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ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL POLÍCIA MILITAR DIRETORIA DE ENSINO – DE ACADEMIA CEL MILTON FREIRE DE ANDRADE DEFESA PESSOAL PARTE TEÓRICA DEFESA PESSOAL E CIDADANIA: UMA AGREGAÇÃO À LUZ DOS DIIREITOS Natal – RN Janeiro / 2006 PAULO ROBERTO DE ALBUQUERQUE COSTA – TEN CEL PM DEFESA PESSOAL DEFESA PESSOAL E CIDADANIA: UMA AGREGAÇÃO À LUZ DOS DIIREITOS Apostila da disciplina Defesa Pessoal para as aulas teóricas do Curso de Formação de Oficiais – CFO/PMRN. Natal – RN Janeiro / 2006 PENSAMENTO Nós pedimos com insistência: Não digam nunca: isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia. Numa época em que reina a confusão. Em que corre sangue. Em que se ordena à desordem. Em que a humanidade se desumaniza. Em que os arbitrários tem força de lei. Não diga nunca: isso é normal. Bertolt Brecht SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 06 O INSTRUTOR ....................................................................................................... 07 COMENTÁRIOS DO INSTRUTOR ......................................................................... 08 CAPÍTULO 1 – O ALUNO ...................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 – A ORIGEM DO PENSAMENTO MARCIAL .................................. 1. De onde veio a Palavra marcial ........................................................................... 2. Um pouco da História para melhor conhecer a origem das Artes Marciais ......... 3. História das Artes Marciais a serem Estudadas .................................................. 3.1 Origem e Evolução do Jiu Jitsu .......................................................................... 3.2 Na Índia .............................................................................................................. 3.3 Na China ............................................................................................................ 3.4 No Japão ............................................................................................................ 3.5 No Brasil ............................................................................................................ 3.6 No Rio de Janeiro .............................................................................................. 4. Origem e Evolução do Judô ................................................................................ 4.1 Jigoro Kano (1860 – 1938) ................................................................................ 4.3 Sobre a Fundação do Instituto Kodokan ........................................................... 4.4 A chegada do Judô no Brasil ............................................................................. 5. Origem e Evolução do Karatê .............................................................................. 5.1 Os Monges Oriundos da Índia ........................................................................... 5.2 Okinawa – O berço do Karatê Dô ...................................................................... 5.3 Gichin Funakoshi – O Pai do Karatê Moderno ................................................... 5.4 Oficialização do Karatê-Dô na educação escolar de Okinawa .......................... 5.5 O Karatê-Dô Shotokan chega ao Japão ............................................................ 5.6 O missionário do Karatê-Dô Shotokan moderno ............................................... 5.7 A filosofia Budô .................................................................................................. 5.8 As conseqüências da guerra no Karatê-Dô ....................................................... 5.9 A propagação do Karatê-Dô Shotokan no mundo ............................................. 5.10 Início do Karatê no Brasil ................................................................................. 5.11 O Karatê-Dô Shotokan chega ao Rio Grande do Norte .................................. 13 13 15 16 16 17 17 17 18 18 19 19 20 21 22 22 23 27 29 30 30 32 32 34 35 41 CAPÍTULO 3 – Direitos Humanos e Direitos Internacionais Humanitários ...... 44 1. Perguntas Chaves ................................................................................................ 44 2. Questões Éticas e Legais Relacionadas ao uso da Força e Arma de Fogo – Armas Letais ............................................................................................................ 44 3. O Direito a Vida a Liberdade e a Segurança de todos as Pessoas .................... 45 4. Uso da Força para Encarregados da Aplicação da Lei ....................................... 45 5. Princípios Básicos sob o Uso da Força e Arma de Fogo - Arma Letal............... 46 5.1 Dispositivos Gerais e Específicos ...................................................................... 47 5.2. Princípios Essenciais ........................................................................................ 48 5.3. Qualificação, Treinamento e Aconselhamento ................................................. 48 5.4. Uso de Armas .................................................................................................. 49 5.5 Uso Indevido de Força e Arma de Fogo ........................................................... 50 5.6. Opções de Uso de Força ................................................................................. 50 CAPÍTULO 4 – DO INTERROGATÓRIO JUDICIAL .............................................. 51 CAPÍTULO 5 – NOTAS PUBLICADAS NA IMPRENSA ....................................... 53 CAPÍTULO 6 – AS ARTES MARCIAIS NA SOCIEDADE ATUAL ........................ 1. A Prática das Artes Marciais ............................................................................... 2. O Karatê-Dô na Educação e Saúde da Criança ................................................. 57 58 58 CAPÍTULO 7 - DEFESA PESSOAL ....................................................................... 1. Que é Defesa Pessoal ........................................................................................ 2. Ainda sobre Defesa Pessoal ............................................................................... 3. Benefícios e Finalidade da Defesa Pessoal ........................................................ 60 60 60 61 CAPITULO 8 – DA AGRESSIVIDADE ................................................................... 1. Agressividade e Violência – um enfoque psicológico ......................................... 2. Origem Generalizada .......................................................................................... 3. O Ser Humano é Agressivo ................................................................................ 4. Tipos de Violência Imposta pela Máquina Estatal e o Sistema Econômico ........ 5. Violência e suas Modalidades ............................................................................. 6. Ação e Reação ....................................................................................................7. Técnicas para a Dissolução da Violência ............................................................ 63 63 63 63 65 65 66 67 CAPÍTULO 9 - DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO .............................................. 1. Lesão Corporal à Luz da Lei ............................................................................... 2. Legitima Defesa a Luz da Lei .............................................................................. 2.1 Comentários acerca do art 25 CP ..................................................................... 2.2 Tenham cuidado ao responder uma agressão .................................................. 2.3 A Legislação reconhece o direito a defesa, mas condene excessos ............... 3. Emprego da Força .............................................................................................. 69 69 71 71 72 72 73 CAPÍTULO 10 – ABUSO DE AUTORIDADE ......................................................... 74 CAPÍTULO 11 – DA VIOLENCIA POLICIAL .......................................................... A Violência Policial Militar no Exercício da Função ................................................ 76 76 CAPÍTULO 12 – ÉTICA ........................................................................................... Introdução ............................................................................................................ 86 86 1. Que é Ética ? ...................................................................................................... 2. Que é Moral ? ..................................................................................................... 3. Que é Amoral ? ................................................................................................... 4. Conduta e Comportamento Humano ................................................................... 5. Influencia Ambiental ............................................................................................. 6. Controle na Formação da Consciência Ética ....................................................... 7. Consciência Ética ................................................................................................ 