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TEORIA GERAL DOS RECURSOS

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Arrazoados de Direito Processual Penal 
PROFESSOR: ADRIANO CONCEIÇÃO ABÍLIO 
TEORIA GERAL DOS RECURSOS
Conceito
	Nas lapidares palavras de Miguel Fenech, “nosso ordenamento concede às partes que se consideram prejudicadas por uma decisão judicial a possibilidade de provocar um novo exame da questão, através do mesmo órgão jurisdicional que a ditou, ou por outro superior na ordem hierárquica, a fim de que a sentença seja substituída por outra. Este ato da parte, capaz de provocar dentro do mesmo processo um novo exame da questão que deu lugar a uma decisão para obter uma nova e distinta daquela que estimou gravosa para seus interesses, é o que se conhece na lei e na doutrina com o nome de Recurso; denominação que se estende a atividade processual desenrolada com esse fim”. (El proceso penal. 2. ed. Madri: Artes Gráficas y Ediciones, 1974. p. 292.)
	O recurso como direito processual subjetivo do prejudicado tem um vínculo íntimo com a palavra reexame, motivo pelo qual se torna imperioso que no seu conceito tal expressão seja empregada. Assim sendo, recurso é o pedido de reexame feito pelo sujeito processual sucumbente, diante de um órgão jurisdicional superior ou do mesmo órgão prolator da decisão recorrida, para que a mesma seja modificada quanto ao mérito ou para anular o processo ou o ato processual. (Mossin, Heráclito Antônio. Recursos em matéria criminal. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 34) 
Justiça versus Certeza
	Na temática atinente aos recursos, dois são os princípios fundamentais que se defrontam e devem ser conciliados. De um lado, a imposição do Princípio da Justiça leva a pensar que quanto mais se examinar uma decisão, mais possível será a perfeita distribuição da Justiça. Do outro lado, a observância do Princípio da Certeza Jurídica impõe a brevidade do processo, a exigir que a decisão seja proferida uma vez por todas, sem procrastinações inúteis, no menor tempo possível.
	A preocupação dos modernos sistemas processuais tem sido a de conciliar os dois princípios, de modo a encontrar um ponto de equilíbrio, garantindo o duplo grau de jurisdição, sem deixar infinitamente aberta a possibilidade de reexame das decisões. (Fernandes, Antonio Scarance. Recursos no Processo Penal. 3ª ed. São Paulo: RT , 2001, p. 21) 
Fundamento Jurídico
	Além de atender, subjetivamente, à natural inconformidade do vencido em relação à decisão contrária, esta pode realmente ser injusta ou incorreta, de forma que se deve possibilitar sua revisão pelo órgão ad quem.
	Por outro lado, o juiz que profere a decisão fica psicologicamente compelido a julgar melhor, quando sabe que será ela passível de revisão por outro órgão jurisdicional. Além disso, o recurso é quase sempre submetido a julgamento por um tribunal de segundo grau, constituído em geral por magistrados de maior experiência e cultura, uma vez que a magistratura, em muitos países, é organizada em carreira, com promoções por antigüidade e merecimento.
* Não se desconhecem, entretanto, argumentos ponderáveis contrários ao duplo grau: nada garante que a decisão do tribunal seja melhor do que a do juiz de primeiro grau, que pode ter feito justiça e ver sua decisão reformada. Até porque é o juiz recorrido que teve, em geral, o contato imediato com as “partes” e as provas, tendo tido a oportunidade de melhor formar seu convencimento, enquanto o tribunal, via de regra, julga apenas com base nos documentos escritos existentes nos autos.
* Além disso, a decisão em grau de recurso é inútil quando confirma a de primeiro grau, infringindo o princípio da economia processual. E a decisão que reforma a recorrida é sempre nociva, por apontar uma divergência que dá margem a dúvidas quanto à correta aplicação do Direito, produzindo incertezas nas relações jurídicas e desprestigiando o Poder Judiciário. 
Fundamento Político
	É aqui que entra poderoso argumento, de índole política a militar em favor da preservação do duplo grau: nenhum ato estatal pode escapar de controle. A revisão das decisões judiciárias – que configuram ato autoritativo estatal, de observância obrigatória para as partes e com eficácia natural em relação a terceiros – é postulado do Estado de Direito.
	Trata-se de Controle Interno, exercido por órgãos da jurisdição diversos do que julgou em primeiro grau, a aferirem a legalidade e a Justiça da decisão por este proferida. 
Recursos e Ações autônomas de impugnação
	O Recurso é um remédio contra decisões judiciais, mas estas podem ser atacadas também por ações autônomas de impugnação. Como traço distintivo, costuma-se apontar o fato de que as últimas se dirigem contra decisões já passadas em julgado, enquanto os primeiros são exercíveis antes do trânsito em julgado, visando exatamente a obstá-lo.
	É, aliás, com base nessa distinção que alguns sistemas jurídicos consagram a diferença entre recursos extraordinários e recursos ordinários, sendo que os primeiros corresponderiam às ações autônomas de impugnação e os segundos, aos verdadeiros recursos.
Pelo menos no nosso sistema, porém, não se pode afirmar que a distinção entre ações de impugnação e recursos se faça com base na existência ou inexistência de coisa julgada. É certo que o Recurso será sempre anterior à formação da coisa julgada, mas o inverso não é verdadeiro, ou seja, existem ações autônomas de impugnação oponíveis contra decisões não transitadas em julgado: é o que ocorre, no processo penal, com numerosos habeas corpus e, em qualquer processo, como o mandado de segurança contra ato jurisdicional.
O traço característico entre os recursos a as ações de impugnação deve ser buscado em outro elemento: pelo Recurso, não se instaura uma nova relação processual (um novo processo), operando-se por ele um mero prosseguimento da relação processual já existente. Ao contrário, o meio autônomo de impugnação configura sempre o exercício de uma nova ação, dando vida a uma diversa relação jurídica processual.
* Não invalida essa distinção o fato de o Código de Processo Penal erroneamente rotular o habeas corpus e a revisão criminal como recursos. Tanto num como na outra existe um verdadeiro pedido do autor (tendente a uma sentença de mérito) e se instaura uma nova relação processual, ainda que – no caso da revisão – nos mesmos autos.
