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ATENDIMENTO DE UM GRUPO DE MÃES DE CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIAS UM ENFOQUE OPERATIVO

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INSTITUTO METODISTA DE ENSINO SUPERIOR 
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM 
PSICOLOGIA DA SAÚDE 
 
LIGIA CECILIA BUSO SERNAGIOTTO 
 
“ ATENDIMENTO DE UM GRUPO DE MÃES DE 
CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIAS : UM ENFOQUE 
OPERATIVO ” 
 
Dissertação apresentada ao 
Programa de Pós Graduação 
em Psicologia da Saúde como 
requisito parcial para obtenção 
do Título de Mestre em 
Psicologia 
 
 
 ORIENTADORA: PROFa. DRa. MARÍLIA VIZZOTTO 
 
 
 
SÃO BERNARDO DO CAMPO 
1997 
ii 
 
Sernagiotto, Lígia Cecília Buso 
Atendimento de um grupo de mães de crianças com 
deficiências : um enfoque operativo. 
São Bernardo do Campo: IMS, 1997. 
103 p. 
 
 
Orientador: Profa. Dra. Marília M. Vizzotto. 
Dissertação (Mestrado) - Instituto Metodista de Ensino 
Superior, Faculdade de Psicologia. 
Área de Concentração: Psicologia da Saúde. 
 
1. Relacionamento mãe-criança 2. Desenvolvimento afetivo 
emocional (Psicanálise) 3. Psicologia preventiva 4. Psicologia 
institucional 5. Psicologia social - Grupo operativo. 
 
 CDD 18.ed 
Relacionamento mãe-criança 153.15 
Desenvolvimento afetivo emocional 
(Psicanálise) 616.8917 
Psicologia preventiva 158 
Psicologia institucional 158 
Psicologia social - Grupo operativo 301.1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii 
 
 
 
Dedico este trabalho 
 
Aos meus pais - Yolanda e Duílio (in memorian), que sempre vibraram com 
minhas realizações. 
Ao meu marido - Mário que muito me incentivou e colaborou na realização 
deste trabalho. 
Às minhas filhas Marjori e Renata que espero entendam tanta determinação e 
dedicação e tenham um exemplo de vida. 
Ao Prof. Oswaldo Dante Di Loretto que por muitos anos foi meu supervisor, 
me introduzindo ao pensamento clínico/psicanalítico, fazendo com que 
encontrasse minha verdadeira vocação no campo da Psicologia. 
Ao Prof. Jorge Luiz Visca que me introduziu ao estudo da Teoria e Técnica 
do Grupo Operativo. Levando-me ao trabalho com grupos e a projetos 
inovadores. 
 
 
 
 
iv 
 
 
 
Agradecimentos: 
 
À Profa. Dra. Marília M. Vizzotto que me incentivou e orientou na feitura 
desta Dissertação com dedicação e generosidade . Foi uma amiga nas horas 
difíceis e grande profissional na orientação e realização deste trabalho. 
Ao Dr. José Tolentino Rosa e à Dra. Kayoko Iamamoto pelas contribuições 
dadas durante o curso e por ocasião do exame de qualificação. 
Ao Dr. Sérgio Sabóia Arruda pelas contribuições oferecidas durante a 
elaboração deste projeto. 
À amiga Dra. Eliana M. Monacci que nunm reencontro em 1989 convidou-
me a ingressar na carreira acadêmica trazendo um novo impulso à minha 
trajetória profissional. Esta amiga proporcionou-me todas as oportunidades 
profissionais que nos últimos anos tive, inclusive na realização deste trabalho. 
À ela, minha eterna gratidão. 
À Profa. Svetlana P. Lázaro, minha professora dos tempos de colégio, hoje 
minha colega de trabalho e para sempre um exemplo.
v 
 
 
 
À UNIFEC, corpo docente e dicente, na qual anos atrás fui funcionária e 
onde pude realizar trabalhos comunitários com grupos através do Centro de 
Programação Psicológica ( C.P.P.), o qual coordenei de 1991 a 1994. 
Às mães e às crianças que foram alvo deste estudo, pelo acolhimento que 
tiveram ao trabalho oferecido. Oxalá tenham se beneficiado das evoluções 
percebidas durantes os encontros realizados com este grupo . 
Aos meus alunos e colegas da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da 
Fundação Santo André que nestes anos me inspiraram e conduziram ao estudo 
e a pesquisa, obrigado. 
Aos mestres e às forças supremas que nos conduzem neste plano, obrigada. 
Espero continuar realizando na paz e com amor a missão à qual vim cumprir 
junto da verdade e da justiça. 
 
Lígia Cecília Buso Sernagiotto
vi 
 
SUMÁRIO 
 
RESUMO ............................................................................................ vii 
ABSTRACT ........................................................................................ viii 
INTRODUÇÃO .................................................................................. 01 
Objetivos ...................................................................................... 04 
 
CAPÍTULO I 
I.1 ATENDIMENTO DE GRUPOS EM INSTITUIÇÃO .............. 06 
I.1-1 Grupos de pais de crianças em atendimento .......................... 07 
I.1-2 Grupos de Apoio a Familiares. .............................................. 10 
I.1-3 Grupos de Orientação de Pais: enfoque Paterno ..................... 11 
I.1-4 Grupos de Espera em Instituição ............................................ 12 
 
CAPÍTULO I I 
II.2 AS CLÍNICAS - ESCOLA DA UNIFEC: Estrutura e 
Funcionamento .............................................................................. 15 
II.2-1 Estrutura e Funcionamento do Centro de Programação 
Psicológica ..................................................................................... 16 
II.2-2 Estrutura e Funcionamento da Clínica de Fisioterapia .......... 18 
II.2-3 Algumas Características da População Atendida nas 
Clínicas - escola UNIFEC ........................................................... 20 
vii 
 
CAPÍTULO I I I 
III.3 A FORMAÇÃO DO GRUPO DE MÃES: Uma Proposta 
Preventiva ..................................................................................... 22 
III.3-1 O Planejamento do Trabalho Conjunto - Psicologia e 
Fisioterapia .................................................................................... 27 
III.3-2 O Surgimento de Entraves no Andamento da Proposta 
de Trabalho Conjunto..................................................................... 30 
III.3-3 A Idéia de Continuidade .................................................... 34 
 
CAPÍTULO I V 
IV.4 MÉTODO .............................................................................. 38 
IV.4-1 Considerações sobre a Técnica do Grupo Operativo .......... 38 
IV.4.1.1 Sobre a importância das Relações Transferenciais ........... 43 
IV.4-2 O Grupo de Mães num Enfoque Operativo ......................... 45 
IV.4.2.1 Algumas Características do Grupo de Mães .................... 48 
CAPÍTULO V 
V.5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO GRUPO DE MÃES ........ 53 
VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................ 92 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 98 
ANEXOS....................................................................................... 102 
viii 
 
R E S U M O 
Esta dissertação tem o objetivo de descrever um trabalho com um grupo de 
mães, num enfoque operativo, visando a prevenção em saúde mental. Relata e 
descreve os encontros e vivências de um grupo de quatro mães de crianças 
com deficiências realizado no Centro de Programação Psicológica da 
Universidade de Formação Educação e Cultura do ABC - UNIFEC, durante o 
ano de 1994. A proposta de realização deste grupo surgiu a partir da mudança 
deste Centro para as mesmas dependências físicas da Clínica de Fisioterapia 
nesta mesma Universidade (UNIFEC); ocasião em que a equipe de 
profissionais da Fisioterapia aventaram a possibilidade de realização de um 
trabalho conjunto entre ambas equipes para atendimento de mães das crianças 
por eles atendidas. Nesta dissertação abordamos no capítulo I trabalhos em 
grupo realizados em instituição e sua tarefa preventiva. No capítulo II daremos 
informações que caracterizam as clínicas - escola da UNIFEC (Centro de 
ProgramaçãoPsicológica e Fisioterapia). No capítulo III abordamos a 
formação do Grupo de Mães e os entraves encontrados no planejamento de um 
trabalho conjunto. No capítulo IV discutimos sobre o Método Clínico, o qual 
utilizamos neste estudo, bem como sobre o referencial teórico-técnico de 
Grupo Operativo, o qual norteou a análise do movimento que o grupo 
apresentou nos encontros realizados. No capítulo V descrevemos e discutimos 
partes dos treze encontros realizados, procurando dar uma idéia viva do 
desenvolvimento e funcionamento deste Grupo de Mães. Finalmente, fazemos 
algumas considerações sobre os pressupostos utilizados, os mecanismos de 
funcionamento do grupo observados, bem como a tarefa que emergiu no grupo 
e que o direcionou para a sua elaboração e aprendizagem. Comentamos ainda 
sobre os entraves surgidos no trabalho e as possíveis repercussões de trabalhos 
como este na dinâmica familiar. 
 
ix 
 
ABSTRACT 
 
 
The aim of this essay is to describe the work done with a group of mothers - in 
an operative focus - to prevent mental health . It reports and describes the 
meetings and experiences of a four mother group with handicapped children, 
help in Psychological Programming Center of UNIFEC - University of 
Education and Culture of the ABC, during 1994 . The proposal for the 
formation of the group took place during the moving of the referred center to 
the same University ( UNIFEC ) ; by this time the team of professionals in 
Physiotherapy suggested the possibility to carry on a work with both teams 
together, to support the mothers whose children were being taken care of by 
them . In chapter I of this essay it is approached the work the group carried 
out in institutions and its preventive task . Chapter II gives information that 
characterizes the clinics - UNIFEC School ( Psychological and 
Physiotherapy Programming Center ) . In chapter III it is approached the 
formation of the group of mothers and the restraints met during the 
planning of a work in group . In chapter IV it is discussed the Clinic 
method, which was used in this study as well as the theoretical - technical 
reference of the Operative Group which guided the analysis of the 
movement presented by the group during the meetings . In chapter V parts of 
the thirteen meetings held are described and discussed, in the search for a 
living idea of the development and function of this Group of Mothers . 
Finally some considerations were made about the used presuppositions, the 
mecanisms of working of the observed teams as well as the task risen 
within the group that directed its elaboration and learnig . It still 
comments the restraints that emerged from the work and the possible 
repercussions of works like this in the familiar dynamics . 
1 
 
