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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS, ENGENHARIAS E TECNOLOGIA - UNACET CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS ELTON TORRES ZANONI AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ELETROCATALÍTICO DE NANOPARTÍCULAS DE OURO SUPORTADAS EM CARBONO VULCAN NA OXIDAÇÃO DO METANOL CRICIÚMA 2015 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS, ENGENHARIAS E TECNOLOGIA - UNACET CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS ELTON TORRES ZANONI AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ELETROCATALÍTICO DE NANOPARTÍCULAS DE OURO SUPORTADAS EM CARBONO VULCAN NA OXIDAÇÃO DO METANOL Trabalho de conclusão de Curso apresentado à Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), para obtenção do grau de engenheiro de materiais no Curso de Engenharia de Materiais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Orientador: Profº. Dr. Marcos Marques da Silva Paula CRICIÚMA 2015 ELTON TORRES ZANONI AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ELETROCATALÍTICO DE NANOPARTÍCULAS DE OURO SUPORTADAS EM CARBONO VULCAN NA OXIDAÇÃO DO METANOL Trabalho de conclusão de Curso apresentado à Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), para obtenção do grau de engenheiro de materiais no Curso de Engenharia de Materiais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Orientador: Profº. Dr. Marcos Marques da Silva Paula Criciúma, 30 de junho de 2015 BANCA EXAMINADORA Prof. Marcos Marques da Silva Paula – Doutor – (UNESC) - Orientador Profª. Marta Valéria G. de Souza Hoffmann - Mestre - (UNESC) Prof. Luis Mario Angeloni - Mestre - (UNESC) DEDICATÓRIA Dedico este estudo a todos os acadêmicos do curso de Engenharia de Materiais e para aqueles que se interessam pela ciência que são curiosos e ousados o suficiente para ver o que há debaixo da saia de Deus. AGRADECIMENTO Gostaria de agradecer ao meu orientador e amigo Marcos Marques por me dar a oportunidade de iniciar na ciência, pelo apoio, suporte que precisei nas minhas pesquisas e pelo companheirismo fora da universidade. Agradecer aos “Lasiconianos” pelas risadas, brincadeiras, bolos de aniversários, etc. Em especial aos colegas e amigos Jamile, Flávia e Mariani por me ajudar a tirar este trabalho do plano das ideias e concretizá-lo. Ao grupo do laboratório LASICOM/LAPEM pelo suporte necessário para as sínteses, caracterizações e pelo espaço de liberdade que tive para realizar meus experimentos. Aos recursos que me possibilitaram estar em contato com a ciência (CNPq, CELESC, PIBIC/UNESC). Aos meus irmãos Edimar e Edenilso pelo apoio e momentos de sabedoria e em especial ao Edenilso que teve papel fundamental para o meu ingresso à universidade. Aos meus pais, Antônio e Maria Lúcia, que me ajudaram sempre quando precisei e que são dois pilares necessários para que eu possa caminhar. Aos professores do curso de Engenharia de Materiais da UNESC que me deram as bases do conhecimento necessário para que eu pudesse executar minhas atividades científicas. Ao IDT que também deu suporte para as caracterizações do trabalho. EPÍGRAFE Aquilo que está acima é o mesmo que está abaixo – [Hermes Trismegistos] Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei. Amor é a lei. Amor sob Vontade. – [Aleister Crowley]. Não é por que sou louco que estou errado. Eu sou louco, não doente. Eu vejo Fnords – [Robert Anton Wilson]. RESUMO Neste estudo apresentam-se os resultados preliminares acerca da eletrooxidação do metanol por nanopartículas de ouro, suportadas ou não em um substrato de Carbono Vulcan. A impregnação de nanopartículas de ouro em substrato de carbono foi realizada por redução direta do íon Au3+ utilizando o método Turkevich, com pequenas modificações. Dois sistemas catalíticos foram avaliados, a saber: i – Cglass||Au, ii – Cglass||Au/CVulcan. As partículas foram caracterizadas por análise de espectroscopia no UV-vis e a identificação da fase ouro metálico foi efetuada por difração de raios-X, assim como na determinação do diâmetro médio de partícula utilizando equação Debye-Scherrer. A avaliação eletrocatalífica dos dois sistemas foi efetuada por voltametria cíclica utilizando uma célula típica de três eletrodos, sendo o eletrodo de Cglass como eletrodo de trabalho. O eletrodo de Cglass foi modificado com nanopartículas de ouro com diâmetro médio de 11 nm mostrando que nanopartículas de ouro com diâmetros maiores do que 10nm possuem atividade eletrocatalítica em temperatura ambiente na presença de metanol em solução alcalina. Demonstra-se também que, quando suportadas em substrato de carbono, as nanopartículas de ouro têm maior eficiência de conversão eletroquímica sendo, em média, quase 2 vezes maior. Isto indica que, provavelmente, o suporte influencia no processo catalítico. Palavras Chaves: Nanopartículas metálicas, eletrooxidação de metanol, célula a combustível. ABSTRACT In this study it presents the preliminary results on the electrooxidation of methanol by gold nanoparticles supported or not in a Vulcan carbon substrate. The impregnation of gold nanoparticles on carbon substrate was performed by direct reduction Au3+ ion using the Turkevich method with minor modifications. Two catalytic systems were evaluated, namely: i - Cglass || Au, ii - Cglass || Au / CVulcan. The particles were characterized by spectroscopic analysis and UV-vis the identification of metallic gold layer was made by X-ray diffraction, as well as to determine the average particle diameter using the Debye-Scherrer equation. The electrocatalytic evaluation of the two systems was performed by cyclic voltammetry using a typical three-electrode cell, and the Cglass electrode as working electrode. Cglass The electrode was modified with gold nanoparticles with an average diameter of 11 nm showing that gold nanoparticles with diameters greater than 10nm have electrocatalytic activity at room temperature in the presence of methanol in alkaline solution. It is also demonstrates that when supported on a carbon substrate, the gold nanoparticles have higher conversion efficiency electrochemical being, on average almost two times higher. This indicates that probably the support influences the catalytic process Keywords: Metal nanoparticles, methanol electrooxidation, fuel cell. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Cronograma histórico das células a combustível. .................................................... 16 Figura 2– Célula a combustível usada na nave Apollo. ........................................................... 17 Figura 3 - representação esquemática de uma DMFC .............................................................. 20 Figura 4 – Estrutura da camada do catalisador ......................................................................... 21 Figura 5 – Estrutura do PSAA sulfonado ................................................................................. 21 Figura 6 - Tipo de onda em um experimento de voltametria cíclica. ....................................... 23 Figura 7 - Perfil ideal de um voltamograma cíclico ................................................................. 23 Figura 8 - Esquema representativo das etapas e possíveis intermediários na eletrooxidação do metanol .....................................................................................................................................24 Figura 9 – Esquema idealizado para eletrooxidação do metanol ............................................. 25 Figura 10 - Escala comparativa de tamanho entre objetos ....................................................... 26 Figura 11 - Diferentes geometrias de nanopartículas metálicas. .............................................. 27 Figura 12 – Influencia da baixa coordenação do ouro na propriedade catalítica ..................... 