Natureza Jurídica
	Superadas certas concepções que viam nos recursos ações distintas e autônomas, chegando a se lhes atribuir natureza constitutiva – e isso tanto no processo civil, como no processo penal – a doutrina prefere hoje conceituar o poder de recorrer como aspecto, elemento ou modalidade do próprio direito de ação e de defesa. 
Características
	As principais características dos Recursos são as seguintes:
A) serem anteriores à coisa julgada;
B) não ensejarem a instauração de nova relação processual;
C) dependerem sempre de ato de vontade do recorrente (voluntariedade);
D) representarem sempre uma forma de impugnação da decisão judiciária, visando primordialmente a sua reforma ou invalidação, mas, às vezes, pretendendo apenas sua revisão para obter esclarecimento ou integração, como no caso dos embargos de declaração.
* O “recurso de ofício”, mantido arcaicamente pelo Código de Processo Penal Brasileiro, não contém, por isso, característica de recurso.
	São essas características que possibilitam conceituar o Recurso, no Direito Processual Brasileiro, como o meio voluntário de impugnação de decisões, utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, apto a propiciar a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão. 
* Preferimos falar em Preclusão, e não em Coisa Julgada, para evitar, nesta sede, a distinção entre Coisa Julgada Material e Coisa Julgada Formal. A Preclusão, objetivamente entendida como fato impeditivo,destinado a garantir o avanço progressivo da relação processual e a obstar ao seu recuo para fases anteriores do procedimento, liga-se à Coisa Julgada Formal numa relação de antecedência e conseqüência. (Scarance, ob. cit. p.31). 
Classificações
	Os Recursos podem ser classificados de diversas formas, de acordo com os critérios diferenciados adotados:
A) Adotado o critério da Extensão da matéria impugnada, os Recursos classificam-se em :
Totais: quando a impugnação opõe-se a toda a decisão recorrida, abrange todo o conteúdo da decisão recorrida (rectius, todo o conteúdo impugnável) ;
Parciais: quando apenas parte dela é impugnada. Ex.: Para ver reformado o quantum de pena privativa de liberdade fixado pelo Juiz na sentença; para afastar a aplicação da Lei nº 8.072/90, por tratar-se de fato anterior à sua vigência; para afastar a reincidência; para afastar condição imposta no sursis que exprima caráter vexatório ao condenado; para ver reconhecida a prescrição da pretensão punitiva, negada a causa extintiva pelo Juiz de primeiro grau. 
B) Adotado o critério quanto às suas Fontes Informativas, os Recursos classificam-se em:
Constitucionais: previstos pela Constituição Federal e que têm por finalidade levar aos Tribunais Superiores o seu conhecimento ou defender os direitos fundamentais do indivíduo. Ex.: Habeas Corpus, Mandado de Segurança, Recurso Especial, Recurso Extraordinário;
Legais: previstos no Código de Processo Penal Pátrio ou em outras Leis processuais especiais. Ex.: Apelação, Recurso em Sentido Estrito, Correição Parcial, Agravo.
Regimentais ou Orgânicos: instituídos nos Regimentos Internos dos Tribunais. Ex.: Agravo Regimental, Agravo de Instrumento, Embargos de Divergência. 
 
C) Adotado o critério com base nos seus Fundamentos, ou seja, levando-se em consideração os motivos pelos quais o recorrente impugna a decisão, os Recursos distinguem-se em :
Fundamentação livre: quando a Lei não fixa limites à impugnação, podendo o recorrente atacar todo e qualquer tipo de erro da decisão. Ex: A Apelação é exemplo típico, salvo na hipótese de ataque à decisão emanada dos julgamentos do Júri;
 
Fundamentação vinculada: quando a Lei exige que o recorrente ataque um erro específico, ou seja, a Lei exige que se aponte um erro que se enquadre da discriminação legal. Ex.: O Recurso Extraordinário e o Recurso Especial (só podem fundar-se nas hipóteses previstas nos artigos 102, III e 105, III, da CF); Na Apelação, excepcionalmente no procedimento reservado aos crimes de competência do Tribunal do Júri, o recurso só poderá ser interposto nos casos previstos no artigo 593, III, do Código de Processo Penal.
D) Adotado o critério dos graus de Jurisdição, há várias acepções para classificar os Recursos : 
1ª acepção
Recurso Ordinário é Aquele que tenha por objeto próximo a proteção do Direito Subjetivo do recorrente. Recurso Extraordinário é aquele que visa proteger, antes de mais nada, o Direito Objetivo, e, só mediatamente a do recorrente. Nesse sentido, são Extraordinários tanto o Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, quanto o Recurso Especial para o Superior Tribunal de Justiça. Todos os demais são Ordinários.
* Esta classificação tem sido criticada por processualistas civis, uma vez que o Recurso – que seria Ordinário – quando interposto pelo Ministério Público, como custos legis, também visa precipuamente à proteção do Direito Objetivo. No Processo Penal, algo parecido ocorre quando o Ministério Público apela em benefício da defesa, atuando nesse caso como órgão da Justiça e não como parte parcial e visando, antes de tudo, a observância do Direito Objetivo. 
 
2ª acepção
	Recurso Ordinário é aquele em que é possível a discussão das matérias de Direito e de Fato (Apelação, Recurso em Sentido Estrito, Embargos Infringentes e de Nulidade). Recurso Extraordinário é aquele que só admite impugnação quanto à matéria de Direito (Recursos Extraordinário e Especial, Embargos de divergência). 
3ª acepção
	Recurso Ordinário é aquele de admissibilidade geral, não sujeitos a requisitos especialíssimos (Apelação, Recurso em Sentido Estrito, Agravo). Recurso Extraordinário é aquele sujeito a regras estritas de cabimento excepcional.
* O Recurso Extraordinário Brasileiro (artigo 102, III, CF) é o Recurso Extraordinário por antonomásia, mas ao lado dele figura, na mesma classe, o Recurso Especial (artigo 105, III, CF). 
* O Recurso Ordinário, da competência do STF e do STJ nos casos constitucionalmente estabelecidos (artigo 102, inciso II, e, artigo 105, inciso II, CF) pertence à categoria dos Recursos Ordinários em geral, sendo-o também por antonomásia. 
