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CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 01 – INQUÉRITO POLICIAL / AÇÃO PENAL Caros alunos de todo o Brasil, sejam bem vindos a nossa primeira aula! Hoje veremos temas importantes e que são objetos de questionamento por praticamente todas as bancas de prova: O inquérito policial e a ação penal. Começaremos com o inquérito que é um assunto interessante e que constantemente lemos nos jornais e escutamos falar nos telejornais... O problema é que muitas vezes tal tema é tratado de uma maneira incorreta e esses erros acabam ficando na cabeça. Observe o texto publicado pelo jornal “o globo” em 16/04/2009: “A origem das balas com cocaína que levaram 17 crianças e adolescentes a passar mal em uma escola municipal de Santo Antonio da Posse vai ficar sem resposta. A polícia decidiu nesta quinta-feira arquivar o inquérito que apurava o caso.” Será que este texto está correto? Será que a autoridade policial pode arquivar o inquérito? Bom, estas e outras perguntas serão respondidas no decorrer da aula e, ao final, você começará a prestar mais atenção nas notícias... Afinal, só mesmo concurseiros “de carteirinha” ficam procurando (e encontrando) erros que quase ninguém acha nos jornais!!! Dito isto, vamos ao que interessa? Bons estudos!!! ************************************************************************** 1.1 CONCEITO Constantemente vemos na sociedade fatos que são claramente infrações penais, entretanto não é possível, de pronto, a determinação da autoria e a configuração correta do delito. Assim, surge no ordenamento jurídico, mais precisamente no Código de Processo Penal (CPP), a figura do inquérito policial, um PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO que tem por finalidade o levantamento de informações a fim de servir de base à ação penal ou às providências cautelares. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 2 Você deve lembrar-se do recente e triste caso da menina Isabella Nardoni onde ouvimos falar muito no inquérito. Qual era a real finalidade deste procedimento? A finalidade era a apuração dos autores do delito e a definição de como efetivamente ele ocorreu, a fim de propiciar a atuação do Ministério Público. Conforme lição do saudoso Prof. Mirabete, o “inquérito policial é todo procedimento policial destinado a reunir os elementos necessários à apuração da prática de uma infração penal e de sua autoria. Trata-se de uma instrução provisória, preparatória, informativa em que se colhem elementos por vezes difíceis de obter na instrução judiciária...“. Regra geral, os inquéritos são realizados pela Polícia Judiciária (Polícias Civis e Polícia Federal) e são presididos por delegados de carreira, entretanto o art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal deixa claro que existem outras formas de investigação criminal como, por exemplo, as investigações efetuadas pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) e o inquérito realizado por autoridades militares para apurar infrações de competência da Justiça Militar (IPM). Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. (grifo nosso) 1.2 CARACTERÍSTICAS • PROCEDIMENTO ESCRITO Conforme dito anteriormente, a grande finalidade do inquérito é servir de base para uma posterior ação penal. Desta forma o art. 9º do CPP deixa claro que as peças do inquérito serão reduzidas a escrito ou datilografadas, não sendo possível a ocorrência de uma investigação verbal. Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade. OBSERVAÇÃO: Algumas vezes você encontrará a expressão “o depoimento foi REDUZIDO A TERMO”. Isso só quer dizer que foi escrito ou datilografado. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 3 • PROCEDIMENTO SIGILOSO O CPP no seu art. 20 nos diz: Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. O sigilo é um elemento de que dispõe a autoridade policial para facilitar seu trabalho na elucidação do fato. Tal sigilo encontra-se extremamente atenuado, pois, segundo entendimento do STF, é um direito do advogado examinar, em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento. É importante ressaltar que para os atos que dependem de autorização judicial, segundo a CF (escuta, interceptação telefônica etc.), o advogado só terá acesso se possuir PROCURAÇÂO ESPECÍFICA. Neste sentido já se pronunciaram por diversas vezes o STF e o STJ. Também é permitido o acesso total aos autos ao Ministério Público e ao Juiz. O sigilo deverá ser observado também como uma forma de preservar a intimidade do investigado, resguardando-se seu estado de inocência. Devido a esta presunção, dispõe o CPP em seu Art. 20, Parágrafo Único: Art. 20 [...] Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que Ihe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes, salvo no caso de existir condenação anterior. ***O inquérito policial é público, não podendo a autoridade policial impor sigilo, ainda que necessário à elucidação do fato. Gabarito: ERRADA CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 4 • INDISPONIBILIDADE Nos termos do art. 17 do CPP, a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito. Este é um ponto que gera inúmeras dúvidas, pois se contrapõe ao que normalmente imaginamos como válido. Entretanto, fique tranquilo que tudo ficará claro quando tratarmos, especificamente, do arquivamento. • OFICIOSIDADE O início do inquérito independe de provocação e DEVE ser determinado de ofício quando houver a notícia de um crime. A oficiosidade decorre do princípio da legalidade (ou obrigatoriedade) da ação pública. Existem algumas ações para as quais o inquérito não segue este princípio, mas voltaremos neste assunto quando tratarmos das espécies de ação. É importante frisar que não é por toda notícia que deverá ser instaurado imediatamente o inquérito, sendo razoável uma avaliação preliminar para determinar se o ato noticiado realmente constitui crime. Entretanto, a requisição de instauração do inquérito por parte do Ministério Público ou do Juiz tem natureza de ordem e não deve ser questionada ou verificada pela autoridade policial. ***A autoridade policial poderá promover o arquivamento do IP, desde que comprovado cabalmente que o indiciado agiu acobertado por uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade Gabarito: ERRADA CAIU EM PROVA! ***A requisição do MP para instauração do IP tem a natureza de ordem, razão pela qual não pode ser descumprida pela autoridade policial, ainda que, no entender desta, seja descabida a investigação. Gabarito: CORRETA CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 5 • OFICIALIDADE Somente órgãos dedireito público podem realizar o inquérito policial. Ainda quando a titularidade da ação penal é atribuída ao particular ofendido (ação penal privada), não cabe a este a efetuação dos procedimentos investigatórios. • INQUISITIVO ATENÇÃO Î ESTA É A CARACTERÍSTICA MAIS EXIGIDA EM PROVA!!! É inquisitivo o procedimento em que as atividades visando à elucidação do fato e à determinação da autoria ficam concentradas em uma única autoridade, no caso a figura do Delegado de Polícia. Este poderá, discricionariamente, decidir como vai proceder para alcançar a finalidade do inquérito. Durante o inquérito não há que se falar em contraditório e ampla defesa, pois ainda não existe acusado e o indiciado não é sujeito de direitos, mas objeto de investigação. O ilustre mestre Alexandre de Moraes dispõe que: "O contraditório nos procedimentos penais não se aplica aos inquéritos policiais, pois a fase investigatória é preparatória da acusação, inexistindo, ainda, acusado, constituindo, pois, mero procedimento administrativo, de caráter investigatório, destinado a subsidiar a atuação do titular da ação penal, o Ministério Público". ***Pelo fato de o IP ser um procedimento administrativo de natureza inquisitorial, a autoridade policial tem discricionariedade para determinar todas as diligências que julgar necessárias ao esclarecimento dos fatos, pois a persecução concentra-se, durante o inquérito, na figura do delegado de polícia. GABARITO: CORRETA CAIU EM PROVA! ATENÇÃO!!! O ÚNICO INQUÉRITO QUE ADMITE O CONTRADITÓRIO É O INSTAURADO PELA POLICIA FEDERAL, A PEDIDO DO MINISTRO DA JUSTIÇA, OBJETIVANDO A EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO. (LEI Nº. 6.815/80). CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 6 Do exposto podemos resumir: 1.3 INCOMUNICABILIDADE A incomunicabilidade do investigado está regulamentada no art. 21 do Código de Processo Penal nos seguintes termos: Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil A jurisprudência majoritária inclina-se para a inconstitucionalidade do dispositivo. O mais forte argumento no sentido da não recepção deste dispositivo tem por base o art. 136, § 3º, IV, da CF, segundo o qual, na vigência do estado de defesa é vedada a incomunicabilidade do preso. Parece evidente que se a Constituição proíbe a incomunicabilidade até mesmo na vigência de um "estado de exceção" não seria nada razoável admiti-la em condições normais como conseqüência de um simples inquérito policial. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 7 Ademais, a incomunicabilidade afigura-se incompatível com as garantias insculpidas no art. 5º da CF/88, mormente com as plasmadas em seus incisos LXII ("a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada") e LXIII ("o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado"). 1.4 VALOR PROBATÓRIO Digamos que determinado indivíduo, durante um inquérito, confessou ao delegado de polícia a participação em um crime e tal confissão foi reduzida a termo. Será que a decisão condenatória poderia ser apoiada exclusivamente nesta confissão extrajudicial? A resposta é não, pois, segundo o STF, não se justifica sentença condenatória baseada unicamente no inquérito policial. Realmente, agora que já sabemos que o inquérito policial é um procedimento inquisitivo, não seguindo os princípios da ampla defesa e do contraditório, fica fácil entender o valor probatório relativo atribuído a tal procedimento administrativo pela Suprema Corte. Como peça meramente informativa, destinada tão somente a autorizar o exercício da ação penal, não pode por si só servir de lastro à sentença condenatória, sob pena de se infringir o princípio do contraditório, garantia constitucional. 1.5 VÍCIOS Os vícios do inquérito não contaminam ou ocasionam nulidades no processo. Tal fato tem por base o caráter meramente informativo da fase inquisitorial. Assim, se uma confissão foi obtida mediante tortura na fase do inquérito, esta situação não será passível de gerar a anulação da ação penal. 1.6 A NECESSIDADE DO INQUÉRITO ***Eventuais nulidades ocorridas no curso do inquérito policial contaminam a subseqüente ação penal. GABARITO: ERRADA CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 8 Para se chegar à conclusão da obrigatoriedade ou não do inquérito policial basta pensar na real finalidade de tal procedimento. Se, sem nenhuma investigação policial, for possível a determinação da autoria e do fato, é razoável que esta fase preliminar seja dispensada. O art. 39 § 5o , do CPP deixa claro esta não obrigatoriedade: Art. 39. [...] § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias. (grifo nosso) No mesmo sentido já definiu o STF: 1.7 “NOTITIA CRIMINIS” É a fase preliminar do inquérito policial. Conforme leciona o professor Fernando Capez, dá- se o nome de notitia criminis (notícia do crime) ao conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, de um fato aparentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que a autoridade dá início às investigações. 1.7.1 CLASSIFICAÇÃO: 1. NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO DIRETA OU IMEDIATA Também chamada de espontânea ou inqualificada, caracteriza-se pela inexistência de um ato jurídico formal de comunicação da ocorrência do delito "O inquérito policial não é imprescindível ao oferecimento de denúncia ou queixa, desde que a peça acusatória tenha fundamento em dados de informação suficiente à caracterização da materialidade e autoria da infração penal (STF, RTF 76/741; TRF 3ª Reg., HC 98.03.010696, 1ª Turma, Rel. des. Fed. Roberto Haddad, RT 768/719)". (p. 08). CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 9 Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto do ilícito através de suas atividades de rotina, de jornais, pela descoberta do corpo do delito, por comunicação da polícia preventiva, por investigações da polícia judiciária, etc. Nestes casos, a autoridade policial deve proceder a uma investigação preliminar, com a máxima cautela e discrição, a fim de verificar a verossimilhança da informação, somente devendo instaurar o inquérito na hipótese de haver um mínimo de consistência nos dados informados. 2. NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO INDIRETA OU MEDIATA Também chamada de notitia criminis provocada ou qualificada. Ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do ilícito por meio de algum ato jurídico de comunicação formal do delito. São exemplos de notitia criminis de cognição indireta: • Delatio criminis simples Î É a comunicação por escrito ou verbal, prestada por pessoa identificada. (CPP,art. 5º, § 3o ). § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. • Requisição da autoridade judiciária ou do Ministério PúblicoÎ (CPP, art. 5º, II) • Requisição do Ministro da Justiça Î (CP, art. 7º, §3º, b) • Representação do ofendido Î (CPP, art. 5º, §4º) 3. NOTITIA CRIMINIS DE COGNIÇÃO COERCITIVA Ocorre no caso de prisão em flagrante. Nesta hipótese, a comunicação do crime é feita mediante a própria apresentação de seu autor por servidor público no exercício de suas funções ou por particular. O assunto pode ser resumido através do quadro abaixo que facilita a memorização: CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 10 1.8 O INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL O início do inquérito dependerá do tipo de ação penal. Sobre este tema, para a compreensão deste tópico, faz-se necessário apresentar alguns breves apontamentos sobre a ação penal. Posteriormente, aprofundaremos os conceitos. 1.8.1 ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL C COOGGN NIIÇÇÃÃO O DDIIRREETTA A OOU U IIMMEED DIIAATTAA C COOGGN NIIÇÇÃÃO O I INND DIIRREETTA A OOU U MMEED DIIAATTAA C COOGGN NIIÇÇÃÃO O CCOOEERRC CIITTIIVVAA 1-ATIVIDADES ROTINEIRAS 2-JORNAIS 3-INVESTIGAÇÕES 4-CORPO DO DELITO 5-DELAÇÃO APÓCRIFA I INEXXI TÊNE IS ÊN IAST NC A D UMCI DE M A O E U AT TO J JURÍDI O FUR ÍDIC FO MACO OR AL !!RM L ! !!! 1-DELATIO CRIMINIS 2-REQUISIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 3-REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA 4-REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO E EXISST NCXI TÊ CI DEÊN IA E U M A A D UM ATTO O J JUURÍD RÍ DIICCO O FFO ORRM MAAL L ! !!!!! PRISÃO EM FLAGRANTE N NOOTTI ITTIIAA C CRRIIMMI INNIISS CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 11 No nosso país as ações penais são divididas em dois grandes grupos: 1. AÇÃO PENAL PÚBLICA 2. AÇÃO PENAL PRIVADA Essa divisão atende a razões de exclusiva política criminal e é isso que entenderemos agora através de exemplos. Imaginemos que um indivíduo comete um homicídio. Este delito, obviamente, importa sobremaneira a toda sociedade, pois, a partir de tal fato, fica claro que há um indivíduo no mínimo desequilibrado solto na sociedade. Desta forma, a ação recebe a classificação de pública Incondicionada e não depende de qualquer pedido ou condição para ser iniciada bastando o conhecimento do fato pelo Ministério Público. Pensemos agora em outra situação em que uma mulher chega para um homem e diz que ele é “mais feio que briga de foice no escuro”. Neste caso, temos claramente um crime contra a honra e eis a pergunta: O que este delito importa para a sociedade? Na verdade, ele fere a esfera íntima do indivíduo e, devido a isto, o Estado concede a possibilidade de o ofendido decidir se inicia ou não a ação penal, atribuindo a este a titularidade. Temos ai a ação privada. Em um meio termo entre a Pública Incondicionada e a Privada temos a Pública Condicionada. Neste caso, o fato fere imediatamente a esfera íntima do indivíduo e mediatamente (secundariamente) o interesse geral. Desta forma, a lei atribui a titularidade da ação ao Estado, mas exige que este aguarde a manifestação do ofendido para que possa iniciar a ação. Tal fato ocorre, por exemplo, no delito de ameaça. É importante ressaltar que a regra geral é a ação penal pública, sendo a privada, a exceção. 