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1 LEI DE INTRODuc;Ao AO CODIGO CIVIL Par loiio Ricardo Brandao Aguirre 1.1. CONSIDERACOES GERAIS A Lei de Introducao ao C6digo Civil, Decreto-Lei nQ 4.657, de 4 de seternbro de 1942, constitui urn conjunto de normas que disciplinam a aplicacao e a interpretacao das pr6prias normas juridicas. Trata-se de legislacao autonoma ao C6digo Civil, pois se aplica a todos os ramos do direito e nao apenas ao direito privado, contendo prin cipios gerais sobre as normas. Urn conjunto de normas sobre normas. En1 seus dezenove artigos, a Lei de Introducao ao C6digo Civil «des creve as linhas basicas da ordem juridica, exercendo a funcao de lei gcml, por orientar a obrigatoriedade, a vigencia espacio-temporal, a interpreta ~ao e a integracao da lei e por tracar as diretrizes das relacocs de direito internacional privado" como bern observa Maria Helena Diniz 1. Deste modo, a Lei de Introducao ao C6digo Civil regula a vigencia e a eficacia da lei no tempo e no espaco, orienta a sua obrigatoriedade, fornece criterios de interpretacao (hermeneutica) e de integracao de nor mas, alern de conter normas de direito internacional privado. 1 MARIA I IELENA DINIZ. Curse deDireito Civil Brasileiro: Teoria Geraldo Direito Civil, IRa cd., Sao Panlo, Saraiva, 2002, III vol., p. 58. 23 DIREITO CIVIL 1.2. VIGENCIA DA LEI NO TEMPO Apos 0 proces:;o Iegrs.ativo que culmina com a sua prornulgacao c publ icacao, a norma juridica torna-se urn comando geral, disciplinando as situacocs juridicax q\1e ~c \.'L:ontram sob 0 seu imperio. Como bern observa Caio Mario da Silva Pereira', "C0111 a promulgacao, tem-se a lei autenticada e perfeita. Mas nao epossivel concebe-Ia como uma ordem geral, antes da difusao do seu texto que se realiza pela publicacao" COlTIO conseq lien cia, merecern especial atenc ao as q UCstCICS atinentes ao inicio da vigencia da lei, sua continuidade e 0 mornento em que CeSSalTI os seus efeitos. 1.3. INICIO DA VIGENCIA DA LEI Dispoe 0 art. 1Q da Lei de Introducao ao C6digo Civil que "salvo disposicao contraria, a lei comeca a vigorar em todo 0 Pais 45 (quarenta e cinco dias) depots de oficialmente publicada". Dessa forma, e possivel verificar que a obrigatoriedade da lei nao se inicia com a sua publicacao, a menos que exista expressa dispo sicao nesse sentido. Tarnbem pode haver disposicao determinando 0 inicio da vigcncia da lei em prazo superior aos 45 dias de que trata 0 art. 1Q da Lei de I ntrodu cao ao C6digo Civil, como eo caso, por exemplo, do prazo de urn ano para a entrada ern vigor do C6digo Civil de 2002, consoante estabelecido em seu art. 2.044. Portanto, pode-se concluir que a lei tera vigencia imediata se houver expressa disposicao nesse sentido, hip6tese em que entrara ern vi gor na data de sua publicacao. Por outro lado, 0 legislador pode dcterrninar 0 terrno inicial de vi gencia da norma, fixando-o em urn momento posterior adata de sua pu bl icacao, toda vez que julgar conveniente ao interesse publico a existencia de urn perfodo para a sua divulgacao e a adaptacao aos ditames da nova lei. Na falta de disposicao expressa do legislador, a lei entrara ern vigor no prazo de 45 dias a contar de sua publicacao. Dcnomina-se vacatio legis 0 intervalo entre a data de publicacao da lei e a sua entrada em vigor. Trata-se do periodo de vacancia da lei. 2 CAlO MARIO DA SILVA PEREIRA. lnstituicoes deVir-eito Civil, 20" cd., Rio de [anciro, Forcusc, 2004, vo1. 1, p. 115. 