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suspensão condicional da pena livramento condicional

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Suspensão Condicional da Pena
Art. 77 a 82 do Código Penal.
NOÇÕES PRELIMINARES E CONCEITO - SURSIS
A suspensão condicional da pena privativa de liberdade, o sursis, é uma medida de política criminal da mais alta importância, porque se destina a evitar a pena de prisão de curta duração, cujos efeitos são extremamente prejudiciais à sociedade, bem assim ao condenado e a seus familiares, e também a estimular a reinserção do sentenciado na sociedade.
A pena privativa de liberdade de curta duração, como não podia deixar de ser, é aplicada aos condenados que cometeram crimes menos graves. Sua execução em ambiente onde são cumpridas penas de prisão de condenados a penas maiores – que, evidentemente, cometeram crimes mais graves – importa na imposição de convivência com outros condenados, muitas vezes multi-reincidentes, proporcionando terreno fértil para a germinação do fenômeno da contaminação carcerária, responsável pela transformação dos presídios em verdadeiras e muito eficazes escolas de aperfeiçoamento de práticas criminosas.
Desde há muito, os estudiosos do Direito Penal buscam evitar a execução de penas privativas de liberdade de curta duração, não apenas para impedir esse contágio, mas, ainda, para proporcionar ao condenado a oportunidade de demonstrar sua capacidade de reinserção no meio social, sem perder a liberdade.
No direito anglo-americano, criou-se o chamado probation system, que consiste, em linhas gerais, na suspensão do processo, mediante o estabelecimento e o cumprimento de um conjunto de condições impostas pelo órgão julgador. O sistema francês, que o Brasil adotou, instituiu o chamado sursis, que é a suspensão condicional da execução da pena aplicada. No sursis, a pena é aplicada, mas não é executada, estabelecendo-se um conjunto de obrigações que o condenado deverá cumprir, por certo tempo.
A Lei nº 9.099/95 instituiu a suspensão condicional do processo penal, instituto novo no direito brasileiro, que em muito se aproxima do probation americano.
O sursis, ou a suspensão condicional da pena, é o instituto jurídico pelo qual a pena privativa de liberdade não superior a dois anos tem sua execução suspensa, por dois a quatro anos, mediante o cumprimento de determinadas condições estabelecidas na lei e pelo juiz.
A suspensão condicional da pena é um direito subjetivo do condenado que realizar todos os seus pressupostos, objetivos e subjetivos, e não mera faculdade do juiz, apesar da expressão poderá contida no caput do art. 77 do Código Penal.
A Lei nº 7.210/84 – a Lei de Execução Penal – nos arts. 156 a 163 trata desse importante instituto.
Também conhecida como SURSIS, é uma medida “descarcerizadora”, pois tem por finalidade evitar o aprisionamento daqueles que foram condenados a penas de curta duração, evitando-se, com isso, o convívio promíscuo e estigmatizante do cárcere.
Direito Subjetivo do Condenado ou Faculdade do Juiz?
De acordo com o artigo 77, do CP: A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
A redação do artigo nos induz a erro, visto que, embora a lei se utilize da expressão “poderá ser suspensa”, o artigo 157 da LEP encerra a dúvida dizendo que: O juiz ou tribunal na sentença que aplicar pena privativa de liberdade, na situação determinada no artigo anterior, deverá pronunciar-se, motivadamente, sobre a suspensão condicional, quer a conceda, quer a denegue.. O juiz poderá suspender, pelo período de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, na forma prevista nos artigos 77 a 82 do Código Penal.
Portanto, mesmo havendo a possibilidade de denegação da suspensão condicional da pena, esta deverá ser motivada pelo juiz.
Assim, trata-se de direito subjetivo do condenado, e não simples faculdade do julgador visto que, de acordo com o STF, “o réu tem direito à suspensão condicional da pena, se preenchidos os requisitos legais.
Aplicação do Sursis
Se, após a condenação do réu a pena fixada pelo juiz se encontrar nos limites do quantum previsto pelo artigo 77, do CP, o juiz deverá analisar os requisitos necessários à concessão do sursis. Se os requisitos estiverem presentes, concederá a suspensão condicional da pena e, na própria sentença condenatória, estabelecerá as condições a que se terá de sujeitar o condenado visto que, de acordo com o art. 78, do CP: Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
As condições a serem estabelecidas pelo juiz podem ser legais ou judiciais:
LEGAIS
são as já determinadas previamente pela lei penal, conforme os §§ 1o e 2o, do art. 78, do CP: No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (artigo 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (artigo 48).
§ 2º. Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do artigo 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições:, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
JUDICIAIS
são condições determinadas pelo juiz, devendo ser adequadas ao fato, bem como à situação pessoal do condenado (art. 79, do CP): A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado.
Transitada em julgado a sentença penal condenatória será obedecida os seguintes passos:
designação de audiência admonitória, pelo juiz da execução;
se o condenado não comparecer ou, comparecendo, recusar as condições que lhe foram impostas, proceder-se-á à execução imediata da pena.
Comparecendo à audiência, passará à:
leitura das condições impostas ao condenado, para o cumprimento do sursis;
advertência das conseqüências de nova infração e do descumprimento das condições impostas.
aceitando as condições, terá início o período de prova.