1.8.1.1 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA É a ação que pode ser iniciada logo que o titular para impetrá-la tiver conhecimento do fato, não necessitando de qualquer manifestação do ofendido. Exemplos de crimes perseguidos por ação pública incondicionada: roubo, corrupção, seqüestro. Sobre a titularidade para iniciar a ação dispõe o Código de Processo Penal: Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 12 Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. (grifo nosso) Conforme o CPP a titularidade da ação pública incondicionada é do Ministério Público, podendo instaurar o processo criminal independente da manifestação de vontade de qualquer pessoa e até mesmo contra a vontade da vítima ou de seu representante legal. 1.8.1.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA É a ação PÚBLICA cujo exercício está subordinado a uma condição. Essa condição tanto pode ser a demonstração de vontade do ofendido ou de seu representante legal (REPRESENTAÇÂO), como a REQUISIÇÃO do Ministro da Justiça. Neste tipo de ação, a TITULARIDADE, assim como na ação pública incondicionada, é do Ministério Público. São exemplos previstos no Código Penal: Perigo de contágio venéreo (art. 130), ameaça (art. 147), violação de correspondência comercial (art. 152), divulgação de segredo (art. 153), furto de coisa comum (art. 156), o estupro e o atentado violento ao pudor quando a vítima não tem dinheiro para financiar a ação privada (art. 225, §1º e 2º) etc. 1.8.1.3 AÇÃO PENAL PRIVADA Neste tipo de ação, o delito afronta tão intimamente o indivíduo que o ESTADO transfere a legitimidade ativa da ação para o ofendido. Perceba que nesta transferência de legitimidade reside a diferença fundamental entre a ação penal PÚBLICA E PRIVADA. Neste tipo de ação o Estado visa impedir que o escândalo do processo provoque um mal maior que a impunidade de quem cometeu o crime. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 13 Exemplo de crime perseguido por ação privada: todos os crimes contra a honra (calúnia, injúria, difamação - Capítulo V do Código Penal), exceto em lesão corporal provocada por violência injuriosa (art. 145). 1.8.2 FORMAS DE INICIAR O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA (CPP, art. 5º, I e II, §§ 1º, 2º e 3º) 1- Portaria da autoridade policial de ofício, mediante simples notícia do crime. Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; 2- Requisição do Ministério Público Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: [...] II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público 3- Requisição do juiz de Direito 4- Requerimento de qualquer pessoa do povo Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: [...] OBSERVAÇÃO IMPORTANTE A REQUISIÇÃO DO JUIZ E DO MINISTÉRIO PÚBLICO POSSUEM CONOTAÇÃO DE EXIGÊNCIA, DETERMINAÇÃO, RAZÃO PELA QUAL NÃO PODERÁ SER DESCUMPRIDA PELA AUTORIDADE POLICIAL. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 14 II – [...] ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. § 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível: a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. (grifo nosso)Neste caso a autoridade policial não precisa “cumprir” o que é solicitado pelo indivíduo caso entenda descabido o requerimento. Entretanto, a fim de dar garantias ao solicitante e impedir indeferimentos arbitrários, preceitua o parágrafo 2º do art. 5º do CPP: § 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia . Mas quem é o chefe de polícia? Para a prova de vocês é o SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA. 5- Auto de prisão em flagrante(APF) Î Apesar de não mencionado expressamente no artigo 5º o APF é forma inequívoca de instauração de inquérito policial, dispensando a portaria subscrita pelo delegado de polícia. 1.8.3 FORMAS DE INICIAR O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA (CPP, art. 5º, § 4º) 1- Mediante RREEPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO do ofendido ou de seu representante legal Art. 5º [...] § 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 15 Por representação, também conhecida como delatio criminis postulatória, compreende-se a manifestação pela qual a vítima ou seu representante legal autoriza o Estado a desenvolver as providências necessárias à investigação e apuração judicial nos crimes que a requerem. Nada impede que a representação esteja incorporada na comunicação de ocorrência policial e neste sentido já se manifestou, por diversas vezes, o STJ. Observe o julgado: 2- Mediante requisição do ministro da justiça. Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça[...]. Existem alguns delitos que, por questões de política, necessitam da manifestação do Ministro da Justiça para que possam ser investigado. Como exemplo podemos citar os crimes cometidos por estrangeiro fora do País e os crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República. ***Em todas as espécies de ação penal, o IP deve ser instaurado de ofício pela autoridade policial, isto é, independentemente de provocação, pois tem a característica da oficiosidade. GABARITO: ERRADA CAIU EM PROVA! A representação nos crimes de ação penal pública condicionada prescinde de qualquer formalidade, sendo necessário apenas a vontade inequívoca da vítima ou de seu representante legal, mesmo que realizada na fase policial. Precedentes desta Corte e do STF. (STJ, HC, Nº 46.455 – RJ) CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 16 1.8.4 FORMAS DE INICIAR O INQUÉRITO POLICIAL NOS CRIMES DE AÇÃO PENAL PRIVADA (CPP, art. 5º, § 5º) 1- Mediante requerimento escrito ou verbal, reduzido a termo neste último caso, do ofendido ou de seu representante legal. Art. 5º [...] § 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la. 1.9 PROVIDÊNCIAS – ART. 6º DO CPP Imaginemos um inquérito policial para apurar um homicídio duplamente qualificado e outro para averiguar um furto de galinhas no quintal do vizinho. O inquérito será exatamente igual? Ou melhor, será que seria possível definir um rito procedimental exato a ser executado pela autoridade policial em qualquer situação? É claro que a resposta é negativa, e o que encontramos no art. 6º do CPP é uma série de procedimentos que, via de regra, deverão ser executados, entretanto para cada caso será uma ritualização diferente, conveniente e oportuna. Observe o disposto: Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 17 VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter. Agora resumindo o que importa para sua PROVA: O inciso I do supracitado artigo nos traz que a autoridade policial deverá dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e a conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. Para esta regra existe uma exceção na lei nº. 5.970/73 que nos diz que para acidentes de trânsito a autoridade ou o agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá autorizar a imediata remoção dos feridos, bem como dos veículos se estiverem prejudicando o tráfego. Seguindo no artigo 6º, a autoridade deverá apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais. Esta busca e apreensão poderá ocorrer: 1- No local do crime 2- Em domicílio 3- Na própria pessoa A autoridade policial ouvirá o ofendido e o indiciado, que poderão ser conduzidos coercitivamente para prestar esclarecimentos caso não atendam às intimações. Poderão ser realizadas acareações e o reconhecimento de pessoas e coisas. Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a infração deixar vestígios. 1.9.1 REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS Reza o art. 7º do CPP: Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 18 A reprodução simulada é um instrumento importante de que dispõe a autoridade policial para elucidar um crime. Desde que não contrarie a moralidade ou a ordem pública, todos os passos do delito podem ser refeitos com acompanhamento de peritos, possibilitando um maior número de informações para o inquérito. O indiciado poderá ser forçado a comparecer, mas não a participar da reconstituição, pois, segundo a Constituição Federal, ninguém é obrigado a produzir prova contra si. 1.9.2 IDENTIFICAÇÃO DATILOSCÓPICA Datiloscopia é o processo de identificação humana por meio das impressões digitais. O art. 6o, VIII do CPP trata da identificação datiloscópica, dizendo que a autoridade policial deverá determiná-la. Aqui há um ponto importantíssimo que precisa ser deixado bem claro: Dispõe a súmula 568 do STF que a identificação criminal não constitui constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente. Entretanto, tal dispositivo foi editado pela Suprema Corteem 1977 e encontra-se superado pela Constituição de 1988 que traz expressamente no art. 5º LVIII o seguinte texto: Art. 5º [...] LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; ***A reprodução simulada dos fatos ou reconstituição do crime pode ser determinada durante o inquérito policial, caso em que o indiciado é obrigado a comparecer e participar da reconstituição, em prol do princípio da verdade real. GABARITO: ERRADA CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 19 Isso quer dizer então que NUNCA o civilmente identificado será submetido à identificação criminal? A resposta é negativa, pois o próprio texto constitucional deixa claro que salvo nas hipóteses previstas em lei. 1.10 PRAZO DO INQUÉRITO O art. 10 do CPP assim dispõe: Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela. A partir deste artigo podemos definir a seguinte regra geral para a conclusão do inquérito: • INDICIADO PRESOÎ 10 DIAS. • INDICIADO SOLTOÎ 30 DIAS. O parágrafo 3º do supracitado artigo admite a prorrogação do prazo quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto: § 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz. Tal prorrogação não encontra um limite definido no CPP, entretanto, segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial deve ser razoável à elucidação dos fatos. ***O inquérito policial não pode ter seu prazo de conclusão prorrogado. GABARITO: ERRADA CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 20 Conforme enfatizado, o previsto no art. 10 do CPP é a regra e esta é excepcionada por algumas leis especiais que fixam outros prazos. 1.10.1 PRAZOS ESPECIAIS 1 1- - C CRRIIMMEES S CCOONNTTR RA A A A EECCOONNOOM MI IAA PPOOPPUULLAAR R – – L Le ei i nnº º. . 11. .552211//5511:: • INDICIADO PRESO OU SOLTO Î 10 DIAS. 2 2- - L LEEI I DDE E TTÓÓXXIICCOOS S – – L Le ei i nnº º. . 1111. .334433//0 066 :: • INDICIADO PRESOÎ 30 DIAS. • INDICIADO SOLTOÎ 90 DIAS 3- IINNQQUUÉÉRRIITTO O PPOOLLIICCIIAAL L MMIILLIITTAARR:: • INDICIADO PRESOÎ 20 DIAS. • INDICIADO SOLTOÎ PRAZO DE 40 DIAS PRORROGÁVEL POR MAIS 20 DIAS. 4- PPOOLLÍÍCCI IAA FFEEDDEERRAAL L – – L Le ei i 55. .001100//6666:: • INDICIADO PRESOÎ PRAZO DE15 DIAS PRORROGÁVEL POR MAIS 15. • INDICIADO SOLTOÎ 30 DIAS 1.10.2 CONTAGEM DO PRAZO O prazo para o término do inquérito segue a regra do art. 798 § 1º do CPP, ou seja, despreza-se o dia inicial e inclui-se o dia final. Como exemplo, se determinado inquérito teve início no dia 15 de fevereiro às 16:00h, completará a contagem do primeiro dia às 24:00 do dia 16. É importante ressaltar que para a contagem do prazo do inquérito não há que se falar em sábados, domingos e feriados, pois a Polícia Judiciária possui expediente em tempo integral. 1.11 O FIM DO INQUÉRITO CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 21 Concluídas as investigações, a autoridade policial deverá fazer um relatório detalhado de tudo o que foi apurado no inquérito, indicando, se necessário, as testemunhas que não foram ouvidas e as diligências não realizadas. Art. 10[...] § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. § 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. A autoridade não deve emitir opiniões ou qualquer juízo de valor sobre os fatos narrados, os indiciados, ou qualquer outro aspecto relativo ao inquérito ou à sua conclusão. Concluído o relatório, os autos do inquérito serão remetidos ao juiz competente, acompanhados dos instrumentos do crime e dos objetos que interessam à prova. Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. Deverá também a autoridade policial enviar informações relativas ao inquérito ao Instituto de Identificação e Estatística, nos termos do art. 23 do CPP. Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à pessoa do indiciado. 1.12 ARQUIVAMENTO Agora será tratado um tema importantíssimo para concurso público e que consequentemente deve ser muito bem estudado. O art. 28 do CPP assim dispõe: Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 22 oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. 1.12.1 COMPETÊNCIA PARA O ARQUIVAMENTO O primeiro ponto que deve ser deixado claro é que a autoridade competente para o arquivamento de um inquérito é o Juiz. Diferentemente do que muitos pensam, a autoridade policial (Delegado) não pode determinar tal ato, conforme expressamente previsto no já analisado art. 17 do CPP. Outro ponto importante é a participação do Procurador Geral quando ocorre divergência de entendimento entre o MP e a autoridade judicial quanto ao cabimento ou não do arquivamento. 1.12.2 DESARQUIVAMENTO Dispõe o art. 18 do CPP: Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. Perceba que a autorização é SOMENTE para a realização de novas pesquisas, se surgirem NOVAS PROVAS. Embora tal artigo trate especificamente da autoridade policial, o STF, na súmula 524, amplia a abrangência consolidando a jurisprudência: SÚMULA 524: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas. Assim, podemos concluir que o despacho que arquivar o inquérito é irrecorrível, sendo excetuada tal regra somente nos casos de crime contra a economia popular, onde cabe recurso oficial e no caso das contravenções penais previstas nos art. 58 e 60 do Decreto- Lei nº. 6.259/44, quando caberá recurso em sentido estrito. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 23 OBSERVAÇÕES: 1- Não existe número máximo de desarquivamentos, mas, por ser evidente, se ocorrer a prescrição, decadência ou outra causa extintiva da punibilidade, não será possível o desarquivamento. 2- Quandoo arquivamento é determinado em virtude da atipicidade do fato, não é possível o desarquivamento constituindo, excepcionalmente, coisa julgada material. 