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Tanatologia Apostila

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Sumário 
Introdução 3 
A história da morte 5 
O medo da morte 8 
O impacto da morte 10 
A morte e a Medicina 11 
A morte e a Psicanálise 12 
Modalidades 14 
O processo psicológico de luto 16 
Bibliografia 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
"A morte é algo que não pode ser descrito, pensado, nomeado, algo frente ao qual não 
se encontram palavras (...). A própria palavra MORTE não dá conta do que ela seja: 
cada um de nós tentará enganchá-la em outras palavras, que expressam ideias, fantasias, 
crenças. Termos tais como FIM, PASSAGEM, ENCONTRO, PARAÍSO (...), tentam 
aproximar o indivíduo de um esboço de explicação. Mas estas palavras são pobres para 
descrever o muito que se imagina e o tão pouco que se sabe (...). É isso o que nos 
aterroriza, o não saber." (CASSORLA, 2003) 
Tanatologia seria, grosseiramente falando, o estudo da morte. É uma disciplina ainda 
embrionária, mesmo na atualidade. Tem como escopo o estudo do processo de morrer e, 
secundariamente, prestar assistência aos pacientes com expectativa de vida limitada, aos 
familiares e aos profissionais de saúde que cuidem deste paciente. 
Pode-se dizer que "busca ajudar as pessoas a compreender o processo de morte e 
morrer" (ROSÁRIO, 2007). 
Por que as pessoas evitam falar sobre a morte? Por que têm medo de pensar a própria 
morte? Quando o ser humano passa a refletir sobre a própria morte, começa a ver a vida 
como grande oportunidade de ser feliz. 
Tem-se, então, que modificar-se, rever valores e repensar verdades. Segundo Santos 
(2007), "Não é a morte em si que nos incomoda, mas sim o fato de nos depararmos com 
a dificuldade de viver bem. (...) Pensar sobre a morte é pensar sobre a vida e 
responsabilizar-se pelo seu ser hoje, aqui e agora." 
As situações de terminalidade na área da Saúde são frequentes para os profissionais e 
muitas vezes inevitáveis, ficando o trabalhador exposto a diversas sensações, porquanto 
os hospitais são caracterizados como instituições de cura e recuperação, e as Unidades 
de Terapia Intensiva (UTIs) como locais reservados para manutenção da vida a qualquer 
custo. Entretanto, o que se observa nas unidades críticas, em geral, é uma atenção 
destinada às técnicas, à tecnologia que dá suporte para a manutenção da vida, em 
detrimento da condição humana e das necessidades emocionais do paciente. Contudo, 
não podemos esquecer que o ato de cuidar vai muito além do fazer técnico, implica no 
entrelaçamento das ações de cuidado instrumentais e expressivas, isto é, ligadas à 
subjetividade do corpo cuidador (LABRONICI, 2002). Assim sendo, espera-se que a 
equipe de enfermagem, mediante o cuidado profissional, desenvolva suas ações 
objetivando não somente assistir o ser humano no instante sublime que é seu 
nascimento, mas se comprometer com esse momento desconhecido em sua essência, ou 
seja, o momento da morte. 
Boemer, citado por Lunardi Filho et al., (2001), afirma que, desde a sua formação, o 
profissional enfermeiro se sente compromissado com a vida, e é para preservação desta 
que deverá se sentir capacitado. 
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Sua formação acadêmica está fundamentada na cura e nela está a sua maior gratificação. 
Assim, quando em seu cotidiano de trabalho necessita lidar com a morte, em geral, 
sente-se despreparado, e tende a se afastar dela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A história da morte 
Segundo Morin (1997), na pré-história, os mortos dos povos musterenses eram cobertos 
por pedras, principalmente sobre o rosto e a cabeça, tanto para proteger o cadáver dos 
animais quanto para evitar que retornassem ao mundo dos vivos. Mais tarde, eram 
depositados alimentos e as armas do morto sobre a sepultura de pedras e o esqueleto era 
pintado com uma substância vermelha. 
