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�1 AULA 05 FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICA 1. INTRODUÇÃO O processo de formulação de políticas públicas pode ser entendido como uma sucessão de negociações entre atores que interagem em arenas formais e informais. Algumas dessas negociações são mais transparentes e outras menos transparentes. Nesse sentido, é importante que as necessidades e objetivos sejam previamente definidos de maneira democrática, pela utilização dos mais diversos mecanismos de participação social. Qualquer intervenção, via política pública, e numa determinada área, tais como saúde, educação, turismo etc., não deve ser uma decisão solitária e limitada tão somente a quem detém o poder político momentaneamente. A participação da sociedade deve ser considerada fundamental para a implantação e implementação de políticas públicas que atendam às reais necessidades da população e estabeleçam seus limites e alcances. O estabelecimento de prioridades, objetivos e metas a serem alcançadas constitui a espinha dorsal de uma política pública, seu aspecto mais concreto, sinalizando para todos os envolvidos os parâmetros pelos quais devem se orientar as ações na área. São diretrizes para o setor, qualquer que seja a área, associadas às políticas públicas como ferramentas utilizadas pelo Estado para exercer funções públicas no atendimento de demandas sociais e soluções de problemas que afetam a coletividade. As demandas sociais podem ser classificadas em novas, recorrentes e reprimidas. São consideradas demandas novas as que são o resultado de novos atores políticos ou de novos problemas. Os novos atores e novos problemas são aqueles que já existiam anteriormente, mas não eram organizados e nem categorizados e dessa forma, não dado a devida importância. As demandas recorrentes são aquelas que expressam problemas não resolvidos ou mal resolvidos e que, de vez em quando, voltam a surgir na agenda do governo. São tidos como exemplo as questões sobre o melhoria no trânsito, inundações causados pelas chuvas, falta de vagas nas escolas etc. Já as demandas reprimidas são constituídas por situações existentes que passam a sofrer pressões da sociedade ou de grupos sociais para fazer parte da agenda do governo e, portanto, possuem peso político nas tomadas de decisões. Podemos afirmar que a formulação de políticas públicas constitui-se num estágio em que os governos democráticos transformam seus propósitos e plataformas eleitorais em ações e programas que produzem resultados ou mudanças concretas no mundo real. No entanto, para que as políticas públicas se efetivem é fundamental que haja a capacidade de intervenção dos diversos atores políticos envolvidos no processo. Essa intervenção só será viável quando os agentes demonstrarem “capacidade não só para diagnosticar e analisar a realidade social, econômica e política em que vivem, mas também para interagir e UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB) FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS (FACE) DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO (ADM)� DISCIPLINA CÓDIGO CRÉDITOS TURMA PERÍODO PROFESSOR FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 200794 04 B 2016/1 MARCOS ALBERTO DANTAS �2 negociar de forma democrática com os diferentes atores envolvidos no processo”. (RODRIGUES , 2010, p. 25 1 apud DIAS e MATOS , 2012).2 2. CARACTERIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Num processo natural de formação, a política pública configura uma esfera tendente à publicização de discussões em que entram em embate diferentes visões de mundo. É uma fase flutuante em que podem ser observadas certas iniciativas e mesmo tomadas medidas regulatórias, mas destituídas pela força da lei. No processo de formação de uma política pública, numa primeira fase há relativamente ampla abertura para entrada de novos participantes atraídos por problemas para os quais apresentam soluções particulares, mas em âmbito de paradigmas diferentes. A consequência natural é o surgimento de tendências de fragmentação e perda de foco das linhas de ação mais gerais. Numa perspectiva de relação entre o Estado e a sociedade, enquanto não houver tal alinhamento político-administrativo, independentemente do tempo de desenvolvimento da política, os métodos e instrumentos continuarão sendo considerados inadequados e as soluções geradas tenderão a ser ineficientes para enfrentar os problemas existentes. As políticas públicas podem ser caracterizadas por setorializadas, territorializadas, verticais e horizontais .3 a) Políticas