Requisitos para a Suspensão Condicional da Pena
O artigo 77, do CP, traz os requisitos objetivos e subjetivos para a concessão do sursis: A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - não seja indicada ou cabível a substituição prevista no artigo 44 deste Código.
§ 1º. A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício.
§ 2º. A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão.
Os requisitos objetivos são no sursis simples condenação em pena privativa de liberdade não superior a dois anos; no sursis etário ou no sursis humanitário, a condenação em pena privativa de liberdade não superior a quatro anos.
Os requisitos subjetivos são:
          que o condenado não seja reincidente em crime doloso;
-          a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, os motivos do crime, as circunstâncias.
Seria possível a concessão de sursis, seja no sursis simples, seja no etário ou humanitário, aos crimes para os quais a lei determinou o cumprimento integral da pena em regime fechado, como a lei dos crimes hediondos?
De acordo com a jurisprudência, a lei especial não impôs nenhuma restrição a respeito do sursis. As penas daqueles crimes serão cumpridas integralmente em regime fechado, mas assim dispôs, obviamente, para os casos em que se cuide de condenado que
deva recolher-se a presídio, não para as hipóteses em que, por força da quantidade de pena e do atendimento aos demais pressupostos exigidos, seja viável a suspensão condicional. Haveria necessidade de imposição expressa para a restrição pois, tratando-se de direito de liberdade, não se admite interpretações análogas ou extensivas.
Não Reincidência em Crime Doloso
Duas ressalvas:
-          condenação por prática de CRIME anterior, e não contravenção;
-          de forma DOLOSA.
Se o agente tiver sido condenado anteriormente pela prática de crime doloso, se tiver sido aplicada a pena de multa, isolada ou em substituição à privativa de liberdade, a condenação não impedirá a concessão do benefício, visto que o §1o, do art. 77, não estabelece qualquer discriminação.
Mesmo tendo o agente sido condenado anteriormente por crime doloso, caso já se tenha passado 5 anos entre a data de cumprimento ou extinção da pena e a nova infração, não haverá impedimento para a concessão do sursis, visto que o agente já terá readquirido o status de primário.
Culpabilidade, Antecedentes – Art. 59 CP
Esses requisitos, quando favoráveis, trazem uma presunção de que o condenado está apto a merecer a suspensão condicional da pena que lhe fora aplicada, pois presume-se que não voltará a delinqüir.
Espécies de Sursis
São quatro as espécies de sursis:
-          sursis simples;
-          sursis especial;
-          sursis etário;
-          sursis humanitário.
O sursis simples está previsto no §1o, do art. 78, do CP: No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (artigo 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (artigo 48).
O sursis especial está previsto no §2o, do art. 78, do CP:. Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do artigo 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições:, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório ao juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
O sursis especial substitui o simples na hipótese de reparação do dano pelo condenado, exceto quando impossível, aplicando cumulativamente outras medidas, menos graves que as do sursis simples.
O sursis etário é concedido ao maior de 70 anos de idade condenado a pena privativa não superior a 4 anos. Pode a pena, nessa situação, ser suspensa por 4 a 6 anos.
Vale frisar que não se pode dizer que o sursis etário é o concedido ao idoso, pois o Estatuto do Idoso traz sua definição, estabelecendo a idade de 60 anos para que a pessoa seja considerada como tal.
O sursis humanitário possibilita ao condenado a pena não superior a 4 anos a suspensão condicional da pena pelo período de 4 a 6 anos, desde que razões de saúde a justifiquem.
Revogação Obrigatória
De acordo com o art. 81, do CP:  A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso;
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;
III - descumpre a condição do § 1º do artigo 78 deste Código.
Essas são causas de revogação obrigatória da suspensão condicional da pena.
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso;
Se o condenado já estava sendo processado por outro crime doloso ou se tiver cometido outro delito após iniciado o período de prova do sursis concedido, até decisão definitiva, com trânsito em julgado, o sursis subsistirá.
A nova condenação por crime doloso só não implicará na revogação do sursis caso houver condenação em pena de multa ou substituição da privativa de liberdade por pena de multa, visto que, de acordo com o §1o, do artigo 77, a condenação à pena de multa antes mesmo do período de prova do sursis não impede a sua concessão.
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;
Tendo em vista a alteração operada pela lei 9.268/96 no artigo 51 do CP, não é mais admitido, em nosso ordenamento, a conversão da pena de multa (dívida de valor) em pena privativa de liberdade. Por esse motivo, entende-se que não mais subsiste a primeira parte do inciso, sendo possível a revogação do sursis somente quando o agente frustra a reparação do dano, desde que não haja motivo justo.
II - descumpre a condição do § 1º do artigo 78 deste Código.
Trata o inciso das obrigações impostas pelo sursis simples, ou seja, da obrigação de prestar serviços à comunidade ou submeter-se á limitação de fim de semana.
Revogação Facultativa
Nos termos do artigo 81, §1o, do CP: A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.
