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Direito Penal III

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TÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
 
CAPÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
 
 
HOMICÍDIO 
 
Homicídio Simples 
 
 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. 
 
Generalidades sobre o Homicídio: 
 
Definição: 
 
“É a eliminação da vida de alguém levada a efeito por outrem.” Bitencourt. 
“Homicídio Simples é a figura básica, elementar, original na espécie. É a realização estrita da 
conduta tipificada de matar alguém.” Bitencourt. 
 
 
Sujeitos do delito: 
 
- Quanto ao sujeito ativo: crime comum, ou seja, o agente pode ser qualquer pessoa, salvo 
aqueles que atentem contra a própria vida, através do suicídio, que é fato atípico. 
Admite-se co-autoria ou participação, tanto por ação como por omissão. 
 
- Quanto ao sujeito passivo: será alguém, qualquer pessoa, independentemente de sexo, 
raça, idade, etc. Para a configuração do delito de homicídio é necessária a confirmação de 
que a vítima nascera com vida. Se a morte ocorrer enquanto ainda estiver o feto em fase de 
gestação, estaremos diante do delito de aborto (art. 124 e segs. do CP). Se se tratar de um 
atentado contra a vida de um recém nascido, estaremos diante da figura delitiva do 
infanticídio (art. 123 do CP), caso o sujeito ativo seja a gestante daquele ser, e sob 
influência do estado puerperal. 
 
Obs: Sujeitos passivos especiais: Quando for sujeito passivo o Presidente da República, do 
Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, o crime será 
contra a segurança nacional, regido, assim, pela Lei 7.170/83 (art. 29). Sendo a vítima 
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos, e sendo doloso o homicídio, a pena 
será aumentada de 1/3 (um terço), art. 121, §4º, segunda parte, do CP. 
 
 
Tipo (elemento) Objetivo: 
 
A conduta típica consiste em matar alguém, antecipar o lapso temporal da vida alheia. 
 
Os meios utilizados para a realização da conduta podem ser diversos (físicos, químicos, 
patogênicos, etc.) 
 
 
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Tipo (elemento) subjetivo: 
 
- Dolo do agente: vontade consciente de eliminar uma vida humana (animus necandi ou 
occidendi). 
- Admite-se o dolo eventual. 
 
Consumação e Tentativa: 
 
- Consuma-se o delito com a morte da vítima, comprovados pelo Laudo de Exame de Corpo 
de Delito, direto ou indireto (necroscópico – arts. 158 e segs. do CPP). 
Obs: Excepcionalmente, ou seja, só quando não for possível a realização do Exame de Corpo 
de Delito, direto ou indireto, é que a prova testemunhal poderá servir como prova da 
materialidade do delito (art. 167 do CPP). 
 
 
- Trata-se de crime material, admitindo-se, portanto, a modalidade tentada. 
 
A tentativa ocorrerá quando, iniciada a execução do homicídio, não se verifica a ocorrência 
da morte, servindo o elemento subjetivo do crime para diferencia-lo das lesões corporais. 
 
Tentativa Branca: ocorre quando o agente dispara contra a vítima, mas não a atinge. Nesses 
casos, a Doutrina e a Jurisprudência têm adotado, quando há incerteza sobre as claras 
intenções do agente, a aplicação do crime de perigo (art. 132 do CP) e não a hipótese de 
homicídio tentado. 
 
Ação Penal: A ação penal no crime de homicídio será pública incondicionada. 
 
Homicídio simples e crime hediondo: 
 
O homicídio simples será considerado crime hediondo quando for cometido em atividade 
típica de grupo de extermínio, mesmo através de um único executor (art. 1º, I, da Lei 
8072/90). 
 
 
 
TÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA 
 
CAPÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A VIDA 
 
 
HOMICÍDIO 
 
Homicídio Privilegiado 
 
 
Art. 121. (...) 
 
Caso de diminuição de pena 
 
§1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou 
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta 
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
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- Não se trata de delito autônomo, mas sim de causa especial de diminuição de pena. 
 
Causas especiais de diminuição de pena: 
 
a) Homicídio praticado por relevante valor social: é aquele que tem como motivação 
interesses coletivos, ideais de todos os cidadãos de uma coletividade. Ex.: A morte 
causada por patriotismo, tendo como vítima o vil traidor da pátria (exposição de 
motivos), ou a eliminação de um perigoso bandido para que se assegure a segurança 
de uma comunidade. 
 
b) Homicídio praticado por relevante valor moral: trata dos interesses individuais, 
particulares do agente, como os sentimentos de compaixão e piedade. Ex.: Agente 
que mata o estuprador de sua filha. 
 
- Eutanásia (retirar a vida de um enfermo, que vive artificialmente pela ajuda de 
aparelhos, para evitar-lhe ainda mais a dor). A lei penal brasileira ainda não admite 
como impunível essa prática, entretanto, é discutida a possibilidade de se aplicar, 
num caso concreto, a causa especial de diminuição de pena pela ocorrência do fato 
por um relevante valor moral (evitar um sofrimento pessoal). 
 
Necessidade da relevância do Motivo: “Não será qualquer motivo social ou moral que terá a 
condição de privilegiar o homicídio, mas será necessário que seja relevante; não basta que 
tenha valor social ou moral, sendo indispensável que ele seja relevante, ou seja, importante, 
notável, digno de apreço.” Bitencourt 
 
- Não incidência, nestes casos, das circunstâncias atenuantes genéricas do artigo 65, III, “a” 
do CP. 
 
C) Homicídio praticado por violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima. Três requisitos para a sua configuração: 
 
- a existência de uma violenta emoção absorvente: momentânea perturbação ao 
psiquismo do agente com alterações somáticas e fenômenos neurovegetativos e 
motores. 
 
- a ocorrência da injusta provocação da vítima, como causadora dessa violenta 
emoção: “A Potencialidade provocadora deve ser apreciada com critério relativo, 
tendo em vista as qualidades pessoais de quem se pretende provocado, as do 
provocador, as relações anteriores entre ambos, a educação, as circunstâncias de 
lugar, tempo etc.” Bento de Faria. 
 
Com efeito, essa provocação, além de ser considerável, deve ser injusta, ou seja, 
atentatória ao direito, sem um motivo razoável, não necessitando que seja, 
necessariamente, um fato criminoso, ou um ataque a bem-jurídico. 
 