24 Cabe ressaltar que, se a lei brasileira for admitida no exterior, sua obrigatoriedade se inicia no prazo de tres meses ap6s oficialmente publicada (LICC, art. 1Q, § 1Q). Se, durante a vacatio legis, a lei sofrer uma correcao em seu texto, dando ensejo a nova publicacao, inicia-se a contagem do prazo para sua entrada em vigor a partir dessa nova publicacao, (LICC, art. 1Q, §3Q ) Por outro lado, se a mudanca no texto da lei for publicada ap6s a vacatio legis, devera ser considerada como lei nova, tornando-se obrigat6 ria ap6s 0 decurso do prazo de 45 dias ou de tres meses ap6s a sua publica cao, salvo disposicao em contrario, (LICC, art. 1Q, § 4Q ) 1.4. REVOGACAO DA LEI Em regra, a lei possui carater permanente, mantendo-se em vigor ate que seja revogada ou modificada por outra. Trata-se do principio da continuidade expresso pelo art. 2Q da Lei de Introducao ao C6digo Civil, que determina que a lei perrnanecera em vigor ate que outra a modifique ou revogue, salvo se estiver destinada a vigencia temporaria. Dessa forma, pode-se verificar que a lei tera vigencia por prazo indeterminado e deixara de produzir efeitos apenas se outra a modificar ou revogar. Todavia, sera de vigencia temporaria a norma juridica que apre sente um termo final de duracao fixado pelo legislador. Conc1ui-se, assim, que a norma em vigor perde eficacia com a sua revogacao ou com 0 advento do termo final de duracao, momenta em que deixa de ser obrigat6ria. A revogacao da lei apresenta duas especies: a ab-rogacao e a derrogacao. Ab-rogacao e a revogacao total de uma lei, enquanto a derrogacao consiste na revogacao parcial da norma anterior. Outrossim, a revogacao podera ser expressa ou tacita. Da-se a revogacao expressa quando a nova lei houver dec1arado extinta a norma antiga, em todos os seus dispositivos (ab-rogacao), Oll quando houver estabelecido quais os dispositivos que deixarao de produzir efeitos (derrogacao), 25 I I DIREITO CIVIL Neste sentido, estabelece a primeira parte do § }U- do art. 2Q da Lei de Introducao ao C6digo Civil que "a lei posterior revoga a anterior quan do expressamente 0 declare". 2 A revogacao tacita, por sua vez, decorre de sua incornpatibilida de com a lei antiga, em virtude de regular inteira ou parcialmente a mate ria tratada pela norma anterior, nos termos da segunda parte do § 1Q do art. Q da Lei de Introducao ao C6digo Civil. Ressalte-se que, salvo disposicao expressa em contrario, a lei nao possui carater repristinatorio, ou seja, a lei revogada nao se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigencia. Por outro lado, cabe ressaltar que, consoante dispoe 0 art. 6Q da LICC, a lei em vigor tera efeito imediato e geral, respeitados 0 ato juridico perfeito,o direito adquirido e a coisa julgada. .. , '.¢a qeds~()j}lgicialdequejan~<:>,~>: . ~aiba·'t~~f~ot~·,~;~~~~:;{fr~~;1;.)i1,r~··N~(,~--:(~,· .' 1.5. INTEGRA<;AO DE LEIS Quando a lei for omissa, 0 juiz decidira 0 caso de acordo com a analogia, os costumes e os principios gerais de direito, e na aplicacao da lei devera atender aos fins sociais a que ela se dirige e as exigencias do bern comum. 26 - 2 DAS PESSOAS Par [oiio Ricardo Brandao Aguirre 2.1. INTRODUCAO o Codigo Civil brasileiro disciplina as relacoes juridicas de direito privado, ou seja, regula as relacoes entre particulares, regulamentando os direitos e deveres de todas as pessoas e regendo suas relacoes obrigacionais, patrimoniais e familiares. Em sua Parte Ceral 0 Codigo Civil contern tres livros, que aprc sentam normas sobre as pessoas (Livro I - Das Pessoas), os bens (Livro 1I Dos Bens) e os fatos juridicos (Livro HI - Dos Fatos Iuridicos). Neste capitulo procederemos ao estudo das normas atincntes a pessoa natural e apessoa jundica. Para tanto, faz-se necessaria a cornprc ensao do conceito de personalidade e sua abrangencia. 