8. Vícios Sociais ...................................................................................................... 9. Conduta do Ser Humano em sua Comunidade e em sua classe ........................ 10. Classes Profissionais ......................................................................................... 11. Código de Ética ................................................................................................. 12. O que Consta nesse Código ............................................................................. 13. Base Filosófica do Karatê-Dô Shotokan ........................................................... 14. Julgamento da Conduta Ética de Classe .......................................................... 87 88 88 88 88 89 89 89 90 90 90 91 92 95 CAPÍTULO 13 – SOBREVIVENCIA POLICIAL ..................................................... 97 CAPÍTULO 14 AS ARTES MARCIAIS NA SOCIEDADE MODERNA .................. 98 CAPÍTULO 15 – ARTES MARCIAIS COMO ESPORTE ....................................... 100 CAPÍTULO 16 – DIFERENÇA ENTRE DEFESA PESSOAL E A ARTE MARCIAL ESPORTE .............................................................................................. 101 CAPÍTULO 17 – OS TREINAMENTOS .................................................................. 104 CAPÍTULO 18 – TÉCNICAS DE MANUSEIO COM BASTÃO ............................... 1. Bastão (Policial) ................................................................................................... 2. Tonfa I .................................................................................................................. 3. Tonfa II ................................................................................................................. 110 110 112 112 CAPITULO 19 – DEFININDO O QUE REALMENTE É DEFESA PESSOAL ......... 114 CAPÍTULO 20 – LEGISLAÇÃO – CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – CONFEF E CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA - CREF 117 CAPÍTULO 21 – AULAS DE DEFESA PESSOAL – PRÁTICA DOJO .................. 117 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 118 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 119 ANEXOS ................................................................................................................. Anexo 1 – Lei 9.696, de 16 de setembro de 1998 .................................................. Anexo 2 – Resolução nº 013/99 – Registro de não-graduados em Educação Física no CONFEF REVOGADA ............................................................................ Anexo 3 – Resolução nº 021/00 – Dispõe sobre o registro de pessoas Jurídicas nos CREFs .............................................................................................................. Anexo 4 – Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000. ..................................................... Anexo 5 – Resolução nº 030/00 – Dispõe sobre os cursos para práticos ............... 120 121 123 125 127 136 Anexo 6 – Resolução nº 036/00 – Dispões sobre o registro dos não graduados no CONFEF. ................................................................................................................. Anexo 7 – Resolução COFEF nº 045/2002. – Dispões sobre o registro de não graduados em Educação Física no Sistema CONFEF/CREFs. ............................. Anexo 8 – Resolução nº 039/01 – Dispões sobre data limite para registro de não graduados no CONFEF. .......................................................................................... Anexo 9 – Lei Complementar nº 218, de 18 de setembro de 2001.- Autoriza a instituição de unidade administrativa que especifica na estrutura da Secretaria de Estado da Defesa Social, e dá outras providencias. ............................................... - Plano de Matéria de curso de defesa pessoal. ..................................................... - Capa de Avaliação ................................................................................................ - Quadro Demonstrativo do Corpo Discente ........................................................... - Quadro Horário das Instruções ............................................................................. - Termo de Matrícula ................................................................................................ - Portaria de Matrículas ............................................................................................ - Solicitação de Inscrição em Curso ......................................................................... - Plano Didático da Academia de Polícia Militar Cel Milton Freire de Andrade ....... - A Filosofia do Karatê-Dô ........................................................................................ - O Karatê aplicado a Defesa Pessoal ..................................................................... - CURRICULUM VITAE do Ten Cel Albuquerque ................................................... 137 138 140 141 143 148 149 151 152 153 154 167 174 179 APRESENTAÇÃO Este trabalho é fruto de 25 anos de observações acerca da condutae visão que policiais militares têm sobre a aplicação de técnicas de defesa pessoal, visão esta, totalmente distorcida, fruto da má orientação ao longo dos tempos em seus cursos de formação somada à falta de acompanhamento da evolução do mundo através dos tempos, fazendo uso deste mecanismo para, através da técnica e do uso da força, agredir não somente fisicamente, mas, principalmente, a integridade moral e psicológica do cidadão, negando-lhe os seus direitos, alegando muitas das vezes para isso, ter feito uso da “legítima defesa”. No entanto, objetivando não só transmitir os ensinamentos corretos a respeito da legalidade de se poder fazer uso das técnicas de defesa pessoal, procuramos, principalmente, conscientizar estes policiais do direito à cidadania que todos os povos e nações possuem dentro da legalidade. Dentro deste tema, foi necessário interligar a defesa pessoal à cidadania, à luz das leis vigentes não apenas do Brasil, mas, no mundo. O INSTRUTOR Ten Cel Albuquerque: UMA VIDA EM PROL DAS ARTES MARCIAIS Fotografia do Tc Albuquerque Ten C l Albuquerque - 3º Dan de Karatê Shotokan e Paulo Roberto de Albuquerque Costa, 3º Dan de Karatê estilo Shotokan / FBK / IJKA, Pernambucano de nascimento, Norteriograndense de coração, presidente da Federação Interestadual de Karatê Shotokan do Rio Grande do Norte pelo segundo mandato, proprietário da Escola de Karatê Shotokan de Natal, com mais de 30 anos de prática de Artes Marciais (defesa pessoal), dentre elas técnicas de Judô, Aikidô, capoeira e jiu jitsu, sendo especialista em técnicas de karatê aplicada à defesa pessoal, com vários títulos em campeonatos a nível estadual e nacional e cursos técnicos com os mais renomados Mestres de Karatê do Brasil e do Mundo. É instrutor de Defesa Pessoal dos Alunos Oficiais da APM/PMRN desde 1995. COMENTÁRIOS DO INSTRUTOR É visível nos dias atuais a expressiva demanda da sociedade pela prática de Defesa Pessoal no Brasil. O fenômeno decorre de fatores tais como o crescimento econômico, poder aquisitivo das pessoas, melhor qualidade de vida e principalmente a insegurança pública que assola a sociedade moderna brasileira. No entanto, cresce o número de academias nos centros urbanos. Neste sentido, cresce também o número de pessoas que se autodenominam professores ou mestres em artes marciais, abrindo suas academias e colocando em risco a saúde dos alunos, além de no caso de artes marciais, servirem de verdadeiras escolas motivadoras de prática de violência. Nesse pensamento, é que existe toda uma legislação desportiva e penal no Brasil, objetivando coibir essa prática clandestina ou irregular. No entanto, a Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte, pelo motivo do seu crescimento, perdeu o controle da prática de instrução de defesa pessoal dentro da Corporação. Cada Unidade aplica os ensinamentos de defesa pessoal e artes marciais sem nenhum tipo de acompanhamento, sem critérios e sem se preocupar com os resultados advindo dessa instrução. Nesse sentido, o objetivo deste comentário é mostrar a necessidade de se analisar e discutir a prática de defesa pessoal na Polícia Militar do Rio Grande do Norte, mostrando as suas irregularidades e sua impotencialidade diante de tal situação, chegando a causar comentários negativos no ambiente desportivo entre dirigentes de organizações e principalmente entre os verdadeiros professores de educação física e defesa pessoal. ANÁLISE CRÍTICA DA PRÁTICA DE DEFESA PESSOAL NA PMRN Inicialmente, verifica-se claramente a não valorização da prática de defesa pessoal na Policia Militar do Estado do Rio Grande do Norte. Outrossim, verifica-se também a falta de conhecimento aprofundado a respeito do tema prática de técnicas de defesa pessoal, ou seja, a falta de pessoas devidamente qualificada que possa debater o assunto tecnicamente e dentro da ótica da legislação desportiva vigente no Brasil na atualidade. Por essa falta a Polícia Militar do Rio Grande do Norte, vem errando a cada dia em não dar o valor devido a essa prática na Corporação. Sua importância no contexto da formação educacional e o lapidamento do caráter não só do recruta iniciante, mas, principalmente, do policial tido como antigo na Polícia Militar. A prática da violência