29 Figura 13 - Nanotubos de carbono ........................................................................................... 30 Figura 14 - micrografia eletrônica do carbono Vulcan............................................................. 31 Figura 15 – Célula eletroquímica de três eletrodo .................................................................... 36 Figura 16 – Espectroscopia no UV-Vis para GNP ................................................................... 38 Figura 17 – Difratograma de Raios-X de GNP ........................................................................ 39 Figura 18 – Difratograma de Raios-X para o catalisador Au/CVulcan ....................................... 40 Figura 19 – Microscopia Eletrônica de Varredura do catalisador Au/CVulcan ........................... 40 Figura 20 – Voltamograma do carbono vítreo em solução alcalina sem e com presença de metanol ..................................................................................................................................... 41 Figura 21 – Voltamogramas do eletrodo modificado com PSAAS em meio alcalino em diferentes concentrações de metanol ........................................................................................ 42 Figura 22 – Voltamogramas referente ao eletrodo modificado com PSAAS + CVulcan em meio alcalino com variação de concentração de metanol.................................................................. 43 Figura 23 – Voltamograma Cíclico de um eletrodo de Cglass recoberto com GNP 11 nm em solução de NaOH 0,1M sem a presença de metanol. ............................................................... 43 Figura 24 - Voltamograma do eletrodo modificado com GNP em presença de....................... 44 Figura 25 – Voltamogramas do eletrodo modificado com GNP com variações de concentração de metanol. ............................................................................................................................... 45 Figura 26 - Voltamogramas do eletrodo modificado com Au/CVulcan ...................................... 46 Figura 27 - Voltamogramas do eletrodo modificado com Au/CVulcan em presença de metanol nas concentrações de 2, 4, 6 e 8M ............................................................................................ 47 LISTA DE ABREVIATURAS AFC – Alkaline Fuel Cell (Célula a combustível Alcalina) DMFC – Direct Methanol Fuel cell (Célula a combustível diretamente do metanol) Epa – Potencial de pico anódico Epc – Potencial de pico catódico GNP – Gold Nanoparticle (Nanopartículas de ouro) MCFC – Molten Carbonate Fuel Cell (Célula a combustível de carbonatos fundidos) NASA – National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço ) PAFC - Phosphoric Acid Fuel Cell (Célula a combustível de ácido fosfórico) PEM - Protons Exchange Membrane (Membrana trocadora de prótons) PEMFC - Protons Exchange Membrane Fuel Cell (Célula a combustível de membrana trocadora de prótons) PSAAS – Copolímero de estireno-co-ácido acrílico sulfonado THF - Tetrahidrofurano SUMÁRIO DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... 4 AGRADECIMENTO ............................................................................................................... 5 EPÍGRAFE ............................................................................................................................... 6 RESUMO ................................................................................................................................... 7 ABSTRACT .............................................................................................................................. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................... 9 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 15 2.1 CÉLULAS A COMBUSTÍVEL ......................................................................................... 15 2.1.1 Breve história da célula a combustível ............................................................................ 16 2.2 TIPOS DE CÉLULA A COMBUSTÍVEL ......................................................................... 17 2.3 CÉLULA A COMBUSTÍVEL DIRETAMENTE DO METANOL (DMFC) ................... 18 2.4 ELETRÓLITO POLIMÉRICO .......................................................................................... 20 2.5 ELETROQUÍMICA ........................................................................................................... 22 2.6 ELETROOXIDAÇÃO........................................................................................................ 24 2.7 NANOTECNOLOGIA ....................................................................................................... 25 2.7.1 Métodos de obtenção de nanopartículas .......................................................................... 27 2.7.1.1 Método Top Down ....................................................................................................... 27 2.7.1.2 Método Botton Up ........................................................................................................ 27 2.8 CATALISADOR ................................................................................................................ 28 2.8.1 Nanocristais de Au .......................................................................................................... 28 2.9 SUPORTES DE CATALISADORES A BASE DE CARBONO ...................................... 29 3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 32 3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 32 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 32 4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 33 4.1 SÍNTESE DE GNP ............................................................................................................. 33 4.2 IMPREGNAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS METÁLICAS EM SUBSTRATO DE CARBONO ............................................................................................................................... 33 4.3 CARACTERIZAÇÕES: ..................................................................................................... 33 4.3.1 Espectroscopia Eletrônica (UV-vis) ................................................................................ 33 4.3.2 Difratometria de Raios-X (DRX) .................................................................................... 34 4.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ................................................................. 34 4.3.4 Preparação dos eletrodos modificados ............................................................................ 35 4.3.4.1 Eletrodo modificado com copolímero PSAAS .............................................................35 4.3.5 Voltametria Cíclica .......................................................................................................... 35 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 37 5.1 CARACTERIZAÇÕES DAS NANOPARTÍCULAS DE OURO ..................................... 37 5.2 CATALISADOR ................................................................................................................ 39 6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 48 7 ESTUDOS FUTUROS ........................................................................................................ 