Portanto são duas as causas de revogação facultativa:
a)       descumprimento de qualquer obrigação “sursitária” – neste caso, o condenado demonstra de forma clara sua inaptidão para obedecer às determinações que lhe foram impostas. Entretanto, antes de revogar a medida, o juiz deve designar audiência de justificação, com o fito de possibilitar a oitiva do condenado, garantindo-lhe o direito de defesa;
b)      condenação irrecorrível, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos – a pena de multa também não figura, portanto, como causa de revogação facultativa do sursis. O inciso cria uma situação inusitada: se o indivíduo, cumprindo sursis, não tenha o benefício revogado embora haja sido condenado definitivamente a pena privativa de liberdade por crime culposo, quando e de que forma cumprirá a nova pena a ele imposta?
Prorrogação Automática do Período de Prova
De acordo com o §2o, do artigo 81, do CP: Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo.
A prorrogação é automática, não havendo necessidade de ser declarada nos autos. Se a notícia de outro processo surgir decorrido o prazo correspondente ao período de prova, sem que tenha sido, ainda, declarada a extinção da pena, não terá o beneficiário direito subjetivo em vê-la reconhecida, bem como não haverá qualquer ilegalidade da parte do julgador que determinar a prorrogação do período de prova mesmo depois de decorrido completamente o seu prazo.
Cumprimento das Condições
Nos termos do artigo 82, do CP: Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade.
A extinção da pena privativa de liberdade deve ser decretada nos autos pelo juízo das execuções, ouvido sempre o MP, visto que, caso houver outro processo contra o condenado, não poderá ser decretada a extinção da pena, pois nesse caso o período de prova será prorrogado até julgamento definitivo desse novo processo.
Diferença entre o Sursis e a Suspensão Condicional do Processo
A suspensão condicional do processo tem por objetivo evitar a aplicação da pena privativa de liberdade nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 ano.
Enquanto no sursis já houve condenação do réu, na suspensão condicional do processo não há condenação.
O MP e o querelante, ao oferecerem a denúncia ou a queixa, poderão propor a suspensão do processo por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena.
Se o acusado aceitar a suspensão do processo, submeter-se-á a período de prova, sob as seguintes condições:
I – reparação do dano, salvo impossibilidade;
II – proibição de freqüentar determinados lugares;
III – proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem a autorização
do juiz;
IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
Observa-se, portanto, que as condições impostas ao cumprimento da suspensão condicional do processo são as mesmas impostas ao cumprimento do SURSIS, mas as conseqüências dos Institutos são diversas.
1o) no sursis o agente foi condenado e a concessão da suspensão da pena só pode ocorrer após o trânsito em julgado da sentença condenatória, na audiência ADMONITÓRIA;
2o) na suspensão condicional do processo, o juiz recebe a denúncia, e só. Todos os demais atos do processo ficarão suspensos, não havendo condenação do réu;
3o) a vítima eu figurou no processo em que se deu o sursis tem direito a seu título executivo judicial, nos termos do art. 584, II, do CPC: São títulos executivos judiciais: a sentença penal condenatória transitada em julgado;
4o) a vítima que figura no processo em que houve suspensão, por não haver condenação, não tem direito a título executivo judicial;
5o) o beneficiário do sursis, após o período de prova, não apaga seus dados criminais, servindo a condenação em que houve o sursis para forjar a reincidência ou maus antecedentes do agente;
6o) não havendo condenação na suspensão condicional do processo, uma vez cumpridas as condições da mesma, o juiz declarará EXTINTA A PUNIBILIDADE, não servindo essa declaração para atestar maus antecedentes ou reincidência.
CAPÍTULO V DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
Artigo 83 a 90 do Código Penal
CAPÍTULO V DO LIVRAMENTO CONDICIONAL
O livramento condicional constitui o último degrau do sistema progressivo brasileiro de cumprimento de pena privativa de liberdade. Iniciado o cumprimento das penas de reclusão e detenção no regime fechado, semi-aberto ou aberto, o condenado poderá, depois de certo tempo e se satisfizer a alguns requisitos de natureza subjetiva, obter o livramento condicional, por meio do qual conquistará a liberdade.
A moderna e democrática concepção da execução das penas privativas de liberdade exige que o condenado, recuperando-se, deve ir obtendo, gradativamente, a liberdade, se é que é possível falar em graus de liberdade.
Entendeu-se que só se poderiam admitir penas de privação de liberdade se se pudesse, paulatinamente, conforme certas circunstâncias, permitir ao condenado ir conquistando, gradativamente, cada vez mais e sempre, a liberdade. Daí as idéias concretizadas de regime fechado, semi-aberto e aberto, em que a liberdade vai sendo obtida em doses, cada vez maiores e com o passar do tempo.
Há quem diga que liberdade é como honra ou como a virgindade: ou tem-se ou não se tem, mas o certo é que os que um dia a tiveram completamente suprimida numa prisão celular e, ao depois, obtêm o direito ao convívio no pátio, no campo, na oficina, durante todo o dia, livre das grades e, mais tarde, podem sair às ruas da cidade, e, finalmente, ir e vir, recolhendo-se a uma casa de albergado, sem celas, sem grades, sem qualquer rigor penitenciário, sabem bem, e como sabem, que há diferença, enorme e substancial, entre estar encarcerado e estar cumprindo pena em regime aberto.
Daí que o livramento condicional constitui um dos mais importantes institutos de política criminal, uma medida indispensável para a realização dos interesses do direito penal. Seria, no entender de Magalhães Noronha, a antecipação da liberdade ao condenado que a merecer
O livramento condicional, apesar de algumas opiniões de juristas respeitados, é um direito subjetivo do condenado que realizar todos os seus pressupostos, objetivos e subjetivos. Não pode o juiz negá-lo quando seus requisitos estiverem presentes.
