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[Artigo] Modelo agrícola e utilização de agrotóxicos na produção de recursos vegetais utilizados na alimentação humana

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Modelo agrícola e utilização de agrotóxicos na produção de recursos vegetais utilizados na 
alimentação humana1 
 
Apresentação: 
O presente texto inicia caracterizando o processo de cientifização dos conhecimentos 
agrícolas, resultando no atual modelo agrícola de produção, difundido pela Revolução Verde. Os 
processos de produção foram simplificados e substituídos pelos chamados ‘pacotes tecnológicos’, 
que além da mecanização pesada da área fazia uso de insumos químicos (adubos altamente solúveis 
e agrotóxicos). Esse ‘novo’ modelo de produção ficou conhecido como “Agricultura Convencional”. 
Em um segundo momento, este texto, caracteriza insumos químicos e seus danos sociais, 
ambientais e na saúde humana, através do cultivo de plantas alimentares. Depois, apresenta alguns 
marcos jurídicos associados ao uso do agrotóxico, evidenciando a esfera jurídico como espaço de 
disputa dos interesses públicos e privados (capital). Analisa-se, ainda, o papel da extensão rural na 
difusão dos agrotóxicos e, portanto, seus impactos, finalizando como uma discussão breve sobre a 
Agroecologia, ciência que busca adquirir conhecimentos sobre a melhor forma de integrar sistemas 
agrícolas de produção com o ambiente e o ser humano (este como parte do ambiente) a fim de 
promover um desenvolvimento sustentável. 
 
Modelo Agrícola: 
Um dos marcos mais importantes para a discussão da Agronomia como um todo foi a 
transformação das práticas agrícolas em conhecimento científico. Pode se dizer que a Agronomia 
tecnicista, tal qual é hoje, é fruto das chamadas “revoluções científicas”, iniciadas no século XVII. O 
principal resultado desse processo é um sistema de conhecimento caracterizado pelo pensamento 
racional, objetivo, mecânico, reducionista e universalista. Para um conhecimento ser aceitável 
deveria ter uma explicação mecanicista e universal, originada a partir de observações metódicas 
(ciência cartesiana). O que aqui é chamado de “Agricultura Dominante” é, mais exatamente, fruto 
dos economistas, que viram na produção de alimentos um nicho para o lucro (Agronegócio), da 
Biologia, através de seus métodos de classificação e observação, e, por fim, da Química, que iniciava 
a descobrir a dinâmica química do solo e sua relação com as plantas. Esta nova fase foi impulsionada 
pelo retorno de profissionais que fizeram cursos de especialização no exterior e trouxeram duas 
novas ferramentas desconhecidas no Brasil: genética e estatística. Diante disso, “foram 
desenvolvidos procedimentos sofisticados para o controle dos resultados e análise das variáveis 
relativas aos problemas”. As pesquisas passaram a ser desenvolvidas em laboratórios ou casas de 
vegetação, validando o uso da estatística e delineamentos amostrais. Do ponto de vista 
epistemológico, material e social os resultados desta nova fase na produção do conhecimento têm 
novos significados e implicações no campo. “Este tipo de ciência-experimento permite a produção 
de um segredo que, por sua vez, dá a seus resultados as condições de transformação em 
mercadoria, ou seja, essa ciência produz algo cuja socialização se dá pela venda, e não mais pela 
troca solidária visando a continuidade de sua reprodução nas propriedades. A socialização dos 
resultados da ciência-experimento se faz pelo repasse do produto à empresas...” A estes 
resultados da Agronomia Tecnicista chamamos de “tecnologia”. Um exemplo cabal desta época é o 
advento do milho híbrido, que torna os seus adeptos dependentes do mercado, tanto para adquiri-
lo e os produtos correlatos (insumos) quanto para sua venda. Para cumprir seu ideal mercadológico, 
as tecnologias oriundas da “agricultura moderna” deveriam estar disponíveis aos agricultores 
 
1 Texto de apoio para as disciplinas Recursos Vegetais na Alimentação Humana (BOT062) e Botânica 
Econômica (BOT058). Este material não deve ser utilizado fora do espaço didático concebido por e para estas 
disciplinas. 
através de sua difusão. Finalmente, uma das maiores implicações deste desenvolvimento histórico 
foi o reconhecimento de determinadas formas de fazer agricultura como ideais, e a renegação de 
saberes “sem valor”, neste contexto, as formas “tradicionais”. 
