capricórnio ao paralelo de 38º de latitude Sul que apresenta clima subtropical úmido (clima de transição). Abrange o Sul do Estado de São Paulo, grande parte do Estado do Paraná, os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o Uruguai, várias províncias da Argentina e pequena área do Paraguai, caracterizando-se por verão quente e inverno fresco. A Austrália, um dos países de grande concentração de ovinos no mundo, tem grande parte do seu rebanho na área de clima subtropical úmido, análogo ao da América do Sul. Por outro lado, as áreas secas do Oeste dos Estados Unidos, as extensas regiões semi-áridas da Austrália e da Patagônia podem impedir a criação de bovinos, suportando uma certa população ovina. 5.2. Umidade Relativa Umidade relativa alta diminui a produção de lã, afetando suas propriedades, principalmente a suavidade ao tato. A umidade baixa torna a lã menos elástica e resistente, pela diminuição da suarda. Os ovinos adaptam-se e produzem melhor sob temperaturas medianas, com umidade relativa média. 5.3. Precipitação Pluviométrica Precipitação pluviométrica elevada e alto grau de umidade do ar dificultam a evaporação da água do solo, favorecendo, com isso, a proliferação de agentes patológicos, prejudiciais a espécies ovina. A Tabela 1 mostra as condições climáticas do Sul do Brasil, Austrália e Nova Zelândia. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Tabela 1. Situação geográfica e condições climáticas do Sul do Brasil, Austrália e Nova Zelândia. Local Situação geográfica (latitude sul) Precipitação pluviométrica (m) Temperatura média (ºC) Brasil (Sul) 19º 34º 800-2000 18.0 Austrália 11º 39º 400-2000 18.0 Nova Zelândia 34º 47º 1500-2000 16.5 As seguintes condições são próprias para a criação de ovinos: - temperatura: mínima = 5º C máxima = 25º C - precipitação pluviométrica = 75 mm a 115 mm por mês, ou seja, 900 mm a 1380 mm por ano. - umidade relativa entre 55 a 70% em altas temperaturas e entre 65 e 91% em baixas temperaturas. 5.4. Fotoperíodo As ovelhas são, de modo geral, poliéstricas estacionais, apresentando cios em determinado período do ano, não havendo uniformidade quanto ao início e duração da estação reprodutiva. Nas diferentes raças, a amplitude do período reprodutivo é determinada pela origem geográfica das mesmas. O fator que controla o início e o término da estação de reprodução nos ovinos é a variação entre as horas diárias de luz e de escuridão (fotoperíodo), através do estímulo exercido sobre a hipófise. O decréscimo da luminosidade, além de aumentar a fertilidade das ovelhas, estimula o desejo sexual e ativa a produção espermática dos carneiros. Na Figura 1, é apresentada a curva teórica de fertilidade das raças produtoras de lã no Rio Grande do Sul. Observa-se que, no momento em que a curva de luminosidade está começando sua ascensão, em julho (a), a curva de fertilidade decresce. Quando o incremento das horas diárias de luz é muito acentuado, (agosto – setembro), as ovelhas paralisam a atividade sexual (b). Ao contrário, de março a OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO maio, quando é intensa a diminuição da luminosidade, a fertilidade atinge seu ponto máximo (c). Figura 1. Curva da fertilidade de ovelhas no Rio grande do Sul, Brasil, em função da luminosidade. 6. Informações fisiológicas sobre ovinos 6.1. Zona de termoneutralidade Temperatura crítica inferior: -15ºC a + 5ºC Temperatura crítica superior: 40ºC 6.2. Temperatura corporal (retal) Ovinos com mais de um ano de idade: 38,5 a 40ºC Ovinos até um ano de idade: 38,5 a 40,5ºC 6.3. Freqüência respiratória Normal: 12 a 20 movimentos/minuto Sob altas temperaturas: 400 movimentos/ minuto O estresse térmico (câmara climática) aumenta a freqüência respiratória e a radiação solar direta aumenta a taxa de sudorese. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 6.4. Valores fisiológicos normais do sangue da espécie ovina Tabela 2. Valores fisiológicos normais do sangue da espécie ovina. Valor de referência Hemácias (106/mm3) 8 a 16 Hemoglobina (g/100mL) 8 a 16 Hematócrito (%) 24 a 50 Leucócitos (103/mm3) 4 a 12 Basófilos (%) 0 a 3 Eosinófilos (%) 1 a 10 Neutrófilos Bastonetes (%) 0 a 2 Neutrófilos Segmentados (%) 10 a 50 Linfócitos 40 a 75 Monócitos 1 a 6 7. Solo, Topografia e Qualidade das Pastagens O solo tem fundamental importância tanto na quantidade como na qualidade das pastagens. A sua composição química deve reunir os elementos indispensáveis ao desenvolvimento das plantas que serão ingeridas pelos ovinos. Os solos arenosos são geralmente secos, muito permeáveis à água e, por isso, incapazes de fixarem os elementos minerais. Neles, a vegetação é pouco variada e de baixo valor nutritivo. São chamados campos pobres, onde não é possível criar raças especializadas para carne ou de dupla aptidão (carne e lã), mas somente raças pouco exigentes e produtoras de lã fina, como a Merino Australiano e a Ideal. Solos de topografia acidentada, com pequenas camadas de terra arável, por serem pouco profundos, dificilmente permitem o estabelecimento de pastagens cultivadas, apesar da relativa fertilidade. Nesses campos, adaptam-se bem os ovinos de porte pequeno e médio, especialmente os de raça Merino, que são pouco exigentes nutricionalmente, mas sensíveis à umidade. Os solos argilosos, de um modo geral, são profundos, pouco permeáveis, porém com maior fertilidade. A vegetação predominante é de maior valor nutritivo, OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO bastante variada e densa, permitindo o cultivo de forrageiras e a criação de raças de dupla aptidão e as especializadas na produção de carne. A topografia deve permitir o fácil escoamento das águas de chuva e um certo abrigo contra ventos frios. Os solos baixos, pouco permeáveis não são indicados, favorecendo as afecções dos cascos e as infestações parasitárias dos ovinos. II. PRINCIPAIS RAÇAS OVINAS Este capítulo foi extraído de Carvalho (2001). As fotos de animais de cada raça se encontram, em anexo, no final da apostila. 1. Raças especializadas na produção de lã fina 1.1. Merino Australiano Raça que apresenta lã de excelentequalidade e elevado valor econômico, destinada à fabricação de tecidos finos. Adapta-se perfeitamente às condições de alta temperatura e vegetação pobre em vista de seu pequeno porte e velo muito fino e denso, que funciona como verdadeiro isolante térmico. Não tolera, todavia, umidade excessiva. Em termos teóricos, teria 70% de potencial para produzir lã e 30% para carne. A lã atinge, via de regra, as classes merina e amerinada. 1.2. Ideal ou Polwarth Originária da Austrália, a raça Ideal possui em sua formação ¾ de sangue Merino Australiano e ¼ de sangue Lincoln, raça inglesa de grande porte e de lã grossa. O trabalho de seleção efetuado pelos Australianos deu como resultado uma raça com excelente capacidade para produzir lã, aliada à produção de carcaça com desenvolvimento satisfatório. A lã é um pouco mais grossa que a da raça Merino Australiano, em decorrência da infusão de sangue Lincoln, conservando, no entanto, excelente qualidade em termos de classificação, enquadrando-se, basicamente, nas classes prima A e prima B. A raça Ideal apresenta 60% de potencial para lã e 40% para carne. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 2. Raças Mistas 2.1. Corriedale Raça mista por excelência (50% de potencial para lã e 50% de potencial para carne). Foi formada na Nova Zelândia, também a partir das Raças Merino Australiano e Lincoln, possuindo, porém, ½ sangue de cada. Em vista disto, sua lã se apresenta mais grossa que a da raça ideal (classificada como cruzadas 1 ou 2). Um pouco mais exigente que as raças anteriormente referidas, adapta-se bem, todavia, ao regime extensivo de exploração. É um fato natural que, à medida que aumenta o tamanho do animal, estarão se elevando, paralelamente, seus requerimentos nutritivos. 2.2. Romney Marsh Originária da Inglaterra, caracteriza-se pela produção de lã bastante grossa (predominantemente cruzas de 3 e 4) e boa aptidão para a produção de carne. Um aspecto que cabe salientar, diz respeito a sua adaptabilidade a solos mais úmidos, tendo em vista que sua região de origem é baixa e tem bastante umidade. Exige, porém, melhor nível nutricional que as raças já citadas. Apresenta 40% de potencial para produção de lã e 60% para produção de carne. 