Buscar

[Resumo] Doenças e Curas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Introdução
O ser humano vem perdendo cada ver mais em seu processo “civilizatório”: a pura e simples observação de fenômenos naturais que nos cercam. Como exemplo desse episódio é a medicina atual, que está tão munida de tanta tecnologia, que ela se afasta do doente, deixa de observar informações que seu corpo está fornecendo e se aproxima cada vez mais, da tecnologia dos laboratórios e das máquinas. E, se é bem verdade que por um lado ela afastou-se do misticismo e experimenta inegável sucesso nos campos diagnóstico e terapêutico, por outro lado tornou-se mais insensível e desumana.
A humanidade por milhares de anos procurou maneiras de combater as doenças e usou exatamente a sua capacidade de percepção, que era mais caro. A terapêutica era apenas uma consequência dessa aptidão em tentar e observar resultados que, mesmo duvidosos ou vitoriosos, perpetuou-se por gerações. Os antigos chineses obtinham sucesso terapêutico dessa forma, quando usado extrato de algas marinhas em casos de bócio tireoidiano; os africanos recomendavam o consumo de laranjas para o tratamento do escorbuto; e os brasilíndios descobriram um poderoso cicatrizante. 
Cada comunidade analisou e combateu as doenças de maneiras diferentes de acordo com suas crenças, costumes e organização social do grupo. Tomaremos como exemplos a epilepsia e os distúrbios alimentares, representados pela anorexia nervosa.
A epilepsia era reconhecida pela escola hipocrática como uma disfunção orgânica, portanto passível de ser tratada; mas na Mesopotâmia de 1067 a 1046 a.C., sua presença era atribuída à possessão pelos deuses da lua. Para os antigos faraós do Egito, era considerada sagrada, e séculos depois na Europa, profana.
Dentre a galeria de santos da Igreja Católica, a exemplo de Santa Catarina de Siena, ela teria iniciado a prática de jejuns na adolescência, alimentando-se apenas com pão e ervas cruas e recorrendo aos vômitos quando lhe forçavam a comer.Catarina surpreendia a todos com uma atividade diária intensa e incansável e, com isso, levantaram-se suspeitas de possessão demoníaca ou santidade.
 Diante desses exemplos, torna-se clara a impossibilidade de estudar as doenças e a medicina de uma comunidade sem conhecer seus hábitos, culturas e tradições. E com isso, a histografia médica descobriu que seu intuito não é relatar simplesmente sobre a medicina e doenças de um povo, mas analisar suas causas e consequências. 
Visões do paraíso
Gênesis
No Renascimento, após inúmeras tentativas frustradas, os Europeus resolveram atravessar os oceanos e acabaram por encontrar, acidentalmente, um continente. Suas descobertas não se limitaram a novas terras, mas diferentes paisagens, plantas e animais passaram a povoar o imaginário de além-mar. Contudo, o que mais os intrigou eram aqueles estranhos seres humanos em terras até então desconhecidas e civilizações em que a existência escapava do conhecimento humano da época.
Sobretudo a partir da década de 1960, tornou-se possível uma melhor análise de tecidos e de fezes que sofreram processo natural de ressecamento, o que causou o desenvolvimento da nova ciência. Outro fator descoberto consolidou a importância da paleoparasitologia: percebeu-se que, quando estudava o comportamento parasitário em seres humanos, obtinha-se também um marcador biológico às argumentações sobre imigrações populacionais.
Em sítios arqueológicos americanos, foram encontrados ovos de Enterobios vermiculares, Trichuris trichiura e de ancilostomídeos. Esses achados, logo de início, afastaram a crença de que parasitores intestinais eram insignificantes na pré-história do Novo Mundo. O estudo do comportamento dos parasitas descobertos constatou que eles tem parte de seu ciclo evolutivo no solo, sob condições especificas de calor e umidade, ou seja, as larvas precisam de tempo, terra, água e altas temperaturas para sobreviver, evoluir e infectar novos indivíduos. Assim, não seria possível que gerações de homens e mulheres que migravam centenas de milhares de quilômetros sob o frio intenso da Beríngea pudessem transmiti-las a seus descendentes. Essas descobertas foram interpretadas como importantes para aprovar a migração marítima direta, que era rápida o suficiente para levar populações infectadas a condições climáticas que podiam perpetuar o parasitismo. 
Entretanto, apesar das justificativas convincentes, nem toda a comunidade aceita as respostas da paleoparasitologia e, no campo da arqueologia, antropologia, linguística e biologia as pesquisas sobre as origens do homem americano geram debates acalorados. No Brasil estes fervilham desde o século XIX, quando o paleontólogo Peter W. Lund encontrou os primeiros vestígios do homem primitivo em Lagoa Santa.
Entre tantas controvérsias, um ponto em que todos concordam é que em algum momento houve mudança nas características físicas dos povos americanos primitivos. As causas do desaparecimento da população original não puderam ser apuradas, mas cogitam-se fatores diversos como uma elevada mortalidade entre crianças e adolescentes e uma baixa expectativa de vida nos adultos. 
Outro aspecto concordante em meio às polêmicas é a interrupção das migrações intercontinentais e ao isolamento vivenciado pelos povos americanos. Foram necessários milhares de anos para de Colombo, Cabral, entre outros, rompessem o cordão de isolamento que os oceanos Atlântico e Pacífico representavam para o continente. Esses navegantes fizeram isso ser um contexto histórico muito especial, sendo surpreendentes aventuras que, contudo, parece não terem sido inéditas.
Consequências biológicas do Isolamento Geográfico
Quando os europeus chegaram às Américas, encontraram povos como os incas, tupis-guaranis e astecas, que conviviam no continente em um interessante caldeirão cultural. A exemplo do frei José de Acosta, outros colonizadores observaram o aspecto físico daqueles habitantes e, de norte a sul, as descrições eram coincidentes. Essa foi uma das razões por que os povos receberam a denominação comum de índios, qualquer que fosse a cultura a qual pertencessem.
Algumas das verdadeiras tragédias demográficas causadas pela incapacidade de combater infecções ao seu meio entre os ameríndios, era a Imunidade transmitida, que quando se toma conhecimento desse mecanismo, consegue-se entender a deficiência imune dos nativos americanos, que, por milhares de anos, permaneceram isolados de outros povos do planeta e de seus micro-organismos.
Muitas respostas ainda estão por surgir a respeito dessa ineficiência imune. Contudo, um fator de enorme gravidade, que possivelmente selou essa incapacidade de resposta a infecções, foi a ausência de animais domésticos entre os nativos.
Na história da humanidade, o relacionamento do homem com esses animais originou a troca de micro-organismos e, consequentemente, uma maior exposição a agentes agressores. Nesses relacionamentos houve alterações comportamentais e mutações genéticas parasitarias que, ao longo de milhares de anos, criaram condições para o aparecimento de novas doenças específicas para cada espécie parasitada. Sendo assim, o intercambio entre cães e humanos e um vírus peculiar originou o surgimento, respectivamente, da peste bovina, da cinomose e do sarampo.
A falta de animais domésticos resultou, em termos de biodiversidade, em um menor estresse biológico para os nativos. No entanto, eles não deixaram de produzir respostas imunes voltadas a agressores de seu meio específico. Nos ianomâmis das tribos amazônicas, encontram-se elevados níveis de anticorpos contra macroparasitas próprios de seu ambiente, uma resposta imune desencadeada pela exposição prolongada a estes micro-organismos.
Além da ausência de animais domésticos, é possível que outro fator tenha contribuído para a ineficácia imune ameríndia: o seu isolamento geográfico. O relacionamento com povos de outros continentes esteve ausente por milhares de anos. Incapazes de desenvolver uma resposta imune, os indígenas ficaram à mercê da agressão em contato repentino com agentes infecciosos.
O tempo e a históriamostraram as trágicas consequências desses eventos.
Amazonas, juventude, eterna saúde.
A construção das ideias pioneiras sobre as Américas foi elaborada entre os limites do real e o imaginário, diante uma visão ilusória que influenciou historiadores, filósofos, físicos e romancistas até muitos séculos mais tarde. Ao final da Idade Média, os europeus viviam um período de grande turbulência cultural. Havia no ar uma nova atitude em relação ao mundo natural, uma valorização das observações criticas e da pesquisa. Nesse contexto, as grandes navegações ajudavam a derrubar mitos seculares e confundiam uma Europa, ao mesmo tempo empreendedora e vacilante.
A perspicácia e o espírito inovador de Colombo não foram suficientes para destituí-lo de antigas crenças que situavam o paraíso terrestre no Oriente.
O obstinado Colombo, que até a sua morte acreditou ter alcançado a Ásia, também “descobriu” uma ilha habitada por mulheres guerreiras que toleravam a presença masculina apenas para procriação. A clara referência à mitologia grega foi típica do Renascimento com sua exaltação da cultura Greco-romana. Nos confins da Flórida, Ponce de Leon procurou pela fonte da juventude até a sua morte, causada por uma flecha envenenada. E mais ao Sul, Carvajal encontrava novamente as guerreiras amazonas, que causavam fascínio e terror aos mais desbravadores.
Vida e morte brasilíndias
Os nativos brasileiros segundo os séculos XVI e XVII
Após semanas ao mar, a exausta esquadra de Cabral encontrou no Brasil um povo que Pero Vaz de Caminha descreveu com encantadora simplicidade.