A projeção, ou melhor a realização deste modelo de construção do conhecimento no 
mercado pode ser intitulado de “Agronegócio”. Em resumo, o Agronegócio se caracteriza pelo uso 
exacerbado de tecnologias e insumos externos à propriedade. Portanto, de um ponto de vista 
sistêmico, há um concentrado aporte (in put) de elementos externos, como agroquímicos e 
combustível fóssil, os quais, entendidos como distúrbios, provocam uma série de problemas 
ambientais e sociais. São exemplos destes problemas: erosão do solo, poluição dos lençóis freático 
e do ar, salinização, desertificação, resistência das pragas aos pesticidas (agroquímicos/ 
agrotóxicos/”defensivos agrícolas”), e riscos à saúde pela aplicação dos mesmos. O modelo adotado 
prioriza os monocultivos (monoculturas), cultivos de uma ou pouquíssimas espécies, como milho, 
sorgo, soja, trigo e arroz, geneticamente uniformes. O Agronegócio afeta áreas planas e irrigáveis, 
onde prevalece maquinários em detrimento de mão de obra, reduzindo, assim, a quantidade de 
empregos por unidade produtiva. Suas necessidades financeiras são altíssimas e, portanto, limitadas 
aos produtores com maior capital. Por se pautarem em tecnologias, é um modelo que gera 
dependência dos seguidores em relação às empresas que produzem esta tecnologia, socializadas 
apenas através do mercado (venda). Apesar de resultarem em uma grande produção total, a 
produção por unidade de área, em relação a Agroecologia, descrita a seguir, é baixa, enquanto os 
danos ambientais e sociais pela mesma unidade de área é alta. 
A Revolução Verde foi um das principais realizações históricas desta forma científica de se 
produzir conhecimento associada a uma prática difusiva das tecnologias concebidas. Pode se dizer 
que este modelo foi a materialização de todo o avanço produzido pela “agricultura moderna” e teve 
como maior argumento o aumento da produção de alimentos para exterminar a fome mundial. 
Segundo seus defensores, apenas uma revolução nas formas de produção agrícola poderiam findar 
esta chaga social. Contudo, este argumento é falacioso, pois vela a real intensão deste pacote: 
utilizar o espaço agrário para criar nichos de mercado capazes de aumentar e reproduzir o capital. 
O progresso e desenvolvimento, entendido como expansão das economias e produtividade, exigiam 
inevitavelmente a substituição da agricultura tradicional por práticas mais modernas. Além disso, 
defendia que os sistemas de produção agrícola deveriam estar abertos e vinculados ao mercado 
global, reflexo evidente das ideias neoliberalistas do século passado. A revolução verde apresentou 
um pacote tecnológico que incluía a) variedades melhoradas em laboratórios; b) uso excessivo de 
insumos agrícolas, como fertilizantes, pesticidas e herbicidas; c) novas formas de plantio e irrigação, 
baseados principalmente em maquinários agrícolas. Dentre estes insumos destaca-se, para a saúde 
coletiva, os agrotóxicos, também conhecidos como pesticidas ou praguicidas oum como foi 
difundido pela Revolução Verde, “defensivos agrícolas”. 
Os agrotóxicos, enquanto insumos agrícolas, nascem no período da segunda guerra 
mundial, quando empresas químicas sintetizaram em larga escala substâncias com propriedades 
antibióticas, inseticidas e desfolhantes (esta última, desenvolvida para utilização na guerra contra 
Vietnã a fim de desfolhar as florestas e localizar os inimigos – atitude que trouxe e traz graves 
conseqüências para futuras gerações, efeitos cancerígenos, mutagênicos e teratogênicos). Os 
primeiros métodos químicos de controle começaram a ser utilizados, nos EUA e na Europa, a partir 
da metade do século XIX, quando "ParisGreen" e o "London Purple" foram inventados como 
inseticidas. Esta produção tomou impulso quando descobriram que os compostos organoclorados, 
como o DDT, tinham grande potencial como pesticida. Depois do pós guerra é que os produtos 
sintéticos passaram a ser considerados como parte integral da agricultura. 