- que a ocorrência do homicídio privilegiado venha a lume logo em seguida a injusta 
provocação da vítima: para a configuração da causa especial de diminuição de pena, 
é necessário que o crime (reação) venha a ocorrer com certa imediatidade à injusta 
provocação da vítima, isto é, enquanto ainda estiver o agente sob o domínio psíquico 
e momentâneo da violenta emoção. 
 
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Curiosidades: 
 
 
Privilegiadora x atenuante: Se a emoção for menor, apenas influenciando a prática do crime, 
ou ainda, se não ocorrer o delito logo após a provocação injusta da vítima, não consistirá o 
fato em homicídio privilegiado, mas sim na atenuante genérica do art. 65, III, “c”, última 
parte, do CPB. Neste último caso, o agente se encontra sob a influência da emoção, e é 
indiferente o requisito temporal. Já na privilegiadora, o agente encontra-se dominado pela 
violenta emoção, o que te faz agir logo em seguida à provocação injusta que sofrera. 
 
“Provocação” x “agressão”: Tais institutos não podem ser confundidos. Se a “provocação” da 
vítima se traduzir em agressão física ao acusado (ou ainda ao risco de atingir a integridade 
física deste), estará o ato autorizando a descriminante da legítima defesa. 
 
Obrigatoriedade da redução da pena: Apesar do texto do artigo informar que o juiz, 
atendendo aos requisitos acima tratados “pode reduzir a pena de um sexto a um terço”, o 
entendimento majoritário atualmente é de que ao magistrado, em sendo reconhecida pelo 
Tribunal do Júri a ocorrência de uma das três características do crime privilegiado, cabe a 
obrigaçãode minorar a pena do agente. 
O que estará ao critério do julgador é somente o quantum de diminuição será por ele 
aplicado, dentro dos limites de um sexto a um terço da cominação original. 
 
 
 
 
Homicídio Qualificado 
 
Art. 121. 
(...) 
 
§ 2º. Se o Homicídio é cometido: 
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
II – pro motivo fútil; 
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que 
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro 
crime: 
 
Pena – reclusão, de doze a trinta anos.” 
 
As circunstâncias que qualificam o homicídio estão divididas em 05 (cinco) incisos, repartidas 
de acordo com: 
 
a) o motivo do crime (incisos I e II); b) meios de consumação (inciso III); c) modos (inciso 
IV); d) e fins (inciso V). 
 
1) Análise do inciso I: 
 
- Homicídio qualificado mediante paga ou promessa de recompensa (qualificadora subjetiva): 
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Conhecido como “crime mercenário”, ocorre quando o agente recebe um pagamento para 
praticar um homicídio ou o comete apenas porque obteve a promessa de ser recompensado, 
economicamente, pelo ato. 
Responderá pelo crime qualificado tanto quem praticou a conduta típica, quanto àquele que 
pagou ou prometeu a recompensa (autoria bilateral-concurso necessário). 
 
- Homicídio qualificado por outro motivo torpe: (qualificadora subjetiva) 
 
“Torpe” é o motivo repugnante, vil, indigno, desprezível que atinge mais profundamente o 
sentimento ético da coletividade (satisfação de desejos sexuais, cobiça, etc.). O motivo não 
poderá ser, ao mesmo tempo, torpe e fútil, vez que aquele afasta naturalmente a futilidade. 
 
O ciúme, por ser um sentimento comum à maioria da coletividade, não se equipara ao 
motivo torpe. 
A vingança só será considerada motivo torpe se estiver eivada de torpeza, que cause repulsa 
segundo os valores ético-socias correntes. 
 
Incomunicabilidade dos motivos: Em se tratando de um homicídio cometido em concurso de 
pessoas, a qualificadora da torpeza não se comunicará a todos os agentes, pois a motivação 
para o crime é individual, não constituindo elementares típicas. 
 
 
2) Análise do inciso II: 
 
- Homicídio qualificado pelo motivo fútil: 
(assim como o motivo torpe, é espécie de qualificadora subjetiva, apesar de sua aferição ser 
analisada objetivamente – padrões éticos do local onde ocorreu o crime, etc.) 
Fútil é o motivo insignificante, banal, leviano, sem importância, mínimo, em avantajada 
desproporção entre a motivação e o crime praticado (matar um garçom porque encontrou 
uma mosca na sopa, matar a mulher porque deixou o feijão queimar, etc.). 
 
A vingança não é motivo fútil, embora, eventualmente, possa caracterizar motivo torpe. O 
ciúme, por exemplo, que gera a vingança, não se caracteriza como motivo fútil. 
 
O motivo fútil não pode ser confundido como “motivo injusto”, e nem com a “ausência de 
motivo”. Quanto à primeira comparação, são incompatíveis os motivos pelo fato de o motivo 
injusto, por vezes, poder estar eivado de certa relevância. O julgador pode entender que ele 
tenha a ocorrência do homicídio tenha sido injusta, entretanto, motivos existiam para que o 
agente o cometesse. 
 
Já na “ausência de motivos” encontramos uma enorme aberração jurídica. Enquanto que o 
motivo fútil qualifica o crime, a ausência total de motivo pode resultar na ocorrência de um 
homicídio simples, se não há no caso concreto outra espécie de qualificadora. 
 
 
3) Análise do inciso III: 
 
- Homicídio qualificado pelo emprego de veneno: (qualificadora objetiva) 
 
A utilização do veneno no cometimento do homicídio só vai qualificar o crime se este meio 
for utilizado com dissimulação, como cilada, com astúcia, insidiosamente (meio insidioso 
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excepcional). Isso quer dizer que, se houver a administração forçada do veneno, ou estiver a 
vítima ciente da ingestão do mesmo, não há que se falar em homicídio qualificado nesta 
modalidade. 
Se o veneno for ministrado na vítima mediante o uso de violência, poderá caracterizar a 
majorante através do meio cruel. 
 
Conceito de veneno em Direito Penal: É qualquer substância, vegetal, animal ou mineral, que 
tenha idoneidade para provocar lesão ao organismo humano. 
 
Prova da materialidade do delito: a prova do envenenamento, para caracterizar homicídio 
qualificado, exige prova pericial (laudo toxicológico), nos termos dos artigos 158 e segs. do 
CPP. 
 