3. Raças especializadas na produção de carne Este grupo é sabidamente mais exigente em termos nutricionais e de ambiente em geral, adaptando-se melhor às criações mais intensificadas, como no caso das pequenas propriedades. Nestas, em virtude da impossibilidade de se trabalhar com grandes rebanhos, o retorno econômico propiciado pela lã não seria tão significativo. 3.1. Ile de France Originária da França, foi formada através de cruzamentos de raças inglesas com Merino Rambonillet. Foi introduzida no Brasil por volta de 1973 e teve uma boa OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO aceitação em virtude de produzir lã de melhor qualidade, em relação às demais raças de carne. São animais de grande porte, com bom desenvolvimento de massa muscular nas regiões nobres (pernil, lombo e paleta). As fêmeas apresentam altos índices de fertilidade e prolificidade, com média de 1,40 a 1,70 cordeiros por parto. Os cordeiros são bastante precoces, apresentando ótimo ganho de peso, o que propicia a obtenção de carcaças de boa qualidade. 3.2. Hampshire Down Raça originária do Sul da Inglaterra através de cruzamentos entre carneiros Wiltshire e Berkshire. Também pertence ao grupo dos “Cara Negra” e expandiu-se bastante em determinadas regiões do Brasil, tendo se adaptado bem dentro das condições de meio ambiente já comentadas. Possui grande capacidade para produção de carne de excelente qualidade. 3.3. Poll Dorset Raça introduzida recentemente no Brasil por uma cabanha paulista, no ano de 1991. É uma raça de carne, originária da Austrália. Em sua formação, entraram principalmente as raças Ideal, Dorset Horn e Poll Merino. Embora de origem Australiana, os melhores rebanhos são Neozelandeses, os quais sofreram um grande melhoramento para produção de carne. Suas principais aptidões são a produção de carne de excelente qualidade, velo sem fibras meduladas e pigmentadas e não estacionalidade de cio, sendo essa uma característica ainda não testada em condições brasileiras. 3.4. Texel De origem Holandesa, foi introduzida no Brasil por volta de 1972. São animais que, também, apresentam lã branca e, por isso, são muito utilizados no cruzamento industrial com matrizes laneiras ou mistas. São animais bastante precoces, caracterizando-se pela produção de carcaças de boa qualidade, com baixo teor de gordura. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 3.5. Suffolk Raça originária da Inglaterra através de cruzamentos entre ovelhas Norfolk (animais nativos da região sudeste da Inglaterra) com carneiros da raça Southdown. Foi aceita como raça a partir de 1859. Pertence ao grupo dos “Cara Negra”, apresentando cabeça e membros totalmente desprovidos de lã e cobertos por pelos negros. Adaptou-se bem ao Brasil, sendo criada nas mais diferentes regiões. As fêmeas têm boa habilidade materna, com grande produção leiteira, permitindo alimentar bem mais de um cordeiro. São animais bastante precoces, produzindo carcaças magras e de boa qualidade. 4. Raças deslanadas As raças deslanadas se apresentam como alternativa para regiões onde não é conveniente a exploração da lã, como, por exemplo, regiões de vegetação inadequada ou com carência de mão-de-obra para tosquia. Destacam como produtoras de pele de ótima qualidade, sendo que em São Paulo estão representadas principalmente pelas raças Santa Inês e Morada Nova. 4.1. Morada Nova Raça nativa do Nordeste, resultante possivelmente de seleção natural e recombinação de fatores em ovinos Bordeleiros e Churros trazidos pelos colonizadores portugueses. A ação continuada do ambiente quente e seco do Nordeste promoveu a perda da lã e a adaptação do animal. Apresenta pelagem vermelha ou branca. São animais bastante rústicos, que se adaptam às regiões mais áridas, desempenhando importantes funções sociais. Produzem carne e, principalmente, peles de ótima qualidade, são ovelhas muito prolíferas. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 4.2. Santa Inês Existem muitas hipóteses em relação à origem da raça Santa Inês, como a que diz que esta é o resultado do cruzamento entre as raças Bergamácia (raça italiana) e Morada Nova; e a que cita a descendência de ovelhas africanas, trazidas pelos escravos negros. O Santa Inês é um ovino de grande porte, produzindo boas carcaças e peles fortes e resistentes. As fêmeas são ótimas criadeiras, parindo cordeiros vigorosos, com freqüentes partos duplos e apresentando excelente capacidade leiteira. A raça é caracterizada por quatro pelagens: branca, chitada, vermelha ou marrom e preta. III. SISTEMA DE PRODUÇÃO Este capítulo foi extraído de.Carvalho et al. (2001). Sendo o ovino ruminante, o mesmo é capaz de transformar as forragens inviáveis para consumo humano em proteína animal de elevado valor biológico. O mais indicado para a sua criação é explorar os recursos pastoris, principalmente se levarmos em consideração o clima extremamente propício ao desenvolvimento das forrageiras em nosso País. Em São Paulo, o sistema de produção que apresenta maior eficiência em pasto é aquele que visa a obtenção dos principais produtosoriundos da ovelha: carne, lã e pele. Esta eficiência é obtida quando se realiza o cruzamento industrial, ou seja, ovelhas de raça de lãs, mistas ou deslanadas são cobertas por carneiros de raça de carne. A lã de boa qualidade seria produzida pelas ovelhas. Todos os cordeiros ½ sangue, independentemente do sexo, seriam abatidos após desmame e terminação, originando carcaças de boa qualidade. A prática deste sistema de produção possibilitará a existência de, no mínimo, três tipos de criadores: • Os cabanheiros de raças mistas, que se encarregariam de produzir reprodutores melhoradores para rebanhos comerciais; • Os cabanheiros de raças de carne, encarregados de produzir reprodutores tipo carne para utilização nos rebanhos comerciais; OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO • O criador comercial de rebanho base de raça mista, adquirindo reprodutores submetidos a constante processo de seleção e melhoramento. Mais uma opção em termos de sistema de produção seria o ovinocultor especializado em engordar cordeiros e/ou borregos para abate, seja em pastagem ou mesmo em confinamento. A escolha de um ou outro tipo de criação depende da área disponível, das condições ambientais como um todo e da aptidão do criador. IV. INSTALAÇÕES PARA OVINOS Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993). O manejo dos ovinos pode ser considerado simples, quando se puder dispor de mão-de-obra habilitada e infra-estrutura adequada. As instalações necessárias para o perfeito manejo dos animais não são complexas, devendo, no entanto, ser planejadas dentro de padrões específicos. Os principais componentes da estrutura necessária à implantação de uma ovinocultura serão descritos a seguir. 1. Pastagens Como já dissemos, o ovino é um ruminante. Portanto, a pastagem é, sem dúvida, o primeiro fator a ser analisado. Antes de tudo, deve-se ter conhecimento, através de uma análise, das necessidades do solo, sabendo-se que são comuns a deficiência de fósforo, elevado teor de alumínio (tóxico para as plantas) e o baixo pH (acidez). A ovelha não tolera pastagens muito altas. Esta condição é altamente estressante à espécie, que tem por hábito o convívio comunitário e a busca das partes mais baixas do capim. Por isso, depois de corrigir o solo, é recomendável formar pastagens com gramíneas de crescimento rasteiro. O manejo das pastagens é muito importante. Deve-se levar em conta o comportamento do capim, a época do ano, o microclima da região e também o comportamento animal. A subdivisão em piquetes vai depender muito do espaço disponível. Em áreas pequenas não se recomendam muitas subdivisões, em função de alta concentração de animais em espaços reduzidos, provocando elevado índice de reinfestação parasitária. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Para calculo de lotação trabalha-se com unidade animal (U.A), sabendo-se que uma vaca equivale a 1 U.A e um ovino adulto a 0,2 U.A Sendo assim se, por exemplo, uma pastagem suportar 2 U.A por hectare equivaleria a 2 vacas ou 1 vaca e 5 ovelhas. Outros aspectos importantes na pastagem estão relacionados à drenagem e sombreamento. Os pastos devem ser isentos de alagadiços e áreas inundadas. A falta de sombra na pastagem é fator limitante para a reprodução. O estresse térmico provoca em ovelhas no inicio de gestação a reabsorção do embrião, e nos reprodutores a má qualidade do sêmen. Isto coloca em risco toda reprodução de cordeiros em um ano. Daí a importância da arborização dos pastos ou dos bosques naturais e artificiais para a proteção contra os ventos e, principalmente, radiação solar. A proporção dos bosques é de 0,5 hectare para cada 500 ovelhas. 2. Cercas Figura 2. Modelo de cerca para ovinos (medidas em centímetros) As cercas para ovinos devem ser construídas com 6 á 7 fios de arame liso, mourões com espaçamentos de 10 metros e 4 a 5 tramas nos meios. O 1º fio de arame deve ficar a 10 cm do solo. O 2º e o 3º fios devem distanciar 15 cm entre si e em relação ao 1º. Entre o 3º e o 4º fios o espaço deve ser de 25 cm e entre o 4º, 5º e o 6º fios de 30 cm, dando uma altura total de 1,30 m que servirá também para manter animais de grande porte. No entanto, se a propriedade já possuir cercas para bovinos, mesmo de arame farpado, basta acrescentar 2 ou 3 fios nos espaços inferiores. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO A cerca elétrica pode ser utilizada na subdivisão de pasto. Neste caso são 2 fios, um a 10 e outro a 20 cm do solo. 2.1. Cercas de arame farpado Este material só é utilizado para ovinos deslanados, explorados para produção exclusiva de carne. Deve ser construída com seis fios, com o seguinte espaçamento a partir do solo: 1º fio – 5 cm 2º fio – 10 cm 3º fio – 15 cm 4º fio – 15 cm 5º fio – 20 cm 6º fio – 25 cm Total – 90 cm de altura Em locais onde há consorciação com eqüinos e bovinos, a altura da cerca será dimensionada em função destes, podendo-se construí-la de arame farpado, colocando-se arame liso galvanizado apenas nos vãos inferiores. 2.2. Cercas de arame liso É o mais utilizado. Geralmente usamos fio ovalado, galvanizado, nº 15/17 (1000 m/ 15 Kg). Espaçamento dos fios: 2.2.1.Cerca de 5 fios: 1º fio – 10 cm 2º fio – 15 cm 3º fio – 20 cm 4º fio – 25 cm 5º fio – 25 cm Total – 95 cm de altura OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 2.2.2. Cerca de 6 fios: 1º fio – 10 cm 2º fio – 15 cm 3º fio – 20 cm 4º fio – 25 cm 5º fio – 30 cm 6º fio – 30 cm Total – 1,30 m de altura (Atendendo não só aos ovinos, como também aos bovinos e eqüinos). 3. Centro de Manejo Como o próprio nome diz, esta indispensável instalação centraliza, funcionalmente, todas as práticas com o rebanho (Figura 3). É composto de: • Mangueiras: têm a finalidade de facilitar a repartição do rebanho nas várias categorias desejadas, de modo de a caber um numero razoável de uma soa vez. Podem ser feitas de tábuas de madeira ou outro material que a substitua, numa altura de 1 metro. Considerar 1m2/ animal • Tronco de contensão (Figura 4): preferencialmente de tábua, deve ter 90 cm de altura, e de 6 a 12 m de comprimento, abertura superior a 50cm inferior a 30 cm. Outro modelo é o tronco no sistema australiano, em que a largura é maior e no qual se enfileiram vários animais sendo que o tratador caminha entre eles. • Pedilúvio: Para tal, pode ser aproveitado o piso do tronco ou ainda uma mangueira menor, com profundidade de 10 cm. Requer atenção para não deixar bordas que permitam que o animal deixe os cascos fora da solução. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Figura 3. Planta baixa do centro de manejo. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Figura 4. Vista frontal do tronco de contenção • Banheiro anti-sárnico (Figura 5): para controlar as parasitoses externas do ovino (basicamente, sarna e piolho). Esta é a parte mais cara do centro de manejo,mas indispensável para aquelas criações onde a lã tem representatividade importante em termos econômicos. O tanque de imersão, em concreto, deve ter 60cm de largura, 1,20m de profundidade e no mínimo 8m de comprimento, com rampade saída iniciando- se 4m após a entrada. Estas medidas não devem ser superiores se não houver pretensão de expandir o rebanho, uma vez que o excesso do produto utilizado torna a prática de alto custo. Ao final da rampa de saída deverá haver dois currais cimentados denominados escorredouros, com a finalidade de retornar à banheira parte da solução absorvida pela lã, após a passagem por uma caixa de decantação. Figura 5. Vista lateral da banheira e pedilúvio OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO • Local de tosquia: pode ser usado um barracão já existente na propriedade, ou mesmo uma mangueira do centro de manejo, desde que tenha piso cimentado, cobertura e energia elétrica. • Cobertura: deverá cobrir essencialmente o tronco de contenção, a banheira anti- sárnica e escorredouros, além do local para tosquia. 4. Cabanha Trata-se de uma instalação com piso ripado, elevada do solo, que tem por finalidade principal abrigar reprodutores, animais de exposição e de alto nível. Portanto é dispensável nas criações comerciais. É conveniente que nas cabanhas destinadas a abrigar reprodutores de raças de carne não se use o piso ripado em função dos problemas de aprumo que podem causar. 5. Cochos Os cochos são usados basicamente para o fornecimento de sal mineral e rações . No campo, os cochos de sal podem seguir vários modelos, assim como os de gado, mas em menores proporções. Podem ser constituídos de qualquer material que não contamine o produto fornecido, como madeira, fibra e cimento. Os cochos de sal devem ser de fácil manipulação, podendo-se transporta-los de um piquete para outro, conforme o uso. A cobertura é importante para evitar que o sal seja molhado em dias de chuva. Ao contrário do sal, os cochos para rações devem ter medidas mínimas para atender a todos animais que, depois de acostumados, procuram a dieta avidamente. Estes são usados mais especificamente nas cabanhas ou nos confinamentos. Os cochos para confinamento devem oferecer de 10 a 15cm/cabeça, no caso de cordeiros, e de 25 a 30 cm/cabeça, para os animais adultos. As outras medidas podem variar em torno de 30 cm para a largura, 20 a 25 cm para a profundidade e 15 a 30 cm distantes do solo, conforme a categoria. Tambores serrados ao meio funcionam bem para oferecer alimentos no pasto, como silagens. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO As manjedouras para fornecimento de capins e fenos seguem as medidas de 10 cm entre ripas verticais de 5 cm, saindo de um ângulo de 45º. As telas, como as de alambrado, também funcionam na substituição das ripas de madeira. Na cabanha, as manjedouras construídas sobre o cocho permitem um maior aproveitamento do volumoso. 6. Bebedouros A água pode ser fornecida em caixas de alvenaria providas de bóia, ou recipientes de fácil manutenção e limpeza. Nas cabanhas, o sistema em que cada baia apresenta seu bebedouro, onde todos são alimentados por uma única caixa provida de bóia, é o mais recomendável pela eficiência de manutenção e limpeza. 7. Equipamentos São poucos os equipamentos necessários para a ovinocultura. De modo geral, eles não são muito diferentes dos utilizados para bovinos e eqüinos. São eles: tesoura para corte de lã (martelo), tesoura para aparo dos cascos, pistola de vermifugação e vacinação, tatuador ou alicate para brincos, ripado de madeira para tosquia, seringas, agulhas, e outros. V. PASTAGENS PARA OVINOS Este capítulo foi extraído de.Sobrinho (1993) e Cunha et al. (1999). 