* A incerteza quanto aos conceitos de Recursos Ordinários e Extraordinários no sistema Brasileiro tem convencido alguns processualistas da pouca utilidade dessa classificação entre nós. Mas o critério por último estabelecido perece-nos relevante, pois são exatamente os Recursos Ordinários, nessa acepção, que retratam a observância do Duplo Grau de Jurisdição (enquanto os Recursos Extraordinários importam num terceiro ou quarto reexame, o que foge à garantia Constitucional do Duplo Grau). 
* Em outros ordenamentos a classificação é das mais relevantes, uma vez que toma por base a circunstância de já ter havido, ou não, trânsito em julgado da decisão. no primeiro caso, o Recurso é dito Extraordinário, e, no segundo, Ordinário. (Assim ocorre, por exemplo, em Portugal e na Itália)
E) Adotado o critério da Iniciativa, os Recursos classificam-se em:
Voluntários: são aqueles cujo ônus de interpô-los cabe, exclusivamente, àquele que sucumbiu. É apenas um ônus: recorre, se quiser;
Necessários, ex officio, de ofício: são aqueles que, necessariamente, obrigatoriamente, devem ser interpostos pelo próprio Juiz. Ex.: artigos 574, I e II, e, 746 do Código de Processo Penal Pátrio.
* Qualquer recurso depende da iniciativa da parte, sendo sempre um meio voluntário de impugnação. O Juiz não tem interesse em recorrer e não pode impugnar a sua própria decisão. Assim, não constituem conceitualmente Recursos os casos em que o ordenamento exige que a Sentença de primeiro grau seja necessariamente submetida à confirmação do segundo, para passar em julgado. Trata-se de Condição de eficácia da Sentença.
* O Código de Processo Civil de 1973 abandonou a antiga nomenclatura “recurso obrigatório” ou “recurso de ofício”, adotando, com boa técnica, o critério da sujeição necessária ao duplo grau de jurisdição (artigo 475 do Código de Processo Civil). 
Princípios Gerais dos Recursos
1º) Taxatividade dos Recursos: Os Recursos estão obrigatoriamente condicionados a previsão legal. O tipo e o cabimento dos Recursos constituem uma relação taxativa de hipóteses legais. Isso porque, na tentativa de equilibrar as garantias do valor Justiça e do valor Certeza, não se pode admitir que a via recursal seja abusiva e aleatória, infinitamente concessiva e aberta, o que sacrificaria o Princípio da Segurança Jurídica.
	A possibilidade de revisão das Decisões Judiciárias há de ser prevista em Lei. Todavia, não se exclui a interpretação extensiva da norma processual, e nem mesmo a aplicação analógica de certas regras, nos termos expressos do artigo 3º do Código de Processo Penal Pátrio.
* É o que se verá ao tratar de alguns recursos em espécie: é o caso do Recurso em Sentido Estrito, e, do agravo contra decisões proferidas pelo Juiz da Execução. 
* Sendo a garantia do Duplo Grau de Jurisdição princípio inerente ao Estado Democrático de Direito, enquadrável no “Devido Processo Legal”, se da decisão de primeiro grau não couber recurso, ficará sempre aberta ao interessado a via das Ações Autônomas de Impugnação, que nesse caso funcionarão como sucedâneo do Recurso, ou seja, o HabeasCorpus ou o Mandado de Segurança contra ato jurisdicional. 
 
2º) Unirrecorribilidade das Decisões: A regra geral é que a cada decisão corresponda um único Recurso. Atendendo ao Princípio, o artigo 593, § 4º do Código de Processo Penal Pátrio exclui a possibilidade de interposição do Recurso em Sentido Estrito, se da decisão cabe Apelação, pois esta absorve aquele.
	Há casos, porém, de decisões objetivamente complexas, com capítulos distintos, em que entram em jogo diversos requisitos de admissibilidade. Para esses casos, a Lei pode prever expressamente o oferecimento de Recursos concomitantes e diversos para impugnar a mesma decisão.
* É o que ocorre, para o Processo Penal, com a Apelação e o Protesto por novo Júri, quando um crime comporta protesto e o outro não (art. 608 do CPP). E, para todos os processos, existem os casos de interposição simultânea do Recurso Extraordinário e do Especial, se houver fundamentos legais e constitucionais que autorizem as duas impugnações; ou, ainda, os de Embargos infringentes, e mais de Recurso Especial e/ou Extraordinário, se na decisão houver uma parte unânime que possibilite o Recurso aos Tribunais Superiores, e uma não unânime, embargável.
* Entende-se que, nesses casos, cada capítulo da Sentença é objeto de um Recurso distinto, de modo que a hipótese não configura exceção ao Princípio da Unirrecorribilidade. 
3º) Variabilidade dos Recursos e Preclusão Consumativa: O Princípio da Variabilidade significa que a interposição de um recurso não liga o recorrente a impugnação, permitindo-se a interposição de outros recursos, se no prazo.
O Código de Processo Civil de 1939 adotava expressamente o Princípio (art. 809), que não veio mais repetido pelo estatuto de 1973. Por isso, entendem alguns ter sido a variabilidade abolida no sistema processual brasileiro. Milita em favor dessa tese o instituto da preclusão consumativa, que acarreta a perda da faculdade processual se ela já foi exercida: uma vez levado a efeito o direito de recorrer, consumou-se a oportunidade de fazê-lo, de sorte a impedir que o recorrente torne a impugnar o provimento jurisdicional já impugnado.
Mas mesmo que se acompanhe essa tese, a vedação da variabilidade deve ser vista em seus estritos termos, quais sejam os de proibição de interposição de novo recurso, substituindo a outro, já interposto. Mesmo neste caso, aliás, o recorrente pode ser beneficiado por outro Princípio, qual seja o da fungibilidade .
Quando, porém, se trate de suplementação de um recurso com outro, não vige a regra da preclusão consumativa. Exemplifique-se com duas hipóteses:
a mesma decisão é impugnável por dois recursos diversos (por exemplo, a apelação e o protesto por novo júri, com relação á decisão do Tribunal de Jurados). Interposta inicialmente apenas a apelação, nada impede que entre depois o protesto por novo júri, se no prazo;
a mesma decisão pode ser impugnada por fundamentos diversos. Imagine-se que o recorrente interponha apelação, visando ao reexame da sentença do Juiz Presidente do Júri; isso não obsta a que, ainda no prazo, se interponha outra apelação contra o veredicto dos jurados. O mesmo ocorre quando a primeira apelação impugne apenas um capítulo da sentença (por exemplo, a questão da dosagem da pena) e a segunda, a própria condenação.