Assim como ele, Jean de Léry criou em 1563 uma narrativa antológica, que contribuiu para uma fantasiosa impressão sobre a saúde nativa: 
‘‘... Os selvagens do Brasil, não são maiores nem mais gordos do que os europeus; são, porem, mais fortes, mais robustos, mais entroncados, mais bem-dispostos e menos sujeitos a moléstias, havendo entre eles muito pouco coxos, disformes, aleijados ou doentios. Apesar de chegarem muitos a 120 anos, poucos são os que na velhice têm os cabelos brancos ou grisalhos, o que demonstra não só o bom clima da terra, sem geadas nem frios excessivos que perturbem o verdejar permanente dos campos e da vegetação...’’
No imaginário mundo europeu dos primeiros anos após a descoberta do Novo Mundo, os indígenas eram guerreiros fortes e eternamente saudáveis.
A difícil vida simples
Os indígenas, nascidos em meio às matas, com usos e costumes completamente estranhos para os vindos de além-mar, tinham sua própria visão do “paraíso”, tão decantada pelos pioneiros europeus. Houve períodos de fome e de doenças, diferentes daquelas trazidas pelos europeus e africanos, mas com consequências igualmente indesejáveis.
Em alguns sítios arqueológicos brasileiros, como o da Furna do Estrago (Pernambuco), evidenciaram-se inflamações e degenerações ósseas em homens e mulheres, possivelmente causadas por vícios posturais ou movimentos repetitivos, próprios daqueles que exercem uma função por longos períodos de tempo, que são por toda vida. 
Apesar de existir uma agricultura variada, a produtividade agrícola era baixa em razão da falta de instrumental adequado. Mas havia uma raiz que não necessitava de nenhum cuidado especial para seu plantio e tornou-se a base alimentar essencial principalmente para os tupis: a mandioca.
A mandioca tem um alto teor de carboidratos, mas é pobre em proteínas, ferro e vitaminas, o que fazia dela um alimento importante, mas nutricionalmente incompleto quando usado de forma exclusiva. 
A existência de épocas de nutrição desbalanceada entre os indígenas foi comprovada em sítios arqueológicos brasileiros. Em fragmentos de esqueletos encontrados em Furna do Estrago e no Sambaqui de Cabeçuda, observaram-se alterações estruturais ósseas sugestivas de desnutrição no período de crescimento de crianças e adolescentes, além de cáries dentárias secundárias à alimentação rica em carboidratos, possivelmente a própria mandioca.
A aparente facilidade do cultivo dessa raiz envolvia problemas e os indígenas precisaram desvendar os segredos das diferentes espécies. A mandioca brava, ao contrário da doce, é rica em substâncias tóxicas conhecidas como glicosídeos cianogênicos, que causam alterações neurológicas, como, por exemplo, a espasticidade muscular. Outra consequência da ingestão de glicosídeos é a dificuldade de captação de iodo pela tireoide, componente necessário para a produção hormonal do órgão. A glândula aumenta de tamanho (bócio) e em casos mais graves surgem sintomas como aumento de peso, lentidão, sono e sudorese excessivos, devidos à diminuição funcional tireoidiana ou hipotireoidismo.
No Brasil, descrições de bócio tireoidiano começam a aparecer nas narrativas apenas no século XVII, observado entre a população do interior brasileiro, e é pouco provável que ele fosse notado com frequência entre tribos nativas litorâneas, áreas conhecidas pela riqueza de iodo no solo.
Onças, ritos e morte
A prática da antropofagia descrita por Hans Staden, não era propriamente uma novidade para os europeus. Qualquer que fosse a palavra usada por milênios, a expressão, permanece como a mais apropriada para o ato de comer carne humana. O outro termo, canibalismo também passou a significar o ato de consumir indivíduos da própria espécie. 
O ódio indígena, entretanto, não visava qualquer adversário. Da mesma forma que caçavam apenas animais robustos, espertos ou ágeis, os vencedores escolhiam entre os prisioneiros capturados aqueles que tivessem mostrado excepcional valentia durante sangrentas batalhas, em suas muitas guerras intertribais. Ao devorá-los, os nativos acreditavam incorporar as qualidades de suas vitimas, tornando-se, assim, mais fortes, lépidos e destemidos.
Um dos problemas que envolviam esse ritual era a possibilidade da transmissão de enfermidades, quando a carne humana era consumida crua ou mal-cozida.
Não há notícias de nenhum mal desse gênero entre os brasilíndios. Contudo, alguns protozoários também poderiam ser transmitidos por essa forma bizarra, incluindo os do gênero Trypanosoma, em especial o causador da doença de Chagas.
Parasitores brasilíndias
Por milhares de anos, a história do homem e suas tentativas de sobrevivência confundem-se com as guerras, a fome e as doenças. Para desvendar o mistério das moléstias que afligiam os índios, foi necessário apelar, além de testemunhos europeus pioneiros, para a arqueologia e ciências correlatas.
A ciência da paleoparasitologia encontrou em remanescentes arqueológicos uma grande variedade de macro e micro-organismos que poderiam ter sido nocivos à saúde das populações pré-coloniais.
Várias espécies de ácaros foram identificadas, como a Hymenolepisnana (tênia transmitida pela água, alimentos ou mãos sujas de fezes contaminadas, que pode causar diarreia e dores abdominais, além de perda de peso e debilidade), Giardia duodenalis e Entamoeba sp. Por outro lado, raramente foram achados Ascaris lumbricoides, conhecidos como “lombriga”, parasitose mais frequente entre a população indígena atual.
Outros parasitas encontrados nos sítios brasileiros são o Enterobius vermiculares, Trichuris trichiura e Ancylostoma duodenale. A enterobíase, é exclusivamente humana e a contaminação, facilitada em aglomerações populacionais de higiene precária, ocorre por ingestão de alimentos ou inalação de pó infectado.
O simples encontro desses parasitas nos sítios arqueológicos não implica obrigatoriamente que tenha havido o aparecimento de doenças. Eles poderiam conviver com seres humanos durante anos, enquanto as condições ambientais e socioculturais do grupo o permitissem.
Portanto, as parasitoses intestinais pré-coloniais, não foram as únicas possíveis responsáveis por doenças entre a população indígena, outros males marcaram os despojos daqueles que viveram e morreram em um passado distante, mas não por ISS totalmente inatingível.
Ossos e doenças do passado – A tuberculose nas Américas
Através da paleopatologia, é possível fazer a análise dos últimos tecidos ase decomporem (dentes e ossos), ainda que haja a barreira climática e o solo desfavorável à preservação de corpos. Com o a achado do osso de um urso extinto e a capacidade de descrever a lesão que possuía estudiosos da área de arqueologia, paleontologia e antropologia decidiram que, apesar das limitações, era possível estudar antigas causas do sofrimento humano.
Há dificuldade até mesmo para os profissionais experientes na interpretação das reações que os ossos apresentam à lesão, destruição e regeneração, visto que podem estar em variadas condições patológicas. Um exemplo é o mesmo padrão de lesão na “gota das cavernas” nos ursos, e sífilis nos índios pré-colombianos. Devido a essa dificuldade, os diagnósticos da paleopatologia ficam dependentes da interpretação de outros fatores, como os socioculturais.
Uma das doenças que mais gerou polêmica foi a tuberculose, principalmente óssea, nas populações pré-colombianas. Na forma óssea, há 50% de chances de ocorrer na coluna, e pode resultar na perda de um corpo vertebral. Essa perda causa o colapso nas estruturas vertebrais anteriores e, consequentemente, um desvio na coluna, que forma uma cifose. Os sintomas neurológicos são determinados pela destruição óssea e/ou formação de abcessos frios, e como consequência levam a compressão e inflamação medular ou das raízes nervosas. Populações do passado, inclusive egípcias, enquadraram-se nessa descrição. É possível que a tuberculose óssea fosse mais observada no passado por preceder a antibioticoterapia.
Antigamente, conhecida como tísica ou, popularmente, “mal do peito”, a hipótese mais aceita do surgimento da doença é o contato com auroques – bois selvages extintos – contaminados com uma bactéria, e foi se disseminando com as correntes migratórias humanas.
A transmissibilidade da tísica só foi evidenciada no século XIX, por Vellemin, que inoculou em animais de laboratório material de pessoas doentes. Antes, não se questionava os textos clássicos, por isso a hipótese aceita era a de Hipócrates, que um tísico nascia de outro igualmente enfermo. Igualmente, os conhecimentos eram limitados e rudimentares, e se confundiam com outras doenças como bronquite e câncer pulmonar. 
No Peru, Venezuela e Chile, achados arqueológicos bem preservados permitiram o diagnóstico da tuberculose, inclusive, na forma disseminada. Contudo, acredita-se que a doença e o agente causal teriam comportamentos diferentes aos observados depois da colonização europeia, defendido por Clark e colaboradores. Esses autores consideram que a tuberculose americana original tenha vindo de uma microbactéria (possivelmente a dos auroques) menos virulenta que a trazida pelos europeus. Considerando-se essa hipótese, os animais podem ter servido como reservatórios, como búfalos, cães e lhamas.