policial no Brasil e no mundo, vem sendo tratada também com a prática Planejada bem monitorada de defesa pessoal e artes marciais em geral. Nos países do primeiro mundo são construídos centros de treinamentos completamente equipados com todo o tipo de material necessário para o desenvolvimento das aulas, tamanha é a importância dispensada, pois, sabem do percentual de ajuda ao combate da violência através do equilíbrio entre a teoria (filosofia Budô) e a prática (mecânica). Na Polícia Militar do Rio Grande do Norte, não existe um setor exclusivamente para cuidar apenas da prática da defesa pessoal e artes marciais, preferindo que cada Unidade cuide dessa instrução a seu mero prazer. Sem o conhecimento da forma de como está se desenvolvendo essa prática, principalmente por quem a ministra. Sabemos que o Conselho Federal de Educação física (CONFEF) juntamente com os Conselhos Regionais (CREFEs) vem fechando o cerco a todas as entidades e órgãos civis e militares do Brasil, com o objetivo de fechar os locais de treinamentos de prática de educação física e artes marciais em geral que não se encontram perfeitamente enquadrado dentro da Lei Federal nº 9.696, preferindo passar por constrangimento junto a opinião pública do que dar melhor atenção a necessidade, qualidade e legalidade dos trabalhos desenvolvidos com a prática da defesa pessoal na Corporação, colocando a frente pessoas qualificadas para coordenar através de um setor próprio, colaborando com a diminuição da prática de violência policial através do esporte (competições), da defesa pessoal científica e de artes marciais bem orientadas. NECESSIDADE DE UM DEPARTAMENTO DE DEFESA PESSOAL NA PMRN As más orientações repassadas nas aulas teóricas/prática de Defesa Pessoal aos policiais militares, colaboram com a prática da violência policial nas ocorrências que necessitam do emprego da força por parte dos agentes encarregados da manutenção da ordem pública. Todas as Policias do mundo possuem nas suas estruturas organizacional um setor que cuida especificamente da área de Defesa Pessoal como um todo; estes Setores, Departamentos ou Centros, já são uma realidade hoje no Brasil. Podemos citar por exemplo, dentre outras, a Policia Militar do Estado de São Paulo que tem um Centro de Treinamento de Defesa Pessoal, que trabalha em parceria com órgãos da área desportiva do Governo, que planeja, coordena e disciplina as atividades de Defesa Pessoal e Artes Marciais naquela organização policial militar. Nesta perspectiva, surge a necessidade urgente da criação e ativação de um Departamento de Defesa Pessoal para a Polícia Militar do Rio Grande do Norte, com o objetivo de conduzir essa área tão importante nos dias atuais para uma organização policial e a sociedade em geral, não permitindo que aberrações venham a ocorrer isoladamente causando prejuízo a Corporação, sendo ela mesma a responsável direta pelo problema. Nesse pensamento, pesquisar a prática de Defesa Pessoal desenvolvida na Polícia Militar do Rio Grande do Norte, em particular nas Unidades da Grande Natal, seus reflexos no contexto educacional, social e operacional, a qualificação e regulamentaçãodos instrutores com fulcro na legislação desportiva em vigor no país, é necessário a criação e ativação de um Departamento de Defesa Pessoal, com a responsabilidade de planejar e coordenar todas as atividades na área de Defesa Pessoal e Artes Marciais na Instituição Policial Militar do Rio Grande do Norte. Ten Cel PM Albuquerque 3º Dan Instrutor de Defesa Pessoal CAPÍTULO 1 O ALUNO O aluno - Enraizado como um dos mais primit ivos instintos da vida animal, vemos como o homem necessita de uma atenção maior do que o restante dos seres vivos para nascer, crescer, desenvolver-se e, f inalmente, morrer. Em todas e em cada destas etapas o aprendizado é constante, ainda que a ordem de importância se veja mais acentuada nas primeiras fases. O aprendizado através da famíl ia, da sociedade e de própria experiência e personal idade joga um papel decisivo na formação integral da pessoa. A natureza, na maioria dos casos, inf lui na escolha do caminho a seguir em casos de dúvida. Se quiséssemos anal isar os motivos que levam o homem à prática de uma arte marcial na sociedade moderna, veríamos que seria preciso uma investigação de psicologia social de longo alcance para podermos ter dados conf iáveis e objetivos. No entanto, a experiência demonstra que, na maioria das vezes, estes motivos podem ser englobados em três grupos: formativos, recreat ivo e cr iat ivo, apesar de que sendo mais preciosos, nos damos conta que estes grupos f icam reduzidos a um apenas, que tem suas raízes na necessidade primária do homem de se relacionar e comunicar com seus semelhantes. Este relacionamento, por sua vez, está condicionado à idade, ao sexo e à personalidade tanto do educador quanto do educando. O esotérico e enigmático mundo das artes marciais e a relação do aluno com o professor adquirem transcendental importância. O respeito, a confiança e a est ima que se professam são mútuas, chegando a alcançar níveis próprios de um alto grau de maturidade característ ico de uma sociedade hierárquica e humana, que forma a pedra angular sobre a qual está assentada a prát ica da arte marcial ou defesa pessoal. Numa escola de artes marciais o aluno tem uma função dupla, faci l i tada pelos di ferentes graus de conhecimento reflet idos na cor da faixa: uma de aprendizado através dos graus superiores, outra de docência para com os graus infer iores, por sentir-se incorporado como peça vál ida de uma corrente de conhecimentos, na qual recebe e dá simultaneamente, enriquecendo-se no constante f luir do aprendizado: a) Emprego da Força b) Emprego da força física c) Arte Marcial d) Defesa Pessoal e) Abuso de autoridade f) Legitima Defesa g) Equipamentos não letais h) Equipamentos letais CAPÍTULO 2 A ORIGEM DO PENSAMENTO MARCIAL 1. DE ONDE VEIO A PALAVRA MARCIAL? Segundo LACEY (1999), o Homem é uma raça que evoluiu de organismos unicelulares para o seu estado mias elevado por meio de uma série de transformações biológicas ocorridas a milhões de anos, onde muitos acreditam que o ser humano tinha vida marítima, uma pequena célula, que deu origem a uma outra forma de vida, e com o passar dos anos, foi tomando nova forma de vida até chegar no homem. NICHOLAS (1999), afirma que Antropólogos acreditam que o homem tem sua origem em macacos antropóides, ou que este foi derivado de um ancestral antropóide em comum, que ao longo de milhões de anos evoluiu, mudando de forma até chegar no seu estado mais elevado, o homem, o que segundo eles, explica a existência do homem das cavernas, que seria uma das fases da evolução do homem. Mas entre as diversas teorias sugeridas pelos Antropólogos evolucionistas, nenhuma delas possui comprovação aceita pela maioria dos estudiosos da antropologia, existem sim muitos casos isolados, mas que não oferecem nada de real, e além disso não há descobertas cientificas ou arqueológico para dar sustentação a nenhuma destas teorias. Afirmam alguns cientistas que aproximadamente há 5 milhões de anos, surgia o homem sobre o planeta Terra, tendo provavelmente como berço o continente africano. Tinha início o longo, sangrento e, por vezes, glorioso caminhar da História. Os estudiosos tradicionais dividiam a evolução humana em dois períodos: a Pré- História, caracterizada pela ausência de escrita, e a História propriamente dita, quando se formaram as primeiras civilizações. Essa divisão é bastante simplista e conceitualmente errada, pois, sendo o homem um agente histórico por definição, seu aparecimento e suas primeiras atividades já caracterizam uma realidade que, efetivamente, pode ser denominada de “histórica”. Além disso, os antigos historiadores definiam a Pré-História pelo critério da carência: ausência de Estado, falta de sofisticação tecnológica, economia estritamente de subsistência e desconhecimento da escrita. Em suma, comunidades selvagens e, por conseguinte, desprovidas de História. Essa visão nos parece preconceituosa, pois parte do conceito de que o processo civilizatório só teve início quando nasceram as estruturas e os valores que a nossa cultura, neles baseada, define como tais. Também a Pré-História é dividida em períodos: o Paleolítico, o Mesolítico e a Idade dos Metais, desdobrada em período do Bronze e o do Ferro. As idéias gerais da teoria da evolução das espécies sofreram, aos poucos, alterações e aperfeiçoamentos. Todavia, as bases do evolucionismo subsistem até hoje e o nome de Darwin (Charles Darwin, naturalista inglês (1809-1882), à sua doutrina.) ficou ligado a uma das mais notáveis concepções do espírito humano. Acreditamos que desde o primeiro golpe desferido com um osso em direção a um objeto ou ser vivo originou os golpes de espada que hoje aperfeiçoados, denotam a perfeição da técnica atual em relação às suas origens. É inevitável não estabelecermos a origem do pensamento marcial às guerras. Daí o fato de ser chamado de artes marciais, que remonta a origem do deus marte, ou o deus da guerra. Explicarei melhor: MITOLOGIA (Aurélio Buarque de Holanda): s. f. 1. Descrição geral dos mitos. 2. Estudo dos mitos. 3. História dos mistérios, cerimônias e culto com que os pagãos reverenciavam os seus deuses e heróis. MITO (Aurélio Buarque de Holanda): s. m. 1. Fábula que relata a história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade pagã. 2. Interpretação primitiva e ingênua do mundo e de sua origem. 