- Homicídio qualificado pelo emprego de fogo ou explosivo: (qualificadora objetiva, quando 
resulta em perigo comum, e subjetivo, quando caracteriza um meio cruel) 
Emprego de fogo = utilização de combustível inflamável seguido do ateamento de fogo. O 
emprego de fogo pode, casuisticamente, constituir meio cruel, como vem ocorrendo nos 
ateamentos de fogo em mendigos nas grandes cidades. Pode também constituir meio que 
possa resultar perigo comum. 
Emprego de explosivo = utilização de dinamite ou qualquer outro material explosivo, como 
bomba-caseira, carta-bomba, coquetel molotov, etc. 
É causa qualificadora que pode resultar em perigo comum. 
 
- Homicídio qualificado pelo emprego de asfixia: (qualificadora subjetiva: meio cruel) 
Asfixia é o impedimento da função respiratória com a conseqüente falta de oxigênio no 
sangue do indivíduo. A causa morte desta majorante é a falta de oxigênio. 
A asfixia pode ser: 
Mecânica (utilização da força humana) – enforcamento, afogamento, esganadura, etc. 
Tóxica – uso de gás asfixiante, como o óxido, pelo ar confinado, etc. 
 
- Homicídio qualificado pelo emprego de tortura: (qualificadora subjetiva) 
 
“Tortura é meio que causa prolongado, atroz e desnecessário padecimento”. Bitencourt. 
 
O delito isolado de tortura hoje é tratado em lei específica (Lei 9.455/97). É crime autônomo, 
se não for meio utilizado para o homicídio, mas o homicídio qualificado pelo emprego de 
tortura continua a ser disciplinado pelo Código Penal, no art. 121, §2º III. 
 
- Homicídio qualificado pelo emprego de outro meio insidioso (qualificadora objetiva) ou 
cruel (qualificadora subjetiva): 
 
Meio insidioso é aquele utilizado como perfídia, estratagema. É o meio disfarçado, ardiloso. É 
o recurso dissimulado que consiste na ocultação do verdadeiro propósito do agente que, 
assim, surpreende a vítima. 
O emprego de veneno é um ato exemplificativo de meio insidioso, que já vem estampado no 
§2º, inciso III, do artigo 121 do CP. 
 
Meio cruel é a forma brutal de perpetrar o crime, é meio bárbaro, martirizante, que traduz 
ausência de piedade. Dentro do corpo do artigo podemos apontar a tortura e o emprego de 
fogo. Como outro exemplo, a dilaceração do corpo a facadas, o pisoteamento da vítima até 
a morte. 
 
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Obs.: A crueldade utilizada após a morte da vítima não qualifica o crime. Se a vítima não 
goza mais da vida, o homicídio já se consumou, então não há mais que se falar na gravidade 
dos meios utilizados. 
 
- Homicídio qualificado pela utilização de um meio (objeto) que possa resultar perigo comum 
(qualificadora objetiva) 
 
Meio de que possa resultar perigo comum é aquele que pode atingir um número indefinido 
de pessoas. 
 
Só haverá concurso formal do homicídio qualificado com um crime de perigo comum, se 
houver, na sua intenção, desígnios autônomos, ou seja, a finalidade de matar alguém e o 
fim de causar perigo comum com o mesmo ato. 
O homicídio qualificado pelo meio que pode resultar perigo comum difere dos crimes de 
perigo comum (título VIII, Capítulo I, da parte especial do CP) pelo DOLO do agente que, no 
nosso caso, é a morte da(s) vítima(s) e não o perigo comum. 
 
4) Análise do inciso IV: 
 
- Homicídio qualificado pelatraição: (Qualificadora objetiva) 
 
É o ataque sorrateiro, inesperado (tiro pelas costas). Se houver tempo para a vítima fugir, ou 
se esta pressente a intenção do agente, não estará configurada a qualificadora da traição. 
A traição revela a deslealdade, viola a confiança da vítima. 
 
- Homicídio qualificado pela Emboscada: (qualificadora objetiva) 
 
É a tocaia, a espreita, quando o agente se esconde para surpreender a vítima. É a espera 
disfarçada da vítima em lugar onde esta terá de parar. 
Emboscada é sempre uma modalidade de crime premeditado, vez que o agente se prepara e 
se esconde com antecedência e se projeta de maneira a esperara passagem da vítima. 
O criem a emboscada gera para a vítima a sua impossibilidade de se defender. 
 
- Homicídio qualificado pela dissimulação: (qualificadora objetiva) 
 
Dissimulação é o emprego de modo ou recurso que distrai a atenção da vítima ao ataque do 
agente (ex.: disfarce). A ocultação da intenção hostil do agente também atinge a vítima de 
surpresa, fazendo com que esta esteja impossibilitada de se defender. 
 
- Homicídio qualificado por outro meio que dificulte ou torne impossível a defesa do 
ofendido: (qualificadora objetiva) 
 
Será uma hipótese análoga à traição, emboscada ou dissimulação, que são meios 
explicativos de atos que impossibilitem ou dificultem a defesa da vítima. O “outro recurso” 
que a lei abstratamente admite deverá ter, assim, a mesma natureza das outras 
qualificadoras esposadas no inciso IV. 
A surpresa é um exemplo de outro recurso que torna impossível a defesa do ofendido. 
 
 
5) Análise do inciso V: 
 
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- Homicídio cometido para assegurar a execução, ocultação, a impunidade ou vantagem de 
outro crime: (qualificadora subjetiva) 
 
Neste caso, o homicídio é cometido para assegurar a prática de outro crime ou evitar a sua 
descoberta. Nada impede que o outro crime tenha sido praticado por outra pessoa, 
entretanto, para a configuração desta qualificadora é necessária à prova da prática do outro 
delito e a prova da sua autoria ou o liame entre os dois crimes. 
 
 
HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO 
 
 
Admite-se o homicídio qualificado-privilegiado? 
 
É possível a utilização da causa especial de diminuição do §1º do art. 121 nas formas 
qualificadas do homicídio? 
 