INTRODUÇÃO 
 
Acreditamos ser importante traçar um histórico dos motivos que nos levaram 
à realização deste estudo. Em 1991 participamos de um curso de formação de 
coordenadores de Grupo Operativo ministrado pelo psicopedagogo argentino 
Jorge Visca. Durante todo este ano vivenciamos a teoria e técnica do Grupo 
Operativo; experiência enriquecedora que nos levou a desenvolver um projeto 
na Fundação Sto. André chamado: “ O desafio é trabalhar em grupos e com 
grupos, você aceita? ”. Este trabalho foi realizado com alunos e professores 
desta instituição de ensino, os quais se inscreveram espontaneamente para 
participarem do projeto. Os resultados obtidos neste grupo foram importantes 
para que a teoria se configurasse numa prática eficiente e eficaz no trabalho 
com grupos. 
Esta experiência levou-nos a refletir sobre nossa atuação como profissional da 
Psicologia, despertando- nos o desejo de trabalhar com grupos e de poder 
contribuir mais com aqueles que buscam ajuda e orientação. Em 1992 fomos, 
então, convidados a coordenar o “Centro de Programação Psicológica” da 
Universidade de Formação Educação e Cultura do ABC - UNIFEC, onde os 
alunos do 5
o
 ano de Psicologia realizam os estágios clínicos supervisionados. 
Nesta ocasião, como coordenadora deste Centro de Programação Psicológica 
(C.P.P.) administrávamos a parte técnica-pedagógica, ou seja, 
supervisionávamos o conteúdo ministrado aos estudantes de Psicologia, bem 
como os instrumentos psicológicos de avaliação utilizados para diagnóstico. 
Orientávamos os estagiários sobre dúvidas surgidas fora das supervisões, e na 
parte administrativa despachávamos laudos, comunicados, cartas e listas de 
presença que normatizavam os atendimentos, triagens e outras exigências 
burocráticas da instituição de ensino, e de funcionários que nela trabalhavam. 
2 
 
No decorrer desta experiência procuramos, em reunião no Departamento de 
Psicologia, destacar a necessidade de oferecermos atendimentos em grupo, 
dado ao grande volume de inscritos para os diversos atendimentos. Assim, 
começamos em 1992 a oferecer atendimentos em grupo para adolescentes, já 
que estes não eram beneficiados por nenhum programa de estágio na clínica e 
a demanda era muito grande. Este atendimento tinha um enfoque operativo e 
passou a ser realizado como uma opção voluntária dos alunos, os quais faziam 
o papel de observadores. A coordenação e supervisão deste trabalho, desde o 
início esteve sob minha responsabilidade e participação direta. 
Começou então, a ser oferecidos atendimentos em grupo para adolescentes 
inscritos, os quais dificilmente seriam atendidos regularmente, devido à longa 
lista de espera. Estes atendimentos e outros que começaram ser oferecidos 
então, tinham um enfoque operativo. Coordenamos estes grupos e os 
alunos/estagiários atuavam como observadores sob minha supervisão. 
Durante os anos de 1992 a 1994 vários trabalhos em grupo com enfoque 
operativo foram realizados neste Centro de Programação Psicológica (C.P.P.), 
que chamaremos Clínica de Psicologia no decorrer desta dissertação. 
Em 1993, no 2
o
 semestre, a Clínica de Psicologia, por determinação da 
UNIFEC, muda-se para as mesmas dependências da clínica de Fisioterapia 
desta instituição, passando a dividirem o mesmo espaço físico: Clínica de 
Fisioterapia e Clínica de Psicologia. No período em que estávamos nos 
instalando, alunos e professores da Fisioterapia (4
o
 ano) nos procuraram 
curiosos com a nossa mudança, já que ninguém da direção da UNIFEC os 
havia informado. Queriam saber qual era o motivo de estarmos ali, se iríamos 
trabalhar juntos, se o C.P.P. iria atender aos clientes da Fisioterapia, entre 
outros questionamentos. Fizemos esclarecimentos sobre os objetivos do 
C.P.P. e do nosso trabalho, assim como esclarecemos que, em princípio, não 
havia nenhum projeto em comum entre Fisioterapia e Psicologia. Assim, 
iniciou-se, informalmente, uma série de conversas e de expectativas de 
3 
 
trabalho entre os dois cursos. Dentre as solicitações de um trabalho conjunto, 
a mais cogitada foi a possibilidade de realizarmos um trabalho com as mães 
de crianças atendidas pela Neuropediatria - Fisioterápica. 
Como tínhamos interesse em trabalhar temas relacionados `as deficiências, 
pois lecionamos disciplina correlata desde 1989 no curso de Pedagogia da 
Fundação Sto. André, e também nos interessava trabalhar com grupos num 
enfoque operativo, propusemo-nos a trabalhar com estas mães. A queixa 
trazida pela Fisioterapia era de que a maioria das mães, não colaborava com 
o atendimento fisioterápico em curso pois, superprotegiam os filhos, faltavam 
aos atendimentos, descuidavam da higiene e de outros cuidados físicos com os 
filhos. 
Sobre este aspecto, GESU et al ( 1996 ) realizaramum trabalho com crianças 
descapacitadas na cidade de La Plata - Argentina e observaram neste estudo 
que estas crianças sempre ficam a cargo de suas mães, as quais apresentam 
comportamentos que vão desde a superproteção até ao abandono da criança . 
Observaram também que estas crianças são como um resultado das projeções 
das mães . Colocam que, em geral , estas famílias são fechadas, sem contatos 
sociais; evitam expor os filhos por sentirem vergonha, inferioridade e, estes 
sentimentos aparecem mais nas mães do que nos outros membros da família . 
O estudo mostra que estas crianças, geralmente, dividem o leito com os irmãos 
ou com um dos pais, formando assim vínculos duais onde predomina uma 
fusão, não dando lugar a um terceiro. Isto diificulta a entrada do pai na 
relação e na construção de um projeto próprio para este filho. 
Em nossa proposta acreditávamos que um trabalho direcionado a estas mães 
poderia colaborar na elaboração de sentimentos e estereotipias no seu 
comportamento que dificultam a relação mãe x filho. Assim, pensamos na 
possibilidade de unir os interesses da Psicologia e da Fisioterapia, oferecendo 
um atendimento multidisciplinar diferenciado. Seria uma oportunidade para 
avaliarmos o quanto o grupo num enfoque operativo poderia caminhar para 
4 
 
mudanças. Para a Fisioterapia, acreditávamos, estas mudanças seriam 
percebidas quando as queixas trazidas fossem sendo alteradas. 
A UNIFEC não se manifestou no sentido de oferecimento de um apoio 
imediato (financeiro, material)na realização destes novos projetos para 
atendimento em grupo à comunidade. Por outro lado, também não se opôs à 
realização do trabalho . Assim, fazíamos o que podíamos, com os recursos e a 
disponibilidade de horários que dispunhamos. Acumulamos papéis: 
coordenador, professor, terapeuta, triador muitas vezes para poder implantar 
esta nova modalidade de atendimento que nos parecia mais adequada à 
clientela e ao momento econômico - social do país. 
Este trabalho foi então realizado, mesmo tendo que passar por muitos 
obstáculos, todavia, trouxe-nos resultados que consideramos relevantes. 
Por esta razão é que nos propusemos dissertar sobre esta experiência com 
grupos de mães de crianças com deficiências. Colocamos “ deficiências”pelo 
fato de que estas crianças eram portadoras de diferentes patologias ,as quais 
citaremos no capítulo IV . 
Acreditamos que o relato desta experiência (pontuando as dificuldades de 
realização de um trabalho conjunto, expondo as dificuldades das mães destas 
crianças, e mostrando a evolução do grupo) torna-se relevante, na medida em 
que mostramos também a importância da prevenção em Saúde Mental. 
Com isso, o objetivo deste estudo é: 
Descrever um trabalho de grupo com mães num enfoque operativo, visando a 
prevenção em saúde mental no que se refere ao relacionamento mãe e filho. 
 
 
 
5 
 
Mais especificamente procuramos: 
a - descrever os encontros, buscando enfocar os movimentos e a evolução de 
um grupo de mães de crianças com deficiências, atendidas no Centro de 
Programação Psicológica da UNIFEC, num enfoque operativo. 
b - expor a dificuldades das mães de crianças com deficiências variadas em 
aceitarem um trabalho que se direcionava para elas próprias. 
c - relatar as dificuldades de se realizar um trabalho conjunto 
(multidisciplinar) na atenção às mães de crianças com deficiências no âmbito 
institucional. 
 
 
 
6 
 
CAPÍTULO I 
 
 
I.1 - ATENDIMENTO DE GRUPOS EM INSTITUIÇÃO: 
UMA TAREFA PREVENTIVA. 
 