O não abandono dos mortos implica a sobrevivência deles. Não existe relato de 
praticamente nenhum grupo arcaico que abandone seus mortos ou que os abandone 
sem ritos. (MORIN, 1997) 
Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), os egípcios da Antigüidade, em sua 
sociedade bastante desenvolvida do ponto de vista intelectual e tecnológico, 
consideravam a morte como uma ocorrência dentro da esfera de ação. Eles possuíam um 
sistema que tinha como objetivo ensinar cada indivíduo a pensar, sentir e agir em 
relação à morte. 
Segundo Áries (1977), na Vulgata, o Livro da Sabedoria (a versão latina da Bíblia), 
após a morte, o justo irá para o Paraíso. As versões nórdicas do Livro da Sabedoria 
rejeitaram a idéia de Paraíso descritas no livro original, pois, segundo os tradutores, os 
nórdicos não esperam as mesmas delícias que os orientais, após a morte. Isso porque os 
orientais descrevem que o Paraíso tem “a frescura da sombra”, enquanto os nórdicos 
preferem “o calor do sol”. 
Estas curiosidades nos mostram como o ser humano deseja, ao menos após a morte, 
obter o conforto que não conseguiu em vida. 
Já o budismo, por meio da sua mitologia, busca afirmar a inevitabilidade da morte. A 
doutrina budista nos conta a “Parábola do Grão de Mostarda”: uma mulher, com o filho 
morto nos braços, procura Buda e suplica que o faça reviver. Buda pede à mulher que 
consiga alguns grãos de mostarda para fazê-lo reviver. No entanto, a mulher deveria 
conseguir estes grãos em uma casa onde nunca houvesse ocorrido a morte de alguém. 
Obviamente esta casa não foi encontrada e a mulher compreendeu que teria que contar 
sempre com a morte. 
Na mitologia hindu, a morte é encarada como uma válvula de escape para o controle 
demográfico. Quando a “Mãe Terra” se torna sobrecarregada de pessoas vivas, ela apela 
ao deus Brahma, que envia então a “mulher de vermelho” (que representa a morte na 
mitologia ocidental) para levar pessoas, aliviando assim os recursos naturais e a 
sobrecarga populacional da “Mãe Terra”. 
Segundo Mircea Elíade (1987), os fino-úgricos (povos da região da Península de Kola e 
da Sibéria Ocidental) têm sua religiosidade profundamente vinculada ao xamanismo. Os 
mortos destes povos eram enterrados em covas familiares, onde os que morreram há 
mais tempo recebiam os “recém-mortos”. Assim, as famílias eram constituídas tanto 
pelos vivos quanto pelos mortos. 
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Esses exemplos nos trazem uma idéia de continuidade em relação à morte, não sendo 
considerada como um fim em si. Havia uma certa tentativa de controle mágico sobre a 
morte, o que facilitava sua integração psicológica, não havendo, portanto, uma cisão 
abrupta entre vida e morte. 
Isso, sem dúvida, aproximava o homem da morte com menos terror. 
Apesar da familiaridade com a morte, os antigos de Constantinopla mantinham os 
cemitérios afastados das cidades e das vilas. Os cultos e honrarias que prestavam aos 
mortos tinham como objetivo mantê-los afastados, de modo a que não “voltassem” para 
perturbar os vivos. Por outro lado, na Idade Média, os cemitérios cristãos se 
localizavam no interior e ao redor das igrejas, e a palavra cemitério significava também 
“lugar onde se deixa enterrar”. Daí, eram tão comuns as valas cheias de ossadas 
sobrepostas e expostas ao redor das igrejas. 
A Idade Média foi um momento de crise social intensa que acabou por marcar uma 
mudança radical na maneira do homem lidar com a morte. 