Públicas Setoriais A setorialidade, ou delimitação temática, tem como premissa a adoção de estratégias de regulação situacional ativa e autônoma para produção de regras do jogo político em dado espaço definido pela própria conceituação do problema da política. São exemplos de políticas públicas setorializadas o combate às drogas, problemas ambientais, direitos do cidadão etc. b) Políticas Públicas Territoriais A territorialidade, ou delimitação geográfica, tem como fundamento a ação estratégica de arcabouços institucionais mais permanentes e claramente delimitados. Há, assim, maiores possibilidades de coordenação e de controle por atores detentores de autoridade legítima sobre dada circunscrição territorial. Como exemplo temos as políticas de desenvolvimento do semiárido, as políticas de combate ao contrabando e descaminhos em fronteiras etc. c) Políticas Públicas Verticais As políticas verticais, em termos de coordenação, são as mais tradicionais e comuns de serem encontradas. São políticas desenvolvidas com base em estruturas relativamente simples e, normalmente conduzidas a partir de diretrizes mais amplas. Em políticas coordenadas verticalmente tem se sobressaído como grande desafio para muitos governos a manutenção de um mínimo de capacidade política de direção para assegurar coerência, uniformidade e equidade e, ao mesmo tempo, permitir suficiente nível de autonomia. São exemplos de políticas verticalizadas a definição de responsabilidade sobre educação básica, política tributária, política de desenvolvimento urbano etc. RODRIGUES, Marta Maria Assunpção. Políticas Públicas. São Paulo: Publiifolha, 2010. 1 DIAS, Reinaldo; MATOS, Fernanda. Políticas Públicas: Princípios, propósitos e processos. São Paulo: Atlas, 2012.2 PROCOPIUCK, Mário. Políticas Públicas e Fundamentos da Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2013.3 �3 d) Políticas Públicas Horizontais As políticas públicas horizontais, também chamada de mutuamente integradas, são desenvolvidas entre partes de uma mesma organização ou por organizações situadas hierarquicamente em um mesmo âmbito. Na atualidade, as tentativas de articular horizontalmente suscitam muitas discussões sobre como devem ser constituídos sistemas de coordenação que garantam um mínimo de alinhamento para assegurar a geração de resultados operacionais eficientes. Temos como exemplos as políticas de coletas de resíduos urbanos por municípios situados em áreas metropolitanas, políticas de combate ao tráfico de drogas no Mercosul etc. 3. CICLOS OU PROCESSO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Os ciclos ou processos de políticas públicas constituem um modelo que decompõe a política pública em uma série de etapas que formam uma sequência lógica. Apresentada por Charles Jones , em 1970, os 4 ciclos são compostos por fases no desenvolvimento das políticas públicas. As mais importantes são: identificação do problema, formulação de soluções, tomada de decisão, implementação e avaliação. Esse modelo de análise tem como vantagem apresentar a política pública como uma sucessão de sequências correspondendo a uma abordagem clássica e racional da política envolvendo diversos cenários e atores. O modelo é aplicável na análise de qualquer política, além de facilitar a delimitação do objeto de estudo. (DIAS e MATOS, 2012). É importante ressaltar que o ciclo de políticas públicas se limita a representar uma estrutura útil para situar a análise de políticas públicas nas arenas de políticas operacionais. Dentro dessa estrutura analítica simplificada, a formulação e implementação de políticas públicas devem ser vistas como resultado de articulações de natureza política, que envolvem lutas e conflitos entre indivíduos e grupos detentores de ideias, informações e valores conflitantes. O ciclo de políticas públicas, como instrumento de suporte à análise e gestão, apresenta várias vantagens. A primeira, e mais relevante, é centrar a atenção dos atores envolvidos com o processo decisório para que levem em conta os fatores que poderão, de algum modo, condicionar suas ações. A segunda vantagem diz respeito à capacidade do sequenciamento das etapas permitir a captura e a compreensão do fluxo de ações. Procopiuck (2013, p.159), destaca a finalidade do modelo do ciclo de políticas públicas que é compreender, explicitar e explicar processos de políticas públicas a) Ciclo estratégico de Políticas Públicas O ciclo estratégico de políticas públicas tem como grande vantagem permitir uma visão intuitiva prática para conceptualização e organização do estudo das políticas públicas. Ele representa um