 
As práticas preventivas de atendimento grupal em Instituições de Saúde ou em 
Clínica - Escola tem ganhado certo vulto em Psicologia Clínica, bem como em 
áreas afins, nos últimos anos no Brasil. E com isso, alguns relatos de 
experiência têm sido publicados, mostrando a importância desta prática 
preventiva em saúde mental. Muitos autores destacam a importância de 
projetos de atendimento grupal com pais (pai e/ou mãe) visando a melhoraria 
das relações pais- filhos em particular, bem como a dinâmica das relações 
familiares em geral. Outros autores mostram que, aliados a estes mesmos 
objetivos, também estes trabalhos grupais são uma solução para diminuição 
das enormes listas de espera nas instituições. 
Buscamos então, neste capítulo, trazer alguns destes trabalhos de atendimento 
grupal em instituição, tanto a título de ilustração daquilo que tem sido feito 
quanto pelo fato de que estes mesmos nos servirão como suporte técnico em 
vários momentos de nossa discussão. 
7 
 
I.1-1 GRUPOS DE PAIS DE CRIANÇAS EM ATENDIMENTO 
FABRE & HOFFMANN (1994), relatam a experiência que tiveram como 
coordenadores de um grupo de pais de crianças autistas no Hospital Infantil 
Joana de Gusmão em Florianópolis. O objetivo deste trabalho foi o de 
propiciar o contato famíliar, desenvolvendo um trabalho de Dinâmica de 
Grupo, com contatos mensais e duração de 1,30 h. Buscaram também 
favorecer a troca de experiências e a identificação de vivências semelhantes, 
visando a diminuição do estresse familiar. Para os autores ficou a certeza de 
que uma forma de se ajudar estas crianças é trabalhar com seus pais: 
“trabalhar terapeuticamente, onde possamos suportar seus sofrimentos, 
levando-os a elaborar seus conflitos, propiciando dessa forma, que eles 
encontrem novos caminhos e se permitam mudanças que os tornem mais 
felizes.” (pág.8 ) 
ARRUDA (1989), descreve o atendimento de um grupo de mães, dentre 
outros que são oferecidos no Ambulatório de Saúde Mental Infantil da 
Universidade Estadual de Campinas. Estes grupos originaram-se da aplicação 
de algumas diretrizes da Saúde Mental recomendadas pela Organização 
Mundial de Saúde. O objetivo básico destes grupos foi o de promoção da 
Saúde Mental das crianças através de suas mães, as quais vinham ao setor para 
o atendimento dos seus filhos e aguardavam em sala de espera. O autor relata 
que estes grupos nasceram em função de algumas condições mais 
específicas, como : 
a - dificuldades na relação das mães com o filhos, observadas na população 
de crianças atendidas neste Setor Infantil do Ambulatório de Saúde Mental. 
b - preocupação deste Setor Infantil quanto ao abandono dos tratamentos 
prolongados de algumas crianças. 
8 
 
O autor mostra, no relato das vivências destes encontros, o quanto este 
trabalho serviu de continente às ansiedades trazidas pelas mães. A 
identificação que estas mães puderam desenvolver com outras mães no grupo, 
possibilitaram uma compreensão, um posicionamento mais adequado diante 
das dificuldades que eram semelhantes entre elas. Isto pôde representar um 
aprendizado contínuo e dinâmico para todas as participantes. 
Em outro trabalho, ARRUDA (1991), relata a vivência de um dos grupos 
destinado às mães de crianças atendidas em Ludoterapia grupal, no Setor 
Infantil de Saúde Mental da UNICAMP. Este trabalho visou proporcionar às 
mães espaço próprio para conversarem e compreenderem, dentro de certos 
limites, algumas fantasias, angústias, defesas e reações perante os sintomas e 
o desenvolvimento do processo ludoterápico dos filhos, assim como trabalhar 
o relacionamento mãe - filho. O autor destaca que, o acompanhamento 
apoiou-se nas vivências emocionais e nos dinamismos grupais, bem como nas 
próprias colocações, assinalamentos e interpretações acerca dos conteúdos 
trazidos pelas mães, enfocando-os ora a partir do relacionamento mãe - 
filho, ora dos problemas que envolviam o desenvolvimento e o crescimento 
das crianças. 
Este autor acredita que as mães puderam compreender melhor seus filhos ao 
percebereme entenderem o próprio envolvimento afetivo e suas próprias 
angústias, na medida em que observavam as semelhanças entre elas, as 
dúvidas e dificuldades que enfrentaram. O acompanhamento destas mães em 
grupo levou-as a entender o quanto controlavam seus filhos, seus tratamentos 
e os profissionais responsáveis pelas crianças. Destaca ainda, que estas mães 
cresceram nestes grupos, ou seja, puderam compreender melhor seus filhos e, 
possivelmente, puderam estar mais preparadas para aceitar as modificações 
no desenvolvimento das crianças. 
9 
 
I.1-2 GRUPO DE APOIO A FAMILIARES 
SUCAR, REIS & PITTA (1987), relatam a experiência grupal de 
atendimento a familiares de pacientes em tratamento, em situação de “crise”, 
em uma unidade psiquiátrica inserida num hospital geral. Consideram que a 
“crise” é também vivida pelo grupo familiar, e portanto, isto deve ser levado 
em conta no atendimento oferecido ao paciente. O atendimento familiar grupal 
pode possibilitar que o grupo se organize e consiga reabsorver esse membro 
debilitado, tão logo o período de tensão tenha diminuído. Os encontros 
oferecem um espaço para que os familiares possam expressar e tentar elaborar 
os conflitos que surgem em decorrência da situação de internação, permitindo 
uma maior aderência ao tratamento, bem como a busca de um rearranjo 
familiar que tente evitar novos episódios. Uma equipe multidisciplinar 
composta por várias especialidades afins (psiquiatra, psicólogo, assistente 
social, terapeuta ocupacional, enfermeiro e estagiários destas especialidades), 
formaram um grupo móvel nestes atendimentos. Os familiares foram 
atendidos durante o período da internação, durante as licenças para visitas e na 
alta hospitalar. 
Os autores observam que: “...uma orientação para os familiares só poderá 
ser efetiva se eles estiverem com condições internas para aceitá-la e cumpri-
la, o que nem sempre acontece.” (pág. 25). Assim, evidencia-se a importância 
de que outros trabalhos mostrem novas saídas nas intervenções para grupos 
familiares, dado as características do trabalho institucional. 
10 
 
I.1-3 GRUPOS DE ORIENTAÇÃO DE PAIS: ENFOQUE PATERNO 
Alguns Fundamentos teóricos e problemas técnicos nos grupos de orientação 
de pais são abordados por SALAS (1972). Este autor ressalta o quanto as 
relações entre o casal parental têm repercussões na criança e destaca a 
importância de se trabalhar o pai, já que o pai não se faz presente muitas 
vezes nesta realidade. Assim, sugere grupos de orientação com pais, para 
desenvolver disposições pessoais latentes do papel paterno, nos integrantes 
destes grupos, através de uma interação específica entre si e com o terapeuta. 
Destaca ainda, que nestes grupos com pais, sobressai a dificuldade que muitos 
têm de assumir este papel, o qual está ligado às perturbações no vínculo com 
seus próprios pais, na infância. Isto repercute no papel que os pais vão 
assumir frente a seus filhos e esposas. Nestes grupos, Eduardo Salas, propõe 
que se faça emergir a identidade mais genuína de cada pai no grupo, supondo 
que isto trará modificações na relação com os filhos. Coloca também alguns 
problemas para o manejo destes grupos como: dependência com o 
coordenador, dosagem das interpretações, triagem dos pais, heterogeneidade 
na idade dos filhos, entre outros. E acrescenta que o objetivo básico é fazer 
com que, nestes grupos, o pai repita sua própria situação com seus filhos, para 
poder reiterar sua relação com sua figuras parentais. O autor acredita, que o 
avanço teórico na compreensão do papel do pai, na família, está no progresso 
de trabalhos com estes grupos, pois ao mesmo tempo estaremos obtendo 
experiências que permitirão um maior conhecimento da figura paterna e da 
dinâmica familiar. 
11 
 
I.1-4 GRUPOS DE ESPERA EM INSTITUIÇÃO 
LARRABURE (1982), trabalhou com grupos que se originaram a partir da 
lista de espera que havia para o ingresso de crianças para um diagnóstico 
psicológico na Clínica Psicológica da Faculdade S. Marcos - São Paulo. 
Formados para os pais de crianças que aguardavam diagnóstico, os grupos 
eram de curta duração e respeitavam alguns critérios que poderiam variar em: 
homogeneidade da queixa, sexo ou faixa etária dos filhos, ordem de procura 
na clínica, entre outros. Os objetivos básicos para a formação destes grupos 
foram do ponto de vista da instituição: 
- atender a excessiva demanda de clientes evitando as longas filas de espera 
- executar um trabalho pré-diagnóstico, selecionando os casos mais adequados 
a cada tipo de atendimento oferecido pela instituição, entre outros. 
Do ponto de vista da clientela, o trabalho com os pais buscou: 
- melhorar a compreensão quanto à necessidade do atendimento, 
- um trabalho conjunto clínica-família no sentido de mobilizar os aspectos 
positivos da criança e buscar uma atitude mais ativa dos pais diante das 
dificuldades dos filhos, entre outros. 
A autora salienta que estes grupos, através da ação facilitadora de um 
coordenador, passam por fases, como: 
a - busca de respostas imediatas. 
b - lugar de encontro e momento pessoal, onde é possível falar de problemas e 
tomam consciência que tem voz ativa neste processo. 
c - identificação, colaboração. 
d - aceitação para busca de um auxílio mais verdadeiro. 
Esta autora acredita que os “Grupos de Espera” iniciam um processo de 
sensibilização e conscientização para que os pais reflitam: sobre o tipo de 
12 
 
relação que há entre eles e seus filhos, sobre como estão envolvidos com o 
problema e sobre que espécie de ajuda podem obter do atendimento 
psicológico. Além disto, despertam para a dimensão psicológica os indivíduos 
que acreditavam estar fora deste processo. 
GRANJON (1991), descreve a experiência que vem sendo realizada no 
Centro de Ação Médico-Social Precoce (CAMPS) em Aixen - Provence na 
França com os Grupos “Gigognes “ (grupos embricados). Esta instituição 
atende a crianças de zero a seis anos que apresentam deficiências de qualquer 
origem. Esta instituição tem por objetivo levar, num projeto terapêutico 
unificado, todos os cuidados necessários para estas crianças e suas famílias. A 
equipe de profissionais é pluridisciplinar e o projeto terapêutico está baseado 
numa estrutura grupal particular onde espaços e invólucros que representam 
funções diferentes fazem parte das relações de complementariedade e de 
embricamento. No CAMPS este trabalho é feito com três diferentes grupos 
que se embricam (Gigognes): o das crianças, o dos profissionais e o dos 
familiares. 
Esta autora acredita, pelos resultados observados, que esta experiência está 
sendo enriquecedora e transformadora para a instituição e para as famílias e 
crianças ali atendidas. 
Acreditamos que, com a breve exposição destes trabalhos, pudemos transmitir 
a importância de estarmos desenvolvendo projetos destinados ao atendimento 
de grupos no âmbito institucional e de caráter preventivo. Como vimos no 
relato feito, estes trabalhos proporcionaram transformações e conscientização 
sobre os indivíduos e sobre a dinâmica das relações interpessoais e familiares. 
Assim, apoiados nestas contribuições buscamos realizar este trabalho 
mostrando a importância de se trabalhar em grupo com mães num enfoque 
operativo, visando a prevenção em saúde mental no que se refere ao 
relacionamento mãe e filho. 
13 
 
