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1 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS Conteudista: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho 2015 MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 2 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO -UCB Todos o s d i r e i tos re servad os a Univer s id ade Caste lo Bran co- UCB Nenhu ma p ar t e des t e mater i a l poderá se r r eproduz ida, armazen ada ou t ran smi t id a de qu alquer fo rma ou por quaisqu er meios – e le t rôn ico , mecân ico , fo to cópia ou gravação , sem a au tor i zação d a Univer s idad e Caste lo Bran co – UCB. ______________________________________ Un3 m Univer s idad e Cas te lo Bran co Metodolo gia do Trab alho Cien t í f ico . Rio de Janei ro , UCB, 2015 . 100 p . ISBN CDD ______________________________________ Univer s idad e Caste lo Bran co Avenida San ta Cruz, 1631 . Rio de Jan ei ro – RJ CEP 21710-255 Tels . (21) 3216-7700 / Fax (21) 2401-9696 . www.cas te lobranco .br MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 3 PALAVRAS INICIAIS UNIDADE I – SOBRE A NATUREZA DO CONHECIMENTO 1.0 - Entendendo a Natureza do Conhecimento 1.1 - Tipos de Conhecimento 1.2 - Sobre o Espíri to Científico Exercícios de Fixação UNIDADE II – A CIÊNCIA E SUA HISTÓRIA 2.0 - O Alvorecer da Ciência 2.1 - A Evolução do Pensamento Científico 2.2 - As Três Concepções de Ciência 2.3 - Formas de Raciocínio Científico 2.4 - O Arco de Charles Maguerez Exercícios de Fixação UNIDADE II I – ESTRATÉGIAS EFICAZES DE ESTUDO 3.0 - O Hábito de Estudar 3.1 - Técnicas de Leitura 3.2 - Técnicas de Esquematizar 3.3 - Técnicas de Resumir 3.4 - Tipos de Fichamento 3.5 - Para ter Sucesso nos Estudos Exercícios de Fixação UNIDADE IV – A ARTE DA PESQUISA 4.0 - Pesquisa: A Origem do Termo 4.1 - Pesquisa Levada à Sério 4.2 - A Importância da Pesquisa 4.3 - Níveis de Investigação Exercício de Fixação I 4.4 - Pesquisa Pura, Aplicada e Derivadas 4.5 - Paradigmas Metodológicos da Pesquisa Exercício de Fixação II SUMÁRIO 05 07 07 08 11 19 23 24 26 28 30 32 35 37 38 27 41 42 44 48 50 52 54 56 57 60 63 64 66 75 70 MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 4 UNIDADE V – ETAPAS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA 5.0 - Delineamento da Pesquisa Científ ica 5.1 - Modalidades de Pesquisa 5.2 - Estudos Exploratórios 5.3 - Técnicas de Coleta de Dados 5.3.1 - Entrevista 5.3.2 - Questionário 5.3.3 - Formulário Exercícios de Fixação UNIDADE VI – PROJETO DE PESQUISA 6.0 - Delineamento da Pesquisa Científ ica 6.1 - A Estrutura do Projeto de Pesquisa 6.1.1 - O Tema 6.1.2 - O Título 6.1.3 - O Problema 6.1.4 - A Justificativa 6.1.5 - Os Objetivos Gerais e Específicos 6.1.6 - A Hipótese 6.1.7 - A Delimitação 6.1.8 - Os Procedimentos Metodológicos 6.1.9 - O Cronograma 6.1.10 - O Orçamento 6.2 - Sobre a Apresentação de Trabalhos Científicos Exercícios de Fixação REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SUMÁRIO 75 76 80 95 97 97 100 103 108 110 111 112 113 116 117 119 121 122 125 125 128 129 131 133 136 MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 5 PALAVRAS INICIAIS: Olá! Seja bem vindo a este caderno de estudos da disciplina “Métodos e Técnicas de Estudos e Pesquisas”. Este material instrucional tem a pretensão de ser uma introdução sobre os fundamentos do método científico e, de um modo geral, favorecer uma reflexão sobre as diferentes maneiras de se pensar e fazer ciência através de estudos e pesquisas de natureza científica. Assim sendo, ele deverá ser utilizado como norteador durante todo o Grupo de Investigação (GI) abarcando não apenas a disciplina de Métodos e Técnicas de Estudos e Pesquisas, mas também as Práticas de Investigação incluindo seus cases e o Projeto de TCC. Sem querer complicar demais o que já é complexo por natureza - considerando as inúmeras discussões do que seja realmente ciência - podemos inicialmente entender a ciência como uma maneira de produzir conhecimento a partir de princípios metodológicos rigorosos de estudo. Maneira esta, que vem evoluindo ao longo dos séculos e que tem como base a ausência de preconceitos e juízos de valor (característicos do conhecimento de senso comum) e a comprovação. A ciência é um exemplo de até onde a humanidade pode chegar movida pela curiosidade e pela inteligência. Se pensarmos o desenvolvimento que esta teve ao longo dos séculos é impressionante constatar seu desenvolvimento. A questão do “método científico” é tão ampla que ela já vem, desde que chegou ao seu estágio mais moderno e semelhante ao atual por volta do século XVII - com a metodologia da observação neutra e sistemática aliada ao método indutivo tendo como objetivo o estabelecimento de relações causais entre fenômenos até a formulação de uma lei - sendo objeto de um ramo diferenciado da Filosofia denominado “Filosofia da Ciência” cujas reflexões contribuíram significativamente para a análise crítica e melhor compreensão desta. MENSAGEM DE BOAS VINDAS: Seja bem vindo a esta oportunidade de trocarmos ideais e aprendermos um pouco mais sobre Metodologia Científica assim como auxiliá-lo no desenvolvimento de trabalhos científicos, desde a formulação do projeto, coleta e organização e análise de dados, elaboração de textos e finalmente sua apresentação. Lembre-se de que o aprendizado é fruto do esforço conjunto entre a equipe pedagógica e você. Assim, a fim colher os frutos de um trabalho promissor faça a sua parte agora! Aproveite bem essa chance de aprendizado! GLOSSÁRIO: :: Observação Neutra Observação desligada de opiniões pessoais, crenças ou preconceitos. Trata-se da observação pura tal como o fenômeno/objeto observado se apresenta a partir de um método pré- determinado. Muitos duvidam que tal observação seja possível. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 6 Apesar da importância que a ciência alcançou (em grande parte pelas conquistas tecnológicas) e da autoridade que é conferida aos cientistas, vale deixar claro que seu objetivo não é, e nem nunca foi, o de produzir “verdades absolutas”, mas sim o de promover uma busca mais aproximada da realidade de forma metódica, rigorosa e crítica. Um dos criadores do método científico, Francis Bacon afirmava no século XVII que a meta da ciência é o melhoramento da vida do homem na terra e isso seria alcançado através da coleta de dados, uma observação criteriosa, e a derivação de teorias e práticas a partir desta (Chalmers,1993). Concordando com esse pensamento, apesar de todas as mudanças que a concepção de ciência sofreu, é importante destacar que o objetivo que deve guiar qualquer tipo de procedimento científico sempre foi e será a melhoria da vida humana. A produção de conhecimento científico, particularmente através da pesquisa, não deveria nunca ignorar ou se desviar desse ideal. Partindo do princípio de que uma das formas mais significativas de produzir conhecimento se dá através da pesquisa, faz-se necessário conhecer o que esta seja, bem como os fundamentos e práticas metodológicas voltadas para a formação de um pesquisador de qualquer área. A leitura desse material instrucional quer dar a você a chance de fazer isso e estuda as diferentes etapas do método científico: da problematização e coleta de dados até sua análise e possível comprovação das hipóteses formuladas. Tenha certeza de que sua formação acadêmica seria incompleta se você não tivesse a oportunidade de caminhar nas veredas da pesquisa. Por isso mesmo, desejamos a você uma excelente caminhada a partir do roteiro sugerido pelas unidades deste material. Que ele lhe seja útil e estimulador a novas produções científicas. DICA: Não se conforme apenas com o conteúdo deste caderno instrucional. Procure aproveitar bastante as dicas de filmes, sites e livros sugeridos nas caixinhas laterais e não se esqueça que você não está sozinho nesta jornada. Conte sempre com seus professores. VOCÊ SABIA? Importante filósofo inglês dos séculos XVI e XVII Francis Bacon foi também um renomado político e estadista e ensaísta. É considerado um dos fundadores da Ciência Moderna por sua defesa do empirismo e por ter classificado a ciência em três grupos: Ciência da imaginação (poesia), Ciência da Memória (História) e Ciência da Razão (Filosofia) MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 7 Unidade 1 sobre a Natureza do Conhecimento Objetivos: • Entender com clareza o significado de conhecimento, bem como a natureza dos diferentes tipos de conhecimento existentes; • Reconhecer as principais diferenças entre o conhecimento científico e o chamado senso comum; • Refletir sobre como e, em que medida, temos adotado o espírito científico em nossas posturas e práticas como estudantes e pesquisadores. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 8 1.0 Entendendo a Natureza do conhecimento: _________________________________________________ Comecemos nossos estudos com uma reflexão sobre a natureza do conhecimento. É possível entender o conhecimento como o pensamento resultante da relação que se estabelece entre o sujeito que quer conhecer (cognoscente) e um objeto a ser conhecido (cognoscível). O sujeito é o ser humano e o objeto parte da realidade com a qual convivemos ou do próprio homem que também pode ser objeto de estudos (como é o caso das ciências humanas e sociais). Como estamos constantemente procurando conhecer é possível afirmar que o conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que acumulamos em nossa vida cotidiana, através de experiências, dos relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e artigos diversos. O conhecimento é diferente de uma informação (dado mais bruto). Ele é fruto de uma reflexão sobre a informação e sua riqueza. Vale ressaltar que o homem se distingue dos demais seres vivos pela possibilidade de conhecer. Diferentemente de outros animais, o homem possui a razão, ou seja, o homem tem a faculdade de avaliar, julgar, ponderar ideias universais, estabelecer relações lógicas de conhecer, de compreender, de raciocinar, sendo também a capacidade de relacionar e ir além da realidade imediata. De fato, os seres humanos são os únicos capazes de criar e transformar o conhecimento; de aplicar o que aprendem por diversos meios; os únicos capazes de criar um sistema de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar nossas próprias experiências dividindo-as com outros seres humanos. De um modo geral, o desejo de conhecer as coisas é inato se manifestando desde os primeiros anos de vida. Ao entrar PARA SABER MAIS: Para um aprofundamento do conceito de conhecimento seria válido consultar outras obras sobre o tema, especialmente de Filosofia e de Metodologia da Pesquisa. Veja abaixo alguns bons exemplos de uma literatura clássica da área: CERVO, A.e Bervian, P. Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2002. LAKATOS, E. & Marconi, M. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1991. GLOSSÁRIO: :: Conhecer: Conhecer é incorporar um novo saber, um novo conceito sobre alguma coisa. O conhecimento não vem do nada. De um modo geral ele é adquirido através do estudo, da reflexão e da experiência. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 9 em contato com a realidade, o ser humano imediatamente apreende essa realidade em relação ao seu “EU”, à cultura e à história. O processo de conhecer se manifesta de maneira tão natural que em alguns momentos nem sequer nos damos conta de sua complexidade. Desde cedo, nossos pais e professores nos mostram a necessidade de aprender e conhecer o mundo, e mais tarde, da necessidade de autoconhecimento. Neste complexo processo, somos inseridos na “engrenagem” do conhecimento do mundo considerado real, sem então entendermos claramente o real significado de conhecer. Valendo-se de suas capacidades cognitivas, o ser humano manifesta o desejo de conhecer a si mesmo e o mundo no qual se encontra inserido. Luckesi (1985), afirma que devemos pensar no conhecimento não apenas como um mecanismo de transformação do mundo, mas também como uma necessidade para a ação e ainda um elemento de libertação, caso contrário estaríamos ainda sujeitos a conformação e sujeição da natureza. Trata-se de um instrumento para entendimento do sujeito, das relações entre sujeitos e destas relações com o ambiente. Por ser fruto de uma relação entre sujeito e objeto, o conhecimento é sempre relativo. Supõe um ponto de vista, limitações técnicas (a partir do uso de instrumentos) e também limites do próprio sujeito que conhece. O conhecimento absoluto é impossível, pois sua possibilidade implicaria em um sujeito sem limites – nem mesmo pessoais ou sócio-históricos (Aranha e Martins, 2005). Isso fica ainda mais claro quando nos deparamos com pessoas que privilegiam suas crenças religiosas, ou a autoridade de algo ou alguém em detrimento de qualquer outro tipo conhecimento. Como se isso não bastasse, à medida que interagimos na relação com o mundo, com os inúmeros campos e formas de conhecimento, muitas vezes MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 10 questionamos a validade daquilo que anteriormente tínhamos aceito como verdade. Segundo Hessem (1999) pode-se afirmar que existem cinco grandes formas de entender a relação entre o sujeito e o objeto (posturas epistemológicas), visando à construção de conhecimento: � O objetivismo defende que o objetodetermina o sujeito e influencia na construção de conhecimento do sujeito; � O subjetivismo, contrário ao objetivismo, defende que a construção de conhecimento se dá no próprio sujeito (consciência em geral), pois é o próprio sujeito que produz e dá forma ao objeto. Protágoras (século V a. C.), por exemplo, dizia que o “homem é a medida de todas as coisas”. � O realismo sustenta a tese de que o objeto existe independentemente do sujeito, sendo o objeto o ponto de partida do ato do conhecimento. A independência dos objetos, em relação à consciência do homem é real, uma vez que o objeto pode modificar-se independentemente da ação do homem; � O idealismo, contrário ao realismo, defende que não existem objetos reais, independentes da consciência do homem, mas sim como um produto do pensamento do homem. Vai-se do pensamento diretamente para a análise do objeto; � O fenomenalismo, por sua vez, estabelece uma relação entre o realismo e o idealismo, pois considera que os objetos existem por meio da nossa consciência, mais do que isso, é moldado pela própria consciência do sujeito. Para Kant, não conhecemos as coisas em si (nômeno), mas como elas se nos apresentam (fenômeno termo derivado de fenomenon = aparência). Há coisas reais, mas não podemos conhecer a “essência” das coisas, só a sua aparência. Existem diferentes tipos de conhecimento. Vejamos aqui alguns dos mais conhecidos: VOCÊ SABIA? No decorrer da história muitos filósofos deram primazia a um dos dois polos na relação de conhecimento ao sujeito ou ao objeto. Isso fica claro ao estudarmos essas cinco formas de conhecimento destacadas nessa página. PARA VER: Confira um vídeo bem humorado sobre as diferenças entre realismo e empirismo disponível através do site abaixo: https://www.youtube.co m/watch?v=KlxNr5nSJA8 MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 11 1.1 TIPOS DE CONHECIMENTO: - CONHECIMENTO INTUITIVO O termo “intuição” tem sua origem no latim in tueri e significa “ver em”, “contemplar”. Na verdade a intuição é uma modalidade de conhecimento que, pela característica de tentar entender o objeto sem “meio” de comparações. O conhecimento intuitivo é de ordem subjetiva e não empírica. Para Aristóteles o ser humano pode e consegue conhecer as coisas que o cerca justamente porque tem uma capacidade para enxergar e intuir os princípios que regem os fenômenos. Assim sendo, ele seria dotado de uma visão interior, que se traduz pela capacidade de ver o que é essencial dentro dos dados da experiência sensorial. Essa visão poderia ser definida como intuição. É fácil entender uma intuição sensorial se entendemos que os sentidos não analisam, não comparam e não julgam, por exemplo, o conhecimento que se tem da temperatura da água de uma vasilha em temperatura ambiente. Contudo, através da intuição temos uma ideia da temperatura no instante em que se a toca com a mão; outro exemplo é a emoção do prazer que se experimenta em uma determinada situação. Trata-se de um dado de experiência interna apreendido imediatamente e que associamos a outras experiências de modo intuitivo. A percepção, cujo objeto passa para a mente sem necessidade de um conhecimento prévio, tem sua origem na experimentação e no sentir mediante as sensações transmitidas pelos órgãos dos sentidos: GLOSSÁRIO: :: Saber: A palavra saber vem do latim “sapere” que também significa sabor. Portanto, aprender algo pode muito bem ser comparado como saborear algo como destaca Rubem Alves. DICA: Dedique especial atenção aos diferentes tipos de conhecimento assinalados, pois este assunto será essencial para compreender de uma forma mais ampla o que seja ciência. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 12 visão, audição, tato, gustação e olfato; a este processo denominado conhecimento intuitivo sensorial. Entretanto, o conhecimento intuitivo sensorial não se realiza exclusivamente pela experiência de fenômenos externos, visto que existe outra experiência interna, a qual denominamos de reflexão, que pode ser entendida como a ação de examinar o conteúdo por meio do entendimento, da razão. A experiência externa utiliza os órgãos dos sentidos para a apreensão do objeto e a experiência interna limita-se a comparar os diferentes dados da experiência externa. Contudo, é possível através da reflexão intuir (ter uma ideia) se fará sol ou chuva ou ainda se alguém concordará conosco ou não. Evidentemente, como qualquer tipo de conhecimento, tal ideia poderá ser verídica ou não. Só o tempo e a experiência dirão se ela foi verdadeira ou falsa. Dentre as vantagens desse tipo de conhecimento poderíamos destacar: � A possibilidade de formular juízos e ideias rápidas diante de situações que exigem agilidade independente das experiências sensoriais; � Permitir que o homem vá além das experiências sensíveis formulando juízos com base em experiências anteriores ou no bom senso; � Favorecer o pensamento através de uma reflexão interior. IMPORTANTE: Como veremos a seguir, para os empiristas não existe conhecimento a priori, sendo a única fonte de conhecimento a experiência sensorial. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 13 - CONHECIMENTO EMPÍRICO OU DE SENSO COMUM Também conhecido como conhecimento sensório ou vulgar, o conhecimento empírico é o conhecimento popular, e como tal, a forma mais tradicional de conhecimento sobre algo. Nesse tipo de conhecimento, a realidade é conhecida através da sensação de suas características principais. Trata-se de um conhecimento que se obtêm ao acaso, ele não é metódico ou sistemático, resultando muitas vezes em diversas tentativas de ensaio e erro sem qualquer compromisso com a apuração ou análise mais aprofundada. Todo ser humano, no transcurso de sua existência, vai acumulando conhecimentos daquilo que viu, ouviu, provou, cheirou e pegou; do mesmo modo vai acumulando vivências e interiorizando as tradições da cultura da comunidade. Na verdade, estas experiências (empirias) - que não atendem critérios e sistemas são ingênuas por suas visões generalistas e desprovidas de críticas e demonstrações - oferecem informações de tradições dispensando as análises de credenciais de testemunhos, embasando-se nos fundamentos das crenças tradicionais de uma comunidade. É óbvio que todo ser humano bem informado traz consigo “conhecimentos” de “psicologia”, “farmacologia”, especialmente algumas mulheres que já tiveram filhos, se vêem “habilitadas” para dar gratuitamente “consultas” e “receitas infalíveis” para as cólicas do recém-nascido e para qualquer dor de cabeça, tem conhecimento de um comprimido ou chá eficaz para o alívio; entretanto, ignoram a composição do comprimido, a natureza da dor de cabeça e a ação do medicamento. E é isto que caracteriza o VOCÊ SABIA? Durante um longo período de tempo a ciência priorizou o conhecimento científico em detrimento do conhecimento dito vulgar. Contudo, hoje sabe-se que sérias pesquisas no campo científicosó foram possíveis graças a constatações do senso comum. EXEMPLIFICANDO: Um exemplo muito simples do conhecimento empírico seria o seguinte: A chave está emperrando na fechadura e, de tanto experimentarmos formas de abrir a porta, acabamos por descobrir (conhecer) um “jeitinho” mais eficiente de girar a chave sem emperrar. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 14 conhecimento vulgar ou empírico, pois o conhecimento das coisas ocorre de modo superficial, seja por informação ou experiência casual (ações não planejadas). Cabe ressaltar que, para qualquer homem, a porção maior de seus conhecimentos pertence à classe do conhecimento vulgar. Ninguém precisa estudar lógica e aprofundar-se em teorias sobre validação científica da indução ou nas leis mais formais do raciocínio dedutivo para ser natural e lógico; ninguém precisa devotar-se aos estudos mais avançados da psicologia e qualquer outra ciência de saúde para integrar-se na família, no trabalho, na sociedade assim como ninguém precisa ser teólogo para adotar uma religião e ter suas convicções mais profundas da ciência, uma vez que as convicções são subjetivas e se traduzem por uma absoluta fixação de enunciados evidentes ou não, verdadeiros ou não. Vejamos alguns exemplos de aplicações resultantes do conhecimento Empírico: � A invenção da roda; � A descoberta do fogo; � A medicina popular. - CONHECIMENTO FILOSÓFICO A palavra “filosofia” tem sido empregada com significados muito diferentes entre si. O significado etimológico da palavra de origem grega significa “amor ao conhecimento”. A tarefa básica do conhecimento filosófico é a reflexão continuada. Os antigos gregos chamavam de “filósofos” os homens mais sábios, que apresentavam as explicações mais razoáveis na sua época para os mistérios da natureza, do pensamento, do universo. GLOSSÁRIO: :: Teoria: Nome dado ao sistema organizado de leis, hipóteses, conceitos, definições interligadas e coerentes. A teoria especifica a causa ou mecanismo subjacente responsável pela regularidade descrita na lei. Ex: Teoria Geocêntrica sustentada por Aristóteles, Euclides e Ptolomeu, que foi substituída pela Teoria Heliocêntrica sustentada por Copérnico e Galileu. IMPORTANTE: Ao contrário dos empiristas, os racionalistas defendem que o verdadeiro conhecimento não é fruto de uma experiência sensorial, mas se dá através de uma argumentação racional baseada em axiomas. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 15 O conhecimento filosófico é caracterizado pela coerência lógica da argumentação, isto é, da trama dos conceitos articulados em determinada formulação de ideias. Na construção desse tipo de conhecimento não há necessidade de uma confirmação experimental. Ele se distingue do conhecimento científico pelo objeto de investigação – constituído por realidades que muitas vezes escapam aos sentidos e a experiência – e pelo método que se baseia basicamente na interrogação continuada. A Filosofia procura compreender a realidade em seu contexto mais universal. Não traz soluções definitivas para o grande número de questões, contudo leva o ser humano a fazer uso de suas faculdades para ver melhor o sentido da vida (Cervo e Berviam, 2002). O campo da Filosofia ultrapassa o campo de todas as ciências. Por sua dimensão mais ampla abarca todas as ciências sem, contudo, pretender substitui-las no estudo particular de seus objetos específicos. Veja alguns exemplos de aplicações decorrentes do conhecimento Filosófico: � A Matemática; � A Teoria do Conhecimento; � A Lógica. - CONHECIMENTO TEOLÓGICO OU DE FÉ De cunho religioso e místico, o conhecimento teológico ou de fé se detém na opinião de terceiros, de modo especial através da chamada “revelação”. Existem objetos da realidade a nossa volta que escapam tanto aos nossos sentidos quanto ao nosso raciocínio, impedindo assim, que deles tenhamos dados empíricos ou lógicos. Por exemplo: não sabemos ao certo o que alguém está pensando ou sentindo, assim como não sabemos o que GLOSSÁRIO: :: Método: A palavra método originou-se do grego “methodos”, que significa caminho. Trata-se da “maneira” de se saber ou fazer algo. PARA SABER MAIS: A Filosofia é a área do conhecimento voltada para o estudo de problemas fundamentais através da reflexão e da lógica. Dentre eles podemos destacar o estudo da existência, do conhecimento, da verdade, dos valores éticos e morais, da mente e da linguagem. Para saber mais recomendamos a leitura do clássico de Marilena Chauí: CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 9.ed. São Paulo: Ática, 2003. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 16 acontecerá conosco depois de nossa morte biológica. Nesses casos lidamos com essa realidade através da opinião de terceiros (revelação) aceita como verdade. O conhecimento revelado ocorre quando há algo oculto ou um mistério. Aquele que manifesta o oculto é o revelador – que pode ser o homem ou o próprio Deus. Em geral a fé teológica está ligada a alguém que testemunha Deus diante de outras pessoas, isto é, alguém que vive o mistério divino, que tem conhecimento dele e o revele a outra pessoa. Uma igreja, por exemplo, seria constituída por um conjunto de pessoas que vive esse milagre, acredita no mesmo e dá testemunho deste a outros. As verdades do conhecimento teológico estão dispostas em textos como a Bíblia e o Alcorão, considerados sagrados, ou ainda na tradição que nos é transmitida por terceiros (padre, rabino, pastor, etc.). Não adianta queremos buscar evidências para a Eucaristia ou a realização de um milagre. Ou se acredita naquilo, através dos textos sagrados e tradições religiosas, como dogma, isto é uma verdade inquestionável, ou não. Como afirma Ruiz (1980): “Se tudo o que está na Bíblia encerra a própria ciência divina comunicada por Deus aos homens; se Deus merece todo crédito e exige que os homens revelem sua palavra, que não se procure a evidência dos conteúdos da revelação divina, mas que se aceite o dogma porque assim foi divinamente revelado”. (p. 33) O conhecimento teológico supõe uma autoridade e uma lógica acima da compreensão humana, isto é, uma lógica e uma compreensão de ordem divina. A teologia não demonstra o dogma, clama para a autoridade divina que o revelou e exige um voto de confiança (fé). A teologia mostra a existência e a necessidade de uma especial iluminação divina para que o fiel consiga conhecer a verdade divina da revelação. A fonte e o objeto de estudos da teologia são os livros sagrados. GLOSSÁRIO: :: Alcorão: O Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos assim como a Bíblia o livro sagrado dos cristãos. IMPORTANTE: Este tipo de conhecimento é adquirido a partir dos axiomas da fé teológica. É fruto da revelação com uma divindade diretamente ou através de indivíduos inspirados. MÉTODOSE TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 17 A ciência, nascida da razão, só admite o que foi provado, na exata medida em que se podem comprovar experimentalmente, promovendo desta forma, o conhecimento, a partir da evidência dos fatos. A Filosofia por sua vez também valoriza a lógica e os dados racionais. A diferença entre estes e o conhecimento teológico é que este exige a fé que brota do desejo e da submissão, a partir da autoridade divina. Por isso, tanto a ciência quanto a Filosofia, não se baseiam no conhecimento de fé. Como contribuições advindas do conhecimento teológico ou religioso poderíamos citar: � O desenvolvimento dos valores morais; � A criação de princípios e teses sobre o sentido da vida; � O cultivo da caridade e da esperança fundamentais para a vida em sociedade. - CONHECIMENTO CIENTÍFICO O conhecimento científico vai além do fenômeno em si, se voltando para suas leis, causas e consequências, através capacidade de analisar, de explicar, de desdobrar, de justificar; de induzir ou aplicar leis, de predizer com significativa e em alguns fenômenos com absoluta margem de segurança, eventos futuros. Para Cervo e Berviam (2002), até a Renascença o conhecimento científico era tido como o conhecimento obtido a partir de um rígido sistema de proposições rigorosamente demonstradas, constantes e gerais que expressavam as relações existentes entre os seres vivos. Trata-se de um conhecimento resultante da demonstração e da experimentação que só aceitava como verdadeiro aquilo que fosse comprovado. Hoje a concepção de ciência mudou. É óbvio que ela contínua valorizando a razão, a GLOSSÁRIO: :: Ciência: Segundo Ander-Egg (1991): “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza”. (Ander-Egg apud Lakatos, p. 15) GLOSSÁRIO: :: Leis: Regras de como a natureza se comporta. Enunciados generalizadores que descrevem relações constantes entre os fenômenos. Ex: Lei da queda livre, Leis de Newton, Lei da Conservação da Matéria MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 18 sistematização e a comprovação através da pesquisa, contudo sabe-se que a ciência não é algo acabado, definitivo e infalível. Não sendo de forma nenhuma “a posse de verdades imutáveis” (p. 9). Atualmente a ciência é entendida como: “uma busca constante de explicações e de soluções, de revisão e de reavaliação de seus resultados, apesar de sua falibilidade e de seus limites”. (Id., p. 10). Contudo, definitivamente a ciência não é ideologia (que busca a justificação de posições vantajosas especialmente para quem está no poder) assim como também não é mero senso comum (conhecimento acrítico e crédulo) ou simples bom senso. Citaremos algumas das principais características do conhecimento científico: � Visa conhecer e explicar os fenômenos; � É sistemático e metódico; � É crítico, rigoroso e objetivo; � Consolida-se na certeza das leis demonstradas; � Procura as relações entre os componentes do fenômeno para enunciar as leis gerais e constantes que regem estas relações; � Justifica e demonstra os motivos e fundamentos de suas conclusões; � Estabelece leis válidas para todos os casos da mesma espécie que venham a ocorrer nas mesmas condições; � Resulta de um processo complexo de análise e de síntese; � Fundamenta-se na objetividade e evidência dos fatos. Além disso, o conhecimento científico busca sempre cultivar a coerência (ausência de contradição e argumentação bem estruturada e fundamentada); a consistência (capacidade de responder a argumentações contrárias); a originalidade (criativa e inventiva) e a objetividade (entendimento claro de determinado objeto de estudo como o mesmo é de fato). PARA REFLETIR: Dentre as características do conhecimento científico citadas escolha duas que você considera mais importantes para caracterizar este tipo de conhecimento e justifique sua escolha. __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ __________________ MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 19 Nos últimos 350 anos de história da humanidade, constatamos que a Terra é um planeta; que o Sol é uma estrela de quinta grandeza, que as órbitas dos planetas são elípticas, que os corpos biológicos são compostos de células, que os corpos físicos se formam e se sustentam em várias cadeias de átomos, que a luz é um fenômeno físico, dentre outras inúmeras descobertas, estimamos que o homem teria de 20 a 25 mil genes dentre outras inúmeras descobertas. Entendemos certas leis do universo e criamos instrumentos e ferramentas que ampliaram nossos sentidos e elevaram nossa qualidade de vida. Todas essas descobertas e invenções servem para exemplificar a importância do chamado espírito científico. 1.2 SOBRE O ESPÍRITO CIENTÍFICO O chamado “espírito científico” pode ser entendido como uma atitude ou disposição subjetiva que busca constantemente novas soluções, com métodos adequados, para problemas e interrogações que caracterizam a pesquisa. Na prática, o espírito científico traduz-se pelo estímulo continuado a uma mente crítica, objetiva e racional, sendo, portanto, algo a ser continuamente cultivado, desde a educação infantil até a educação superior. A objetividade é uma característica básica do espírito científico. O que vale não é o que o cientista imagina ou pensa, mas sim o que realmente existe. Uma objetividade que não aceita soluções parciais ou pessoais – o “eu acho...”, ou “penso ser assim...”; não satisfazem à objetividade do saber científico. IMPORTANTE Por isso no que se refere à escrita de qualquer trabalho acadêmico não se deve usar termos como “eu acho”, “penso”, “acredito”, “deve ser isso”, pois os mesmos fogem a objetividade científica fazendo com que o trabalho se assemelhe a opiniões de senso comum ou crenças pessoais. PARA VER: Para entender melhor os tipos de conhecimento apresentado nas páginas anteriores, vale conferir o vídeo da professora Rosângela Enéas disponibilizado no site: https://www.youtube.co m/watch?v=KlxNr5nSJA8 MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 20 QUALIDADES DO ESPÍRITO CIENTÍFICO: A partir do que aprendemos sobre o espírito científico podemos apontar algumas de suas principais qualidades: - Virtude Intelectual Senso de observação, gosto pela precisão e pelas ideias