Há divergência doutrinária na resposta a estes quesitos, entretanto, o posicionamento que 
tem sido adotado com mais freqüência vem de autores como Cezar Roberto Bitencourt, Luiz 
Régis Prado, Damásio E. de Jesus, dentre outros, que admitem a coexistência destes 
dispositivos, um privilegiador, e outro agravador da punição, somente nas modalidades 
qualificadas de ordem objetiva. 
As condutas taxadas pela Lei penal como privilegiadas são circunstâncias subjetivas, dizem 
respeito aos motivos do agente. 
Assim, nada impede que um agente, por motivo de relevante valor moral ou logo após uma 
injusta provocação da vítima, venha a cometer um homicídio por meio de asfixia. 
Já a concorrência entre homicídio privilegiado e as qualificadoras subjetivas são 
inadmissíveis, porque não guardam compatibilidade. 
Não se compreende, por exemplo, um homicídio cometido por motivo fútil e, ao mesmo 
tempo, por motivo de relevante valor moral. 
 
Homicídio duplamente-qualificado 
 
Pode o homicídio ser praticado com duas ou mais qualificadoras e, nessa hipótese, 
obedecendo-se aos limites legais previstos para a pena (12 a 30 anos), deve o juiz 
considerá-la na fixação da pena-base, conforme o art. 59, que inclui, genericamente, as 
circunstâncias do crime como circunstância judicial para essa determinação. Tem-se também 
entendido, no caso, uma das qualificadoras para a fixação da pena-base e as demais como 
circunstâncias agravantes. 
 
A pena não poderá passar do máximo permitido (30 anos), e a orientação 
doutrinária e jurisprudencial é de que, se for o crime duplamente ou triplamente 
qualificado, não poderá o juiz, na fixação da pena-base, fixar o mínimo previsto 
pela lei (12 anos), entretanto, pode utilizar-se de uma qualificadora para fixar a 
pena-base, e as demais, admitidas pelos jurados, como circunstâncias 
agravantes. 
 
Duplo Homicídio Qualificado 
 
Ocorre o duplo homicídio qualificado quando o agente, mediante mais de uma ação ou 
omissão, pratica dois homicídios (ou mais, sendo então triplo, etc.), onde o apenamento 
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poderá ocorrer através das regras do artigo 69 (concurso material) do CP ou, ainda, 
seguindo-se a orientação do artigo 71 (crime continuado) do mesmo diploma. 
 
 
 
 
HOMICÍDIO CULPOSO 
 
 
O crime de homicídio é uma figura típica que admite a modalidade culposa. 
 
Art. 121. (...) 
 
§ 3º. Se o homicídio é culposo: 
Pena – detenção, de um a três anos. 
 
Conceito: “Conduta voluntária que produz um resultado morte antijurídico não querido, mas 
previsível, ou excepcionalmente previsto, de tal modo que podia, com a devida atenção, ser 
evitado.” Mirabete 
 
1 - Princípio da Excepcionalidade do Crime Culposo: 
 
As legislações adotam o princípio da excepcionalidade do crime culposo, isto é, a regra é de 
que as infrações penais sejam imputadas a título de dolo, e só excepcionalmente a título de 
culpa, e, nesse caso, quando expressamente prevista a modalidade culposa da figura 
delituosa. Assim, quando o sujeito pratica um ato culposamente e a figura típica não admite 
a forma culposa, não há crime. 
 
Art. 18. Diz-se o crime: 
(...) 
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou 
imperícia. 
- p.u. - salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 
Imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter comissivo. É a 
imprevisão ativa. Conduta imprudente é aquela que se caracteriza pela intempestividade, 
precipitação, insensatez ou imoderação. 
Negligência é a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do agente, que, 
podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É a imprevisão passiva, o desleixo, a 
inação. É não fazer o que deveria ser feito. 
Imperícia é a falta de capacidade, despreparo ou insuficiência de conhecimentos técnicos 
para o exercício de arte, profissão ou ofício. Não se confunde com erro profissional. Este é 
um acidente escusável, justificável e, de regra, imprevisível, que não depende do uso correto 
e oportuno dos conhecimentos e regras da ciência. 
 
 
2 - Requisitos para configuração da culpa: 
 
- comportamento humano voluntário; 
 
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Conduta. Ação ou omissão que o “agente”, por sua conta própria, sem pressão de terceiros, 
quis realizar. 
 
- descumprimento do dever de cuidado objetivo; 
 
A inobservância do cuidado objetivamente devido resulta da comparação da direção finalista 
real (o resultado criminoso acidental) com a direção finalista exigida para evitar as lesões 
aos bens jurídicos, ou seja, a infração a esse determinado dever de cuidado vai representar 
o injusto típico dos crimes culposos. Frise-se que é indispensável investigar o que teria sido, 
concretamente, para o agente, o dever de cuidado, pois a inobservância a ele deve guardar 
direta proporção com o resultado criminoso (nexo causal). 
 
OBS.: O dever de cuidado não pode ir além dos limites de atuação do sujeito. Se o resultado 
fosse inevitável pelo agente, ou seja, se ele não tinha como evitar o ato, sem que lhe 
trouxesse um dano próprio, não se pode então falar em crime culposo. Exclui-se a própria 
tipicidade do delito. 
 
- previsibilidade objetiva do resultado; 
 
a) Culpa própria: O agente não quer o resultado, mas ele é previsto. São elas: 
 
Culpa Inconsciente: A morte da vítima não é prevista pelo sujeito, embora deveria ser 
previsível. É a culpa comum, que se manifesta pela imprudência, negligência ou imperícia. 
 
Culpa Consciente: Ocorre quando o sujeito realiza um ato,voluntariamente, apesar de não 
acreditar, sinceramente, que seu ato resultará em crime, crendo nas suas habilidades 
pessoais para a pratica do ato (lícito, inicialmente), mas deixa de observar um dever objetivo 
de cuidado a que estava obrigado. Assim, pode ou poderia o agente prever que o resultado 
criminoso viesse a acontecer em virtude desta falta de cuidado. 
 
b) Culpa imprópria: Aqui o resultado (morte) é querido pelo sujeito, mas este labora em erro 
de proibição inescusável ou vencível (art. 20, §1º do CP). 
 