CAPÍTULO II 
 
 
II.2 AS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE DE FORMAÇÃO E 
CULTURA DO ABC - UNIFEC: 
 
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO 
 
 
 
A UNIFEC - Universidade de Formação e Cultura do ABC, em função de seus 
cursos de Fisioterapia e Psicologia,possui respectivamente: o Centro de 
Programação Psicológica (C. P. P.) e a Clínica de Fisioterapia, as quais 
chamaremos de Clinicas (de Psicologia e de Fisioterapia), muitas vezes, 
durante esta dissertação. Ambos atendem à comunidade gratuitamente e se 
prestam ao estágio supervisionado dos alunos de último ano dos referidos 
cursos. A partir de agosto de 1993 estas clínicas, que antes funcionavam em 
prédios distintos, passam a dividir as mesmas dependências onde funcionava a 
Clínica de Fisioterapia, como também pessoal de limpeza e segurança. O 
funcionamento de ambas obedece a normas e regulamentos próprios, os quais 
descreveremos brevemente em alguns de seus aspectos mais relevantes para o 
presente estudo. 
14 
 
II.2-1 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO CENTRO DE 
PROGRAMAÇÃO PSICOLÓGICA. 
O curso de graduação de Psicologia existe na UNIFEC desde o ano de 1973, e 
o C.P.P. passou a prestar serviços à comunidade desde o ano de 1977. Este 
centro atende a comunidade de S. Caetano e da região metropolitana de S. 
Paulo que se inscrevem nos diversos programas de atendimento clínico, que 
são: 
a- Atendimento adulto na linha Comportamental 
b- Atendimento infantil na linha Psicanalítica -Psicodiagnóstico e Ludoterapia 
c- Orientação Vocacional para adolescentes a partir dos l5 anos 
Neste Centro (C.P.P.), trabalhavam um total de seis psicólogos. Estes atuavam 
da seguinte forma: um exercendo a função de triador, analisando as queixas no 
momento da inscrição e realizando encaminhamentos necessários e 
orientando os estagiários na ausência dos supervisores . Outros quatro 
psicólogos atuavam como supervisores, sendo que dois deles eram ligados 
diretamente à clínica: um supervisionando atendimentos infantis (num 
referencial Psicanalítico), um supervisor para atendimentos adultos (dentro de 
um referencial comportamental); outros dois supervisores atuavam nas áreas 
de Psicologia Escolar e Psicologia Organizacional, e ambos supervisionam os 
estágios realizados em escolas e industrias da região, utilizando-se das 
instalações do C. P. P. para as suas supervisões semanais. Havia também um 
coordenador, o qual cuidava da parte administrativa e pedagógica do C.P.P. 
e estando subordinado ao Chefe do Departamento de Psicologia da 
Universidade. Também fazia parte do quadro de funcionários do C.P.P. : uma 
secretária desempenhando papel administrativo e de apoio aos profissionais 
que nele trabalhavam. 
O acesso aos atendimentos no C.P.P. era feito de forma espontânea ou por 
indicação médica ou pedagógica junto à secretária, onde são marcados dia e 
15 
 
hora para triagem. Na triagem era feita a inscrição do interessado para os 
atendimentos oferecidos, ou era dado o encaminhamento devido. 
Assim o inscrito aguardaria em lista de espera, por ordem de chegada, o 
contato telefônico para iniciar os atendimentos. Os atendimentos iniciam-se 
em meados de abril indo, quando necessário, até o início de dezembro, época 
do encerramento do ano letivo em que o estagiário está matriculado. Caso o 
supervisor responsável julgasse necessário continuar os atendimentos, pediria 
para que o estagiário providenciasse o encaminhamento junto às instituições e 
profissionais cadastrados na secretaria do C.P.P. Os atendimentos eram então 
realizados nos períodos da manhã, tarde e noite, em função da disponibilidade 
do estagiário e dos inscritos. Os atendimentos infantis aconteciam duas vezes 
por semana e o atendimento adulto uma vez por semana, sob a supervisão da 
coordenação. Depois da triagem os casos eram mantidos em arquivos 
separados por área de atendimento, ficando à disposição dos supervisores de 
cada área (infantil e adulto). Cabia aos supervisores, distribuírem os casos 
clínicos aos estagiários que deveriam atender, em caráter obrigatório, um caso 
infantil e um caso adulto, ficando a critério dos supervisores e coordenadores a 
avaliação da possibilidade de se distribuir mais de um caso para cada 
estagiário. 
Nos últimos três anos houve uma média de 20 estagiários por ano para 
atender 300 casos por ano. Isto mostrou que a demanda era muito grande, já 
que vinham se formando longas listas de espera. Em detrimento disto, houve 
uma preocupação da coordenação em ampliar a possibilidade de 
atendimento, iniciando projetos com grupos, levando-se em conta as queixas 
que eram comuns aos seus integrantes. 
Assim, foram iniciados grupos com abordagem operativa para adolescentes e 
para mães em lista de espera,entre outros. 
16 
 
II.2-2 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA CLINICA DE 
FISIOTERAPIA 
A clínica de Fisioterapia, tal como a de Psicologia (C.P.P.), atendia a 
comunidade da cidade de São Caetano e arredores gratuitamente, oferecendo 
os seguintes atendimentos fisioterápicos aplicados: disfunções Cardio-
Respiratórias, Ortopédicas-Traumatológicas e Neurológicas. O acesso aos 
atendimentos era então feito mediante indicação médica e apresentação de 
exames complementares quando necessário. 
Os alunos estagiários eram divididos em grupos que variavam pelo total da 
turma do ano, fazendo-se um rodízio nas diversas áreas de atendimentos 
oferecidos ficando, em média, cinco alunos em cada área de atendimento. Nos 
últimos três anos houve, em média, trinta alunos por turma. 
Para cada área de atendimento havia supervisores, os quais acompanhavam a 
avaliação do quadro apresentado e determinavam o andamento do trabalho 
junto ao estagiário responsável. 
Existia, nesta ocasião, uma grande procura pelos atendimentos, contudo o 
trabalho fisioterapêutico é, em algumas áreas, muito rápido ao ser comparado 
com a Psicologia. A exemplo disto, temos o tratamento de luxações na 
Ortopedia que,em média, é de 4 a 6 sessões. Existia também uma lista de 
espera, todavia esta não era tão longa quanto a da Clínica de Psicologia onde 
as intervenções, na sua grande maioria, tinham uma duração de dois semestres 
letivos. Os inscritos na Fisioterapia aguardavam, em lista de espera, um 
contato telefônico para o inicio dos trabalhos. 
Trabalhavam na Clínica de Fisioterapia quatro fisioterapeutas, sendo um 
coordenador, três supervisores e uma secretária para serviços administrativos e 
apoio aos profissionais. Os atendimentos tinham duração diferenciada nas suas 
diferentes modalidades e uma freqüência de duas vezes por semana em todas 
as suas modalidades. A Clínica de Fisioterapia funcionava no período da 
17 
 
manhã e da tarde. O curso de Fisioterapia tinha,em média, 30 alunos 
estagiários no final do curso. 
18 
 
II.2-3 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ATENDIDA NAS 
CLÍNICAS - ESCOLA UNIFEC 
A população atendida pelas clínicas é,na sua maioria, de classe sócio- 
econômica baixa. O C.P.P. atende, principalmente, crianças numa faixa etária 
de 6 a 12 anos de idade. Considerando-se que a faixa etária da clientela é de 
crianças e adolescentes, estes são levados às clinicas por um acompanhante, e 
utilizam-se de, pelo menos, dois veículos de locomoção para chegar até elas, 
as quais estão localizadas num bairro periférico da cidade de São Caetano 
(Bairro Oswaldo Cruz). Este fato implica, muitas vezes em gasto excessivo de 
tempo e dinheiro para estas famílias de baixa renda. 
O público atendido pela Clínica de Fisioterapia tem ainda mais um 
agravante: um considerável número de clientes têm deficiências físicas 
variadas, fato que os impossibilitam da utilização dos meios de transporte 
públicos, necessitando, muitas vezes, de condução própria ou até de 
ambulâncias. Todos estes fatos acarretam faltas aos atendimentos. Portanto, 
não podemos dizer que as faltas (ausências)aos atendimentos sejam causadas 
somente por mecanismos inconscientes, mas temos que considerar que 
existem dificuldades reais. 
A população residente no bairro em que se encontra as clínicas é a mais 
beneficiada pelos seus serviços, tanto pela facilidade do acesso, quanto pela 
credibilidade que deposita nos trabalhos oferecidos. Em menor número 
encontramos casos de pessoas “ classe média” (*) que procura as Clínicas por 
vários motivos: proximidade das clínicas de suas residências, doenças crônicas 
(por exemplo: paralisia cerebral) entre outros como queda do poder aquisitivo 
; pois nada impede que a comunidade se inscreva nos atendimentos oferecidos 
já que o ingresso obedece à triagem, ordem de chegada e encaminhamentos 
 