No Brasil pré-Cabral não foram encontrados sinais de presença da tísica, porém não pode-se afirmar com certeza que nunca existiu, devido a já citada má preservação dos tecidos. Atualmente, essa hipótese é reforçada por não terem sido encontradas formas do bacilo nos indígenas não aculturados. Os que tiveram contato com a “civilização”, porém, têm índices de tuberculose muito mais altos que a população brasileira em geral – chegando a vinte vezes maiores. Essa disparidade é explicada pela resposta imune deficiente e prova de que a antibioticoterapia é importante, porém não o suficiente para o controle de uma infecção.
O estudo da tuberculose nas populações do passado não se limita a observação de lesões ósseas. Tem sido feito através de uma técnica surgida no final do século XX: a PCR (reação em cadeia polimerase), que é um método auxiliar na confirmação do diagnóstico pela paleopatologia. A técnica permite a ampliação in vitro de regiões específicas de DNA e, assim, um grande potencial de diagnósticos de várias moléstias do passado. 
A doença de Chagas
A doença de Chagas também foi diagnosticada pela PCR. É uma parasitose causadora de cardiopatia e distúrbios digestivos incapacitantes, cujos aspectos fisiopatológicos ainda geram polêmica. É originalmente restrita a animais, e surgiu com a interferência humana no ciclo parasitário. Os insetos hematófagos (“barbeiros” no popular) são os principais transmissores, carregando no sistema digestivo o protozoário Trypanosoma cruzi que causa a doença de Chagas. 
Do início da colonização brasileira não se tem registros desses vetores, os índios possuíam um designativo genérico para besouros e similares e os colonizadores não se interessaram por insetos sem valor comercial. No restante das Américas, o registro mais antigo é do padre Reginaldo Lizarraga (1590), quando passava por Tucumán (Argentina). É possível que ele estivesse descrevendo o Triatoma infestans, que é o de maior importância epidemiológica pois não vive sem o elemento humano. Acredita-se que ele tenha sido introduzido no Brasil procedente da região andina, quando a mata nativa do interior foi derrubada para a abertura de campos de agricultura de café e cana de açúcar, e, consequentemente, facilitou a invasão.
Durante o período pré-colonial, ainda que não houvesse o vetor principal, havia outras espécies nativas dos hematófagos, como o Triatoma brasiliensis. A característica básica é a mesma: invasão do dominícilio e a procurar de vãos na casa onde possam se esconder e, a noite, atacar as vítimas. Além da contaminação vetorial, também houve a contaminação oral, que se dava pelo consumo de alimentos semicrus entre as populações indígenas. Esse hábito era semelhante em toda a América.
Evidências da tripanossomíase americana foram encontradas nos EUA e no Brasil. Em Minas Gerais e no Piauí foram encontrados vestígios da doença, e feitas ampliações in vitro através da PCR foi possível detectar manifestações secundárias à parasitose em um maior contingente de indivíduos. Foi também a prova final de que existiu a doença de Chagas entre os indígenas.
É pouco provável que a doença no período pré-colonial tenha tido a mesma característica 
epidemiológica que adquiriu no século XIX. A intervenção indígena no ambiente foi muito menor do que a das populações “civilizadas”. Além disso, a inserção do parasita no Brasil é dita recente, comparando-se às populações chilenas, que apresentam quadros clínicos menos graves e o parasita habita a região desde sua antiguidade. A situação de equilíbrio entre parasitas, seres humanos e doença pode ser observada no caso da leishmaniose, que permanece viva e na região amazônica há uma maior adaptação por quantidade de exposição. 
A doença dos narizes
A leishmaniose é causada por diferentes espécies de protozoários – leishmanias –, a mais importante epidemiologicamente é a leishmaniose tegumentar americana (LTA). Ela é facilmente identificável através de narrativas histórias, cujo aspecto comum é a característica de desabamento nasal nas vítimas. A moléstia, apesar da aparente antiguidade na população antiga, obteve mais relevância com a dispersão dos migrantes nordestinos durante o ciclo da borracha na Amazônia.
A maior comprovação da presença da LTA na antiguidade americana é por peças de cerâmica da era pré-colombiana em que pessoas possuem deformações faciais, o que sugere a presença da moléstia no império Inca. O primeiro relato publicado sobre a manifestação clínica mais notável é de Pedro Pizarro, baseada nas campanhas militares em 1531 a 1555. Batizou a doença como “doença dos narizes” e detectou sua alta incidência na região oriental do Peru, próxima à Amazônia. A teoria da origem andina da leishmaniose é a que mais se destaca, porém há estudos baseados em epidemiologia e distribuição geografia em ecossistemas diversos que sugerem que a doença tenha surgido na Amazônia ocidental, principalmente ao sul do rio Marañon/Solimões/Amazonas. Essa teoria tem respaldo na análise do parasita na região amazônica e fora dela, possivelmente levada por migrações humanas sazonais.
A leishmaniose entre os indígenas possivelmente não apareceu em relatos antes por sua capacidade, adquirida durante os séculosde contato com o parasita no ambiente, de se defender contra ela. Em geral, os casos são subclínicos e há a cura espontânea. Dessa forma, a leishmaniose esteve presente muito antes da primeira descrição no Brasil, quando o frade som Hipólito de Fayas y Quiros navegou pelo Solimões/Amazônas, em 1827, até o Pará.
Pajés, sopros, fumigações: A medicina brasilíndia
Todas as sociedades humanas buscaram métodos para enfrentar enfermidades. Ao ver as consequências de acidentes, injúrias e ferimentos de guerra, o homem procurou formas de evita-las e curá-las. Tomaram sua existência como ação de espíritos ou divindades, unindo fenômenos naturais a espirituais. Eram “um conjunto de processos mágicos” (Fielding Garrison) a fim de evitar a ira divina, e aperfeiçoar a vivência humana, pedindo a fertilidade, chuva, e a cura para enfermidades e sofrimentos causados por elas. 
Essas características se encaixam na cultura brasilíndia encontrada por Cabral. Os pajés, responsáveis pela saúde, usavam sonhos, bebidas mágicas e comunicava-se com os espíritos para livrar os doentes de suas enfermidades. O aprendizado do pajé era junto com o mestre, quem lhe transmitia os conhecimentos. Ele passava por rituais de iniciação, que incluíam longos jejuns e a bebida de poções secretas, e se considerado apto passava a gozar dos privilégios da tribo. 
Na prática, o pajé iniciava com as mesmas ferramentas de um médico moderno: perguntava sobre hábitos urinários, intestinais, higiene, onde estivera. Havia, evidentemente, os rituais para o sobrenatural, mas para os sobrenaturais, mas o pajé usava igualmente de métodos terrenos. Substâncias consideradas revigorantes como sangue humano ou de animais eram utilizadas, assim como saliva para cicatrização, gorduras de onça, cabeça e cauda de ofídios, etc. A sangria era para fins preventivos e afecções gerais ou localizadas. Dores de dente eram resolvidas com a extração, assim como no resto do mundo. Contudo, existiam outros métodos menos agressivos, que utilizavam calor – importante para os brasilíndios na cura. Importante na cura também era a fumigação, ou seja, o pajé, nesse processo, soprava o paciente para lhe transmitir sua força mágica.
Além das feridas de guerra e picadas de animais, havia uma doença muito comum entre os indígenas: o pian. A doença era atingia principalmente crianças e pré-adolescentes, era causada por bactéria, uma treponematose não venérea conhecida por framboesia ou bouba. Possuía a semelhança com as lesões cutâneas da sífilis, que confundiu os antigos cronistas.
Outro problema comum era a tungíase, ou o “bicho-do-pé”. Era causada pela penetração de uma pulga na pele – Tunga penetrans – e foi uma das poucas parasitoses que se espalhou das Américas para a África. A tungíase configurou-se em problema maior para os colonos que para os índios, que encontravam pulgas ocasionalmente em redes de dormir sujas.
Terçãs, quartãs e os indígenas
A malária se originou possivelmente da África, acompanhando o homem através de sua migração pelo globo desde os primórdios das civilizações, como registrado em escrituras vedas na Índia e escrito na China, e foi sempre atribuída a maus espíritos e punições divinas. Hipócrates, no século V a.C começou a descrever seu quadro clínico, relacionando as febres que apareciam a cada 2 (terçã) ou 3 (quartã) dias, às estações do ano e a locais frequentados por doentes (sobretudo regiões pantanosas). Depois disso, a malária fez parte da narrativa médica principalmente na Grécia, Itália e Partes da Europa.
Nenhum achado terapêutico foi encontrado até o século XVII quando a Europa conheceu uma árvore originária das Américas para o controle das febres – a quina – que influenciou no prognóstico da doença e em toda a terapêutica médica ocidental. 
O termo malária provavelmente foi criado no século XVIII originado da crença de que a doença era causada pelos ares pestilentos dos pântanos, de modo que também é conhecida como maleita, paludismo, febre terçã ou quartã – as últimas se referindo ao ciclo de aparecimento da febre.