claras. Imaginação ousada, mas regida pela necessidade da prova; - Curiosidade: Leva o sujeito a aprofundar os problemas na sagacidade e poder de discernimento; - Humildade: Moralmente o espírito científico assume a atitude de humildade e de reconhecimento de suas limitações, das possibilidades de certos erros e acertos e enganos; - Imparcialidade: O espírito científicoé imparcial. Não torce os fatos. Respeita escrupulosamente os fatos; - Não é Acomodado: Procura manter sempre em constante estado de vigília a curiosidade e a postura investigativa necessário ao desenvolvimento de uma pesquisa; - Honestidade: Não admite como seu o que os outros já fizeram (Plágio); busca se comprometer com a verdade dos fatos que investiga; - Coragem: Enfrenta os obstáculos e riscos que uma pesquisa possa oferecer; - Ética: Assume a atitude de humildade e de reconhecimento de suas limitações, da possibilidade de cometer erros e PARA REFLETIR Quais dentre as qualidades citadas você considera mais desafiadoras? Que outra qualidade você julga ser importante para os que desejam cultivar um espírito científico? Não deixe de ir registrando suas reflexões. Busque resolver os exercícios abaixo e até nossa próxima unidade MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 21 enganos e de reconhecer outros trabalhos científicos tão ou mais importantes do que o seu. As qualidades do espírito científico elencadas podem ser traduzidas como valores que deverão ser cultivados por você na elaboração de seu trabalho monográfico ou qualquer outro tipo de trabalho científico que pretenda desenvolver. Esperamos que essa primeira unidade reforce em você estas qualidades, de modo a fortalecê-las ainda mais e auxiliá-lo em suas futuras produções de conhecimento científico de forma eficiente e ética. - EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO EXERCÍCIO 1: ______________________ A partir do que estudamos procure responder as questões abaixo com suas palavras: A) Defina o que é conhecimento? B) Explicite qual é a importância do conhecimento científico para o desenvolvimento da sociedade? C) Aponte as principais diferenças do conhecimento científico em relação aos demais estudados nesta unidade? D) Explique por que podemos afirmar que nem sempre o conhecimento tem um papel libertador? PARA VER: Veja um interessante vídeo de uma palestra do físico Marcelo Gleiser intitulado “A Nova Ciência e a Manutenção da Vida”. Procure entender até que ponto sua fala vai de encontro ao que conversamos nessa unidade sobre conhecimento e ciência. https://www.youtube.co m/watch?v=zQrGQJbyfho MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 22 EXERCÍCIO 2: ______________________ Preencha a tabela abaixo, referente a alguns dos diferentes tipos de conhecimento, a partir de algumas de suas principais características e diferenças. Bom trabalho! Tipos Características: Conhecimento Empírico Conhecimento Teológico Conhecimento Filosófico Conhecimento Científico DEFINIÇÃO: (Pode ser entendido como:) FUNDAMENTAÇÃO: (Se baseia em:) FUNÇÃO: (Serve para:) EXEMPLO PRÁTICO: MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 23 Objetivos: • Compreender o conceito de ciência e sua trajetória histórica; • Diferenciar os diferentes tipos de raciocínio utilizados no método científico; • Entender melhor o contexto que favoreceu o aparecimento e desenvolvimento do método científico; • Refletir sobre o papel e a importância da ciência em nossos dias. Unidade 2 A Ciência e sua História MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 24 2.0 O ALVORECER DA CIÊNCIA ____________________________________________ Não é exagero afirmar que a Ciência é fruto direto da evolução do homem no decorrer de sua história. Convido você a examinar essa afirmativa a partir de três momentos que antecedem o pensamento científico e traduzem essa evolução do homem e da ciência no decorrer de sua história. Oliveira (2011) destaca que, antes do surgimento da ciência propriamente dita, dois momentos importantes caracterizaram a forma do homem conhecer e lidar com o desconhecido a sua volta: o medo e o misticismo. O primeiro momento do alvorecer da humanidade é marcado pelo medo. Uma vez que nossos ancestrais não detinham formas de lidar com aquilo que não conheciam (e esse desconhecimento englobava tantos as alterações climáticas quanto as mudanças que se processavam em seu próprio corpo) a primeira reação que o ser humano experimentou diante de toda essa complexa e ininteligível realidade foi o medo e o espanto. O segundo momento, destacado por Oliveira (2011) que igualmente antecedeu a ciência foi o misticismo. Frente ao que ignorava e não sabia explicar o homem buscou vencer o medo através de crenças e superstições. Essa era uma forma eficiente de lidar com todo tipo de dúvida e incerteza associada a ignorância daquilo que acontecia consigo e a sua volta. Assim, a erupção vulcânica era associada a ira divina, a boa colheita a vontade do deus X, o sucesso na caça ao deus Y, num jogo funcional de bênçãos e maldições. Esse pensamento mágico favoreceu a transformação do medo em algo bem mais aceitável e de certa forma até “controlável”. PARA SABER MAIS: A ciência inaugurou uma nova mentalidade. Após 2500 anos em que a curiosidade humana se satisfez com explicações baseadas na imaginação e no misticismo a ciência marcou um novo momento da história da humanidade. Para saber mais sobre o triunfo do pensamento científico no mundo contemporâneo é recomendável a leitura da obra de ROSA, A. A Ciência e o Triunfo do Pensamento Científico no Mundo Contemporâneo. Vol. III. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. 2ª ed MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 25 Um terceiro momento apontado por outros autores como o pensamento pré-científico seria o pensamento filosófico, marcado pela observação e reflexão lógica. A Filosofia surgiu com o objetivo de romper com o pensamento mítico e promover uma nova interpretação da realidade baseada na razão. Como já estudado na unidade anterior, a Filosofia é considerada a mãe da Ciência por valorizar o pensamento racional, a reflexão lógica e sistemática. Todavia, ao contrário da Ciência a Filosofia não se preocupa necessária com a comprovação ou mensuração daquilo que é observado. Indo muito além do observável. A Filosofia lida constantemente com hipóteses que não podem ser submetidas a observação ou verificação. O critério de verdade da Filosofia é a coerência lógica de seus enunciados e proposições. O papel da Filosofia sempre foi o de interrogar a realidade e o homem enquanto ser inserido tanto em seu contexto sócio histórico como em um âmbito mais universal. A questão é que não existem soluções definitivas para o grande número de questões que ela ser propõe a formular considerando sua natureza. Finalmente o último momento dessa evolução das diferentes formas de entendimento da realidade foi o surgimento da própria ciência tendo em vista os conhecimentos anteriores deixavamlacunas e não ainda não davam conta da explicitar a realidade na sua complexidade de forma satisfatória. Nesse contexto surgiu então o pensamento científico com sua metodologia diferenciada. A ciência não se contenta com explicações lógicas e sim em uma observação criteriosa e sistemática que favoreça a comprovação das afirmativas com base na demonstração e experimentação. Por um lado o conhecimento científico é o mais restrito dentre todos os tipos de conhecimento IMPORTANTE: Todos os tipos de conhecimentos enunciados na unidade anterior são válidos. Não existe um conhecimento melhor do que outro e sim conhecimentos diferentes que servem a objetivos diferentes. Assim sendo, deduz-se que existem conhecimentos mais adequados a determinadas situações do que outro, mas não conhecimentos melhores do que outros. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 26 apresentados na unidade anterior de promover conhecimento sobre a realidade, na medida em que exige uma comprovação de seus enunciados. Todavia, ele é também o mais sofisticado dentre os demais, em função da sistematização, do rigor e da objetividade do método científico que favorece um conhecimento mais aprofundado da realidade. Como já foi dito na introdução desse trabalho, isso não significa, em nenhuma hipótese, que a ciência seja produtora de verdades absolutas, ou mesmo, geradora do único conhecimento verdadeiramente válido para entender a realidade. Não se trata aqui de desconsiderar a importância de outras formas de conhecimento a partir da valorização do conhecimento científico e sim de reconhecer os avanços e descobertas promovidos pela ciência em busca de aproximação da realidade. Do mesmo modo, devem-se levar em consideração que na efetivação do método científico, através da pesquisa, as escolhas mais significativas recaem justamente sobre os aspectos filosóficos, éticos, sociais, políticos e culturais, motivo pelo qual muitos autores como Japiassu (1981) duvidam da chamada “neutralidade da ciência”. 2.1 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO A passagem através dos três momentos anteriormente analisados até chegarmos ao pensamento científico (medo, pensamento mítico e reflexão filosófica) se deu de forma gradual através de diferentes fatores como a valorização da escrita, as grandes navegações, o contato com outros povos, o estabelecimento de princípios legais organizadores da vida em sociedade, o surgimento do calendário e outros. Segundo Araújo (2011), tais transformações foram decisivas para uma visão científica primária que perdurou até sua substituição no mundo PARA SABER MAIS: A dita “neutralidade da ciência” é extremamente discutida e questionada. O mito da neutralidade científica baseia-se no pressuposto de que a objetividade dos métodos científicos é suficiente para romper com a subjetividade dos pesquisadores e que assim a ciência é imparcial. A questão é que as escolhas feitas pelo cientista desde a escolha do objeto de estudo são influenciadas por questões de ordem diversa de cunho social, cultural, religioso, político associadas as ideologias do cientista. O cientista não apenas observa seu objeto de estudo. Ele tem que interpretar os fatos que se por um lado são extremamente complexos; de outro são interpretados muitas vezes de acordo com a ideologia do cientista. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 27 ocidental pelo domínio do catolicismo e a religião cristã onde o conhecimento de fé e da autoridade religiosa se baseava no texto bíblico, fonte de todas as verdades. Isso se deu de tal forma que na chamada Idade Média a Igreja Católica serviu de marco referencial para todas as ideias debatidas na época. Uma vez que o saber era retido nos mosteiros a população em geral não participava do acesso e muito menos da construção desse saber. Qualquer saber que fosse contrário as afirmativas bíblicas era negado e considerado herético. Apenas no final da Idade Média foi possível vislumbrar uma mudança nesse quadro quando Tomás de Aquino buscou, através dos ensinamentos deixados por Aristóteles, conciliar a fé com a razão. Tida apenas como uma auxiliar para a fé a razão nunca podia, até então, se opor a fé, uma vez que esta era tida como um dogma, ou seja, uma verdade inquestionável. Com Tomás de Aquino, foi possível entender que era possível a formulação de conhecimentos verdadeiros tanto por meio da fé quanto da razão, não sendo estas antagônicas. A crise teológica derivada desse pensamento, onde os milagres, por exemplo, não poderiam contrariar as leis da lógica (precisavam ser comprovados logicamente), fez com que muito da intervenção divina sobre a humanidade só pudesse ser explicada através da fé. Muitos autores concordam que esse foi o momento propício para o fortalecimento do humanismo e das ideias renascentistas responsáveis pela valorização da ciência, da arte e da filosofia como representantes legítimos da produção de conhecimento humano. De um lado havia os teólogos que debatiam os dogmas e verdades religiosas e de outro os estudiosos e cientistas que tentaram entender a realidade através de outros meios diferenciados do conhecimento religioso como a lógica e a observação sistemática. VOCÊ SABIA? Importante pensador, Teólogo, filósofo e padre dominicano, São Tomás de Aquino é considerado o maior representante da Escolástica (linha filosófica medieval de base cristã). Seus escritos eram inovadores por valorizarem a atividade, a vontade e a razão e conciliarem o pensamento aristotélico com a fé cristã. Foi declarado santo e doutor da igreja em 1323. GLOSSÁRIO: :: Herético Aquilo que contém heresia, ou seja, uma doutrina ou linha contrária ou diferente de um determinado credo ou sistema doutrinal organizado. O termo serve também a qualquer tipo de deturpação a uma ideologia ou paradigma constituído. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 28 No final da Idade Média com o avanço do Renascimento (séculos XV e XVI) - que valorizava as diferentes expressões do pensamento em sua multiplicidade - e o Iluminismo (XVII e XVIII) - que propunha a valorização da luz da razão sobre as trevas das crenças e dogmas religiosos - a hegemonia dos estudos sobre a vida passaram definitivamente das mãos da igreja para a ciência. É válido destacar, entretanto, que embora muitos membros do corpo eclesial tenham abandonado seus estudos o que fez com que a Igreja Católica fosse ao longo do tempo uma das mais religiões mais associadas a descobertas científicas e patrocinadora de estudos científicos (WOODS, 2012). O auge da ciência tal como a conhecemos se deu no século XIX onde a produção científica passou a ser sinônimo de verdade e tudo que não fosse científico não era digno de importância. Dentre os avanços nesse período merece destaque a Teoria da Hereditariedade das Espécies (Teoria da Evolução) de Charles Darwin; a criação e desenvolvimento da Sociologia por Auguste Comte e a leitura de sociedade através das questões socioeconômicas proposta por Marx e Engels. 2.2 AS TRÊS CONCEPÇÕESDE CIÊNCIA: Segundo Marilena Chauí (2000) a ciência se desenvolveu até seu estágio atual a partir de três concepções diversas que marcaram o que conhecemos como ideal de cientificidade. São elas: - a concepção racionalista (baseada na matemática como modelo de racionalidade); - a concepção empirista (baseada na observação criteriosa e experimentação) e por fim: VOCÊ SABIA? Segundo Charles Darwin (1809-1822), naturalista inglês, os organismos mais bem adaptados ao meio tem maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados deixando assim um maior número de descendentes. Ao longo das gerações a atuação desta seleção natural sobre esses descendentes melhora a adaptação destes ao meio. GLOSSÁRIO: :: Iluminismo O iluminismo conhecido como Século das Luzes (1790-1800) foi um movimento global, ou seja, filosófico, político, social, econômico e cultural, que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. O centro das ideias e pensadores Iluministas foi a cidade de Paris. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 29 - a concepção construtivista (que vê o papel da ciência como a formuladora de modelos próximos da realidade, mas não a realidade em si). Tanto a concepção racionalista como a concepção empirista tem sua origem com os gregos e se estende até o final do século XVII. Segundo esta concepção a ciência é um conhecimento racional e dedutivo semelhante a matemática e, como tal, deve ser capaz de elaborar enunciados e atingir resultados que seriam verdades universais sem que existam sobre os mesmos qualquer tipo de dúvida. O conhecimento nessa concepção é obtido inteiramente pela teoria e o objeto de conhecimento seria a realidade. Assim sendo, as experiências científicas serviriam apenas para verificar e confirmar as proposições teóricas. Na Concepção Empirista, por sua vez, que se estendeu até o século XIX, existe uma inversão da concepção anterior no que tange a teoria e experimentação. Enquanto na concepção racionalista a experimentação se dá a partir da formulação teórica. Nesta concepção a ciência resulta basicamente das observações dos experimentos que permitem estabelecer induções que vão favorecendo a compreensão do objeto de estudo e a formulação teórica. O elo comum das duas concepções citadas (racionalismo e empirismo) é o fato de que ambas entendem a teoria como uma explicação aceitável e verdadeira da realidade. Ou seja, a teoria científica é uma explicação da própria realidade tal como ela é. Por fim a concepção mais recente é a concepção construtivista que entende a ciência como um instrumento de criação de modelos que embora se aproximem da realidade, não dão conta da realidade em si mesma. Nesse sentido, mesmo usando o estabelecimento de postulados (típico dos racionalistas) e a experimentação PARA ACESSAR: Para saber mais sobre as discussões entre racionalismo e empirismo recomendamos a leitura do artigo de Cadja Portugal intitulado “Discussão sobre Empirismo e Racionalismo no Problema da Origem do Conhecimento” disponibilizado no site: http://www.ftc.br/revis tafsa/upload/art02_Con hecimento.pdf MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 30 ativa (mais associada ao empirismo), a concepção construtivista defende que a ciência não busca verdades absolutas e sim verdades aproximadas da realidade que vão sendo aperfeiçoadas a partir da descoberta de novos estudos e desenvolvimento de novos instrumentos de pesquisa. Valoriza-se assim “a ideia de um conhecimento aproximativo e corrigível” (CHAUÍ, 2000, p. 321). Karl Popper (1980) compactua com esse pensamento ao criticar duramente o pensamento positivista. Para ele a ciência sempre avança por meio da refutação das teorias já existentes de modo que a refutação de uma teoria implica na formulação de novas teorias mais aptas e avançadas para explicar a realidade. 