1. Introdução A produção de ovinos de corte se apresenta como uma boa opção de atividade econômica aos pecuaristas, embora essa atividade agropecuária sempre teve a sua imagem ligada à produção de lã. Todavia essa associação vem sofrendo uma mudança acentuada, seja em função dos baixos preços alcançados pela lã, tanto no mercado interno como externo, seja pelo crescente aumento na demanda OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO da carne ovina, mais especificamente pela carne de cordeiro. Em face disso os criadores têm procurado direcionar a criação neste sentido. Em São Paulo, nos últimos anos tem-se verificado não só um aumento no efetivo dos rebanhos, mas também no número de propriedades envolvidas nessa atividade. Apesar de ainda não estar definitivamente estabelecido, nem adequadamente dimensionado, o mercado de carne ovina vem apresentando crescimento inconteste, o que se reflete nos preços relativamente altos observados em nível de mercado consumidor. Essa maior demanda, todavia, é específica para carcaças de boa qualidade, ou seja, com peso médio de 12 a 13 kg, provenientes de animais novos, com no máximo 120 dias de idade. Até essa idade, os animais mostram alta velocidade de crescimento e maior eficiência no aproveitamento de alimentos menos fibrosos que animais mais velhos, apresentando uma proporção significativamente maior do corte traseiro em relação ao dianteiro e costilhar e, ainda um nível adequado de gordura corporal, suficiente para propiciar uma leve cobertura da carcaça, protegendo-a contra a perda excessiva de umidade durante o processo de resfriamento e um mínimo de gordura intramuscular, a qual garante o paladar característico da carne ovina, o que aliado a pouca maturidade dos feixes musculares do animal jovem, garante um bom nível de maciez. Mesmo na região Sul do país, onde grande parte dos planteis possui na lã o objetivo maior da criação, se tem verificado uma maior preocupação na exploração mais intensiva da produção de carne. Para isso, utiliza-se reprodutores de raças com maior potencial para ganho de peso sobre os planteis já existentes de ovelhas de raças lanígeras (Corriedale, Ideal e Merino). Assim, busca-se a obtenção de cordeiros mais precoces e com melhor caracterização de carcaça, mantendo-se, ainda a produção de lã pelas matrizes. Na região sudeste tem-se tornado usual a utilização de matrizes comuns, sem raça definida, ou ainda de animais deslanados, notadamente da raça Santa Inês, mantidas em pastagens e cruzadas com reprodutores de raças de corte, Suffolk e Ile de France. As crias são amamentadas em pastagens exclusivas para matrizes com crias ao pé, sendo confinados do desmame ao abate. Em algumas criações adota-se o confinamento das mães e crias já a partir do nascimento, o que possibilita a adoção do desmame precoce aos 45 dias, o que resulta em níveis de ganho de peso bastante elevados, além de menor mortalidade de crias. Através desse sistema de criação, consegue-se animais com peso vivo entre 28 e 30 kg, considerado ideal para abate, com idades inferiores aos 120 dias. Para OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO tanto, o peso ao nascer deve estar em torno dos 3,5 kg com o desmame ocorrendo entre 45-60 dias, com os animais pesando entre 15 e 19 kg. Para tanto a expectativa de ganho diário de peso vivo irá aproximar-se de 280 e 240 g, respectivamente nos períodos de pré e pós desmame. Esses índices, todavia, não são obtidos unicamente pela utilização de bons reprodutores de raças de corte. Há ainda que se considerar vários outros pontos igualmente importantes tais como o nível alimentar e sanitário, tanto das matrizes como das crias, o uso de instalações adequadas e de técnicas corretas de manejo. Do ponto de vista econômico, vale frisar que o ganho do produtor depende, de um lado da maior disponibilidade de produtos de comercialização, ou seja, deve- se buscar obtermaior número possível de cordeiros por ano e por hectare de área utilizada para a produção de forragem (pastagem, campineira e para material para ensilagem), e de outro lado deve-se buscar o menor custo de produção possível, todavia sem prejuízo da qualidade. Dessa maneira para se obter resultados positivos na ovinocultura é preciso além do bom desempenho e qualidade individual dos cordeiros, ter-se ainda uma elevada disponibilidade de animais para abate, o que quer dizer, elevado número de cordeiros nascidos (eficiência reprodutiva) e desmamados (baixa mortalidade e alta aptidão materna) e, principalmente, um baixo custo de produção. A maior eficiência reprodutiva é obtida pela seleção rigorosa das matrizes dando-se preferência àquelas oriundas de parto múltiplo e descartando-se aquelas que apresentem idade à primeira cobertura e intervalo entre partos superiores há 12 meses. Deve-se buscar ainda peso ao nascer igual ou superior a 3,0 kg e peso ao desmame igual ou superior a 15,0 ou 19,0 kg, respectivamente aos 45 ou 60 dias de idade. Também um bom manejo reprodutivo e nutricional, como a realização do “flushing” e o uso de adequado nível nutricional no terço final da gestão, devem receber especial atenção, de forma a se trabalhar com índices de fertilidade e prolificidade acima dos 85% e 150% respectivamente. A maior disponibilidade de cordeiros para abate é obtida ainda com a diminuição da mortalidade das crias, resultado da utilização de esquemas de manejo sanitário e técnicas criatórias adequadas, incluindo a vacinação preventiva, seleção de fêmeas com maior habilidade materna e a adoção de práticas cuidadosas de manejo das crias, desde o parto até o abate. Já a diminuição do custo de produção depende das medidas anteriores e, mais ainda da produção de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas a OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO baixo custo. Para isso, a base da alimentação deve ser constituída de volumosos de boa qualidade, ou seja, de alto valor nutritivo, o que quer dizer: alta concentração em nutrientes, alta digestibilidade e alta aceitabilidade pelos animais. 2. Princípios básicos Considerando-se as condições de clima e solo e ainda as características da estrutura e divisão fundiária predominantes na região Sudeste do Brasil, a utilização de pastagem formadas por forrageiras de elevada produtividade e bom valor nutritivo, utilizadas em regime de pastejo intensivo, mostra-se como uma das alternativas de maior interesse para a ovinocultura intensiva. É importante ressaltar que as ovelhas em fase final de gestação, principalmente aquelas com crias múltiplas no ventre, apresentam altos níveis de exigência nutricional, o que quer dizer, necessidade do aporte de quantidades consideráveis de proteína, energia, minerais e vitaminas. Pastagem com elevada disponibilidade de forragens de alto valor nutritivo podem suprir a totalidade de nutrientes necessários, tanto à manutenção corporal das matrizes como às demandas da gestação. Já em condições de pastagens mais fracas, seja em termos de disponibilidade de matéria seca (MS) ou baixa qualidade da espécie forrageira predominante no pasto, há necessidade de suplementação alimentar de forma a se fornecer, em quantidade e qualidade, os nutrientes que a pastagem não consegue suprir. Nessas condições é necessária a utilização excessiva de concentrados na alimentação das matrizes, o que eleva significativamente o custo de produção e pode comprometer a viabilidade econômica da atividade. A obtenção de boas pastagens para a utilização com ovinos depende do atendimento de alguns pontos básicos: • Uso de forrageiras produtivas e de elevado valor nutritivo, ou seja, com alta aceitabilidade pelos ovinos, elevada concentração em nutrientes (energia proteína, minerais e vitaminas) e boa digestibilidade. • A utilização de gramíneas de porte médio a baixo, com altura inferior a 1,0 m, são mais adequadas ao comportamento dos ovinos em pastejo. • Manutenção de níveis de fertilidade de solo adequados às exigências da forrageira utilizada, com reposição dos nutrientes removidos pelo pastejo e lixiviação através de adubações em épocas estratégicas. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO • Adoção do sistema de pastejo rotacionado como forma de melhorar e uniformizar a utilização da forragem e, principalmente, diminuir o nível de infestação por lavas de helmintos (endoparasitos). • Diversificação das forrageiras utilizadas, seja pelo uso da consorciação com leguminosas ou pela formação de áreas com gramíneas diversas, em pastos exclusivos, garantindo a diversificação dos nutrientes disponíveis e aumentando o nível de ingestão de matéria seca pela variação da dieta. Isto resulta ainda em maior segurança em termos de problemas de ordem climática (secas e geadas) e fitossanitárias (pragas e doenças), em função da diferenciação das características e potencialidades das diversas forrageiras. • Uso preferencial de espécies de hábito de crescimento cespitoso (porte ereto), que em função da sua arquitetura, favorecem a inativação de larvas e ovos de helmintos (endoparasitos), em razão de permitirem uma maior insolação (dessecação das larvas pela diminuição da umidade e ação de radiação ultravioleta). 