Ex.: Sujeito que esteja sendo vítima de furto noturno em sua casa diariamente, certo dia se 
arma e espera pelo ladrão de atalaia. Ao ver um vulto em seu jardim, não exita em perpetrar 
tiros contra o vulto que se move, acreditando estar atingindo o ladrão, em legitima defesa de 
sua propriedade, entretanto, não estava ali o ladrão, mas sim alguém inocente. 
 
- morte involuntária (especificamente para o homicídio): 
 
O resultado morte ocorreu contrariamente à vontade do agente, ou independente dela. O 
homicídio não era esperado pelo autor. 
 
3 - Concorrência de culpas: 
 
Ocorre quando dois indivíduos, um ignorando a participação do outro, concorrem, 
culposamente, para a produção de um fato que resulte lesão a um bem jurídico alheio. Aqui 
os agentes respondem isoladamente pelo resultado produzido. Não se pode falar em 
concurso de pessoas, pela ausência de vínculo subjetivo entre os autores. 
Ex.: Dois pilotos de avião, agindo culposamente, vêm a se chocar, causando a morte dos 
passageiros. Se os pilotos não morrem, ou se apenas um vem a óbito, ambos, ou só o 
sobrevivente, responderá culposamente pelos homicídios a que deu causa. 
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4 – Compensação de culpas: 
 
Eventual culpa da vítima, se concorrente com a do agente, não exclui a responsabilidade 
deste. As culpas recíprocas do autor e do ofendido não se compensam, não se extinguem. 
Somente deixará de responder pelo homicídio culposo o ofensor, se restar provado que a 
culpa pelo resultado morte foi exclusiva da vítima. 
Ex: Num acidente automobilístico, o motorista estava dirigindo dentro das regras de cuidado 
devidas objetivamente por quem guia um automóvel, quando a vítima, em desrespeito às 
leis de trânsito, que também servem para os pedestres, invade a pista sem observar que 
vinha um carro, sendo então atropelada e morta sem que o autor nada pudesse fazer para 
evitar o acidente. Aqui, o motorista não será responsabilizado pelo óbito do pedestre. 
 
5 - Crime culposo não admite tentativa: 
 Se o agente não queria realizar o verbo do tipo penal, não se preparou ele então para 
executá-lo, como ocorre nos delitos dolosos. Assim, a lesão que o crime culposo vier causar 
(morte, lesão corporal, dano, etc.) será então o cometimento (a consumação) do delito 
culposamente, desde que a norma penal desrespeitada admita a modalidade culposa. Não se 
pode falar em tentar cometer um delito que não era querido pelo agente. 
 
6 – Concurso de pessoas em crime culposo: 
 
A doutrina brasileira admite a figura da co-autoria em crimes culposos, rechaçando, 
entretanto, a figura da participação. Pode existir um vinculo subjetivo na realização da 
conduta, que é voluntária, inexistindo, contudo, tal vínculo em relação ao resultado, que não 
é desejado por nenhum dos agentes. Assim, os que cooperam na causa (na falta do dever 
de cuidado objetivo), agindo sem a atenção devida, são co-auotres. 
 
Ex.: Passageiro que induz o taxista a dirigir em alta velocidade, contribuindo assim para um 
atropelamento fatal, será, para o direito brasileiro, co-autor em homicídio culposo, junto com 
o taxista que, voluntariamente, aplicou velocidade excessiva, ilegal, em seu veículo. 
 
7 – Homicídio Culposo no trânsito: 
 
Os veículos motorizados, como parte integrante da vida contemporânea, tornaram-se fator 
poderoso de riscos para a segurança da vida e integridade corporal dos cidadãos. 
 
Por tal motivo, o homicídio culposo quando ocorrido no trânsito, por conta da maior desvalia 
da ação descuidada em relação às demais ações culposas de nosso quotidiano, passou a ter 
tratamento especial. O homicídio culposo ocorrido no trânsito é hoje tratado com mais 
severidade, e em legislação especial, a lei 9.503/97, que trata das infrações penais de 
trânsito. O homicídio é tipificado no art. 302 da sobredita Lei, e a pena é a detenção de 02 
(dois) a 04 (quatro) anos, além de outras de ordem administrativas. 
 
 
 
 
Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio. 
 
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que 
o faça: 
 20 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um 
a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. 
 
Noções Iniciais: 
Suicídio é a supressão voluntária e consciente da própria vida. Se houver o emprego de 
violência ou grave ameaça para coagir alguém a tirar a própria vida, exclui-se a 
voluntariedade, de forma que o autor da coação responde por homicídio. Também haverá 
homicídio quando o agente convence a vítima a realizar determinada ação sem que ela 
perceba que irá causar sua morte. 
 
Objetividade Jurídica: 
O bem-jurídico tutelado é a vida humana. 
 
Sujeito Ativo: 
Pode ser qualquer pessoa, menos o suicida. Hipótese de crime comum. 
 
Co-autoria e participação: 
“Se alguém induz outrem a suicidar-se, aquele será autor do crime; se, no entanto, duas 
pessoas, de comum acordo, praticarem essa mesma atividade, serão co-autoras; se, porém 
alguém induzir outrem a instigar um terceira pessoa a suicidar-se, o “indutor” será partícipe 
(teve uma atividade meramente acessória) e o “instigador” será autor da participação em 
suicídio, pois realizou a atividade tipificada como criminosa.” Bitencourt 
 
Sujeito Passivo: 
É o ser humano com vida e em sã consciência, que será induzida, instigada ou auxiliada. A 
capacidade de discernimento da vítima é indispensável para a configuração do delito do 
artigo 122 do CP, pois caso contrário estaremos diante de um homicídio praticado por 
autoria mediata. 
 
Tipo Objetivo: 
A conduta típica se destaca em três ações: 
a) indução: cria na mente da vítima o desejo do suicídio, idéia que não existia ainda para a 
vítima; 
b) instigação: reforça, reanima, estimula a idéia preexistente de suicídio que a vítima já 
incutia em sua consciência; 
c) auxílio: participa do próprio ato do suicídio; é uma participação material. (o empréstimo 
do punhal, do revólver, a condução do suicida ao local adequado, etc.) 
 
* O auxílio só configura o delito quando é secundário, ou seja, não é a causa direta da 
morte, caso contrário, é homicídio. 
 
* A realização de mais de uma conduta (ex.: instigação e auxílio) em relação à mesma 
vítima configura somente um crime. Trata-se de um tipo de conteúdo variado. 
 