2.3 FORMAS DE RACIOCÍNIO CIENTÍFICO: O debate sobre o método científico no século XX se deteve também nas características e diferenças entre os duas formas de raciocínio bastante utilizadas no campo da ciência: o método indutivo e o método dedutivo. Examinemos cada um deles cuidadosamente para entendemos bem a lógica que cada raciocínio encerra: a) O Raciocínio indutivo (Método hipotético indutivo): Este tipo de raciocínio parte de casos particulares para a formulação de uma conclusão geral. Ele pode ser estruturado em duas etapas: Etapa 1: Definição de Premissas a partir da observação sistemática da realidade visando entender seus fenômenos constituintes e as relações entre os mesmos. Etapa 2: Conclusão: A relação entre os fenômenos anteriormente observada é valorizada e generalizada (ampliada) para outros fenômenos de características semelhantes que não forma observados. PARA LER: Se você deseja se aprofundar mais no pensamento de Karl Popper recomendamos a leitura de duas obras. A primeira para leigos é a boa introdução ao seu pensamento escrito por Luis Peluso e a segunda uma obra do próprio Karl Popper que sintetiza muito de suas ideias. Boa leitura: PELUSO, L. A Filosofia de Karl Popper. Campinas: Papirus, 1995. POPPER, K. Conjecturas e Refutações. Brasília: UnB, 1980. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 31 Vamos ver um exemplo para entender melhor? Premissas: - A prata transmite eletricidade; - O cobre transmite eletricidade; - O níquel transmite eletricidade Conclusão: Todos os metais transmitem eletricidade. A generalização que este método defende a existência de leis estáveis que regeriam a natureza de tal modo que, a partir de condições semelhantes, as mesmas causas produziriam os mesmos efeitos. O problema desse tipo de raciocínio e que mesmo que as premissas estejam corretas, isso não significa que a conclusão também esteja. No caso acima, é possível descobrir um metal que não transmita eletricidade ainda que a maioria tenha essa propriedade. O raciocínio dedutivo (Método hipotético Dedutivo) em oposição ao método indutivo parte de premissas gerais para chegar a conclusões específicas (particulares). Ele também se dá em duas etapas. Etapa 1: Afirmar uma verdade válida para um caso geral e identificar um caso particular que se insira nesta verdade; Etapa 2: Afirmar que a verdade válida para o caso geral também seria para o caso particular. PARA PRATICAR: Formule outro exemplo para o raciocínio Indutivo e para o raciocínio dedutivo. ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ ___________________ __________________MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 32 Vejamos um exemplo então: Premissa geral: Todo ser humano precisa respirar para viver: Caso particular: Você que lê este caderno é um ser humano. Conclusão: Logo você também precisa respirar para viver. O desafio associado a esse raciocínio é que ele precisa partir de premissas verdadeiras, pois se as premissas forem inverídicas a conclusão obtida também será. Ainda que tenha alguma lógica. Atualmente as pesquisas acadêmicas utilizam um ou outro dos dois métodos citados em função do objeto de estudo, sua(s) área(s) e o tipo de pesquisa que se pretende desenvolver. Um exemplo claro e atual que poderíamos utiliza para ilustrar a forma como o conhecimento científico tem sido produzido hoje é o método da problematização (mais associado ao método hipotético dedutivo) viabilizado através do Arco de Charles Maguerez. 2.4 O Arco de Maguerez Essa metodologia de pesquisa, também denominada de metodologia do arco, tem como ponto de partida e também de chegada a relação: “ação-reflexão-ação” estimulando a experiência e análise crítica de forma continua sendo marcada por cinco etapas inter-relacionadas (Maguerez apud Bordenave, 1991): a) Observação da realidade e formulação de problema; b) identificação/formulação de pontos chave; c) Teorização; d) Construção de hipótese(s) de solução(ões); MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 33 e) aplicação à realidade. Vejamos cada uma dessas etapas voltadas para o processo de construção do conhecimento científico: a) Observação da realidade: A partir do tema/objeto de estudo pré-definido, o pesquisador parte da observação da realidade visando identificar elementos que serão problematizados; b) Identificação/Formulação de Pontos-chave: Por meio de uma análise crítica dos elementos identificados o pesquisador busca formular e hierarquizar diferentes causas para a existência do problema. A partir dessa hierarquia o pesquisador formula os pontos-chave (fatores determinantes) que deverão ser estudados sobre o problema; c) Teorização: Nessa fase os dados coletados e devidamente registrados são analisados e discutidos buscando-se um sentido para os mesmos. É nesse momento que o pesquisador se organiza tecnicamente para buscar, através da pesquisa bibliográfica (e webgráfica) uma solução PARA ACESSAR: O site abaixo apresenta um artigo de Prado, M. et alii (2012) sobre o uso do Arco de Maguerez no âmbito da pesquisa e na formação de profissionais da área da saúde. http://www.scielo.br/sciel o.php?pid=S1414- 81452012000100023&scr ipt=sci_arttext MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 34 para o problema encontrado, dentro de cada ponto- chave pré-definido; d) Hipóteses de Solução: A partir do conhecimento adquirido na fase anterior, ou seja, embasado teoricamente, o pesquisador formula hipóteses de solução dos problemas levantados; e) Aplicação à Realidade: O pesquisador busca nessa fase final aplicar as hipóteses de solução propostas à realidade estudada, como um retorno a primeira etapa de todo o arco. É esta etapa que possibilita ao pesquisador uma intervenção direta na realidade a partir das possíveis soluções obtidas. Normalmente desenvolvida em grupo, vale ressaltar que o resultados obtidos com um Arco de Maguerez pode servir ao início de muitos outros arcos. A riqueza desta metodologia e suas etapas reside na possibilidade de mobilizar diferentes habilidades intelectuais do pesquisador de forma orientada a formular hipóteses e buscar resultados aplicáveis a realidade (COLOMBO, A. e BERBEL, N., 2007). A partir do que foi analisado nestas duas unidades anteriores é possível entender a ciência como uma criação humana para entender e explicar os fenômenos da realidade. Sua contribuição para o progresso em diferentes âmbitos foi decisiva especialmente quando consideramos a cooperação entre ciência e tecnologia e o atual estágio do desenvolvimento técnico-científico em que nos encontramos e que nos surpreende dia a dia com uma novidade. Como esclarece Rosa (2012): “O Homo Sapiens que levara milhares de anos até a Revolução Agrícola e a descoberta na utilização dos metais para iniciar a Revolução Industrial, necessitaria apenas cerca de um século para ingressar na era do computador e da informática”. Nesse sentido é notório o triunfo do pensamento científico no mundo contemporâneo. PARA VER: Acompanhe pela internet esse interessante diálogo entre astrofísico Neil de Grasse Tyson e o biólogo evolucionário Richard Dawkins sobre o que Dawkins