3. Hábitos de pastejo do ovino O ovino, de maneira geral, pasteja preferencialmente gramíneas, promovendo corte uniforme e baixo da vegetação, à medida que percorre a pastagem. No entanto, o deslanado tende a apresentar um comportamento algo semelhante ao do caprino, ingerindo uma quantia considerável de ramas e folhas, promovendo um pastejo mais seletivo e menos uniforme. O consórcio de ovino com bovino levaria à melhor utilização da pastagem, visto que o ovino pasta mais baixo, consumindo a forragem que o bovino não conseguiria aproveitar. Outro aspecto importante do comportamento dos ovinos em pastagem é o fato de não entrarem em pastagens altas (acima de sua altura). Nessa situação, o plantel tende a permanecer perifericamente, penetrando na pastagem somente após o rebaixamento da mesma, através do pastejo ou pisoteio por bovinos ou roçadeiras. A produção animal em pastagens caracteriza-se, hoje, pelo baixo nível tecnológico, trazendo como conseqüência uma produtividade insatisfatória, verificada em muitas áreas ocupadas pela pecuária. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Na nutrição animal, a quantidade ingerida de alimentos tem importância fundamental, visto ser um dos fatores determinantes da maior ou menor disponibilidade de nutrientes para os processos fisiológicos do animal, e conseqüentemente, ao seu desempenho. O valor nutritivo, por sua vez, depende não apenas da composição química, como também da digestibilidade da gramínea, que diminui à medida que a planta avança seu processo de maturação, cujo ápice coincide com a seca invernal, época em que há também, paralisação quase que total do crescimento. Esta estacionalidade da produção forrageira é um dos principais problemas a se solucionar no sistema de exploração de ovinos a pasto. Quanto à capacidade de consumo do animal, considera-se que é regida pelos seguintes fatores: - Palatabilidade da forrageira; - Velocidade de passagem pelo tubo digestivo; - Efeito do ambiente sobre o animal; - Quantidade de forragem disponível. Ovinos apresentam hábitos alimentares diferentes, em alguns aspectos, dos de bovinos. Alguns são decorrentes da própria anatomia, como é o caso da possibilidade de pastejo rente ao solo, em razão dos lábios superiores fendidose bastante móveis, o que possibilita extrema habilidade na apreensão de partes selecionadas das forragens, dada a possibilidade de utilização dos lábios, dentes e língua. No caso dos bovinos, os lábios são rijos e de pouca mobilidade, sendo a língua o principal instrumento de apreensão, trazendo os alimentos para dentro da boca, para serem cortados pela ação dos dentes contra a almofada dentária. Dessa maneira, os bovinos têm maior dificuldade na apreensão das partes menores das forragens, o que impossibilita seleção tão eficiente dos alimentos, quanto a seleção feita por ovinos. Em termos práticos, devidos a esta seletividade exercida pelo ovino, não é conveniente estabelecer pastagens com diferentes espécies de gramíneas, pois a tendência seria a degradação paulatina daquela que fosse mais palatável. A maneira correta seria escolher uma gramínea sabidamente recomendada, levando- se em consideração sua adaptabilidade às condições de solo e clima da região, além de um manejo adequado ao hábito alimentar do animal, levando-se em conta a altura e a densidade da gramínea, de maneira que o animal consiga suprir sua capacidade máxima de ingestão no menor espaço de tempo possível. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos A produção forrageira sofre estacionalidade que, muitas vezes, pode coincidir com fases em que as exigências nutricionais dos ovinos são altas. Uma maneira de amenizar este problema poderá ser adotando-se técnicas de conservação de forragens (silagem e/ou fenação), que permitem armazenar as sobras da época de máxima produção das pastagens, para suprir as deficiências da fase de seca invernal. Outra maneira seria, conhecendo-se as necessidades nutricionais das diferentes categorias ovinas, ajustar as fases do ciclo produtivo à disponibilidade de forragem, apesar de não se conseguir, assim, resolver completamente o problema. No período pós-desmama, a ovelha é relativamente tolerante às restrições alimentares moderadas, pois se encontra livre de lactação. Por isso, quando as boas pastagens são escassas, deve-se aproveitá-las com os cordeiros desmamados, para que o estresse da desmama não seja tão acentuado. Duas a três semanas antes do início e duração do encarneiramento, deve-se melhorar o nível nutricional, para que a ovelha seja fecundada com ganho de peso positivo, prática denominada “flushing”. 4.1. Sazonalidade da produção de pastagens No estado de São Paulo, as condições climáticas determinam a existência, no ano, de duas estações bem distintas: a das chuvas e calor (fim da primavera, verão e início de outono), com chuvas concentradas e temperaturas elevadas; e a das seca (fim do outono, inverno e início da primavera), com poucas chuvas e temperaturas baixas. Essas duas estações determinam, nas espécies forrageiras, um ritmo de crescimento bastante intenso na estação das águas, em confronto com baixas taxas de crescimento no período seco. Dessa maneira, considerando-se que o plantel tende a permanecer estável durante o ano, teremos a ocorrência de excedentes de produção nas águas e déficit na seca. Esse problema poderá ser contornado com a utilização de processos de conservação de forragem (feno ou silagem) para emprego posterior. A escolha do método deve considerar o tipo de forrageira e de maquinário disponíveis. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Outra maneira seria a produção de forrageiras de inverno, como aveia, azevém ou centeio, embora apresentem maiores custos e riscos (secas e geadas). 5. Forrageiras mais indicadas Os ovinos têm por habito pastejar preferencialmente o topo das plantas, rebaixando a altura da pastagem pouco a pouco, como se estivesse retirando a forragem em camadas. Todavia em função da anatomia bucal, caracterizada pela extrema mobilidade dos lábios e pela forma de apreensão do alimento com uso de lábios, dentes e língua, conseguem ser bastante eficientes na separação e escolha do alimento a ser ingerido, conseguindo apreender, com facilidade, partes específicas da forragem mesmo as de menor tamanho. Isso possibilita ao animal, quando em pastejo, escolher as partes mais tenras e palatáveis da planta, rejeitando as fibrosas e portanto de menor valor nutritivo. Dessa maneira os ovinos conseguem realizar o pastejo bastante seletivo e rente ao solo. Em função disso as forrageiras mais indicais são aquelas que suportem o manejo baixo, apresentem intensa capacidade de rebrota através das gemas basais e que possuem sistema radicular bem desenvolvido garantindo boa fixação ao solo O ovino mostra acentuada preferência por forrageiras de porte médio a baixo. Em pastagens com plantas de porte mais elevado, com altura acima de1,0 metro, os animais tendem a explorar mais intensivamente as áreas marginais, resultando em sub-aproveitamento da forragem das áreas centrais. Outra característica típica é o comportamento extremamente gregário apresentado pela espécie, que dificilmente explora a pastagem isoladamente, movimentando-se sempre em grupos. Em face disto, quando em pastagens de porte mais alto, que dificultam a visualização entre os animais do rebanho, os ovinos tendem apresentar intensa movimentação pela área, mostrando maior preocupação em se manterem próximos aos demais, o que prejudica o nível de ingestão de alimento e resulta em aumento de perdas por acamamento devido ao pisoteio excessivo. Tomando-se em conta somente esses aspectos, as forrageiras mais indicadas seriam aquelas de hábito estolonífero (prostrado), tais como