Kastenbaum e Aisenberg (1983) nos relatam que a sociedade do século XIV foi 
assolada pela peste, pela fome, pelas Cruzadas, pela Inquisição; uma série de eventos 
provocadores da morte em massa. A total falta de controle sobre os eventos sociais teve 
seu reflexo também na morte, que não podia mais ser controlada magicamente como em
tempos anteriores. Ao contrário, a morte passou a viver lado a lado com o homem, 
como uma constante ameaça a perseguir e pegar a todos de surpresa. 
Esse descontrole traz, à consciência do homem desta época, o temor da morte. A partir 
daí, uma série de conteúdos negativos começa a ser associada à morte: conteúdos 
perversos, macabros, bem como torturas e flagelos, passam a se relacionar com a morte, 
provocando um total estranhamento do homem diante deste evento tão perturbador. 
O homem da atualidade convive com a idéia de que uma bomba pode cair do céu a 
qualquer momento. Não é de se surpreender, portanto, que o homem, diante de tanto 
descontrole sobre a vida, tente se defender psiquicamente, de forma cada vez mais 
intensa contra a morte. “Diminuindo a cada dia sua capacidade de defesa física, atuam 
de várias maneiras suas defesas psicológicas” (KÜBLER-ROSS, 1997). 
Mannoni (1995), citando Áries, conta que a morte revelou sua correlação com a vida em 
diversos momentos históricos. As pessoas podiam escolher onde iriam morrer, longe ou 
perto de tais pessoas, em seu lugar de origem, deixando mensagens a seus descendentes. 
A possibilidade de escolha deu lugar a uma crescente perda da dignidade ao morrer, 
como nos afirma Kübler-Ross (1997): “[...] já vão longe os dias em que era permitido a 
um homem morrer em paz e dignamente em seu próprio lar.” 
Para Mannoni, nos dias atuais, 70% dos pacientes morrem nos hospitais enquanto no 
século passado 90% morriam em casa, perto de seus familiares. Isto ocorre porque nas 
sociedades ocidentais o moribundo é, geralmente, afastado de seu círculo familiar. 
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O médico não aceita que seu paciente morra e, se entrar no campo em que se confessa a 
impotência médica, a tentação de chamar a ambulância (para se livrar do “caso”) virá 
antes da idéia de acompanhar o paciente em sua casa, até o fim da vida. (MANNONI, 
1995) 
Outro aspecto comportamental do ser humano em relação à morte é que antigamente se 
preferia morrer lentamente, perto da família, onde o moribundo tinha a oportunidade de 
se despedir. Atualmente, não é raro se ouvir dizer que é preferível uma morte 
instantânea do que o longo sofrimento causado por uma doença. Entretanto, segundo 
Kovács (1997), contrariando o senso comum, o tempo da doença justamente ajuda a 
assimilar a idéia de morte e a conseguir tomar decisões concretas, como a adoção dos 
filhos ou a resolução de desentendimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O medo da morte 
O medo da morte não é inato, mas é introjetado desde a infância e atinge a todos os 
seres humanos. Dependendo do nível de ansiedade da pessoa, o medo da morte se torna 
aterrorizante. Dependendo da maturidade psicológica ou do envolvimento religioso e 
filosófico, o medo pode se tornar menos intenso. 
O que se teme, na realidade, não é tanto a morte, mas sim o processo de morrer: a 
dependência, a impotência, o sofrimento, o desconhecido. 
A morte é uma realidade diária. Sabemos que morremos todos os dias, um pouquinho. 
Mesmo assim, vivemos como a morte do outro. Sobre a “a minha morte” eu me 
preocupo amanhã. Na verdade, o que mais preocupa o ser humano não é o “quando”, 
mas o “como” e “do quê” vai morrer. 
De acordo com Almeida e Nascimento (2007), o sentimento de medo está presente em 
todas as fases da vida humana e a experiência deste medo se constitui em mortes diárias, 
tenham os homens consciência disto ou não. O homem morre a cada respiração, a cada 
apego, a cada fuga, a cada perda, a cada dia quando dorme, a cada crença de que abre 
mão. 
