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RESENHA CLINICA PSICANALITICA

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RESENHA
HISTÓRIA DE UMA NEUROSE INFANTIL ( “ O HOMEM DOS LOBOS”, 1918 [1914])
TÍTULO ORIGINAL: “AUS DER GESCHICHTE EINER INFANTILER NEUROSE”.
Ao ler o caso clínico de Freud O Homem dos Lobos deparamos com questões importantes para as nossas reflexões e atuação clínica. O caso apresenta um jovem adulto atormentado por uma neurose obsessiva, sendo perseguido por lembranças infantis. 
Com o desenvolvimento da psicanálise, Freud começou a atender mais pacientes que vinham procurá-lo em função de distúrbios emocionais, do que por sintomas físicos. Um desses pacientes foi o nobre russo Sergei Pankejeff, conhecido como o homem dos lobos, um dos casos freudianos mais famosos, ele procurou Freud em 1910 e sua análise durou mais de quatro anos. 
Ainda que sua doença inicial fosse gonorreia, ele acabou ficando deprimido, sendo diagnosticado como portador de distúrbio maníaco-depressivo. Em seu relato de caso, Freud enfatizou muito um sonho que o paciente recordava ter tido aos quatro anos de idade. Ele, no sonho, se lembrava de que estava dormindo em sua cama quando a janela se abriu de repente, vendo horrorizado, aproximadamente sete lobos brancos sentados em uma árvore do jardim. Os lobos eram muito brancos e tinham caudas grandes como as de raposas; estavam calmos e olhavam para Sergei atentamente. Aterrorizado pelo medo de ser comido, acordou gritando. 
De acordo com a análise de Freud, realizada ao longo de alguns anos, o sonho era a versão mascarada de uma cena primitiva traumática. Os seis ou sete lobos representavam os pais do paciente (a diferença numérica teria sido produzida pelo inconsciente para mascarar o verdadeiro sentido do sonho). A tranquilidade dos lobos é uma referência invertida aos movimentos violentos do ato sexual. A brancura dos animais remete à brancura dos pais sem roupas. 
Os lobos olhando para a criança representam outra inversão, cujo verdadeiro sentido é a criança observando os pais. O tamanho de sua cauda significa, da mesma forma invertida, uma cauda que foi cortada – a ideia que, por sua vez, está associada ao medo de castração.
Essas e outras estratégias interpretativas permitem a Freud afirmar que o sonho era, realmente, uma lembrança mascarada da ocasião em que, aos dezoito meses de idade, o jovem Sergei acordou de seu sono em uma tarde de verão no mesmo quarto em que seus pais haviam se recolhido, seminus para uma sesta. O garoto então testemunhou, por três vezes consecutivas, seu pai tendo relações sexuais com sua mãe, que estava ajoelhada. 
Pela ação daquele sonho, que o colocou sob a influência da cena primária, ele poderia ter avançado até a organização genital e transformado o seu masoquismo ante o pai em postura feminina diante dele, em homossexualidade. Porém o sonho não trouxe este avanço; ele terminou em angústia. A relação com o pai, que deveria conduzi-lo da meta sexual de ser castigado por ele à meta seguinte, ser possuído pelo pai como uma mulher, foi recuada a um estágio ainda mais primitivo, pela objeção de sua masculinidade narcisista, e, por deslocamento para um substituto do pai, cindida sob a forma da angústia de ser devorado pelo lobo, mas de modo algum resolvida por esse meio (Freud, 1918 [1914]/2010: 8687).
Ao expor tal interpretação do sonho, Freud esperava ter descoberto o incidente primitivo traumático que originara doença. No entanto, constatou que o paciente não estava fazendo progressos. Em uma tentativa de quebrar essa “resistência”, determinou uma data para o fim do tratamento. Foi depois disso, segundo o relato do caso, que, após quatro anos de análise, emergiu alguma lembrança de que, em idade muito precoce, o paciente deve ter tido uma babá à qual era muito ligado. 
Quando Sergei tinha dois anos, ele a vira limpando o chão. Ele então urinou e ela o ameaçou com a castração. No entender de Freud, quando Sergei observou a moça esfregando o chão, de joelhos, com as nádegas para cima, ele se viu mais uma vez diante da postura que sua mãe assumira na cena da copulação. Para ele, a babá transformara-se em sua mãe, e isso provocou uma excitação sexual. Assim como seu pai, como sua ação ele interpretou como uma micção se comportou do mesmo modo diante dela. Sua micção no chão foi uma tentativa de sedução, e a garota reagiu a isso com uma ameaça de castração.
A consequência da masculinidade é recalcar a atitude homossexual no sentido genital, haja vista que a sua aceitação custaria o pênis. Assim, diferentemente da denegação neurótica (Verneinung), que "não quer saber nada a respeito", a negação perversa (Verleug nung) permite que o sujeito mantenha-se na crença. Podemos confirmar esta asserção nas palavras do próprio Freud (1927/1996: 156), "vemos que a percepção continuou e que uma ação muito enérgica foi empreendida para manter a rejeição".
Como Freud mesmo reconhece, esta maneira de lidar com a realidade é engenhosa, na medida em que mantém a satisfação da pulsão ao preço de desenvolver sintomas que a satisfazem de modo regressivo. Esta contribuição nos permite refletir sobre tal artifício da criança em lidar com a castração, na contramão da grande maioria, que a aceita em detrimento do gozo. Esta forma de posicionar-se diante da falta materna, que não é pautada no recalque e na função do Nome-do-Pai, de algum modo reconhece, parcialmente, a castração, indicando que as defesas na neurose obsessiva se produzem de modo diverso da histeria. Como Freud será levado a reconhecer nesta época, a defesa na neurose obsessiva resulta essencialmente de alterações no próprio eu. As compulsões, as anulações retroativas e as formações reativas dão testemunho desta descoberta.

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