49 8 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 50 14 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento tecnológico vem proporcionando melhorias e versatilidade no uso de recursos naturais de suma importância à sociedade. Recentemente, o estudo de nanopartículas contribuiu em várias áreas do conhecimento e tecnologia como, por exemplo, o uso da atividade antioxidante de nanopartículas de ouro (NORTON, 2008), atividade antifúngica de nanopartículas de cobre (CHATTERJEE et al, 2012) e atividade catalítica de materiais nanoparticulados caracterizadas pela dimensão da qual se encontram (GAN et al, 2008; DU et al, 2013). O efeito catalítico de nanopartículas pode ser aplicado na geração de energia elétrica por meio da oxidação de hidrogênio ou do metanol nas chamadas células a combustível (YUAN et al, 2010). Usualmente é usado nanopartículas de platina como catalisador, porém a platina sofre o efeito de “envenenamento” (CHEN et al, 2010), ocasionado pela adsorção de CO gerado na oxidação de combustível orgânico diminuindo assim a vida útil e a eficiência do catalisador (NILSSON et al, 2008). Para contornar esse problema foram estudadas e desenvolvidas ligas de nanoparticulas metálicas (PARK et al, 2004; SPINACÈ et al, 2004; LEE et al, 2002). Catalisadores que oxidam o metanol possuem aplicação direta em célula a combustível do tipo metanol direto (DMFC), eliminando a inconveniência do difícil armazenamento do hidrogênio (SPINACÈ et al, 2004). Esse tipo de célula tem grande potencial para substituição de baterias a base de lítio em dispositivos portáteis diminuindo os impactos ambientais (KAMARUDIN et al, 2009). A importante aplicação de catalisadores na geração de energia por recursos versáteis e alternativos impulsiona o projeto presente com o objetivo de avaliar a atividade catalítica de nanopartículas metálicas na eletrooxidação do metanol para a geração de energia elétrica em células a combustível. 15 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A escassez de recursos para a produção de energia estimula a pesquisa de novas fontes e formas de geração de energia. Além de sustentar uma sociedade, a produção de energia é uma forma de tornar uma nação potencialmente mais forte e sustentável perante a comunidade internacional. Estima-se que produção de combustíveis fósseis começará a diminuir entre os anos de 2015 e 2020, implicando em um problema global na geração de energia. As chamadas células a combustíveis trazem não somente um novo meio de gerar energia de forma mais limpa como também elimina a dependência de combustíveis fósseis. Isso faz da célula a combustível uma alternativa energética para o futuro Dos tipos de célula a combustível, a mais difundida é a de transporte de próton em eletrólito de membrana polimérica (PEMFC). Este tipo de célula teve aplicação prática pela primeira vez no programa aeroespacial Apollo, um pouco antes da década de 1960, desenvolvida pela General Eletric (SPIEGEL, 2008; BARBIR, 2005). Este tipo de tecnologia proporciona nos dias atuais um intenso estudo de aperfeiçoamento e aplicação no âmbito acadêmico e o aumento da produção dessas células nas últimas décadas promete ser promissora para geração de energia de forma sustentável, assegurando um futuro melhor para a humanidade (HORDESKI, 2008). 2.1 CÉLULAS A COMBUSTÍVEL São conversores de energia química em energia elétrica (BARBIR, 2005). Consiste em um polo negativo (ânodo) que oxida uma espécie (combustível) que em geral é o hidrogênio, a exemplo das células do tipo PEMFC. Um polo positivo (cátodo) que reduz o oxigênio e uma membrana eletrolítica que transporta prótons, produto da oxidação. Os elétrons produzidos na oxidação são transportados até o cátodo por um circuito externo, sendo usados para gerar trabalho elétrico. O que chama a atenção para essa tecnologia é a simplicidade, não requerendo muitas etapas de processos para gerar energia, como é feito em uma hidroelétrica, termoelétrica ou usina nuclear. As etapas para geração de eletricidade nestes dois últimos casos são: � Aquecer a água até transformá-la em vapor. � Passar o gás superaquecido por uma turbina gerando energia mecânica. 16 � Girar um sistema de geradores transformando energia mecânica em elétrica em uma bobina. Uma célula a combustível necessita apenas uma etapa para gerar eletricidade. Embora com a geração rápida de energia elétrica, alguns fatores ainda impedem de ela ser disseminada. O alto custo dessas células, a eficiência de conversão por parte dos catalisadores empregados atualmente e a sua vida útil são questões ainda não resolvidas pela engenharia. Essa tecnologia é ainda recente e sua aplicação é específica, geralmente em sistemas de tecnologia de ponta (BARBIR, 2005). Em resumo, pode-se dizer que a chave para o sucesso consiste no desenvolvimento de novos materiais com propriedades pré-definidas para uso em células a combustível. 2.1.1 Breve história da célula a combustível A primeira célula a combustível inventada, atribuída a Willian Grove, é de 1839 (figura 1), usando os conceitos de Nicholson e Carlise para recompor a água. Grove utilizou eletrodos de platina, os gases hidrogênio e oxigênio, como combustíveis e uma solução de ácido sulfúrico como eletrólito. A corrente gerada foi de 12 A e uma tensão de 1,8 V. O invento foi chamado por ele de “bateria voltaica gasosa” (SPIEGEL, 2008). Figura 1 - Cronograma histórico das células a combustível. Fonte: BARBIR 2005 17 O dispositivo inventado por Grove permaneceu como uma curiosidade científica por quase um século até Bacon começar a estudar a praticidade delas em 1937, vindo a construir a primeira de utilidade prática por volta de 1960, quando a NASA utilizou no programa espacial Apollo (figura 2). Depois de demonstrações bem sucedidas das células do tipo PEM, foi empregada em um submarino em 1989 e posteriormente em um veículo automotivo em 1993. A partir de então muitas patentes surgiram, principalmente nos Estados Unidos e Japão mostrando assim o grande interesse da comunidade científica e da engenharia por esse tipo de tecnologia (BARBIR, 2005). Figura 2– Célula a combustível usada na nave Apollo. Fonte: LARMINIE, 2003 2.2 TIPOS DE CÉLULA A COMBUSTÍVEL Células a combustível podem ser classificadas em relação à natureza dos eletrólitos empregados, podendo-se citar: � Alkaline Fuel Cell (AFC): célula do tipo alcalina que utiliza KOH como eletrólito para o carregamento de íons de OH-. Esse tipo geralmente é usado em veículos espaciais, tais como satélites. A temperatura de funcionamento varia entre 50 a 200ºC (LARMINIE, DICKS, 2003). � Protons Exchange Membrane Fuel Cell (PEMFC) membrana trocadora de prótons que utiliza um polímero sólido como eletrólito para o transporte dos íons H+. 18 Atualmente o que é empregado nesse tipo de célula é o Náfion®, marca registrada da empresa Du Pont. A faixa de temperatura de funcionamentoé de 30 a 100º, sendo classificada como uma célula de baixa temperatura. Aplicada em veículos automotores de baixa potência (LARMINIE, DICKS, 2003). � Phosphoric Acid Fuel Cell (PAFC) tem como eletrólito o ácido fosfórico. Atua em temperaturas de aproximadamente 250ºC. Usado em veículos e sistemas com potencia de 200kW (LARMINIE, DICKS, 2003). � Molten Carbonate Fuel Cell (MCFC) utiliza carbonato fundido para o carreamento de íons de CO32-. Empregado em sistemas de alta potência. A temperatura de funcionamento é em torno de 650ºC (LARMINIE, DICKS,2003). � Direct Methanol Fuel Cell (DMFC) esse tipo de célula que usa o metanol diretamente como combustível. Pode usar quaisquer tipos dos eletrólitos citados acima, mas usualmente emprega uma membrana polimérica. Atua numa faixa de temperatura de 20 a 90ºC. Utilizada em sistemas eletrônicos portáteis, como por exemplo, celulares, microcomputadores, entre outros (LARMINIE, DICKS, 2003; KAMARUDIN, 2009). Dos tipos acima, a mais difundida é a PEMFC. A confecção de células a combustíveis aumentou nos anos 2000 e 2001 sendo a PEMFC destinada a veículos automotores (carros, ônibus, entre outros) e uma alternativa das PEMFCs, em decorrência do difícil armazenamento do hidrogênio: os do tipo DMFC. Este último é destinado principalmente a sistemas eletrônicos portáteis, substituindo baterias de lítio. As vantagens das células a combustíveis do tipo DMFC em dispositivos portáteis é que não há a necessidade de recarga elétrica, a longa duração e sua densidade de energia que comparado às baterias recarregáveis é de 5 a 10 vezes maior (KAMARUDIN, 2009). 