É possível que a malária tenha sido trazida em migrações transoceânica pré-históricas, e tenha sido causada por outras formas mais brandas da bactéria. Até hoje as populações ribeirinhas isoladas na Amazônia possuem quadros assintomáticos ou muito amenos, o que mostra que a malária e o homem podem coexistir de forma suportável. A febre terçã maligna, que é a real causadora das mortes por malária, teria sido trazido da África através do tráfico negreiro, e no Brasil encontraram um ambiente propício para disseminação, causando diversas tragédias na população colonial e nos grupamentos indígenas que tiveram algum contato com a população “civilizada”. Os indígenas se jogavam na água para diminuir a febre, e os pajés, por sua vez, utilizavam a flora nativa para amenizar o incômodo.
A sabedoria das selvas
O homem primitivo, ao mudar seu estilo de vida de coletor para caçador, precisou arcar com novos desafios de sobrevivência. Precisou atingir um estágio cultural que acompanhasse o seu biológico, que pudesse somar seu consciente ao instinto animal. Assim, aprendeu a reconhecer plantas benéficas e nocivas. Transmitido de geração para geração, caracterizou a prática médica primitiva.
 Esses conhecimentos, provavelmente jamais chegariam aos dias atuais se não fossem os relatos de aventureiros e colonizadores. Apesar de algumas divergências particulares, há uma unanimidade na admiração pelos vegetais usados para fins medicinais. Nem todos se mantiveram inalterados ao longo do tempo, bons exemplos são o guaraná que era prescrito para combate às disenterias, e o maracujá para febre. 
O hiyuaré foi descrito por Jean de Léry como empregado no combate ao pian. Mencionou também o petyn (tabaco) que podia mitigar a fome em períodos de fome e escassez alimentar. Para o bicho-do-pé, utilizavam o óleo de uma fruta chamada hobourouhu para a cura das lesões, como atestado por Thevet. No entanto, a obra Tratado descritivo do Brasil de 1587, de Gabriel Soares de Souza, que se revelou um manual de terapêutica indígena. Recomendava o uso de vários elementos da fauna e da flora indígena para não só a cura, como também para a manutenção da saúde. 
Frei Vicente do Salvador fez uma ampla descrição da vegetação brasileira, mantendo alguns nomes originais indígenas e rebatizando alguns outros em português. Indicava algumas espécies como a erva fedeosa, o andar e a salsaparrilha no combate a uma grande variedade de doenças. No entanto, ainda com todas essas plantas medicinais, a que mais interessou aos europeus foi a ipecacuanha, que era usada como purgativo e antídoto para qualquer veneno. A lenda transmitida por inúmeras gerações de índios era capaz de fornecer informações imprescindíveis aos que cuidavam da saúde da tribo, e contavam que tinha sido ensinada pela irara, que se alimentava das raízes e folhas da ipecacuanha sempre que tivesse bebido alguma água impura. 
A ipecacuanha foi uma das primeiras plantas a ser submetida a um estudo científico. A obra História Naturais Brasiliae foi um marco da investigação médica do Brasil, com as informações colhidas da população local, sendo testadas em soldados e, assim, muito elogiadas. 
Atualmente, as propriedades curativas da ipecacuanha são de grande valor farmacológico e utilizadas em anti inflamatório, expectorantes e amebicidas. No entanto, a planta se encontra em extinção devido ao grande processo extrativo no século XX devido a essas propriedades terapêuticas, compartilhando do mesmo destino dos índios que encontram-se acuados no território que antes dominavam.
Navegações e grandes descobertas – Novas terras, velhas doenças
Portugal na era das Grandes Navegações
A disputa pelas antigas rotas comerciais árabes impulsionara os países ibéricos a desenvolverem a indústria de navegação, e assim cruzaram os oceanos e mudaram os rumos da História.
O sucesso das grandes navegações não se deu apenas com o aprimoramente naval. Os portugueses eram beneficiados por uma posiçãogeografia que favorecia a existência de portos e contato com as tecnologias mediterrâneas Centralizado, Portugal virou uma das principais potências marítimas do Renascimento. 
Os objetivos de Portugal eram mais do que a ideia romântica de descobrir novos povos e paisagens. Era a busca de ouro, escravos, a expansão da fé cristã e atingir as Índias. A agricultura no reino português era escassa, pois as férteis terras eram, em geral, usadas para pastagens ou reservas de caça para a fidalguia. Sem mudanças importantes durantes as sucessões de reinado, o clero permaneceu com 95% das terras portuguesas.
O êxodo rural causado pela ausência de investimento na política agrícola era comum. Más colheiras ou epidemias avassaladoras eram as principais causas, comuns na Europa da época. Um português do século XIV ao XVIII vivia aproximadamente três décadas, e metade das crianças morriam antes de completar sete anos. Até 1750, uma em cada duas crianças morriam antes dos quinze anos. Somente no final do século o coeficiente de natalidade superou o de mortalidade.
Milhares se alistavam em Lisboa para as aventuras transoceânicas, buscando o fim de sua miséria. Nas embarcações, porém, havia um preço alto a se pagar: as doenças infectocontagiosas. Atravessavam oceanos e encontravam em Lisboa fome, desnutrição e uma alarmante falta de saneamento básico. A situação precária das cidades continuou durante as grandes navegações, e aqueles que não embarcavam já com saúde debilitada, poderiam facilmente morrer nas cidades. A riqueza imaginada alcançava muito poucos. 
 
Pimenta, cravo, canela e a medicina
As especiarias tiveram papel principal nos séculos XIV, XV e XVI. Já eram utilizadas na Antiguidade, mas nunca da mesma forma como nesses séculos. Foram graças as especiarias que o comércio se movimentou, e houve uma corrida em busca dos países produtores, trazendo assim a conquista dos mares.
As especiarias eram sinônimas de ascenção social. Nas cozinhas mais refinadas encontravam-se os mais diversos tipos, como pimenta, gengibre e cominho. Não eram agentes conservantes, este papel era designado pelo sal, óleo ou vinagre.
No entanto, a principal causa do uso exacerbado de especiarias não era o uso culinário, e sim o médico. Após as cruzadas diversos textos médicos orientais traziam as especiarias como indicativos terapêuticos, como a pimenta-do-reino para fazer urinar e dissipar os gases.
A relação entre preparo dos alimentos e o uso de condimentos era uma relação de equilíbrio. As especiarias, vindas de regiões orientais eram consideradas quentes e, em sua maioria, secas, o que contrabalancearia a eventual frieza e umidade do alimento e, assim, ajudaria na cocção. O produto final seria assimilado pelo organismo, auxiliando-o a estabilizar-se.
Esse princípio de equilíbrio, principal na terapêutica árabe, apareceu na medicina galênica ocidental. Em um mesmo indivíduo haviam quatro humores e suas respectivas propriedades, do equilíbrio e proporção correta desses alimentos, haveria a saúde, e o desequilíbrio haveria a doença. O método diagnóstico desenvolvido por Galeno incluía análise da personalidade do indivíduo, a fim de detectar o desbalanceamento entre os humores e após isso instituir o tratamento adequado. Era baseada na contenção ou excesso ou falta de humores, o que é explicado pela comum alimentação excêntrica e diversas sangrias que, na prática, eram pouco efetivos.
Esses resultados práticos foram obtidos pela medicina muitos séculos depois, o que foi sentido fortemente pelas milhares de vítimas de doenças que infestavam a Europa com frequência assustadora e epidemias que deixavam apenas destruição e morte.
Pestes e a depopulação portuguesa
A peste é, sem nenhuma dúvida, entre todas as calamidades desta vida, a mais cruel e verdadeiramente a mais atroz. Elas despertam o caos na sociedade, independente de seu tempo. Se violentas, diminuíam drasticamente a população; se brandas, reduziam-na de maneira discreta, porém frequente. Portanto, pestes eram doenças provocavam mortalidade em um grande número de pessoas, ao mesmo.
A peste bubônica foi uma moléstia intimamente ligada às atividades marítimas, aos navios e ratos, causou epidemias que em assoladoras ondas assombraram toda a Idade Média e o Renascimento, matando até 50 milhões de pessoas.
Apesar de tamanha mortandade não ter se repetido, surtos de peste bubônica ainda puderam ser observados em todo o continente durante o século XVI devido as Grandes Navegações. Portugal foi o país que mais sofreu com a peste e foi necessário – mesmo que em vão – que o rei Dom Sebastião (1554-1578) investisse na construção de dois hospitais para abrigar os pestosos e dois de recolhimento para órfãs e crianças abandonadas.
Várias doenças ocorriam nessa época devido ao aumento do fluxo de pessoas e mercadorias através das novas rotas comerciais. Dentre essas doenças podemos destacar a “doença das pintas” (não se sabe se é sarampo, tifo ou exantemático), disenterias, varíola, “mal da modorra” (ou modorrilha), sífilis e lues.
As proporções epidêmicas da sífilis no período fizeram com que surgissem hospitais ou alas especialmente construídas para esses doentes, tal como acontecera séculos antes com hanseníase.
Se as condições de saúde da população em terra deixavam muito a desejar, no mar, onde os marujos permaneciam confinados em condições precárias, doenças das mais variadas – em especial infecciosas – eram as principais protagonistas das cada vez mais externas e exaustivas jornadas.