2.2. PERSONALIDADE A personalidade consiste na aptidao generica para adquirir direi tos e contrair obrigacoes ou deveres na ordem civil. Toda pessoa edotada de personalidade, seja a pessoa natu ral (ser humane), seja a pessoa juridica (entidades morais). Deste 1110do, 0 ser humano, enquanto sujeito de relacocs juridicas, esta dotado de personalidade, assim como aqueles entes morais forrnados 27DIAEITO CIVIL por agrupamentos de individuos que se associam para a realizacao de fins econornicos ou sociais (sociedades e associacocs) ou aqucles que sc constituem mediante a destinacao de urn patrimoriio para Lllll firn deter 111 inado (fuudacoes) 1. 2.3. PESSOA NATURAL Q Codigo Civil dispoe, em seu art. 1Q que "toda pessoa ecapnz de dtreitos e deveres lUI oidem civil". Neste contexte, a pessoa natural e0 ser humane, sujeito das rela cocs juridicas, COIn aptidao para adquirir direitos e contrair obrigacoes. 2.3.1. Inicio da personalidade De acordo C0111 0 art. 2Q do C6digo Civil a personalidade civil se inicia COIn 0 nascimento com vida da pessoa natural. Porem, a lei pC)e a salvo os direitos do nascituro desde a sua concepcao. Ocorre 0 nascimento C0111 vida quando 0 feto eseparado do ventre rnaterno, inalando ar atmosferico, mesmo que por apenas alguns instantes. Assim sendo, para que se considere vivo e necessario que tenha respirado, C0111 a consequente entrada de ar em seus pulmoes. Au respirar, viveu - afirmando-se assim a sua personalidade civil. Rcssalvam-se, contudo, os direitos daquele ser ja concebido que ainda nan se separou do ventre materno, 0 nascituro. Existe em nosso ordenamento todo U111 sistema de protccao ao nascituro e ao resguardo de seus direitos, na hip6tese de vir a nascer com vida) tais como 0 direito avida, aintegridade fisica, a alimentos, alcm do dire ito de ser reconhecido como filho, de ser adotado, de ser conternplado e111 testamento ou de receber doacoes. Controvertida ea questao atinente apersonalidade do uascituro. Para a doutrina mais tradiciorial, antes al! L~",,<C; ._c., ..._._ .. .: .. _ nao ha personalidade (tcoria natalista ). Por conseguinte, 0 nasciruro send titular de direito eventual, condicionado ao nascimento C0111 vida. Outros entendem que a personalidade do nascituro nan t condi ciona1. Para os adeptos dessa correrne doutrinaria a personalidade inicia se com a concepcao (teoria conceptualista). I CAIO MARIO DASILVA PEREIRA. Institutcoes de Diteito Civil, 20"cd., Rio de lauciro, lo rcnsc, 200J1, vol. 1, pp. 2U/214. - 28 Existe, por fim, uma terceira vertente (teoria mista) que considera a existencia da personalidade juridica formal e daquela que e material. Neste sentido, ensina Maria Helena Diniz que "Poder-se-ia ate mesmo afirmar que na vida intra-uterina tern 0 nascituro e na vida extra uterina tern 0 ernbriao, concebido in vitro, personalidade juridica formal, no que atina aos direitos personalissimos, visto ter carga genetica diferen ciada desde a concepcao, seja ela in vivo ou in vitro (Recomendacao n. 1.046/89, do Conselho da Europa), passando a ter personalidade juridica material, alcancando direitos patrimoniais, que se encontravam em estado potencial, somente com 0 nascimento com vida (CC, art. 1.808, §3 Q ) . Se nascer com vida adquire personalidade juridica material, mas se tal nao ocorrer nenhum direito patrimonial tera" 2.3.2. Capacidade jurfdica Ia foi dito que toda pessoa possui aptidao generica para adquirir direitos ou contrair obrigacoes. No entanto,nem todos possuem capaci dade para a aquisicao desses direitos ou para 0 seu exercicio por si mes mos. Alguns precisam estar representados e outros assistidos para a prati ca de determinados atos de seu interesse. Por essa razao, faz-se necessario perquirir se a pessoa e capaz de adquirir direitos e para exerce-los. Surge entao 0 