2.3 CÉLULA A COMBUSTÍVEL DIRETAMENTE DO METANOL (DMFC) As DMFCs utilizam como recurso energético o metanol que sofre uma eletro- oxidação para CO2 ao passar pelo anodo (ver figura 3). O cátodo reduz o oxigênio (geralmente do ar) em água no final do processo, como segue a reação descrita abaixo. 19 Anodo : CH3OH + H2O → CO2 + 6H+ + 6e- Reação 1 Catodo: 3/2O2 + 6e- + 6H+ → 3H2O Reação 2 As reações (1) e (2) ocorrem em uma DMFC que emprega como eletrólito uma membrana polimérica. Observa-se que a reação libera 6 elétrons e é isso que a torna interessante no ponto de vista da engenharia, pois a densidade de corrente que uma eletro- oxidação dessas produz é alta. Em meio alcalino a reação (3) no anodo se dá pela eletrólise do metanol em CO2 liberando também 6 elétrons. O CO2 inevitavelmente reage com o íon OH- formando carbonatos. Isso é observado na reação (4). CH3OH + 6OH- → CO2 + 5H2O + 6e- Reação 3 2OH- + CO2 → CO32- + H2O Reação 4 Observa-se então que os íons OH- fazem parte da reação da eletrooxidação do metanol como agente iniciante. A espécie iônica em questão é adsorvida na superfície do metal nanoparticulado formando água como subproduto ao retirar hidrogênio da molécula do metanol. A desvantagem nas DMFC alcalina, devido a essa retirada dos íons OH-, é a baixa vida útil da célula. Porém, com a eliminação do CO2 não há o problema de “envenenamento” que ocorre pela adsorção de CO nos sítios ativos do catalisador, (YAN et al, 2013) e em comparação com as do tipo PEM, possui diversas vantagens em termos de performance e custo (LARMINIE, 2003). 20 Figura 3 - representação esquemática de uma DMFC Fonte: VASQUEZ, 2007 2.4 ELETRÓLITO POLIMÉRICO Em células a combustível do tipo PEMFC e DMFC um eletrólito polimérico é empregado para que haja o carreamento de íons. Usualmente são empregadas membranas de Náfion®. Para que uma membrana apresente bom desempenho é necessário que ela apresente condutividade iônica, estabilidade química e térmica, entre outras (KOTZ, BEITZ, 2008). Para a confecção de eletrodos modificados para estudo de catalisador, o emprego do material eletrólito é importante para que haja remoção de prótons. A figura 4 ilustra como é a estrutura do material catalisador constituído de nanopartículas catalíticas, que neste exemplo é platina, suportadas em substrato de carbono e Náfion® disperso. Um substituinte em estudo é o copolímero poli-{estireno-co-ácido acrílico} sulfonado (PSAAS) que tem aplicabilidade como eletrólito polimérico. Para melhorar a condutividade protônica é utilizado o processo químico de sulfonação que consiste na introdução de grupos –HSO3 na cadeia polimérica via reação de substituição. A estrutura do PSAAS sulfonado está ilustrada na figura 5. 21 Figura 4 – Estrutura da camada do catalisador Fonte: HACQUARD, 2005 O estudo de Búrigo (BÚRIGO 2014) demonstra que o copolímero PSAA sulfonado tem condutividade iônica aplicável em células a combustíveis. Isso significa que o Náfion® pode ser substituído em uma confecção de eletrodo modificado para um trabalho como este. Figura 5 – Estrutura do PSAA sulfonado Fonte: BURIGO, 2014 Para a preparação de eletrodos modificados com catalisador é importante ter uma boa dispersividade do polímero condutor iônico que além de ter um papel de conduzir ionicamente uma espécie, também tem a função de formar uma película mecanicamente estável. Outro fator importante é a hidratação do eletrólito que contribui para o carreamento de prótons pelos grupos terminais –HSO3. 22 2.5 ELETROQUÍMICA O estudo de sistemas capazes de entregar trabalho útil a partir de reações de oxirredução ou de sistemas nos quais ocorrem processos de oxirredução ao receberem trabalho útil elétrico é o objetivo fundamental da eletroquímica. Os primeiros estudos eletroquímicos tiveram início com Galvani por volta de 1786. Em 1790 Volta descobre a pilha voltaica formada por chumbo e prata imersos em um meio eletrolítico. Depois da descoberta da eletrólise da água, a liberação de hidrogênio e oxigênio (por Nicholson e Carlisle em 1800), surgiu a proposta do mecanismo de salto protônico para condução de eletricidade em soluções ácidas (TICIANELLI, GONZALES, 2013). Hoje se considera um sistema eletroquímico composto por, no mínimo, dois condutores eletrônicos (eletrodos) separados por um condutor eletrolítico. O eletrólito tem por função básica conduzir íons e é nos eletrodos que ocorrem os fenômenos eletroquímicos. Os dois objetivos principais da eletroquímica é o estudo do eletrólito e do(s) eletrodo(s) (TICIANELLI, GONZALES, 2013). A eletroquímica permite avaliar fenômenos que associa um efeito químico a um efeito elétrico. Dispositivos como baterias, sensores e células a combustível são integrantes dessa ciência (BARD, 2001). Dados termodinâmicos, cinéticos podem ser medidos por técnicas eletroquímicas. Pode ser usada como ferramenta para determinar traços de metais ou substâncias orgânicas em uma solução (BARD, 2001). Das técnicas disponíveis em eletroquímica a voltametria cíclica é a mais utilizada. Ela fornece respostas qualitativas e quantitativas de forma rápida e simples. Também podem ser observadas características termodinâmicas e cinéticas de uma reação (YUAN, 2010). Voltametria cíclica consiste em uma varredura de potencial indo de um potencial inicial (Eincial) até um potencial limite (Efinal) em uma velocidade de varredura que pode variar de 10mV/s até 10kV/s, retornando ao potencial inicial. O tipo de onda triangular (figura 6) forma um ciclo. O potencial aumenta até o limite determinado e então muda de sentido voltando para o potencial de partida. Essa varredura faz com que a espécie eletroquimicamente ativa oxide e reduza, caso o sistema seja reversível (TICIANELLI, GONZALES, 2013). 23 Figura 6 - Tipo de onda em um experimento de voltametria cíclica. Fonte: YUAN, 2010 A resposta típica de um voltamograma cíclico está na figura 7,em que picos de correntes estão associados ao processo de reação redox de uma substância. Uma corrente catódica é resultado de uma redução (O � R) enquanto que um pico de varredura reversa refere-se à reoxidação do R na etapa anterior voltando ao estado inicial O (R � O). Na ilustração abaixo a onda de redução está voltada para cima. Nos resultados apresentados neste estudo as bandas de redução estão para baixo e isso é apenas questão de convenção em que utilizamos a corrente real (TICIANELLI, GONZALES, 2013). Figura 7 - Perfil ideal de um voltamograma cíclico Fonte: YUAN, 2010 24 Este tipo de análise é largamente usado em diagnósticos qualitativos dos processos que ocorrem na interface. Usando os parâmetros variáveis, pode-se obter e identificar processos de oxidação, redução, adsorção/dessorção e ainda determinar se o processo é ou não reversível. 2.6 ELETROOXIDAÇÃO É no anodo que ocorre a eletro-oxidação do metanol. A reação é complexa, com muitas etapas. Existem algumas hipóteses para o mecanismo, que consiste na retirada de hidrogênio, gerando pares prótons/elétrons. A figura 8 mostra as possíveis rotas da eletro-oxidação da molécula de metanol. Entre os intermediários pode-se observar desde a formação de carbonatos até a geração do monóxido de carbono. Durante as etapas ocorre também a destruição do grupo funcional -OH na liberação de hidrogênio. Figura 8 - Esquema representativo das etapas e possíveis intermediários na eletrooxidação do metanol Fonte: KAMARUDIN, 2009 Um mecanismo idealizado por Yan et al (YAN et al, 2011) está representado na figura 9. Neste esquema há duas etapas de oxidação para o metanol. A primeira ocorre em baixos potenciais originando uma pré-oxidação formando uma espécie com radical livre. Em potencial mais alto, o número de íons OH- é maior, ocasionando o favorecimento da completa oxidação da molécula de metanol formando carbonato. 