* Observe-se porém que, a rigor os exemplos sub a e b não são propriamente de variabilidade, mas de suplementação dos recursos.
4º) Complementaridade dos Recursos: Pelo Princípio da Complementaridade, o recorrente poderá complementar a fundamentação de seu recurso, se houver integração ou complementação da decisão, em virtude do acolhimento dos embargos de declaração. Nesse caso é evidente que a preclusão consumativa não opera, porque os fundamentos da decisão só surgirão, em sua inteireza, com a integração ou complementação a que os embargos de declaração deram margem.
Suponha-se que da sentença que condenou o réu por um crime, este interponha recurso de apelação. Se, em virtude de embargos de declaração, a decisão for complementada, condenando-se o réu por um segundo crime, surgirá, para este, nova oportunidade de recurso, que complementará a fundamentação do primeiro.
5º) Fungibilidade dos Recursos (Teoria do Recurso Indiferente, de Goldschmidt, ou Teoria do “tanto vale”, Sowohl auch theorie): Pelo Princípio da Fungibilidade, previsto expressamente no Código de Processo Penal Pátrio pelo artigo 579, o recurso erroneamente interposto pode ser conhecido pelo outro, desde que não haja má-fé. Há, nesse caso, aproveitamento do recurso erroneamente interposto, mediante sua conversão no adequado, em homenagem ao Princípio de que o processo não deve sacrificar o fundo pela forma.
* Observe-se, antes de tudo, que o Princípio da Fungibilidade só pode operar quando se trate de recurso sem fundamentação vinculada (apelação contra decisão de juiz singular e recurso em sentido estrito, por exemplo).
* Não quando se trate de recursos com requisitos de admissibilidade próprios, como, por exemplo, a apelação contra a decisão do Júri, o recurso extraordinário e o recurso especial.
Mas, o que deve entender-se por má-fé?
O Código de Processo Civil de 1939, no artigo 810, reconhecida expressamente o Princípio da Fungibilidade, impedindo-o quando houvesse erro grosseiro ou má-fé. Doutrina e jurisprudência encontraram grande dificuldade em estabelecer a conceituação do erro grosseiro e da má-fé, tanto assim que o estatuto processual civil vigente silenciou sobre o Princípio e suas causas impeditivas de aplicação. 
* Em face da inexistência de norma expressa garantindo a fungibilidade, bem como da simplificação do sistema recursal, a doutrina processual civil encaminhou-se inicialmente no sentido da negação da subsistência do Princípio, o que levava a jurisprudência, inclusive do STF, a enveredar pelo mesmo caminho (RTJ 83/181). Mas hoje prevalece a idéia de que, havendo dúvidas - que ainda persistem - quanto ao recurso cabível, o Princípio da Fungibilidade opera. 
Mas, existindo para o Processo Penal a regra do artigo 579 do Código de Processo Penal, pode ser útil recordar a conceituação de má-fé e de erro grosseiro, á época do Código de Processo Civil de 1939, para verificar sua eventual aplicabilidade na interpretação do dispositivo processual penal :
* O Erro Grosseiro poderia ser aferido por algumas circunstâncias objetivas, como, por exemplo, a disposição expressa e induvidosa de lei indicando o recurso cabível, sem divergências na doutrina e na jurisprudência.
* Quanto à má-fé, segundo Pontes Miranda, também se indicavam casuisticamente algumas circunstâncias que a caracterizariam: 
usar do recurso impróprio no prazo maior, por estar perdido o prazo do recurso cabível;
valer-se de recurso de maior devolutividade para escapar à coisa julgada formal; 
protelar o processo, ao lançar mão de recurso mais demorado;
provocar apenas divergência jurisprudencial, para assegurar-se, depois, outro recurso.
Outros definiam má-fé como erro intencional, consubstanciado no fato de o recorrente ter plena consciência de estar interpondo o recurso impróprio. Outros, ainda, como a convicção que tem o violador da lei da infringência que pratica, de tal sorte que a má-fé se confundiria com o procedimento doloso.
Mas o fator isolado que mais influenciou na aferição da má-fé, tanto em doutrina como na jurisprudência, foi o prazo. Entendia-se fator excludente da má-fé o fato de o recorrente ter interposto o recurso impróprio no prazo do cabível, ficando assim configurada a inexistência de intenção de ampliar o prazo recursal pela interposição do errôneo. O que, porém, também era discutível, porque se notava que se o legislador tivesse pretendido subordinar o aproveitamento do recurso incabível ao fato de haver sido interposto dentro do prazo legal, teria indicado de modo expresso essa condição (Machado Guimarães).
Ocerto é que, se o recurso impróprio é interposto no prazo do cabível, há claros indícios de inexistência de má-fé, e o recurso pode ser aproveitado, nos termos do artigo 579 do Código de Processo Penal. Mas a dúvida subsiste, quando o recurso impróprio é interposto dentro de seu prazo específico, mas fora do previsto para a interposição do recurso cabível; e é exatamente nesse caso que se deveria falar propriamente em fungibilidade.
Entendemos que, para a subsistência do Princípio, em sua inteireza, deveria haver aproveitamento do recurso impróprio, mesmo quando interposto fora do prazo do cabível, como hoje se entende para o processo civil. Mas o artigo 579 do Código de Processo, que ainda exclui o Princípio na hipótese de má-fé, impõe a manutenção de critérios antigos: parece, então, poder-se concluir que, se houver realmente incerteza quanto ao recurso adequado – seja pelo próprio sistema, seja por controvérsias doutrinárias ou jurisprudenciais – o recurso impróprio pode ser aproveitado, mesmo se interposto fora do prazo do cabível. Mas se essa dúvida não existir, a interposição de um recurso por outro, dentro do prazo maior, será claro indício de má-fé. 
* Na jurisprudência, porém, prevalece que só admite o aproveitamento do recurso impróprio se interposto no prazo do recurso cabível: STF, RTJ 92/123.
6º) Dialeticidade dos Recursos: O Princípio da Dialeticidade – que impregna todo o iter procedimental – tem aspectos próprios no que diz com os recursos: o recorrente deverá declinar os motivos pelos quais pede o reexame da decisão, porque somente assim a parte contrária poderá apresentar suas contra-razões, formando-se o imprescindível contraditório em matéria recursal.