arcabouço que serve de referência para a compreensão de como boa parte dos estudos de campo das políticas públicas vem sendo desenvolvida nas últimas décadas. O ciclo estratégico de políticas públicas apresenta as seguintes fases: Fase 1) – (Re)surgimento do problema: esta fase tem origem a partir do momento que a coletividade passa a enfrentar desconforto em relação a alguns aspectos da sociedade. São percebidos sintomas, mas sem que sejam relacionados diretamente e amplamente com uma causa específica. Fase 2) – Percepção dos atores públicos e privados: neste estágio já há a percepção coletiva de que há um problema que exige a intervenção do poder público para auxiliar na solução. Isso normalmente ocorre quando há dissonância entre a realidade com a coletividade que julga necessário atende às suas necessidades. JONES, Charles O. An introduction to the study of public policy. Belmont, C A: Wudsworth, 1970.4 �4 Fase 3) – Definição da agenda: aqui, os principais atores do sistema político-administrativo envolvidos com a busca de soluções para a situação-problema procuram identificar estratégias gerais para o enfrentamento e fontes de competências e recursos a serem mobilizados para o delineamento das alternativas. Fase 4) – Formulação de alternativas: depois de identificados e mobilizados os principais atores, são iniciadas atividades com vistas a obter conhecimento mais profundo sobre aspectos técnicos necessários para levar em frente a concepção da política pública. Fase 5) – Elaboração de um plano estratégico: dentro de uma ampla política pública, o planejamento estratégico permite o alinhamento entre um grande número de organizações participantes em função de objetivos e metas projetados para diferentes perspectivas temporais. Fase 6) – Adoção de um programa legislativo: como políticas públicas normalmente dependem da alocação de elevado volume de recursos financeiros, da estruturação de bases administrativas permanentes, da definição de bases legais para seu funcionamento, há de definir e aprovar o seu arcabouço legal. Fase 7) – Implementação do plano tático e operacional: definidas as bases legais de sustentação da política pública, o próximo passo é o desenvolvimento de um plano tático para, com base no plano estratégico, viabilizar a implementação operacional para produção de resultados concretos. Fase 8) Avaliação dos efeitos da política: nesta fase final do processo de gestão de uma política pública o objetivo é verificar as consequências da implementação. Além disso, é o momento de se verificar com que nível de eficiência e eficácia os problemas foram sanados em decorrência da implementação. 4. A PROBLEMÁTICA PÚBLICA Qualquer processo de formação de uma política pública começa com a identificação de um problema ou de um estado de coisas que exija uma intervenção governamental. No entanto, nem todos os problemas reais são introduzidos dessa forma, de tal modo que para uma questão entre na agenda de governo não basta ser considerada problemática. Há a necessidade também que se torne um problema político, a partir da mobilização política, através da qual atores articulados obtêm a atenção das autoridades para um problema, e assim consiga entrar na agenda governamental. Um problema pode ser considerado uma situação que causa insatisfação num determinado grupo, para o qual existe uma lacuna entre situação percebida e a situação desejada. Nesse sentido, um problema chama atenção pública porque afeta um interesse ou direito público de forma que: ✓ viola compromissos legítimos; ✓ enfraquece a condição comum de cidadão; ✓ vai contra os valores comuns que sustentam a comunidade; ✓ causa danos aos bens sociais de forma que eles apenas podem ser protegidos através de ação coletiva; e ✓ vai contra a justiça, a equidade ou interesse coletivo. Definir um problema político compreende uma decisão de intervenção política e também a definição da atuação e a delimitação da extensão dos seus efeitos sobre os grupos envolvidos com o problema, bem como a identificação, por parte dos atores públicos, das causas prováveis e as forma de intervenção previstas. Delimitar um problema político é politicamente fundamental no processo de elaboração de uma política pública; envolve definir quais são os seus elementos e sintetizar em uma frase a essência do mesmo. No entanto é importante destacar que qualquer definição oficial do problema é temporária. Nas fases sucessivas de formulação de alternativas e, principalmente, na implantação, os problemas públicos podem ser redefinidos e adaptados por alguns dos atores envolvidos. �5 5. A FORMAÇÃO DA