Por mares nunca d’antes navegados
Os avanços tecnológicos como o uso de bussola, astrolábio e o conhecimento das estrelas, possibilitaram as navegações transoceânicas, mas velhos problemas persistiam como as precárias condições viagem, devido a falta de saneamento e péssima estocagem de alimentos. Armazenada em tonéis de madeira, a água apodrecia e transformava-se em perigosa fonte de distúrbios digestivos. As embarcações da época dependiam dos ventos, as inevitáveis calmarias prolongavam sua estada em alto mar, tornando indispensável à restrição de água.
A impossibilidade de os viajantes se lavarem e o uso de uma mesma vestimenta durante toda a viagem crivam situações altamente propicias ao aparecimento de ectoparasitoses, verdadeiras pragas de piolhos, percevejos e pulgas. Pratos, copos e talheres (quando existentes) passavam de mão em mão sem serem lavados. As necessidades fisiológicas eram feitas nas bordas dos navios de modo que os dejetos caíssem diretamente nas águas do mar; somente os membros mais graduados e abastados da tripulação usavam bacias cujo conteúdo era lançado ao oceano pelos criados.
Armazenados em porões úmidos, alem de água, biscoitos e mel, os alimentos consistiam em carne e peixe secos e salgados, cebolas, lentilhas, banha, azeite e vinagre; galinhas vivas e, eventualmente, porcos, cabras e carneiros.
Quase sempre estes mantimentos eram insuficientes, seja pelo embarque de menor quantidade dos alimentos, ou por maior consumo causado por aumento do tempo de viagem devido a falta de ventos. Em casos de extrema necessidade, recorria-se aos ratos que corriam pelas embarcações, cozidos em água do mar, ou qualquer indumentária de couro que pudesse ser transformada em alimento para mitigar a fome.
Nos dramáticos versos de Luis de Camões, descreve-se o suplicio daqueles homens acometidos pelo impiedoso escorbuto. Hoje se reconhece como causa do escorbuto a ingestão insuficiente de vitamina C. A vitamina C (acido ascórbico) não é sintetizada pelo organismo humano, mas está presente em carnes (rim e fígado), peixes, leite e principalmente em frutas e vegetais frescos.
Além do escorbuto, as causas mais frequentes de morbidade e óbito a bordo foram febres de origens diversas e distúrbios digestivos. Fungos, bactérias, vírus e protozoários, toda a sorte de parasitas encontrou nas embarcações meios propícios de disseminação: varíola, sarampo, difteria, escarlatina, caxumba, coqueluche, tétano e tuberculose. Muitas vezes os tripulantes já estavam adoentados ao embarcar,e as péssimas condições nos navios em tudo favoreciam o aparecimento, propagação ou piora das moléstias. 
Diante das condições tão insalubres, eventualmente violentas epidemias a bordo podiam causar a morte de toda tripulação; possivelmente é essa a origem das lendas de navios fantasmas... Sem rumo, sem direção, sem uma alma viva que os conduzisse ou tentasse curar.
Práticas médicas a bordo e em terra firme
Medicina e Cirurgia eram, então, consideradas distintas, a primeira ligada fundamentalmente ao intelecto, ao raciocínio clínico e a filosofia; e a segunda, aos desprezados ofícios manuais. 
Se os médicos exerciam essencialmente a clinica, cabia aos cirurgiões (também denominados cirurgiões-barbeiros) praticar toda a cirurgia, que incluía amputações, desarticulações, redução de luxações, ligamento de artérias, além de lancetar abscessos e tumorações. 
Ao barbeiro competia aplicar ventosas, arrancar dentes e eventualmente sangrar, consoante indicação formal de um físico (como então eram chamados os médicos) ou cirurgião. Em contrapartida, o sangrador, que seria hoje considerado o detentor de uma subespecialidade, como seu próprio nome diz, estaria apto apenas a exercer a sangria, terapêutica milenar então muito utilizada.
Os boticários (atuais farmacêuticos) tem sua historia ligada as especiarias e seus supostos efeitos medicinais. Originalmente, os boticários teriam surgido em Portugal através do trabalho dos especieiros, vendedores ambulantes de drogas e especiarias. A transição entre especieiros e boticários em meados do século XIII parece corresponder ao aparecimento de um ligar fixo para a venda de medicamentos. Aos boticários cabia essencialmente a aquisição, preparação e venda de medicamentos indicados pelos físicos.
Não obstante, as atribuições dos médicos, cirurgiões, barbeiros e boticários estarem definidas por lei, na pratica, em um momento de necessidade, os cuidados eram entregues a quem estivesse presente e que tivesse algum conhecimento, mesmo que precário. Assim, não raro um barbeiro realizava procedimentos cirúrgicos mais complexos como uma amputação, ou boticários faziam consultas, purgas e sangrias sob sua própria supervisão. Além disso, uma multidão de curiosos, feiticeiras, mezinheiros (leigos que formulavam e preparavam remédios medicinais) formou-se à margem do controle governamental e detinha o poder de praticar medicina, em especial nas vilas e cidades mais distantes. Ali, médicos e cirurgiões eram raros e, quando presentes, na maioria das vezes o pagamento pelos serviços não estavam ao alcance da população carente. E se essas situações eram vividas com frequência em terra, no mar os problemas aumentavam exponencialmente.
Todas as práticas médicas, clínicas ou cirúrgicas, ministradas por quem que fosse, eram limitadas pelas restrições impostas pelo status da medicina da época: a ausência de especificidade no diagnostico ou tratamento da doença; o desconhecimento dos processos fisiopatológicos da carência alimentar, da infecção e do contagio; e a impossibilidade de controlar, nos atos cirúrgicos, o sangramento catastrófico e a dor intolerável.
A medicina no tempo das caravelas
A medicina das caravelas derivava diretamente daquela praticada na Idade Media, época em que esteve presa à influencia das obras greco-romanas clássicas.
Durante os séculos de sua inconstante influência, as teorias clássicas não resistiram as pressões da época e sofreram o acréscimos de doses enormes de misticismo.
No Renascimento houve uma retomada das obras clássicas originais, um resgate vindo do oriente. Todavia, o sobrenatural – tão presente na Idade Media – não desapareceu, mas revitalizou-se; e a medicina manteve-se em um caldeirão esotérico, com embasamento filosófico. Assim, como reflexo da época anterior, durante as navegações e nos anos subsequentes, as medicinas erudita e popular, em termos práticos, nunca esteve mais próxima, já que o empirismo aliado a meras crendices era igualmente empregado por ambas.
A despeito dessas crendices, alguns processos na medicina doram notáveis, principalmente no campo da anatomia e fisiologia. Coube à Igreja, em especial a Inquisição, a proibição do ensino de inovações alcançadas em alguns estados europeus. Portugal é um triste exemplo desse controle.
Apesar de divulgações sobre novas praticas ou técnicas estarem liberadas em países da europa livres do julgo da Igreja Catolica, o fator tempo exerceu seu infinito controle sobre resultados práticos da medicina.
Essa foi a medicina aplicada na europa por séculos: arcaica, ignorante dos princípios cruciais sobre os processos orgânicos da saúde e doença, além dos farmacológicos. Simbolica, valia-se da força supostamente transmitida por animais como o cavalo, ou que transmitiam a ideia de espiritualidade como as pombas.
O encontro de dois mundos
O que Pero Vaz de Caminha não relatou
O escrivão impressionara-se com o aspecto saudável indígena. Caminha não enfatizou o contraste entre eles e a maioria daqueles pobres marujos que já em Portugal sofriam as consequências de ma nutrição crônica, piorada pelas condições vividas a bordo das naus e caravelas; mas registrou a fuga de dois grumetes, que preferiram permanecer em uma terra desconhecida a voltar a bordo, possivelmente fugindo de uma vida miserável que bem conheciam.
Pindorama ferida
Os efeitos do contato entre europeus e brasilíndios não foram sentidos de imediato, pois o intercambio entre eles permaneceu, por muito tempo, ocasional. Não obstante haverem encontrado novas terras a serem exploradas, por mais de trinta anos após o descobrimento, os portugueses consideraram desnecessário fundar nelas povoações de importância. Diante da impossibilidade da exploração rápida de grandes riquezas minerais, os colonizadores encontraram vantagens econômicas na extração de uma arvore então abundantemente encontrada no litoral: o pau-brasil. Dela extraia-se um corante vermelho, cor bastante apreciada nas cortes europeias, e por isso de uma importância para tinturaria da época. A madeira era utilizada na confecção de moveis, pisos, instrumentos musicais, esculturas e ate para um suposto uso medicinal: em períodos de epidemias, era uma das plantas queimadas nas encruzilhadas das povoações coloniais que surgiram no decorrer dos anos.
Durante os primeiros anos após o descobrimento, extraiu-se o pau-brasil em tamanhas proporções que, já em 1607, durante o período de unificação das coroas ibéricas, os espanhóis criaram a função de guarda florestal. O objetivo era evitar a derrubada desenfreada e consequente extinção das arvores, assim como – principalmente – proteger seu monopólio.
Com a experiência adquirida em suas ilhas atlânticas, os portugueses decidiram cultivar cana-de-açúcar ao longo do litoral brasileiro, na esperança de consolidar seus domínios e atrair investimentos. A geração de riquezas pelo ouro verde era uma aposta que se mostrou acertada em razão de uma mudança recente de costumes e usos da planta.
Para os portugueses, as Américas ofereciam uma vantagem primordial em relação as suas colônias africanas e asiáticas: a salubridade.
