Buscar

LAELI_06_t12

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Leia o texto a seguir, de Denilso de Lima, professor de inglês e escritor: 
 
Uso da língua portuguesa na aula de inglês 
 
No Brasil parece haver uma lei proibindo o uso da língua portuguesa em 
aulas de inglês. Às vezes parece que ouço uma voz dizendo, “a regra é clara: 
português em sala de aula é falta grave, passível de cartão vermelho”. Esse 
assunto em alguns treinamentos de professores é até tido como tabu. No 
entanto, o que os especialistas dizem? Será que o uso da língua portuguesa 
ajuda ou atrapalha no aprendizado de inglês? 
 
Antes de responder a essas perguntas, vale dizer que o mito de que a 
língua materna (LM) mais atrapalha do que ajuda vem das teorias e princípios 
dos métodos oriundos do Direct Method (DM). Uma dessas teorias dizia: 
“jamais traduza: demonstre”. Assim, todas as aulas de língua estrangeira (LE) 
eram dadas exclusivamente na língua alvo. 
 
Nos Estados Unidos, na década de 50, o Audiolingual Method (ALM) 
tornou-se o método mais usado nas instituições de ensino. Foi também o 
método que ganhou força ao redor do mundo. Foi com esse método que a 
regra do não uso da LM dos aprendizes em aulas de línguas estrangeiras 
ganhou força. Uma das orientações do ALM afirma claramente que “o uso da 
língua materna do aprendiz é proibido” (RICHARDS e ROGERS, 2001, p.156). 
 
No entanto, no final da década de 60, essas propostas do DM e ALM 
começaram a ser questionadas. Com o advento das ideias da Communicative 
Approach (CA), nas décadas de 70 e 80, a proibição do uso da LM dos alunos 
começou a ser debatida. 
 
Finocchiaro e Brumfit, dois grandes teóricos da CA, escreveram em 
1983 alguns pontos que diferenciavam o ALM e a CA. De acordo com esses dois 
autores, uma das diferenças fundamentais estava no uso da LM dos aprendizes 
na aula de língua estrangeira. Na percepção deles “o uso prudente da língua 
materna é aceito quando necessário” (FINOCHIARO e BRUMFIT, 1983, p.92). 
 
H. Douglas Brown, outro grande nome na área de metodologia e CA, 
também defende a ideia de que a LM é um fator que facilita o aprendizado da 
segunda língua e não algo que interfere ou mesmo atrapalha (BROWN, 2000, 
p.68). Jim Scrivener, autor de livros para professores de inglês, nos diz que “a 
língua materna dos aprendizes pode ser um recurso muito útil na sala de aula” 
(SCRIVENER, 2005, p.100). Scrivener acrescenta ainda que “há muitas 
maneiras úteis de usar a língua materna dos alunos (até mesmo para 
professores que não conhecem a língua)” (SCRIVENER, 2005, p.308). 
 
 
 
O mais impressionante é que Scrivener chega ao ponto de aconselhar os 
professores de inglês a fazerem o seguinte, “se você perceber que a melhor e 
mais eficiente maneira de explicar algo é usando a LM dos alunos, então faça 
isso” (SCRIVENER, 2005, p.309). Acredito ser válido mencionar aqui que o 
livro Learning Teaching: the essential guide to English language teaching, de 
Scrivener, é leitura obrigatória em cursos de professores de inglês ao redor do 
mundo. 
 
Outro autor recomendado nesses cursos é Jeremy Harmer. No livro The 
Practice of English Language Teaching, esse autor declara que “há muitas 
ocasiões nas quais o uso da LM dos aprendizes na sala de aula tem vantagens 
óbvias”. Ele diz ainda que “ganha-se muito ao fazer comparações entre a LM e 
a língua alvo. Os estudantes farão essas comparações de qualquer forma; 
logo, nós, professores, podemos ajudá-los a fazer de modo mais eficiente” 
(HARMER, 2007, p.133). 
 
Além dos renomados autores da área, há também inúmeros estudos 
mostrando que o uso da LM dos aprendizes tem um papel crucial em muitos 
aspectos do aprendizado de uma segunda língua. Portanto, hoje em dia, em 
muitas regiões do mundo o uso da língua materna dos alunos em aulas de 
inglês é algo natural e aceitável. 
 
Diante de tantas provas a favor, Luke Prodomou, ELT profissional e 
autor de inúmeros livros, declara que temos de “romper com essa tradição de 
percepções negativas da língua materna na sala de aula”. Ele ainda afirma 
que “em termos educacionais, é uma contradição absurda ensinar uma língua 
estrangeira, seja qual for, sem fazer referência ou uso criativo da língua 
materna dos alunos” (PRODOMOU apud DELLER e RINVOLUCRI, 2002, p.05). 
 