Coast Cross, Tiftons e Estrelas (gênero Cynodon), Pangola (gênero Digitaria), Pensacola (gênero Paspalum). Estas gramíneas atendem relativamente bem às exigências da espécie e seus hábitos de pastejo peculiares, no entanto e apesar de serem as mais utilizadas atualmente com ovinos, apresentam dois pontos bastante negativos: a maioria OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO apresenta propagação por mudas, o que dificulta e encarece a formação de áreas maiores de pastagens e, mais importante, em função do hábito de crescimento prostrado formam uma massa vegetal fechada que, mesmo quando rebaixada, impede a penetração mais intensa da radiação solar e mantém um microclima favorável a sobrevivência das larvas dos helmintos. Isso dificulta o controle de verminose, principal problema sanitário para os ovinos, sendo essa tanto maior quanto maior a lotação das pastagens, podendo chegar a inviabilização da atividade. Em face disso e em determinadas circunstâncias, essas forrageiras começam a ser preteridas por alguns criadores. Outras forrageiras, normalmente utilizadas em pastagens para bovinos, tem sua utilização dificultada para ovinos por apresentar porte excessivamente elevado ou por não tolerarem o pastejo rente ao solo e pisoteio intensivo promovido pelo ovino. Nesse grupo estão incluídas a maioria das gramíneas dos gêneros Panicum (colonião), Chloris (Rhodes) e Setaria, que ainda tem o agravante da baixa aceitabilidade. As gramíneas do gênero Brachiaria, apesar da vantagem de propagação por semente e da acentuada persistência e rusticidade, apresentam problemas de baixo valor nutritivo, limitando a sua utilização àquelas categorias de menor exigência nutricional. Alem disso, em função do habito de crescimento prostrado, dificultam o controle da verminose. Esses aspectos são ainda agravados pela maior possibilidade de ocorrência de fotossensibilização em ovelhas paridas e animais mantidos exclusivamente sobre essa forrageira.Uma das alternativas que tem mostrado melhores resultados é o capim Aruana (Panicum maximum cv. Aruana) que apresenta as seguintes características: • Cultivar do “colonião”, selecionado no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa; • Elevado valor nutritivo e excelente aceitabilidade pelos animais; • Alta produtividade de forragem, variando de 18 a 21 toneladas. de matéria seca (MS)/ha/ano, com 35 a 40% dessa produção ocorrendo no inverno (período seco do ano); • Porte médio, atingindo aproximadamente 80 a100 cm de altura; • Grande capacidade e rapidez de perfilhamento, com grande numero de gemas basais, rebrotando após cada ciclo de pastejo. • Boa capacidade de ocupação da área de pasto, não deixando áreas de solo descobertas, o que evita o praguejamento e auxilia no controle de erosão; • Propagação por sementes (formação mais fácil, rápida e de menor custo); OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO • Boa produção de sementes, garantindo o restabelecimento rápido da pastagem em caso de necessidade de recuperação (após eventuais “acidentes”, como queima e geadas, ou degradação por falha de manejo); • Boa tolerância ao pastejo baixo (rente ao solo) promovido pelo ovino, o que possibilita a adoção dessa técnica de manejo como parte estratégica no controle de parasitas (helmintos), promovendo a exposição de larvas às intempéries climáticas (radiação solar e vento); • Arquitetura foliar ereta e aberta, típica das forragens cespitosas (em touceiras), que propicia uma maior incidência de radiação solar e maior ventilação dentro do perfil da pastagem. Isso força a migração das larvas para a base do capim logo às primeiras horas da manhã, após a secagem do orvalho, favorecendo o controle da verminose: e • Mostrou-se relativamente tolerante às geadas e ao ataque de cigarrinha. Outra alternativa de interesse é o capim Tanzânia, também cultivar de Panicum maximum, que apresenta algumas características semelhantes ao Aruana, apresentando, todavia, porte um pouco mais elevado e capacidade de perfilhamento um pouco menor (menor quantidade de gemas basais). Essas forrageiras, em função do habito de crescimento cespitoso, apresentam um manejo mais complexo que aquelas de habito prostrado. No entanto, o ganho em desempenho e, principalmente, o aspecto favorável com relação ao controle da verminose, justificam a sua indicação como forrageiras ideais para os ovinos, prestando-se tanto para pastejo como para fenação (ou silagem). 5.1. O emprego do capim Aruana em Nova Odessa (IZ) Durante todo o período em que o Aruana está sendo utilizado na unidade de ovinos em Nova Odessa (SP), tem-se procurado avaliar anualmente a sua produtividade e comportamento sob pastejo, obtendo-se valores médios da ordem de 18 a 21 toneladas. de MS/ha/ano. A boa qualidade da forragem vem sendo atestada pelo excelente desempenho obtido com fêmeas ovinas das raças lle de France e Suffolk, em gestação ou em crescimento. A área de pastagem utilizada é subdividida em cinco piquetes, possibilitando um manejo rotacionado no qual cada pasto é utilizado por um período de 9 a 15 dias (no máximo), tendo um período de repouso de 40 a 60 dias, dependendo da OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO disponibilidade de forragem e da situação do “stand” da forrageira no piquete após cada ciclo de pastejo. No verão (período das chuvas) cada piquete é subdividido com auxilio de cerca eletrificada móvel, sendo movimentada em faixas, liberando-se 1/3 da pastagem a cada período de 3 a 5 dias. A elevada produtividade e alto valor nutritivo do Aruana é dependente de uma adequada reposição de nutrientes no solo, que é feita anualmente através da fertilização química com N, P, K e Ca, com base em análise de solo e, eventualmente, da forragem. A necessidade média de reposição tem sido de 50 kg/ha de fósforo e 30kg/ha de potássio. A correção da acidez do solo foi feita inicialmente na formação da pastagem, e, posteriormente, após 3 anos da formação da pastagem, com a distribuição de 2000kg/ha de calcário em área onde foi introduzida leguminosa (soja perene). A reposição de P, K e Ca é feita a lanço, normalmente no inicio do período das águas. A adubação nitrogenada correspondeu a 150 kg/ha de N, tendo sido utilizado o nitrocálcio ou sulfato de amônio como adubo nitrogenado. Dessa quantia, 100kg/ha foram distribuídos a lanço no final do período das águas e os outros 50kg/ha junto com restante da adubação (início do período das águas subseqüentes). Em razão desses aspectos, tem sido possível a utilização de lotações altas na pastagem, da ordem de 35 cabeças/ha/ano contra uma média de 12 a 20 cabeças/ha/ano, obtida pelos criadores com outras forrageiras. Além disso, foram realizadas somente de 5 a 6 aplicações/ano de anti-helmínticos contra 10 a 12 usualmente utilizadas pelos pecuaristas. Dessa maneira, o capim aruana mostra-se como uma excelente alternativa, senão a ideal, para o pastejo pelos ovinos, desde que em condições adequadas de manejo, solo e clima, podendo a sua utilização contribuir significativamente para que a ovinocultura se firme cada vez mais como alternativa de viabilização sócio- econômica para a pequena e media propriedade rural no Estado. 