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Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 1 1.1. Gráficos e Modelos. 1.2. Modelos lineares e Taxas de variação. 1.3. Funções e seus gráficos. 1.4. Exercícios. Unidade 1 – Relações Funcionais e Gráficos Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 2 1.1 – Gráficos e Modelos. O matemático francês, René Descartes, revolucionou o estudo da matemática combinando a álgebra com a geometria. Ele criou um plano de coordenadas que permitiu que conceitos geométricos pudessem ser formulados analiticamente e conceitos algébricos também pudessem ser vistos graficamente. Esta mesma abordagem pode ser utilizada no estudo do cálculo diferencial e integral. Em decorrência, o CDI será visto por múltiplas perspectivas: gráfica, analítica e numérica. Assim como os números reais podem ser representados por pontos na reta dos reais, pares ordenados de números reais podem ser representados por pontos no plano conhecido como plano cartesiano em homenagem à René Descartes. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 3 O Plano Cartesiano O plano cartesiano é formado a partir de duas retas mutualmente perpendiculares, como as da Figura 1.1. A reta horizontal é chamada de eixo x, e a reta vertical, de eixo y. O ponto de interseção das duas retas recebe o nome de origem, e os dois eixos dividem o plano em quatro partes conhecidas como quadrantes. A cada ponto do plano está associado um par ordenado (x , y) de números reais x e y, conhecidos como coordenadas do ponto. A coordenada x corresponde à distância dirigida do eixo y ao ponto, e a coordenada y corresponde à distância dirigida do eixo x ao ponto (Figura 1.2). Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 4 Exemplo 1 Plote os pontos (-1 , 2) , (3 , 4) , (0 , 0) , (3 , 0) e (-2 , -3) no plano cartesiano. Solução Para plotar o ponto (-1 , 2) imagine uma reta vertical passando pela coordenada -1 do eixo x e uma reta horizontal passando pela coordenada 2 do eixo y. A interseção dessas duas retas é o ponto (-1 , 2). Os outros quatro pontos podem ser plotados de forma análoga e aparecem na Figura 1.3. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 5 O Gráfico de uma equação Considere a equação 3 𝑥 + 𝑦 = 7. O ponto (2 , 1) é um ponto solução da equação por que a equação é satisfeita (verdadeira) quando 𝑥 = 2 e 𝑦 = 1. Esta equação tem muitas outras soluções, tais como (1 , 4) e (0 , 7). Para se encontrar outras soluções de forma sistemática, resolveremos a equação original para y. Assim, temos a solução analítica: 𝑦 = 7 − 3 𝑥. Em valores tabelados, na chamada aproximação numérica: x 0 1 2 3 4 y 7 4 1 -2 -5 A partir da tabela, podemos verificar que (0 , 7), (1 , 4), (2 , 1), (3 , −2) e (4 , −5) são pontos solução da equação original 3 𝑥 + 𝑦 = 7. Como muitas outras, esta equação tem um número infinito de pontos solução. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 6 O conjunto de todos os pontos solução, no plano cartesiano, é denominado de gráfico da equação como mostrado na Figura P1. Note que os esboço mostrada na Figura P1 se refere ao gráfico de 3 𝑥 + 𝑦 = 7, mesmo que representado apenas por uma porção do conjunto solução. Um cuidado especial deve ser tomado, ao se trabalhar com gráficos, diz respeito ao número de pontos a serem plotados. Com poucos pontos, pode-se obter uma representação equivocada do gráfico da equação. Por exemplo, o esboço do gráfico de 𝑦 = 1 30 𝑥 (39 − 10 𝑥2 + 𝑥4) a partir dos pontos (−3 , −3), (−1 , −1), (0 , 0), (1 , 1) e (3 , 3), está mostrado na Figura P3a nos induzindo a concluir que se trata de uma equação de reta. Ao plotar o gráfico utilizando um número maior de pontos, vemos que o gráfico é mais complexo que uma reta, como visto na Figura P3b. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 7 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 8 Em outra situação, quando o número de pontos é pequeno, a forma do gráfico pode não ser representada adequadamente. Por exemplo: qual é a forma correta de ligar os quatro pontos da Figura 1.15? Na falta de mais informações, qualquer um dos gráficos da Figura 1.16 representa uma possibilidade. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 9 Gráficos de pontos Gráficos de pontos, também chamados de Diagrama de Dispersão, representam a plotagem de pontos, geralmente tabelados, no plano cartesiano sem que estejam interligados por segmentos de reta ou linhas suaves. A tabela a seguir mostra uma quantia A (em milhões de dólares) gastas em snowmobiles nos Estados Unidos, de 1997 a 2006. t 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 A 1006 975 883 821 894 817 779 712 826 741 Para plotar um gráfico de pontos com base nos dados desta tabela, basta representar cada par de valores por um par ordenado (t , A) e plotar os pontos resultantes, como mostra a Figura 1.4. Assim, por exemplo, o primeiro par de valores é representado pelo par ordenado (1997 , 1006). Observe a quebra no início do eixo t que indica que os números entre 0 e 1990 foram omitidos. Analogamente, os números entre 0 e 600, no eixo y, também foram omitidos. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 10 O gráfico de dispersão à esquerda, é apenas uma das formas de representar dados graficamente. Duas outras formas aparecem nos gráficos acima. O primeiro é um histograma (gráfico de barras) e o segundo é um gráfico de linhas. Essas três representações gráficas foram criadas com o auxílio de um software gráfico. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 11 Softwares gráficos Traçar gráficos pode se tornar uma ação fácil e rotineira com a utilização de softwares gráficos. No entanto, mesmo com esta tecnologia, é possível sermos induzidos a erros de interpretação se a utilizarmos de maneira equivocada. Por exemplo, os gráficos mostrados na Figura P4, podem nos induzir a concluir que são decorrentes de equações diferentes. Na verdade, os gráficos, à esquerda, são trechos da equação 𝑦 = 𝑥3 − 𝑥2 − 25. O gráfico da esquerda, em decorrência da escala utilizada, nos mostra um trecho (janela vista) que nos induz a pensar que se trata do gráfico de uma reta. O gráfico da direita mostra uma janela, determinada pelas escalas dos eixos x e y, que representam melhor a equação real. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 12 Desta forma, ao utilizarmos gráficos para representarem equações devemos estar atentos ao número de pontos utilizados e também as escalas da janela de amostragem nos eixos cartesianos. Sugerimos a utilização do software Matlab para o traçado de gráficos ao longo do curso. Interceptos de um gráfico Dois tipos de pontos solução que são particularmente úteis para o esboço de um gráfico de uma equação são aqueles que apresentam zero na coordenada x ou na coordenada y. Tais pontos são denominados interceptos por que eles são pontos nos quais o gráfico intercepta os eixos x ou y. O ponto (𝑎 , 0) é um intercepto_x do gráfico de uma equação quando for um ponto solução da equação. Para encontrarmos os interceptos_x de um gráfico, fazemos 𝑦 = 0 e resolvemos a equação para x. O ponto (0 , 𝑏) é um intercepto_y do gráfico de uma equação quando for um ponto solução da equação. Para encontrarmosos interceptos_y de um gráfico, fazemos 𝑥 = 0 e resolvemos a equação para y. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 13 É possível, para um gráfico, não ter interceptos ou ter vários. A Figura P5 mostra alguns casos: Pontos de Interseção Um ponto de interseção entre dois gráficos é um par ordenado que representa uma solução para as equações que definem os dois gráficos. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 14 Exemplo 2 Determine as interseções, da equação dada, com os eixos x e y. (a) 𝑦 = 𝑥3 − 4𝑥; (b) 𝑥 = 𝑦2 − 3 Solução (a) Seja y = 0. As soluções da equação 𝑥3 − 4𝑥 = 𝑥(𝑥2 − 4) = 𝑥(𝑥 + 2)(𝑥 − 2) = 0 são x = 0 , x = 2 e x = -2. Logo, as interseções com o eixo x são: (0 , 0) , (2 , 0) , (-2 , 0) como mostrado na Figura P6. Seja x = 0. Nesse caso, y = 0. A interseção com o eixo y é: (0 , 0). Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 15 (b) Seja y = 0. Nesse caso, x = -3. Interseção com o eixo x: (-3 , 0). Seja x = 0. As soluções da equação 𝑦2 − 3 = 0 são 𝑦 = √3 𝑒 𝑦 = −√3. As interseções com o eixo y são: (0 , √3) , (0 , −√3), como mostra a Figura 1.19. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 16 Simetria de um gráfico Conhecer a simetria de um gráfico antes de iniciar seu esboço será útil por que reduzirá, pela metade, a determinação dos pontos a serem utilizados. Três tipos de simetria podem ser utilizados para esboçar o gráfico de uma equação, como ilustrado na Figura P7. 1. Um gráfico é simétrico, em relação ao eixo y, quando os pontos (𝑥 , 𝑦) e (−𝑥 , 𝑦) pertencerem a esse gráfico. Isto significa que o trecho do gráfico à esquerda do eixo y é uma imagem em espelho do trecho à direita do eixo y. 2. Um gráfico é simétrico, em relação ao eixo x, quando os pontos (𝑥 , 𝑦) e (𝑥 , −𝑦) pertencerem a esse gráfico. Isto significa que o trecho do gráfico abaixo do eixo x é uma imagem em espelho do trecho acima do eixo x. 3. Um gráfico é simétrico, em relação à origem, quando os pontos (𝑥 , 𝑦) e (−𝑥 , −𝑦) pertencerem a esse gráfico. Isto significa que o gráfico não muda se ocorrer uma rotação de 180𝑜 em relação à origem. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 17 Testes de simetria 1. O gráfico de uma equação em x e y é simétrico com respeito ao eixo y quando substituirmos (x) por (-x), na equação original, e encontrarmos uma equação equivalente. 2. O gráfico de uma equação em x e y é simétrica com respeito ao eixo x quando substituirmos (y) por (-y), na equação original, e encontrarmos uma equação equivalente. 