Os indígenas que habitavam próximo a terras férteis e propicias para o plantio da cana-de-açúcar foram a primeira e obvia escolha para a escravização. Nem a paz selada com os portugueses nem as lutas empreendidas contra os menos salvariam os nativos de seu destino.
Nunca houve uma tentativa coordenada de expulsar os colonizadores de suas terras. Para tal, a premissa indispensável seria a união das tribos. Contudo, sua estrutura social impedia a união e a resistência comum frente aos colonizadores europeus.
Deus e a muralha dos sertões 
A escravidão indígena era limitada por leis para que eles protegessem a costa do país e os transformou em guerreiros a serviço da Coroa.
Durante os primeiros anos de colonização, foram enviados as terras brasileiras religiosos pertencentes ao clero regular, franciscanos, carmelitas e beneditinos. Contudo, após a implementação do Governo Geral em 1549, vieram com Toméde Souza aqueles que se tornaram os maiores responsáveis pela cristianização indígena, pela educação dos filhos dos colonos e pelos cuidados dos doentes. Eram os jesuítas, que acompanharam a maquina do governo português e que poucos anos antes haviam vinculado suas funções a serviço do Papa e dos estados católicos de Portugal e Espanha.
Enviados para as longínquas terras nas Américas, os jesuítas precisaram conciliar a missão evangelizadora coma sua sobrevivência e, muito precocemente, perceberam que o sucesso da missão dependia de um convívio mais intimo com os indígenas, assim como de seu sustento. Sob supervisão da Companhia de Jesus surgiram os aldeamentos que, sempre próximos a um núcleo urbano, eram constituídos por índios recrutados pelos missionários ou seus representantes – voluntariamente ou através da forca -, em processo que ficou conhecido como descimento. 
Para a catequização, os jesuítas encenavam peças religiosas e batizavam grandes levas de índios, explorando habilmente seu encantamento com os cultos da Igreja Católica, sobretudo com a música.
Se por um lado tentavam proteger e agradar os nativos, por outro os jesuítas os subjulgavam com a força da fé. Castigos corporais, a indução ao terror brasilíndio frente ao juízo final, assim como a arregimentação de crianças, eram praticas usadas sem um crivo aparente.
Médicos de alma e de corpos
 
Por quem os sinos dobraram
A varíola provavelmente originária da Índia chegou a Europa durante a Idade Média trazida pelos sarracenos, se espalhando por diversos países da África e Ásia, até então sendo desconhecida nas Américas.
O nome “varíola” vem do latim varius, indicativo de doença com lesões pontuais na pele, popularmente denominadas “bexigas”. As manifestações clínicas eram toxemia e exantema. A primeira iniciava-se bruscamente e manifestava-se por febre, dor de cabeça, dores pelo corpo e mal estar geral. Já o exantema segue um ciclo evolutivo de lesões denominadas de mácula, pápula, vesícula, pústula, crosta 2e cicatriz e muitas vezes eram confundidas com a varicela, que apresentava as mesmas lesões simultaneamente. Sua forma de contágio ocorria por meio de saliva ou secreções respiratórias.
Também poderia se manifestar da forma fulminante, chamada de “púrpura valiosa”, levando a morte facilmente pela erupção de lesões e descolamento da pele.
Entre 1563 e 1564 houve um grande surto da doença que ocasionou a morte de 30 mil nativos em três meses, sua origem foi em Portugal em 1962, chegando depois em Itaparica e em menos de um ano em Ilhéus e se espalhando por todo o Brasil.
Desesperados, os religiosos procuraram amenizar os efeitos devastadores da moléstia com rezas, sangrias e banhos quentes e os jesuítas arrancavam-lhes a pele e parte da carne. No final do terceiro ou quarto dia o indivíduo chegava ao óbito. Não havia lugar para se sepultar e tomar os cuidados para o funeral.
A varíola foi introduzida no Brasil por volta de 1555, no Rio de Janeiro por calvinistas franceses e a partir daí surgiram novos surtos em 1560, trazido pelos escravos africanos e no Espírito Santo em 1565, causando grande devastação. Até 1588 toda a América do Sul já tinha sido contaminada.
No século XVII ocorreram epidemias em 1616, 1621, 1631, 1642, 1662-1663, 1665-1666 e 1680-1684, todos iniciados nas capitanias do norte e em 1695, tendo a primeira epidemia no Rio Grande do Sul.
Além da doença a fome assolava o país, sem condições físicas e psicológicas de trabalhar, as lavouras indígenas foram abandonadas e os sobreviventes vendiam-se como escravos e abandonavam seus filhos.
Foi aproveitada a fragilidade da população potiguar para que houvesse ataques de acerto de contas por parte dos portugueses, mas só foi constatada uma vulnerabilidade de ambos pela doença. Os portugueses partiram em retirada para a Paraíba e 25 anos depois os potiguares se renderam pela debilidade e foram lutar contra os Aimorés.
No período de 1556 a 1561, os aldeamentos feitos pelos jesuítas foram eliminados, deixando de existir as aldeias: Rio Vermelho, São Sebastião, Simão, São Paulo, São João, Santiago, Santo Antônio, Bom Jesus de Tatuapara, São Pedro de Saboig, Itaparica, São Miguel de Taperaguá e Nossa Senhora da Assunção de Tapepitanga.
Extensas faixas de terra ficaram completamente abandonadas por causa da mortandade, o que fez com que os jesuítas não conseguissem sequer 300 homens nativos para se tornarem guerreiros. 
Aproveitando da situação, muitos colonos usaram a doença como oportunidade para se livrar de índios hostis, deixando vestimentas contaminadas perto das aldeias que queriam destruir, dando origem assim a primeira arma biológica noticiada na história.
Em torno de 1740, foi feita a primeira variolização. Essa técnica consistia em expor pessoas sadias ao material retirado das lesões para que contraíssem a forma branda da doença com o objetivo de criar anticorpos para a forma mais grave dela e evitar mais óbitos. Com esse feito, padre José da Magdalena conseguiu salvar um bom número de nativos, mas o que realmente deu um salto a favor da saúde foi a criação da vacina no final do século XVIII por Edward Jenner, mas o desaparecimento da doença só aconteceu no século XX.
Todo esse perecimento foi de grande prejuízo para a indústria colonial, que perdeu muita mão de obra indígena e acabou por substituí-la por escravos africanos, que eram mais caros, mas mais resistentes a doenças e ao trabalho duro. Índios e africanos sofreram e sucumbiram diante do poder do comércio, da ganância e cobiça implacáveis.
Doenças e medicinas dos colonizadores e descendentes 
A vida nas vilas e cidades coloniais dos séculos XVI-XVII
O pensamento de vida fácil e de riquezas no Brasil foi sucumbida após a instalação de colonizadores portugueses no país. O ambiente quente, animais e plantas desconhecidas mudou muito o pensamento de muitos.
Havia também a desvantagem da colônia estar distante dos grandes centros comerciais, o que dificultava a aquisição de bens de consumo, por causa do infrequente transporte marítimo vindo da metrópole.
A questão salutar estava a prova, mas apesar disso, continuavam vindo mais colonizadores, pois as condições de vida ainda eram melhores do que na África e Ásia.
As terras ao longo da costa eram escolhidas pela nobreza, pois ofereciam condições mais favoráveis de comunicação com o mundo exterior.
Os nativos trabalhavam como pequenos agricultores ou eram escravos em grandes plantações de cana de açúcar, mas a maior parte da mão de obra era executada por africanos, devido a sua resistência.
Pelas mãos dos cativos, a área urbana foi surgindo e diante de uma natureza hostil e desconhecida, as localidades foram recebendo nomes de santos que serviam para afastar demônios e cristianizar a paisagem.
Não havia um traço característico na estética das moradias, eram feitas apenas para se abrigar dos efeitos climáticos e se proteger de ataques inimigos. No início não abrigavam mais que quarenta colonos. De acordo com dados demográficos, em 1548 o país tinha cerca de 60 mil habitantes (30 mil índios mansos, 20 mil africanos e o restante de portugueses) e esse número cresceu aproximadamente para 300 mil em 1690. 
A esperança de vida era baixa, tanto no meio urbano quanto no meio rural, pelas condições adversas do meio e a medicina ineficaz. Uma em cada três crianças nascidas vivas conseguia sobreviver.
O número de habitantes nas áreas urbanas era irrisório em relação ao rural, as cidades eram à moda dos índios e não possuíam saneamento básico. Em São Paulo era de costume jogar excrementos das janelas e portas das casas. Para evitar que transeuntes fossem atingidos com tal dejetos, foi criado um decreto que todas as vezes que esse ato fosse executado, a pessoa deveria gritar “Água vai!” para evitar maiores transtornos.
Nas vilas, os dejetos eram carregados e jogados na água por cativos denominados de tigres (por adquirirem marcas como tigres por causa do escoamentoda defecação nas suas costas pelos cestos de palha que levavam consigo).
Em Paraty, no Rio de Janeiro, foi criada uma forma mais engenhosa de higienização urbana. As casas eram mais altas que o plano da rua e uma canaleta côncava em direção ao mar, permitindo que as altas marés levassem o conteúdo depositado. Apesar da grande ideia, os núcleos urbanos necessitavam de chuva para a limpeza total, o que favorecia o acúmulo excrementos e consequentemente o aumento de doenças infectocontagiosas. 