conceito de capacidade, que e a medida da personalidade. Toda pessoa e dotada de capacidade de direito (ou de gozo), que consiste na capacidade para a aquisicao de direitos, reconhecida aos seres humanos, sem qualquer distincao, tendo inicio com 0 nascimento com vida. Porern, tambem existe a capacidade de fato (on de exercicio), consistente na aptidao para 0 exercicio dos direitos por si mesmo. A lei, com ° objetivo de proteger determinadas pessoas, estabelece restricoes quanta ao exercicio dos direitos, subtraindo-lhes a autodeter minacao e condicionando a pratica de determinados atos aintervencao de uma outra pes soa que os represente ou assista. Toda pessoa e capaz de direito, mas nem todas sao capazes de fato. 2 MARIA HELENA DINIZ. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geraldo Direito Civil, 18a cd., Sao Paulo, Saraiva, 2002, 1Q vol., p. 180. 29 I I - DIREITO CIVIL Aqueles que possuem capacidade de dire ito e, tambem, de fato, sao considerad.is plenamente capazes. Ia os que sofrem Iimitacoes em sua ca pacidade de fate, sao considerados incapazes. 2.3.2.1. Incapacidade Como vimos, a incapacidade e a restricao legal ao exerdcio dos atos da vida civil. Trata-se de excecao aregra, e, por isso, deve estar expres- . samente prevista em lei. Se a proibicao para 0 exercicio dos direitos do incapaz for total tem-se a incapacidade absoluta. Nesses casos, 0 incapaz devera ser re presentado, sob pena de nulidade do ato. Dispoe 0 art. 3-0 do C6digo Civil que: ((Art. 3Q sao absolutamente incapazes de exercer pessoalmente as ato: da vida civil: I - as menores de dezesseis anos; II - as que, par enfermidade au deficiencia mental, nao tiverem a ne cessario discernimento para a pratica desses atos; r > III - as que, mesmo par causa transit6ria, nao puderem exprimir sur vontade." Por outro lado, na hip6tese de ser parcial a restricao para 0 exer cicio dos direitos do incapaz, caracteriza-se a incapacidade relativa Nesses casos, 0 incapaz devera ser assistido, sob pena de se gerar '. anulabilidade do ato. Contudo, existem atos que podem ser praticados pelo relativament incapaz, sem que se faca necessaria a intervencao de uma outra pesso para assisti-Io. Neste sentido, e valido, por exemplo, ° testamento do me nor relativamente incapaz (art. 1.860 CC), assim como a lei permite qu seja testemunha em atos juridicos (art. 228 CC). Estabelece 0 art. 4° do C6digo Civil que: "Art. 4Q sao incapazes, relativamente a certos atos, au amaneira a. as exercer: I - as maiores hi- dezesseis e menores de dezoito anos; II - as ebrios habituais, as viciados em toxicos, eas que, par deficienc•. mental, tenham a discernimento reduzido; 30 III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pr6digos. Paragrafo unico. A capacidade dos indios sera regulada por legisla~ao especial." Ha que se ressaltar que os pr6digos nao poderao praticar pessoal mente atos que possam comprometer 0 seu patrimonio, ocasiao em que deverao ser assistidos por seu curador. Todavia, poderao praticar os demais atos da vida civil. Os indios, por sua vez, enquanto nao integrados acomunhao nacio nal, encontram-se sob regime tutelar, de acordo com os termos do Estatuto do Indio (Lei nQ 6.001/73). 2.3.2.2. Cessacao da incapacidade Cessa a incapacidade quando cessarem as causas que the deram origem. Assim, p. ex., termina a incapacidade do pr6digo quando cessar a enfermidade que determina a restricao ao exercicio de seus direitos. Em se tratando do menor relativamente incapaz, a incapacidade termina com a maioridade ou com a emancipacao. A maioridade se da aos dezoito anos, momenta em que a pessoa se torna habilitada para a pratica de todos os atos da vida civil, nos termos do art. 5Q , caput, do C6digo Civil. 