Os agrotóxicos, como frutos da Revolução Verde, foram apresentados como uma das 
soluções da fome no mundo. De fato, este pacote tecnológico, associado ao uso de insumos 
químicos, incrementou em curto prazo a produção agrícola mundial, mas a um altíssimo custo social, 
ambiental e da saúde humana (pra pensar: 1) aumentou a produção mundial sim, mas não acabou 
com a fome.... hoje, aproximadamente 30% da produção mundial de alimentos é jogada fora – seja 
por perdas no transporte, ou perdas deteriorização ou ainda, para manter altos preços das 
commodities 2) e se a ciência optasse por estudar/aprimorar os métodos/processos de produção 
tradicional – sem emprego de insumos químicos???). Resta salientar, que por este modelo ser 
intensivo, exauri rapidamente a capacidade dos sistemas agrícolas em manterem a produção, 
portanto, a sua viabilidade a longo prazo é drasticamente comprometida. Estudos apontam que 
todos os países que se baseiam em monocultivos com alto uso de agrotóxicos, reduziram a sua 
produção anual. Esta redução impulsiona a abertura de novas terras agriculturáveis (“aberturas de 
novas fronteiras agrícolas”), custando áreas de fisionomias nativas. 
Os agrotóxicos pela A Organização Mundial da Saúde (OMS) são classificados de acordo 
com sua toxicidade humana e sua classificação por dano é amplamente reconhecida como uma 
norma internacional, a saber: Classe I, extremamente perigoso (faixa de identificação vermelha); 
Classe II, altamente perigoso (faixa amarela); Classe III moderadamete perigoso (faixa azul); e 
Classes IV e VI, levemente perigoso (faixa verde). Além disso, os agrotóxicos podem ser 
categorizados em referência ao regime de propriedade intelectual vigente: moléculas novas, 
patenteadas, garantindo o direito de exclusividade de comercialização às firmas inovadoras; e os 
produtos equivalentes, cujas patentes já expiraram, tornando a tecnologia passível de exploração 
por empresas que não possuem capacidade de investir em pesquisa e tecnologia. 
 
Os efeitos sociais do uso dos agrotóxicos: 
O principal efeito social do uso dos agrotóxicos tem uma base cognitiva. Como afirmado 
anteriormente, os conhecimentos gerados pelas ciências agrárias, acima descritas, devem ser 
entendidos como “tecnologias”. Estas tecnologias, quando incorporadas, produzem uma 
dependência do indivíduo que a porta (não entendi... é aporta de aportar??) (agricultor) em relação 
ao indivíduo que a produz (grandes empresas). Este vínculo, mantido única e exclusivamente pelo 
mercado (compra) nunca é rompido, afinal o agricultor, por desconhecer os processos de produção 
deste conhecimento é incapaz de incorporá-lo a sua esfera cognitiva, ou reinventá-lo segundo suas 
demandas. Cria-se, portanto, um vínculo vicioso, no qual o agricultor deixa de operar 
cognitivamente sobre sua realidade, tornando-se escravo de uma tecnologia. 
Além disso, acredita-se que a justificativa de acabar com a fome mundial é fantasiosa, é 
uma “cortina de fumaça” para a geração de um incrível mercado mundial e, consequentemente, o 
avanço do sistema baseado no capital. Em 2007, as seis maiores empresas do ramo (Bayer, 
Syngenta, Basf, Monsanto, Dow, DuPont) controlavam 86% do mercado mundial estimado em US$ 
33,4 bilhões. E este mercado segue em franca expansão. Por exemplo, a América Latina aumentou 
o seu consumo em mais de 300%, e o Brasil, infelizmente, é responsável por 87% deste incremento. 
O aumento do uso dos agrotóxicos nos países em desenvolvimento foi impulsionado pelas políticas 
neoliberais do final do século passado, quando os mercado locais foram expostos às regras globais. 