REQUISITOS
Dispõe o art. 83 do Código Penal, com modificações introduzidas pela Lei dos Crimes Hediondos:
“O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; I – cumprida mais de metade se o condenado for reincidente em crime doloso; I – comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o libertado não voltará a delinqüir.”
A partir da norma vigente, deve-se verificar que o livramento condicional está subordinado à presença de alguns requisitos, objetivos ou subjetivos, a seguir tratados.
Requisitos objetivos
Pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos;
Só é possível o livramento condicional, é de toda obviedade, quando se tratar de pena privativa de liberdade. Além disso, não pode ser inferior a dois anos, só podendo ser concedido se ela for igual ou superior a dois anos, de prisão simples, detenção ou reclusão, não importando se se constituir a soma de penas aplicadas em mais de um processo.
Segundo preconiza o art. 84 do Código Penal, deverão ser somadas as penas das várias infrações a que o sujeito tiver sido condenado. O livramento será concedido considerando a soma total das condenações, mesmo que cada uma delas seja a pena inferior a dois anos.
A razão da fixação de um mínimo seria facilmente aceitável se não levasse a uma situação de profunda injustiça. Os condenados a penas inferiores a dois anos que satisfizerem aos requisitos objetivos e subjetivos poderão obter o sursis. Este, como se observou, não pode ser concedido ao reincidente em crime doloso, de modo que, condenado a uma pena de, por exemplo, um ano e seis meses de detenção, não poderá obter a suspensão condicional da pena, nem obter o livramento condicional pelo simples fato de que sua pena é inferior a dois anos.
Deverá, assim, cumprir integralmente a pena. Não é justa a solução, pois o não reincidente condenado a oito anos de reclusão poderá obter o livramento condicional, ao passo que o condenado a um ano de reclusão, reincidente por ter sido condenado a apenas um mês de detenção, por crime doloso, não merecerá o livramento.
No futuro, deve-se eliminar a exigência da quantidade mínima de condenação, para a concessão do livramento condicional, de modo a poder-se alcançar também os que, não tendo obtido o sursis, mereçam, todavia, a reinserção social pela obtenção antecipada da liberdade. 
Cumprimento de mais de 1/3, da metade ou de 2/3 da pena
Exige a lei, para a concessão do livramento condicional, que o condenado tenha cumprido uma parte da pena ou penas a que tiver sido condenado.
Se se tratar de condenado não reincidente em crime doloso, deverá cumprir, no mínimo, 1/3 da pena. Se a condenação anterior tiver sido por crime culposo, poderá obter o livramento após o cumprimento também de 1/3 da pena. Sendo culposo um dos crimes, o anterior ou o posterior, o livramento também poderá ser concedido após o cumprimento de 1/3 da pena.
Se o condenado for reincidente em crime doloso, deverá ter cumprido mais de metade da pena. De lembrar que é reincidente aquele que é condenado por crime cometido após o trânsito em julgado de condenação anterior.
Se tiver sido condenado por crime hediondo, de tortura, de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e não sendo reincidente específico em crimes dessa natureza, só poderá obter o benefício após cumprir 2/3 da pena. É reincidente específico em crimes hediondos ou assemelhados aquele que, tendo sido condenado por qualquer desses crimes, vem a ser condenado novamente por outro crime dessa natureza.
De todo claro
que o tempo de prisão processual e o de internação em hospital de custódia, em virtude da detração, serão computados para se calcular o tempo de cumprimento da pena, bem como se levará em conta a remição da pena, se tiver ocorrido.
Em qualquer das hipóteses, o livramento será concedido, estando o condenado em regime fechado, semi-aberto ou aberto, uma vez que a lei não faz nenhuma referência à necessidade de ter havido qualquer progressão, nem o proíbe nas hipóteses de ter havido regressão.
Reparação do dano
Estabelece o art. 83, IV, outro requisito de natureza objetiva, que é a reparação do dano causado com a prática do crime, ressalvando, todavia, a hipótese de que o condenado não possa, efetivamente, arcar com as despesas pertinentes.
Em outras palavras, estando o condenado em condições financeiras tais que não lhe permitam cumprir a obrigação de indenizar, ainda que momentaneamente, não lhe será negado o benefício por essa razão. Não bastam, todavia, simples alegações de impossibilidade de indenizar, nem mero atestado de pobreza, devendo o juiz, ainda que de modo sumário, certificar-se de que não será possível a indenização do dano. Compete ao condenado demonstrar e provar a impossibilidade de cumprir a obrigação
Requisitos subjetivos
Além dos requisitos objetivos, deve o condenado realizar pressupostos de natureza subjetiva:
Bons antecedentes, para obtenção de livramento condicional com o cumprimento de 1/3 da pena
Para que o condenado possa obter o livramento condicional após cumprir apenas um terço da pena, não basta que não seja reincidente em crime doloso, pois exige a lei que ele, além disso, seja portador de bons antecedentes. Logo, além de não reincidente em crime doloso, deve possuir bons antecedentes. Se não os tiver, só poderá merecer o livramento após cumprir mais de metade da pena.