Por incrível que pareça, o assunto parece ser muito mais polêmico no 
Brasil. Não sei se por força das tradicionais escolas de ensino de idiomas, ou 
falta de leitura e interesse dos ditos profissionais de ensino. Até mesmo 
escolas de idiomas que se vangloriam de fazer uso dos princípios da CA pecam 
nesse ponto. Afinal, a CA quando proposta originalmente afirmava que o uso 
da LM dos aprendizes poderia ser feito de modo prudente, moderado e quando 
necessário fosse. 
A essa altura, é necessário esclarecer a diferença entre o uso prudente 
da língua portuguesa na aula de inglês e o falar português o tempo todo na 
aula de inglês. Nenhum teórico da área defenderá a ideia estapafúrdia e sem 
fundamento de que o professor deve falar português o tempo na sala de aula. 
O que se defende é a ideia do uso prudente da língua portuguesa no ensino de 
inglês. 
 
Digamos que você em uma aula tenha de explicar a um aluno o 
significado da expressão “so to speak”. Você não pode usar o português na 
sala de aula; portanto, deverá dar um jeito de explicar em inglês. Como você 
 
 
faria isso? Você pode explicar isso durante minutos e ainda assim seus alunos 
provavelmente não compreenderiam. O resultado, no entanto, seria: 1) perda 
de tempo precioso na sala de aula; 2) frustração dos alunos para continuar 
aprendendo; 3) desânimo do professor diante da turma; 4) perda da confiança 
entre alunos e professores. 
 
Agora, imagine que ao ser questionado por um aluno sobre o significado 
da expressão “so to speak”, você responda assim “so to speak means por 
assim dizer. Let me give you some examples to make this expression clear”. 
Você então se dirige ao quadro e escreve os exemplos a seguir: 
 
 That’s a common problem, so to speak. 
 He’s a little bit crazy, so to speak. 
 This is not, so to speak, the right thing we to do. 
 
Ao escrever cada exemplo no quadro, você poderá traduzir a sentença 
e ressaltar a expressão “por assim dizer”. Isso faz com que os alunos façam 
uma conexão com o conhecimento linguístico que eles já têm (a LM), 
internalizem e passem a utilizar a expressão quando tiverem a chance de usá-
la. 
 
Esse uso prudente da língua portuguesa também pode ser feito em 
explicações gramaticais. Nesse caso o professor pode comparar as estruturas 
das duas línguas e pedir aos alunos para observarem as diferenças. Em uma 
aula na qual o professor tenha de ensinar o uso do Present Perfect em “I’ve 
always wanted to…”, pode-se dizer aos alunos que em inglês é assim que 
dizemos “eu sempre quis…”. 
 
O professor escreve “I’ve always wanted to…” no quadro e diz aos 
alunos a equivalência em português. O professor, então, começa a ampliar os 
exemplos: “I’ve always wanted to travel around the world”, “I’ve always 
wanted to do that”, “I’ve always wanted to go there”, “I’ve always wanted 
to meet her”, etc. Conforme o nível de conhecimento da turma o professor 
pode também pedir para que os alunos deem exemplos. 
 
Dessa forma, usar a língua portuguesa de modo prudente, ponderado e 
moderado em sala de aula não afetará negativamente o aprendizado dos 
alunos. Usar a língua portuguesa de modo prudente não é o mesmo que falar 
português em sala de aula o tempo todo. 
 
No Brasil as pessoas reclamam que não aprendem inglês. Reclamam que 
passam anos e anos estudando inglês e no fim não aprendem nada. Os 
estudantes dizem que as escolas, os materiais,os livros, etc., não prestam. As 
escolas rebatem dizendo que os estudantes são péssimos. Eu pergunto, será 
que o problema não está na insistência de métodos, técnicas e abordagens 
ultrapassadas ou mesmo mal aplicadas em sala de aula? 
 
 
 
Romper certos paradigmas de ensino não é fácil. Se não bastasse a 
teimosia das escolas em continuar perpetuando esse mito, os alunos também 
ajudam a continuá-lo. As escolas então aproveitam para usar em suas 
propagandas frases como “nossas aulas são todas em inglês”. Os alunos veem 
isso como um grande diferencial e como algo extremamente necessário. Por 
conta desse marketing e falta de conhecimento das pessoas em geral, o ciclo 
continua. Mesmo indo contra todas as teorias que provam que o uso da LM é 
de grande ajuda no ensino e aprendizado da língua inglesa. 
 
Qual a sua opinião sobre esse assunto? A leitura desse artigo mudou de 
alguma forma o que você pensa (ou pensava) a respeito? O que mais te 
impressionou ao ler as ideias apresentadas acima? Esse artigo pode mudar de 
alguma forma o modo como você ensina inglês? 
 
(Fonte: http://www.denilsodelima.com.br/articles/portugues-na-aula-de-ingles/)

Outros materiais