3 Cabe ressalvar, entretanto, que a lei pode exigir uma idade limite para a pratica de determinados atos, como e0 caso, p. ex., da idade minima de trinta e cinco anos como condicao de elegibilidade do Presidente da Republica, consoante estabelece a Constituicao Federal em seu art. 14, § Q , alinea a. Por outro lado, epossivel adquirir-se a capacidade plena atraves da emancipacao, independentemente de se atingir a maioridade, nas hip6 teses previstas no paragrafo unico do art. 5Q do C6digo Civil: ((Art.5Q A menoridade cessa aos dezoito anos completes, quando a pessoa fica habilitada apratica de todos os atos da vida civil. Paragrajo unico. Cessara, para os menores, a incapacidade: I - pela concessao dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento publico, independentemente de homologacaojudicial, oupor sentenca do juiz, ouvido 0 tutor, se 0 menor tiver dezesseis anos completes; 31 I I DIREITO CIVIL II - pelo casamento; III - pelo exercicio de emprego publico efetivo; IV - pela colacao de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, oupela existencia de rela cao de emprego, desde que, em [uncao deles, 0 menor com deze. anos completos tenha economia pr6pria." Dessa forma, pode-se c1assificar a emancipacao COlTIO: i) volunt ria; ii) judicial ou iii) legal. A emancipacao voluntaria ocorre pela concessao dos pais ou de apenas urn deles na falta do outro, por meio de instrumento publico. Pos sui, portanto, forma solene e dispensa hornologacao judicial. A emancipacao judicial e deferida por sentenca, ap6s ouvi dos 0 tutor e 0 Ministerio Publico. Resulta, pois, de procedimento judi cial, eis que so os menores sob 0 poder familiar podem ser emancipa dos voluntariamente. A emancipacao legal, por sua vez, decorre de determinados fates previstos ern lei: 0 casamento; 0 exercicio de emprego publico efetivo; a colacao de grau em curso de ensino superior; e 0 estabelecimento civil ou comercial, ou a existencia de relacao de emprego, desde que, em[uncao deles, 0 menor com dezesseis anos completos tenha economia pr6pria. Em todos os casos a ernancipacao eirrevogavel, podendo, porern, ser invalidada se 0 ato que a determinou for nulo ou anulavel, 2.3.3. Indivlduahzacac da pessoa natural A pessoa natural se identifica pelo nome, pelo estado e pelo domidlio. 2.3.3.1. Nome o nome e0 elemento pelo qual se individualiza e se designa a pesso: natural, identificando-a na sociedade e integrando a sua personalidade. t inalienavel, imprescritivel e juridicamente protegido, pois, alem do aspecto individual consistente no direito ao nome, existe, tambem, 0 interesse publi co de que as pessoas sejam corretamente identificadas na sociedade. Dispoe 0 C6digo Civil em seu art. 16 que "toda pessoa ten! ~>-')1t() ar nome, nele compreendidos 0 prenome e 0 sobrenome". 32 • Prenome e 0 nome pr6prio da pessoa e serve para distinguir mem bros da mesma familia. Pode ser simples (Jose, Antonio, Maria) ou com posto (Luis Fernando, Ana Paula, ou, p. ex., Caroline Louise Marguerite princesa de Monaco)", Sobrenome e 0 elemento do nome que identifica a procedencia da pessoa, caracteristico da familia e transmissivel hereditariamente. Tam bern denominado patronimico ou apelido de familia. Tambem pode ser simples (Silva, Souza) ou composto (Alcantara Machado, Mendes Campos). Existe, ainda, a alcunha, que consiste na designacao dada a al guem em virtude de alguma particularidade. Pode ser acrescentada ao nome da pessoa natural sob certas condicoes, como e 0 caso do presidente Lula. Ha tambern 0 agnorne, 0 sinal distintivo de pessoas da mesma es tirpe. Por exemplo: Junior, Neto, Sobrinho, Segundo, Terceiro. De acordo com a Lei dos