6. Consorciação de gramíneas com leguminosas Outra alternativa a ser considerada na busca de pastagens mais produtivas é a utilização da consorciação de gramíneas com leguminosas forrageiras. Essa prática melhora o valor nutritivo da forragem disponível na pastagem, além de diminuir a quantidade de adubo necessário para a reposição do nitrogênio, em OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO função da fixação do N2 atmosférico promovida pelas leguminosas. Todavia a consorciação exige a adoção de técnicas de manejo específicas para a obtenção de bons resultados, principalmente em razão da menor velocidade de crescimento da leguminosa em relação às gramíneas. A primeira consideração é quanto à adequação entre as forrageiras a serem consociadas, sendo que neste aspecto as gramíneas cespitosas são mais adequadas que as estoloníferas por permitirem, em função da arquitetura ereta, maior luminosidade e espaço para vegetação das leguminosas, inclusive servindo-lhe de suporte. Outro ponto a ser considerado é a reposição de nutrientes, que deve favorecer principalmente a leguminosa, em função da sua maior taxa de vegetação. O manejo da pastagem, em termos de período de ocupação e de repouso, taxa de lotação e altura mínima de pastejo, deve ser adequado às duas forrageiras. Por variar para cada tipo de consorciação, considerando-se caso a caso, o manejo deve ser baseado na avaliação visual da quantidade de forragem disponível e da proporção gramínea/ leguminosa, não havendo uma regra fixa de procedimento. Uma das práticas importantes para se garantir a persistência da leguminosa na pastagem é possibilitar, de tempos em tempos, o seu florescimento e sementeação, o que garante a ressemeadura natural e pereniza a forrageira na pastagem. Para tanto, é necessário fazer o diferimento do pastejo de um ou dois piquetes a cada ano no período de florescimento e sementeação da leguminosa. Aliás, igual providência deve ser considerada também com relação à gramínea. Nesse sentido é primordial, para que se obtenha sucesso na consorciação, a escolha de leguminosas precoces, ou seja, que apresentem florescimento entre março e maio, época do ano na qual ainda é possível vedar a área ao pastejo sem prejuízo na alimentação dos animais. A consorciação com leguminosas tardias, com florescimento entre junhoe agosto, impossibilita essa prática, pois o florescimento ocorre na época de menor disponibilidade de forragem em nossa região. Dessa maneira, sem a possibilidade de ressemeadura natural, a tendência é o desaparecimento ou a diminuição acentuada da presença da leguminosa em dois ou três anos. Essa é, indubitavelmente, uma das principais causas da dificuldade verificada, pela maioria dos pecuaristas, na manutenção de pastagens consorciadas. Com relação a isso há uma certa parcela de culpa por parte dos técnicos envolvidos nos processos de estudo e seleção dessas forrageiras, que muitas vezes, por levar em conta somente o potencial produtivo em termos quantidade de OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO MS/ha/ano, elegiam como mais adequadas àquelas espécies ou cultivares que sobressaiam nas parcelas dos campos de ensaios nesse aspecto. Como as leguminosas diminuem drasticamente o crescimento vegetativo ao florescerem, aquelas que florescem primeiro (precoces) tem menor período de crescimento vegetativo e, portanto, menor produção de MS em relação às tardias. Estas, por permanecerem em vegetação por maior período de tempo, acabam apresentando maior produção das MS por área. Em face disso a grande maioria das leguminosas disponíveis no mercado são de variedades tardias. Dessa maneira, para que haja sucesso na consorciação, os seguintes aspectos devem ser levados em conta: • Adequação da leguminosa e gramínea às condição de clima de solo da região; • Bom potencial de produção de sementes de ambas forrageiras; • Utilização de cultivares precoces de leguminosas; • Manutenção de níveis adequados de fertilidade, notadamente de micronutrientes; • Adequação do manejo aos hábitos de crescimento das forrageiras, com ênfase para a leguminosa; • Determinação de épocas oportunas de diferimento do pastejo para possibilitar o florescimento e ressemeadura natural das forrageiras. 7. Manejo e lotação do pasto O manejo adequado das pastagens, a serem utilizadas por ovinos, deve obrigatoriamente levar em conta dois aspectos: a obtenção de forragem em níveis elevados de qualidade e quantidade e a manutenção de um reduzido nível de contaminação por ovos e larvas dos helmintos (endoparasitas). Estes dois pontos irão refletir na carga animal a ser utilizada, ou seja, no número de matrizes que as pastagens poderão manter. Visando-se exploração intensiva das áreas disponíveis, determina-se o número total de matrizes da criação, que representará a carga animal máxima, com base na área de pastagens efetivamente disponível e no potencial de produção anual, em termo de produção de MS da forrageira predominante. Considera-se constante o número de matrizes durante todo o ano e admite-se já, de princípio, a necessidade de utilização de forragem conservada (preferencialmente silagem) para suprir deficiência de alimento no período “seco”. OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO Na definição da carga animal deve se considerar ainda uma perda média por acamamento e pisoteio de aproximadamente 20% do total da MS produzida e uma média de ingestão de MS de 3,0% do peso vivo (PV) cabeça/dia. A título de ilustração e considerando-se as condições existentes no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa (SP), estimou-se o potencial médio de produção de forrageiras como o Aruana, Coast Cross, Tiffton e Transvala em 18 a 20 toneladas de MS/ha/ano, para condições de manejo rotacionado e nível de reposição anual de N de 250 a 300kg/ha. Nessas condições a lotação máxima da pastagem seria de aproximadamente 30 cabeças/ha, considerando-se valores médios de: • Peso vivo de matriz = 60kg • Intervalo entre partos = 8 meses • Numero de parições = 1,5/matriz/ano • Período de aleitamento =52 dias/ parição (45 a 60 dias) • Período de confinamento em aleitamento de crias = 78 dias/ano • Período de pastejo = 287 dias/ano • Consumo diário de MS = 1,8 kg (3% do PV) • Consumo total de MS de forragem em pastejo =517kg MS/ matriz/ano (a) • Produção de forragem =19.000kg de MS/ha de pasto/ano • Perda de forragem por acamamento e pisoteio = 3.800 kg de MS • Forragem disponível = 15.200kg de MS/ ha de pasto/ano(b) • Lotação máxima = 30 cabeças / ha ano (b/a) Deve ser lembrado ainda a necessidade do plantio, anualmente, de uma área de 1,5 ha de milho ou de sorgo para a produção de silagem e de 1,0 ha de capineira, para um módulo de criação de 100 matrizes, estando incluído nessa estimativa, o consumo das matrizes, crias e reprodutores. As pastagens devem ser manejadas, obrigatoriamente, em esquema de rotação, visando principalmente manter-se o controle da infestação da forragem por larvas de helmintos em níveis mais baixo possíveis. Deve-se evitar períodos de ocupação superiores a 5 a 7 dias, visando minimizar a exposição dos animais às larvas infestantes (L3) eclodidas naquele mesmo ciclo de pastejo (auto infestação). Dessa maneira, quando a população de larvas infestantes torna-se significativa, os ovinos já terão saído daquela área de pastagem, cuja forragem estará bastante rebaixada, ficando as larvas sem hospedeiros e expostas as intempéries climáticas OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO (radiação solar e vento). O período de repouso irá variar em função da época e do ano, das condições climáticas, da forrageira e das condições de fertilidade do solo. Em média, considera-se um período de 35 a 45 dias como suficiente para se ter uma boa recuperação da forrageira, além de uma considerável diminuição na quantidade de larvas infestantes. Resultados bastante positivos podem ser obtidos dividindo-se a área total de pastagem em 5 ou 6 piquetes, utilizados em rotação direta do inverno. No período de verão cada um desses piquetes é subdividido em três, com uso de cerca elétrica, liberando-se 1/3 da área de cada vez para pastejo em faixas. Nos períodos de condições climáticas intermediárias (primavera e outono), pode-se reduzir para duas o número de subdivisões de cada piquete. Nesse esquema as novas faixas são acrescentadas aquelas já pastejadas, as quais, apesar de continuarem acessíveis aos animais, não são mais pastejadas, seja por não possuírem forragem, seja pelo acúmulo de urina e fezes. Essas áreas, todavia, são preferidas pelos animais para descanso e ruminação, diminuindo assim as perdas por acamamento e pisoteio na área em pastejo efetivo. Outra prática interessante, e que pode resultar em menor taxa infestação dos animais por larvas de helmintos, é a restrição do pastejo nas primeiras horas do dia, quando a pastagem, em razão do orvalho, ainda apresenta elevado teor de umidade. Nessas condições as larvas apresentam-se distribuídas em todo o perfil da pastagem. Quando o orvalho seca e a umidade do topo das plantas vai diminuindo em função da radiação solar, as larvas tendem a migrar para as partes mais