(*) Estamos chamando de “classe média” a uma população que apresenta um grau de escolaridade de 
2º grau completo a superior completo e/ou incompleto, com uma renda mensal de mais de dez salários 
mínimos e que possui alguns bens de consumo, como: automóvel, telefone e eletrodomésticos; assim 
como casa própria e outras propriedades. 
19 
 
médicos e não leva em conta o poder aquisitivo do paciente. Por este motivo, 
acreditamos que um critério de investigação sócio-econômica seria 
aconselhável, dado às dificuldades da população de baixa renda em ter acesso 
a esses atendimentos. 
20 
 
CAPÍTULO I I I 
III.3 A FORMAÇÃO DO GRUPO DE MÃES: 
UMA PROPOSTA PREVENTIVA CONJUNTA 
 
Cada vez mais observamos a importância de serem realizados trabalhos 
preventivos e conjuntos que fortaleçam as pessoas a fim de enfrentarem 
períodos de crise ou conflitos em suas vidas. 
Como crise, utilizamos a definição dada por SIMON (l983), que a caracteriza 
pela sua etiologia: uma perda ou ganho que tem significação para o indivíduo 
que a vivencia; representando aumento ou diminuição do espaço no universo 
pessoal deste. Um mesmo fato pode ser vivido como aquisição ou 
perda,gerando a crise correspondente. 
O essencial na geração da crise é o fato de o indivíduo se ver frente a uma 
situação nova e vitalmente transformadora. (SIMON op. cit) 
ERIKSON (1959) estudou as crises a partir do desenvolvimento do indivíduo, 
CAPLAN (1964) estudou a crise a partir do conceito de homeostase adaptativa 
; já SIMON (1983) estudou a crise acrescida das propostas anteriores 
(desenvolvimento, homeostase) unindo o cognitivo e o afetivo aos conteúdos 
inconscientes latentes na vivência das crises, os quais interferem na sua 
resolução. 
SIMON (op.cit.) propõe condutas preventivas diante dos riscos que o 
indivíduo; pode vir a correr ao vivenciá-las. Caso a crise seja advinda da 
perda, a pessoa vivência sentimentos de depressão, autopunição e culpa. Corre 
riscos de autoflagelação, suicídio ou projeção da culpa. Caso a crise seja 
advinda de aquisição (ganho), a pessoa sente-se inferiorizada, inadequada e 
corre o risco de fuga ou onipotência. 
21 
 
A partir destas constatações feitas em seus estudos, este autor propõe 
programas de prevenção, como o realizado por ele próprio
 
na Escola Paulista 
de Medicina com estudantes de medicina em 1977. Os objetivos da ação 
preventiva são os de ajudar o indivíduo a aceitar realisticamente as perdas e 
estimulá-lo a retomar o interesse pelo seu universo pessoal diminuído 
significativamente pela perda crítica. Ou então, de aceitar o ganho com 
ambição moderada de modo a ampliar seu universo pessoal dentro da 
realidade. Para isso existem duas possibilidades de intervenção preventiva: 
passiva e ativa. Por prevenção passiva, entende-se o trabalho realizado por 
profissionais quando a crise já está em andamento, instalada no indivíduo. A 
prevenção é ativa quando lidamos com o indivíduo em situações onde a crise 
tem possibilidade de ocorrer, está latente, mas ainda não se instalou; isso evita 
ou atenua danos,ou consolida benefícios. 
SIMON (op. cit.) destaca a importância de serem desenvolvidos trabalhos 
preventivos para promover a Saúde Mental. Cita locais na sociedade onde há 
maior possibilidade de surgirem situações de crise como: hospitais, clínicas 
médicas e paramédicas, escolas, delegacias, necrotérios, orfanatos, agencias de 
emprego, indústrias, entre outros. 
Com isso, configura-se a importância e necessidade da formação e do trabalho 
de equipe que Ryad Simon chama de psico-higienistas, os quais poderão 
atender às diferentes necessidades dos indivíduos. 
Outros autores como LEAVEL & CLARK (1976) também numa visão 
preventivista, destacam : “Os objetivos de toda atividade médica e de saúde 
pública, seja ela exercida no consultório, na clínica, no laboratório ou na 
comunidade, são promoção da saúde, a prevenção de doença e 
prolongamento da vida.” (pág . 11) 
Assim, cabe a nós profissionais de saúde envolvidos em trabalhos 
institucionais, trabalharmos com projetos que visem a prevenção 
principalmente nos níveis primários e secundário na definição de CAPLAN 
22 
 
( op. cit.), antes que a doença se instale, ou mesmo numa tentativa de evitar 
que os indivíduos, ainda que adoeçam, não se tornem inválidos. 
CAPLAN (1964) também destaca a importância de trabalhos deste tipo e 
define níveis para estas intervenções preventivas: Primária, secundária e 
terciária. 
A intervenção em Prevenção Primária oferece medidas destinadas à 
desenvolver a saúde geral antes que agentes patogênicos se instalem no 
indivíduo. Embora seja difícil evitar a instalação de distúrbios na população, 
de modo geral estas ações primárias procuram reduzir o número de pessoas 
que possam ser afetadas. Portanto, são os profissionais da saúde quem avaliam 
que medidas serão tomadas, mesmo desconhecendo as etiologias. CAPLAN 
(1964) argumenta: “...enquanto aguardamos os resultados da pesquisa 
etiológica, ainda podemos obter algum êxito na prevenção primária se 
explorarmos nossos conhecimentos atuais, menos do que perfeitos, dos 
fatores que influenciam a incidência de distúrbios mentais.” (página 44) 
 A intervenção em Prevenção Secundária visa, por meio de diagnóstico 
precoce, tratar a doença, reduzindo a taxa de incapacidade causada por um 
distúrbio, buscando atingir a “população de risco “ mais propensa a 
desenvolver a doença ou distúrbio. Busca oferecer barreiras contra os agentes 
causadores do desequilíbrio que podem provocar a invalidez. 
CAPLAN (1964) destaca que num programa comunitário a “excelência é 
inimiga do bom” (página 124), pois devemos estar preparados para aceitar 
objetivos modestos para os projetos de atendimento que realizamos. Além 
disso, devemos considerar que nossas intervenções são temporárias e que 
podem ajudar os indivíduos num momento de suas vidas, ao invés de 
acharmos que temos uma força ilimitada de mudança e que vamos construir 
um ideal de saúde ou de maturidade. 
23 
 
A intervenção em Prevenção Terciária tem por objetivo reduzir, na 
comunidade, o defeito a invalidez que um distúrbio instalado pode ter 
deixado. Desenvolve, para isso, trabalhos que visam a reabilitação para uma 
melhoria da vida ocupacional e social dos indivíduos afetados. 
Acreditamos que nosso trabalho possa proporcionar segundo CAPLAN 
(1964) Prevenção Secundária, pois o que nos motivou propô-lo foram as 
queixas trazidas pêlos profissionais da Clínica de Fisioterapia sobre as mães 
das crianças ali atendidas na Neurologia Fisioterápica. Portanto, não se 
enquadraria em Prevenção Primária dado já existir fatores que apontavam para 
um desequilíbrio no comportamento destas mães para com os seus filhos; daí 
as queixas trazidas pelos profissionais da Fisioterapia como:abandono ou de 
super-proteção para com estas crianças. 
Apoiados nestes estudos aqui residem um dos objetivos deste trabalho, que 
vem fundamentar a necessidade, bem como as dificuldades de se trabalhar na 
prevenção em conjunto com outros profissionais afins, promovendo a Saúde 
Mental numa proposta interdisciplinar. 
A interdisciplinaridade viria hoje contra um saber fragmentado pelas 
crescentes especialidades e, contra uma divisão e distanciamento entre as 
ciências e seus profissionais bem como, contra o conformismo das situações 
“posta e impostas” por idéias recebidas. Hoje observamos a volta à síntese, 
depois de tantos anos de análise. As situações humanas propõem a necessidade 
de uma união entre os saberes para um melhor encaminhamento e solução. A 
sociedade atual transforma-se rapidamente gerando necessidades que põem em 
cheque o saber, sua estruturação e sua ordem. 
JAPIASSU (1976) destaca que há uma crescente necessidade de reorientar os 
estudos, de estabelecer comunicação entre especialidades, de uma nova 
adequação das atividades universitárias à realidade social, entre outros. 
Portanto, a interdisciplinariedade aparece, de um lado, como um instrumento 
do saber e de outro como meio de superar o isolamento das disciplinas, 
24 
 
tentando superar o fosso que separa a Universidade da Sociedade. Cabe, então, 
que cada especialidade reconheça o caráter parcial e relativo de sua própria 
disciplina e muito mais. Sem dúvida é um desafio que,cada vez mais os 
pesquisadores terão que enfrentar . 
25 
 