3- O Juiz não pode arquivar o inquérito sem a manifestação neste sentido do titular da ação. 4- Segundo o STJ, o Juiz não pode desarquivar o inquérito policial de ofício, ou seja, se o IP foi arquivado a requerimento do Ministério Público, e este não concorda com a reabertura, a autoridade judicial não poderá reabri-lo para determinar novas diligências. Podemos compreender o trâmite do arquivamento através do seguinte quadro esquematizado: ***Por entender inexistente o crime apurado em inquérito policial, o representante do Ministério Público requereu ao juiz competente o arquivamento dos autos. Em tal caso o juiz, aceitando o pedido do Ministério Público e arquivando o inquérito policial, não poderá desarquivá-lo diante de novas provas. GABARITO: ERRADA CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 24 1.13 REGRAS PROCEDIMENTAIS REFERENTES AO INQUÉRITO Há no CPP algumas regras meramente procedimentais, mas que são exigidas em PROVA. Citarei aqui as que são importantes: Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial. DELEGADO MINISTÉRIO PÚBLICO JUIZ Oferecer denúncia Solicitar arquivamento Solicitar diligências complementares ARQUIVAMENTO PROCURADOR GERAL Determinar ou oferecer a denúncia D Deet teer rmmi inna arr ao Juiz o arquivamento SIM NÃO CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 25 O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. **************************************************************************************************** FUTURO(A) APROVADO, MUITO BOM!!! AQUI VOCÊ ACABA DE FINALIZAR UM IMPORTANTE TEMA RUMO À TÃO SONHADA APROVAÇÃO. DITO ISTO, RESPIRE FUNDO, RECARREGUE AS SUAS ENERGIAS E VAMOS À LUTA COM O ÚLTIMO ASSUNTO DE NOSSA AULA!!! **************************************************************************************************** 2.1 AÇÃO PENAL - INTRODUÇÃO Sabemos que no mundo onde vivemos existem determinados delitos que, por mais que pensemos, não conseguimos imaginar uma razão pelo menos compreensível. Imagine que existisse no Brasil alguém tão “doente” a ponto de jogar uma criança pela janela. Neste caso, se você pudesse escolher qualquer coisa, o que faria com este indivíduo?...Então, exatamente para evitar que, motivados por instintos próprios, fujamos do preceituado no ordenamento jurídico existente, existe a AÇÂO PENAL, através da qual o Estado será capaz de aplicar o direito penal, na mensuração cabível, ao caso concreto. 2.1.1 CONCEITO FERNANDO CAPEZ define ação penal como o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito objetivo a um caso concreto. Segundo o renomado autor é também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a conseqüente satisfação da pretensão punitiva. Diante do conceito apresentado, podemos dizer que a ação penal é: I) Um direito autônomo, pois não se confunde com o direito material que se pretende tutelar; II) Um direito abstrato, pois independe do resultado final do processo; CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 26 III) Um direito subjetivo, pois o titular pode exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional; IV) Um direito público, pois a atividade jurisdicional que se pretende provocar é de natureza pública. 2.1.2 CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL Existem determinadas situações em que o direito de ação não pode ser exercido por não cumprir determinado requisito. Só para exemplificar, imaginemos que um determinado indivíduo resolve dar início a uma ação penal exigindo a prisão de seu desafeto pelo fato de ele torcer para o Flamengo. É claro que nesta situação a ação não será possível, pois torcer para determinado time não é crime, certo? Assim, podemos citar as seguintes condições da ação: 1. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO; 2. INTERESSE DE AGIR; 3. LEGITIMAÇÃO PARA AGIR. Vamos analisá-las: • POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO Î Para que haja a possibilidade do início da ação, faz-se necessário a caracterização da tipificação da conduta, ou seja, a demonstração de que o caso concreto se enquadra em um fato típico em abstrato (situação descrita no código penal). Assim, por exemplo, pode-se dar início a uma ação contra um indivíduo que matou alguém porque o código penal diz que MATAR ALGUÉM é fato típico. Diferentemente, não posso iniciar uma ação contra um indivíduo que usa camisa amarela pelo simples fato de eu não gostar da cor...a não ser que a camisa seja minha e ele a tenha furtado... • INTERESSE DE AGIR Î Constitui a presença de elementos mínimos que sirvam de base para o Juiz concluir no sentido de que se trata de acusação factível. Imaginemos a seguinte situação: Mévio, paulista, tem um relacionamento de 04 anos com Tícia e é aprovado para a Controladoria Geral da União, com previsão de trabalhar em Brasília. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 27 Tícia, com medo de perder seu amado, tenta complicar a admissão de Mévio oferecendo uma queixa completamente sem provas, alegando o delito de calúnia. Neste caso o Juiz deverá rejeitar a inicial acusatória sob pena de caracterizar-se hipótese de constrangimento ilegal impugnável mediante habeas corpus. O interesse de agir encontra embasamento no código de processo penal: Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...] III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. • LEGITIMAÇÃO PARA AGIR Î Em uma ação penal, devemos atentar para a legitimação ativa e passiva. No caso da ativa, estamos tratando da pessoa correta para dar início à ação penal, o que em nosso país, via de regra, é feito pelo Ministério Público e, em algumas hipóteses, pelo próprio ofendido (veremos isto mais na frente). No pólo passivo, estamos tratando de quem está sendo acusado, ou seja, do Réu. Imaginemos que Tício, no seu aniversário de 30 anos, resolve dizer para Mévio, 16 anos, que ele é mais feio que indigestão de torresmo. Mévio, inconformado com tal declaração, desfere golpes em Tício ocasionando lesões corporais. Tício tenta iniciar um processo penal comunicando ao Ministério Público as inúmeras lesões. Nesta situação, Mévio está protegido pelo art. 27 do CP e art. 228 da CF, sendo inimputável, ou seja, não podendo figurar no pólo passivo de um processo penal. Podemos resumir o assunto da seguinte forma: CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 28 2.1.3 ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL Quando tratamos do inquérito vimos que em no nosso país as ações penaissão divididas em dois grandes grupos: 3. AÇÃO PENAL PÚBLICA Î Subdividida em Pública Incondicionada e Condicionada. 4. AÇÃO PENAL PRIVADAÎ Subdividida em Exclusiva, Personalíssima e Subsidiária da Pública. Vamos agora tratar especificamente de cada forma de ação penal e veremos que a aplicabilidade de cada uma está relacionada com o quanto determinado delito importa para a sociedade. Desde já, cabe ressaltar que SEJA QUAL FOR O CRIME, QUANDO FOR PRATICADO EM DETRIMENTO DO PATRIMÔNIO OU INTERESSE DA UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS, AA A AÇÃOO P NAÇà PE AL EREN L S RÁ ÚBSE Á P BL ICA.PÚ LI CA . Vamos começar: 2.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA AÇÃO PENAL PÚBLICA PRIVADA INCONDICIONADA CONDICIONADA EXCLUSIVA PERSONALÍSSIMA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 29 2.2.1 CONCEITO É a ação que pode ser iniciada mediante DENÚNCIA, logo que o titular para impetrá-la tiver conhecimento do fato, não necessitando de qualquer manifestação do ofendido. É a forma de ação adotada em regra no Brasil. A denúncia nada mais é do que um documento no qual o promotor requere ao Juiz o início da ação penal para a apuração de determinado crime. Cabe ressaltar que qualquer omissão neste documento inicial pode ser sanada até a sentença. Exemplos de crimes perseguidos por ação pública incondicionada: roubo, corrupção, sequestro. 2.2.2 TITULARIDADE Dispõe o Código de Processo Penal: Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. (grifo nosso) Conforme o CPP, a titularidade da ação pública incondicionada é do Ministério Público, podendo este instaurar o processo criminal independente da manifestação de vontade de qualquer pessoa e até mesmo contra a vontade da vítima ou de seu representante legal. 