* Sujeito Determinado: Livros e música que incentivam o suicídio não são puníveis, pois não 
são dirigidas a uma pessoa determinada. Fato determinado: a contribuição no suicídio deve 
dirigir-se a um fato determinado, que tenha realmente criado na vítima a decisão final de se 
matar, sob pena de se tornar o apoio uma mera “cumplicidade”. 
 
* Induzir, instigar e auxiliar, que teoricamente representariam mera atividade de partícipe, 
neste tipo, constituem o núcleo do tipo penal. Assim, quem realizar qualquer dessas ações 
em relação ao sujeito ativo não será partícipe, mas autor do crime. 
 21 
 
* Segundo o professor Cezar Roberto Bitencourt, “é um equívoco falar em participação 
quando se trata de um único sujeito ativo. Nada impede que alguém desempenhe atividade 
de partícipe, instigando, induzindo ou auxiliando o sujeito ativo a realizar uma das condutas 
descritas no tipo.” 
 
Tipo Subjetivo: 
O dolo é a vontade de induzir, instigar ou auxiliar o suicida. É a vontade livre e consciente de 
provocar a morteda vítima através do suicídio ou, no mínimo, assunção do risco de levá-la a 
esse desiderato. 
- Admite o dolo direto ou eventual. 
- Não é possível a forma culposa. Não está expresso no corpo do artigo essa permissão, 
então, pelo principio da excepcionalidade do crime culposo, não há que se falar em tentativa 
de suicídio culposa. 
 
Consumação e Tentativa: 
Consuma-se com o resultado natural: morte ou lesão corporal de natureza grave. Na 
hipótese de a vítima sofrer lesão grave o agente será punido com reclusão de 1 a 3 anos, se 
a vítima falece a pena será de reclusão de 2 a 6 anos. 
 
Não se admite a tentativa, apesar de o artigo descrever “tentativa” de suicídio. O termo ali 
aposto diz respeito à tentativa da própria vítima, que, querendo dar cabo de sua própria 
vida, não conseguiu. A vítima, obviamente, por estar dispondo de um bem próprio, não será 
punida. 
Apesar de se tratar de um crime material, a tentativa não é admitida pelo ordenamento, pois 
no próprio texto do artigo (preceito secundário) existe uma espécie de tentativa punida com 
pena fixa, deixando então taxativamente claro que a participação no suicídio só será punível 
se do ato resultar morte ou lesão corporal grave para a vítima. 
OBS.: Se a vítima sofrer lesão leve ou nenhuma lesão o fato é atípico. 
 
 
Formas Majoradas (e não qualificadas): 
 
Parágrafo único - A pena é duplicada: 
 
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; 
Ocorre quando na participação no suicídio o agente intenciona alguma vantagem econômica 
própria ou outra vantagem pessoal. Essa obstinação pela busca da vantagem a qualquer 
preço impõe a necessidade da proporcional elevação da sanção penal correspondente. 
 
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade 
de resistência. 
 
Quanto a este inciso há duas posições: 
a) Será homicídio e não suicídio se ficar comprovado que em razão da pouca idade, a vítima 
não tinha qualquer capacidade de entender que morreria; 
 
b) Se a vítima é menor de 14 anos o crime é de homicídio por autoria mediata (o CP 
considera o consentimento do menor de quatorze anos inválido e, quando vítima, a 
violência contra ela será presumida) só incidindo este inciso II se a vítima for maior de 14 
e menor de 18 anos (já possui capacidade de discernimento). 
 
 22 
Ação Penal: 
Pública incondicionada. Admite-se a ação penal privada subsidiaria da pública. 
 
Síntese da qualificação doutrinária: Crime comum, comissivo ou excepcionalmente 
omissivo (auxílio), de dano, material, instantâneo, doloso e de conteúdo variado. 
 
 
 
 Infanticídio 
 
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o 
parto ou logo após: 
Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 
 
 
Noções Iniciais: 
É na realidade uma hipótese de homicídio especial, vez que cometido pela mãe (em 
condições especiais) contra o filho, recém-nascido ou nascendo. 
 
Objetividade Jurídica: 
Protege-se a vida humana do neonato (recém-nascido) e daquele que está nascendo. 
Basta que se demonstre a vida biológica do neonato, que pode ser comprovada pela 
existência de batimentos cardíacos, pela circulação sangüínea ou qualquer outro critério 
admitido pela ciência médica. Assim, não é mais necessária, para a configuração do 
infanticídio, a existência de vida extra-uterina. 
 
Sujeito Ativo: 
É espécie de crime próprio, pois somente praticado pela mãe, e desde que se encontre sob a 
influência do estado puerperal. 
 
Sujeito Passivo: 
É o próprio filho nascente ou recém-nascido. 
 
Tipo Objetivo: 
A conduta típica é matar o próprio filho, sob a influência do estado puerperal. 
 
 Estado Puerperal: 
Estado puerperal é o conjunto de alterações que ocorre no organismo da 
mulher em virtude do parto. Muitas vezes, em virtude dessas alterações 
orgânicas, a mulher sofre uma perturbação psicológica que pode levá-la 
eventualmente a matar o próprio filho, por sentimento de rejeição. A 
perturbação resultante do estado puerperal, como qualquer circunstância 
elementar do crime, deve ser provada. Não pode ser presumida. 
 
O puerpério nem sempre acarreta uma perturbação psíquica de tal monta que a mãe venha, 
pela diminuição da sua capacidade de entendimento, a matar o próprio filho. Por isso, deve 
ser devidamente demonstrado (através do auxilio da medicina) que o estado puerperal da 
mãe foi mesmo a causa da morte de seu filho, ou seja, deve haver nexo causal entre o 
relevante estado de puerpério da parturiente e a ação delituosa praticada. Caso contrário, 
estaremos diante de um crime de homicídio e não de infanticídio. 
 
Tipo Subjetivo: 
 23 
O dolo é a vontade de causar a morte ao próprio filho. 
Não há forma culposa. 
 
Consumação e Tentativa: 
Se consuma com a morte do nascente ou neonato. 
Admite-se a tentativa. É crime material, e a tentativa reside no fato de que, apesar da ação 
finalista praticada pela mãe, a morte do sujeito passivo não sobrevém por circunstâncias 
estranhas à vontade dela. 
 