3. Coisa inacreditável. 4. Enigma. 5. Utopia. 6. Pessoa ou coisa incompreensível. Marte (Ares), deus sanguinário e detestado pelos imortais, nunca teve grande importância entre as populações helênicas. Em numerosas localidades, parece até haver sido inteiramente desconhecido, e se o seu culto conservou na Lacônia importância maior que alhures, deve-se à rudeza dos habitantes de tal país. Foi somente entre os romanos que Marte adquiriu importância verdadeira e permanente; o tipo de Palas conformava-se muito mais ao gênio grego. Com efeito, Palas é a inteligência guerreira, ao passo que Marte nada mais é do que a personificação da carnificina. Ávido de matar, pouco lhe importa saber de que lado está a justiça e cuida apenas de tornar mais furiosa a luta. O deus da guerra e da violência aparece-nos sempre em atitude de repouso. Tem, por vezes, numa das mãos a Vitória, como Júpiter ou Minerva. Vemo-lo com tal aspecto numa famosa estátua da Villa Albani. Uma linda pedra gravada mostra Martesegurando com uma das mãos a Vitória e com a outra a oliveira, símbolo da paz proporcionada pela vitória. A maioria das vezes usa um capacete e empunha uma lança ou gládio. Aparece, assim, em várias medalhas, mas as estátuas que o representam isoladamente não são demasiadamente comuns entre os gregos. Entretanto, a bela estátua do Louvre, conhecida pelo nome de Aquiles Borghese passa hoje por ser um Marte. Explica-se o elo que usa num dos pés pelo hábito de certos povos, e notadamente os lacedemônios, de agrilhoarem o deus da guerra. Parece ter sido o escultor Alcameno de Atenas quem fixou o tipo de Marte, tal qual surge habitualmente nos monumentos artísticos. Os atributos habituais do deus são o lobo, o escudo e a lança com alguns troféus. Uma medalha cunhada na época de Seotímio Severo nos mostra Marte com uma lança, um escudo e uma escada para o ataque. Sob tal aspecto, Marte recebe o epíteto de Teichosipletes (o que sacode as muralhas). Resumindo, no que conhecemos por história, Bodhidharma é o pai das artes Marciais. Dizem na China que, quando o homem de Nenderthal utilizou-se pela primeira vez de um osso ou de uma pedra para melhorar suas qualidade na luta, surgiu o KUNG FU. Pois bem, iremos abordar um pouco de história para melhor conhecer a origem das Artes Marciais. 2. UM POUCO DA HISTÓRIA PARA MELHOR CONHECER A ORIGEM DAS ARTES MARCIAIS Existem grandes obras elaboradas, por filósofos de comprovada idoneidade que mencionam na China, a prática do Kung Fu, muitos milhares de anos antes de Cristo. No entanto, existem ainda, muita discordância a respeito de sua origem. Ali pelo ano de 525 da era Cristã, atravessou a fronteira Chinesa, vindo da Índia, pelo "Caminho da Sêda", o 28º patriarca do Budismo que se chamava Bodhisatva Avalokitesvara Bodhidharma, (mais conhecido na China por Ta Mo), esse monge constatou a diversificação dos dogmas do Budismo Chinês e, em busca da Iluminação, ingressou no Templo Shao-Lin, na província de Honan e, pôs-se a meditar durante nove anos frente a um muro. Terminando o período de meditação, tomado por um acesso de mística, Bodhidharma recodificou o sistema ginástico denominado Kung Fu, filosoficamente comparou-o aos movimentos dos animais e uni-o a um característico "modus vivendi" estreitamente unido a natureza. Na mesma época, revolucionou o pensamento budico (recatado) universal, redescobrindo a meditação como forma de redescobrimento do homem. (Em crônicas posteriores abordaremos o aspecto filosófico). Mais ou menos mil anos após a morte de Bodhidharma, o Império Chinês foi invadido pelos bárbaros do norte, conhecidos como Manchus. A antiga dinastia dos Ming foi derrubada e seus oficiais esconderam-se no templo Shao-Lin. A fuga dos Oficiais Ming para o templo Shao-Lin representou papel importante na historia do Kung Fu, lá praticadas, foram aperfeiçoadas e ganharam um caráter mais bélico e marcial. Adaptando-se inclusive, à utilização de diversos tipos de armas. Porém, por esse motivo o templo Shao-Lin foi destruído e, embora tenha sido reconstruído em outro local, foi novamente destruído, provocando a disseminação dessa luta através de toda a China. No que se refere a Bodhidharma, como sempre acontece com as lendas, tornou-se impossível separar fato de ficção. As datas são incertas. De fato, eu conheço pelo menos um erudito budista que duvida que Bodhidharma tenha existido. Mas correndo o risco de escrever sobre um homem que nunca existiu, eu esbocei uma biografia, baseada nos registros mais recentes e algumas suposições, para fornecer um cenário para os sermões a ele atribuídos. Bodhidharma nasceu em torno do ano 440 em Kanchi, capital do reino sulista indiano de Pallawa. Ele era um brâmane de nascimento e o terceiro filho do Rei Simhavarman. Quando ele era jovem, ele converteu-se ao budismo, e mais tarde o Dharma lhe foi ensinado por Prajnatara, de Magadha, que foi convidado pelo seu pai. Magadha era o antigo centro do budismo. Também foi Prajnatara quem disse para Bodhidharma ir para China. Uma vez que a tradicional rota terrestre estava bloqueada pelos hunos, e uma vez que Pallawa tinha laços comerciais por todo Sudeste Asiático, Bodhidharma partiu de navio de um porto nas proximidades, Mahaballipuram. Depois de contornar a costa da Índia e a Península da Malásia por três anos, ele finalmente chegou ao sul da China ao redor do ano 475. Nessa época o país estava dividido pelas dinastias Wei do norte e Liu Sung. Essa divisão da China numa série de dinastias nortistas e sulistas começou no início do Séc. III e continuou até o país ser reunificado sob a dinastia Sui no fim do Séc. VI. Foi durante esse período de divisão e conflito que o budismo indiano transformou-se em budismo chinês, com os nortistas de mente militarista enfatizando meditação e mágica e os intelectuais sulistas preferindo discussão filosófica e a compreensão intuitiva de princípios. Quando Bodhidharma chegou à China, no fim do Séc. V, haviam aproximadamente 2 mil templos budistas e 36 mil clérigos no sul. Ao norte, um recenseamento em 477 contou 6,5 mil templos e aproximadamente 80 mil clérigos. Menos de 50 anos mais tarde, outro recenseamento feito ao norte aumentou esses números para 30 mil templos e 2 milhões de clérigos, ou cerca de 5% da população. Sem dúvida, isso incluía muitas pessoas que estavam tentando evitar impostos ou recrutamento ou que procuravam a proteção da igreja por outras razões não religiosas, mas claramente o budismo estava espalhando-se pelas pessoas comuns ao norte do Rio Yangtze. No sul, permaneceu muito confinado à elite educada até o Séc. VI. Muitas são as lendas que permeiam as origens dos pensamentos relacionados às artes de guerra. Desde que as origens da religião “shinto” se estabeleceram o Japão como filhos de deus, muito se fala a respeito das artes marciais japonesas, mas até onde tudo é verdade ou frutos da mitologia criada pelo homem? 3. HISTÓRIA DAS ARTES MARCIAIS A SEREM ESTUDADAS 3.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO JIU-JITSU O Jiu-Jitsu foi criado na Índia, aproximadamente a 2.000 anos antes de Cristo, numa pequena e pacata vila interiorana sem recursos para confecção de armas ou grandes sistemas de defesa, observando as posições em que, de um "meio suave", seria possível aos seus habitantes desequilibrar, derrubar e defender-se de seus ofensores. Após uma invasão de tropas chinesas à Índia, foi levado para a região do rio Meckong e usado por lavradores para defenderem-se de salteadores e andarilhos hostis. Eventualmente, foi introduzido no Japão e lá foi aperfeiçoado adicionando-se torções de articulações, estrangulamentos, imobilizações e alavancas, o que tornou o Jiu-Jitsu mais eficiente numa luta de corpo-a-corpo e na defesa pessoal. Com o início da entrada da cultura ocidental no Japão, foi solicitado a Jigoro Kano, excelente atleta de jiu-jitsu, que desenvolvesse uma modalidade que assemelhasse com o jiu- jitsu e que não deixasse transparecer as técnicas eficientes e secretas da nobre arte; Jigoro Kano, então, desenvolveu o Judô, baseado em projeções e imobilizações com bastante finalizações, muito assemelhado ao princípio do jiu-jitsu em sua fase chinesa. O Jiu-Jitsu foi introduzido no Brasil em 1920 por ESAI MAEDA, cônsul japonês no Pará. 3.2 Na Índia Segundo os antigos e o conhecimento verbal, esta arte (Jiu-Jitsu), teria se iniciado na antiga Índia. Em especial pelos monges. Segundo os princípios religiosos os monges não podiam usar de agressividade e sim desvencilhar de um súbito ataque ou mesmo imobilizar o assaltante em suas peregrinações pelo mundo afora. 3.3 Na China A China pôr sua vez caracterizou o Jiu-Jitsu como práticabélica, pois esta civilização desenvolveu um grande número de estilos de artes marciais. O Jiu-Jitsu era praticado com um kimono curto de mãos livres, além da luta corporal, tinha grande importância no desarmamento. Sua prática chega no auge na época dos “Reinos Combatentes” e na unificação da China por “ Chin Shih Huang Ti\". 