Dimensão física 
Começa na concepção e vai até os seis meses de idade, fase do desenvolvimento em que 
todo o registro é sensorial. O objetivo deste período é crescer com saúde e segurança. O 
medo desta fase, assim, é o de danos que possam ameaçar a vida física. 
Dimensão emocional 
É o segundo estágio do desenvolvimento humano, vai dos seis meses aos seis anos. O 
propósito desta fase é relacionar-se, amar e ser amado. O medo básico desta fase é o 
abandono e a rejeição. 
Dimensão intelectual 
Estágio do desenvolvimento compreendido entre os seis anos e a adolescência, onde o 
homem busca o aprimoramento do pensamento e da racionalidade. O propósito desta 
fase é compreender a si mesmo e ao mundo. O medo característico desta fase é, 
portanto, o medo do desconhecido, do insondável e do inquestionável. 
Dimensão espiritual 
Estágio do desenvolvimento que tem início na adolescência e continua até momentos 
antes da morte física. O objetivo desta fase engloba a vontade se saber ouvir a voz 
interior, ainda que muitas vezes nos vários níveis de inconsciência, com o propósito de 
alcançar a unidade. Assim, o medo desta fase é o de submeter-se. O homem encara a 
submissão como humilhação, fraqueza e perda. 
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Não é preciso aguardar a proximidade da morte física para o homem entrar em contato 
com estes medos. Morte e vida passam a ser um único aspecto, um continuum, quando 
o ser humano é um ser inteiro, uno. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O impacto da morte 
Todos sabemos, desde cedo, e com certeza absoluta, que um dia iremos morrer. Mesmo 
assim, o ajustamento à morte nos parece mais difícil do que a qualquer outra situação da 
vida a ser experenciada por nós. 
O impacto que a morte causa no Sistema Familiar é imenso e, muitas vezes, 
prolongando, criando um impasse no ciclo de vida atual. 
Em épocas passadas, o cuidado com o doente e com o ato de morrer, ficava sob a 
responsabilidade da família, recaindo, geralmente, nos ombros das mulheres. 
Com as mudanças decorrentes no contexto político, cultural, social e econômico, as 
mulheres iniciaram sua jornada de trabalho para além dos limites da sua casa, trazendo 
modificações em todos os estágios do ciclo de vida. 
Para se reequilibrar, o Sistema Familiar (tentando diminuir a culpa, a ansiedade, a 
depressão e o estresse) teve que “terceirizar” a morte, deixando o doente entregue aos 
cuidados de hospitais ou casas de repouso, médicos, psicólogos, enfermeiros, damas de 
companhia, voluntários, conselheiros pastorais e agentes funerários. 
Quando a morte acontece numa idade mais avançada é entendida como um processo 
natural e lógico no ciclo de vida familiar, mas quando o mesmo evento acontece a uma 
criança ou a um jovem saudáveis, a morte é considerada como a maior tragédia humana 
– os chamados “golpes do destino” – para a maioria das pessoas. Por outro lado, quando 
a morte é causada por uma doença crônica, fatal e prolongada, pode ser uma alívio para 
os membros desta família, não importando se o doente for criança, jovem ou adulto. 
Mesmo sabendo que a morte é certa e inevitável, este saber nem sempre está presente, 
consciente, daí o paradoxo da morte (in) esperada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A morte e a Medicina 
A missão tradicional do médico é aliviar o sofrimento humano; se puder curar, cura; se 
não puder curar, alivia; se não puder aliviar, consola. 
Ao pensar na morte, seja a simples idéia da própria morte, ou a expectativa mais do que 
certa de morrer um dia, seja a idéia estimulada pela morte de um ente querido ou 
mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro normalmente é tomado por 
sentimentos e reflexões. 
As pessoas que se regozijam em dizer que não pensam na morte, normalmente têm uma 
relação mais sofrível ainda com esse assunto, tão sofrível que nem se permitem pensar a 
respeito. 