“Assim, só poderá obter o livramento condicional no prazo menor o condenado que não é criminoso habitual, que não sofreu outras condenações, que não esteve envolvido em outras ações penais etc. O condenado não reincidente pode ter sofrido outras condenações e, por isso, não preencher tal requisito, devendo aguardar o cumprimento de mais da metade da pena para ver deferido o livramento.”
Evidentemente, aqui se cuida dos antecedentes do condenado consignados na sentença condenatória, de seu passado anterior ao cumprimento da pena, mesmo porque outro requisito subjetivo, que veremos a seguir, é o comportamento satisfatório do condenado no estabelecimento prisional.
Comportamento satisfatório durante a execução da pena
Deve o condenado, em quaisquer das hipóteses de livramento, ter um comportamento satisfatório durante a execução da pena. A lei anterior exigia bom comportamento carcerário, pelo que devemos entender que a lei atual é menos rigorosa, pois que comportamento que satisfaz não é, necessariamente, um comportamento avaliado como “bom”.
Conquanto possa o condenado ter cumprido parte da pena em regime fechado, parte no semi-aberto, e até mesmo em regime aberto, seu comportamento deve ser analisado, para os fins da concessão do livramento, levando-se em conta o grau de adaptação em relação ao meio social livre.
Uma falta disciplinar que tenha sido imposta ao condenado não pode, por si só, ensejar a conclusão de que seu comportamento seja insatisfatório. Às vezes, a um ato de indisciplina, seguido da punição, segue-se uma alteração comportamental de importância, modificando-se a vida carcerária do condenado de modo substancial.
Bom desempenho no trabalho 
Se ao condenado tiver sido oferecida a oportunidade de trabalhar, interna ou externamente, deverá ter-se desempenhado de modo igualmente satisfatório.
Trata-se de uma exigência cujo objetivo é valorizar o trabalho do condenado, privilegiando aqueles que a ele se dedicarem, incentivando todos a se portarem bem não só nas atividades laborais desenvolvidas, dentro e fora do presídio, bem assim nas atividades de laborterapia.
Aptidão para prover o próprio sustento
Uma exigência de natureza subjetiva impõe ao condenado a comprovação de aptidão para prover sua própria subsistência, por meio de trabalho honesto.
O condenado deve demonstrar, antes de obter o livramento, a possibilidade de, com seu próprio trabalho honesto, manter-se, alimentar-se, morar, sobreviver, enfim, no mundo livre. Não significa que, para obter o livramento, o condenado deve, necessariamente, comprovar ter vaga garantida em emprego lícito. A proposta de trabalho é suficiente para provar o atendimento do requisito, mas não é o único meio para sua satisfação, não sendo, pois, imprescindível.
A norma não ressalva, mas é óbvio que não se aplica ao deficiente físico impossibilitado de obter emprego ou qualquer atividade, tanto que o art. 132 da Lei de Execução Penal, ao exigir que o liberado consiga ocupação lícita, ressalva a situação do que não for apto para o trabalho.
Presunção de que o condenado por crime doloso, com violência ou grave ameaça, não voltará a delinquir
Exige o parágrafo único do art. 83, para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça, a demonstração de condições pessoais que façam presumir que ele não voltará a delinqüir.
Esse requisito aplica-se apenas aos condenados por crimes dolosos cometidos com violência – física ou moral. A presunção de que alguém não mais voltará a delinquir constitui um dos grandes absurdos jurídicos ainda contemplados no ordenamento penal. Nenhuma ciência, ninguém, jamais, em tempo algum – a não ser que tenha recebido efetivos poderes de Deus – pode, em sã consciência, afirmar que há probabilidade cientificamente concreta de que certa pessoa cometerá, ou não, crimes.
De conseqüência, não se pode admitir, nos dias de hoje, qualquer presunção de que alguém cometerá algum crime. Nenhum fato, nenhuma condição, nenhuma realidade pode autorizar alguém, nem mesmo o juiz de direito, a presumir que uma pessoa cometerá um crime. Uma condição pessoal de qualquer ser humano, ainda que reprovável, perigosa, doentia, não é detectável pelo magistrado, graduado em Direito, e sem qualquer conhecimento de psiquiatria ou psicologia e, ainda que o fosse, não é suficiente para autorizar quem quer que seja a concluir pela presunção de que seu portador cometerá fato definido como crime.
Idéias como essa, de presunção de que alguém cometerá crime, de periculosidade, estão muito próximas das constatações lombrosianas de criminoso nato, há muito abandonadas pela ciência.
Infelizmente, o direito brasileiro ainda contempla essa situação, vedando ao juiz conceder livramento condicional se puder presumir a periculosidade do condenado. É evidente que o juiz de direito, graduado em Direito, não está apto a realizar qualquer exame dessa espécie, de natureza psíquica. Nem mesmo os profissionais da psicologia ou da psiquiatria podem, após o mais profundo exame, concluir pela probabilidade concreta, real, de que o paciente realizará esse ou aquele comportamento. Quando muito, poderão concluir, como o fazem os astrólogos, que o condenado poderá cometer outro crime. Mas isso qualquer pessoa pode concluir acerca de qualquer outra.
Ora, a liberdade das pessoas não pode submeter-se a concepções de natureza astrológica, nem a superstições, conjecturas e sonhos.