3.4 No Japão O Jiu-Jitsu chega ao Japão no séc.II depois de Cristo, advindo da China. Muitas foram as correntes que transmitiram esta arte ao país do \" Sol Nascente\", inclusive, existem inúmeras lendas nipônicas relacionadas à criação e artes marciais. A história registrada em 1.600, afirma que um monge chinês \"Chen Gen Pin\" teria ensinado três Samurais, a cada qual ensinara uma especialização a saber: Atemi, torções e projeções. E estes difundidos a todo o japão, ou mesmo se fundindo com outras escolas de jiu-jitsu. No Japão Feudal se utilizam inúmeros nomes relacionados com o Jiu-Jitsu, alguns se divergiam em fundamentos técnicos outros eram extremamente semelhantes; Aikijitsu, Tai Jitsu, Yawara, Kempô, e mesmo o termo Jiu-Jitsu se dividia entre estilos como: Kito ryu, Shito Ryu, Tejin e outros. É nesta época, onde a forte divisão da calsse social japonesa enaltecia a nobreza dos Samurais que o Jiu-Jitsu se desenvolve a fundo. Os pequenos nipônicos aperfeiçoam a arte de lutar, onde poderiam decidir a vida ou a morte de um guerreiro em disputa. Era então o Jiu-Jitsu, uma prática obrigatória aos jovens que futuramente seriam \"Samurais\" ao lado da esgrima, literatura, pintura, cavalaria e outros. 3.5 No Brasil Carlos Gracie, que fora treinado por Mitsuo Maeda passa pôr Minas Gerais e em Belo Horizonte ministra algumas aulas num hotel da região. Em seguida vem para São Paulo e no bairro das Perdizes monta uma academia. Sem o sucesso desejado se instala no Rio de Janeiro e na Capital começa a ensinar, e também a seus irmãos: George, Gastão, Hélio e Oswaldo. Hélio Gracie passa a ser o grande nome e difusor do Jiu-Jitsu. Já instalado no Rio, forma inúmeros discipulos. George Gracie foi um desbravador, viajou por todo o Brasil, no entanto, estimulou muito o Jiu-Jitsu em São Paulo, tendo como alunos: Otávio de Almeida, Nahum Rabay, Candoca, Osvaldo Carnivalle , Romeu Bertho e muitos outros. Alguns continuam na ativa. No Rio de Janeiro mais especificadamente na zona oeste, o mestre “Fada” foi notoriamente um dos baluartes do Jiu-Jitsu, tendo grande número de formados. Enquanto isso, na mesma época de Mitsuo Maeda, outros japoneses continuaram difundindo o Jiu-Jitsu. “Geo Omori” por exemplo, aceitava desafios no picadeiro do circo “queirolhos” e foi ele também quem fundou a primeira Academia do Brasil, em São Paulo no Frontão do Braz na Rua: Rangel Pestana , no ano de 1925 ( Segundo o historiador Inezil Penna). Os irmãos Ono vieram ao Brasil na década de 30 advindos de um renomado mestre de Jiu-Jitsu do Japão. Aqui no Brasil formaram muitos alunos mas acabaram por adotar a prática do Judô. Takeo Yuano muito conceituado por sua exímia técnica, viajou por todo o Brasil e ensinou Jiu-Jitsu em cidades como São Paulo e principalmente em minas Gerais, onde lecionou e até estimulou a criação da Federação local. 3.6 No Rio de Janeiro Conhecida como a “Meca” do Jiu-Jitsu, por ter concentrado praticamente toda a Família Gracie.Os grandes nomes da família Gracie depois de Hélio foram: Carlson e Rolls Gracie. Atualmente Rickson Gracie é reconhecido como o melhor lutador do mundo! A primeira organização do Brasil, foi a fundação da Federação Carioca, formada por Hélio e continuada por Robson Gracie. Atualmente existe a Confederação Brasileira e Mundial, comandadas por Carlos Gracie Júnior. 4. ORIGEM E EVOLUÇÃO DO JUDÔ 4.1 O JUDÔ O Judô de hoje é baseado no velho Jiu Jitsu. Das técnicas deste último, reexaminadas, apuradas, sistematizadas e ajuntadas a um ideal, deriva o Judô. O início do desenvolvimento histórico do combate corporal se perde na noite dos tempos. A luta, inclusive por necessidade e sobrevivência, nasceu com o homem e, a esse respeito, os documentos remontam os tempos mitológicos. Um manuscrito muito antigo, o Takanogawi, relata que os “deuses” Kashima e Kadori mantinham poderes sobre os seus súditos graças às suas habilidades de ataque e defesa. A Crônica Antiga do Japão (Nihon Shoki), escrita por ordem imperial no ano de 720 de nossa era, menciona a existência de certos golpes de habilidade e destreza, não apenas utilizados nos combates corporais mas também, como complemento da força física, espiritual e mental, relatando uma história mitológica na qual um dos competidores, agarrando o adversário pela mão, o joga ao solo, como se lançasse uma folha. Segundo alguns historiadores japoneses, o mais antigo relato de um combate corporal ocorreu em 230 aC, na presença do imperador Suinin. Taimano Kehaya, um lutador insolente foi rapidamente nocauteado por um terrível cultor do combate sem armas, Nomino Sukune. Naquele tempo não havia regras e combate padronizadas. As lutas poderiam desenvolver-se até a morte de um dos competidores. As técnicas de ataque e defesa utilizadas guardam muita semelhança com os golpes do sumô e do antigo ju-jitsu. 4.2 Jigoro Kano (1860-1938) Jigoro Kano nasceu no Japão em 28 de outubro de 1860 (fim da dinastia Tokugawa) em Mikagemachi, Condado de Huko, Distrito de Hyogo. Era o terceiro filho de Jirosaku Mareshiba Kano, alto funcionáro da Marinha Imperial. Com onze anos transferiu-se para Kioto para estudar o idioma inglês, tornou-se professor e tradutor dessa língua. chegando inclusive a montar em Tókio sua própria escola, o Kobunkan. Quem lhe ensinou os primeiros passos no Jiu-Jitsu foi o professor Teinosuke Yagui. Aos dezessete anos matriculou-se na Escola Tenchin Shinyo Ryou sendo seus professores os mestres Hachinosuke Fukuda e Masotono Iso, logo foi a estudar na famosa escola Kito Ryou com o Mestre Tsunetoshi Iikugo. Em 1882, ano de sua formatura em Filosofia, Economia e Ciências Políticas pela Universidade Imperial de Tókio, Jigoro Kano fundou sua escola o Kodokan no templo budista Eisho onde começa a ensinar o novo esporte criado por ele: o Judô. Seu primeiro aluno foi Tsunejiro Tomita. A cultura do Dr. Jigoro Kano lhe possibilitou ascender a altos postos no ensino, no esporte e no governo de seu país. Foi Professor, Vice-presidente e Reitor do Colégio dos Nobres, Adido do Ministro da Casa Imperial, Conselheiro do Ministro da Educação Nacional, Diretor da Escola Normal Superior e ainda, Secretário da Educação Nacional. Fundou sociedades e institutos para jovens e também o primeiro clube de beisebol do Japão. Editou revistas, viajou para Europa e América do Norte em missão cultural. Foi ainda Diretor da Educação Primária, Presidente do Centro de Estudos das Artes Marciais (Botukukai) e o primeiro japonês a pertencer ao Comitê Olímpico Internacional, alem de Presidente da Federação Desportiva do Japão. Em 1920 passou a dedicar-se exclusivamente ao Judô, ainda como membro da Câmara Alta, Professor Honorário da Escola Normal Superior de Tóquio e Conselheiro do Gabinete Japonês de Educação Física. Foi o introdutor da Educação Física no plano educacional do Japão. O Dr Jigoro Kano morreu no dia 4 de maio de 1938, com 77 anos de idade quando voltava da Assembléia Geral do Comitê Internacional dos Jogos Olímpicos, postumamente foi- lhe outorgado o Segundo Grau na Escala Imperial Japonesa. Foi o único a obter 12. Dan. O Dr. Jigoro Kano é conhecido mundialmente como um grande educador. 4.3 Sobre a Fundação do Instituto Kodokan O prof. Kano estabeleceu o Instituto Kodokan em 1882, época em que o dojô (local detreino) tinha apenas 12 tatamis e o número de alunos era nove. O ju-jitsu foi substituído pelo judô pela razão de que enquanto "jitsu" significa técnica o "do" significa caminho, este último podendo ter dois significados: o de um caminho em que você anda e passa e o de uma maneira de viver. Como meio de ensino, no Kodokan, Jigoro Kano adotou o randori, kata e métodos catequéticos, adicionando educação física ao treinamento intelectual e à cultura moral. A harmonia desses três aspectos de educação constituem a educação ideal pela qual o judô será ensinado. Ao redor do ano 20 da era Meiji (1887), o judô tinha dominado o ju-jitsu, que foi varrido de vários países. O princípio do "JU", do judô, passou a significar o mesmo que na frase "gentileza é mais importante que obstinação". Assim a teoria do "JU", que é gentileza, suavidade, pretende utilizar a força do oponente sem agir contra ela, podendo ser aplicada não somente na competição mas também aos aspectos humanos. O prof. Kano disse em 1910 que a teoria da cultivação da energia tratava de adotar um método para melhorar a habilidade mental e física pelo armazenamento de ambas quanto for possível. Ele disse que o seu bom uso é cultivar e usar a energia humana para o bem e que a teoria pode ser adquiri-la através do treinamento de judô, podendo ainda ser ampliada para todos os aspectos da vida. Antes de se expandir, o conceito de judô do professor veio a formar dois grandes guias: o melhor uso da energia individual e o bem estar mútuo. Com estes princípios o judô expandiu-se no próprio Japão e no exterior. Com esta base, o prof. Kano deixou como ensinamento que através do treinamento a pessoa deve se disciplinar, cultivar o seu corpo e espírito através das técnicas de ataque e defesa, fazendo engrandecer a essência do caminho. O melhor uso da energia e o bem estar mútuo são uma versão resumida dos ensinamentos de Jigoro Kano, que definiu como objetivo último do judô construir a perfeição de uma pessoa e beneficiar o mundo. 