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APRENDIZAGEM E COMUNICAÇÃO: OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (Fonte: http://www.comoestudar.com.br/viewtopic.php?p=1810&sid=ffc2dde58cd86066cd4070b2c5d6e33b). Muitos desafios inerentes à reflexão sobre o processo pedagógico fazem parte do mesmo desafio de pensar a educação a distância. Afinal se nos esforçarmos um pouco em realizar um trabalho rememorativo, podemos dizer que a educação SEMPRE foi algo feito a distância. A questão que se coloca é que há distâncias maiores e menores Por mais próximos que estejam um do outro o mestre e o aprendiz, por mais alta e audível que seja a voz do raposo que recita os poemas de Homero para os jovens helenos de 30 séculos atrás (antes mesmo da invenção da escrita no Ocidente), e por mais presentes que professores e alunos estejam uns diante dos outros, a aprendizagem não se dá de forma imediata através de uma assimilação instantânea daquilo que está sendo dito pelo melhor professor e ainda que ele esteja diante do melhor dos alunos, nas melhores condições possíveis de aprendizagem, como se não houvesse distância alguma. SEMPRE HÁ DISTÂNCIAS. O conhecimento só precisa ser transferido (ou construído com a mediação de alguém) porque há uma distância. O pai não é o filho. Há uma distância entre eles. E o conhecimento de um precisa ser transmitido ao outro. Se não se quer falar de transmissão, mas de construção, ainda assim é preciso alguém que colabore neste processo de edificação do conhecimento. E as teorias da aprendizagem buscam entender os meandros deste processo de transmissão, de assimilação, de construção ou de aquisição do conhecimento. E todas estas teorias nos ajudam a evitar um ou outro ruído que possa atrapalhar este processo, bem como criar condições ótimas para a ocorrência eficaz da aprendizagem. O conhecimento que temos de epistemologia (sou professor de filosofia da ciência) nos faz crer que todas estas teorias têm certo grau de aderência ao processo de aprendizagem, bem como podem ser úteis para melhorar a performance do professor, do aluno e do processo mesmo de aprender. Todavia, sabemos que como toda e qualquer teoria, nenhuma delas pode pretender a verdade absoluta sobre o objeto ou o fenômeno que pretendem compreender, mesmo porque todas estão falando mais ou menos da mesma coisa e cada teórico criou um vocabulário específico que tem sua validez intersubjetiva e sua coerência conceitual restrita ao interior da própria teoria. Em breve assistiremos a emergência de mais uma ou outra teoria e cada uma delas será um pouco mais abrangente, ou um pouco mais específica e a sucessão e a substituição de uma pela outra acarretarão todos os processos descritos por Thomas Kuhn em seu livro a Estrutura das Revoluções Científicas. Alguns teóricos de uma geração anterior resistirão apaixonadamente à nova teoria, como se a sua teoria fosse a última explicação possível. A nova geração dará sua adesão à nova teoria. E ao menos durante uma geração assistiremos aos embates entre o velho e o novo. Até que o novo alcance sua maturidade, e dê início ao seu próprio processo de obsolescência e venha outra teoria mais nova que irá subverter os pressupostos daquela teoria que já foi nova um dia, mas que agora exige reajustes, substituições, correndo até mesmo o risco de ser completamente descartada e abandonada. Portanto, as teorias da aprendizagem fazem o que de melhor elas podem fazer nos dias de hoje. E suas pistas e suas orientações, ainda que não possam ser consideradas definitivas e acabadas, é o que temos de melhor. As teorias estudadas nesta unidade, certamente são as melhores teorias que possuímos hoje, e são elas que nos dão a melhor ferramenta para ajudar o aluno a aprender melhor, para ajudar o professor a ensinar melhor e para fazer com que os frutos da relação entre ambos sejam também os melhores. Portanto, neste nosso esforço de compreender as tramas do processo de educação a distância o que temos de melhor são as teorias ora estudadas. Há, no entanto, todo um