Esses pensamentos, ou melhor, os sentimentos determinados por esses pensamentos 
variam muito entre
as diferentes pessoas, também variam muito entre diferentes 
momentos de uma mesma pessoa. Podem ser sentimentos confusos e dolorosos, serenos 
e plácidos, raivosos e rancorosos, racionais e lógicos, e assim por diante. Enfim, são 
sentimentos das mais variadas tonalidades. 
Isso tudo pode significar que a morte, em si, pode representar algo totalmente diferente 
entre as diferentes pessoas, e totalmente diferente em diferentes épocas da vida de uma 
mesma pessoa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A morte e a Psicanálise 
Desde muito cedo, ainda bebês, quando passamos a distinguir nosso próprio corpo do 
corpo da mãe, somos obrigados a aprender a nos separar de quem ou daquilo que 
amamos. A princípio, convivemos com separações temporárias como, por exemplo, a 
mudança de escola. Mas chega uma hora em que acontece a nossa primeira perda 
definitiva: alguém que nos é muito querido, um dia se vai para sempre. É justamente 
esse “para sempre” o que mais nos incomoda. Porém, quanto mais conscientes 
estivermos de nossas mortes diárias, mais nos preparamos para o momento da grande 
perda de tudo que colecionamos e nutrimos durante a vida: desde toda a bagagem 
intelectual, todos os relacionamentos afetivos, até o corpo físico. 
Com o distanciamento cada vez maior do homem em relação à morte, cria-se um tabu, 
como se fosse desaconselhável ou até mesmo proibido falar sobre este tema. Segundo 
Bromberg (1994), “[...] como aprendemos em nossa cultura, evitamos a dor, evitamos a 
perda e fugimos da morte, ou pensamos fugir dela [...]”. 
Esse quadro atual nos revela a dimensão da cisão que o homem tem feito entre vida e 
morte tentando se afastar ao máximo da idéia da morte, considerando sempre que é o 
outro que vai morrer e não ele. 
Então nos lançamos à questão da angústia e do medo em relação à morte. 
Uma das limitações básicas do homem é a limitação do tempo. 
Segundo Torres (1983), “[...] o tempo gera angústia, pois, do ponto de vista temporal, o 
grande limitador chama-se morte [...]”. 
A Psicanálise Existencial, apontada por Torres (1983), revela a dimensão da angústia da 
morte: “A angústia mesma nos revela que a morte e o nada se opõem à tendência mais 
profunda e mais inevitável do nosso ser”, que seria a afirmação do si mesmo. 
Mannoni (1995) busca em Freud palavras que falem da angústia do homem diante da 
morte: “[...] Freud a situa ou na reação a uma ameaça exterior, ou como na melancolia, 
ao desenrolar de um processo interno. Trata-se sempre, porém, de um processo que se 
passa entre o eu e a severidade do super-eu.” 
Segundo Kastenbaum e Aisenberg (1983), o ser humano lida com duas concepções em 
relação à morte: a morte do outro, da qual todos nós temos consciência, embora esteja 
relacionada ao medo do abandono; e a concepção da própria morte, a consciência da 
finitude, na qual evitamos pensar, pois para isto temos que encarar o desconhecido. 
É a angústia gerada ao entrar em contato com a fatalidade da morte que faz com que o 
ser humano se mobilize a vencê-la, acionando para este fim diversos mecanismos de 
defesa, expressos por intermédio de fantasias inconscientes sobre a morte. Muito 
comum é a fantasia de existir vida após a morte; de existir um mundo paradisíaco, 
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regado pelo princípio do prazer e onde não existe sofrimento; de existir a possibilidade 
de volta ao útero materno, uma espécie de parto ao contrário, onde não existem desejos 
e necessidades. Ao contrário dessas fantasias prazerosas, existem aquelas que provocam 
temor. O indivíduo pode relacionar a morte com o Inferno. São fantasias persecutórias 
que têm a ver com sentimentos de culpa e remorso. Além disso, existem identificações 
projetivas com figuras diabólicas, relacionando a morte com um ser aterrorizante, com 
face de caveira, interligado a pavores de aniquilamento, desintegração e dissolução. 