As construções planejadas de cidades como em Salvador tinham espaços limitados, murados, contrastados com as abundantes terras que as cercavam, o que fazia com que a população pequena vivesse aglomerada. Os padrões das edificações eram basicamente por causa dos ventos (casas não muito altas, para não ventarem muito e nem muito baixas), onde não havia névoas e se tivessem perto de rios, o sol deveria bater no povoado primeiro e depois nas águas, para que não trouxesse maus ares e pestilências. 
Apesar de seguir esses padrões, São Paulo sofria com alguns casos de leptospirose, hepatite e malária, que se alastrava nos dias de chuva. Muitos morriam sem nem receber os últimos sacramentos. Havia também casos de tuberculose linfática em menor escala e problemas gastrointestinais e oculares em maior escala.
As doenças cutâneas eram de difícil diagnóstico por se manifestarem de forma semelhante. Até meados do século XVII tinha uma falta de documentos que constassem informações sobre a hanseníase (antigamente denominada de lepra). O que se sabe é sobre a criação da primeira área de isolamento de doentes – O Campo de Lázaros – em Salvador (1640) e sobre um projeto de um hospital próprio no Rio de Janeiro. No século seguinte há mais menções sobre a doença, inclusive sobre sua forma de infecção e ataque aos nervos periféricos e a pele. Acredita-se que foi revelada no ocidente em 644 d.C, pelo rei Lobardo Rotharis.
Também há outras alusões a outras doenças que hoje são consideradas simples como “corrimento” (artragia), a frialdade (também chamada “opilação”, “cansaço”, “inchação” – anemia grave de diferentes etiologias – ancilostomíase), a gota-coral (epilepsia) e paralisia de origens desconhecidas.
Com a quantidade quase zero de médicos a população carente e enferma procurava soluções que pudessem confortá-la.
Boticários, barbeiros, cirurgiões e escapulários
Até o presente momento, as práticas médicas estiveram entregues aos religiosos que cumpriam funções de médicos, sangradores, enfermeiros e boticários. Os membros da Companhia de Jesus observavam e experimentavam diversas fórmulas, nativas ou de outros colégios. A adição de ervas medicinais à água fervente (chamado de tisanas) e receitas populares (chamadas de mezinhas) eram trocadas entre os jesuítas, que no Brasil desenvolveram 62 fórmulas diferentes, 38 delas somente na Bahia. Todas elas tinham um caráter empírico e regional, adicionando a composição ingredientes próprios do local.
As prescrições jesuítas eram secretas e só foram reveladas em 1766. Suas boticas estavam anexadas ao colégio e cediam remédios aos índios, colonos e seus descendentes. A de São Paulo ocupava uma sala aberta ao público, presidida pela imagem de Nossa Senhora da Saúde. Já a do Maranhão possuía uma farmácia flutuante, que com um enfermeiro abastecia a costa. 
As boticas flutuantes serviam também para troca de experiências entre os colégios e para supri-los em caso de necessidades. 
Durante a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, praticantes leigos de medicina (barbeiros) da Capitania de São Vicente e mezinhas do colégio de São Paulo de Piratininga, atravessaram o mar, cumprindo seu papel social e reafirmar sua submissão a Coroa. Gradativamente, os serviços ligados à saúde foram abandonados pelos religiosos.
Devido a inexistência de escolas e universidades, profissionais da saúde vinham forçados de Portugal e tinham que estar sob a guarda do Estado: Todos respondiam a um fiscal designado pela Coroa (um físico-mor ou cirurgião-mor), que além de exercerem a profissão, ficavam com as funções burocráticas, fiscalização e distribuição de cartas de consentimento para o exercício do profissional, outorgadas mediante documentos expedidos pelas câmaras locais que comprovassem a experiência do saber e do requerente.
Esses profissionais eram habilitados para fiscalização de comércios de drogas e análise de manipulações e o estado de decomposição das substâncias empregadas nelas.
Apenas em 1640 foram permitidas as aberturas de boticas não vinculadas à igreja, mas mesmo sem essa vinculação, estas tinham que seguir uma série de regras rígidas. Tinham que ter no balcão dois livros: A Farmacopeia Oficial Portuguesa e um manual para diagnóstico e tratamento. Nelas vendiam-se todos os tipos de drogas medicinais e faziam-se mezinhas. Com isso vinha um grande problema, os produtos que eram trazidos pelos navios poderiam estragar e alterar sua eficácia e se isso ele não deteriorasse no caminho, tinha uma grande elevação de preço, o que fazia com que grupos seletos pudessem comprar. Por essa razão, a população utilizava na maior parte medicamentos nativos.
Os boticários eram os poucos de toda a população que detinham algum conhecimento da área de saúde, de modo que eram obrigados a trabalharem como médicos, cirurgiões, barbeiros ou até mesmo como professores, dando instrução para jovens que trabalhavam junto a eles.
Esses aprendizes de boticários eram iletrados, de condição humilde, que aprendiam seu ofício através da prática. 
Em Portugal, o cirurgião-barbeiro frequentava a escola do reino, estava apto para procedimentos mais complexos, lancetar feridas e abscessos, extrair tumores, reduzir fraturas e amputar membros. Já no Brasil, os cirurgiões-babeiros eram muito mais comuns que médicos e normalmente vinham de Portugal ou formavam-se na colônia através de prática. Podiam evoluir para cirurgiões aprovados após fazerem uma prova, que era aplicada pelo físico-mor.
Os moradores das vilas solicitavam médicos, mas devido a escassez de clientela com poder aquisitivo e o pouco número dos mesmos disponível, poucos se aventuraram para o Brasil. Foram contratados físicos e cirurgiões para os centros urbanos. Os pioneiros foram: Jorge Fernandes, Afonso Mendes, Julião de Freitas, Francisco Rego e Antônio Rodrigues.
Os salários eram de 60 mil réis anuais, o que não era nada tentador, enquanto um bispo ganhava duzentos mil réis anuais.
Físicos e cirurgiões exerciam mais de uma profissão e tinham parte do seu pagamento feito com panos, galinhas, açúcar, milho ou algodão. Mais tarde foram contratados pelo Partido da Câmara, Santas Casas de Misericórdia, tropas e hospitais militares.
Nenhum médico obteve feitos grandiosos no Brasil e os físicos tiveram uma fama ruim por não terem dó de seus doentes. Até mesmo os leigos se sobressaíram em relação aos físicistas.
Em 1799, próximo à chegada de D. João e sua corte o país contava com no máximo 12 médicos.
Rezas, Vomitórios e Amuletos: A Medicina Coloquial 
Apesar das diversas diferenças entre culturas, os homens possuíam peculiaridades quando o assunto é a saúde. Nos séculos XVI e XVII, acreditava-se que independente das atribuições da doença (ventos, mal olhado) ela deveria abandonar o corpo. Para isso era usada técnicas para sangramento, provocação de vômito, diarreia ou sudorese. Se qualquer substância suscitar essas manifestações, era um sucesso terapêutico absoluto.
Os homens consideravam-se possuidores de todas as qualidades essenciais da natureza: não apenas eram dela dependentes, como seus senhores. Assim, a administração de elementos da natureza e do próprio homem – como excrementos – significava devolver ao doente a própria vida e saúde, tanto que existiam práticas como a farmácia de excrementos (Dreckapotheke) e os brasilíndios consideravam a urina restauradora e as fezes impuras e repulsivas.
Para se alcançar a fórmula desejada eram usadas pólvoras, pombas, substâncias retiradas de cavalos ouqualquer coisa que viesse de um animal forte e vigoroso. O doente era visto em posição de pecador, então quanto mais amargo e doloroso fosse o remédio melhor seria seu efeito. 
Medicina, religião e magia eram indissociáveis, e a fé, perseverante e inabalável, vencia o medo da falta de assistência humana... Com isso surgiram uma multidão de curandeiros, benzedeiras e rezadores.
O país, católico por imposição da metrópole, era resguardado por santos que libertavam do mal corporal como São Roque, São Lourenço, São Braz e Santa Luzia.
Além de rezas, eram utilizados talismãs, que carregados junto ao corpo materializavam a fé. De grande apreço era o amuleto retirado do apêndice craniano da anhuma, pássaro com atribuições mágicas, cujos poderes foram reconhecidos e transmitidos pelos índios guaianases. O uso foi aceito pelos portugueses por eles acreditarem em unicórnios. Extraindo um pó de seus esporões é possível obter um remédio milagroso contra venenos.
Essa medicina híbrida que levava consigo conceitos da medicina europeia, indígena e africana foi muito difundida no país, inclusive para um grupo específico: os bandeirantes.
Os remédios de Paulistas
Os bandeirantes eram homens extremamente rudes, violentos, qualidades talvez imprescindíveis para aqueles que se propunham a embrenhar-se nas florestas. Iam acompanhados de remadores, cozinheiros, guias, índios de tribos amigas ou escravizados, tornando assim uma imensa troca de conhecimentos.