III.3-1 O PLANEJAMENTO DO TRABALHO CONJUNTO NAS 
CLÍNICAS DE PSICOLOGIA E FISIOTERAPIA. 
Com a mudança do Centro de Programação Psicológica (C.P.P.) para as 
dependências da Clínica de Fisioterapia é que se começou a pensar na 
possibilidade de um trabalho conjunto entre as duas equipes, como já 
abordamos na introdução. 
Os profissionais da Clínica de Fisioterapia procuraram os profissionais da 
Psicologia para a viabilização de um trabalho conjunto. A coordenação da 
Fisioterapia, informalmente, expôs a necessidade de realizar trabalhos 
integrados entre as equipes de Psicologia e Fisioterapia junto à sua clientela. 
O primeiro trabalho sugerido foi com as mães das crianças atendidas na área 
de “Fisioterapia Neurológica”, pois acreditavam que poderíamos trabalhar 
juntos algumas questões, como: cuidados de higiene de mães para com as 
crianças, exercícios a serem feitos em casa que auxiliariam no progresso do 
atendimento fisioterápico, entre outros aspectos. 
Durante estes nossos contatos com a coordenação da Clínica de Fisioterapia, 
percebemos alguns aspectos como, por exemplo: sentimentos surgidos da 
relação profissional x paciente que emergiam nos atendimentos da 
Fisioterapia, os quais traziam ansiedade, angústia, sentimentos de perda e 
impotência mas, como não eram percebidos de forma “clara” por estes 
profissionais, causavam-lhes certo desconforto. Todavia, estes percebiam um 
“algo a mais “ que chamam de “alguns aspectos psicológicos” presentes no 
trabalho, e com os quais não sabiam lidar. 
Apesar destas nossas observações, não nos atentamos para um trabalho que 
visasse a relação profissional x cliente (paciente) manifestada pelos 
profissionais e estagiários da Fisioterapia. Estávamos interessados, naquele 
momento, num trabalho voltado para a queixa trazida por estes profissionais 
quanto à inadequação das mães ao lidarem com os filhos, por eles atendidos. 
26 
 
Talvez num futuro, caso estes trabalhos conjuntos ganhassem certo vulto e até 
apoio institucional, poderíamos realizar outros tantos trabalhos preventivos 
conjuntos com outros profissionais. 
Diante destes fatos, sugerimos um trabalho de Orientação Psicológica que 
pudesse abordar as relações mãe e filho, bem como questões que envolvessem 
a dinâmica familiar. 
Como citamos anteriormente, nosso trabalho esteve direcionado para um nível 
de Prevenção Secundária. Trabalhos voltados para a promoção de saúde, em 
nível de Prevenção Primária e Terciária poderiam também ser realizados, 
entretanto, é importante salientar que a Universidade não vislumbrava projetos 
de trabalho como estes nas atribuições das Clínicas de Psicologia e 
Fisioterapia. Isto implicaria na contratação de profissionais e na disposição de 
recursos materiais para a realização de projetos preventivos nestes outros 
níveis, já que não dispúnhamos de mais tempo (jornada de trabalho) na 
instituição naquela ocasião. Os trabalhos “extras”, que fugiam das atribuições 
acadêmicas e de supervisão aos estagiários dos cursos de Psicologia e 
Fisioterapia, não recebiam nenhum incentivo por parte da instituição ficando 
sob responsabilidade e boa vontade daqueles que os idealizaram. 
Deste modo, a coordenação do Centro de Programação Psicológica (C.P.P.) 
formalizou uma proposta de trabalho à partir das expectativas manifestadas 
pêlos profissionais da Fisioterapia. 
A proposta que apresentamos à Fisioterapia ampliava a possibilidade de 
participação para todas as mães de crianças atendidas nesta especialidade. O 
trabalho previa encontros semanais em grupo, estando sob nossa 
responsabilidade. Oferecemos três horários possíveis para a sua realização, 
ficando a critério da Fisioterapia organizar e formalizar o trabalho junto aos 
seus docentes e estagiários 
27 
 
Logo que foram comunicados formalmente, as coordenações de ambas as 
Clínicas aprovaram e deram aval para iniciar o trabalho o mais rápido 
possível. Acertou-se então, que as “chamadas” para a formação dos grupos 
seriam impressas e afixadas nos diversos murais da Clínica, e que os 
profissionais e estagiários da Fisioterapia discutiriam sobre a importância das 
mães em se compromissarem com este trabalho, enfocando ainda que o 
trabalho seria graciosamente oferecido. Apresentamos em anexo (anexo 1), 
uma cópia da “chamada” utilizada. 
A coordenação da clinica de Fisioterapia determinou que sua secretaria se 
responsabilizasse pelas inscrições das mães interessadas. Foram dadas duas 
semanas para as inscrições e, ao final deste prazo estavam inscritas 20 mães 
para os grupos, sendo que a Fisioterapia tinha em 1994 o número de 20 
crianças sendo atendidas pela Neurologia Fisioterápica , mais 15 em outros 
atendimentos, totalizando 35 crianças atendidas em sua clínica.Estes dados 
mostram que houve interesse por parte das mães para um atendimento 
psicológico (mais adiante voltaremos a abordar este aspecto). 
 
28 
 
III.3-2 O SURGIMENTO DE ENTRAVES NO ANDAMENTO DA 
PROPOSTA DE TRABALHO CONJUNTO 
A coordenação da Fisioterapia foi informada sobre o início do nosso trabalho, 
mas não se manifestou. O trabalho que seria conjunto não se concretizou, não 
houve oportunidades para ambas as equipes discutirem sobre os casos e sobre 
o trabalho em si. A maneira com que conduzimos a proposta parece-nos, à 
primeira vista, que foi entendida como que cada qual faria sua parte, sem 
intercâmbio entre as especialidades. Isto mostra que, de fato, não estamos 
preparados para trabalhos com características interdisciplinares. 
Assim, como aponta JAPIASSÚ (1976), na proposta Interdisciplina (diálogo 
entre as disciplinas) cabe que cada especialista reconheça o caráter parcial e 
relativo de sua própria disciplina, e isto, sem dúvida, é um desafio cada vez 
maior que os pesquisadores (e acrescentamos, nós clínicos) teremos que 
enfrentar. 
O trabalho em conjunto, exige o enfrentamento desta “parcialidade” que tem 
cada disciplina. 
Nossa proposta conjunta Psicologia - Fisioterapia, iniciava-se “tímida” ainda 
em relação ao que se pode chamar de Interdisciplinar, talvez mais próximaao que se chama Multiprofissional ou Multidisciplinar, segundo JAPIASSÚ 
(1976). Porém, acreditamos que o caminho, a posteriori, quando este trabalho 
e outros futuros surgissem, seria o de uma aproximação mais concreta da 
idéia Interdisciplinar. 
Quando os profissionais da Clínica de Fisioterapia lançaram a proposta de 
trabalharmos em conjunto, nossa idéia foi a de aproximação ao 
Interdisciplinar, pois concordamos com JAPIASSÚ (op. cit.) que a sociedade 
atual transforma-se rapidamente gerando necessidades que põem em cheque o 
saber, sua estruturação e sua ordem. Há uma crescente necessidade de 
reorientar os estudos, no sentido de estabelecer comunicação entre 
29 
 
especialidades, de uma nova adequação das atividades à realidade social. 
Portanto, a interdisciplinariedade aparece, de um lado, como um instrumento 
do saber e do outro como meio de superar o isolamento das disciplinas. 
Contudo, as dificuldades para se estabelecer a interdiciplinaridade estão 
postas: 
- as várias posições epistemológicas partilhadas entre as disciplinas são um 
entrave. 
- existem cisões quanto ao método utilizado para o estudo que tornam 
impossível a compreensão recíproca dos especialistas e sua eventual 
colaboração. 
Além destes aspectos, observamos também que a próprias instituições (não 
governamentais) tampouco incentivam trabalhos conjuntos, não procuram 
oferecer apoio ou recursos para a realização destes projetos (principalmente 
por estes apresentarem-se como propostas preventivas). Em nosso caso, não 
dispúnhamos de recursos materiais, pagamento de horas extras para os 
profissionais envolvidos, auxílio bolsa para os alunos que se engajassem 
nesse tipo de trabalho. Com isso nada há de motivador ou de elemento 
aglutinador para trabalhos desta ordem. O interesse científico - clínico, 
acreditamos, é o que nos mobilizou e fez-nos abraçar este desafio. 
Assim, parece estarmos diante de um processo científico que apresenta um 
poderoso dinamismo, mas que permanece em grande parte incompreensível. 
Esta é a situação difícil que teremos que enfrentar quando falamos de uma 
metologia das colaborações interdisciplinares. 
O trabalho interdisciplinar impõe: o domínio seguro das exigências 
metodológicas e epistemológicas comuns a todo conhecimentos, e isto é 
certamente, muito difícil. 
Sobre as vicissitudes no trabalho em equipe multiprofissional, CATROPA & 
MASSA (1984) descrevem a experiência que tiveram ao trabalhar com 
30 
 
diferentes profissionais no Setor de Psiquiatria Infantil da Escola Paulista de 
Medicina Enfocam tanto a riqueza da interação de profissionais, quanto as 
dificuldades inerentes a formação específica, em confronto com o objetivo 
comum, que é o enfoque holístico na saúde mental. Traçam um breve histórico 
de como o setor de Saúde Mental iniciou esse trabalho na área da psiquiatria 
infantil a partir de 1978, contando com uma equipe formada por psiquiatra, 
psicólogo, estagiários destas duas especialidades, terapeutas ocupacionais e 
assistente social. Estas autoras narram que, num primeiro momento, a 
existência de diferentes profissionais não levou à formação de uma equipe, 
mas sim à realização de tarefas isoladas e específicas,sem uma integração das 
diversas áreas, apesar de ser este o objetivo por eles buscado. Observam que 
os profissionais mais antigos do setor (psiquiatras e psicólogos), por terem 
pleiteado esta integração numa equipe multiprofissional, eram os que tinham 
uma visão mais globalizante do que os novos profissionais (terapeuta 
ocupacional e assistente social ). 
Durante as reuniões realizadas que buscavam uma tentativa de integração da 
equipe, o que ocorria era que cada profissional defendia ferrenhamente seu 
ponto de vista e atacava o do outro. A equipe funcionava, mas havia uma cisão 
que se refletia não só na divisão acentuada das tarefas, mas também na 
valorização delas. A limitação da visão de cada profissional acabava sendo 
utilizados pêlos outros como depositário de suas próprias limitações. 
Assim, percebia-se uma ambivalência: a construção de um novo modelo de 
atendimento e, um movimento contrário de competição e destrutividade. 
Descrevem ainda que, em outros momentos, desenvolveu-se um movimento 
para por fim à cisão do grupo e buscar uma nova identidade grupal. Neste 
processo, houve uma tendência de supervalorização do psicólogo da equipe 
havendo uma “psicologização” ou, uma prevalência do modelo médico, em 
alguns momentos. Todavia, foi só a partir destas reflexões e de um 
amadurecimento da equipe que se pôde reestruturar o trabalho e resgatar as 
31 
 
