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Moderna – Resumo aula 03 – Cidades e Renascimento (séculos XIII-XIV) A cidade-mercado São núcleos originados pelo desenvolvimento da troca. São analisados como centros que cresceram em pontos estratégicos, ou que se tornaram pontos estratégicos em antigas ou novas rotas de comércio. Suas necessidades básicas são produtos e uma rede complexa de pessoas, que inclui produtores, transporte, os meios de troca (moeda ou produto que sirva como moeda). Muitos desses mercados centrais tornam-se grandes feiras, temporais ou permanentes, e de grande importância para as cidades. São atrativos para estrangeiros, comerciantes, mendigos, ladrões, mercenários. Tornam-se nesse período centros permanentes das operações de mercado e finanças das cidades. As bancas de moedas tornam-se casas bancárias garantindo o crédito (empréstimos);as letras de câmbio dão segurança à troca em longas distâncias; as escoltas de comboios de mercadorias e as reservas de moedas. O rico mercador fazia negócios com os ricos produtores rurais e muitas vezes tornaram-se a “nobreza da cidade” O crescimento do mercado transforma numerosas cidades dos séc. XIII e XIV em centros especializados, com novas formas de administração do trabalho. O transporte terrestre ou marítimo, a armazenagem e a venda também requerem um número expressivo de mão de obra. Á exceção de criadores, pastores e tosquiadores, todos são trabalhadores das e nas cidades. As cidades não transformavam somente o trabalho, mas também, por meio dele e cada vez mais, dava-se o afrouxamento dos laços de dependência típicos da feudalidade. As guildas, corporações de ofício que asseguravam a formação e os contratos para artesãos perdem a força. As cidades ao longo dos séc. XIII e XIV, dominadas pelos ricos mercadores passam a ter uma função extraeconômica de prestígio e poder. Condições insalubres e pagamentos insuficientes fazem com que a maioria da população, mesmo trabalhando e recebendo sua jornada, dependa da assistência da Igreja, da mendicância, da prostituição, da proteção de algum senhor rico. Tornam-se reféns das crises de abastecimento, das guerras, das doenças. Condições essas agravadas pelo grande desenvolvimento técnico dos séculos, que dispensou trabalhadores e diminuiu o pagamento da jornada de trabalho. Com o aparecimento da grande peste, espaços inteiros foram despovoados, cidades moribundas, rotas de comércio desertas e desaparecimento da mão de obra. Os pobres foram presas fáceis da peste. A recuperação das cidades seria lenta, pela desorganização social, agravada pelas guerras, pela fome e pela insegurança. A questão do Renascimento é abordada prioritariamente, mas não exclusivamente, pela veia das técnicas que seriam originadas e voltadas para as necessidades mercantis: produção e comércio. O Renascimento técnico aparece como promotor do enriquecimento e das alterações das relações sociais e do luxo como fator extraeconômico que visibilizava a riqueza e o poder de novos grupos sociais das cidades. Da dinâmica do comércio no seu berço e local privilegiado-as cidades – às profundas alterações da cultura material, esse Renascimento é marcado pelas modificações no espaço: há a criação do conceito de espaço público, definido como lugar do mercado e do cidadão. Há, também, modificações nas leis: regras que definem novos privilégios para a nobreza e para a burguesia. Surge o saber legitimado pela escrita. A cidade política: “Os ares da cidade liberta”(séc. XIII e XIV) O segundo modelo de articulação cidade/Renascimento partem da análise política, que conectam a política à cultura. A cidade é na Europa inteira sede de uma ativa comunidade burguesa, de artesãos e mercadores, o destino político da cidade é decidido longe dali, a política urbana limita-se, na prática, à administração municipal. A passagem da cidade como um organismo socioeconômico em organismo político depende de muitos fatores. A cidade é o refúgio e a garantia da liberdade, tanto individual, como da comunidade. O servo ou mesmo escravo que conseguisse refúgio na cidade e se mantivesse por um ano e um dia passaria a ser livre e ter foro de citadino. A manutenção das liberdades cívicas era constituída, de três grandes frentes: a primeira, dentro das grandes linhas de força que dinamizavam as relações entre o imperador, os reis e o papado, em que as cidades eram estrategicamente importantes na disputa do poder; a segunda, dentro da própria comunidade, com a continuada divisão do corpo social: as linhas de separação entre a riqueza e a linhagem, as disputas políticas entre famílias pelo poder, a cisão entre o artesão qualificado que dominará as artes liberais e aqueles não qualificados, os “mecânicos de ofício” e a terceira, a instrumentalização das comunas, dos reinos e do império para essas lutas seculares. Três frente de luta das cidades (modelos políticos de análise): a primeira, toda a Europa ocidental pertencia ao Sacro Império Germânico, então toda essa grande região e os seu governantes deviam obediência ao imperador. Na realidade, porém, era o Papa que exercia o poder na Península Itálica, assim como os reis tinham o poder de fato, em seus reino. Essas questão provocou um grande número de disputas políticas e mesmo de guerras. As cidades eram peças importantes nessas disputas e guerras porque quem as dominasse conseguiria riquezas, produtos e rotas de comércio. Ao serem conquistadas poderiam perder suas liberdades municipais, assim como alianças comerciais, se passassem a pertencer a uma região dominada por um rival do papa ou do imperador. A segunda: o crescimento