AGENDA Na fase de configuração da agenda é que se decide se um tema deve efetivamente ser inserido na pauta política ou se deve ser excluído ou adiado para uma data posterior, independentemente de sua relevância. Para que essa decisão seja tomada, é necessária pelo menos uma avaliação preliminar sobre custos e benefícios das várias opções disponíveis de ação, bem como uma avaliação das chances do tema ou projeto se impor na arena política que estão diretamente afetados pelo problema. A definição de um problema público a ser resolvido, as várias alternativas de resolução, seu desenvolvimento e implantação dependem, em boa parte, do número de pessoas afetadas pelo problema, das medidas a serem adotadas para a sua solução e do grau de agregação dos interesses envolvidos e do nível e tipo de organização que conseguem alcançar. Uma das mais importantes funções da agenda é sua faculdade de definir as prioridades da administração pública em termos de orçamento, mecanismo de formulação e implementação de políticas públicas, a forma de atuar com grupos sociais específicos, entre outras. A agenda determina o que será ou não incluído, determinando também as arenas decisórias e os agentes que estarão em conflito no poder político. Toda construção de agendas envolve um processo altamente seletivo, em que concorrem os problemas com diversas hierarquias de prioridades, que em geral são bastante heterogêneas. 6. FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS O processo de formulação de políticas para solucionar um problema inscrito na agenda pública permite resolver qual das diferentes alternativas existentes será mais apropriada para diminuir a tensão entre a situação atual e situação desejada. Quando uma questão ou demanda alcança a categoria de um problema político prioritário, ela passa a compor a agenda. E é a partir desse momento que se dá início à formulação de alternativas, quando os atores expressam claramente suas preferências e interesses. Esse processo ocorre com um embate político entre diversos interesses, e quando da definição do objetivo da política adotada, serão rejeitadas várias propostas de ação. É aí que reside a importância da participação ativa de um corpo técnico da administração pública que deverá fundamentar com clareza a proposta escolhida no que se refere à utilização de diversos recursos necessários, tais como matérias, econômicos, técnicos etc. A realização de um diagnóstico é uma condição inicial para a busca de solução para um determinado problema, além da identificação e desenvolvimento de alternativas. Quando as alternativas são formuladas, transformam-se em expectativas e é nesse momento que diversos atores se mobilizam para a formação de coalizões de compromisso, negociação e decisão. Dessa forma vai se construindo uma consciência coletiva sobre a necessidade de se enfrentar o problema. É nessa fase que adquire importância o papel dos especialistas, assessores, funcionários qualificados tecnicamente e analistas de empresas e instituições de pesquisa, que procurarão construir cenários futuros em função das medidas tomadas no presente. 7. MODELOS DE FORMULAÇÃO E ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS5 Dentro do campo específico da política pública, Celina Souza apresenta alguns modelos explicativos 6 que foram desenvolvidos para se entender melhor como e por que o governo faz ou deixa de fazer alguma http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n165 * Phd em Ciência Política pela London School of Economics and Political Science (LSE). Pesquisadora do Centro de 6 Recursos Humanos (CRH) da Universidade Federal da Bahia. Brasil. �6 ação que repercutirá na vida dos cidadãos. Muitos foram os modelos desenvolvidos e aqui serão mapeados apenas os principais. a) O modelo “garbage can” O modelo garbage can ou “lata de lixo” foi desenvolvido por Cohen, March e Olsen (1972) , 7 argumentando que escolhas de políticas públicas são feitas como se as alternativas estivessem em uma “lata de lixo”. Ou seja, existem vários problemas e poucas soluções. As soluções não seriam detidamente analisadas e dependeriam do leque de soluções que os decisores (policy makers) têm no momento. Segundo este modelo, as organizações são formas anárquicas que compõem um conjunto de ideias com pouca consistência. As organizações constroem as preferências para a solução dos problemas - ação - e não, as preferências constroem a ação. A compreensão do problema e das soluções é limitada, e as organizações operam em um sistema de tentativa e erro. Em síntese, o modelo advoga que soluções procuram por