Para conseguirem atingir os mercados externos, os agricultores, essencialmente os agricultores 
industriais, precisaram incrementar a “qualidade” e a quantidade produzida. A demanda por 
alimentos baratos, mas de alta qualidade, age como um tremendo incentivo para o uso de 
agroquímicos, no sentido de impulsionar a produtividade no curto prazo e maximizar as 
possibilidades de uma colheita uniforme e comercializável. Interessante ressaltar que há uma 
exaltação por produtos belos. Os alimentos perfeitos, sem danos, são visualmente estéreis, 
transmite uma ideia de perfeição e, consequentemente, de saudável. A aparência é mais importante 
que o sabor e mais importante ainda que a saúde do consumidor, como veremos a seguir. 
(observações: 1) produto sem agroquímicos e aparentemente ‘feio’ é falta de manejo correto 2) na 
práticas os produtos de nossa alimentação, produzidos através da agricultura convencional, são 
mais baratos pois recebem um ‘subsidios’ indiretos do governo federal, tais como, redução ou 
anulação de impostos, ‘perdão’ de dívidas das linhas de créditos destinadas ao agronegócio, entre 
outros) 
 
Efeitos do uso dos agrotóxicos na saúde humana: 
Os produtos químicos são programados para serem prejudiciais aos organismos vivos e 
desta forma, representam um grave risco aos seres humanos, tanto aos trabalhadores rurais que 
manejam estas substâncias, quanto os consumidores finais que, na maioria das vezes, ingerem altas 
quantidades de substâncias químicas sem consentimento. Vários problemas à saúde e exemplos 
destes são apresentados na literatura científica. 
Desde 2008 o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no 
mundo. O relatório da Anvisa publicado em 2011, a partir de amostras coletadas em todas as 
unidades da federação e analisadas pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em 
Alimentos (PARA), evidencia que 63% das amostras estavam contaminadas por agrotóxicos. Destas, 
28% apresentam resíduos de substâncias não autorizadas para aquele cultivo ou ultrapassam os 
limites máximos permitidos. Entretanto, a situação pode ser pior, porque a análise do glifosato, 
agrotóxico mais vendido, não foi incluída no estudo. O nível médio de contaminação das amostras 
varia em relação à cultura agrícolas da seguinte maneira: pimentão (91,8%), morango (63,4%), 
pepino (57,4%), alface (54,2%), cenoura (49,6%), abacaxi (32,8%), beterraba (32,6%) e mamão 
(30,4%). Além disso, 30% das amostras apresentaram indícios de agrotóxicos que estão em fase de 
reavaliação pela Anvisa, ou seja, que podem ser proibidos no país. Entretanto, estes agrotóxicos que 
ainda estão sob análise representam 70% das substâncias mais usadas no Brasil, inclusive o glifosato, 
endosulfane o acefato. Como resultado, em média, um brasileiro consome cerca de 5,2 Litros destas 
substâncias. Resta salientar que, segundo este mesmo relatório da Anvisa estes agrotóxicos são 
ingredientes ativos com elevado grau de toxicidade aguda comprovada e que causam problemas 
neurológicos, reprodutivos, de desregularão hormonal e até câncer. “Apesar de serem proibidos 
em vários locais do mundo, como União Europeia e Estados Unidos, há pressões do setor agrícola 
para manter esses três produtos (endosulfan, metamidofós e acefato) no Brasil, mesmo após 
serem retirados de forma voluntária em outros países. 
O relatório da ABRASCO apresenta uma síntese dos efeitos cientificamente comprovados 
em médio e longo prazo da intoxicação crônica ou aguda destes agrotóxicos. Os sintomas 
apresentados são quase todos de natureza grave, como efeitos neurotóxicos, alterações 
cromossomais, lesões hepáticas e renais, cânceres, teratogênese, fibrose pulmonar, depressão e 
esterilidade. No Brasil, um estudo realizado na cidade de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, um dos 
maiores produtores de soja desta região, detectou em todos os leites maternos analisados, vestígios 
de DDT, agrotóxico banido do Brasil há mais de dezanos. Contudo, os casos mais alarmantes são os 
de aumento na taxa de suicídio. Tomemos como exemplo o caso dos índios Guarani-Kaiowás que, 
depois de um longo processo de usurpação de suas terras, estão atualmente ilhados por 
monocultivos de algodão. Além de viverem no entorno das fazendas e respirarem vestígios destas 
substâncias no ar, foram obrigados a trabalhar nos grandes empreendimentos. Coo resultado, a taxa 
de suicídio entre estes índios é muito maior que a média nacional. Resta salientar que muitos 
agrotóxicos causam problemas neurológicos e depressão. 