do número de homens livres era paralelo ao crescimento e à concentração das riquezas. As rivalidades entre os grupos de comerciantes, ou dos grupos de famílias nobres, criaram uma perpétua tensão nas cidades. Nem todos os homens livres das cidades podiam exercer cargos públicos ou participar do comércio de longa distância. Em vários momentos, a luta entre os grupos ricos e dominantes da cidade arrastava toda a população, que se dividia entre esse ou aquele grupo. Em outros momentos, a população pobre atacava o governante e a nobreza local, em grandes revoltas motivadas pela situação de miséria, frente aos esplendores dos ricos e poderosos. Essas rivalidades e revoltas colocavam as cidades em perigo, na medida em que desorganizavam a sua produção e o seu comércio e as tornavam presas fáceis dos reis, papas e, mesmo de outras cidades. A terceira: podemos perceber que todas essas frentes de lutas têm, como base, questões de direitos, deveres e privilégios a serem mantidos ou distribuídos. Foram os estudiosos das universidades, os novos humanistas, que estabeleceram essas regras políticas, não sem grande controvérsia, até porque estavam a serviço de grupos rivais. Em linhas gerais, teremos os humanistas favoráveis ao papa, que defendiam a sua supremacia sobre todos, porque entendiam que a Igreja possuía os dois poderes, isto é, possuía o direito espiritual e o direito temporal; os humanistas que serviam ao imperador, que defendiam a separação dos poderes: ao papa a supremacia religiosa, e ao imperador, o poder temporal; e os humanistas que serviam aos reis, que defendiam a soberania dos reis frente ao imperador e ao papa. Para as cidades, era muito importante que seus humanistas defendessem suas liberdades municipais frente a todos os outros poderes em disputa. Para garantir o foro de cidade (regras dos direitos tradicionais e dos novos direitos adquiridos pelas cidades, que passam a ser escritos) , essas comunidades ora faziam alianças, ora faziam guerras. (cidades consulares, as repúblicas, cidades francas, cidades reais, cidades papais, cidades imperiais), essas denominaçõessignificavam que as cidades estavam sob a proteção do rei, do papa ou do imperador, mas todas possuíam liberdade municipal, organizando seu próprio governo. Já as cidades consulares e as repúblicas eram totalmente independentes, não possuindo nenhum senhor externo. Essas cidades, das quais Florença é a mais conhecida, tratavam suas próprias leis e precisavam de grande atuação diplomática. Nas cidades, não somente o dinheiro era concentrado nas mãos da alta burguesia e da nobreza da cidade, mas o governo também. Quem governava administrava os preços, os espaços, o comércio e o trabalho. Várias rebeliões se faziam contra os governos. As causas dessas revoltas estavam na contínua elevação dos privilégios da alta burguesia e da nobreza da cidade; as alianças que esses governantes faziam com papas e reis contra os próprios interesses da cidade, mas muito favoráveis a eles; a arregimentação contínua e obrigatória da população para obras e defesa da cidade, e o crescente luxo ostentado pelos governantes, em meio à miséria da maioria da população. As lutas pelo poder também eram exercidas entre os poderosos. Esse modelo político das cidades defende que valores culturais estão muito ligados a questões de poder. Uma sociedade na qual a linhagem, o nascimento e a riqueza originada pelo grande comércio davam as condições da posição social de cada um. Os direitos e deveres de cada ordem eram diferentes e dependiam da posição do indivíduo na sociedade. Essas análises políticas sobre as cidades percebem o renascimento como fruto da luta pelo estabelecimento, pela consolidação e pela manutenção das liberdades dessas comunidades, e pelo poder entre as ordens sociais que nelas existiam. Isso porque as cidades e seus grupos precisavam estabelecer de maneira clara e lógica, formas de argumentação que tornassem legítimas suas pretensões de liberdade frente aos reis, ao imperador e aos papas. Precisavam, da mesma forma garantir que as possíveis alianças com esses senhores não afetassem as suas liberdades locais. Necessitavam dar substância e legitimidade às suas formas de governo e à administração das liberdades dos indivíduos que nela habitavam, garantindo as rígidas divisões sociais. Neste sentido, foram os humanistas que elaboraram, numa verdadeira arena de disputas, tratados de defesa e ataque das partes envolvidas. O humanismo foi um novo tipo de conhecimento porque, apoiado em referências mais antigas das civilizações ocidentais não somente as usou, mas as transformou na busca de soluções para problemas da época. Nasceu também entre os humanistas a indagação e a defesa de uma razão, de um governo e de uma sociedade seculares, temporais, separados da esfera religiosa. Foi um dos movimentos mais importantes originado pelo renascimento das cidades na formação do que chamamos de Id. Moderna ocidental. Nova ordem social da Europa e suas divisões: alta nobreza, pequena nobreza; alta, média e pequena burguesia; camponeses ricos, apenas abastados; camponeses livres pobres; camponeses ligados aos grandes senhores; artesãos ricos, pequenos artífices independentes e artesãos muito pobres, operários das manufaturas; servos urbanos que trabalhavam nas casas de seus senhores nobres ou burgueses ou ainda servos da gleba nas propriedades rurais da beleza. Nessa sociedade tão diversificada, o reconhecimento da posição social era feito pelo tipo de trabalho, de roupas, tecidos, armas, transporte e objetos que as pessoas podiam usar.
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