Conquanto, infelizmente, essa norma vigore, dever-se-ia, necessariamente, exigir a realização de exame criminológico, cujo resultado conclua pela periculosidade do agente, caso em que não será concedido o livramento.
Com a vigência da Lei n° 10.792/2003, que alterou dispositivos da Lei de
Execução Penal visando à agilização dos processos de execução penal, não há mais a necessidade de prévia manifestação do Conselho Penitenciário para a concessão do livramento condicional, restando claro que o exame criminológico não é mais indispensável para a concessão de benefícios aos condenados.
Assim, o exame só poderá ser exigido quando houver sérias razões, expendidas em decisão fundamentada do Juiz da Execução.
PERÍODO DE PROVA E CONDIÇÕES
O período de prova
a que estará submetido o condenado é equivalente ao tempo restante de cumprimento da pena a que foi condenado, por um ou mais crimes, em um ou mais processos. Condenado a nove anos de reclusão, não importa por quantos crimes, ou em quantos processos, mas obtendo o livramento condicional após 1/3 de cumprimento da pena, restarão seis anos de pena a serem cumpridos, os quais corresponderão ao chamado período de prova.
Nesse particular, há diferença entre o sursis e o livramento condicional de outros países, que fixam um prazo, às vezes até superior ao tempo que resta de pena, para que o condenado se submeta às condições fixadas, a fim de conseguir o benefício.
Diz o art. 132 da Lei de Execução Penal:
“Deferido o pedido, o juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento. § 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes: a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao juiz sua ocupação; c) não mudar do território da Comarca do Juízo da Execução, sem prévia autorização deste. § 2º Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as seguintes: a) não mudar de residência sem comunicação ao juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; b) recolher-se à habitação em hora fixada; c) não freqüentar determinados lugares.”
Manda a lei que, após analisar e deferir o pedido, ou sua proposta, o livramento condicional será concedido em cerimônia solene, durante a qual será lida a sentença para que o condenado dela tome conhecimento e manifeste, se quiser, sua aceitação, de tudo lavrando-se termo assinado por quem a presidir e também pelo condenado (art. 137 da LEP).
Na sentença estarão fixadas, assim, as condições para o livramento, que deverão ser cumpridas pelo condenado durante o período de prova. Umas condições são obrigatórias, outras, facultativas.
O art. 85 do Código Penal determina que a sentença deverá especificar todas as condições – obrigatórias e facultativas – que subordinarão o livramento. O não cumprimento das condições poderá acarretar a revogação do benefício.
Obrigatórias
As condições obrigatórias são as definidas no § 1º do art. 132 da Lei de Execução Penal. São elas:
Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável, sendo apto
Como já se falou, o inapto fisicamente para o trabalho não poderá comprovar essa condição que, apesar de obrigatória, não é, obviamente, absoluta, valendo apenas para os fisicamente sadios.
A lei nem mencionou, pelo que aparentemente ignorou, as dificuldades para a obtenção de empregos ou para a instalação de qualquer negócio lícito em nosso país, mormente nos últimos anos. É de todo óbvio que não se poderá exigir de alguém, como condição para a manutenção do livramento condicional, a prova de obtenção de emprego num país em que pessoas que jamais foram condenadas amargam a situação de desempregadas.
Comunicar, periodicamente, ao juiz sua ocupação
Essa comunicação deve ser feita ao juiz da execução penal. Se o beneficiado não obteve emprego, deve comunicar o fato ao juiz. Se está desenvolvendo qualquer atividade, ainda que não possa provar com documento escrito relação de emprego ou atividade negocial, deve, ainda assim, mesmo sem prova literal, comunicar o que está realizando, qual a atividade desenvolvida.
Não mudar do território da comarca do juízo da execução, sem prévia autorização deste
Se o beneficiado resolver mudar seu domicílio para outra Comarca, deverá obter do juiz da execução penal a prévia autorização para a mudança. Na verdade, deverá obter a transferência para a jurisdição de outro juiz da execução penal, da mesma ou de outra unidade federada. Se é um direito do preso ser removido para outro presídio, não se negará o direito ao que goza do livramento condicional de ser transferido para a jurisdição de outro juízo, caso em que a sentença, com as condições determinadas para a concessão do benefício, deverá ser comunicada ao juízo do novo lugar da residência do beneficiado.
Facultativas
As condições facultativas, também chamadas judiciais, são estabelecidas no § 2º do art. 132 da Lei de Execução Penal. O juiz as fixará conforme entender necessárias, levando em conta, é claro, o fato praticado e as condições pessoais do condenado. São:
Não mudar de residência sem comunicação ao juiz e à autoridade encarregada da observação cautelar e da proteção
Quando o beneficiado com o livramento precisar mudar sua residência, dentro da mesma comarca, deverá comunicar o novo endereço ao juiz da execução penal e ao Serviço Social, ao Conselho da Comunidade, ao órgão ou à entidade que tiver sido encarregada pelo juiz para fiscalizar o cumprimento das obrigações estabelecidas para o livramento.
A medida visa permitir a observação do liberado e o acompanhamento de suas atividades e de seu comportamento.