Registros Publicos (Lei n~ 6.015/73) e suas posteriores alteracoes, 0 nome podera ser alterado nas seguintes hip6teses: • quando forem suscetiveis de expor a ridiculo os seus portado res, hip6tese em que 0 oficial do registro podera, inclusive, dei xar de registra-lo (arts. 55, paragrafo unico e 109) • quando 0 interessado assim requerer (pessoalmente ou por pro curador), no primeiro ana ap6s ter atingido a maioridade civil, desde que nao prejudique os apelidos de familia, averbando-se a alteracao que sera publicada pe1a imprensa (art. 56); • em razao da substituicao por apelidos publicos not6rios ou por sua inclusao (art. 58 )4; • em razao de fundada coacao ou ameaca decorrente da colabo racao com a apuracao de crime, por determinacao, em sentenca de juiz competenre, ouvido 0 Ministerio Publico (art. 58, para grafo unico)"; :'> CARLOS ROBERTO GONC;:ALVES. Direito Civil Brasileiro: Parte Geral, 1"cel., Siw Paulo, Sarai va, 20Cn, vol. 1, p. 121. '1 Rcdacao da Lei IlQ 9.708/98. ) Rcdacao da Lei nQ 9.708/98. 33 DIREITO CIVIL • quando ocorrer evidente erro grafico, hip6tese em que sera ado id,_1 urn procedimento sumario no pr6prio cartorio para sua correcao (art. 110). Allin disso, 0 nome tambem podera ser alterado por adocao (c! ~> 47, § 5Q do ECA e art. 1.627 do C6digo Civil) e em virtude do casamento (art. 1565, § 1Q do C6digo Civil), da separacao judicial ou do div6rcio (arts. 1.571, § 2Q e 1.578 do C6digo Civil) e pela uniao estavel (art. 57, § 2° da Lei n'' 6.015/73). Por fim, tem-se admitido a alteracao do nome para solucionar pro blemas decorrentes de homonimia, quando se admite 0 acrescimo de mais um prenome ou sobrenorne.' 2.3.3.2. Estado o estado consiste no complexo de qualidades que sao peculiares a pessoa natural, e pode ser classificado como individual, familiar e politico. o estado individual esta relacionado a idade (maior e menor), ao sexo (feminino e masculino) e asaude mental e fisica (sao de espirito, -~ alienado e surdo-mudo) da pessoa. o estado familiar indica a situacao da pessoa na familia. Pode ser determinado em razao do casamento (solteiro, casado, separado judicial mente, divorciado ou viuvo ) ou do vinculo de parentesco (consanguinco, por afinidade ou civil). o estado politico diz respeito a relacao da pessoa natural com 0 Estado. Neste caso, temos 0 nacional (brasileiros natos ou naturalizados) e o estrangeiro. 2.3.3.3. Domicflio o dornicilio ea sede da pessoa, 0 local em que concern. ,». JeL:>' pacoes habituais. Trata-se, em regra, do lugar em que a pessoa natural estabelece sua residencia com animo definitivo, nos termos do art. 70 do C6digo Civil. No entanto, se a pessoa natural tiver diversas residencias, onde alternadamente viva, 0 domicilic pode ser considerado qualquer uma delas (art. 71 CC). 6 CARLOS ROBERTO GON<.;=ALVES, Direito Civil Brasilein.: l, . Gera], La cd.. Sao PrWlll, Saraiva, 2003, Vol I, p. 130. 34 o mesmo ocorre com a profissao, pois 0 art. 72 do C6digo Civil esta belece que, tambem deve ser considerado domicilio da pessoa natural 0 local em que a sua profissao e exercida, no que tange as relacoes a ela concernentes. o dornicilio pode ser voluntario, legal (necessario) ou de eleicao. Entende-se por domicilio voluntario aquele escolhido livremente pela pessoa natural. Por domicilio legal ou necessaria deve ser entendido aquele que e determinado por lei. Estabelece 0 art. 76 do C6digo Civil que possuem dornicilio necessa rio 0 incapaz (domicilio de seu representante ou assistente): 0 setvidot publico (Iugar em que exercer permanentemente suas funcoes): 0 militar (onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronautica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado); 0 maritima (onde 0 navio estiver matriculado); e 0 preso (0 lugar em que cumprir a sentenca). o domicilio de eleicao, por sua vez, esta previsto no art. 78 do C6digo Civil, que autoriza aos contratantes especificar 0 domicilio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigacoes resultantes do contrato por eles firmado. Cabe ressaltar que a pessoa natural que nao possua residencia ha bitual tera como domicilio 0 lugar onde for encontrada, por forca do dis posto no art. 73 do C6digo Civil. 