As razões do recurso e as respectivas contra-razões são, assim, elementos indispensáveis para que o tribunal possa examinar seu mérito. Sua falta acarreta o não conhecimento.
No Processo Penal, as razões de apelação podem ser oferecidas em primeiro ou em segundo grau (art. 600, § 4o, CPP). Por outro lado, o artigo 601 do Código de Processo Penal permite que a apelação suba ao tribunal e seja julgada sem as razões, o que infringe o Principio do Contraditório.
* No entanto, o STF entendeu não induzir nulidade a circunstância de o advogado constituído do réu não haver contraditado o recurso do Ministério Publico: RTJ 57/162.
Outro problema suscita o recurso de embargos de declaração que, além dos efeitos meramente integrativos, pode ter conseqüências de modificação do julgado, ainda que nos limites da obscuridade, contradição ou omissão. Nesse caso embora as leis processuais não prevejam o oferecimento de contra-razões o Princípio constitucional do Contraditório seguramente as reclama.
7º) Disponibilidade dos Recursos: Da própria natureza dos recursos, como meios de impugnação voluntária das decisões, deveria decorrer sempre o poder de disposição que sobre eles guardasse o recorrente. A regra da disponibilidade sofre, porém, exceções no Processo Penal, em que a relação jurídica de direito material controvertida é de natureza indisponível, havendo limitações á disponibilidade dos recursos quando estejam em jogo os direitos de acusar e de defender.
Diga-se, antes de tudo, que os atos de disposição atinentes aos recursos dividem-se em renúncia e desistência. A renúncia, anterior à interposição, impede que esta ocorra, antecipando a preclusão ou o trânsito em julgado. A desistência é sempre posterior à interposição, levando à extinção da via recursal. Por isso mesmo, tanto a renúncia como a desistência têm efeitos preclusivos, sendo irrevogáveis.
* No sentido da irrevogabilidade da renúncia, v. Súmula n. 145 das Mesas de Processo Penal (atividade ligada ao Departamento de Direito Processual da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo): “A renúncia produz efeitos preclusivos e, por isso, é irrevogável”.
Mas a renúncia ao recurso, pela defesa, pode ser inválida no Processo Penal. o artigo 577 CPP possibilita a interposição do recurso pelo réu, por seu procurador ou defensor. Pode, então ocorrer a manifestação pelo réu da renúncia ao recurso, com a interposição deste pelo defensor.
Havendo conflito de vontades entre o réu e o advogado, a opinião mais coerente com as garantias da defesa é a de que deve prevalecer a vontade do defensor, que recorreu, não só em razão de seus conhecimentos técnicos, mas sobretudo para a melhor garantia do direito de defesa.
* Quanto ao menor de 21 anos, relativamente incapaz, só pode renunciar ao direito de apelar em termo próprio, assistido pelo Curador. È o que assentou a Súmula n. 144 das Mesas de Processo Penal: “ O menor de 21 anos é relativamente incapaz para os atos do processo e só pode renunciar ao direito de apelar em termo próprio, assistido pelo curador ”.
O MP não é obrigado a recorrer mas, por disposição expressa do Código, não pode desistir do recurso interposto (art. 576 CPP). E mais, entende-se que o Ministério Público não pode restringir, nas razões de recurso, o âmbito deste, que fora fixado na interposição, o que importaria em desistência parcial.
* No sentido último do texto: STF, RTJ 104/343 e 117/1.098; RJTJSP 76/330 e 79/375; JTACrimSP 53/35, 54/423, 67/217 e 341.
Com relação á defesa, deverá verificar-se, caso a caso, se a ausência do recurso poderá implicar, ou não, infringência á garantia constitucional da ampla defesa. A distinção não há de ser feita entre defensor dativo ou constituído, na linha da jurisprudência mais antiga, mas levando-se em conta a aferição, no caso concreto, da situação de réu indefeso. Nessa ótica, é evidente a possibilidade de invalidade da desistência pelo defensor, a não ser que se apóie ela em fundadas razões. E, de qualquer modo, se houver oposição do réu quanto à desistência, o ato de disponibilidade do defensor será ineficaz.
Tudo a indicar, em última análise, o enquadramento do Direito de Recorrer como modalidade do exercício da ação e da defesa, que são indisponíveis no Processo Penal.
8º) Irrecorribilidade das Decisões Interlocutórias: Diversamente do que ocorre para o Processo Civil, em que as decisões interlocutórias são impugnáveis pelo agravo (art. 522 CPC), no Processo Penal a regra para as decisões proferidas no curso do processo é sua irrecorribilidade, com as exceções previstas no artigo 581 do Código de Processo Penal Pátrio e outras expressamente previstas em leis especiais.
Tratando-se de decisões irrecorríveis, as interlocutórias poderão ser reexaminadas em seu conteúdo por ocasião do recurso, pois não serão atingidas pela preclusão. Mas se sua relativa estabilização, até o julgamento da impugnação, puder acarretar dano irreparável á parte, poderão ser imediatamente impugnadas por habeas corpus, mandado de segurança, correição parcial ou reclamação.
9º) Personalidade dos Recursos : O Princípio da Personalidade dos recursos significa que: a) o recurso só pode beneficiar à parte que o interpôs, não aproveitando à parte que não recorreu; e, como via de conseqüência, que b) quem recorreu não pode ter sua situação agravada, se não houver recurso da parte contrária.
Costuma-se invocar, como fundamento do Princípio, o fato de o recurso devolver ao tribunal tão-somente o conhecimento da matéria impugnada, o que se expressa no brocardo latino tantum devolutum quantum appellatum. No Direito Positivo, o Princípio é buscado no artigo 574 do Código de Processo Penal, caput, c/c o artigo 599 do mesmo Código.
A regra da personalidade dos recursos opõe-se a Princípio diametralmente oposto, que é do benefício comum, próprio do direito romano, passando deste para o luso-brasileiro de outrora: ainda sem recorrer, a parte poderia ser beneficiada pelo recurso da outra. A aplicação do Princípio do benefício comum leva, como corolário, à possibilidade de o recorrente ser prejudicado por seu próprio recurso (reformatio in pejus), enquanto o Princípio da Personalidade dos recursos impede,como consectário, a reformatio in pejus.