2.2.3 PRINCÍPIOS DEPOIS DA AULA 00 MAIS PRINCÍPIOS??? Isto mesmo, mas agora trataremos de princípios específicos da ação penal pública incondicionada. Vamos conhecê-los: • PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE Î Segundo este princípio, o titular da ação está obrigado a propô-la sempre que presente os requisitos necessários. • PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE Î Depois de oferecida a denúncia, o Ministério Público não pode desistir da ação. Tal preceito encontra base no CPP: CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 30 Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal. Apesar de o princípio da indisponibilidade ser considerado pela maioria da doutrina como um princípio da ação penal pública, sua aplicação encontra- se extremamente atenuada devido a exceções presentes no ordenamento jurídico. A maioria dessas exceções consta na Lei nº 9.099/95 que versa sobre os Juizados Especiais Criminais. Um exemplo é a possibilidade de transação penal em relação às infrações de menor potencial ofensivo, mesmo após o ajuizamento da denúncia. • PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE Î A ação será promovida por órgão oficial (Ministério Público), independente de manifestação da vítima. • PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA Î A ação penal é proposta apenas contra quem se imputa a prática da infração. Ainda que em decorrência de um crime, outra pessoa tenha a obrigação de reparar um dano, a ação penal não pode abarcá-la. A reparação deverá ser exigida na esfera cível. 2.3 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 2.3.1 CONCEITO É a ação PÚBLICA cujo exercício está subordinado a uma condição. Essa condição tanto pode ser a demonstração de vontade do ofendido ou de seu representante legal (REPRESENTAÇÂO), como a REQUISIÇÃO do Ministro da Justiça, conforme veremos um pouco mais a frente. Neste tipo de ação, a TITULARIDADE, assim como na ação pública incondicionada, é do Ministério Público. DICIONÁRIO DO CONCURSEIRO TRANSAÇÃO PENAL É um "acordo" que o Ministério Público propõe ao infrator de que não será dada continuidade ao processo criminal, desde que ele cumpra determinadas condições impostas pelo Ministério Público (ex.: prestação de serviços à comunidade, pagamento de cestas básicas, etc.). CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 31 São exemplos previstos no Código Penal: Perigo de contágio venéreo (art. 130), ameaça (art. 147), violação de correspondência comercial (art. 152), divulgação de segredo (art. 153), furto de coisa comum (art. 156) etc. 2.3.2 REPRESENTAÇÃO Para começarmos a entender este conceito, imaginemos a seguinte situação: Tícia, ao sair de casa para pegar sua correspondência, verifica que todas haviam sido violadas pelo porteiro do prédio. Conhecedora do Direito, ela diz ao porteiro que o processará pelo crime de violação de correspondência. Entretanto, após a ameaça de Tícia, o porteiro cita que viu fotos comprometedoras dentro dos envelopes. Será que neste caso será interessante para a ofendida o início da ação e a correspondente publicidade dos atos? E para os moradores do prédio, é interessante que o porteiro seja denunciado? Se você respondeu para a primeira indagação que NÂO e para a segunda que SIM, você está pensando da mesma forma que o legislador, pois este definiu o crime de violação de correspondência como de ação pública, devido ao fato de afrontar mediatamente a sociedade (moradores do prédio), mas CONDICIONADA à representação do ofendido, pois primordialmente, imediatamente, a esfera íntima da vítima esta sendo atacada. Após este exemplo, podemos conceituar que a representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal a fim de permitir o desencadeamento da ação penal. Assim, no exemplo acima, se todos os moradores fossem comunicar o fato ao Ministério Público, nada poderia ser feito, pois a REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO é condição objetiva de procedibilidade, ou seja, o início da ação depende dela. ATENÇÃO: É necessária a representação da vítima de violência doméstica nos casos de lesões corporais leves (Lei n. 11.340/2006 – Lei Maria da Penha), pois se cuida de uma ação pública condicionada (STJ, REsp 1.097.042/DF, DJ 24.02.2010). CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 32 • FORMA DA REPRESENTAÇÃO: Dispõe sobre a forma da representação o Código de Processo Penal: Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. § 1o A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida. (grifo nosso) O STF e o STJ têm entendido que não existe a necessidade de formalismo na representação, sendo suficiente a simples manifestação de vontade da vítima em processar o autor do fato. Tal demonstração de vontade de iniciar o processo deve conter todas as informações que possam servir ao esclarecimento da autoria e do fato: Art. 39 [...] § 2o A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria. *** Na ação penal pública condicionada à representação,a representação do ofendido é condição objetiva de procedibilidade. GABARITO: CORRETA CAIU EM PROVA! Não há forma rígida para a representação, bastando a manifestação de vontade da ofendida para que fosse apurada a responsabilidade do paciente (STJ, HC 48.692/SP, DJ 02.05.2006) CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 33 • TITULARES DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO Î Podemos classificar os titulares da seguinte forma: 1. OFENDIDO E MAIOR CAPAZÎ Sendo o indivíduo maior de 18 anos e capaz mentalmente, somente ele poderá decidir pelo exercício ou não do direito de representação. É importante ressaltar que o Art. 34 do CPP, devido às alterações introduzidas no Código Civil que equiparou a maioridade civil à maioridade penal (18 anos), tornou-se obsoleto. Observe: Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal. 2. REPRESENTANTE LEGAL Î Sendo o indivíduo menor de 18 anos ou mentalmente enfermo, o direito de representação será exercido pelo representante legal (pais, tutor, etc). Mas e se o menor não possuir representante legal? Neste caso, será nomeado um curador pelo Juiz. Agora imaginemos a seguinte situação: Mévia, moça pobre, 15 anos, é estuprada pelo seu irmão de 22 anos. O estupro não deixa lesões da violência e a família (representante legal) não quer exercer o direito de representação para não prejudicar o irmão de Mévia. Neste caso, seria justo que Mévia tivesse que se submeter à vontade da família? É claro que não, e exatamente para estes casos existe o art. 33 do CPP que nos diz que para os casos em que houver colisão de interesses, será nomeado curador especial. Observe: Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal. 3. PESSOAS JURÍDICAS Î O CPP nos diz: CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 34 Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios- gerentes. OBSERVAÇÕES: 1 – E se o ofendido for declarado morto ou ausente? Dispõe o CPP no seu Art. 24, § 1o que no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Segundo entendimento jurisprudencial, esta lista é TAXATIVA, ou seja, não pode ser ampliada. A única exceção a esta regra seria a figura da companheira ou companheiro que, atualmente, por força constitucional, se equipara ao cônjuge. Então, caro concurseiro, para efeito de prova temos os seguintes indivíduos podendo exercer o direito de representação no caso de morte ou ausência: 2 – E se comparecerem mais de um dos acima expostos para efetuar a representação? Neste caso, será seguida a ordem prevista no CPP, ou seja, a preferência é do cônjuge, depois dos ascendentes, seguidos dos descendentes e finalmente dos irmãos. ATENÇÃO! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 35 Assim, finalizamos, relembrando (o que nunca é demais para quem está se preparando para um concurso): OBS 01 : O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO PODERÁ SER EXERCIDO, POR PROCURADOR COM PODERES ESPECIAIS, MEDIANTE DECLARAÇÃO, ESCRITA OU ORAL, FEITA AO JUIZ, AO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, OU À AUTORIDADE POLICIAL. OBS 02: A REPRESENTAÇÃO FEITA ORALMENTE OU POR ESCRITO, SEM ASSINATURA DEVIDAMENTE AUTENTICADA DO OFENDIDO, DE SEU REPRESENTANTE LEGAL OU PROCURADOR, SERÁ REDUZIDA A TERMO, PERANTE O JUIZ OU AUTORIDADE POLICIAL, PRESENTE O ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, QUANDO A ESTE HOUVER SIDO DIRIGIDA. • PRAZO PARA A REPRESENTAÇÃO Î Iniciaremos este tópico reproduzindo um dos artigos do CPP MAIS cobrados em PROVA: Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime[...]