Concurso de Agentes: 
Sobre a participação de terceiro na prática do crime, a doutrina é dividida: 
 
a) Cezar Roberto Bitencourt, Magalhães Noronha, Frederico Marques, Damásio e Nélson 
Hungria (que mudou de opinião a partir da 6ª edição de sua obra Comentários ao Código 
Penal), por exemplo, entendem que há a comunicabilidade: art. 30 do CP – as condições 
de caráter pessoal quando forem elementares do crime comunicam-se as outras pessoas. 
E, no caso em tela, a influência do estado puerperal é elementar do crime de infanticídio, 
uma vez que não ocorrendo este estado psíquico, não se pode falar em infanticídio, mas 
somente em homicídio. 
 
b) Aníbal Bruno e Delmanto, por exemplo, entendem que o partícipe deve responder por 
crime de homicídio: entende-se que o estado puerperal não é uma condição pessoal e 
sim personalíssima que não se comunica ao terceiro co-autor ou partícipe. 
 
 
Aborto X Infanticídio: 
 
Esta discussão termina a partir do momento em que se analisa cada hipótese delituosa de 
acordo com o requisito temporal. Isto é, antes de iniciado o parto, a interrupção do 
desenvolvimento do feto caracteriza o aborto; assim, iniciado o parto, o crime será o de 
infanticídio, desde que praticado sob a influencia do estado puerperal, logicamente. 
 
Ação Penal: 
Pública incondicionada, admitindo-se a ação penal privada subsidiaria da pública. 
 
Síntese da qualificação doutrinária: Crime próprio, de dano, material, comissivo ou 
omissivo, instantâneo e doloso. 
 
 
 
Aborto 
 
Aborto Provocado pela Gestante ou com seu Consentimento: 
 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos. 
 
 
Aborto Provocado por Terceiro: 
 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos. 
 24 
 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior 
de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é 
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. 
 
 
Noções Iniciais: 
Aborto é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção. Ocorre 
durante o período compreendido entre a concepção e o início do parto, que é o marco final 
da vida intra-uterina. 
 
Espécies de Aborto: 
a) auto-aborto (art. 124 do CP); 
b) aborto consentido (art. 124, 2ª parte, do CP); 
c) aborto sem consentimento da gestante (art. 125 do CP) ; 
d) aborto com o consentimento da gestante (art. 126 do CP); 
e) aborto majorado ou “qualificado” (art. 127 do CP); 
f) aborto legal (art. 128 do CP). 
 
Objetividade Jurídica: 
Tutela-se a vida intra-uterina e a integridade da gestante (nos abortos provocados porterceiros). 
 
Sujeito Ativo: 
A gestante nas duas primeiras hipóteses, e qualquer pessoa nas outras. 
 
Sujeito Passivo: 
É o feto. É a expectativa de uma vida (está no capítulo dos crimes contra a vida), que já tem 
tratamento autônomo assegurado pelo ordenamento jurídico (Código Civil). Entendem assim 
abalizados mestres, como Bitencourt, Damásio, etc. 
Mirabete defendia que o sujeito passivo é o Estado, interessado no nascimento, e não o feto, 
ou seja, o produto da concepção, que ainda não é titular de bens jurídicos, embora a lei civil 
resguarde o direito dos nascituros (art. 2º do CC). 
 
Dupla subjetividade passiva: no aborto provocado por terceiro (arts. 125 e 126 do CP), a 
gestante pode ser, juntamente com o feto, sujeito passivo, por força do disposto no artigo 
127 do CP. A lei tutela aqui, além da vida intra-uterina, a incolumidade física da gestante (o 
que não ocorre na hipótese de auto-aborto). 
 
Tipo Objetivo: 
A conduta típica é provocar aborto. O crime pode ser praticado por ação ou omissão (dever 
jurídico). Crime de forma livre, ou seja, pode ser praticado de qualquer modo, como 
químicos (arsênico, ópio, mercúrio, etc.), físicos (mecânicos – pressão sobre a parede 
abdominal; térmicos – emprego de bolsas de água quente ou de gelo na parede do 
abdômen; elétricos – choques, banhos elétricos, etc.), psíquicos (susto, terror, choque 
moral, etc.) 
 
OBS.: Qualquer que seja o meio, é imprescindível a sua idoneidade à produção do resultado. 
As rezas, despachos, benzedeiras, etc. são meios inidôneos, e nos conduzem ao crime 
impossível. 
 25 
 
* Crime impossível: feto já estava morto ou a gestante não estava grávida (absoluta 
impropriedade do objeto) ou o meio utilizado não era capaz de gerar aborto (inadequação 
absoluta do meio) . 
 
 
Tipo Subjetivo: 
Dolo Direto. Há vontade firme de se interromper uma gravidez e produzir a morte do feto. 
Admnite-se o dolo eventual, como no caso da mulher que pratica esporte violento, tendo 
consciencia que poderá vir a abortar. 
No aborto qualificado pelo resultado (aert. 127), o crime é preterdoloso, ou seja, há dolo no 
antecedente (aborto) e culpa no consequente (lesão grave ou morte da gestante). 
Não se pune o aborto culposo (espontâneo ou natural, e acidental). 
 
Consumação e Tentativa: 
Crime material. Se consuma com a morte do feto, em conseqüência da interrupção da 
gravidez. 
Admite-se a tentativa. É admissível quando, provocada a interrupção da gravidez, o feto não 
morre por circunstâncias alheias à vontade do sujeito. 
No caso de na realização do aborto, se o feto vier a ter vida extra-uterina (é expulso do 
ventre por força do aborto), podem ocorrer as seguintes hipóteses: 
 
a) se o feto vier a morrer em razão da manobra: aborto consumado; 
b) se o feto vier a morrer por acidente outro: tentativa de aborto; 
c) se o feto sobrevive: tentativa de aborto. 
 
OBS.: Em relação ao auto-aborto (art. 124), a tentativa não será punível se lesão nenhuma 
restar para o feto (ainda que ele venha a nascer prematuramente, por exemplo). 
 