25 Figura 9 – Esquema idealizado para eletrooxidação do metanol Fonte: YAN 2011 Quando se fala em eficiência, o anodo é a parte mais importante de uma célula a combustível. A nanotecnologia é empregada neste tipo de dispositivo devido suas propriedades de alta área superficial, tendo assim propriedade catalítica. O catalisador mais empregado atualmente em células a combustível são nanopartículas de platina, porém pelo seu custo elevado e o efeito de “envenenamento” que a platina é susceptível, outros catalisadores são estudados (NILSSON et al, 2008). 2.7 NANOTECNOLOGIA A nanotecnologia pode ser compreendida como sendo o estudo, controle e a manipulação da matéria na escala nano. Embora a febre da nanotecnologia seja recente, coloides de ouro já eram usados pelos chineses para colorir porcelanas há mais de mil anos (CAO, 2004). A escala nano vai de 1 a 100 nm, sendo 1 nm equivalente a um bilionésimo de metro (10-9) que é um pouco maior que átomos e gás ionizado, porém um pouco menor que vírus e bactérias, como mostrado na figura 10. Exibem propriedades que não apresentariam em sua forma macro. Podemos citar a atividade óptica de nanopartículas de ouro que no estado coloidal exibe uma exótica coloração vermelha. A prata na forma coloidal exibe um amarelo característico. (MELO, 2012; TURKEVICH, STENVENSON, HILLIER, 1951; CREIGHTON, BLATCHFORD, ALBRECTH, 1979) A mudança na cor relaciona-se pela interação da luz com a superfície da nanopartícula metálica apresentando o fenômeno de ressonância plasmônica (CREIGHTON, BLATCHFORD, ALBRECTH, 1979; EUSTIS, EL- SAYED, 2005). As propriedades que 26 nanopartículas possuem são melhores compreendidas quando se estuda a superfície dessas partículas. Figura 10 - Escala comparativa de tamanho entre objetos Fonte: CAO, 2004 Com o decréscimo do diâmetro da partícula a área superficial aumenta, implicando em atividade catalítica. O efeito do catalisador é obtido pelo aumento do número de sítios ativos. Essa propriedade é de intensa utilidade na catálise de reações químicas. O estudo das propriedades de nanopartículas leva em conta sua aplicação, indo desde aplicação biológica até propriedade na tecnologia de geração de energia, tal como é desenvolvida em células a combustível, na eletrooxidação de moléculas de metanol, hidrogênio entre outros compostos. Para que possa ser estudado, o método de síntese/produção das nanopartículas deve ser fácil e barato, pois uma rota sintética complexa e demorada elevaria o custo da aplicação tornando-a inviável. Esse é o problema das células a combustíveis que empregam ainda nanopartículas de platina, que além de ter um custo alto possuem o problema do “envenenamento” pela adsorção do CO (NILSSON, PETTERSON, NØRSKOV, 2008). 27 2.7.1 Métodos de obtenção de nanopartículas 2.7.1.1 Método Top Down Esse método de obtenção de nanopartículas é aquele em que a partícula inicialmente é maior que o tamanho ao final do processo. Para diminuir o tamanho da partícula são usados diversos tipos de processos mecânicos, tratamentos químicos ou térmicos. Dessa forma o método Top Down induz defeitos superficiais limitando aplicações que são fortemente dependentes da condição que a superfície da nanopatícula se encontra (MITTAL, GHISTI, BANERJEE, 2013). Além dos defeitos de superfície, pode também causar danos na cristalografia do material. Esses defeitos modificam as propriedades físicas. Uma superfície danificada pode reduzir a condutividade devida a inelasticidade superficial, podendo provocar superaquecimento, dificultando muito o projeto e fabricação de dispositivos (CAO, 2004) 2.7.1.2 Método Botton Up Dos tipos de obtenção de nanopartícula, este tem um maior controle no tamanho e na geometria final da partícula, pois há a construção atômica, átomo por átomo. Na figura 8 pode-se observar algumas das diferentes formas de cristais que nanopartículas podem apresentar. Na figura 11a pode-se observar a geometria cúbica do cloreto de sódio, b e c são cristais de prata e d geometria esférica de ouro (CAO, 2004). Figura 11 - Diferentes geometrias de nanopartículas metálicas. Fonte: CAO, 2004 28 Em sínteses de nanopartículas é muito comum o uso da redução química, que consiste em reduzir uma espécie iônica para seu estado de valência zero empregando um agente redutor adequado. Os redutores mais comuns são: borohidreto de sódio (NaBH4), borohidreto de potássio (KBH4), citrato de sódio, hidrogênio, formaldeído, entre outros. (PARK et al, 2004; CARDOSO et al, 2014 b; YAN, 2012). Para o controle do tamanho é usado um estabilizante, geralmente um polímero. Podemos citar o polivinilpirrolidona (PVP), citrato de sódio, poliálcool vinílico (PVA), polifosfato de sódio, poliacrilato de sódio, polietilamina e demais moléculas orgânicas de longas cadeias (MELO, 2012; CAO, 2004). 2.8 CATALISADOR São materiais que aceleram reações químicas sem modificar sua termodinâmica e sem ser consumido durante a reação. Podem ser metais complexados, pequenas moléculas orgânicas, enzimas e materiais nanoestruturados. Catalisadores heterogêneos industriais são em geral nanopartículas dispersadas em suporte poroso. Devido à complexidade dos catalisadores muitos estudos vêm sendo feito para que haja uma preparação adequada dessa classe de materiais com funções nobres. O desafio de sintetizar um catalisador com alto desempenho é o que leva cientistas e engenheiros a buscar uma solução. Erros e acertos do passado são levados em consideração pela comunidade científica. Alterações na geometria e na estrutura eletrônica podem ser aplicadas para sintetizar um novo e único catalisador (SCHAEFER, 2010). Em catalisadores heterogêneos, a molécula reativa é adsorvidana superfície sólida catalítica. Ligações químicas são quebradas e formadas na superfície. A maioria das reações químicas industriais são catalisadas. São usados nos escapamentos de carros, na indústria de alimentos (hidrogenação) e na indústria farmacêutica (SCHAEFER, 2010). 2.8.1 Nanocristais de Au O ouro na escala macro é um material inerte. Possui ótima resistência à oxidação e isso devido a sua habilidade de adsorver quimicamente o oxigênio apenas por processo endotérmico. Essa característica de quimissorção é o que determina um metal ser nobre. Essa característica de resistência a quimissorção do oxigênio é devida ao baixo nível energético do 29 orbital d presente no ouro que apresenta repulsão com o nível energético do orbital 2p do oxigênio. Entretanto, na escala nano, o ouro apresenta capacidade de exercer oxidação de várias substâncias. Isso é causada pelo baixo número de coordenação dos átomos na nanopartícula. Na figura 12 A está ilustrada a influência do número de coordenação com a energia de ligação da molécula de O2, O atômico e do CO. A molécula de CO com a diminuição do número de coordenação do ouro diminui até o exotérmico, podendo assim catalisar em temperaturas ambientes (273K). Paládio e platina exibem propriedades catalíticas incríveis, mas para altas temperaturas (600K) (SCHAEFER, 2010). Figura 12 – Influencia da baixa coordenação do ouro na propriedade catalítica Fonte: SCHAEFER, 2010 Observa-se que a diminuição da partícula está relacionada diretamente com a propriedade catalítica. A figura 12B mostra a influência do tamanho com o número de coordenação, aresta e de superfície para o ouro, segundo modelo DFT (Density Function Theory). A alta área superficial de uma nanopartícula tem causa pelo maior número de quinas ou cantos, da qual o átomo não se apresenta ligado com outra espécie. Essa ausência de ligação é denominada de sítio ativo (SCHAEFER, 2010). 