Recolher-se à moradia, em horário fixado na sentença
Ao conceder o livramento, poderá o juiz fixar horário para que o beneficiado se recolha a sua casa, para o convívio com a família, se tiver, e o repouso noturno. A razão de ser dessa condição é a prevenção de novos delitos, visando à manutenção do condenado no lar, em ambiente sadio e favorável a sua reinserção social.
Não frequentar determinados lugares
A proibição de frequência a certos ambientes deve levar em consideração a natureza do delito praticado e condições pessoais do liberado. Não se irá proibir o condenado por um crime de natureza tributária contemplado com o livramento condicional de frequentar uma boate ou uma casa de prostituição.
MIRABETE ensina que se busca evitar “locais que possam prejudicar a moral, a capacidade de trabalho, o estado de espírito do condenado, ou seja, que possam propiciar novo desvio de conduta do liberado, tais como casas de bebida, casas de jogo, certas reuniões, espetáculos e diversões públicas etc.”
Pode o juiz estabelecer outras condições que o beneficiado deverá cumprir, com vistas em contribuir para a prevenção e para o processo de reinserção social, e desde que sejam adequadas ao crime praticado e às condições pessoais do condenado. Devem ser evitadas condições absurdas, como freqüentar igrejas, pensar em fazer o bem, elaborar relatórios acerca de situações etc.
Obrigação de freqüentar cursos de alfabetização, de aprimoramento, de especialização e de abster-se de uso de bebidas alcoólicas são comuns e aceitáveis, pois que inspiram a necessidade de readaptação do homem ao meio social.
REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO E SEUS EFEITOS, E PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA
O livramento condicional será revogado ou poderá ter seu período de prova prorrogado, na hipótese da ocorrência de alguns fatos ou situações. A revogação será obrigatória ou facultativa.
Revogação obrigatória
Determina o art. 86 do Código Penal que, se o beneficiado pelo livramento vier a ser condenado, por sentença condenatória irrecorrível, a uma pena privativa de liberdade por crime cometido durante ou antes da vigência do livramento, este será revogado.
O texto da lei é impositivo: “Art. 86. Revoga-se o livramento...” Não se trata, como se vê, de mera sugestão ou faculdade ao juiz, mas de ordem legal para revogar o livramento se ocorrerem as situações dos incisos I e I do citado artigo.
Tendo obtido o benefício do livramento condicional, após iniciar o período de prova e sobrevindo condenação pela prática de qualquer crime, não importa a data de seu cometimento, o livramento será revogado. Basta que a sentença condenatória transite em julgado. Tanto pode o crime ter sido cometido durante o cumprimento do período de prova, quanto cometido antes mesmo do próprio crime que ensejou o livramento.
Enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória por crime cometido pelo liberado durante a vigência do livramento, o juiz não poderá declarar extinta a pena da qual resultou o benefício, mesmo se já tiver decorrido o tempo do período de
prova. É a regra do art. 89 do Código Penal.
Revogação facultativa
O art. 87 do
Código Penal estabelece:
“O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.”
Se o liberado não cumpre as condições impostas na sentença, sejam as legais, sejam as judiciais, estará revelando uma atitude de indiferença para com a justiça penal que lhe concedeu um benefício, livrando-o de continuar o cumprimento da pena privativa de liberdade a que foi condenado. Estará, assim, desmerecendo o prêmio que lhe foi concedido.
A revogação do livramento com base no descumprimento dessas condições não é obrigatória, mas ficará subordinada ao prudente arbítrio do juiz que decidirá sobre a conveniência de determinar a revogação do benefício, que implicará o retorno do condenado ao cumprimento da pena de prisão.
É de todo conveniente que ao juiz da execução penal seja concedida a mais ampla liberdade de decisão, para determinar a revogação quando absolutamente necessário para a realização dos fins da execução penal.
Efeitos da revogação
A revogação do livramento se dará basicamente por três razões: (a) sobrevindo condenação definitiva por crime cometido antes do período de prova; (b) sobrevindo condenação definitiva por crime cometido durante o período de prova; e (c) descumprimento das condições impostas na sentença.
Em cada uma dessas situações, a revogação do benefício acarretará conseqüências diversas para o condenado.
Condenação por crime anterior ao período de prova
Se a causa da revogação for condenação transitada em julgado por crime cometido antes do início do período de prova, o tempo que tiver transcorrido entre o início do período de prova e o dia da revogação será descontado na pena do condenado, que cumprirá apenas o restante da pena. Em outras palavras, o período de prova – em que o condenado esteve em liberdade, cumprindo as condições impostas – será computado no tempo de pena a que foi condenado.
Imagine-se a seguinte situação. Valdomiro foi condenado a nove anos de reclusão e após ter cumprido 1/3 da pena, três anos, obtém o livramento condicional quando já tinha cumprido três anos e dois meses, e passa a cumprir o período de prova, que se estenderá pelo restante da pena, ou seja, cinco anos e dez meses.
Quando tinha cumprido dois anos do período de prova, sobrevém condenação por fato praticado por ele antes do livramento, o que impõe a revogação do livramento. O tempo de período de prova, de dois anos, será computado na pena de nove anos, devendo o condenado cumprir preso apenas o restante dessa pena: três anos e dez meses. Este tempo será somado à nova pena a que foi condenado, por exemplo, de quatro anos e dois meses, perfazendo, assim, oito anos, que deverão ser cumpridos, e que será a base para o cálculo do novo livramento que poderá ser concedido.