processo de assimilação e processamento individual destas informações que as teorias da aprendizagem ainda não alcançam. Em geral as teorias atuais da aprendizagem não atingem a natureza neurofisiológica da assimilação da informação. Nós ainda mal sabemos o que é a memória. Sabemos que há memórias de curto prazo, memórias de longo prazo, que as memórias da segunda infância e da adolescência são as impressões mais fortes e que elas podem ser recuperadas por pessoas com idade muito avançada; sabemos de algumas regiões do neocórtex responsáveis pelo armazenamento de alguns registros, sabemos que há relações entre o crescimento das conexões sinápticas/conexões dendríticas, a aquisição de novos conhecimentos e até alguns meses atrás acreditávamos que eram os neurônios os responsáveis por todo o processo de aprendizagem e armazenamento de nosso conhecimento. Agora criamos novas tecnologias que permitem a observação das chamadas células gliais e „parece‟ que serão elas as próximas protagonistas da nossa futura compreensão do processo humano de cognição. Mas ainda não sabemos a natureza eletroquímica ou bioquímica da aprendizagem. Sabemos que um filhote de homo sapiens, recém-nascido há 35000 anos, e que fosse trazido para os nossos dias “através de um túnel do tempo”, teria as mesmas capacidades cognitivas que nós temos hoje. Ele aprenderia como nós aprendemos e não se distinguiria em nada de um de meus filhos. O que quero dizer com isto é que nossos processos de aprendizagem se aceleram apenas porque temos mais acesso às informações, estamos mais expostos às informações, mas não porque sejamos melhores que os homens de quarenta mil anos atrás. De lá para cá criamos formas de acelerar a aprendizagem porque os homens sábios e velhos se sentiram responsáveis por transmitir o conhecimento de suas tribos e de seus ancestrais aos seus descendentes, como forma de preservar a espécie e a cultura de seu povo e com isto os descendentes não teriam que aprender tudo partindo do zero. Todavia pouquíssimas pessoas tinham acesso a estes sábios da antiguidade que podiam dispor de seu tempo para ficar contando histórias para seus descendentes. Posteriormente conseguimos registrar a voz destes homens sábios em meios físicos. Criamos algo estupendo chamado escrita. Percebemos que os sons poderiam ser decomponíveis em sinais gráficos e criamos as vogais para identificar os sons que não são obstaculizados por nenhuma parte do aparelho fonador. Depois criamos as consoantes que variam de som conforme o obstáculo colocado ao som que emitimos. O D e o T são consoantes linguodentais porque seus sons derivam do obstáculo provocado pela língua que se encontra com os dentes. E assim por diante (linguopalatais – a língua e o palato; sibilantes, guturais,...). Percebemos que nosso pensamento se materializa na nossa voz e que podíamos representar os sons e nossa voz em sinais impressos num meio físico e com isto transmitir nosso pensamento através da madeira, da tábua de argila e depois através do papel. A escrita é uma forma de transmissão de pensamento. E com ela podemos dizer que foi inaugurada, efetivamente, a educação a distância. A Escrita é a Mãe da educação a distância. A rigor, queremos dizer que NÃO HÁ EDUCAÇÃO QUE NÃO SEJA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA. Em todo processo educativo há uma distância que tentamos diminuir ao máximo para que o processo seja o mais eficaz possível, seja o mais imediato possível. Em última análise, em todo processo educativo há uma distância ontologicamente intransponível que é a distância da alteridade. Eu sou eu mesmo e não souo outro. O outro é ele mesmo, que por sua vez é diferente de mim. A qualidade e a profundidade da relação podem minimizar e reduzir toda e qualquer distância. Mas é impossível eliminá-la. Portanto, sempre haverá um salto mortal que o professor jamais poderá dar no lugar do aluno. A águia nunca poderá voar no lugar do filhote. Ela poderá ensinar o que houver de melhor. Mas ela também precisará empurrar o filhote do cume do mais