4.4 A Chegada do Judô no Brasil Em 1904, Koma ao lado de Sanshiro Satake, saiu do Japão. Seguiram então para os Estados Unidos, México, Cuba, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru (onde conheceram Laku, mestre em ju-jitsu que dava aulas para a polícia peruana), Chile, onde mantiveram contato com outro lutador, (Okura), Argentina (foram apresentados a Shimitsu) e Uruguai. Ao lado da troupe que a eles se juntou nos países sul-americanos, Koma exibiu-se pela primeira vez no Brasil em Porto Alegre. Seguiram depois para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luís, Belém (em outubro de 1915) e finalmente Manaus, no dia 18 de dezembro do mesmo ano. A passagem pelas cidades brasileiras foi marcada apenas por rápidas apresentações. Por sua elegância e semblante sempre triste, Mitsuyo Maeda ganhou o apelido de Conde Koma durante o período que ficou no México. A primeira apresentação do grupo japonês em Manaus, intermediado pelo empresário Otávio Pires Júnior, em 20 de dezembro de 1915, aconteceu no teatro Politeama. Foram apresentadas técnicas de torções, defesas de agarrões, chaves de articulação, demonstração com armas japonesas e desafio ao público. Com o sucesso dos espetáculos, os desafios contra os membros da equipe multiplicaram. Entre os desafiantes, boxeadores como Adolfo Corbiniano, de Barbados, e lutadores de luta livre romana como o árabe Nagib Asef e Severino Sales. Na época Manaus vivia o "boom" da borracha e com isso as lutas eram recheadas de apostas milionárias, feitas pelos barões dos seringais. De 4 a 8 de janeiro de 1916, foi realizado o primeiro Campeonato de Ju-jitsu amazonense. O campeão geral foi Satake. Conde Koma não lutou desta vez, ficando apenas com a organização do evento. No dia seguinte (09/01/1916), o Conde, ao lado de Okura e Shimitsu, embarcou para Liverpool, na Inglaterra, onde permaneceram até 1917. Enquanto a dupla permaneceu no Reino Unido, Satake e Laku seguiram lecionando ju-jitsu japonês aos amazonenses no Atlético Rio Negro. E os mestres orientais continuaram vencendo combates a que eram desafiados. Até que em novembro de 1916, o lutador italiano Alfredi Leconti, empresariado por Gastão Gracie, então sócio no American Circus com os Irmãos Queirollo, chegou a Manaus para mais um desafio. Sataki que estava adoentado cedeu seu lugar para Laku, sendo este derrotado por Leconti. Sataki, em recuperação, seria o próximo adversário do italiano, mas devido a brigas geradas por ocasião do combate entre Laku e o desafiante, o delegado Bráulio Pinto resolve proibir outras lutas na capital. Em 1917, de volta ao Brasil, mais especificamente em Belém, e tendo ao lado sua companheira, a inglesa May Iris Maeda, Conde Koma ingressa no American Circus onde conhece finalmente Gatão Gracie. Em novembro de 1919, o Conde retorna a Manaus, agora na condição de desafiante de seu amigo Satake. Foi então que aconteceu a única derrota de Koma em toda sua carreira. Na biografia anterior diziam que ele nunca havia sido derrotado. Então ele volta para Belém e em 1920, já com a crise da borracha, é desfeito o American Circus. Com isso, Mitsuo Maeda embarca novamente para a Inglaterra. Em 1922, regressa como agente de imigração, trabalhando pela Companhia Industrial Amazonense e começa a ensinar judô aos belenenses na Vila Bolonha. No mesmo ano, seu ex-companheiro Satake embarca para a Europa e nunca mais se tem notícias do grande mestre.Conde Koma continuou em Belém, falecendo em julho de 1941. Carlos e Hélio Gracie, filhos de Gastão seguiram atuando no ju-jitsu, modalidade que aprenderam com Koma no circo do pai. 5. ORIGEM E EVOLUÇÃO DO KARATÊ 5.1 Os monges oriundos da índia A história do Karatê perde-se no tempo. Formas de defesa pessoal que usavam os próprios membros como armas, foram vistas em muitos lugares do mundo em épocas bem distantes. A teoria mais aceita hoje sobre sua origem é a de que um monge – Daruma – vindo da Índia para a China ter ia trazido os ensinamentos de uma luta ao Mosteiro Shaol in. Na China, sob a orientação de Dharma (Bodhidharma), e como os monges passavam muitas horas em meditação, permaneciam muitas horas imóveis, o que al iado aos meios de subsistência, faziam com que os monges se tornassem mais volúveis às doenças. Então, Dharma, iniciou com estes monges a prát ica de uma at ividade f ísica, com o intui to de lhes estabelecer a força física e espir i tual. Foi assim que nascia o Kempô e passado pouco tempo, pelas suas técnicas bastante ef icazes, estes monges eram temidos principalmente pelos salteadores de estradas da época. No século XIV, o Kempô foi introduzido em Okinawa. Lá se desenvolveu desmembrando-se em três escolas importantes, sendo elas: a Shuri-Tê, na cidade de Shuri , ant iga capital onde a realeza e os nobres viviam; a Naha-Tê, na cidade de Naha e a Tomari-Tê na cidade de Kume. Mais tarde, no século XIX, esta prát ica sofre algumas alterações técnicas, introduzidas por Matsumura, e passa a ser designada por Karatê. Este trabalho foi cont inuado por I tosu Anko, Ginchin Funakoshi, Mabuni, Nakayama, Asai e tantos outros que continuam a desenvolver o Karatê e cr iam novos esti los Ginchin Funakoshi, após uma apresentação públ ica de Karatê no Japão, em 1922, passa a ser considerado o grande renovador desta arte marcial , uma vez que foi o pr imeiro a conci l iar o Karatê com os aspéctos f ísicos do desenvolvimento humano. 5.2 Okinawa – O berço do karatê-dô Denominado pelos chineses de “Ryu Ryu”, estende-se por mais de 800 Km, um vasto grupo de i lhas desde o promontório de Kogoshima (extremo suldo Japão) até a i lha de Taiwan (formosa). Do centro desta grande i lha, de vários tamanhos, esparsas como poeira salpicando o mar, entre os arquipélagos menores Yiaciama e Myato, destaca- se Okinawa com 1.500 Km2, ocupando, sozinha, 53 % da superfície do Ryu Ryu. “Oki”, oceano ou grande, “Nawa”, cadeia, corrente ou corda – em japonês – essa i lha tem uma centena de qui lômetros de comprimento para uma largura de 30 a apenas 4 qui lômetros – quando se pode ver o Mar da China a oeste e o Oceano Pacíf ico a leste. Seu aspecto é realmente o de uma corda nodosa f lutuante. Ao Norte, montanhas verdes e rugosas ou vulcânicas, belas encostas de corais, baías de águas l ímpidas e praias brancas e muito sol. Ao sul na parte mais baixa, campos de arroz, plantações de nananeiras e cana-de-açúcar e por todo o l i toral pequenos pontos de pesca e pequenas aldeias. É enganosa a tranqüi l idade aparente do local. O inverno é ameno, o verão é terrível, sol forte e chuvas trazidas pelas “monções” (vento típico e periódico do sul e sudeste asiát ico) quase sempre acompanhadas por devastadores tufões. A vida em Okinawa sempre foi rude. Para se adaptar ao meio naturalmente hosti l e extrair seu al imento de um solo f ino e impróprio ao cult ivo, o habitante de Okinawa precisou forjar a vontade, a tenacidade e a engenhosidade – qual idade que teria que ter ainda em dobro em face de sucessivos invasores que pretendiam subjugá-lo, a todo custo. O instinto de sobrevivência far ia surgir recursos de resistência, técnicas de combate a mãos nuas (ancestrais do Karatê) ou com armas improvisadas (ancestrais do KoBudo – Sai, Bo, Nuchako, Kama, Tonfa, Chimbe, Tekko, etc). Pescadores e agricul tores de índole talvez pacíf ica conheceram uma histór ia tumultuada sobretudo pela opressão dos poderosos chineses e japoneses. Pela preservação da própria individual idade e hostis a toda tentativa de integração, geração, acabaram por for jar a alma do povo okinawense, como uma Segunda natureza. Hoje ainda, embora terr i tório japonês, Okinawa se sente muito di ferente do restante do Japão. De todas as etnias que vieram se fundir em Okinawa, o elemento puramente japonês foi provavelmente o úl t imo, introduzido a part i r do século 14 – época em que a casta mil i tar nipônica pretendia subjugar a i lha. A si tuação geográf ica fez com que o local sofresse, em todas as épocas, a inf luência de uma grande variedade de culturas, pr incipalmente de seus vizinhos mais poderosos: China e Japão. Rota de comércio japonês, chinês, f i l ip ino ou malásio; ponto de escala e objeto de cobiça dos navios piratas vindo de todos os horizontes; entrada estratégica de toda região adjacente. Okinawa acumulou, por muito tempo – al iada a seu sofr imento de resistência – toda uma bagagem cultural e art íst ica r ica e fecunda. Até o século 13, pouco se sabe sobre a história de Okinawa. A i lha encontrava-se retalhada por clãs r ivais que se enfrentavam continuamente. A f igura de Shuten ou Shoto (senhor de Urasor) emerge como provável pr imeiro rei de Okinawa e que construiu um sistema de defesa fort i f icado do qual ainda restam vestígios. Esse fato histórico ainda marca o início da ascensão de uma de uma classe guerreira de nat ivos que ir ia se f i rmando e se individual izando. No século 14, relações comerciais seguidas estabeleceram-se com a China, a Coréia, o Japão e, mais além, com Java e Sumatra. Sabe-se que em 1372, o rei Okinawense Satto prestou voto de obediência ao Império chinês Ming (1468-1644), ao qual passou a pagar tr ibuto. Em 1429, a i lha foi unif icada pelo rei Sho Hanshu que, pela primeira vez soube reunir as velhas províncias de Chuzan, Hokuzan e Nazan. Era a época em que as grandes aldeias de Naha e de Shuri se tornavam cidades comerciais prósperas, entrepostos de todos os pontos os produtos do sudeste asiático e onde se acotovelavam japoneses, chines, indianos, malásios, thais e árabes. É também nessa época que a China da Dinast ia Ming, enviou importante grupo