chama de realidade (ciência). Não deixe de conferir. http://www.scielo.br/sciel o.php?pid=S1414- 81452012000100023&scr ipt=sci_arttext MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 35 Na atual era do conhecimento a Ciência passa a se caracterizar por uma crescente complexidade teórica e experimental fazendo com que todos os seus ramos tenham evoluído em um ritmo consideravelmente acelerado. A obra mais individualizada do cientista vem dando lugar ao trabalho com um grupo de pesquisadores - e até mesmo redes de pesquisa - empenhado na busca de solução para os desafios do mundo contemporâneo (ROSA, 2012). As instituições de pesquisa, por sua vez, adquiriram uma posição cada vez mais acentuada de relevo na sociedade particularmente através da parceria público-privada. E ao que tudo indica parece não haver limites para a expansão do conhecimento científico, desde que os pilares éticos sejam preservados. - EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: DICA: Esta unidade apresenta apenas um pequeno resumo da trajetória evolutiva do conhecimento científico. Não se conforme apenas com essa singela contribuição. Busque conhecer mais essa curiosa história de como a ciência foi aos poucos se configurando como a forma de conhecimento mais reconhecida da contemporaneidade. EXERCÍCIO 1 __________ A partir da história que você teve a chance de conhecer, faça um breve resumo com tópicos dos momentos que você considerou mais marcantes na evolução do conhecimento científico: ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 36 EXERCÍCIO 2 __________Diferencie, com suas palavras, os métodos hipotético-indutivo e hipotético-dedutivo, enunciando duas de suas características e dando, pelo menos, um exemplo para cada um deles: MÉTODO HIPOTÉTICO-INDUTIVO MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO CARACTERÍSTICAS: CARACTERÍSTICAS: EXEMPLO: EXEMPLO: MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 37 Objetivos: • Esclarecer a importância do estudo para a vida acadêmica e fornecer dicas sobre como torná-lo mais eficiente ao processo de produção do conhecimento científico; • Apresentar diferentes técnicas de estudo como produção de fichas, esquemas, resumos e outros; • Contribuir para o aperfeiçoamento de seus estudos e desenvolvimento do espírito científico. Estratégias Eficazes de Estudo Unidade 3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 38 3.0 O hábito de estudar ______________________________________________ Um dos principais objetivos dos cursos universitários é o de desenvolver nos estudantes o espírito científico caracterizado pela produção acadêmica. Entretanto, pouco se conseguirá, neste sentido, se os iniciantes em trabalhos científicos não tiverem adquirido hábitos de estudo sistemáticos através da utilização de métodos e técnicas adequadas. Desse modo, a primeira etapa que o aluno precisa vencer para se tornar um estudioso é conhecer e utilizar procedimentos que possam favorecer seus estudos. Estudos realizados comprovam a validade de tal afirmativa. Severino (1994), por exemplo, adverte que o ensino superior exige dos universitários: � Autonomia no processo de aprendizagem e postura autônoma, didática rigorosa, crítica e criativa aplicada aos estudos; � Um projeto de trabalho intelectual individualizado, apoiado em material didático e científico que se constitui, basicamente, na consulta e análise da bibliografia especializada. Além disso, é sempre válido o conselho de Paulo Freire (1997) ao advertir que: “Estudar exige de quem o faz uma postura crítica, sistemática. Exige uma disciplina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a” (p.09). Sobre a pesquisa bibliográfica e a formação de um acervo pessoal, vale aqui algumas dicas: Existem livros fundamentais (por vezes clássicos) nas diferentes áreas do conhecimento que devem ser adquiridos ou IMPORTANTE: Em um curso distância estas exigências são extremamente válidas. Por isso se você quer ser bem sucedido em seus estudos nessa modalidade atenção as mesmas, OK? MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 39 pelo menos pesquisados. Do mesmo modo, a assinatura e/ou consulta de revistas especializadas é um hábito a ser cultivado, uma vez que os relatórios de pesquisa e as descobertas nas diferentes áreas do conhecimento, antes de aparecerem em livros, são publicados nestes meios. As revistas também oferecem a oportunidade de se ampliar a bibliografia sobre determinado assunto com novas e atualizadas referências. Atendem a essa mesma lógica as revistas eletrônicas como as revistas universitárias disponibilizadas online. É importante que o estudante universitário acostume-se com o ambiente das bibliotecas, embora em algumas delas o acervo seja limitado e pouco renovado. De qualquer maneira, o estudante deve frequentá-las, explorá- las. Grande parte das bibliotecas universitárias de hoje, é lá se encontram obras de referência geral, periódicos, livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado, etc. As bibliotecas são organizadas no sentido de auxiliar os leitores e pesquisadores. Assim, seu acervo se apresenta classificado por assunto, título e autor, em fichas individuais reunidas em fichários por ordem alfabética. Nas fichas, além de dados sobre a obra e o autor, está registrada a referência da obra (código da biblioteca), através da qual ela é localizada nas prateleiras. Muitas bibliotecas são informatizadas oferecendo uma alternativa de organização mais moderna. Atualmente existem uma série de revistas e artigos eletrônicos que vale a pena consultar e conhecer melhor de forma rápida, prática e dinâmica. As chamadas bibliotecas virtuais, por exemplo, são uma forma bastante otimizada e eficiente de ter acesso a uma bibliografia atualizada sobre aquilo que o estudante pesquisa. DICA: Cultive o hábito de tirar uma cópia de matérias de jornais ou revistas, uma vez que estas também podem ser aproveitadas futuramente em seus estudos e quem sabe até no seu trabalho monográfico. Caso seja mais fácil procure o sites dos jornais na internet e imprima a matéria desejada. Procure arquivar as mesmas por assunto de modo a facilitar sua consulta e aproveitamento posterior. PARA ACESSAR: Este site apresenta uma série de revistas eletrônicas da PUC-SP de diversas áreas onde é possível ler o conteúdo ou mesmo se cadastrar para receber as mesmas. Confira! http://revistas.pucsp.br/ MÉTODOS E TÉCNICAS DE ESTUDOS E PESQUISAS 40 Mesmo tendo o devido cuidado de citar apenas sites confiáveis, é impossível deixar de considerar a grande quantidade de material disponível na internet que ainda sequer foi publicado e, provavelmente, nem venha a ser. É possível ainda ter acesso a várias obras disponibilizadas na íntegra na internet (ebooks) por um preço bem mais acessível do que se estas fossem adquiridas. Além do estudo, através de fontes bibliográficas e webgráficas, outros importantes espaços de aprendizagem e intercâmbio de conhecimento são os encontros, seminários, congressos, palestras, mesas redondas etc., que devem acompanhar o estudante por toda sua vida acadêmica. A princípio como participante, em seguida fazendo pequenas comunicações e, no decorrer da vida acadêmica, integrando mesas-redondas, fazendo palestras, etc., particularmente em eventos associados a sua área de trabalho. Outro aspecto a considerar, principalmente por aqueles que não têm muito tempo, uma vez que precisam trabalhar e estudar, é o planejamento das atividades de estudo e a divisão adequada do tempo através de uma programação (um roteiro de trabalho). Não se pode fazer um curso se não houver tempo disponível para estudar e refletir. De fato, o estudante/pesquisador não pode deixar de programar “seu tempo”, pois sem essa administração do mesmo é difícil cumprir prazos de trabalho e fazer um estudo sério e aprofundado. Vale aqui observar algumas recomendações de Galliano (1986) sobre a utilização racional do tempo, um de nossos bens mais preciosos: “ - Planeje seu tempo: Essa é a forma correta de ganhar tempo para o estudo; - Procure utilizar melhor os períodos vagos em sua atividade profissional; PARA SABER MAIS: Para quem quiser tirar a prova do quanto a internet pode auxiliar o trabalho do pesquisador vale consultar o Scielo (http://www.
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