Outro produto, o glifosato (Raundup), o herbicida mais amplamente usado no mundo, está 
relacionado com muitos sintomas agudos, a saber: eczema, problemas respiratórios, pressão 
sanguínea elevada, reações alérgicas e câncer. Testes de laboratório mostram uma série de efeitos 
colaterais, mesmo em baixas dosagens. Cerca de 111.000 toneladas de glifosato foram aplicadas em 
todo o mundo no ano de 2005. O DBCP - atualmente banido de muitos países - causou a esterilidade 
de 8.000 trabalhadores de plantações de banana na Costa Rica. Estudos recentes por ONGs 
estadunidenses, detectaram níveis desta substância em leites maternos, numa dosagem maior que 
1000 vezes à permitida para a água potável na Europa. Entretanto, o consumo de agrotóxicos pode 
ocorrer através de outras vias, como a ingestão de água potável. Em um estudo realizado no estado 
do Ceará, detectou indícios de pelo menos três agrotóxicos em todas as amostras de água utilizadas 
para o consumo humano em dois municípios. 
Apesar da Revolução Verde focar a agricultura empresarial parte de suas tecnologias 
chegaram aos agricultores familiares, sobretudo o agrotóxico. Sobretudo pela ação de 
extensionistas rurais, estes agricultores foram persuadidos a incorporar o uso de insumos químicos 
em suas propriedades. Esta conversão é de fácil compreensão, afinal, é menos trabalhoso ao 
agricultor aplicar um produto químico que “magicamente” encerra as pragas e as ervas não 
desejadas que capinar as plantações. Contudo, os malefícios não são explicitados. Como resultado, 
eles compram o que está disponível no local, tem pouca educação sobre a necessidade de proteção 
e não sabem como obter os melhores benefícios do uso dos pesticidas. 
Diante do exposto, os impactos do uso dos agrotóxicos, alcançam trabalhadores das 
fábricas destas substâncias, da agricultura, consumidores finais no campo e na cidade, dentre outros 
cidadãos, o que representa, segundo a ABRASCO, um cenário de saúde pública, pois toda a 
população brasileira tem seu direito humano a alimentação saudável e adequada, como é 
apresentado na Constituição Federal, violado 
 
Efeitos do uso dos agrotóxicos na ambiente: 
Como afirmado, o uso dos agrotóxicos focam, essencialmente, o combate a pragas, seja 
de qualquer natureza. Entretanto, salve algumas poucas exceções, são substância têm amplo 
espectro de atuação, sobretudo os primeiros agrotóxicos desenvolvidos, como o glifosato. Portanto, 
além dos organismos indesejados, toda a biota do ecossistema em que foi aplicado. Como resultado, 
um sem número de organismos que não são alvo da aplicação podem ser eliminados, reduzindo a 
biodiversidade local. Resta salientar que esta biodiversidade é responsável por muitos serviços 
ambientais importantes para as lavouras, como ciclagem de nutrientes, e controle biológico de 
pragas. Além disso, sabe-se que as populações de organismos apresentam uma diversidade genética 
inerente. Com o uso do agrotóxicos, alguns representantes das populações de pragas são 
selecionados, e esta característica é, evidentemente, propagada para a próxima geração, 
produzindo o que se conhece como “super pragas”. Segundo dados da Food and Agriculture 
Organization (FAO) atualmente existem 520 insetos e 150 doenças vegetais imunes aos pesticidas. 