O homem é o único animal que tem consciência de sua própria morte. Segundo Kovács 
(1998), “[...] o medo é a resposta mais comum diante da morte. O medo de morrer é 
universal e atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível sócio-
econômico e credo religioso.” 
Para a Psicanálise Existencial, enunciada por Torres, (1983), “[...] o medo da morte é o 
medo básico e ao mesmo tempo fonte de todas as nossas realizações: tudo aquilo que 
fazemos é para transcender a morte.” 
E complementa esse pensamento afirmando que “todas as etapas do desenvolvimento 
são na verdade formas de protesto universal contra o acidente,da morte.” 
Segundo Freud (1917), ninguém crê em sua própria morte. Inconscientemente, estamos 
convencidos de nossa própria imortalidade. 
Nosso hábito é dar ênfase à causação fortuita da morte – acidente, doença, idade 
avançada – desta forma, traímos um esforço para reduzir a morte de uma necessidade 
para um fato fortuito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Modalidades 
A maior abrangência de informações sobre a morte tem trazido à população geral e 
também entre os profissionais de saúde, uma confusão relacionada aos termos técnicos 
que englobam a abreviação da vida e suspensão dos tratamentos médicos (PEREIRA et 
al, 2oo8). De acordo com Pessini (2001), o processo de abreviação da vida pode ser 
dividido nas seguintes modalidades: 
Eutanásia ativa 
Ocorre quando há um acordo entre médico, família e paciente com o objetivo de 
terminar com a vida do último. Seja por meio de uma droga letal ou da retirada de 
aparelho de respiração, a interferência de outra pessoa é ativa. 
Eutanásia passiva 
Ocorre quando o médico ou qualquer pessoa do convívio do paciente lhe provê todo o 
material necessário ao suicídio, mas não realiza ativamente o ato final. 
Tanto a eutanásia ativa quanto a passiva são legalmente proibidas no Brasil e 
legalizadas em alguns países europeus, como a Holanda. 
Distanásia 
Ocorre quando opta-se pela persistência em um tratamento que não curará ou melhorará 
o estado de saúde do paciente. É considerado antiético. Esta prática prolonga uma dor e 
pode ser comparada à tortura. Assim, é a obstinação terapêutica em que a tecnologia 
médica é usada para prolongar penosa e inutilmente o processo de agonia e morrer. 
Ortotanásia 
Ocorre quando, deliberadamente, suspende-se o tratamento de uma doença incurável 
que só prolongaria o sofrimento do paciente. É a atuação correta frente à morte (Pessini, 
2001), a abordagem adequada diante do paciente que está morrendo, implica garantir a 
este paciente sua dignidade e individualidade. 
Mistanásia 
Ocorre normalmente fora das instituições hospitalares. Trata-se de uma morte 
miserável, antes da hora. É uma categoria que nos permite refletir sobre o fenômeno da 
maldade humana. Divide-se em três situações: 
 A grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos, sociais e 
econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não conseguem ingressar 
efetivamente no sistema de saúde médico; 
 Doentes que conseguem ser pacientes para, em seguida, tornarem-se vítimas de 
erro médico por imprudência, imperícia ou negligência; 
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 Pacientes vítimas de má-prática por motivos econômicos, científicos e 
sociopolíticos (morte em experiências científicas, laboratoriais e farmacêuticas-, 
pelo tráfico de entorpecentes, abuso sexual, latrocínio, etc.). 
Aborto 
O aborto é definido como a finalização da gestação antes da 20ª semana ou a expulsão 
do objeto da concepção menor que 500 gramas de peso. Berkow e Fletcher (1995), em 
sua obra, classificam o aborto em precoce quando ocorre até a 12ª semana de gestação, 
ou tardio de 12ª a 20ª semanas. 