de artesãos e art istas – mencionados em antigos documentos como “As 36 Famíl ias”. Entre esses chineses, sem dúvida, encontravam-se indivíduos que t inham conhecimento tas técnicas de Boxe Chinês. São os primeiros vestígios de Shaol in Zu Kempo ou Chun-Fa importados” por Okinawa. Mas nada permite afirmar que essa arte tenha ofic ialmente sido introduzida na i lha por verdadeiros mestres. Esse primeiro impacto, ainda superf ic ial , deu-se provavelmente na pequena cidade de Kumemura onde estava instalada a parte essencial do grupo de imigrantes chineses. Enfim, uma Quarta cidade, Tomari, passou a crescer e mais tarde a se consti tuir no centro de um esti lo próprio de Karatê (Shuri e Tomari hoje estão incorporadas à cidade de Naha). Nessa época da histór ia de Okinawa, si tua-se um elemento capital que ir ia decidir sobre a or ientação das Artes Marciais já conhecidas na i lha: a promulgação de um édito que proibia o uso, o porte ou a conservação de armas de qualquer natureza. Foram estas recolhidas em praça públ ica e estocadas em entrepostos severamente guardados, no intui to de desencorajar a menor tentativa de revolta. Atr ibui-se a promulgação da ordem ao rei Sho Hashi (1421-1439). A histór ia é imprecisa neste ponto. Em vez de, no entanto, se desist imularem, os oprimidos okinawenses viram no fato um motivo a mais para desenvolverem técnicas de combate apoiadas nas próprias mãos e em elementos de Chu-Fa (trazidos pelos chineses) ou a se bastarem com os instrumentos de uso doméstico de que dispunham, os quais seriam convert idos em novas armas (origem do Ko-Budo). No início do século 17, o Japão saía de mais uma terrível guerra civi l cujo vecedor foi o clã dos Tokugawa e o vencido o clã dos Satsuma, dir igida pela famíl ia Shimasu. O novo Shugun mostrou-se hábi l em desviar o furor dos Satsuma, derrotados mas não destruídos, para a i lha de Ryu-Ryu; maneira astuciosa de l ivrar-se do inimigo e ao mesmo tempo estabelecer o controle japonês sobre uma i lha até então submissa à China (e talvez não pensasse também em preparar nova invasão à Corréia, pelo sul). Precisamente ao dia 5 de abri l de 1609, os Satsumas se atiram sobre Okinawa – que estava estão com meio milhão de habitantes – com uma frota a desembarcar 3 mil guerreiros. Okinawa caiu sob o julgo do clã invasor e assim f icou até o ano de 1879, data em que a i lha se tornou terri tór io japonês, incorporada ao Império de Matsu-Hito. Logo depois desta ocupação surgiram as primeiras ordens de Ichina Shimazu. A mais importante delas reforçava as descrições ant igas; f icava proibidas, pela Segunda vez, a posse de todo t ipo de arma e qualquer prática de caráter marcial . Ainda mais: os invasores japoneses conf iscaram todos os objetos e utensíl ios de ferro e desativaram as fundições. Pretendem alguns histor iadores que, este fato ocorreu também por fal ta do minério por parte dos Satsumas rechaçados da metrópole. Problemas elementares de subsistência não tardaram a surgir . Conta a histór ia ou a lenda, que f inalmente os nativos obtiveram do conquistador o direi to de cada aldeia possuir, a disposição, uma única faca, presa a grosa corrente na praça central , guardada por dois soldados. É certo que novamente os Okinaenses reagiram ao édito de Shimazu com forte espírito de resistência e vontade de sobrepujar a desvantagem imposta. Uma verdadeira eclosão de táticas e técnicas individuais de ataque e defesa fora a imposta; uma verdadeira eclosão de táticas e técnicas individuais de ataque e defesa fora a resposta. O século 17 completavao nascimento do To-De ou Okinawa-Tê, ancestral do Karatê. “To” designava “China” e, por extensão de sentido, “continente”, “Te” significa “técnicas” em Okinawense e mais tarde significaria “mão” pelo idioma japonês. A dominante das técnicas de combate a mão nuas era indiscut ivelmente chinesa (ainda que, com o passar do tempo, se mesclasse com inf luência de outras) e reportava-se, no. essencial , à arte Shaol in – seus mais variáveis aspectos como os esti los dos animais, a ênfase à respiração e à força mental, a ef icácia dos golpes desferidos nos pontos vi tais do corpo. Em suma, as mesmas diretr izes do Kung-Fu. Este úl t imo aspecto emergir ia bem mais tarde, para tornar-se preponderante no século 19, seguindo assim com um pouco de atraso a mesma evolução conhecida pelo conjunto de Artes Marciais japonesas que evoluíram do Bugei (técnica de guerra) para o Budo (via da arte marcial). A proibição de Shimazu, outra conseqüência inesperada, despertou não somente inusitado interesse pelas técnicas de combate como general izou uma prática até então restr i ta a pequenas minorias. Foi a época de treinamentos enfurecidos em lugares secretos, geralmente à noite e longe dos lugares habitados, como nos rochedos, à beira mar, entre os discípulos de confiança. Este ambiente de “conspiração” continuaria praticamente até o f inal do século 19, uma constante no Okinawa-Te. Com receio de serem descobertos praticando a arte marcial proibida, os okinawenses optaram por não deixar registros escri tos, e sim, por um ensino selet ivo através da transmissão oral , assim como pelas “representações de técnicas letais, zelosamente oculto as em movimentos aparentemente inócuos (a mesma idéia fundamental que se encontra nos Katas)”. O Okinawa-Te revivia, assim, a tradição dos monges do mosteiro Shaol in, que eram perseguidos pelo pol ic iamento imperial . Tecnicamente sabe-se bem pouco desse período obscuro do Karatê, exeto que pés e mãos (pontas dos dedos, antebraço, cotovelos, joelhos) tornaram-se armas ef icientes e rápidas, capaz de substi tuir as lâminas banidas. Não havia lugar para estét ica e, também, não se pode dizer que os esti los já haviam se individual izados naquela época. É mais sensato si tuar no século 18 a formação de três esti los básicos de Okinawa-Te: Shuri-Te – denominações provenientes dos nomes das cidades nas quais eram praticados. Também não se pode afirmar que já se praticavam alguns Katas – embora algumas fontes ci tem o Passai (antigo Kata praticado desde o século 14) e o Koshiki-Naihanti (ant iga forma do Tekki), cuja posição em “cavaleiro de ferro” se adequaria bem às necessidades dos habitantes da i lha de treinar sobre rochedos. Em Okinawa houve uma verdadeira osmose (mistura) entre homens e seus meios. Nesta época aperfeiçoavam-se as técnicas do Ti-Gua (ancestrais do Kobu-Do), denominação que se dava ao treinamento desenvolvido a part is do uso de instrumentos agrícolas ou pesqueiros, ut i l izados na vida cotidiana e que não eram de natureza a inquietar o pol ic iamento japonês de ocupação. Essas técnicas se desenvolveram em nível de massa. Okinawa-Te e Kubu-Do consti tuíram-se em um marco da civi l ização, pois foi a mensagem deixada por um povo oprimido, mas sempre motivado pela feroz vontade de independência. Pouco a pouco, homens mais dotados emergiram dos vários grupos de praticantes, e se tornaram mestres, codif icaram seus sistemas de ensino com conteúdos objet ivos e subjetivos, que vir iam a adaptar-se a todas as épocas e si tuações futuras (guerras, escolas, universidades, prática desport iva). 5.3 Gichin Funakoshi – O pai do karatê-dô moderno Ginchin Funakoshi nasceu em 1868, no distr i to de Yamakawacho, em Churi , sede administrat iva de Okinawa e faleceu em 1957, aos 89 anos em Tókio. Fi lho de famíl ia tradicional, desde muito cedo se entregou aos estudos. Tornou-se poeta, estudou Confúcio e gozava de prestígio como peri to calígrafo. Casado, foi professor de escola primária em Okinawa. Começou a prat icar Karatê em Okinawa com o mestre Yasutsune Azato, um homem alto e dinâmico que t inha batido muitos homens na sua época e, insuperável na arte do Karatê em toda a Okinawa, além disso, primava na arte de equitação, esgrima, e do manejo do arco. Treinou, também, com outros grandes mestres, tais como: mestre Ki, que, Kiyuna, que usando a mão sem proteção, podia ret i rar a casca de uma árvore viva numa questão de momentos; mestre Toonno de Naha, um dos eruditos confucianos mais conhecidos da i lha; mestre Ni igaki, cujo extraordinário bom senso impressionou-o profundamente. Mestre Matsumura, um dos karatekas mais notáveis e Yasutsume Itosu, também, um dos mestres mais respeitados naquela época. De f ísico pouco avantajado, Ginchin Funakoshi sofreu muito nos treinamentos. Treinou muito Kata Tekki (Naihanchi) que durante muito tempo foi a base da arte. Desenvolveu força golpeando o makiwara e treinando com chinelo de ferro. Sempre foi costume que o aluno treinasse com um único mestre e nunca o deixasse, mas mestre Azato pensava que não deveria ser assim, razão pela qual enviava seu alunos para treinar com outros mestres. Com isso Funakoshi teve a oportunidade de treinar com os mestres já mencionados. Ansioso de perfeição, sua imagem reflet ia o mais completo Budoka e seu ideal era conseguir todo bem resultante da prática do Okinawa-Te. Funakoshi passava todo o seu tempo l ivre treinando na casa do seu mestre, e só ia à casa para trocar de roupa. Devido às suas saídas noturnas para treinar, muita gente pensava que visi tava bordel. Mas, um dia, passou sobre a cidade uma forte ventania, e viram Funakoshi subindo num telhado e praticando a força de suas bases (posições). Chegaram a pensar simplesmente que estava louco. Nunca adivinhariam