A resposta mais comum dos agricultores a estes problemas, é aumentar a dosagem das aplicações, 
ou adquirir pesticidas mais poderosos, tornando o problema ainda pior. Por serem resistentes e não 
serem eliminados no ambiente, estes insetos acabam por compor o produto final. Na Inglaterra, 
20000 mil ácaros foi detectado em uma pasta alimentícia para bebês. Já existem agrotóxicos com 
ação mais específica, contudo, no terceiro mundo, as sustâncias mais amplas são disparadamente 
as mais consumidas, pois são mais baratas. Finalmente, o uso exacerbado de agrotóxicos contamina 
os lençóis freáticos, seus resíduos se espalham através do ar, resultando em chuvas químicas. 
 
Agrotóxicos e legislação brasileira: um espaço de disputa 
No Brasil, o a Revolução Verde consolidou-se ao longo dos anos 1970, concomitantemente 
à constituição de um parque industrial de insumos para a agricultura. No caso da indústria de 
agrotóxicos, foi de fundamental importância a criação em 1975 do Programa Nacional de 
Defensivos Agrícolas, no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento, que proporcionou 
recursos financeiros para a criação de empresas nacionais e a instalação de subsidiárias de empresas 
transnacionais no país. Contudo, o marco regulatório neste momento de instalação das indústrias 
no Brasil era defasado e pouco rigoroso, pois de baseava no Regulamentode Defesa Sanitária 
Vegetal de 1934, que sofreu alterações significativas em 1978, mas permaneceu em vigor até 
1989. Este cenário facilitou o rápido registro de substâncias agrotóxicas, muitas delas já banidas 
pelas legislações de países desenvolvidos. 
Em 1989, José Sarney assina uma nova lei (7.802), regulamentando a fabricação e o uso 
dos agrotóxicos no país, em substituição ao antigo regulamento de 1934, tornando o processo de 
registro de agrotóxicos muito mais exigente. Conhecida como a “Lei dos Agrotóxicos”, este marco 
dispõe sobre a pesquisa, produção, embalagem, comercialização e, ainda, sobre a inspeção e 
fiscalização destes produtos. Segundo o documento, agrotóxicos são “produtos e os agentes de 
processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no 
armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, 
nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e 
industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da 
ação danosa de seres vivos considerados nocivos”. A nova legislação previu, desde a proibição do 
registro de novos agrotóxicos, caso a ação tóxica deste não fosse igual ou menor do que a de outros 
produtos já existentes destinados a um mesmo fim,até a possibilidade de impugnação ou 
cancelamento do registro por solicitação de entidades representativas da sociedade civil. Foi 
instituída a obrigatoriedade do receituário agronômico para a venda de agrotóxicos. 
Contudo, o mais importante para a presente discussão é que a nova estrutura de registro 
dos agrotóxicos passou a ser compartilhada pelos Ministérios da Agricultura, da Saúde (ANVISA) e 
do Meio Ambiente (IBAMA). A ANVISA coube a avaliação toxicológica. Assim, o novo marco 
regulatório sedimentou nas mãos do Poder Executivo a prescrição dos parâmetros oficiais que 
deveriam ser cumpridos para as avaliações que concederiam o registro, não estiveram sujeitos à 
aprovação do Congresso Nacional. E é nesta estrutura que encontramos a maior disputa política em 
relação aos agrotóxicos no Brasil. 
Existem muitas disputas nesta ceara (é isso mesmo, ceara?? Ou esfera??) jurídica, 
envolvendo diversos atores públicos e privados. Entretanto, ressalta-se o enfrentamento entre a 
Anvisa e a Confederação Nacional da Agricultura, grupo que defendo o uso exacerbado dos 
agrotóxicos e busca alternativas de liberação mais rápida no mercado de novos produtos ou 
produtos equivalentes. O discurso da CNA é que um afrouxamento no registro destes agrotóxicos 
resulta em menores preços de produção. Do outro lado, a ANVISAe a sociedade civil, exige que os 
rígidos critérios de registro sejam mantidos. Seguindo este critério, a Anvisa proibiu em XXXX(???), 
seguindo indicação do Ministério Público, 10 agrotóxicos amplamente utilizados no país, inclusive o 
glifosato (ainda em processo de proibição no Brasil / na Argentina já teve suspensão de uso). De 
outra forma, a pressão da CNA conseguiu em 2002 e em 2006 tornar o registro destes produtos 
menos rígidos, pelos decretos 4.074 e 5.981. Outro ganho político desta bancada ruralista foi 
conceder a isenção de 80% ICMS, PIS/PASEP, COFINS e IPI aos agrotóxicos. Resta salientar, ainda 
nesta discussão jurídica que o presidente Lula sancionou, em 2009, a lei 11.936, que proíbe a 
fabricação, a importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso do 
DDT, no Brasil, um dos mais nocivos existentes. 