alto abismo para fazer com que ele se vire e voe sozinho. Todo e qualquer professor que indique um texto para ser lido pratica educação a distância (e até hoje, nós professores sabemos da dificuldade que é fazer um aluno ler alguma coisa de qualidade). As dificuldades da educação a distância nasceram com a escrita. Afinal o professor está transmitindo o que ele quer que seja assimilado através de um meio físico. E o aluno ou o estudante ou o aprendente deverá assimilar o que está naquele meio físico, através da leitura, fazendo com que aquilo que está codificado no papel torne-se som (caso ele precise ler em voz alta), para que depois aquele som torne-se novamente pensamento. Mas agora, trata-se do pensamento de quem aprendeu e não de quem indicou o texto ou de quem escreveu o texto. De forma um pouco mais sofisticada podemos transmitir nosso pensamento através de uma fita magnética de áudio. Ou ainda podemos transferir nosso conhecimento através de uma fita magnética de áudio e vídeo. Mais. Neste exato momento eu estou transformando meus pensamentos em fonemas que por sua vez se tornarão bytes e depois bits (sinais de ZERO e UM) para que este texto chegue até minha professora que terá diante de si um computador, que transformará sinais eletroeletrônicos em bits, depois em bytes, depois em letras do alfabeto português para em seguida tornar-se um texto legível e atingir o cérebro e a mente de quem estiver lendo isto, no papel ou na tela do computador. Não é possível que eu encoste minha testa na testa de um aluno e que depois de alguns segundos ele possua os meus conhecimentos. A transmissão do conhecimento sempre precisará (ao menos por enquanto) de um meio físico: o AR para se transmitir o som, a LUZ para que minha imagem seja refletida e alcance a retina do aprendente, o papel para que meus pensamentos sejam registrados através da escrita, os cabos ADSL ou RJ 45 através dos quais a Internet chega até minha casa e até a casa de meus alunos. O único processo imediato de aprendizagem já vislumbrado, sem mediação alguma é aquilo que podemos ver no filme Matrix, quando o protagonista - Neo - faz uma espécie de download e de repente ele aprende coisas de uma forma praticamente imediata sem que nunca soubesse nada a respeito das informações recebidas. Através de um conector introduzido em sua nuca ele recebe diretamente no seu sistema nervoso central qualquer informação que ele desejar receber. Hoje através de um download eu consigo carregar em meu palm, um aparelho de 130 gramas, quase “15 quilos de leis”, com centenas de milhares de artigos e incisos, dezenas de fotos de minha família, cinco anos de aulas presenciais de cinco anos de direito, todas as minhas aulas do doutorado em filosofia, todas as minhas aulas do meu MBA, toda a obra de Machado de Assis e de Antônio Vieira, Tudo isto num pedaço de silício com 130g. E o máximo que consigo é armazenar tudo isto no meu bolso junto ao meu peito. Sem dúvida que este tipo de acesso é muito mais rápido e ágil do que o acesso tradicional aos códigos de papel, pesados, sujos, com baixa portabilidade e de difícil localização de assuntos. Todavia todas estas informações que estão no Palm, ainda não estão no meu cérebro e os processos de internalização destas informações ainda são lentos. Ainda que estas informações não estejam no meu cérebro ao menos elas estão bem mais próximas, e nisto já há algum ganho. Seja qual for a teoria da aprendizagem à qual eu adira, e por melhor que eu assimile qualquer uma delas, o meu processo de assimilação da informação ainda será muito lento. E como tempo é algo que não pode ser desperdiçado nos dias de hoje é necessário que o aprendente seja capaz, sobretudo de aprender alguns procedimentos anteriores a qualquer tipo de assimilação de natureza conteudística. A grande maioria destas teorias ainda está aquém do período da Internet. São teorias do século passado. Com o volume de informações que temos hoje é necessário que estabeleçamos certos procedimentos prévios ao processo mesmo de aprendizagem. Na verdade, a