especificidades, aproveitando essas mesmas diferenças, para tornar os 
atendimentos os mais globais possíveis. Descrevem o quanto difícil foi 
percorrer estes longos caminhos cheios de encontros e desencontros até a 
integração. 
Diante destes fatos, lembramos ainda G.K. CHERSTERTON apud JAPIASSÚ 
(1976): “O especialista converteu-se neste homem que, à força de conhecer 
cada vez mais sobre um objeto cada vez menos extenso, acaba por saber tudo 
sobre o nada.” (pág. 40) 
O fenômeno interdisciplinar pode ser considerado como uma das 
manifestações mais significativas das mutações que afetam e alteram,em 
nossos dias, as preocupações do pensamento e do discurso intelectual, por 
mais racional e objetivo que ele seja. 
O fenômeno da interdisciplinaridade tem dupla origem: uma interna, tendo por 
característica essencial o remanejamento geral do sistema das ciências que 
acompanha seu progresso e sua organização, e outra externa, caracterizando-se 
pela mobilização cada vez mais extensa dos saberes, convergindo em vista da 
ação. 
A interdisciplinaridade vem hoje contra um saber fragmentado pelas 
crescentes especialidades, e contra uma divisão e distanciamento entre as 
ciências e seus profissionais, bem como, contra o conformismo das situações 
“postas e impostas “ por idéias recebidas. ( JAPIASSU , 1976 ) 
 
32 
 
III.3-3 A IDÉIA DE CONTINUIDADE 
Mesmo com estes entraves na proposta de um trabalho conjunto, resolvemos 
dar continuidade ao que havíamos proposto, ainda que isto fosse parcial. Isto 
porque, não faríamos aquele “diálogo”, previsto anteriormente, entre 
Psicologia e Fisioterapia. Entretanto, consideramos que o trabalho ainda seria 
importante e poderia auxiliar muitas mães com filhos portadores de 
deficiências e,mesmo aquelas que não tinham tais agravantes, poderiam ser 
beneficiadas com a discussão prevista no grupo. Já que estas mães são os 
“objetos primitivos “ para este filhos e direcionam identificações para eles e 
recebem deles ressonâncias , tal como aponta a teoria Kleiniana . 
 Houve um número considerável de inscritas (20 mães) o que nos levou a 
supor o grande interesse destas mães em buscar ajuda e acolhimento às suas 
necessidades pelos profissionais da Psicologia. Confessamos nossa 
curiosidade em conhecê-las e saber das suas expectativas frente a este 
trabalho. Apoiamos -nos em MANNONI (1964), ANDOLFI (1960) ,GESU 
(1996) e outros que mostram o quanto as mães ( famílias ) de crianças com 
deficiências sofrem com a “quebra “ das idealizações, por possuírem um filho 
imperfeito .Isto pode provocar um ressentimento . Sobre este aspecto, 
GRINBERG ( 1963) : “o ressentimento se experimenta frente a algo ou 
alguém que quis ou a alguém que se reprova ao haver provocado uma 
frustração, perda ou agressão, frente ao qual o Eu se sente vítima . “ 
 (pag. 100) 
A partir destas colocações, acreditamos na importância da realização deste 
trabalho. Assim, foram formados 2 grupos em função das disponibilidades de 
horário que as mães declararam terna inscrição, e dos horários disponíveis da 
coordenação da Clínica de Psicologia que seria a responsável pelo trabalho. 
Foi então marcada uma primeira reunião: Grupo da manhã - sextas feiras - 
10:30 hs. e o Grupo da tarde - terças feiras - 14:00 hs. 
33 
 
Nesta primeira reunião com as mães inscritas foram dadas maiores 
informações sobre os objetivos dos encontros: a importância da relação mãe 
x filho para o desenvolvimento das crianças e o enquadre (dia, hora, 
duração,freqüência)do trabalho a ser realizado. 
No enquadre foram destacados a importância de se fechar um contrato de 
trabalho através da clareza dos objetivos propostos e de alguns elementos que 
o compõem como: 
-dias dos encontros: terças feiras (à tarde) e sextas - feiras (pela manhã) 
-freqüência: uma vez por semana. 
-horário: tarde - 14:00 hs., manhã - 10:30 hs. 
-duração: 50 minutos por encontro durante o ano letivo,respeitados os 
recessos de férias e feriados escolares. 
-composição do grupo: mães ou responsáveis das crianças atendidas pela 
Fisioterapia. Grupo fechado (onde não entrariam outros integrantes após os 
encontros iniciados ). 
Foi destacado o tratamento sigiloso que seria dado aos conteúdos abordados 
pelos componentes nos encontros realizados pelo grupo. 
Sendo assim, em momento algum os assuntos ali tratados vão ser veiculados 
para fora do grupo em questão. 
Este primeiro encontro é sempre de fundamental importância para esclarecer 
as dúvidas e as fantasias que podem ser geradas pelos inscritos. Este fato 
realmente aconteceu neste primeiro encontro, pois algumas mães tinham 
outras expectativas, acreditavam que o trabalho iria ser realizado com as 
crianças, já que muitas delas não tinham um atendimento psicológico. Outras 
mães não se adequaram ao enquadre proposto, por uma série de motivos 
aparentes, tais como: dia, hora ..., e por motivos “não aparentes”, os quais 
34 
 
podem ser observados em suas próprias falas, as quais ilustram suas reações 
neste encontro: 
“Ah! mas pensei que eram as crianças que seriam atendidas.” (sic) 
“É uma pena, mas não tenho com quem deixá, nestes dia. “ (sic) 
“ Se tivesse com quem deixar, bem que eu vinha ! “ (sic) 
“Sabe eu tenho que trabalhá, não tem à noite ? “(sic) 
“Que bom nós fomos lembradas. “ (sic) 
Em função destes entraves, somente um grupo se formou no período da manhã 
(conforme o horário proposto). Este grupo foi constituído por quatro mães 
(uma delas era avó materna, a qual fazia o papel da mãe), as quais tinham os 
atendimentos das crianças no mesmo horário do grupo na Clínica de 
Fisioterapia (sextas - feiras - 10:30 h). Isto foi um dos fatores favoráveis para a 
formação deste grupo e, foi talvez fator desfavorável para a “ não formação” 
de um outro, pois a dependência das crianças para com suas mães 
(acompanhantes nos atendimentos que realizavam) é real em detrimento de 
suas muitas deformidades físicas. 
Hoje, numa melhor compreensão da situação, podemos inferir que talvez, 
naquela ocasião, teria sido oportuno o oferecimento de um trabalho que 
visasse “Prevenção Primária” para estas mães que, mesmo inscritas, não 
permaneceram nos grupos pelos motivos expostos. Contudo, não houve 
possibilidade de fazê-lo, também por uma série de motivos que já foram aqui 
abordados. Procuramos fazer o que estava ao nosso alcance naquele momento. 
É interessante salientar também que acreditamos que a continuidade deste 
trabalho pode ter sido atribuída a uma possível Contratransferência Indireta 
(subtransferência), que na época não estava clara para nós. 
RACKER (1982) descreve que na situação de Contratransferência : 
“... os objetos introjetados podem transferir-se ao paciente de duas formas: 
35 
 
- ao paciente como indivíduo ou, ao paciente como fator importante dentro 
de outras relações de objeto do analista (sociedade, instituição, figuras 
importantes) pelos quais queremos ser aceitos e admirados mediante atuação 
profissional ou científica.” (pág. 109 ) 
Acreditamos que conosco possa ter ocorrido tal fenômeno, pois apesar de 
todos os entraves para a realização deste trabalho, atendemos ao chamado dos 
colegas da Fisioterapia e aceitamos ser o depositário de suas ansiedades e 
angústias. 
Sem dúvida, algumas falhas ocorreram e são importantes de serem reveladas 
para podermos aprender com os erros, assim como entender melhor a 
dinâmica deste trabalho com mais profundidade; podendo com isso aprimorar 
outros trabalhos semelhantes. 
 
 
 
36 
 
CAPÍTULO IV 
IV. 4 - MÉTODO 
Nosso propósito com este grupo de mães, foi o de levá-las a refletir sobre a 
relação que estavam tendo com seus filhos e, como conseqüência com a 
família. Por isto nos propusemos a descrevê-lo, procurando mostrar, a 
importância de se realizar trabalhos em grupo num enfoque operativo, visando 
a prevenção em Saúde Mental. 
 