10º) Personalidade dos Recursos e proibição da reformatio in pejus: No nosso sistema processual atual vige o Princípio da Personalidade dos recursos, que vem expresso, com relação ao réu, na parte final do artigo 617 do Código de Processo Penal. Assim, pelo recurso do réu e sem que haja recurso do Ministério Público, não pode ser agravada a situação do recorrente. Não se admite a reformatio in pejus, entendida como diferença para pior, entre a decisão recorrida e a decisão no recurso, não podendo a piora ocorrer nem do ponto de vista quantitativo, nem sob o ângulo qualitativo.
Até mesmo com relação à matéria cognoscível de ofício – como, por exemplo, no caso das nulidades absolutas – o recurso do réu não pode servir de veículo para o reconhecimento de nulidade que prejudique a defesa.
* É o que assentou a Súmula n. 160 do STF: “È nula a decisão do tribunal que acolheu contra o réu nulidade	 não argüida no recurso de acusação, ressalvados os casos de recursos de ofício”
Não há dúvidas, no Processo Penal, quanto á proibição da reformatio in pejus para agravar a situação do réu, no seu próprio e único recurso.
* STF, RTJ 46/815 e 80/42; HC 56.296, DJU 18.02.1977, p. 887; TJSP, RT 564/304. No julgamento do HC 78.756-1 - MS, o STF entendeu configurar indevida reformatio in pejus o não conhecimento de apelação em liberdade de réu condenado por tráfico de entorpecente se, sobre a questão da liberdade provisória, não houve impugnação do Ministério Público (Boletim IBCCRIM 79/357).
Mas a mesma tranqüilidade não ocorre quando se trata de recurso exclusivo da acusação. Isso porque, na própria redação da parte final do artigo 617 do Código de Processo Penal, o que se impede expressamente é apenas a agravação da situação do réu, pela via de seu recurso exclusivo.
Duas posições divergentes surgem a partir disso. Uma admite, outra não, a denominada reformatio in melius (assim impropriamente chamada, pois se trata sempre de reformatio in pejus para o recorrente, órgão da acusação).
Segundo a primeira, em face do Princípio da igualdade das partes, também a acusação não pode ter a situação agravada, por intermédio de seu recurso, se não houver impugnação do réu. Ademais, o artigo 617, ao referir-se aos artigos 383, 386 e 387, não estaria ditando uma regra geral de proibição à reformatio in pejus, mas trataria apenas de fixar limites às sentenças de desclassificação. Afirma-se, então, que nosso sistema não agasalhou a reformatio in melius (rectius, reformatio in pejus para o Ministério Público), devendo o tribunal utilizar instrumentos como o habeas corpus de ofício para corrigir em favor do acusado ilegalidades da decisão. Mas mesmo essa tese não consegue evitar a possibilidade da reformatio in pejus, quando se trata de matéria cognoscível de ofício ( por exemplo, as condições da ação). 
Numa segunda linha de entendimento, que é a acolhida pela jurisprudência dominante, a situação do réu que não recorreu pode ser melhorada pelo recurso exclusivo da acusação. Militam em prol desse entendimento vários argumentos, desde o favor rei ou favor libertatis – que ditaram a regra do artigo 617, in fine, do Código de Processo Penal apenas para beneficiar a defesa – , até princípios como o da simplicidade e da economia processual, pois o mesmo resultado poderia sempre ser obtido por intermédio do habeas corpus ou da revisão criminal.
* No sentido último do texto: TJSP, RT 514/357, 568/272, 528/326 e 490/327; TACrimSP, RT 526/394, 556/348, 565/327.
11º) Nulidade da sentença e proibição da denominada reformatio in pejus indireta: A proibição da reformatio in pejus é Princípio inerente à teoria geral dos recursos, ligando-se à regra da personalidade destes. Trata-se de Princípio atinente ao julgamento de um recurso e entende-se por decisão mais desfavorável aquela proferida no órgão ad quem, em cotejo com a decisão impugnada.
No entanto, na jurisprudência brasileira, a proibição tem sido estendida aos casos em que a sentença venha a ser anulada, por intermédio de recurso do réu: assim, o juiz que vier a proferir nova decisão, em lugar da anulada, ficará vinculado ao Máximo da pena imposta na primeira sentença, não podendo agravar a situação do réu. Se o fizesse, argumenta-se, estaria ocorrendo uma reformatio in pejus indireta.
Tecnicamente não parece correta a posição, ante a falta de texto expresso. Para que a reformatio in pejus se verifique, deve haver diferença para pior entre a decisão recorrida e a decisão no recurso. Sob o ponto de vista prático, a aplicação da tese pode levar a resultados aberrantes: à decisão anulada, proferida, por exemplo, por juiz incompetente, suspeito ou peitado, conferir-se-ia a força de impedir que o verdadeiro julgador possa solucionar a controvérsia legalmente e com Justiça. E, em qualquer caso, haverá sempre a anomalia de se reconhecer a influência de uma sentença nula sobre a válida.
No entanto, atualmente o entendimento é tranqüilo na jurisprudência brasileira.
* Nem sempre foi assim: os julgados mais antigos não reconheciam qualquer influência da sentença nula sobre a que viesse a ser proferida: STF, RT 179/998, RT 114/486. Mas a posição mudou a partir do Habeas Corpus n. 48.998 (RTJ 60/348), em que o STF entendeu, para a revisão criminal, que o art. 626, parágrafo único, CPP proíbe a agravação da pena, mesmo que a primeira sentença tenha sido anulada; e, se assim é para a revisão criminal – o que, observe-se, também é discutível – o mesmo raciocínio deve aplicar-se ao art. 617, atinente à apelação. A partir dessa posição, o STF, modificando o entendimento anterior, passou a afirmar a impossibilidade de nova sentença aplicar pena mais grave do que a fixada em decisão anulada por habeas corpus, porquanto isto levaria a uma verdadeira reformatio in pejus, vedada pelos arts. 617 e 626 parágrafo único CPP, c/c art. 3o do mesmo código (RTJ74/654).
Pressupostos Recursais
Classificação Tradicional
	A Doutrina Processual Penal fala genericamente em Requisitos ou Pressupostos de Admissibilidade dos Recursos. E muito embora em obras mais recentes se utilize a expressão Condições e Pressupostos dos Recursos, estabelecendo um paralelo com as Condições da Ação e os Pressupostos Processuais, na sistematização dos referidos requisitos ainda se encontra a repartição clássica em Pressupostos Objetivos e Pressupostos Subjetivos. 				