2.9 SUPORTES DE CATALISADORES A BASE DE CARBONO A atividade catalítica de um sistema depende do tipo de suporte empregado, que reflete na eficiência do catalisador. É por este motivo que são depositados em substratos de 30 alta área superficial. A dispersividade e o carregamento do catalisador são fundamentais para o seu desempenho. O suporte pode modificar a característica eletrônica do catalisador e assim modificar a característica reacional que ocorre em seus sítios ativos (ANTOLINI, 2009). Os suportes a base de carbono vêm despertando muito interesse pelas suas propriedades, tanto mecânica quanto eletrônicas. A característica de hibridização do carbono lhe permite ter muitos alótropos. Dentre os alótropos os mais conhecidos são o diamante, grafeno, fulereno e o nanotubo de carbono. Os nanotubos de carbono representados na figura 13 consistem em um grafeno enrolado. São classificadas como nanotubos de carbono de camada única e de múltiplas camadas. A propriedade de semicondutor que os nanotubos de carbono apresentam é alvo de estudos para suportes catalíticos (CUI et al, 2008). Figura 13 - Nanotubos de carbono Fonte: SCHAEFER,2010 O grafeno é outro alótropo do carbono que despertou curiosidade nos pesquisadores por apresentar propriedades eletrônicas incomuns. Consegue carregar uma alta densidade de corrente em baixas temperaturas e um controle da banda de gap. Dispositivos que podem servir como transistor e sua alta sensibilidade à resistência elétrica pela adsorção de gases dando aplicação como sensores operacionais (SCHAEFER, 2010) Em células a combustíveis os suportes a base de carbono mais comum são o negro de fumo, carvão ativado e carbono Vulcan. Esses materiais apresentam alta área superficial e condutividade elétrica. Por questões de desempenho e custo, o Vulcan XC 72 vem sendo 31 empregado com mais frequência (FENG, LI, LIU, 2012). Dentre as características do Vulcan XC 72 estão, a alta dispersividade do catalisador, alta área superficial, porosidade e condutividade elétrica (ANTOLINI, 2009). A figura 14 mostra uma micrografia eletrônica de varredura do carbono Vulcan XC 72. Observa-se que o Vulcan é constituído de um aglomerado de nanopartículas de carbono com microporos. Figura 14 - micrografia eletrônica do carbono Vulcan Fonte: ANTOLINI, 2008 32 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL - Avaliar a atividade eletrocatalítica de nanopartículas metálicas de ouro (GNP) na oxidação do metanol. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Sintetizar nanopartículas metálicas de Au por redução química a partir do HAuCl4. - Caracterizar as nanopartículas metálicas de Au empregando espectroscopia de UV-vis e difratometria de Raios-X. - Preparar sistemas catalíticos a base de carbono Vulcan, impregnados ou não, com nanopartículas metálicas de Au (eletrodos modificados). - Avaliar a atividade eletrocatalítica dos diferentes eletrodos modificados na eletrooxidação do metanol utilizando voltametria cíclica. 33 4 MATERIAIS E MÉTODOS O precursor metálico, ácido auroclorídrico (HAuCl4, 30%wt), foi obtido com a Sigma-Aldrich (St. Louis, MO, USA ) e o citrato de sódio, redutor químico, pela Nuclear (Diadema, SP, Brazil ). O carbono Vulcan XC-72 comercial foi gentilmente doado pelo grupo de pesquisa liderado pelo Dr. Roberto Cantú, do Centro de Investigación en Química Aplicada (CIQA) – México. 4.1 SÍNTESE DE GNP Nanopartículas de ouro foram preparadas pelo método de Turkevich (TURKEVICH et al, 1951) com pequenas modificações (CARDOSO et al, 2014; DOHNERT et al, 2014; CARDOSO et al, 2014). A redução dos íons de ouro foi mediante a um redutor químico, que neste método foi o citrato de sódio. O precursor metálico utilizado na síntese foi o ácido auroclorídrico. A síntese consistiu em aquecer a solução aquosa de HAuCl4 próximo da temperatura de ebulição da água e então uma alíquota da solução do citrato de sódio foi adicionado rapidamente. Durante todas as etapas da síntese, a solução foi agitada vigorosamente por agitação mecânica. 4.2 IMPREGNAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS METÁLICAS EM SUBSTRATO DE CARBONO O carbono Vulcan foi disperso em solução 6,33mM aquosa de HAuCl4 com agitação magnética e com banho de ultrassom por 15 min. A mistura foi aquecida até 95ºC e então adicionado rapidamente 25ml de solução de citrato de sódio 340mM . O percentual teórico de Au no produto final foi de 20% em peso. 4.3 CARACTERIZAÇÕES: 4.3.1 Espectroscopia Eletrônica (UV-vis) 34 Todas as análises de UV-vis foram efetuadas num espectrofotômetro Shimadzu modelo UV-1800. Soluções coloidais de GNP foram colocadas em cubetas de quartzo e os espectros registrados num intervalo de comprimento de onda de 800 à 200 nm. 4.3.2 Difratometria de Raios-X (DRX) Os difratogramas foram obtidos com auxílio de um equipamento Shimadzu modelo XRD-6000 com radiação Cu-kα (λ=0,15406nm). Para os catalisadores a base de carbono Vulcan, impregnados com GNP ou não, compactou-se uma quantidade suficiente do material particulado no porta-amostras do equipamento e os difratogramas registrados a uma velocidade de 2º/min por minuto. Os difratogramas das GNP foram efetuados mediante deposição de solução em um porta-amostras de vidro, construído para esta finalidade. Para a deposição foi necessária a concentração da solução de GNP por centrifugação a 10000 rpm por 5 min. Maiores detalhes podem ser obtidos nas referências (CARDOSO et al, 2014 b). Os difratogramas foram obtidos para 2θ = 10º à 80º. O tamanho médio das partículas foi calculado por meio da equação de Scherrer (equação 1): �̅ = �� � cos �� Equação 1 Onde k é o fator de forma (0,9 para geometriaesférica), λ é o comprimento de onda da radiação Cu-Kα equivalente a 0,15406nm. β é largura da meia altura do pico de maior intensidade e θ é o ângulo do pico de maior intensidade (BURTON et al, .2009). 4.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Caracterização micro estrutural do catalisador Au/Cvulcan foi efetuada por microscopia eletrônica de varredura empregando um MEV da marca Jeol, modelo JSM 6390. Uma amostra do catalisador foi depositada sobre o porta amostras do equipamento e recoberta com ouro por sputtering, já que não se trata de material bom condutor. 35 4.3.4 Preparação dos eletrodos modificados 4.3.4.1 Eletrodo modificado com copolímero PSAAS Uma solução 5% em peso do copolímero em 1ml de tetrahidrofurano (THF) foi mantida sob agitação por 2 h para completa homogeneização e então, 15µL da solução foi depositada com auxílio de uma micropipeta no eletrodo de carbono vítreo, previamente limpo e polido. 4.3.4.2 Eletrodo modificado com copolímero e carbono Vulcan Uma tinta foi produzida dispersando 2mg do carbono Vulcan em 950µL de THF e adicionando 50µL da solução 5% em peso do copolímero. A tinta foi mantida em banho de ultrassom por 30min, seguido de agitação mecânica por 2h. Posteriormente 15µL desta tinta foi depositada sobre o eletrodo de carbono vítreo previamente limpo e polido, conforme descrito no item anterior. 4.3.4.3 Eletrodo modificado com catalisador Foi disperso 2mg do catalisador em 950µL de THF em banho de ultrassom por 30min e misturado com 50µL de solução 5% em peso do copolímero PSAAS. A mistura ficou por 2h sob agitação mecânica e então 15µL da tinta catalisadora foram depositadas na superfície do eletrodo de carbono vítreo previamente limpo e polido. 4.3.5 Voltametria Cíclica Os voltamogramas foram obtidos em um potenciostato/galvanostato da marca BioLogic modelo SP-200. Os experimentos foram efetuados em uma célula típica de três eletrodos utilizando uma placa de platina como contra eletrodo e um fio de platina como eletrodo de referência (pseudoeletrodo). A velocidade de varredura para todos os voltamogramas foi de 20mV/s. O sistema utilizado para este trabalho está ilustrado na figura 15. 