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taylor vs kanye

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TAYLOR V$ KANYE: DOIS LADOS DA MESMA MOEDA
Em novembro de 2014, a cantora Taylor Swift – uma das mais bem pagas da atualidade – retirou todo seu acervo de músicas do Spotify. Scott Borchetta, CEO da Big Macinhe, gravadora de Taylor, disse em entrevista que o valor recebido dizendo direito aos streams domésticos das músicas de Swift foi de U$496.044, número consideravelmente menor do que o divulgado pelo próprio Spotify. Segundo um representante do serviço, o total recebido por Taylor Swift no último ano foi de U$2.000.000.
Independente de qual foi a quantia exata recebida por Swift, seu single “Shake It Off” ganhou mais que qualquer outra música no Spotify no mês de outubro de 2014, apenas um mês antes de retirar sua discografia da plataforma. Por ter passado apenas sete semanas disponível, o single não chegou aos pés dos valores recebidos por outras músicas mais tocadas ao longo dos outros dez meses do ano.
Em outros streamings como Rhapsody e Beats Music, é preciso ter a conta premium para acessar as músicas de Swift. De acordo com ela isso coloca uma percepção de valor no trabalho e na arte que ela criou e sua crítica é que o Spotify não tem nenhuma distinção de quem pode ouvir qual música, já que seus usuários free ou premium tem direito ao mesmo acervo.[1: Precursor do Apple Music, que não existe mais.]
Já com o Apple Music o problema foi outro. Antes mesmo da Apple lançar o concorrente do Spotify, Swift publicou no Tumblr uma carta aberta à empresa reclamando do método de pagamento. “Tenho certeza que vocês estão cientes que o Apple Music vai oferecer um período experimental grátis de três meses. Não sei se vocês sabem que o Apple Music não vai estar pagando compositores, produtores ou artistas nesse período de três meses” (2015. Tradução nossa). Em sua carta, Taylor tratou o tempo todo como se Apple fosse sua amiga, ressaltando o tempo todo como sua relação com a empresa é ótima e fazendo um apelo para que a política de pagamento fosse modificada. 
“Isso é sobre o novo artista ou banda que acabou de lançar seu primeiro single e não vai ser pago pelo seu sucesso, Isso é sobre o jovem compositor que acabou de ter sua primeira música lançada e achou que os royalties dela o tirariam das dívidas. Isso é sobre o produtor que trabalha incansavelmente para inovar e criar...” (2015. Tradução nossa)
Apenas algumas horas após ser publicada, a carta atingiu seu objetivo. Apple anunciou a mudança na política de pagamento, agora durante o período experimental seriam pagos, mas com valores menores. Se antes a carta era um desastre de relações públicas, passou a ser uma grande divulgação para o novo serviço. Graças a visibilidade da cantora, o lançamento que não estava recebendo muita atenção da mídia, foi exposto a milhões de fãs e potenciais usuários do serviço.
Podemos questionar qual o real motivo de Taylor ter retirado suas músicas do Spotify, ou se ela foi sincera em sua carta à Apple, afinal, ao mesmo tempo que defende os artistas menos conhecidos que ficariam sem salário por três meses, não quer disponibilizar sua música gratuitamente e faz um discurso sobre percepção de valor, como se a música dela valesse mais que de outros artistas. Essa manifestação da cantora se mostra ainda mais controvérsia quando ela mesma utiliza arte feita pelos fãs em seu site oficial e não dá o devido crédito.
O caso aconteceu com Ally Burguieres, uma artista profissional que disponibiliza sua arte para venda online e em três lojas físicas. De acordo com ela, Taylor pegou um de seus designs mais populares e usou para divulgação de seu álbum 1989 sem autorização. Quando questionada por Ally, a equipe de Taylor Swift não ofereceu dar os créditos do design, pois segundo eles, seu apoio é muito valioso, foi oferecido então uma compensação de quatro dígitos que deveria ser doada.
Se é para valorizar o trabalho dos artistas, que autoridade Taylor Swift para dizer que arte tem mais valor do que outra? E esse valor é necessariamente financeiro?
Outro músico de grande destaque na sua posição quanto ao streaming é Kanye West. Um dos sócios do Tidal, aparentemente vê como mais uma vantagem do streaming sobre outras plataformas para o consumo de música é que as versões podem estar sempre sendo atualizadas. Kanye já atualizou seu álbum mais recente “The Life Of Pablo” duas vezes desde seu lançamento em 14/02/2016, modificando letras de algumas músicas e o nome de outra. Isso permite que um mesmo álbum seja “melhorado” inúmeras vezes, sem que aqueles que já o adquiriram se prejudiquem por não ter a nova versão da música.
 “The Life Of Pablo” foi lançado exclusivamente no Tidal. Inicialmente a ideia era que fosse disponibilizado em outros lugares posteriormente, mas Kanye disse recentemente no twitter que nunca mais lançaria CDs, todos seus trabalhos a partir de então só estarão no Tidal. Essa decisão pode tê-lo prejudicado pois em vez de atrair mais usuários para sua plataforma, os fãs recorreram aos torrentes para conseguir o álbum. Foram aproximadamente 500 mil downloads ilegais no dia do lançamento, o que custou a Kanye mais de U$10 milhões.
Tanta pirataria fez com que Kanye contatasse seus advogados para tentar processar o site “The Pirate Bay” por disponibilizar suas músicas gratuitamente. Ironicamente, dias depois West postou uma foto de seu computador no twitter em que era possível ver que um dos sites abertos era o próprio “The Pirate Bay”, no qual o rapper baixava ilegalmente o “Serum”, programa de sintetizador digital.
Apesar de suas diferenças, o comportamento de Taylor Swift e Kanye West frente ao streaming é o mesmo: ao mesmo tempo que reproduzem um discurso sobre a valorização do trabalho artístico completamente contra a pirataria, mas na prática não pagam os direitos de artistas com menos visibilidade que eles. Consideram sua arte como superior e por isso mais valiosa, quando na verdade “os bens culturais e artísticos escapam desse modelo da mercadoria-tipo, porque o que constitui sua definição, a qualidade artística, responde a uma avaliação subjetiva e não a uma medida cuja universalidade poderia ser consensual” (TOLILA, 2017), então nenhum tipo de arte seria superior a outro só por ter mais visibilidade na mídia.

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