No Brasil, atualmente, o código penal encara o aborto como
crime contra a vida e prevê 
punição de um a três anos de detenção. São autorizados apenas os abortos em caso de 
gravidez decorrente de estupro ou na impossibilidade de salvar a vida da mãe. Assim, o 
aborto legal é restrito no Brasil. Tramita o projeto de lei que autorizaria a prática do 
aborto em caso de crianças anencéfalas, o que gera várias discussões. Aproximadamente 
um milhão de abortos clandestinos ocorrem anualmente no Brasil, gerando taxa de 
morbimortalidade materna elevada. Tal prática mostra-se mais frequente nas regiões 
Norte e Nordeste, chegando ao dobro dos casos nas regiões sul e sudeste. 
Para a Igreja Católica, a vida se inicia no momento da concepção, portanto, o aborto é 
considerado um crime contra a vida. O Papa Bento XVI, em 2010, numa conversa com 
alguns bispos do Brasil, afirmou que a descriminalização deste procedimento representa 
traição dos ideais democráticos, e qualificou o aborto e a eutanásia como “ações 
intrisecamente más” (SCHWARTZMAN, 2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
O processo psicológico de luto 
Todos temos histórias para contar sobre perdas de pessoas queridas, laços desfeitos, 
amores perdidos, vidas despedaçadas, mortes repentinas. 
Para KOVÁCS (2002) a morte como perda supõe um sentimento, uma pessoa, um 
tempo. É a morte que envolve basicamente, a relação entre as pessoas. Se ocorre de 
maneira brusca e inesperada tem uma potencionalidade de desorganização, paralisação e 
impotência. 
Exprimir os sentimentos de tristeza e pesar é fundamental para a elaboração do luto. O 
luto é uma vivência de crise, que a família enlutada tenta resolver, colocando todo o 
sistema familiar em movimento, mexendo em toda a sua organização. 
BOWLBY (1985) refere-se a quatro fases do luto: 
 Fase de choque que tem a duração de algumas horas ou semanas, e pode vir 
acompanhada de manifestações de raiva ou desespero. 
 Fase de desejo e busca da figura perdida, que também pode durar meses ou anos. 
 Fase de desorganização e desespero. 
 Fase de alguma organização. 
 
O luto pode ser considerado normal quando a família consegue aceitar a perda definitiva 
do morto, aceitar as mudanças no núcleo familiar, falar sobre o morto como alguém 
importante que está guardado para sempre no coração e quando a dor se transforma 
numa “doce saudade”. 
O luto patológico apresenta um medo exagerado de morrer, agressividade, sintomas de 
identificação (sentimentos iguais aos do morto), depressão ou ansiedade persistentes, 
culpa e/ou raiva exacerbadas, nenhuma expectativa ou planos de futuro. 
Pode-se dizer que um luto foi bem elaborado quando a família: 
 reconhece a perda com sofrimento suportável. 
 reorganiza o sistema familiar. 
 apresenta novos padrões de funcionamento. 
 modificação no mundo interno e relacional. 
 possibilidades de construir novos vínculos. 
 atitudes positivas quanto ao futuro. 
 esperança e confiança reconquistadas. 
 
 
 
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Bibliografia 
ARIÈS, P. O homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. 
BOWLBY, J. Apego, perda e separação. São Paulo: Martins Fontes, 1985. 
BROMBERG, Maria Helena P.F. A Psicoterapia em situações de perdas e luto. 
São Paulo, Editora Psy, 1998. 
PEREIRA, FS et al. A humanização da assistência prestada pelo enfermeiro no processo 
de morrer. Monografia. Rio Verde (GO): Faculdade Objetivo/ Instituto de Ensino 
Superior de Rio Verde, 2008. 
CASSORLA, RMS in KOVÁCS, MJ. Educação para a morte: Desafio na formação de 
profissionais de saúde e educação. São Paulo: Casa do Psicólogo/FAPESP, 2003. P. 13. 
ALMEIDA, CF e NASCIMENTO, MFC in CLEMENTE, APP E PIMENTA, WJD. 
Tanatologia. Lavras: UFLA/FAEPE, 2007.

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