que este homem, professor pobre cuja mulher trabalhava numa granja para angariar dinheiro para a famíl ia, seria um art ista marcial respeitado mundialmente. Além de mestre de Karatê-Dô, era como já vimos, exímio poeta e quando escrevia os seus poemas usava o pseudônimo de Shoto, que quer signif ica ondas de pinheiro. Ele usava este nome porque a cidade nativa de Shuri , local do seu nascimento, era rodeada por col inas com florestas de pinheiro Ryu Ryu e vegetação subtropical. Entre elas estava o monte Toroa. A palavra Toroa signif ica “cauda de t igre” e era part icularmente adequada porque a montanha era estrei ta e tão densamente arborizada que realmente t inha a aparência de uma cauda de t igre quando vista de longe. Quando dispunha de tempo, costumava caminhar pelo monte Toroa, às vezes à noite quando a lua era cheia ou quando o céu estava tão claro que se podia f icar sob uma cobertura de estrelas. Nestas ocasiões, podia-se ouvir o farfalhar dos pinheiros e sentir o profundo e impenetrável mistér io que está na raiz de toda a vida. Em 1922, escreveu o seu primeiro l ivro, ou seja, “KyuRyu Kempo: Karatê, e nele fez a seguinte introdução: “Na profundidade das sombras da cultura humana oculta-se sementes de destruição, exatamente do mesmo modo a chuva e o trovão seguem na esteira do tempo bom. A histór ia é o relato da ascensão e queda das nações. A mudança é a ordem do céu e da terra; a espada e a caneta são tão inseparáveis quanto as duas rodas de uma carruagem. Assim, o homem deve abraçar os dois campos se quer ser considerado um homem de real izações. Se ele for demasiadamente complacente, acreditando que o tempo bom durará para sempre, um dia será pego desprevenido por terríveis tempestades e enchentes. Assim, é importantíssimo que nos preparemos a cada diapara qualquer emergência inesperada.” Em 1935, escreveu os seu segundo l ivro: “Karatê-Dô Kyuohan”. Neste ele deu ênfase nas técnicas de vários t ipos de Kata. Apesar de uma grande habi l idade e boa reputação, a vida de Ginchin Funakoshi não era nada fáci l . Naquela época ele t inha uma famíl ia para manter, e os professores não eram bem pagos. Na época ele foi designado diretor da Shobukai das Artes Marciais de Okinawa. Em 1936, foi fundado o primeiro Dojo ofic ial de Karatê, pelo Comitê Nacional e, devido aos fei tos de mestre Funakoshi foi batizado com o nome de Shoto-Kan. Daí surgiu o nome de uma escola (esti lo) que até hoje é cult ivada em várias partes do mundo, a Shotokan, ou seja, Shoto, pseudônimo de Funakoshi, mais Kan, escola, formando Escola de Funakoshi. O Karatê que conhecemos hoje foi aperfeiçoado através de mais de sessenta anos pelo mestre Ginchin Funakoshi. Portanto, ele é considerado o pai do Karatê moderno. 5.4 Oficial ização do Karatê-Dô na educação escolar de Okinawa No começo deste século, mais precisamente em 1902, durante a visi ta de Shintaro Ogawa, que era então inspetor escolar da prefei tura da cidade de Kagoshima, à escola de Funakoshi em Okinawa, foi fei to uma demonstração de Karatê. Funakoshi impressionou bastante devido ao seu status de educador. Ogawa f icou tão impressionado que escreveu um relatór io ao Ministro da Educação elogiando as vir tudes da arte. Foi então que o treinamento de Karatê passou a ser ofic ialmente autorizado nas escolas. Até então o Karatê só era praticado de portas fechadas, mas isso não signif icava que fosse um segredo. As casas em Okinawa eram muito próximas uma das outras, e tudo que era fei to numa casa era conhecido pelas outras adjacentes. Enquanto muitos autores pregam o Karatê como sendo um segredo àquela época, ele não era tão secreto assim (do mesmo modo que os Estados Unidos nunca penetrou no Camboja durante a guerra do Vietinã). Contra os pedidos de muitos dos mestres mais antigos de Karatê, que eram a favor de manter tudo em segredo, Funakoshi trouxe o Karatê, com a ajuda de I tosu, até o sistema de escolas públicas. Logo, crianças estavam aprendendo Kata como parte das aulas de educação física. A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de Karatê em Okinawa eram vistas como uma coisa legal. 5.5 O Karatê-Dô Shotokan chega ao Japão O Imperador japonês Hihoshito, em visi ta à Okinawa, 1921, na qualidade de príncipe herdeiro, presenciou uma demonstração de Karatê e f icou tão favoravelmente impressionado, que incluiu este evento em seu informe de governo. No ano seguinte, o Ministério Japonês de Educação enviou uma carta ao governo de Okinawa sol ic i tando que mandassem uma delegação esport iva de artes marciais ao Japão, onde ocorreria um fest ival de educação física patrocinada pelo mesmo. Ginchin Funakoshi foi escolhido para dir igir essa delegação. Alguns contestaram essa escolha, pois nesta época, Funakoshi já estava com 50 anos de idade e eles julgavam que seria mais sensato o envio de alguém com maior vigor f ís ico. Na verdade, havia bons motivos para essa escolha: sua vasta cultura, seu reconhecimento sobre o Japão adquir ido em viagens anteriores, sua sensibi l idade poética, e principalmente seu grande domínio técnico do Karatê. Em assim sendo, f icou para nós a l ição de que, em uma idade em que a maioria das pessoas pensa em aposentar-se, para Funakoshi havia chegado a aventura mais importante de sua vida. 5.6 O missionário do Karatê-Dô Shotokan moderno Chegando ao Japão, Ginchin Funakoshi, que foi contratado para f icar somente algumas semanas, foi alargando sua estadia, pois suas palavras e demonstrações surpreenderam tanto que criou à sua volta um grande número de admiradores que não o deixavam regressar a Okinawa. Entre eles estava Jigoro Kano, fundador do Judô moderno, o qual, além de dar-lhe hospedagem, cedeu-lhe uma grande sala do Kodokan para que ensinasse Karatê. A vida de professor de escola havia terminado e ao mesmo tempo nascia o pr imeiro professor de Karatê do Japão. Sempre sabendo ser selet ivo, Funakoshi, que queria que sua arte fosse tão conhecida e respeitada como o Judô e o Kendo, procurou ensinar seu sistema principalmente a médicos, advogados e estudantes universi tár ios. Em pouco tempo o Karatê ganhou grande fama, com isso vário mestres de Okinawa também imigraram para o Japão, entre eles: KENWA Mamuni trouxe o Shoty- Ryu, Chi jun Miyiagi o Goju-Ryu. Só Funakoshi é que não deu nome ao esti lo que praticava. Em 1924, foi escolhido para ministrar aulas de Karatê na Universidade de Keio. Seus ensinamentos foram recebidos com verdadeiro entusiasmo pelos estudantes. Alguns alunos de Funakoshi levaram suas palavras e técnicas para fora da Universidade. Desta maneira, o mestre chegou a supervisionar cinco clubes em Tókyo. No f im de 1939, ele f inancia a abertura do “Shotokan”, seu pr imeiro Dojo. Contam alguns que não foi Funakoshi que deu o nome ao lugar, e sim seus alunos, que diziam que treinavam na Escola (Kan) de Shoto (pseudônimo de Funakoshi), para poderem ser di ferenciados dos outros sistemas. Finalmente, a sorte começa a sorr ir para o Shotokan e seu cr iador. Já havia um Dojo e clubes nas Universidades, seu f i lho Yamagushi (Gigo) ajudava-o a ensinar e compart i lhava as responsabi l idades da Shoto-Kai, associação que criou para unif icar a arte. A guerra chegou, e o Karatê teve uma grande paral isação na sua divulgação. Um dos seus melhores alunos, Takeshi Shimoda, faleceu e, pouco tempo depois também falece seu f i lho com tuberculose. Ao terminar a guerra, o mestre já não ensinava, e seu Dojo estava quase que totalmente destruído. Todas as artes marciais prat icadas no Japão foram proibidas por aproximadamente três anos pela força de ocupação. Mas Funakoshi conseguira algo muito importante: o Karatê foi aceito e passado a fazer parte do Budô japonês. 5.7 A f i losof ia Budô O que signif ica Budô? Vejamos: BU - quer dizer “guerreiro”, “samurai”; DÔ - que dizer “caminho”, o caminho do samurai. O principal objet ivo dos guerreiros era vencer as guerras. Rigoroso preparo físico, técnico e mental era necessário, enfat izando ao que transcendia a matéria, afastando-os assim os desejos mais comuns. Várias artes marciais faziam parte do Budô, embora t ivessem técnicas diferentes, como o Judô, Karatê-Dô, Sumô, Aikidô e outras. Como arte marcial o Karatê se faz respeitar através das seguintes imposições, tais como: as mãos e os pés do adversário não podem tocar o seu corpo; as técnicas defensivas devem ser traumatizastes; se o inimigo cortar a sua carne, deve quebrar-lhe os ossos e se ele quebrar-lhe os ossos, você deve matá-lo. Segundo registros existentes, conta-se que o samurai transcende a “vida” e a “morte”, pois ele executa qualquer tarefa determinada, custe o que custar, esquecendo-se de si mesmo. Daí o r igor nos exercícios, a f im de conseguir unif icar corpo e mente. Aqueles temidos guerreiros t inham como princípios básicos manter a mente tranqüi la para, em qualquer si tuação, não perder a autoconfiança e ser sobretudo, úti l à coletiv idade, cumprindo desta maneira sua missão e inf luenciando para que os outros, também, o f izessem. O Budô é também, o caminho das artes marciais cujas técnicas são usadas para desenvolver o espíri to, a mente e o corpo. Na prática, o respeito e as boas maneiras são fundamentais. Há o cumprimento de respeito ao entrar e sair do Dojo ( local de prát ica) e no início
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