IV.4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A TÉCNICA DO GRUPO 
OPERATIVO 
Muito embora não utilizasse esta técnica em sua essência vamos discorrê-la, 
pois ela norteou-nos na visualização dos movimentos do grupo. 
Um grupo se caracteriza por um conjunto de pessoas que interagem entre si. 
Um grupo terapêutico, além disso, acresce-se da intervenção de uma pessoa 
para que o grupo melhore ou estruture melhor suas interações. 
PICHON RIVIÈRE (1969) caracteriza a Técnica do Grupo Operativo por 
estar centrada de forma explícita numa tarefa, a qual pode ser a aprendizagem, 
a cura e o diagnóstico das dificuldades de uma organização de trabalho. 
Abaixo desta tarefa explícita subjaz outra implícita, que aponta a ruptura, 
através do esclarecimento das pautas estereotipadas que dificultam a 
aprendizagem e a comunicação, significando um obstáculo frente a toda 
situação de progresso ou troca vivida. 
Esta tarefa, que este autor se refere, consiste na elaboração, pelo grupo, das 
ansiedades básicas: o medo da perda (ansiedade depressiva) das estruturas 
existentes, e o medo do ataque (ansiedade paranóide) numa nova situação 
onde o indivíduo se sente inseguro por carência de instrumentação para 
enfrentar a nova situação. Estas duas ansiedades, coexistentes e cooperantes, 
37 
 
configuram a situação básica de resistência à mudança que deve ser superada 
no Grupo Operativo, no acontecer grupal, onde se estabelecem os três 
momentos dialéticos: tese, antítese e síntese, por um processo de 
esclarecimento que vai do explícito ao implícito. 
A técnica do Grupo Operativo propõe uma equipe para conduzir este processo 
grupal. O coordenador cumpre, no grupo, um papel prescrito que é o de ajudar 
os seus membros a pensar, abordando o obstáculo epistemológico (objeto do 
conhecimento) configurado pelas ansiedades básicas. No grupo operativo 
podem existir três reações típicas, segundo a ansiedade predominante: reação 
paranóide, depressiva ou confusional, que aparecem quando o objeto do 
conhecimento ultrapassa a capacidade de discriminação e de controle do ego, 
ou também quando da vivência de algum tema desconhecido, não 
discriminado, que pode vir a confundir. Cabe ao coordenador operar no 
campo das dificuldades da tarefa e da rede de comunicação. Seu instrumento é 
o assinalamento das situações manifestas e a interpretação da causalidade 
subjacente. Integra-se ao coordenador, quando possível e necessário, uma 
equipe composta por um observador (ou dois), não participante e cuja 
função consiste em recolher todo material verbal e não verbal observado e 
registrado durante os encontros do grupo. O objetivo desta integração é 
realimentar o Coordenador em um reajuste da técnicas de condução do grupo, 
para levar o grupoa realizar a tarefa. 
PICHON RIVIÈRE (1969) a partir da constatação sistemática e reiterada de 
certos fenômenos grupais que se apresentam em cada encontro, constituiu 
uma “Escala de Evolução Básica”, através da classificação de modelos de 
comportamento grupal, a qual trata-se de um ponto de referência para a 
construção de interpretações, tais como: 
 
1- Afiliação - chamada de o primeiro vetor, inclui a Identificação com os 
processos grupais. A Afiliação é própria da história de todo grupo, 
convertendo-se mais tarde em Pertenência. 
38 
 
2- Pertenência - significa uma maior integração do grupo, a qual permitirá ao 
grupo elaborar uma estratégia, uma tática, uma técnica e uma logística. A 
Pertenência é o que torna possível a Planificação, do grupo, para elaborar a 
tarefa. Há uma cooperação, a qual consiste na contribuição, às vezes 
silenciosa, à tarefa grupal, estabelecendo-se através de papéis diferenciados a 
partir da existência de uma boa integração no grupo. 
3- Comunicação - é o outro vetor importante da escala, onde se pode observar 
o verbal e o não verbal - Metacomunicação. 
4- Aprendizagem - possibilita a observação da transformação de quantidade 
em qualidade. O grupo produz uma mudança qualitativa que se traduz em 
resoluções de ansiedades, adaptação à realidade, criatividade, projetos,etc... A 
Aprendizagem é um vetor que possibilita a visualização de como os momentos 
vividos pelo grupo levam à resolução da tarefa. Cada momento deste processo 
implica numa estrutura de conduta, ou num papel, assumidos pelo grupo ou 
por alguns de seus membros (Momento: paranóide, fóbico, contrafóbico, 
obsessivo, confusional, esquizóide, depressivo, epileptóide). Caso estes 
momentos apareçam de forma isolada e estereotipada em um indivíduo ou no 
grupo, demonstram indícios de uma perturbação ou bloqueio do processo de 
aprendizagem. O processo da comunicação faz com que, na tarefa do grupo, 
cada membro incorpore momentos dos demais retificando assim, sua própria 
estereotipia. Com isso, atinge-se não só um alto rendimento grupal,como 
também, uma integração da informação, da aprendizagem e do “Eu” de cada 
membro. Isto é possível através da alternância de papéis, incorporando desse 
modo os diferentes momentos da aprendizagem. 
PICHON RIVIÈRE (1969) retirou de Moreno o termo “Telê” para entender a 
disposição positiva ou negativa que os membros do grupo têm para trabalhar 
em grupo. Isto configura um clima que pode ser traduzido como transferência 
positiva ou negativa do grupo com a equipe de coordenação. 
Este mesmo autor sustenta que há um núcleo depressivo patogênico que 
aparece em intensidades diferentes nos indivíduos normal, neurótico e 
39 
 
psicótico. Este núcleo está ligado à situação do nascimento e desenvolvimento, 
e é responsável pela estereotipia de comportamento como resultado de uma 
situação de estancamento do processo de aprendizagem da realidade e 
deteriorização da comunicação. Isto é vivenciado na abordagem do objeto do 
conhecimento e situação de tarefa. Este autor chamou este fundamento teórico 
de “Teoria da Enfermidade Única”, apoiando-se nas idéias de Freud, Melanie 
Klein e em aspectos sociais da Teoria de Kurt Lewin. Em suas observações, 
constatou que a adaptação ativa da realidade e a aprendizagem estão muito 
ligadas. A pessoa sã, na medida em que aprende um objeto e o transforma, faz 
um aprendizado operativo. Modifica-se também a si mesmo,entrando num 
interjogo dialéctico com o mundo. 
O desenvolvimento de um Esquema Referencial Conceitual Operativo-
ECRO, comum aos membros do grupo, permite o incremento da comunicação 
intergrupal, uma vez que, a teoria da informação permite que o recepetor 
compreenda a mensagem emitida pelo transmissor através de operações de 
codificação e decodificação e uma semelhança de esquemas referenciais. 
O grupo se estrutura sobre a base de um interjogo de papéis: o Porta-voz, o 
Bode expiatório e o Líder. Estes papéis são funcionais e rotativos. 
PICHON RIVIÈRE (1969) acreditava que estes papéis expressam, no 
acontecer grupal, as fantasias, ansiedades e necessidades da totalidade do 
grupo; e que são expressas por um ou por outro que assumem estes papéis. 
Esta leitura do acontecer grupal pode ser interpretada na sua horizontalidade 
(como acontecer grupal) ou na sua verticalidade (como acontecer do indivíduo 
que a expressa). A leitura da horizontalidade, se refere a tudo o que acontece 
com o grupo e as intervenções feitas pelo coordenador não são para um 
membro do grupo em especial, mas sim, para o grupo como um todo. A 
verticalidade é a leitura das individualidades, que no grupo, indicam e são 
interpretadas como um emergente grupal. 
ULLOA (1967) destaca que: “As necessidades, ansiedades e as fantasias 
enunciadas pelo Porta-voz e sua maneira de formulá-las fazem referência a 
40 
 
sua história pessoal (verticalidade), em tanto o fato que as formule em um 
momento dado do acontecer grupal, assinala o caráter horizontal do 
emergente.” (pág. 353). 
Um membro do grupo pode ser o depositário dos aspectos negativos e 
atemorizantes do grupo ou da tarefa. Num acordo tácito que se estabelece com 
ele e com os outros membros aparecem então os mecanismos de segregação, 
configurando-se outra das situações críticas: a do Bode Expiatório. 
Outro membro em trânsito, pelo mesmo processo dinâmico, pode ser o 
depositário dos aspectos positivos do grupo e obtém a Liderança que se 
centralizará em uma ou nas várias categorias já anunciadas quando falamos na 
“Escala de Evolução Básica”. Todos estes papéis estão ligados uns aos outros 
pelas diferentes necessidades, desejos de cada membro. O princípio da 
complementariedade deve reger o interjogo dos papéis no grupo, e isto 
permite que sejam funcionais e operativos. 
Os encontros do grupo se desenvolvem em três momentos: Abertura, 
Desenvolvimento e Fechamento. 
Os emergentes de Abertura devem ser cuidadosamente registrados pelos 
observadores e pelo coordenador; já que ele vai ser retrabalhado durante o 
encontro e é importante observar como aparece já modificado no 
encerramento. 
O grupo vive também outros três momentos durante os encontros: 
a Pré- Tarefa- onde se observam e se colocam as defesas do grupo 
mobilizadas pela resistência à mudanças que evitam a elaboração das 
ansiedades que funcionam como um obstáculo epistemológico; a Tarefa que 
consistirá em elaborar o objeto do conhecimento que está necessitando de 
elaboração e que implica na ruptura das estereotipias que barraram a 
aprendizagem e dificultam a comunicação; o Projeto sugira quando se 
constrói a Pertenência entre os membros e assim se concretizará uma 
Planificação. O grupo então, coloca objetivos para si, os quais vão mais além 
do aqui e agora, construindo uma estratégia destinada a alcançá-los. 
41 
 
 
IV.4.1.1 SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES TRANSFERENCIAIS 
Os indivíduos sempre produzem alguma ressonância emocional no outro. 
RACKER (1982) coloca que: “a Transferência existe e se manifesta sempre. 
Do mesmo modo a contratransferência existe sempre e se manifesta sempre, 
só que - aqui como lá - às vezes, é difícil perceber estas manifestações e 
interpretá-las. “ ( pág. 102 ) 
Assim, na relação que se estabelece deve-se contar com estes dois fenômenos: 
- a transferência e a contratransferência: fenômenos utilizados pela teoria 
psicanalítica para entender a conduta do indivíduo e importantes para 
conduzir a interpretação. 
A Transferência é o conjunto de fenômenos e processos psicológicos do 
paciente dirigidos ao analista, derivados de outras relações interpessoais 
(sentimentos, atitudes

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