* No Processo Civil, é freqüente a menção à simetria entre a legitimação aos recursos e o interesse em recorrer, de um lado, e a legitimação ad causam e o interesse de agir, do outro: apesar disso, a classificação dos requisitos de admissibilidade não costuma acompanhar aquela relativa à relação processual e às condições da ação, preferindo-se falar em requisitos extrínsecos e requisitos intrínsecos dos recursos. 	
	Assim, é a seguinte a classificação tradicional dos requisitos de admissibilidade dos Recursos penais, divididos em :
Pressupostos Objetivos
Cabimento: corresponde à previsão Legal do Recurso, ou seja, o Recurso deve estar previsto em Lei;
Adequação (ou Princípio da Correspondência): que liga as decisões ao Tipo de Recurso que elas sugerem, sendo de suma importância, ou seja, salvo a hipótese de má-fé, pode ele ser conhecido. 
Tempestividade: o Recurso deve ser interposto dentro do prazo legal. Os prazos recursais são fatais, contínuos e peremptórios, nos precisos termos do artigo 798 do Código de Processo Penal Pátrio, não se interrompendo por férias, domingo ou feriado, salvo se houver impedimento do Juiz, força maior ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária (art. 798, § 4º do CPP). 
Regularidade Processual: sabido qual o Recurso oponível, deverá o recorrente observar as formalidades exigidas por Lei para sua interposição, tais como prazo, forma de interposição etc. Quanto à forma, embora haja a regra inserta no artigo 578 do Códigode Processo Penal Pátrio, no sentido de que o Recurso poderá ser interposto por petição ou termo nos autos, o certo é que a interposição por termo nos autos, às vezes, não é permitida, e, nesses casos, deverá o recorrente interpô-lo por meio de petição. 
* Assim, por exemplo, nos Embargos Infringentes e de Nulidade, nos Embargos de Declaração, na Carta Testemunhável, no Recurso Extraordinário, no Recurso Especial, no Recurso Ordinário-Constitucional, nos Agravos (inominado e de instrumento), na Correição Parcial e, finalmente, no Habeas Corpus e na Revisão Criminal, impropriamente considerados pelo Código como Recursos, a Interposição se faz por meio de petição. A Apelação, o Recurso em Sentido Estrito e o Protesto por Novo Júri podem ser interpostos por Petição ou termo nos autos. 
* Fala-se também em Motivação e Preparo com formalidades essenciais. (ver arts. 601, 576, 589, 607, 806, § 6º do CPP). 
Inexistência de Fato Impeditivo ou Extintivo: existem certos fatos que, uma vez consubstanciados, impedem ou extinguem o exercício das vias recursais, não podendo o Recurso ser conhecido se algum deles ocorrer. São Fatos Impeditivos do conhecimento dos Recursos a Preclusão e a Renúncia. E são Fatos Extintivos a Desistência e a Deserção. 
* Em relação ao não recolhimento à prisão nos casos em que a Lei o exige, não consideramos como Fato Impeditivo, ou seja, apesar de certa tendência no sentido de só se impedir a Apelação em Liberdade quando for imprescindível a prisão cautelar, tem havido insegurança do Legislador no tratamento do tema. Necessário se faz que, mediante novas alterações legislativas e por meio de evolução na Jurisprudência, sejam superadas as dissonâncias dentro do sistema e a prisão antes da Sentença transitada em julgado adquira realmente característica de providência cautelar. (Fernandes, Antonio Scarance. Recursos no Processo Penal. 3ª ed. São Paulo: RT , 2001, p.139-1401.) 
 
* Aferida a ocorrência de Fatos Impeditivos e Extintivos, o próprio órgão jurisdicional a quem competiria receber o recurso deve declarar sua inadmissibilidade e negar-lhe seguimento, impedindo seja processado e remetido ao órgão ad quem, com exceção dos casos de Carta Testemunhável (artigo 642 do Código de Processo Penal Pátrio). 
Pressupostos Subjetivos
	Os Pressupostos Subjetivos são os atinentes à pessoa do Recorrente. São de duas ordens: a) Interesse; b) Legitimidade, a saber:
 
Interesse em Recorrer (Falando alguns em Sucumbência): ao tratar da titularidade ativa recursal dispõe o artigo 577, do Código de Processo Penal: “O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor”; Quanto ao interesse recursal aduz o parágrafo único da precitada norma Processual Penal: “Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão”. 
* A parte não pode recorrer se não houver Interesse na reforma. Assim, da sucumbência exsurge o Interesse na modificação do ato jurisdicional. Ao lado do Interesse, a Legitimidade, isto é, a pertinência subjetiva dos recursos, vale dizer, somente a parte lesionada pela decisão, a parte que sofreu o gravame, é que poderá recorrer. (Tourinho Filho, Fernando da Costa, Processo Penal, 24ª ed., São Paulo, Saraiva, 2002, p.320). 
* A Sucumbência classifica-se da seguinte forma: I- Única (atinge apenas uma das partes); II- Múltipla (mais de uma parte é atingida); III- Paralela (quando o gravame da decisão atinge interesses idênticos; por exemplo, condenação de dois réus); IV- Recíproca (atinge ambas as partes com interesses opostos; por exemplo, julgamento de parcial procedência da ação); V- Direta (atinge uma das partes, ou seja, apenas os integrantes da relação processual); VI- Reflexa (atinge quem não integra a relação processual; por exemplo, a vítima que não poderá ressarcir-se dos danos provocados pela infração); VII- Parcial (o pedido é parcialmente desatendido); VIII- Total (o não atendimento é global). 
Legitimação aos Recursos: Segundo o artigo 577, caput, do Código de Processo Penal, o Recurso pode ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou defensor. Como garantia da Ampla Defesa, tem-se admitido, inclusive, a interposição por advogado sem procuração, com mandato verbal (RT 618/346). Nada obsta, também, o Recurso por parte do defensor dativo, mesmo sem a anuência do réu preso (RT 537/370), ou da Defensoria Pública, ainda que revel o acusado (RTJ 84/317). 