assimilação destes procedimentos prévios já deverá ser aprendida para facilitar o processo ulterior de garimpagem da informação. E com isto acreditamos que conseguimos alcançar o objetivo deste texto: falar sobre os desafios da educação a distância no século XXI. EXPOSIÇÃO À INFORMAÇÃO - Em primeiro lugar, é sabido que estamos diuturnamente expostos a uma torrente incessante de informações. E, portanto, devemos inicialmente fornecer aos nossos aprendentes, estudantes, alunos instrumentos que lhes permitam expor-se a fontes melhores de informação de forma consciente e voluntária. Ou fazer com que eles aprendam a se tornar refratários às informações que os atingem de forma agressiva, sem que eles mesmos tivessem solicitado estas informações. CLASSIFICAÇÃO DA INFORMAÇÃO - Em segundo lugar, é necessário que o aprendente seja capaz de classificar o tipo de informação à qual ele está exposto ou à qual ele tem acesso. Ele precisa saber que há três níveis diferentes de informação: A. A informação IMPRESCINDÍVEL, B. A informação IMPORTANTE, C. A INFORMAÇÃO DESCARTÁVEL ou INÚTIL. PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO - Em terceiro lugar, depois de classificar a informação ele precisa saber realizar três procedimentos: ele deve saber como PROCESSAR estes três tipos de informação. E cada tipo de processamento diz respeito a cada um dos tipos de informação: A. A INFORMAÇÃO IMPRESCINDÍVEL deve ser assimilada e deve se tornar CONHECIMENTO. Se o estudante detectou que a informação é essencial e deve ser assimilada, o aprendente deve se esforçar por assimilá-la o mais rápido possível e da forma mais eficaz possível. B. a informação que não precisa ser assimilada, mas que é IMPORTANTE deve ter condições de ser acessada ulteriormente. O aprendente deve saber onde está a informação e como alcançá-la da forma mais rápida e ágil possível. C. a INFORMAÇÃO INÚTIL que não deve ser nem estocada e que nem é necessário que se saiba como e onde recuperá-la deve ser decididamente descartada. Nossa modesta conclusão é que não se deve aprofundar qualquer tipo de hiato entre educação presencial e educação a distância, pois julgamos que todo processo educativo é constitutivamente um processo marcado por uma certa distância. A questão que se coloca é a respeito da natureza dos meios físicos que veiculam o conhecimento. Um professor inteligentíssimo que tenha uma voz de taquara rachada e que só fale em dó menor durante 90 minutos, andando de um lado ao outro da sala, como um leão enjaulado pode ser um milhão de vezes pior do que um computador XT com tela de fósforo em MS- DOS Portanto as questões que se colocam a respeito da voz do professor, de sua monotonia e de sua quilometragem em sala de aula são equivalentes às questões sobre o design instrucional de um curso feito através da Internet. Um professor precisa de um bom fonoaudiólogo, outro professor precisará de um bom web designer. E ambos vão precisar conhecer ao menos algum rudimento de teorias da aprendizagem para saber como utilizar melhor seus recursos pedagógicos. Neste sentido, reafirmo que os desafios da educaçãoem geral são, em suas grandes linhas, os mesmos para a educação presencial e para a chamada educação a distância, sobretudo a partir do momento que percebermos que não há tantas diferenças entre uma e outra, e que talvez seja apenas o brilho da novidade (sobretudo da Internet) que nos faça ver a EAD com olhos diferentes dos olhos com os quais enxergamos a educação presencial. No entanto, colocamos como desafio esta tarefa de conseguir fazer com que o aluno saiba ao menos diferenciar o imprescindível e o importante do inútil, para que consiga processar estes três tipos de informações através de formas distintas de processamento. E partindo disto, será indiferente qual o modelo teórico que dará suporte à compreensão do fenômeno da aprendizagem, desde que ele consiga fazer com que o aprendente atinja os resultados previstos em seu processo pedagógico. RUBENS GODOY SAMPAIO
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