Sujeitos a muitas doenças levavam consigo instrumentos usados no tratamento e usavam técnicas paulistas como o uso de aguardente com sal para mordeduras de cobra, caldo de fumo bolas de ceras. Era adeptos também ervas nativas como cayapiá, salsaparrilha (para febre), malagueta e gengibre (para afecções), todas trazidas pelos colonizadores. Apesar disso era a vegetação nativa que era recorrida na maior parte das vezes, difundindo futuramente a flora brasileira.
Um dos exemplos era a mácula, doença que causava mal-estar geral, febre, dor de cabeça e infestação de larvas do ânus e do reto. Para tratar era usada pólvora, aguardente de cana, pimenta da terra, fumo, suco de limão que eram administrados pelo reto. 
Quando isso era ineficaz a morte era certa. Em 1680, Fernão Dias foi vítima da malária como muitos outros índios guaianases que o acompanhavam. Ele tinha o desejo de ser enterrado no mosteiro de São Bento e seu filho mandou embalsama-lo no local de sua morte.
Outra técnica usada para preservação dos ossos era enterrar o corpo a dois palmos de terra e por cima se fazer uma fogueira por 20 dias. O bandeirante Luiz Castanho de Almeida usou essa técnica, teve seus ossos limpos e preservados para ser transportado para Santana do Parnaíba, onde foram sepultados.
Diferentemente da região urbana, era muito improvável que os bandeirantes dispusessem de barbeiros, médicos e cirurgiões. Eles se apegavam ao pouco de conhecimento das ervas e se apegavam a fé.
Epidemias Urbanas e Rurais: Dramas na vida e Economia Colonial
As epidemias durante o período colonial não afetavam somente os índios, mas a todos e quase sempre tinham um diagnóstico impreciso. Por muitas vezes, doenças foram confundidas por terem sintomas similares como o tifo exantemático ocorrido em 1642, surtos de cólera, malária e sarampo (que foi trazida ao país em 1531 pelos Europeus e era chamada de “bexiga-sarampada”, transmitida pela saliva).
Com isso veio a necessidade de organizar no espaço um serviço de fornecimento assistencial médico e hospitalar.
A população foi devastada pela varíola mais do que qualquer outra doença. As pessoas acreditavam que antes do ocorrido a natureza tinha dado sinais como um cometa que passou um ano antes pelos céus americanos e três dias consecutivos de maré alta em Salvador.
São Paulo estava em risco de contaminação e a Câmara decretou a formação de um cordão sanitário em Cubatão e no Alto da Serra e precisou entrar em litígio com a Câmara de Mogi das Cruzes pelo não cumprimento das ordens preventivas, pois queria adotar medidas profiláticas para epidemias que chegavam do mar e não foi acatada pela comercialização de sal.
As penas para quem entrassem em contato com Cubatão ou Santos eram de duzentos cruzados ou cadeia de trinta dias. Foi até cogitado exílio para Angola para o transgressor da regra e os guardas foram ordenados a atirar em quem forçasse uma entrada a caminho do mar.
A economia estava péssima devido a falta de mão de obra e com isso os colonizadores tiveram que buscar escravos longe e essa movimentação por terras distantes só aumentavam as propagações de doenças e ocasionavam mortes generalizadas. As lavouras estavam em ruínas e muitos senhores de engenho solicitavam moratória do pagamento de suas dívidas por motivo da epidemia.
Portugueses, holandeses, africanos e indígenas não tinham conhecimento para acabar com as pestes e recorriam a excremento de cavalos pulverizado e tomado em qualquer líquido, entre outros. 
Em 1685 acontecia um eclipse solar precedido por um lunar – um péssimo presságio para os homens – Mal sabiam eles o que estava por vir, a febre amarela.
Da África para as Américas: A febre amarela
E, 1493, a segunda expedição de Colombo levou mil e quinhentos homens ao Novo Mundo. Ao deixar a ilha Isabela (Haiti), a tripulação adoeceu – todos tiveram mal estar, estavam amarelados e sentiam fraqueza. Vendo isto o comandante resolveu voltar a Espanha e foi assim que a Europa conheceu a febre amarela.
Trazida por escravos africanos, a febre amarela surgiu em 1685, fez muitas vítimas e ressurgiu dois séculos depois. Essa doença é caracterizada de uma forma amena e mais tarde pode evoluir para uma forma mais grave com febre, dor muscular e prostração. A vítima pode apresentar vômito, diarreia e sangramentos diversos. 
O primeiro episódio urbano em Pernambuco foi provavelmente de uma nau francesa vinda da Ásia, outros dizem que foi de uma embarcação vinda de São Tomé na África com escala em São Domingos (Antilhas), que transportava barricas de carne apodrecidas e que quando abertas teriam espalhado esse mal.
A febre ceifou muitas vidas, em 1685 em menos de 15 dias aproximadamente 600 pessoas tinham sido levadas ao óbito.
Em 1690 chega a Recife o médico João Ferreira Rosa, contratado de Portugal. Ele apresentou ao governador uma relação de providências para a prevenção e combate à doença. Entre as providencias estavam: acender fogueiras com ervas aromáticas por trinta dias, emanar tiros de artilharia pelo menos três vezes ao dia, a expulsão de meretrizes, a purificação das casas (janelas abertas, uso de cal virgem em locais onde alguém tivesse morrido e queima de defumadores). 
Os doentes eram segregados do espaço urbano, tinham suas roupas lavadas por diversas vezes ou queimadas. Os sepultamentos eram feitos longe da cidade e em covas fundas e uma fogueira era acesa por cima delas num período de 3 dias e depois eram ladrilhadas. Além disso, era exigido o atestado de óbito para saber a causa da morte.
Todos os navegantes suspeitos de um navio tinham que ser inspecionados e os doentes internados, caso não fossem obedecidas quaisquer umas dessas ordens os cidadãos livres tinham de pagar multa ou os escravos açoitados.
A primeira necropsia da história foi realizada pelo cirurgião Antônio Brebon num navio, após a morte de um marinheiro. Em sua análise ele pode ver a proliferação de vermes no trato intestinal e recomendou a todos o uso de vermífugos. A ideia foi seguida por muitos, mas não foi nem de perto a solução para o fim da febre amarela.
No fim a campanha foi bem-sucedida, muitas pessoas cederam suas casas para o tratamento de doentes, pois as Santas Casas de Misericórdia já estavam cheias e até mesmo três médicos haviam morrido.
Acreditava-se que o fim da moléstia se deu pela intervenção de São Francisco Xavier, que mais tarde foi proclamado padroeiro de Salvador pelo Senado da Câmara.
Os hospitais coloniais
O termo hospital originou-se da palavralatina hospes que significa “aquele que recebe estrangeiro”. Os precursores dos hospitais existiram desde a Grécia antiga, onde os Tempos de Asclépio abrigavam os enfermos. Já para os romanos, as instituições eram voltadas principalmente para o socorro aos soldados feridos em campanha. Na Idade Média, além de servir aos doentes, serviam como guarita para viajantes, peregrinos, vagabundos, velhos e crianças.
Na Europa pós-Renascimento, com o crescimento do comércio nas vilas e cidades, a população deslocou-se para o espaço urbano, o que agravou suas já precárias condições de saúde. O auxílio aos enfermos era além do médico, era o auxílio social, onde pessoas carentes eram acolhidas.
Com a falta de verdadeiros hospitais, a população acolhia em seu lar marinheiros que lutavam com a subnutrição e as moléstias. Na tentativa de melhorar as condições foram instituídas a Santa Casa de Misericórdia em 1543 por Brás Cubas em Enguaguaçu. Conforme foi surgindo a necessidade, novas Santa Casas foram criadas e, Salvador (1549), Espírito Santo (1551), Olinda e Ilhéus (1560), Rio de Janeiro (1582), Porto Seguro (fim do século XVI), Sergipe e Paraíba (1604), Itamaracá (1611), Belém (1619) e Igarassu (1629), todas estas administradas pelas Irmandades de Nossa Senhora da Misericórdia.
Nem todas as irmandades eram providas de hospitais. Construía-se uma hospedaria anexa para necessitados. Os raros médicos e cirurgiões podiam ser agenciados pelas irmandades ou trabalharem gratuitamente no hospital ou em asilos anexos. Os demais serviços de enfermagem e limpeza eram feitos por religiosos, escravos ou pessoas contratadas sem nenhum treinamento.
As Casas de Saúde eram construções simples, de taipa de pilão coberta com folhas de palmeiras, o luxo máximo era uma divisória para preservar a intimidade do aflito. Os consultórios eram improvisados e não haviam divisórias como salas de cirurgia, de curativos entre outros. Os corpos eram enterrados abaixo do piso claustro, junto as cisternas de água.
As Santas Casas sobreviviam de contribuições governamentais, dinheiros de multas impostas aos cidadãos e doações. Engenhos de fazendas doados eram vendidos e revertidos em obras ou na compra de casas e sobrados, cujos alugueis eram revertidos a Irmandade. Muitas arrecadavam tanto como a de Salvador que fazia empréstimos com altos juros, sendo esta considerada o primeiro “banco” da Bahia.
Coube às Santas Casas o papel hegemônico de assistência hospitalar durante o Brasil colonial. Após a segunda metade do século XIX, houve o surgimento da clínica baseada em estudos anatopatológicos, da anestesia, do aprimoramento de técnicas cirúrgicas, diminuindo a dor que as doenças causaram antigamente na população.

Outros materiais