problemas. As escolhas compõem um garbage can no qual vários tipos de problemas e soluções são colocados pelos participantes à medida que eles aparecem. b) Coalizão de defesa O modelo da coalizão de defesa (advocacy coalition), de Sabatier e Jenkins-Smith (1993), discorda da 8 visão da política pública trazida pelo ciclo da política e pelo garbage can por sua escassa capacidade explicativa sobre por que mudanças ocorrem nas políticas públicas. Segundo estes autores, a política pública deveria ser concebida como um conjunto de subsistemas relativamente estáveis, que se articulam com os acontecimentos externos, os quais dão os parâmetros para os constrangimentos e os recursos de cada política pública. Contrariando o modelo do garbage can, Sabatier e Jenkins-Smith defendem que crenças, valores e ideias são importantes dimensões do processo de formulação de políticas públicas, em geral ignorados pelos modelos anteriores. Assim, cada subsistema que integra uma política pública é composto por um número de coalizões de defesa que se distinguem pelos seus valores, crenças e ideias e pelos recursos de que dispõem. c) Arenas sociais O modelo de arenas sociais vê a política pública como uma iniciativa dos chamados empreendedores políticos ou de políticas públicas. Isto porque, para que uma determinada circunstância ou evento se transforme em um problema, é preciso que as pessoas se convençam de que algo precisa ser feito. É quando os policy makers do governo passam a prestar atenção em algumas questões e a ignorar outras. Esses empreendedores constituem a policy community, comunidade de especialistas, pessoas que estão dispostas a investir recursos variados esperando um retorno futuro, dado por uma política pública que favoreça suas demandas. Eles são cruciais para a sobrevivência e o sucesso de uma ideia e para colocar o problema na agenda pública. Existiriam três principais mecanismos para chamar a atenção dos decisores e formuladores de políticas públicas: (a) divulgação de indicadores que desnudam a dimensão do problema; (b) eventos tais como desastres ou repetição continuada do mesmo problema; e (c) feedback, ou informações que mostram as falhas da política atual ou seus resultados medíocres. Das diversas definições e modelos sobre políticas públicas, podemos extrair e sintetizar seus elementos principais: COHEN, Michael, MARCH, James e OLSEN, Johan. “A Garbage Can Model of Organizational Choice”, Administrative 7 Science Quarterley 17: 1-25. 1972. SABATIER, Paul e JENKINS-SMITH, Hank. Policy Change and Learning: The Advocacy Coalition Approach. Boulder: 8 Westview Press. 1993. �7 ✓ ︎A política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz. ✓ ︎A política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais são também importantes. ✓ ︎A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras. ✓ ︎A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem ✓ alcançados. ✓ ︎A política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma ✓ política de longo prazo. ✓ ︎A política pública envolve processos subseqüentes após sua decisão e proposição, ou seja, implica também implementação, execução e avaliação. 8. A IMPLEMENTAÇÃO DE UMA POLÍTICA A fase de implementação consiste em uma adaptação do programa de políticas públicas às situações concretas que deverão ser enfrentadas. Não havendo ação, não há políticas públicas, conforme descreve Silva e Melo (2000) “Essa fase corresponde à execução de atividades que permitem que ações sejam 9 implementadas com vistas à obtenção de metas definidas no processo de formulação das políticas”. Um fator que deve ser considerado é que a existência de diferentes níveis de governo fornece um peso cada vez maior às chamadas “relações inter-governamentais”, que representam um problema adicional, particularmente difícil, na composição dos Estados. Fernández (2008) destaca que é pela frequente ausência 10 nas relações hierárquicas entre os diferentes níveis de governo que determinadas políticas que requerem a colaboração interinstitucional se tornam dificultosas. Ao se colocar em prática uma política pública, podem ser identificadas duas perspectivas de análise que podem ser vistas como opostas ou complementares entre si. São os modelos top-down e bottom-up. O modelo top-down corresponde à concepção tradicional do trabalho administrativo que se desenvolve de cima (nível político) para baixo (nível técnico) ou do centro para a periferia. Trata-se de um modelo linear, mais ideal que real, já que não leva em conta que, na realidade, dificilmente se dariam as condições que permitem a perfeita implementação. Tem como principais postulados a primazia hierárquica da autoridade, a distinção entre o universo político e o administrativo e, por fim, a busca da eficiência. O modelo bottom-up, por outro lado, se desenvolve de baixo (nível técnico) para cima (nível político). Elas se desenvolvem como enfoques críticos ou alternativos diante da ineficiência que apresentam os processos de implementação tradicionais top-down. Esse modelo considera que se deve partir dos comportamentos concretos no nível onde existe o problema para construir a política pública gradativamente, com regras, procedimentos e estruturas organizacionais. 