Neste sentido, buscou-se fazer um breve histórico dos marcos jurídicos que versam sobre 
o uso dos agrotóxicos no Brasil, evidenciando um campo de disputas e conflito entre interesses 
públicos e privados. Espera-se ter revelado que os argumentos do setor agrícola e agroindustrial 
buscam, em essência, legitimar seus interesses de expansão do mercado nacional, atual maior 
consumidor sestas substâncias no mundo. 
 
Considerações finais: 
Por fim, deseja-se discutir, mesmo que brevemente, como a extensão rural contribuiu para 
a construção deste cenário que a ABRASCO categoriza como um problema de saúde pública (obs: 
extensão rural na prática da difusão / universidades e entidades de pesquisa na 
‘comprovação/confirmação’ de resultados e na formação de novos agentes de assistência técnica / 
e os bancos/governo com as linhas de créditos que exigiam um projeto elaborado pelos órgãos de 
assistência técnica com o emprego desses pacotes tecnológicos). A ação extensionista da última 
metade do século passado, se caracterizou pela simples difusão de um conhecimento científico, tido 
como melhor, para uma realidade rural entendida como pior. O exercício era transferir uma 
tecnológica totalmente alienígena e exótica aos agricultores, sem refletir sobre os seus impactos. 
Acreditava-se, e ainda acreditam alguns acadêmicos e extensionistas, que a inovação tecnológica é 
a solução de todos os problemas do campo. Estes mesmo profissionais assumem que outros 
sistemas cognitivos, como os saberes tradicionais, são inválidos e incapazes de apresentar soluções 
as demandas existentes. Como resultado, a massiva conversão das formas produtivas ocorridas no 
último século e seus impactos, aqui apresentados, foi potencializada pela ação dos extensionistas 
acríticos. Contudo, a aproximação da extensão rural com a pedagogia libertadora permite 
compreender o profissional das ciências agrárias como um ser pedagógico, capaz de, 
dialogicamente, construir conhecimentos participativos, mais ricos e complexos, ao reconhecer que 
seus saberes não são melhores e nem piores que os saberes camponeses, apenas diferentes. Apenas 
esta posição emancipatória é capaz de reformular os passivos oriundos da Revolução Verde. 
Finalmente, toda a problemática associada aos agrotóxicos exposta acima, junto com 
outras chagas sociais, ambiental e econômicas oriundas da adoção do pacote “Revolução Verde”, 
fortaleceu a proposta Agroecológica (a Agroecologia data da década de 20, foi ‘esquecida’ e veio a 
tona na década de 90, mas os movimentos contra a agricultura convencional datam da década de 
70). Este campo científico rompe com os paradigmas dominantes na produção do conhecimento e 
utiliza uma visão sistêmica para compreender as unidades produtivas, buscando a sustentabilidade 
ambiental sem necessidades de insumos externos. A Agroecologia se apresenta como um modelo 
produtivo alternativo que (não é modelo!! É uma ciência, veja observação na apresentação pag 1. 
A agroecologia abrange diferentes modelos de produção – orgânica; ecológica; natural; 
biodinâmica entre outras... sei que nossa legislação para produção de orgânicos coloca 
agroecologia como uma forma de produção orgânica, mas isso ta errado e gera muito discussão a 
fim de alterar esse parágrafo...), partindo de uma visão sistêmica, busca alimentar sistemas 
agrícolas complexos para que as interações ecológicas e sinergismos entre os componentes 
biológicos criem, eles próprios, a fertilidade do solo, a produtividade e a proteção das culturas. A 
agroecologia fornece os princípios ecológicos básicos para o estudo e tratamento de ecossistemas 
tanto produtivos quanto preservadores dos recursos naturais, e que sejam culturalmente sensíveis, 
socialmente justos e economicamente viáveis.

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