3. O gráfico de uma equação em x e y é simétrica com respeito à origem quando substituirmos (x) por (-x) e (y) por (-y), na equação original, e encontrarmos uma equação equivalente. Obs.: 1. O gráfico de um polinômio tem simetria com respeito ao eixo y quando cada parcela tem expoente par ou é uma constante. Por exemplo, o gráfico de 𝑦 = 2 𝑥4 − 𝑥2 + 2 é simétrico em relação ao eixo y. 2. Analogamente, o gráfico de um polinômio tem simetria com respeito à origem quando cada termo tem expoente ímpar, como ilustrado no Exemplo 3. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 18 Exemplo 3 Teste a simetria do gráfico da equação 𝑦 = 2 𝑥3 − 𝑥 em relação: (a) eixo y; (b) à origem. Solução Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 19 Exemplo 4 - Utilização de Interceptos e Simetria para esboçar um gráfico: Esboce o gráfico da equação 𝑥 − 𝑦2 = 1. Solução a) Manual: O gráfico é simétrico com respeito ao eixo x por que substituindo y por -y encontramos equação equivalente. 𝑥 − 𝑦2 = 1 Escrever equação original. 𝑥 − (−𝑦)2 = 1 Substituir (y) por (-y). 𝑥 − 𝑦2 = 1 Equação equivalente. Isto significa que o trecho do gráfico abaixo do eixo x é imagem espelho do trecho acima do eixo x. Para esboçar o gráfico, deveremos encontrar o intercepto_x e arbitrar pontos acima do eixo x. Plotar os pontos espelhos, daqueles arbitrados, trocando o sinal da coordenada y. O gráfico obtido será aquele da Figura P9. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 20 b) Utilizando software gráfico Softwares gráficos são implementados de modo que os vários pontos solução são determinados, geralmente, a partir de uma ou mais equações onde uma variável é dependente de outra, por exemplo y é função de x. Para expressões de certas equações, necessitaremos dividir a expressão em duas ou mais partes conforme as restrições que esta possuir no domínio das variáveis. Assim, a equação que representa y como dependente de x, dada por 𝑦 = √𝑥 − 1, não poderá ser plotada nos softwares gráficos visto que o operador raiz quadrada fornece como resultado apenas os números positivos. Para obtermos, nestes softwares, os resultados numéricos aceitáveis para a equação original, deveremos dividir a equação original em duas outras de modo a atender aos valores possíveis que a variável y poderá assumir, ou seja: 𝑔𝑟á𝑓𝑖𝑐𝑜 𝑑𝑒 (𝑥 − 𝑦2 = 1) ≡ 𝑎𝑜𝑠 𝑔𝑟á𝑓𝑖𝑐𝑜𝑠 𝑑𝑒 { 𝑦1 = √𝑥 − 1 𝑦2 = −√𝑥 − 1 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 21 Exemplo 5 Encontre todos os pontos de interseção dos gráficos das equações: 𝑥2 − 𝑦 = 3 e 𝑥 − 𝑦 = 1. Solução Sequência analítica para a solução: 𝑦 = 𝑥2 − 3 Escrever 1ª equação original para y. 𝑦 = 𝑥 − 1 Escrever 2ª equação original para y. 𝑥2 − 3 = 𝑥 − 1 Igualar os valores de (y). 𝑥2 − 𝑥 − 2 = 0 Escrever na forma geral. (𝑥 − 2) (𝑥 + 1) = 0 Fatorar. 𝑥 = 2 𝑜𝑢 𝑥 = −1 Resolver para x. As correspondentes coordenadas y são obtidas substituindo os valores de x em qualquer uma das equações originais escritas para y. Logo, os dois pontos de interseção são: (2 , 1) e (−1 , −2) O gráfico das equações originais no plano cartesiano está mostrado na Figura P10. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 22 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 23 Modelos matemáticos A área de ciências exatas frequentemente utiliza equações, como modelos matemáticos de algum fenômeno, em suas diversas subáreas do conhecimento como física, química, engenharias, biofísica, economia entre várias outras. Para o desenvolvimento de um modelo matemática consideramos, principalmente, dois objetivos principais (frequentemente conflitantes): precisão e simplicidade. Em outras palavras, o modelo matemático deve ser simples o suficiente para permitir manipulações analíticas e ainda ser preciso o suficiente para que os resultados obtidos sejam significativos. Consequentemente, uma relação funcional entre duas grandezas pode ser expressa por uma equação matemática ou por um modelo matemático. Assim, por exemplo, a temperatura em graus Fahrenheit está relacionada à temperatura em graus Celsius através da equação 𝐹 = 9 5 𝐶 + 32. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 24 1.2 – Modelos lineares e Taxas de variação. Inclinação da reta A inclinação de uma reta é o número de unidades que a reta sobe (ou desce) para cada unidade de variação horizontal da esquerda para a direita. Considere dois pontos (𝑥1 , 𝑦1) e (𝑥2 , 𝑦2) sobre uma reta como mostrado na Figura P12. Ao analisarmos os valores das coordenadas, da esquerda para a direita e ao longo da reta, uma variação vertical no eixo y, de ∆ 𝑦 = 𝑦2 − 𝑦1 unidades, podeser relacionada à uma variação horizontal no eixo x de ∆ 𝑥 = 𝑥2 − 𝑥1 unidades. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 25 Definição da inclinação de uma reta. A inclinação m de uma reta que passa pelos pontos (𝑥1 , 𝑦1) e (𝑥2 , 𝑦2) é dada por: 𝑚 = ∆ 𝑦 ∆ 𝑥 = 𝑦2 − 𝑦1 𝑥2 − 𝑥1 , 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑥1 ≠ 𝑥2 Obs.: Inclinação não é definida para retas verticais. Observe ainda que a ordem de subtração é importante, neste caso coordenadas do ponto 2 em relação ao ponto 1. No entanto, ao invertemos as coordenadas do ponto 1 para o ponto 2 obtemos o mesmo resultado: 𝑚 = ∆ 𝑦 ∆ 𝑥 = 𝑦1 − 𝑦2 𝑥1 − 𝑥2 = −(𝑦2 − 𝑦1) −(𝑥2 − 𝑥1) = 𝑦2 − 𝑦1 𝑥2 − 𝑥1 , 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑥1 ≠ 𝑥2 A inclinação de uma reta pode ser interpretada como uma razão ou como uma taxa de variação. Se os eixos x e y são expressos nas mesmas unidades, o número que mede a inclinação é adimensional e representa uma razão. Se os eixos x e y são expressos em unidades diferentes, a inclinação tem dimensões e representa uma taxa de variação da grandeza y em relação à grandeza x. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 26 A Figura P13 mostra quatro segmentos de reta: a) O primeiro tem inclinação positiva, b) o segundo tem inclinação de zero, c) o terceiro tem inclinação negativa e d) o quarto tem inclinação indefinida. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 27 Equações Lineares O mais simples dos modelos matemáticos, para estabelecer uma relação funcional entre duas variáveis, é a equação linear. Essa equação é chamada linear por que o gráfico correspondente é uma linha reta. Qualquer dois pontos sobre um segmento de reta não vertical pode ser utilizado para determinarmos sua inclinação. Isto pode ser confirmado a partir de triângulos similares mostrados na Figura P14, pois razões entre correspondentes lados de triângulos similares são iguais. Se (𝑥1 , 𝑦1) é um ponto sobre uma reta não vertical que tem uma inclinação m e (𝑥 , 𝑦) é qualquer outro ponto sobre a mesma reta, então: 𝑚 = 𝑦 − 𝑦1 𝑥 − 𝑥1 Esta equação, nas variáveis x e y pode ser reescrita na forma: 𝑦 − 𝑦1 = 𝑚 (𝑥 − 𝑥1) Que é denominada de forma ponto inclinação de uma equação de reta. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 28 Exemplo 1 Encontre uma equação da reta que tem inclinação de 3 e passa pelo ponto (1 , −2). Esboce o gráfico desta reta. Solução Para esboçar esse gráfico plote o ponto dado no plano cartesiano e em seguida plote o ponto (0 , −5), que é o intercepto no eixo y, obtido fazendo 𝑥 = 0 na equação ponto inclinação determinada. O esboço pode ser visto na Figura P15. Exemplo 2 𝑦 − 𝑦1 = 𝑚 (𝑥 − 𝑥1) Forma geral ponto inclinação. 𝑦 − (−2) = 3 (𝑥 − 1) Substituir coordenadas (𝑥1 , 𝑦1) na equação. 𝑦 + 2 = 3 𝑥 − 3 Simplificar. 𝑦 = 3 𝑥 − 5 Resolver para y. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 29 A população do estado do Colorado (USA) era de 4.302.000 em 2000 e em torno de 5.029.000 em 2010. Encontre a taxa de variação média da população nesse período de 10 anos. Qual será a população do Colorado em 2020? Solução No período de 10 anos considerado, a taxa de variação média da população do Colorado era de: 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 = 𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑉𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑎𝑛𝑜𝑠 = 5.029.000 − 4.302.000 2010 − 2000 = 72.700 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑎𝑛𝑜 Considerando que a população do Colorado continue a aumentar nessa mesma taxa para os próximos 10 anos, então, em 2020, teremos uma população em torno de 5.756.000. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 30 Modelos Lineares e o Gráfico no plano cartesiano Muitos problemas com abordagem geométrica para sua solução podem ser classificados em duas categorias: 1. Dado o gráfico (ou partes dele), encontre sua equação. 2. Dado uma equação, esboce o gráfico. Trabalhando com retas, problemas na primeira categoria podem ser resolvidos utilizando a forma ponto inclinação. No entanto, a forma ponto inclinação não é útil para problemas da segunda categoria. A forma que melhor se adapta à segunda categoria para esboçar o gráfico de uma reta é a forma inclinação intercepto. O gráfico da equação linear escrita como: 𝑦 = 𝑚 𝑥 + 𝑏 Forma Inclinação Intercepto. É a reta cuja inclinação é m e cujo interceptp_y é (0 , 𝑏). Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 31 Exemplo 3 Esboce o gráfico de cada equação: a) 𝑦 = 2 𝑥 + 1 b) 𝑦 = 2 c) 3 𝑦 + 𝑥 − 6 = 0 Solução a) Como 𝑏 = 1, o o intercepto_y é (0 , 1). Como a inclinação é 𝑚 = 2, então poderemos arbitrar um valor de x e determinar um segundo ponto de modo a permitir o esboço do segmento de reta que representará o gráfico da reta dada. Para 𝑥 = 1, então 𝑦 = 3. O esboço desta reta está mostrado na Figura P18a. b) Ao escrevermos a equação na forma 𝑦 = 2, consideramos que ela está na forma inclinação intercepto com inclinação nula, ou seja: 𝑦 = (0) 𝑥 + 2. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 32 O intercepto_y, neste caso, é (0 , 2). Como a inclinação é nula, então a reta é horizontal como mostrado na Figura P18b. c) Reescrevendo a equação na forma inclinação intercepto temos: 3 𝑦 + 𝑥 − 6 = 0 Formato original da escrita. 3 𝑦 = −𝑥 + 6 Isolar variável y no lado esquerdo da igualdade. 𝑦 = − 1 3 𝑥 + 2 Forma inclinação intercepto. A equação escrita nesta forma informa que o intercepto em y é (0 , 2) e a inclinação é: 𝑚 = − 1 3 . Podemos determinar o intercepto em x no intuito de obter um segundo ponto. Fazendo 𝑦 = 0, na equação acima, então 𝑥 = 6 e o segundo ponto será: (6 , 0). O esboço deste gráfico está na Figura P18c. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 33 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 34 As equações lineares podem ser escritas na forma geral: 𝐴 𝑥 + 𝐵 𝑦 + 𝐶 = 0 onde A e B não são ambos zero. Podemos, então, resumir os tipos de forma das equações lineares como se segue: Resumo: 1. Forma Geral. 𝐴 𝑥 + 𝐵 𝑦 + 𝐶 = 0 2. Reta Vertical. 𝑥 = 𝑎 3. Reta Horizontal. 𝑦 = 𝑏 4. Forma Inclinação Intercepto. 𝑦 = 𝑚 𝑥 + 𝑏 5. Forma Ponto Inclinação. 𝑦 − 𝑦1 = 𝑚 (𝑥 − 𝑥1) Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 35 Retas Paralelas e Perpendiculares A inclinação da reta é uma informação conveniente para determinar se duas retas são paralelas ou perpendiculares como mostrado na Figura P19. Especificamente, retas não verticais de mesma inclinação são paralelas; enquanto que retas não verticais cujas inclinações são recíprocas negativas são perpendiculares. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 36 Formalmente, teremos: 1. Duas retas distintas e não verticais são paralelas se, e somente se, suas inclinações são iguais. 𝑚1 = 𝑚2 2. Duas retas não verticais são perpendiculares se, e somente se, suas inclinações são recíprocas negativas. 𝑚1 = − 1 𝑚2 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 37 Exemplo 4 Encontre as equações, na forma geral, das retas que passam pelo ponto (2 , −1) sendo: (a) uma paralela e (b) outraperpendicular à reta 2 𝑥 − 3 𝑦 = 5. Solução Reescrevendo a equação linear 2 𝑥 − 3 𝑦 = 5 na forma inclinação intercepto, teremos 𝑦 = 2 3 𝑥 − 5 3 . Então, a reta referência, como vista na Figura P20, tem inclinação 𝑚 = 2 3 . (a) A reta que passa por (2 , −1) que é paralela à reta dada tem inclinação 𝑚 = 2 3 . Utilizando a forma ponto inclinação para a reta paralela: 𝑦 − 𝑦1 = 𝑚 (𝑥 − 𝑥1) Forma ponto inclinação. 𝑦 − (−1) = 2 3 (𝑥 − 2) Substituir coordenadas (𝑥1 , 𝑦1). 3 𝑦 + 3 = 2 𝑥 − 4 Propriedade distributiva e simplificar. 2 𝑥 − 3 𝑦 = 7 Forma Geral. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 38 (b) A reta que passa por (2 , −1) que é perpendicular à reta dada, tem inclinação recíproca negativa: 𝑚 = − 3 2 . Utilizando a forma ponto inclinação para a reta perpendicular: 𝑦 − 𝑦1 = 𝑚 (𝑥 − 𝑥1) Forma ponto inclinação. 𝑦 − (−1) = − 3 2 (𝑥 − 2) Substituir coordenadas (𝑥1 , 𝑦1). 2 𝑦 + 2 = −3 𝑥 + 6 Propriedade distributiva e simplificar. 3 𝑥 + 2 𝑦 = 4 Forma Geral. A Figura P20 apresenta o gráfico das três retas onde podemos visualizar a reta referência e as retas paralela e a perpendicular. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 39 1.3 – Funções e seus gráficos. Funções e Notação funcional A relação entre dois conjuntos X e Y é um conjunto de pares ordenados, cada um na forma (𝑥 , 𝑦), onde x é um elemento de X e y é um elemento de Y. Uma função de X para Y é uma relação entre X e Y que tem a propriedade que quaisquer dois pares ordenados com o mesmo valor x também têm o mesmo valor y. A variável x é a variável independente, e a variável y é a variável dependente. Muitos fenômenos e ou grandezas podem ser modelados por intermédio de funções. Por exemplo, a área A de um círculo é uma função do raio r do círculo. 𝐴 = 𝜋 𝑟2 A é uma função de r. Neste caso, r é a variável independente e A é a variável dependente. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 40 O domínio de f é o conjunto X. O número y é a imagem de x, decorrente de f, que é identificada por 𝑓(𝑥), denominado valor de f em x. A faixa de valores decorrentes da relação funcional f é o subconjunto de Y consistindo de todas as imagens dos números em X como pode ser visto na Figura P22. É muito comum representar função por meio de equações matemáticas, embora formas como tabelas, gráficos e diagramas também possam representar uma relação funcional entre duas variáveis. Nesse texto, contudo, estudaremos, inicialmente, funções dadas por equações envolvendo variáveis dependentes e independentes. Definição de uma Função Real de uma Variável Real Considere X e Y conjuntos de números reais. Uma função real f, de uma variável real x, de X para Y, é uma relação que associa a cada número x em X exatamente um número y em Y. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 41 Por exemplo, a equação 𝑥2 + 2 𝑦 = 1 (equação na forma implícita) define y, variável dependente, como uma função de x, variável independente. Para estimar o valor da função (isto é, encontrar o valor y que corresponde ao valor x), é conveniente isolar y no lado esquerdo da igualdade. 𝑦 = 1 2 (1 − 𝑥2) (Equação na forma explícita) Utilizando f, como o nome da função, podemos escrever a equação como: 𝑓(𝑥) = 1 2 (1 − 𝑥2) (Notação funcional) A notação funcional tem a vantagem de claramente identificar a variável independente (no exemplo acima x) e a dependente (𝑓(𝑥)). O símbolo 𝑓(𝑥) é lido como "f de x". Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 42 Exemplo 1 Para a função f definida por 𝑓(𝑥) = 𝑥2 + 7, estime o valor para cada expressão: a) 𝑓(3𝑎) b) 𝑓(𝑏 − 1) c) 𝑓(𝑥 + ∆ 𝑥)−𝑓(𝑥) ∆ 𝑥 Solução Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 43 No Cálculo, é importante especificar claramente o domínio de uma função ou expressão. No exemplo 1(c), as duas expressões: 𝑓(𝑥 + ∆ 𝑥) − 𝑓(𝑥) ∆ 𝑥 e 2 𝑥 + ∆ 𝑥 ; ∆ 𝑥 ≠ 0 são equivalentes por que o valor ∆ 𝑥 = 0 é excluído do domínio de cada expressão. Sem a definição da restrição no domínio, as duas expressões acima não seriam equivalentes. O Domínio e a Imagem de uma Função Domínio de uma função é o conjunto de todos os valores da variável independente para os quais a função é definida. O domínio pode ser descrito explicitamente ou pode ser definido de forma implícita pela equação utilizada para descrever a função. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 44 Por exemplo, a função: 𝑓(𝑥) = 1 𝑥2 − 4 ; 4 ≤ 𝑥 ≤ 5 tem um domínio definido explicitamente pelo {𝑥: 4 ≤ 𝑥 ≤ 5} Já a função 𝑓(𝑥) = 1 𝑥2 − 4 tem um domínio definido implicitamente pelo conjunto {𝑥: 𝑥 ≠ ±2}, ou seja por todos os valores reais de x, exceto x = 2 e x = -2. Esses dois valores não pertencem ao domínio da função por que a divisão por zero não é definida. Outro tipo de domínio implícito é o usado para evitar raízes pares de números negativos, como mostrado no Exemplo 2. Imagem de uma função é o conjunto de todos os valores assumidos pela variável dependente. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 45 Exemplo 2 - Encontre o domínio e a imagem das funções: Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 46 Exemplo 3 Seja uma função definida por mais de uma equação. Para a função definida por partes dada por: 𝑓(𝑥) = { 1 − 𝑥 , 𝑥 < 1 √𝑥 − 1 , 𝑥 ≥ 1 f é definida para 𝑥 < 1 e 𝑥 ≥ 1. Para a parte do domínio para o qual 𝑥 ≥ 1, a função se comporta como no Exemplo 2a. Quando 𝑥 < 1 os valores de (1 − 𝑥) são positivos. Logo, a imagem da função é o intervalo [0 , ∞) como visto na Figura P24. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 47 O Gráfico de uma Função O gráfico da função 𝑦 = 𝑓(𝑥) consiste de todos os pontos ( 𝑥 , 𝑓(𝑥) ), onde x está no domínio de f. Na Figura P25, observe que: 𝑥 = 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑜𝑟𝑖𝑒𝑛𝑡𝑎𝑑𝑎 𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑖𝑟 𝑑𝑜 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑦. e 𝑓(𝑥) = 𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑜𝑟𝑖𝑒𝑛𝑡𝑎𝑑𝑎 𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑖𝑟 𝑑𝑜 𝑒𝑖𝑥𝑜 𝑥. Uma linha vertical pode interceptar o gráfico de uma função em x em apenas um ponto. Essa característica nos leva a um teste gráfico chamado de Teste da Linha Vertical. Um gráfico no plano cartesiano será um gráfico de uma função se e somente uma linha vertical interceptar o gráfico em não mais que um ponto. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 48 Por exemplo, na Figura P26(a), o gráfico não define y como função de x por que uma linha vertical intercepta o gráfico duas vezes, enquanto que nas Figuras P26(b) e (c), os gráficos definem y como função de x. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 49 A Figura P27 mostra gráficos de oito funções básicas muito utilizadas neste curso. Outras, com suas propriedades, serão apresentadas em sequência. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 50 Valor Absoluto O valor absoluto de um número real a é dado por |𝑎| = { 𝑎, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 ≥ 0 −𝑎, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 < 0 . Exs: |3| = 3 ; |−5| = −(−5) = 5 ; |8 − 14| = |−6| = −(−6) = 6 Da definição e exemplos vemos que o valor absoluto de um número é um número positivo ou zero. Propriedades do Valor Absoluto: 1. Multiplicação: Se a , b ∈ℝ, então |𝑎 𝑏| = |𝑎| |𝑏|. 2. Divisão: Se a , b ∈ ℝ e 𝑏 ≠ 0, então | 𝑎 𝑏 | = |𝑎| |𝑏| . 3. Potenciação: Se a ∈ ℝ, então |𝑎𝑛| = |𝑎|𝑛 4. |𝑥| < 𝑎, se e somente se −𝑎 < 𝑥 < 𝑎, onde a > 0. |𝑥| ≤ 𝑎, se e somente se −𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎, onde a > 0. 5. |𝑥| > 𝑎, se e somente se 𝑥 > 𝑎 ou x < -a, onde a > 0. |𝑥| ≥ 𝑎, se e somente se 𝑥 ≥ 𝑎 ou 𝑥 ≤ −𝑎, onde a > 0. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 51 Intervalos Definidos por Valor Absoluto Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 52 Expoentes e Radicais Expressões envolvendo Expoentes ou Radicais Obs.: Quando n é par, a raiz enésima principal é positiva. Por exemplo: √4 = +2 𝑒 √81 4 = +3. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 53 Operações com Expoentes: Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 54 Função Exponencial Se 𝑎 > 0 e 𝑎 ≠ 1, então a função exponencial com base a é dada por: 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑥. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 55 Função Logaritmo Natural A Função Logaritmo natural, 𝑙𝑛 𝑥, é definida, em relação à função exponencial 𝑒𝑥, como mostrado na figura abaixo. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 56 A função 𝑙𝑛 𝑥 possui as seguintes propriedades básicas: Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 57 Funções Trigonométricas Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 58 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 59 Transformações de Funções Algumas famílias de gráficos têm a mesma forma básica. Por exemplo, compare o gráfico de 𝑦 = 𝑥2 com os gráficos de quatro outras funções quadráticas mostradas na Figura P28. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 60 Cada um dos gráficos da Figura P28 é uma transformação do gráfico de 𝑦 = 𝑥2. Os três tipos básicos de transformações ilustrados por estes gráficos são descritas como: deslocamento vertical; deslocamento horizontal e reflexões. A notação funcional descreve naturalmente as transformações dos gráficos no plano. Por exemplo: utilizando 𝑦 = 𝑥2 como função original, as transformações mostradas na Figura P28 podem ser representadas pelas equações abaixo: 𝑎) 𝑦 = 𝑓(𝑥) + 2 Deslocamento vertical duas unidades para cima 𝑏) 𝑦 = 𝑓(𝑥 + 2) Deslocamento horizontal de duas unidades à esquerda. 𝑐) 𝑦 = −𝑓(𝑥) Reflexão em torno do eixo x. 𝑑) 𝑦 = −𝑓(𝑥 + 3) + 1 Deslocamento para esquerda de três unidades; reflexão em torno do eixo x e deslocamento para cima uma unidade. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 61 Resumindo, teremos: Tipos Básicos de Transformações (𝒄 > 𝟎) Gráfico original: 𝑦 = 𝑓(𝑥) Deslocamento horizontal c unidades à direita: 𝑦 = 𝑓(𝑥 − 𝑐) Deslocamento horizontal c unidades à esquerda: 𝑦 = 𝑓(𝑥 + 𝑐) Deslocamento vertical c unidades para baixo: 𝑦 = 𝑓(𝑥) − 𝑐 Deslocamento vertical c unidades para cima: 𝑦 = 𝑓(𝑥) + 𝑐 Reflexão (em torno do eixo x): 𝑦 = −𝑓(𝑥) Reflexão (em torno do eixo y): 𝑦 = 𝑓(−𝑥) Reflexão (em torno da origem): 𝑦 = −𝑓(−𝑥) Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 62 Classificação e Combinações de Funções A partir do final do século dezoito, matemáticos e cientistas reconheceram que muitos fenômenos reais poderiam ser representados por modelos matemáticos baseados em um conjunto de funções chamadas elementares. Estas funções elementares podem ser classificadas em três categorias: 1) Funções algébricas (polinomiais, radicais, racionais). 2) Funções trigonométricas (senos, cossenos, tangentes, entre outras). 3) Funções exponenciais e logarítmicas. O tipo mais comum de funções algébricas é a função polinomial: 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎2 𝑥 2 + 𝑎1 𝑥 + 𝑎0 onde n é um inteiro positivo. Os números 𝑎𝑖 são coeficientes, onde 𝑎𝑛 é o coeficiente de maior índice e 𝑎0 o termo constante da função polinomial. Se 𝑎𝑛 ≠ 0, então n é o grau da função polinomial. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 63 O polinômio 𝑓(𝑥) = 0 não é considerado um grau. É prática comum utilizar notação com subscrito para os coeficientes. Porém, em polinômios de grau baixos, notação simplificada também é frequentemente utilizada, como mostrado abaixo, onde 𝑎 ≠ 0. Grau zero 𝑓(𝑥) = 𝑎 Função constante Primeiro grau 𝑓(𝑥) = 𝑎 𝑥 + 𝑏 Função linear Segundo grau 𝑓(𝑥) = 𝑎 𝑥2 + 𝑏 𝑥 + 𝑐 Função quadrática Terceiro grau 𝑓(𝑥) = 𝑎 𝑥3 + 𝑏 𝑥2 + 𝑐 𝑥 + 𝑑 Função cúbica Embora o gráfico de funções polinomiais não constantes apresentarem oscilações diversas, eventualmente o gráfico crescerá ou decrescerá, sem variação em degrau, quando x varia para a direita ou para a esquerda. Considerando o gráfico de 𝑓(𝑥) = 𝑎𝑛 𝑥 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥 𝑛−1 + ⋯ + 𝑎2 𝑥 2 + 𝑎1 𝑥 + 𝑎0, eventuais crescimentos ou decrescimentos podem ser determinados a partir da análise do grau da função (par ou impar) e ainda do sinal do coeficiente 𝑎𝑛 como indicado na Figura P29. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 64 Observe que os trechos pontilhados dos gráficos indicam que o coeficiente de maior grau determina unicamente o comportamento à direita e à esquerda do gráfico. A parte pontilhada indica que as oscilações são controlados pelos expoentes dos coeficientes Outros conceitos como extremos relativos, continuidade, entre outros serão vistos ao longo do curso e completarão os conhecimentos necessários para o traçado do esboço de gráficos em um determinado domínio. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 65 Funções racionais podem ser escritas como o quociente de duas funções polinomiais. Logo, uma função f é racional quando ela apresentar a forma: 𝑓(𝑥) = 𝑝(𝑥) 𝑞(𝑥) Onde 𝑝(𝑥) 𝑒 𝑞(𝑥) são polinômios e ainda 𝑞(𝑥) ≠ 0. Funções polinomiais e racionais são exemplos de funções algébricas. Uma função algébrica de x pode ser obtida por um número finito de somas, diferenças,múltiplos, quocientes e radicais envolvendo 𝑥𝑛. Por exemplo, 𝑓(𝑥) = √𝑥 + 1 é algébrica. Funções que não são algébricas são transcendentais. Por exemplo, as funções trigonométricas são transcendentais. Duas funções podem ser combinadas de várias formas para criar uma nova função. Seja 𝑓(𝑥) = 2 𝑥 − 3 e 𝑔(𝑥) = 𝑥2 + 1. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 66 Podemos combinar estas duas funções para formar uma terceira como mostrado abaixo: (𝑓 + 𝑔)(𝑥) = 𝑓(𝑥) + 𝑔(𝑥) = (2 𝑥 − 3) + (𝑥2 + 1) Soma (𝑓 − 𝑔)(𝑥) = 𝑓(𝑥) − 𝑔(𝑥) = (2 𝑥 − 3) − (𝑥2 + 1) Diferença (𝑓 𝑔)(𝑥) = 𝑓(𝑥) 𝑔(𝑥) = (2 𝑥 − 3) (𝑥2 + 1) Produto (𝑓/ 𝑔)(𝑥) = 𝑓(𝑥) 𝑔(𝑥) = (2 𝑥 − 3) (𝑥2 + 1) Quociente Outro tipo de combinação é denominado composição. Para este caso, a função resultante é chamada de função composta. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 67 Definição de Função Composta Considere 𝑓(𝑥) e 𝑔(𝑥) funções. A função (𝑓 ° 𝑔)(𝑥) = 𝑓( 𝑔(𝑥) ) é a composta de 𝑓(𝑥) com 𝑔(𝑥). O domínio de (𝑓 ° 𝑔)(𝑥) é o conjunto de todos os valores de x no domínio de 𝑔(𝑥) tal que 𝑔(𝑥) está no domínio de 𝑓(𝑥), como mostrado na Figura P30. A composta de 𝑓(𝑥) com 𝑔(𝑥) geralmente não é a mesma função composta 𝑔(𝑥)com 𝑓(𝑥). Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 68 Exemplo 4 Seja 𝑓(𝑥) = 2 𝑥 − 3 e 𝑔(𝑥) = cos 𝑥, encontre as funções compostas: a) (𝑓 ° 𝑔)(𝑥) ; b) (𝑔 ° 𝑓)(𝑥) Solução Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 69 Na Seção 1.1, o intercepto de um gráfico foi definido como sendo o ponto ( 𝑎 , 0) no qual o gráfico cruza o eixo x. Se o gráfico representa uma função f, então o número a é um zero de f. Em outras palavras, os zeros de uma função f são as soluções da equação 𝑓(𝑥) = 0. Por exemplo, a função 𝑓(𝑥) = 𝑥 − 4 tem um zero em 𝑥 = 4 por que 𝑓(4) = 0. Também na Seção 1.1, vimos diferentes tipos de simetria. Na terminologia de funções, a função é par quando seu gráfico é simétrico com respeito ao eixo y, e é ímpar quando seu gráfico é simétrico com respeito à origem. Ou seja: A função 𝑦 = 𝑓(𝑥) é par quando 𝑓(−𝑥) = 𝑓(𝑥). A função 𝑦 = 𝑓(𝑥) é impar quando 𝑓(−𝑥) = −𝑓(𝑥). Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 70 Exemplo 5 Determine se cada função abaixo é par, impar ou nenhuma delas. Após, encontre os zeros das funções. a) 𝑓(𝑥) = 𝑥3 − 𝑥 b) 𝑔(𝑥) = 1 + cos 𝑥 Solução Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 71 Funções Inversas Informalmente, o inverso de uma função f é uma função g, que “desfaz” a trabalho de f. Formalmente, Sejam f e g duas funções tais que f(g(x)) = x para qualquer x no domínio de g e g(f(x)) = x para qualquer x no domínio de f. Nessas condições, a função g é a inversa da função f. A função g é representada pelo símbolo f -1, que é lido como “inversa de f”. Assim, 𝑓(𝑓−1(𝑥)) = 𝑥 e 𝑓−1(𝑓(𝑥)) = 𝑥 O domínio de f deve ser igual à imagem de f -1, e a imagem de f deve ser igual ao domínio de f -1. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 72 Exemplo 6 A lista abaixo mostra várias funções e suas funções inversas. Observe que em todos os casos a função inversa “desfaz” a operação executada pela função original. (a) 𝑓(𝑥) = 2 𝑥 𝑓−1(𝑥) = 1 2 𝑥 (b) 𝑓(𝑥) = 1 3 𝑥 𝑓−1(𝑥) = 3 𝑥 (c) 𝑓(𝑥) = 2 𝑥 − 5 𝑓−1(𝑥) = 1 2 (𝑥 + 5) (d) 𝑓(𝑥) = 𝑥3 𝑓−1(𝑥) = √𝑥 3 (e) 𝑓(𝑥) = 1 𝑥 𝑓−1(𝑥) = 1 𝑥 Use um programa de plotagem para verificar que os gráficos de f e f -1 são imagens especulares uma da outra em relação à reta y = x. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 73 Exemplo 7 Determine a função inversa de 𝑓(𝑥) = √2 𝑥 − 3. Solução Substituir f(x) por y. Em seguida, substituir x por y (e vice-versa) na expressão e explicitar “novo” y. 𝑓(𝑥) = √2 𝑥 − 3 Escrever função original Substituir f(x) por y. 𝑦 = √2 𝑥 − 3 Substituir x por y e vice-versa 𝑥 = √2 𝑦 − 3 Elevar os membros ao quadrado 𝑥2 = 2 𝑦 − 3 Somar 3 aos membros 𝑥2 + 3 = 2 𝑦 Dividir membros por 2 𝑥2 + 3 2 = 𝑦 Solução é a função inversa. Usando x como variável independente, podemos escrever: 𝑓−1(𝑥) = 𝑥2+3 2 , 𝑐𝑢𝑗𝑜 𝑑𝑜𝑚í𝑛𝑖𝑜 é 𝑥 ≥ 0 ≡ 𝐼𝑚𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑓(𝑥) Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 74 Depois de determinar a inversa de uma função, é aconselhável verificar se o resultado está correto. É possível fazer isso, graficamente, observando se os gráficos de f(x) e f -1(x) são imagens especulares uma da outra em relação à reta y = x, como na Figura 1.49. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 75 Analiticamente, basta determinar f (f -1(x)) e f -1(f(x)). Os dois resultados devem ser iguais a x. Verifique que 𝑓(𝑓−1(𝑥)) = 𝑥 Verifique que 𝑓−1(𝑓(𝑥)) = 𝑥 𝑓(𝑓−1(𝑥)) = 𝑓 ( 𝑥2 + 3 2 ) 𝑓−1(𝑓(𝑥)) = 𝑓−1(√2 𝑥 − 3) = √2 ( 𝑥2 + 3 2 ) − 3 = (√2 𝑥 − 3)2 + 3 2 = √𝑥2 = 2𝑥 2 = 𝑥 , 𝑥 ≥ 0 = 𝑥 , 𝑥 ≥ 3 2 Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 76 1.4 – Exercícios. Resolver exercícios da lista e exercícios diversos das referências bibliográficas. Cálculo Diferencial e Integral I Prof. Mário Duarte 77 REFERÊNCIAS Conteúdo deste capítulo foi compilado de: LARSON, R. & EDWARDS, B.; Calculus of a Single Variable, 10 ed., Boston, MA - USA, Brooks/Cole Cengage Learning, 2014. LARSON, R., Brief Calculus An Applied Approach, 8 ed., Houghton Mifflin Company, Boston – New York, 2009. LARSON, R. & EDWARDS, B. ; com a assistência de FALVO, D. C., Cálculo com Aplicações, 6 ed., Rio de Janeiro – RJ, LTC, 2008. LEITHOLD, L; O Cálculo com Geometria Analítica, vol. 1, São Paulo – SP, Harbra Editora Harper & Row do Brasil Ltda, 1977.
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