36 Figura 15 – Célula eletroquímica de três eletrodo Fonte: O Autor, 2015 Inicialmente foi purgado argônio por 2 minutos para evitar que no voltamograma as bandas de oxirredução do oxigênio surgissem. O eletrodo modificado foi primeiramente submetido a um ciclo de potencial em uma solução eletrolítica 0,1M de NaOH. Posteriormente, o eletrodo foi estudado em soluções de concentração de 2, 4, 6 e 8M de metanol. Os eletrodos de trabalho que continham o copolímero PSAAS foram submersas em água destilada para que o copolímero hidratasse. Isso é necessário pela propriedade de carreador iônico já descrito neste trabalho. Resumidamente, para testar as variáveis, foram efetuados estudos eletroquímicos em um eletrodo limpo de carbono vítreo, eletrodo modificado com copolímero PSAAS, PSAAS mais Vulcan e finalmente com o catalisador. Esse método foi empregado para provar que a eletrooxidação do metanol é causada unicamente pela presença da nanopartícula de ouro. 37 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 CARACTERIZAÇÕES DAS NANOPARTÍCULAS DE OURO De acordo com o esperado, o espectro eletrônico de uma solução aquosa de GNP apresentou uma transição eletrônica caracterizada por uma banda de ressonância plasmônica em 525nm, conforme é mostrado na figura 16. Este espectro é típico de nanopartículas de ouro esféricas, com diâmetro médio entre 10 e 30nm. Metais nobres nanopartículados exibem o fenômeno de ressonância plasmônica que é uma oscilação da nuvem eletrônica na superfície da nanopartícula metálica ocasionada pelos elétrons do orbital d (EUSTIS, 2005). O espectro no UV-vis de nanopartículas é influenciado por alguns fatores, entre elas podem-se citar o tamanho, constante dielétrica e a geometria da nanopartícula. O tamanho faz com que a banda eletrônica ressonante tenha um deslocamento para comprimentos de ondas maiores. Este efeito pode ser usado para testar estabilidade das nanopartículas em solução, como demonstrado por MELO (MELO et al, 2012). O meio em que as nanopartículas estão modifica a constante dielétrica influenciando na frequência de oscilação da nuvem, mudando o comprimento de onda da banda de ressonância na superfície plasmônica. Essa propriedade é utilizada no desenvolvimento de sensores ópticos para detecção de substâncias orgânicas. O espectro tem perfil diferente com a geometria da nanopartícula, sendo que GNPs de formato esférico possuem uma banda de ressonância, enquanto que GNPs em formato de bastão apresentam duas bandas, uma proveniente da superfície transversal e a outra da superfície longitudinal (EUSTIS, 2005). Dessa maneira, tem-se um indicativo da geometria das GNPs sintetizadas. Foi determinado no estudo de CARDOSO e colaboradores (CARDOSO et al, 2014 b) que a metodologia descrita neste trabalho resulta em síntese de nanopartículas de formato esférico. A geometria é fundamental para saber que fator de forma utilizar na equação de Scherrer equação 1) na determinação do diâmetro médio das nanopartículas. 38 Figura 16 – Espectroscopia no UV-Vis para GNP 450 500 550 600 650 700 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Ab so rb ân ci a Comprimento de onda (nm) GNP Fonte: Autor, 2015 O difratograma de raios-X para estas nanopartículas de ouro é representado na figura 17. Foi observado somente a presença de fase metálica do ouro. Os picos de difração com ângulos em 2ϴ = 37,5º, 43,7º, 64,2º e 76,9º são compatíveis com o padrão apresentado no card JCPDS de número 4-0784. Entretanto, verifica-se um pequeno deslocamento de cerca de 0,60º em relação ao padrão. Provavelmente este deslocamento se deva a superfície irregular do suporte (porta amostras). Uma evidência disto é a presença no intervalo 2ϴ = 15,0 a 35,0º de perfil característico de material amorfo, que é justificado pelo fato do suporte ser feito de material vítreo, sobre o qual as GNPs foram depositadas. O diâmetro médio das nanopartículas de ouro, calculado a partir do respectivo difratograma e utilizando a equação de Scherrer (BURTON et al, 2009) foi de 11 nm. A ausência de picos de difração correspondentes à formação de óxidos comprova o êxito da rota sintética empregada. 39 Figura 17 – Difratograma de Raios-X de GNP 10 20 30 40 50 60 70 80 20 40 60 80 100 120 2θ (graus) In te n si da de GNPAu(111) Au(200) Au(220) Au(311) Ruido do suporte Fonte: Autor, 2015 5.2 CATALISADOR Na figura 18 é apresentado o difratograma de raios-X do sistema catalítico Au/CVulcan, obtido pela redução direta do Au3+. O pico 2θ = 25,0º está associado ao plano do grafite (card JCPDS 74-2330). Observa-se que há presença de ouro metálico, cujos picos coincidem com o descrito no card JCPDS 4-0784. Os picos para o ouro são 2θ = 38,20º, 44,50º, 64,57º e 77,56º. Neste caso não se observa sinal de fase amorfa, uma vez que o porta amostras utilizado foi metálico e foi possível usar maior quantidade de amostra. O tamanho médio das nanopartículas de ouro, calculado pela equação de Scherrer, foi de 26,0 nm. A microestrutura do sistema catalítico foi avaliada por microscopia eletrônica de varredura, no sentido de verificar a regularidade das partículas. Uma micrografia eletrônica com ampliação de 1300 vezes é mostrada na figura 19. Observa-se que os grânulos do carbono Vulcan impregnado com nanopartículas de ouro é regular e está disperso homogeneamente, isto é, apresenta pouca aglomeração. Adicionalmente, pode-se dizer que a morfologiado catalisador é de aspecto rugoso. Isto é um bom indicativo, já que a atividade catalítica é melhorada com o aumento da área superficial. 40 Figura 18 – Difratograma de Raios-X para o catalisador Au/CVulcan 10 20 30 40 50 60 70 80 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 In te n si da de 2 θ (graus) Au/C C (002) Au (111) Au (200) Au (220) Au (311) Fonte: Autor, 2015 Figura 19 – Microscopia Eletrônica de Varredura do catalisador Au/CVulcan Fonte: Autor, 2015 41 5.3 VOLTAMETRIA CÍCLICA Para avaliar a capacidade eletrocatalítica do catalisador na oxidação do metanol foram preparados diferentes sistemas catalíticos, cuja eficiência foi investigada empregando- se a técnica de voltametria cíclica. Os seguintes sistemas catalíticos foram preparados e testados: i – Cglass, que serviu como linha de base, ou controle negativo; ii – Cglass modificado com o PSAAS; iii – Cglass revestido com CVulcan e PSAAS iv - Cglass recoberto com GNPs e, v – Cglass recoberto com GNP/ CVulcan + PSAAS. O voltamograma da figura 20 mostra que o eletrodo de carbono vítreo limpo e sem modificações não apresenta atividade catalítica em solução alcalina de NaOH 0,1M em presença de metanol no intervalo de concentração de 0 até 8M. Convém relembrar que todos voltamogramas cíclicos forma registrados a uma velocidade de variação de potencial (ou velocidade de varredura) de 20 mV/s e atmosfera inerte de Ar. Figura 20 – Voltamograma do carbono vítreo em solução alcalina sem e com presença de metanol -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 E (V) i (µ A) 0M Metanol 2M Metanol 4M Metanol 6M Metanol 8M Metanol Fonte: Autor, 2015 42 A figura 21 mostra os voltamogramas do eletrodo de trabalho modificado com o copolímero PSAAS nas mesmas condições que foram efetuadas com o eletrodo limpo e polido. Novamente não há atividade eletrocatalítica. Figura 21 – Voltamogramas do eletrodo modificado com PSAAS em meio alcalino em diferentes concentrações de metanol -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 E (V) i (µ A) 0M Metanol 2M Metanol 4M Metanol 6M Metanol 8M Metanol Fonte: Autor, 2015 Os voltamogramas referentes ao eletrodo modificado com PSAAS com CVulcan está mostrado na figura 22. Observa que igualmente aos voltamogramas anteriores, a presença do carbono Vulcan no copolímero também não apresenta atividade eletroquímica em meio alcalino com presença de metanol. Nenhum processo redox é verificado no intervalo de potencial investigado. 