. Observe que o CPP nos traz um prazo decadencial de seis meses para que a representação possa ser feita, contado da data em que o autor do crime vier a ser conhecido. Agora pensemos no seguinte caso: Um delito cuja ação é pública condicionada à representação foi cometido contra um menor de 18 anos que se chama...adivinha....TÍCIO. OFENDIDO MAIOR E CAPAZ REPRESENTANTE LEGAL PESSOAS JURÍDICAS CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 36 TÍCIO fica envergonhado de contar o fato ao representante legal. Nesta situação, o prazo irá fluir? É claro que não, pois não se pode falar em decadência de um direito que não se pode exercer. Assim o prazo seria contado a partir do dia em que o menor completar 18 anos. Finalizando o exemplo, caso o representante legal tomasse conhecimento do autor e do fato, o prazo correria para este, mas não para nosso amigo Tício. • DESTINATÁRIO Î Muitas pessoas, quando imaginam o ofendido exercendo o seu direito de representação, visualizam, unicamente, a relação indivíduo-policial. Exatamente por isso, MUITAS PESSOAS não são aprovadas em concurso e, nós, CONCURSEIROS, não fazemos parte deste grupo de MUITAS PESSOAS, pois sabemos que a representação pode ser dirigida não só ao policial, mas também ao: 1 – JUIZ; 2 – MINISTÉRIO PÚBLICO; Conforme preceituado no já tratado art. 39 do CPP FIM DO PRAZO PARA A REPRESENTAÇÃO OBSERVAÇÃO O PRAZO DEFINIDO PARA A REPRESENTAÇÃO NÃO SE INTERROMPE, NÃO SE SUSPENDE E NÃO SE PRORROGA. ASSIM, CASO O PRAZO TERMINE EM UM FERIADO, NO SÁBADO OU NO DOMINGO, NÃO HÁ PRORROGAÇÃO PARA O DIA SEGUINTE. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 37 Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. (grifo nosso) • RETRATABILIDADE OU IRRETRATABILIDADE? Imaginemos que determinado indivíduo sofre uma ameaça e oferece uma representação. Dias depois fica sabendo que o causador do dano é, na verdade, um irmão que ele não conhecia (bem coisa de novela). Neste caso, ele vai poder se retratar, ou seja, retirar a representação? A resposta correta é DEPENDE! Se a ação já tiver sido ajuizada, não há mais a possibilidade de retratação. Diferentemente, caso o MP ainda não tenha se pronunciado, o indivíduo poderá se retratar. Desta forma dispõe o CPP: Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia. OBSERVAÇÂO: Existe uma grande divergência doutrinária com relação à possibilidade ou não da RETRATAÇÃO da RETRATAÇÃO. Este caso seria a situação do indivíduo que não sabe o que quer da vida, ou seja, ele comparece a um dos destinatários e representa. Depois retrata a representação, antes do início da ação. Dias depois aparece novamente e diz que se arrependeu e quer simo processo, solicitando assim a retratação da retratação. Quanto à divergência doutrinária, não vou perder tempo, pois para a sua PROVA o que importa é que SIM, É POSSÍVEL A RETRATAÇÃO DA RETRATAÇÃO. OBSERVAÇÃO A REPRESENTAÇÃO DÁ-SE EM RELAÇÃO À CONDUTA PRATICADA, NÃO VINCULANDO O MINISTÉRIO PÚBLICO, QUE NÃO SÓ PODE SOLICITAR O ARQUIVAMENTO COMO TAMBÉM OFERECER DENÚNCIA ATRIBUINDO AO FATO DEFINIÇÃO JURÍDICA DIVERSA. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 38 • NÃO VINCULAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Î O Ministério Público não será obrigado a iniciar uma ação pelo simples fato do ofendido apresentar uma representação. O MP, conhecedor do Direito, analisará as informações e se posicionará pelo oferecimento ou não da denúncia. 2.3.3 REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA Segundo Tourinho Filho, “há certos crimes em que a conveniência da persecução penal está subordinada à conveniência política”. Exatamente para estes delitos, a lei exige a requisição do Ministro da Justiça para que seja possível a ação penal. São raras as hipóteses previstas em nosso ordenamento de crimes em que se exige a requisição ministerial para a deflagração da ação penal: 1. Crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, § 3º, b, CP); 2. Crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República ou Chefe de Governo estrangeiro (art. 141, I, c/c art. 145, parágrafo único, CP); 3. Crimes contra a honra praticados pela imprensa contra Chefe de Governo ou de Estado estrangeiro, ou seus representantes diplomáticos, ou Ministros de Estado (art. 40, I, a, c/c art. 23, I, ambos da Lei n. 5.250/67); 4. Crimes de injúria cometidos pela imprensa contra o Presidente da República, Presidente do Senado, Presidente da Câmara dos Deputados (art. 23, I, c/c art. 40, I, a, ambos da Lei n. 5.250/67); 5. Crimes contra a honra praticados por meio de imprensa contra os Ministros do Supremo Tribunal Federal, exceto seu Presidente em se tratando de calúnia ou difamação. Em se tratando de injúria contra o Presidente do STF também dependerá de requisição (art. 23, I, c/c art. 40, I, Lei n. 5.250/67). O OBBSSEER RVVAAÇÇÃÃO O: : O O SSu uppr reem mo o TTr riib buun na al l FFe eddeerra al l ( (SST TFF) ) d deec ciid di iu u e em m 330 0 d dee a abbr ri il l d dee 220 0009 9, , p po or r mma aiio oriari a, , r reev voog ga ar r tto otta allmmeen nt te e a a LLe ei i d de e IIm mppr reen nssa a.. A Asss siim m, , a as s ttrrê ês s ú úllt tiim ma as s hhiippó ótte esse es s d deev ve em m sse er r d dees scca arrt taad daas s. . CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 39 • PRAZO DA REQUISIÇÃO Î O CPP não trata do assunto e, assim, entende-se que não existe um prazo determinado, podendo ser realizada a qualquer momento, desde que não extinta a punibilidade. • DESTINATÁRIO Î É o MINISTÉRIO PÚBLICO. 2.4 AÇÃO PENAL PRIVADA EXCLUSIVA 2.4.1 CONCEITO A partir de agora trataremos da ação penal privada e, neste tipo de ação, o delito afronta tão intimamente o indivíduo que o ESTADO transfere a legitimidade ativa da ação para o ofendido. Perceba que nesta transferência de legitimidade reside a diferença fundamental entre a ação penal PÚBLICA E PRIVADA. Neste tipo de ação o Estado visa impedir que o escândalo do processo provoque um mal maior que a impunidade de quem cometeu o crime. Obviamente que essa transferência da legitimidade ativa importa em custas processuais para o ofendido, pois cabe a ele conduzir a ação. Assim, a fim de evitar o cerceamento ao direito da vítima à ação penal, uma vez atestada sua pobreza pela autoridade policial ou por outros meios de prova, a ação penal passa a ser pública condicionada à representação, tendo o Ministério Público legitimidade para oferecer a denúncia. (STJ, HC 45.417/SP, DJ 25.09.2006) CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 40 Em se tratando de crime de ação penal pública condicionada, como já vimos, não se exige rigor formal na representação do ofendido ou de seu representante legal, bastando a sua manifestação de vontade para que se promova a responsabilização do autor do delito. Exemplo de crime perseguido por ação privada: todos os crimes contra a honra (calúnia, injúria, difamação - Capítulo V do Código Penal), exceto em lesão corporal provocada por violência injuriosa (art. 145). 2.4.2 TITULARIDADE DO DIREITO DE QUEIXA Na ação penal pública, quando o Ministério Público vai iniciar uma ação dizemos que este vai oferecer denúncia. Diferentemente, na ação penal privada o ofendido exerce o direito de queixa para dar início à ação. Visto isto, podemos dizer que os titulares para exercer o direito de queixa são: 1 – VÍTIMA MAIOR DE 18 ANOS E CAPAZ; 2 – REPRESENTANTE LEGAL OU PROCURADOR COM PODERES ESPECIAIS; Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. 3 – PESSOAS JURÍDICAS (art. 37). Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representadas por quem os OBSERVAÇÃO O artigo 225 do Código Penal foi completamente reformulado pela lei nº. 12.015/09, abolindo-se a ação penal privada no que diz respeito ao estupro. Doravante, a ação penal é, em regra, pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal. Sob outro aspecto, será de ação pública incondicionada se a vítima é menor de 18 anos ou é pessoa vulnerável, assim considerada a doente mental ou aquela que não pode oferecer resistência. Assim, qualquer que seja o crime sexual, a titularidade para promover a ação penal é sempre do Estado, por meio do Ministério Público. CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 41 respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes. Faz-se necessário ressaltar que o CPP atribui ao indivíduo que promove a ação a denominação de querelante e chama o ofensor de querelado. OBS.: A QUEIXA, AINDA QUANDO A AÇÃO PENAL FOR PRIVATIVA DO OFENDIDO, PODERÁ SER ADITADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, A QUEM CABERÁ INTERVIR EM TODOS OS TERMOS SUBSEQÜENTES DO PROCESSO. A POSSIBILIDADE DE ADITAMENTO PREVISTA NO ART.45 DO CPP É CABÍVEL APENAS PARA QUE O MINISTÉRIO PÚBLICO CORRIJA ALGUM DEFEITO FORMAL DA QUEIXA, COMO, A CAPITULAÇÃO, A QUALIFICAÇÃO DOS QUERELADOS ETC., MAS NÃO PARA INCLUIR EVENTUAL AUTOR DO DELITO NÃO MENCIONADO PELO QUERELANTE. 2.4.3 PRINCÍPIOS Agora veremos alguns princípios específicos da ação penal privada. Tal assunto é recorrente em prova e deve ser analisado com ATENÇÃO!!! • PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE Î Quando falamos dos princípios gerais informadores do Processo Penal, tratamos do princípio da Indisponibilidade, no qual entendemos que, com base no princípio da LEGALIDADE, ao tomar conhecimento do fato criminoso o titular da ação(Ministério Público) será obrigado a iniciá-la. Isto é a regra geral que comporta exceção na ação penal privada, pois nesta o titular (ofendido) pode analisar critérios de conveniência e oportunidade e decidir pela ação ou não. • PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE Î O ofendidopode desistir da ação a qualquer momento, bastando para isto, por exemplo, o não comparecimento a um ato processual. • PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE Î A ação deve ser proposta contra todos os que cometeram o delito. 2.4.4 PRAZO PARA EXERCER O DIREITO DE QUEIXA Segue a regra do art. 38 do CPP que pela importância, novamente reproduzo: CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 42 Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime[...]. Observe que no início do supracitado artigo temos a expressão SALVO DISPOSIÇÃO EM CONTRÁRIO, deixando claro que leis especiais poderão trazer prazos diferentes. Isto ocorre: • Nos crimes de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento: Prazo de seis meses a partir do trânsito em julgado da sentença anulatória do casamento. Observe: Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. (grifo nosso) • Nos crimes contra a propriedade imaterial: Prazo de 30 dias ou de 08 dias contados da homologação do laudo pericial, conforme se trate do investigado solto ou preso, respectivamente. Art. 529. Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a homologação do laudo. Parágrafo único. Será dada vista ao Ministério Público dos autos de busca e apreensão requeridas pelo ofendido, se o crime for de ação pública e não tiver sido oferecida queixa no prazo fixado neste artigo. Art. 530. Se ocorrer prisão em flagrante e o réu não for posto em liberdade, o prazo a que se refere o artigo anterior será de 8 (oito) dias. É importante ressaltar que os prazos citados são decadenciais, computando-se o dia do começo e excluindo-se o dia final. Também aqui não há que se falar em sábado, domingo ou CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 43 feriado como justificativa para deixar a queixa para o dia seguinte. Assim, se o prazo termina no domingo, o ofendido deverá procurar um Juiz de plantão e fazer a queixa-crime. 2.4.5 RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA E PERDÃO DO OFENDIDO Imaginemos que nossa amiga Tícia diz aos amigos que iniciará uma ação penal privada contra CAIO pelo delito de injúria e difamação, pois ele disse que ela não possuía uma beleza das mais generosas e que trocava de homem como quem troca de meias (isso mesmo, pegou pesado!!!). Meses depois CAIO se casa com Tícia e os dois viajam felizes para a lua de mel. Neste caso teria cabimento imaginar que Tícia realmente iniciaria uma ação? Poderíamos dizer que houve Renúncia ou Perdão? É exatamente isto que começaremos a estudar agora. 2.4.5.1 RENÚNCIA Podemos conceituar a renúncia como o ato UUNNIILLAATTEERRAALL, ou seja, que não depende da concordância da outra parte, que ocorre AANNTTEESS da ação penal, impedindo o acontecimento desta. A renúncia pode ser expressa ou tácita. A renúncia expressa é regulada pelo Art. 50 do CPP: Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais. *** Considere a seguinte situação hipotética. Eros foi vítima de injúria praticada por Isabel no dia 1.º de janeiro de 2001, em sua presença. Eros requereu a instauração de inquérito policial e,com base nele, seu advogado ofereceu queixa contra Isabel no dia 1.º de outubro de 2001. Nessa situação, considerando a natureza da ação penal, a queixa oferecida por Eros, se houvesse cumprido os requisitos processuais, deveria ser recebida pelo juiz competente. GABARITO: ERRADA (prazo DECADENCIAL de seis meses) CAIU EM PROVA! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 44 Já a renúncia tácita é regulada pelo Código Penal, nestes termos: Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado pelo crime. Podemos citar como exemplos de renúncia tácita: 1 – Deixar o ofendido transcorrer o prazo decadencial para ajuizar a queixa- crime; 2 – Deixar o indivíduo de cumprir determinação essencial para a validade da queixa. Exemplo: Imaginemos que um delito foi cometido por cinco pessoas e o indivíduo entregou a petição para dar início a uma ação contra apenas duas delas. Antes do recebimento da queixa pela autoridade judicial, o MP, observando tal fato, intima o querelante para incluir os outros responsáveis. Nesta situação, caso o ofendido não compareça teremos outro caso de renúncia tácita. Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Finalizando, como afirma Júlio Fabbrini Mirabete, a renúncia, tanto expressa quanto tácita, "deve tratar-se de atos inequívocos, conscientes e livres, que traduzam uma verdadeira reconciliação, ou o propósito de não exercer o direito de queixa". 2.4.5.2 PERDÃO Meus amigos de estudo, preciso desabafar... Tudo o que eu escrevi até agora está ERRADO! PERDÃO!!!! Calma, calma... Isso é só para começarmos este tópico utilizando esta situação para definir a diferença de Perdão para Renuncia e gravando de uma vez por todas o que é MAIS IMPORTANTE PARA A SUA PROVA!!! CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 45 1 - Alguém pede perdão sem ter feito nada? NÃO!!!...Logo, o perdão só pode ocorrer AAPPÓÓSS um determinado ato que aqui é o início da ação penal. 2 – Você é obrigado a aceitar meu pedido de perdão? É claro que não, pois é um ato BBIILLAATTEERRAALL. . Assim, em uma ação penal, caso o ofendido queira perdoar o querelado, dependerá do consentimento deste último. Observe: Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar [...] Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais. [...] Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação. . Assim como na renúncia, o perdão pode ser expresso ou tácito. OBSERVAÇÃO: • Caso haja dois ofendidos e um deles conceda o perdão, o outro poderá prosseguir com a ação. OFENDIDO 01 OFENDIDO 02 QUERELADO PODE PROSSEGUIR COM A AÇÃO CURSO ON-LINE – DIREITO PROCESSUAL PENAL TEORIA E EXERCÍCIOS PROFESSOR PEDRO IVO www.pontodosconcursos.com.br 46 • Caso o ofendido conceda o perdão a um dos querelados, este perdão será estendido aos outros, não se produzindo efeito, todavia, aos que não aceitarem. 2.4.5 PEREMPÇÃO DA AÇÃO PENAL PRIVADA Para Mirabete, "perempção
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