* A relação do artigo 577, aliás, não é taxativa. É nítida a possibilidade de interposição do Recurso pelo curador do acusado, pois de nada adiantaria a exigência da Lei em sua nomeação se não lhe desse capacidade processual para assisti-lo convenientemente (RT 531/364), ainda que, eventualmente, contra sua vontade.
* Mesmo quando se trata de defensor, tem-se entendido que, apesar da renúncia do réu, seu defensor pode recorrer diante do caráter público da defesa técnica, concebida como ofício de interesse da comunidade e condição necessária da realização do Contraditório e do Devido Processo Legal (RT 543/363, 602/365, 614/321, 617/287, 639/285). 
* A Lei confere Legitimidade não só às partes e seus representantes, mencionados no artigo 577, caput, mas, excepcionalmente a outras pessoas. A vítima, ou quem legalmente a represente, ou uma das pessoas enumeradas no artigo 31 do Código de Processo Penal, pode apelar, ainda que não tenha se habilitado como assistente, nos processos de competência do Tribunal do Júri (artigo 598 do Código de Processo Penal). 
* Pode ainda recorrer qualquer do povo quanto ao arquivamento de representação na hipótese da Lei nº 1.508, de 19-12-51, que versa sobre contravenções de jogos de azar; nos processos de contravenções florestais (Lei nº 4.771, de 15-9-65); bem como da decisão que inclui ou exclui jurado na lista geral (artigo 439). Tem também direito a recurso o que prestou fiança em favor do acusado na hipótese de decretada sua quebra ou perda (artigo 581, VII). 
* Essa classificação está atualmente superada, porque esse Modelo não leva em consideração a verdadeira natureza do Direito de Recorrer, que nada mais é do que uma modalidade do Direito de Ação e de Defesa, enquadrado na Tutela Constitucional do Devido Processo Legal. 
Uma nova sistematização – Classificação Moderna
(Condições dos Recursos e Pressupostos Recursais)
					 					
Juízo de admissibilidade dos Recursos ou de Prelibação
	Dada a natureza do Direito de Recorrer, pode-se estabelecer um paralelo entre as Condições da Ação e as Condições dos Recursos.
	Assim, como para o exercício do Direito de Ação é necessário o atendimento de Condições, sem as quais não se pode exigir o provimento jurisdicional, também para o exame do Mérito do Recurso é preciso que se cumpram as Condições de exercício do Direito Recursal.
	O Recurso, é certo, não instaura nova relação processual, tratando-se apenas de outra fase da mesma relação aberta com a demanda. Mas o Direito à fase impugnativa, como desdobramento do próprio Direito de Ação, também se sujeita a Condições de Admissibilidade.
		 
	Trata-se das mesmas Condições exigidas para o exercício do Direito de Ação, quais sejam :
Possibilidade Jurídica (entendida como Previsão, pelo sistema, do Recurso utilizado) : – Corresponde ao Cabimento do Recurso, ou seja, só é possível Recorrer se houver Previsão Legal no ordenamento jurídico do Recurso utilizado; 
Interesse em Recorrer : – visto como Necessidade (ou utilidade) e mais Adequação; 
* Necessidade – é a indispensável tutela Jurisdicional do Estado para a obtenção do Direito Material perseguido. 
* Utilidade – corresponde, por intermédio do Direito de Recorrer, à expectativa de obter situação mais vantajosa do que a contida na decisão impugnada.
* Adequação – é a relaçãocorreta que deve existir entre a irresignação do autor, ao comparecer em juízo, e o provimento jurisdicional pretendido. Se não houver correspondência exata entre a pretensão do Recorrente e o provimento jurisdicional almejado, que deve ser adequado à correção do mal impugnado, o Interesse de Recorrer se tornou Inadequado.
Legitimação ao Recurso: – estabelece a relação legal daqueles que podem Recorrer, possibilitando averiguar se quem interpôs o Recurso está habilitado a fazê-lo. (ver artigo 577 do Código de Processo Penal Pátrio)
 
O primeiro, na classificação tradicional, é considerado Pressuposto Objetivo dos Recursos; e os dois últimos, Pressuposto Subjetivo. 		
Pressupostos Processuais e Pressupostos Recursais
	Além disso, como ocorre para o Processo em Geral (entendido como relação processual mais procedimento), o procedimento recursal também se subordina a Requisitos para a constituição de uma fase procedimental válida, ou seja, como viabilidade para desenvolver-se regularmente.
	Trata-se dos Pressupostos Recursais, correspondendo aos Pressupostos Processuais.
	No enfoque mais restrito, os Pressupostos para a constituição válida da relação processual são: a) a demanda, regularmente formulada; b) a capacidade de quem a formula, c) A investidura do Juiz.
	Transportando esses Pressupostos para o Procedimento Recursal, bastará substituir o elemento “demanda” pelo de “interposição do Recurso” . E se verá, então, que o que a Doutrina Tradicional indica como alguns dos “Pressupostos Objetivos dos Recursos” nada mais é do que o primeiro Pressuposto Recursal.
		Com efeito:
A Tempestividade e a Regularidade Procedimental estão compreendidas no Pressuposto do Recurso regularmente formulado;
O Cabimento (previsão mais adequação) pertence, ao contrário, à categoria das Condições da Ação, enquadrando-se a Previsão na Possibilidade Jurídica e a Adequação no Interesse em Recorrer. 		 
	Para completar o rol dos Pressupostos Objetivos dos Recursos da Classificação Tradicional, ainda falta aquele que a Doutrina indica com a expressão de inexistência de fatos impeditivos ou extintivos.
* Em síntese, a sistematização dos requisitos de admissibilidade do Julgamento do Mérito dos Recursos, elaborada levando em conta a construção científica do Processo, conduz a uma nova classificação, que é a seguinte:
Condições de Admissibilidade dos Recursos:
possibilidade jurídica (previsão no ordenamento);
legitimação;
interesse em recorrer (utilidade mais adequação).
Pressupostos Recursais para a constituição de uma fase procedimental válida:
a investidura do juiz;
a capacidade de quem formula o recurso;
a regularidade formal da interposição do Recurso; e, numa visão mais abrangente,
a inexistência de fatos impeditivos ou extintivos.
* É para esses requisitos de admissibilidade, compreendendo Condições e Pressupostos, que o Juízo de Admissibilidade deve atentar. 
Efeitos Recursais

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