43 Figura 22 – Voltamogramas referente ao eletrodo modificado com PSAAS + CVulcan em meio alcalino com variação de concentração de metanol -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 -15 -10 -5 0 5 10 E (V) i (µ A) 0M Metanol 2M Metanol 4M Metanol 6M Metanol 8M Metanol Fonte: Autor, 2015 O voltamograma cíclico em solução NaOH 0,1M sem presença de metanol para o eletrodo modificado com GNP com diâmetro médio de 11 nm está representado na figura 23. Observa-se que há eletroatividade com duas ondas de oxidação, com Epa em 0,27 V e 0,40V, respectivamente. O primeiro processo é atribuído à adsorção química de íons OH- na superfície das nanopartículas de ouro, ou seja, sua pré-oxidação. A segunda onda de oxidação corresponde à formação de uma camada de óxido de ouro. Uma onda de redução com Epc em 0,25 V devido a dessorção dos íons da superfície do ouro é observada. Em adição, nota-se uma corrente catódica bem intensa (YAN et al, 2011; PEDIREDDY et al, 2014). Figura 23 – Voltamograma Cíclico de um eletrodo de Cglass recoberto com GNP 11 nm em solução de NaOH 0,1M sem a presença de metanol. -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 E (V) i (µ A/ µg Au ) 0M Metanol Fonte: Autor, 2015 44 O comportamento do eletrodo modificado com GNP com diâmetro médio de 11 nm em presença de metanol é observado no voltamograma da figura 24. A concentração de metanol para esse voltamograma é de 2M. Em comparação com o voltamograma da GNP sem metanol há um aumento da densidade de corrente de 0,836µA/µgAu para 2,41µA/µgAu o que resulta em um ganho de quase 3 vezes mais de corrente. Isso significa que houve uma oxidação efetiva do metanol ocasionada pela presença de nanopartículas de ouro. O potencial para essa oxidação está em 0,64V e representa a eletrooxidação do metanol. Na varredura de potencial reverso, sentido de 1,30V para -0,70V, em 0,50V há a redução dos íons OH- adsorvidos na superfície do ouro. Em 0,41V um segundo pico de oxidação. Esse pico está associado à oxidação de espécies geradas durante a oxidação do metanol. Em geral essas espécies são carbonatos que reagem com OH-, como descrito na reação 4. Figura 24 - Voltamograma do eletrodo modificado com GNP em presença de metanol. Fonte: Autor, 2015 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 E (V) i (µ A/ µg Au ) 2M Metanol 45 Com o aumento da concentração de metanol é observado um aumento de corrente. Na figura 25 estão sobrepostos todos os voltamogramas para o eletrodo modificado com GNP em concentrações variadas de metanol. O aumento de corrente se faz eficaz até certo limite. De 2M para 4M e de 4M para 6M há um ganho respectivo de 2,41 para 3,23 e de 3,23 para 4,27 µA/µgAu. De 6M para 8M de metanol a densidade de corrente diminui de 4,27 para 4,00 µA/µgAu. Essa diminuição pode ser decorrente a uma saturação do sistema catalítico. Essa saturação pode ser decorrente ao acumulo de espécies formadas durante os ciclos de oxidações do metanol. Além desse efeito, em condições extremas, pode haver formação de gases hidrogênio e assim descolar parte da camada de ouro sobre o eletrodo de trabalho. Além do aumento da densidade de corrente, houve um deslocamento de potencial com o aumento da concentração de metanol. O potencial de oxidação para concentração de metanol 2M é de 0,41V, deslocando-se para 0,68 V na concentração de metanol 6 M. Na concentração máxima de metanol avaliada, isto é, 8 M, o potencial observado foi de 1,23V. Nessa mesma concentração é observada baixa redução dos íons OH- que em concentrações mais baixas era bem evidente. É possível que reações envolvendo a evolução de gás, muito comum em eletrossíntese, tenha contribuído para remover o sistema catalítico da superfície do eletrodo. Também é razoável supor que a presença de uma interface gasosa leve a redução drástica da área eletroativa do eletrodo. Figura 25 – Voltamogramas do eletrodo modificado com GNP com variações de concentração de metanol. -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 E (V) i (µ A/ µg Au ) 0M Metanol 2M Metanol 4M Metanol 6M Metanol 8M Metanol Fonte: Autor, 2015 46 Na figura 26 estão dispostos quatro voltamogramas para o eletrodo modificado com o catalisador. Na imagem 25A tem-se em meio alcalino sem a presença do metanol. Nessas condições o catalisador não apresenta atividade. Em comparação com 25B é observável uma pequena atividade de oxidação em 0,70V e uma redução em 0,51V. Com o aumento da concentração do metanol essas atividades se mostra mais ampliada, confirmando a atividade do catalisador, possível de ser identificado em 25C e 25D. Figura 26 - Voltamogramas do eletrodo modificado com Au/CVulcanFonte: Autor, 2015 Na figura 27 foram sobrepostos todos os voltamogramas do catalisador nas concentrações de 2 a 8M para evidenciar o aumento da atividade eletrocatalítica. Em comparação com os voltamogramas da GNP (Fig 25) o catalisador Au/Cvulcan apresenta maior corrente. Com 2M de metanol a GNP gerou corrente de 2,41µA/µAu. Nas mesmas condições o catalisador apresentou uma densidade de corrente próxima de 5,00 µA/µgAu. O máximo de densidade que a GNP apresentou foi com 6M uma densidade de corrente de 4,27 µA/µgAu contra 5,73 µA/µgAu com apenas 4M de metanol. 47 Figura 27 - Voltamogramas do eletrodo modificado com Au/CVulcan em presença de metanol nas concentrações de 2, 4, 6 e 8M -0.6 -0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 E (V) i (µ A/ µg Au ) 2M Metanol 4M Metanol 6M Metanol 8M Metanol Fonte: Autor, 2015 Ao contrário da GNP no catalisador não foi observado uma diminuição da corrente com o aumento da concentração de metanol. De 6M para 8M a densidade de corrente aumentou de 6,71 para 7,07 µA/µgAu. Assim como foi observado com as medidas eletroquímicas com a GNP, no catalisador não foi observado um grande deslocamento no potencial para a eletrooxidação do metanol com o aumento de sua concentração. Isso pode ser em decorrência das nanopartículas estarem suportadas em um substrato da qual alguns estudos já apresentaram resultados de optimização catalítica pela influencia do suporte (ANTOLINI, 2009). Carbono Vulcan comercial possui elevada área superficial (em torno de 200m2/g) e, tamanho de partícula de aproximadamente 30 nm. A alta porosidade contribui para a difusão no catalisador e essa característica é o que pode influenciar para o melhor desempenho quando comparado com as GNP não suportadas. 48 6 CONCLUSÃO Nanopartículas de ouro com diâmetro médio de 11 nm foram sintetizadas com sucesso, confirmado pelas análises de UV-Vis e difração de raios-X. Também foi possível sintetizar GNP em presença de Carbono Vulcan, resultando em nanopartículas com diâmetro médio de 26 nm. Os estudos eletroquímicos preliminares, realizados por voltametria cíclica, permite concluir que o efeito catalítico na eletrooxidação do metanol é ocasionado pela presença de nanopartículas de ouro. A densidade de corrente gerada é dependente do sistema catalítico empregado, ou seja, presença ou não de Carbono Vulcan. Outro fator a ser considerado é a concentração de metanol empregada. Para o catalisador Cglass/Au, a corrente catalítica aumenta com o aumento de concentração do metanol. Nesse caso, os picos das ondas de oxidação também são deslocados. Finalmente, nanopartículas de ouro suportadas em carbono Vulcan tiveram um maior efeito catalítico na atividade eletrooxidativa de moléculas de metanol, o que sugere potencial para aplicação em células a combustível do tipo DMFC. 49 7 ESTUDOS FUTUROS No sentido de dar continuidade a este estudo sugere-se: � Testar o efeito eletrocatalítico de nanopartículas de ouro com diferentes geometria e tamanho. � Depositar nanopartículas de ouro em outros tipos de suportes. � Avaliar o efeito eletrocatalítico de outras nanopartículas metálicas, tais como Ru, Ni e ligas de AuAg � Avaliar o efeito eletrocatalítico em outros substratos. 50 8 REFERÊNCIAS AMIN, R.S. HAMEED , R.M. Abdel. KHATIB , K.M. El. M. YOUSSEF, Elsayed. Electrocatalytic activity of nanostructured Ni and PdeNi on Vulcan XC-72R carbon black for methanol oxidation in alkaline medium. International journal of hydrogen energy. Vol 39. p.2026-2041. 2013 ANTOLINI, Ermete. Carbon supports for low-temperature fuel cell catalysts. 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