Concurso de Agentes: 
As pessoas que instigam, induzem ou auxiliam de maneira secundária (moral ou 
materialmente) a prática do aborto, são partícipes. Pode haver a figura do partícipe tanto na 
modalidade do auto-aborto ou do aborto consentido (quando se induz a gestante, por 
exemplo, a praticar o crime em si mesmo), como nos crimes de aborto provocado (quando 
se instiga o provocador do aborto a realizá-lo, por exemplo). 
OBS.: Quem provoca o aborto é autor (do crime do art. 125, sem o consentimento da 
gestante, e do art. 126, com o consentimento dela). 
 
Forma Qualificada: 
 
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um 
terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, 
a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por 
qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
 
Tal majorante somente se aplica às modalidades de aborto provocado. 
 
O crime só é qualificado pelo resultado (lesão grave ou morte) se ele for de natureza 
preterdolosa (dolo no aborto e culpa na lesão corporal grave ou na morte da gestante). 
 
* Se no caso do aborto, a gestante vem a morrer e a criança sobrevive, há um raro caso de 
tentativa na forma preterdolosa. 
 26 
 
* Se além do aborto, o agente quer, ainda que eventualmente o ferimento ou a morte da 
gestante, haverá aborto e a lesão corporal grave ou homicídio em concurso. 
 
Síntese da qualificação doutrinária: crime próprio ou de mão própria (no auto-aborto e 
no consentido), crime comum (nos casos de aborto provocado), de dano, material, 
instantâneo e doloso. 
 
 
Aborto Legal: 
 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da 
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 
 
Aqui o aborto é lícito, permitido por lei. Não estamos apenas diante de uma causa 
excludente de culpabilidade, mas sim da ilicitude da conduta. 
 
Casos do aborto legal: 
 
a) aborto necessário ou terapêutico: quando não há outro meio de salvar a vida da 
gestante. 
 
Trata-se da ocorrência da figura descriminante do estado de necessidade (art. 23, I do CP). 
Este risco pode decorrer de anemias profundas, cardiopatias, câncer uterino, ou qualquer 
outra patologia. Entretanto, deve estar demonstrada a inexistência de qualquer outro meio 
capaz de salvar a vida da gestante sem sacrificar a formação do feto. 
 
Apesar de a lei autorizar a pratica do aborto necessário apenas pelo médico, é possível que 
outra pessoa que não este profissional realize o aborto, mormente quando houver urgência 
na medida, sendo iminente o perigo à vida da gestante. Neste caso, o provocador do aborto 
responderá pelo delito, mas poderá argüir, em seu favor, a figura do estado de necessidade. 
 
Teoria da acessoriedade limitada da participação: Se o médico que realiza o aborto se utiliza 
de outra pessoa para auxiliá-lo na prática do ato, este terceiro também não responderá pelo 
delito do aborto, pois está colaborando com um fato lícito. A licitude do aborto aqui se 
comunica a quem auxiliou o médico, profissional habilitado para tanto. Esta teoria exige que 
a conduta do autor principal seja típica e antijurídica, o que não é o caso. 
 
b) aborto sentimental ou humanitário: resultado de estupro e consentido pela gestante, ou 
seu representante legal se incapaz. 
 
 - O aborto permitido nas condições do inciso II do art. 128 também só será praticado por 
médico. 
 
OBS.: Bitencourt entende que, no caso de uma enfermeira praticar o aborto sentimental, 
poderá ela então alegar em seu favor não o estado de necessidade (que exclui o crime), mas 
o inexigibilidade de conduta diversa (que exclui a culpabilidade). É preferível aceitar a 
posição de Mirabete e Damásio, que afirmam que neste segundo caso de aborto legal, deve-
se seguir a orientação do caput do art. 128, pois aqui não há urgência na realização do 
aborto (a vida da mãe não corre perigo) e, por isso, a gestante pode esperar pelo 
 27 
profissional habilitado (médico) para que este sim venha a realizar nela, com os devidos 
cuidados, o aborto. 
É possível não se punir a enfermeira que realiza o aborto humanitário, entretanto, se restar 
provado que esta tomou todos os cuidados para saber se realmente a gestante fora vítima 
de estupro, e, ainda, se na localidade não há médico. 
 
- Para se fazer a prova do estupro, não há necessidade de uma Decisão condenatória pelo 
injusto típico do art. 213 do CP. Destarte, a prova da ocorrência do estupro deve ser cabal 
(através do laudo médico realizado na vítima logo após a violência, por exemplo), de 
maneira que o médico realizador do aborto esteja munido de documentos que o autorizem a 
praticara ato, acobertado pela Lei penal. 
 
- Ao contrário do aborto necessário, no presente caso é exigido pela Lei que haja o prévio 
consentimento da gestante (ou de seu representante legal) para que o profissional possa 
então realizar nela o aborto. 
 
* Aborto eugenésico: o feto não tem possibilidade de vida ou será defeituoso. Tem como 
exemplo mais comum o aborto anencefálico. O nosso Código Penal ainda não permite, mas 
já há precedentes jurisprudenciais no sentido de que, provada a anomalia grave (aquela que 
aponta a morte certa do feto ao nascer), o aborto deve ser autorizado. O fundamento para a 
prática deste aborto é a inexigibilidade de conduta diversa, mormente quando a própria mãe 
realiza o aborto, ou quando consente na sua realização por terceiro. 
 
* Aborto sentimental proveniente de atentado violento ao pudor: O julgador tem 
admitido a realização do aborto proveniente de atentado violento ao pudor, utilizando-se da 
analogia in bonam partem. A partir do momento histórico em que a medicina provou que a 
gravidez pode surgir de atos libidinosos diversos da conjunção carnal (coito intra-fêmur), 
surgiu então a necessidade de utilizar da analogia em benefício da vítima daquela violência 
sexual, no sentido de que, vindo ela a engravidar, estará autorizada, também, a realizar em 
si mesma (por intermédio de um médico) o aborto. 
 
 
Ação Penal: Pública Incondicionada. 
 
Capítulo II – Das Lesões Corporais 
 
 
Lesão Corporal Leve 
 
Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
 
Noções Inciais: 
É a ofensa a integridade físico-psíquica. 
 
Objetividade Jurídica: 
Protege-se a integridade física (anatômica e fisiológica) ou psíquica (perturbação mental) do 
ser humano. 
 
Sujeito Ativo: 
Pode ser qualquer pessoa (crime comum).

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