baixas da planta em busca de ambiente mais sombreado e com maior umidade, que ofereça maior proteção contra a radiação solar e contra a dessecação. Nessas condições, apesar de poder haver um alto nível de infestação na área, como as larvas estão concentradas nas partes mais baixas das plantas, os ovinos, pelo fato de executarem um pastejo mais de topo, estarão ingerindo forragem com menor contaminação, reduzindo assim sua infestação por endoparasitas. Esse efeito é notório em forrageiras de habito cespitoso, no período de maior vegetação da forragem, correspondente ao verão chuvoso das regiões Sudeste e Centro Oeste. No período de inverno essa prática não apresenta resultados significativos. Com forrageiras de hábitoprostrado (estolonífero), mesmo no verão não se observa resposta considerável a esse procedimento. Outra prática a ser adotada no esquema de controle da verminose é a utilização concomitante da área de pastejo por bovinos e/ou eqüinos. Isso se deve a OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO baixa possibilidade de infestação cruzada entre as diferentes espécies de helmintos que parasitam cada uma delas e ao papel de limpeza que cada espécie efetua para a outra quando ingere ou elimina nas pastagens larvas de vermes específicas da outra espécie. Há ainda que se considerar o aspecto positivo que a consorciação de espécies com diferentes hábitos de pastejo exerce sobre a quantidade e qualidade de forragem, em função da maior uniformidade e equilíbrio no pastejo. 8. Importância da fertilidade do solo Elevada produtividade de alto valor nutritivo são características essenciais nas forrageiras a serem utilizadas com ovinos. Para tanto é necessário que o nível de fertilidade do solo seja compatível com as exigências da forrageira. Capins como Coast Cross, Tiffton, Aruana e Tanzânia, em função do elevado valor nutritivo, notadamente em função dos teores de proteína e minerais bastante significativos, exigem solos com elevada capacidade de saturação de base (V%) e altos teores de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), além dos micronutrientes. A redução da fertilidade, em função da contínua remoção de nutrientes promovida pelo pastejo e ainda pela lixiviação, resulta em gradativa redução na produtividade, bem como na qualidade da forragem. Isto exige a reposição constante dos nutrientes através da fertilização. E, apesar de o N ser indubitavelmente o nutriente de maior efeito na produção de MS das gramíneas, a resposta a esse nutriente é limitada pela deficiência dos demais. Pesquisas conduzidas no instituto Zootécnica, em Nova Odessa, mostraram que o parcelamento da reposição de N, aplicando-se 2/3 da dose total no final do período das chuvas e o 1/3 restante no inicio do período das chuvas, resultou em maior produção de forragem por área, bem como na melhoria na distribuição da produção durante o ano, com aumento proporcionalmente maior no período da estiagem. VI. CONSORCIAÇÃO DE OVINOS COM CULTURAS VEGETAIS E ANIMAIS Este capítulo foi extraído de.Sobrinho (1993). OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO 1. Introdução A criação de ovinos, no estado de São Paulo, deveria constituir numa das principais fontes de riqueza, dadas às condições de ordem econômica, climática e agrostológica que se verificam. Entretanto, estima-se que o estado de São Paulo possua apenas pouco mais de 250.000 cabeças de ovinos, cuja produção de lã não deve ultrapassar 300 toneladas. Por outro lado, além de termos condições ecológicas adequadas à produção de lã e carne, possuímos um vasto mercado interno para absorver, em crescente proporção, qualquer quantidade desses produtos; e com o advento da fibra sintética, devemos manter a lã na condição de produto insubstituível, melhorando os métodos de produção por meio de investigações científicas e experimentações. Dentre estas, considera-se de caráter emergente, pela inexistência de trabalhos, estudos sobre consorciação de ovinos com outras culturas vegetais e animais. No primeiro caso, as observações levariam a concluir se os ovinos poderiam ser utilizados no combate às ervas daninhas das culturas sem danos a estas (ataque à casca do caule, ingestão de folhas, mudas novas e frutos), assim como se os animais apresentariam desenvolvimento ponderal e qualidade de lã (matéria vegetal aderida) satisfatória, sendo também permitido concluir sobre as épocas em que os animais poderiam ter acesso à cultura em consorciação, levando- se em consideração os tratos culturais. No segundo caso, ou seja, consorciação de ovinos (bovinos, eqüinos e periferia de tanques de piscicultura), embora seja praticada por um pequeno número adeptos, também se apresenta ainda sem embasamentos científicos, embora seja sabido que ambas as espécies se beneficiem em tal consorciação, principalmente no tocante às infestações parasitárias, devido ao fato de não serem cruzadas, e como recurso para melhor aproveitamento das pastagens. 2. Algumas culturas vegetais viáveis Desde algum tempo, tem-se preconizado a criação de ovinos em áreas ocupadas por culturas perenes como cafezais, laranjais e macieiras, com o intuito da utilização do espaço disponível entre as árvores, freqüentemente invadido por outras plantas; notadamente algumas espécies de gramíneas que se constituem em OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO problemas para o manejo da cultura em questão, mas que se aplicam perfeitamente na alimentação dos ovinos. Não é comum se creditar aos ovinos o hábito de ingerir plantas lenhosas a não ser em condições ecológicas especiais ou quando há falta de outros alimentos. São vários os fatores que influenciam a seleção e composição da dieta dos ruminantes, configurando um quadro complexo. No caso da consorciação de ovinos com culturas, parece ser a complexidade devida ao grande número de seus componentes botânicos. Entretanto, caprinos e ovinos mantidos em caatinga, tiveram a composição florística de suas dietas variando do mínimo de cinco ao máximo de doze espécies botânicas ao longo do ano. Esse fato demonstra que a apetibilidade de uma dada espécie botânica da pastagem varia em função de sua abundância, dos outros componentes a ela associados, do tipo animal, do ano e da época do ano, e da familiaridade do animal com a pastagem. A preferência alimentar sobre as forragens também varia de acordo com a espécie animal e com a intensidade do pastoreio. Em termos gerais, os bovinos e ovinos tendem a pastejar mais gramíneas, enquanto que os caprinos parecem preferir o consumo de espécies lenhosas. 2.1. Café e Cítricos Muita ênfase se tem dado ao barateamento dos pastos destinados às ovelhas, de forma a reduzir o custo de produção das mesmas, buscando-se pastagens alternativas que possam alimentá-las convenientemente. Entre tantas, a colocação de ovelhas em lavouras permanentes, onde possam, além de utilizar uma pastagem barata (e porque não dizer indesejável), prestar serviços na limpeza destas. No tocante à consorciação de ovinos com culturas de café e cítricos, embora as condições de limpeza dessas culturas hajam melhorado, é viável a introdução de métodos simples e econômicos (controle biológico) que permitam ao produtor manter suas lavouras livres de ervas daninhas que predominam nesta ou naquela região. Desses vegetais, a maioria tem ciclo vegetativo de cerca de 60 dias, dentro dos quais deverão ser eliminados a fim de evitar concorrência com a cultura e produção de sementes. Assim, os ovinos tenderiam a manter limpo o solo sob a OVINOCULTURA CURSO DE ATUALIZAÇÃO cultura, pois os vegetais à sombra mantêm-se mais tenros, havendo preferência da espécie por estes. Em lavoura de café já se tem alguma pequena experiência e observa-se, em algumas propriedades, que o efeito foi bastante satisfatório, mesmo porque, nem sempre os pastos recebem cargas de corretivos ou adubações tão grandes, como o recebem as invasoras, presentes nas ruas da lavoura. No entanto, não existem ainda dados muito precisos acerca de tal prática, visto que as condições são extremamente variáveis, não se podendo prever as taxas de lotação e suporte por ano. O
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