9. O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO A atuação do Estado em qualquer dos seus níveis de intervenção político-administrativa (federal, distrital, estadual ou municipal) implica obrigatoriamente a escolha de determinadas alternativas em vez de outras. Cabe ao governo fixar prioridades, metas e objetivo a serem alcançados e embora o seja o governo quem formalmente toma as decisões, há muitos atores envolvidos. SILVA, Pedro Luiz Barros; MELO, Marcus André Barreto. O processo de implementação de políticas públicas no 9 Brasil: características e determinantes da avaliação de programas e projetos. Caderno 48. Núcleo de Estudos de Políticas Públicas-Unicamp, 2000. FERNÁNDEZ, Antoni. Las políticas públicas. In: BADIA, Miguel Caminal (Ed.). Manual de ciência pollitoica. Madri: 10 Tecnos, 2008. �8 Esses atores irão influir sobre o processo de decisão, defendendo seus interesses e recursos tanto materiais quanto ideológicos. A presença dessa multiplicidade de atores significa que as decisões não são sempre as mais racionais ou as mais coerentes que poderiam ser adotadas, mas sim a vencedora do confronto entre os diversos atores. No final, em dado momento, quando se estabeleceu um determinado procedimento legal – as regras do jogo – um determinado ator toma as decisões, que pode ser o Legislativo, o governante, um secretário, um ministro. A partir desse momento, o que era uma das muitas opções se torna oficial revestida de toda a autoridade e força que emanam o Estado. As escolhas feitas, legitimada por voto ou por assinatura, são expressas em leis, decretos, normas, resoluções ou qualquer outro ato administrativo. Uma vez formuladas as soluções possíveis, torna-se necessário proceder à delicada tarefa de escolher uma delas. 10. ACOMPANHAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO O acompanhamento pode ser entendido como um processo sistemático de supervisão e avaliação de execução de uma atividade, que tem por objetivo fornecer informações necessárias para introduzir eventuais correções a fim de assegurar a consecução dos objetivos estabelecidos. O monitoramento se constitui em avaliações pontuais das ações de governo que se referem ao impacto da implementação. Conforme descrito por Rodrigues (2010) , o monitoramento é um processo 11 contínuo que visa corrigir os rumos da implementação, não só para que o desempenho das ações seja maximizado, mas também para que se levem em conta a adequada relação dos meios-fins e a efetividade das metas previamente propostas. A avaliação realizada a partir de informação embasada em dados confiáveis, obtidos através de análise objetiva dos efeitos das ações públicas é importante para as instituições e governos, pois fundamentam sua legitimidade não somente na legalidade de suas decisões, mas também no que fazem, ou seja, nos resultados. A avaliação pode ser descrita como uma área de pesquisa que tem por objetivo medir a utilidade e benefícios da intervenção pública através do emprego de um conjunto de técnicas utilizadas em diferentes campos das ciências sociais. É um elemento fundamental para o sucesso das políticas públicas e não deve ser realizada somente ao final do processo, mas em todos os momentos do ciclo da política. A avaliação é uma ferramenta importante pois permite à administração realizar uma série de ações em função dos resultados obtidos, entre as quais: Gerar informações úteis para futuras políticas públicas; Prestar contas de seus atos Justificar as ações e explicar as decisões Corrigir e previnir falhas; Responder se os recursos estão produzindo os resultados esperados e de forma eficiente; Identificar barreiras que impedem o sucesso do programa; Promover o diálogo entre os vários atores, tanto individuais quanto coletivo, envolvidos; Fomentar a coordenação e a cooperação entre esses atores. RODRIGUES, Marta Maria Assunpção. Políticas Públicas. São Paulo: Publiifolha, 2010. 11
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