O art. 141 da Lei de Execução Penal permite, expressamente, a concessão de novo livramento àquele que vier a ser condenado por infração cometida antes do período de prova:
“Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do tempo das duas penas.”
Em síntese: se a revogação do livramento tiver sido determinada pela superveniência de condenação por infração penal – crime ou contravenção – anterior ao início do período de prova, o tempo desse será descontado da pena, e o restante poderá ser somado com a pena superveniente, para fins de concessão de novo livramento, que não é proibido.
Condenação por crime durante o período de prova
Se a revogação decorrer da superveniência de condenação por infração penal – crime ou contravenção – cometida durante o período de prova, o tratamento dado pela lei é outro.
O tempo de liberdade do período de prova não será descontado da pena, vale dizer, será perdido e o condenado deverá cumprir a pena primitiva integralmente. João é condenado a três anos e seis meses. Cumprido um ano e dois meses, requer o livramento, que lhe é concedido quando já acabara de cumprir um ano e seis meses. Inicia-se o período de prova destinado a durar dois anos.
Quando já tinha cumprido um ano de período de prova, transita em julgado sentença por crime cometido dois meses depois da concessão do livramento. Este será revogado, e o tempo de período de prova cumprido, um ano, não será descontado da pena. Deverá cumprir os dois anos que restavam.
Não bastasse isso, não poderá ser concedido novo livramento condicional em relação à primeira pena. Esta não poderá ser somada com a segunda, para os fins do livramento. Deverá cumprir a primeira pena integralmente, e após poderá obter o livramento condicional apenas em relação à segunda pena, desde que preencha os requisitos para a obtenção do benefício.
No exemplo apresentado, João deverá cumprir os dois anos da primeira pena, e só poderá obter o livramento da segunda pena depois de realizar os pressupostos para sua concessão. Em outras palavras, tendo sido revogado o livramento, deverá cumprir integralmente a pena em razão da qual ele fora concedido, e só após cumpri-la integralmente é que deverá reiniciar o atendimento das exigências para a obtenção do livramento condicional da segunda pena, que será considerada isoladamente.
A razão de ser do tratamento diferenciado nas duas situações é simples e justa.
No primeiro caso, de revogação decorrente de condenação por crime anterior ao período de prova, é de ver que o condenado não descumpriu condições, não se portou de modo a desmerecer o benefício, já que o crime que ensejou a condenação ocorrera antes da obtenção do benefício. Não faria sentido prejudicá-lo por fato anterior ao período de prova.
Nessa segunda hipótese, tendo cometido infração durante o período de prova, demonstrou não respeitar as condições impostas, desmerecendo a concessão de benefício. Por isso, deverá cumprir a pena primitiva integralmente, não merecendo, em relação a ela, novo livramento. Quanto à segunda pena, só poderá obter o livramento depois de cumprir o tempo mínimo exigido, 1/3 ou 1/2, se a reincidência tiver sido em crime doloso.
Descumprimento de condições
A última hipótese de revogação é a decorrente do descumprimento de condições impostas pelo juiz na sentença que concedeu o livramento. Nesse caso, deverá cumprir
Livramento Condicional - 15 integralmente a pena que estava suspensa, e não poderá obter novo livramento.
Dispõe o art. 142 da Lei de Execução Penal:
“No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.”
Prorrogação do período de prova
O período de prova será prorrogado, se o condenado beneficiado com o livramento condicional cometer, durante o período de prova, outro fato definido como crime, razão da instauração de processo penal contra si.
Exemplo: tramita o processo pelo crime cometido durante a vigência do livramento, quando se encerra o tempo. Encerrado o período de prova, sem que tivesse havido revogação do benefício, deveria, normalmente, ser extinta a pena, mas a norma do art. 89 do Código Penal é clara:
“O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência do livramento.”
Em razão desse preceito, é de se concluir que, nessa hipótese, o período de prova será prorrogado até o trânsito em julgado da sentença penal prolatada no processo instaurado para apurar o crime cometido durante o tempo do livramento.
Se for condenado pelo novo crime, o livramento será revogado, e se for absolvido, o juiz declarará extinta a punibilidade do crime pelo qual estava em livramento condicional. No período de prorrogação, entretanto, o beneficiado não estará sujeito ao cumprimento das condições.
EXTINÇÃO DA PENA
Terminado o período de prova, sem revogação,
a pena a que fora condenado será considerada extinta, conforme manda o art. 90 do Código Penal: “Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de liberdade.”
Essa norma deve ser interpretada em harmonia com a norma do art. 89, de que se tratou anteriormente. Se durante o período de prova o beneficiado comete fato definido como crime, instaurando-se processo contra ele, enquanto não transitar em julgado, o juiz não poderá decretar a extinção da pena. É claro que, terminado o período de prova, sem que o processo seja julgado, o período de prova é prorrogado, sem quaisquer condições, aguardando-se seu fim, como já visto no item anterior.
Próxima aula ( assuntos da segunda prova):
CAPÍTULO VI DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO;
CAPÍTULO VII DA REABILITAÇÃO;
TÍTULO VI DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA;
TÍTULO VII DA AÇÃO PENAL;
TÍTULO VIII DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

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