2.3.4. Fim da personalidade Por se tratar da aptidao generica do ser humano para adquirir di reitos e contrair obrigacoes, a personalidade 0 acompanha par toda a sua vida. Deste modo, nosso ordenamento juridico nao admite qualquer hip6 tese de perdada personalidade em vida. Assim, a existencia da pessoa natural termina com a sua morte, momento em que cessa sua personalidade. Dessa forma, pode-se falar em morte real e morte presumida. A morte real esta caracterizada pelo termino da existencia da pessoa natural, momenta em que a personalidade encontra 0 seu fim, extinguin do-se a aptidao para adquirir direitos e contrair obrigacocs, nos termos da primeira parte do art. 6Q do C6digo Civil. A morte presumida, por sua vez, ocorre nos casos de ausencia, "em que a lei autoriza a abertura de sucessao definitiva", conforme dispoe a segunda parte de referido art. 6Q do CC. 35 I OlREITO CIVIL I Ausente e 0 desaparecido, a pessoa de quem nao se tern mais noticia. Qualquer interessado na sua sucessao, au 0 Ministerio Publico, po dera requerer ao juiz a declaracao de sua ausencia e a nomeacao de U111 curador, conforme dispoe 0 art. 22 do C6digo Civil. Estabelece 0 art. 26 de nosso C6digo Civil que "decorrido um ano da ariecadacao dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procu dor, em se passando tres anos, poderao os interessados requerer que se decla., a ausencia e se abra provisoriamente a sucessao". A sentenca que declarar a ausencia e determinar a abertura da Sll cessao provis6ria s6 produzira efeitos 180 dias ap6s a data de sua publica cao (art. 28 CC). Passados dez anos do transite em julgado da sentenca que conce deu a abertura da sucessao provis6ria, sera declarada a morte presumida do ausente, desde que haja pedido de qualquer interessado. Neste mo mento a sucessao provisoria converter-se-a em definitiva (art. 37 do CC). Contudo, tambern epossivel requerer a declaracao da morte pre sumida e a consequente sucessao definitiva, provando-se que 0 ausente conta com, no minimo, oitenta anos de idade e que as suas ultimas noti- cias datam de cinco anos (art. 38 do CC). Alern disso, epossivel presumir-se a morte de uma pessoa, sem de cretacao de ausencia, nas hip6teses previstas no art. 7Q do C6digo Civil: "Art. 7Q Pode ser declarada a morte presumida, sem decretacao de ausencia: I - se for extremamente provavel a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguem, desaparecido em campanha oufeito prisioneiro, mI0 for encontrado ate dois anos apes 0 termino da guerra. Paragrafo unico. A declaracao da morte presumida, nesses casos, somente podera ser requerida depois de esgotadas as buscas e averi guacoes, devendo a sentenca fixar a data piovavel do fr:l;":"!rTtn " Por outro lado, 0 art. 8Q de nosso C6digo Civil traz previsao expressa acerca da comoriencia, que consiste na morte simultanea de pessoas. De acordo com os termos de mencionado dispositivo legal, presume-se que duas ou mais pessoas morreram simultaneamente, se faleceram na mesma oca siao e nao for possivel averiguar se urn deles precedeu aos dernais. 36 I 2.4. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE Os direitos da personalidade consistem nos direitos subjetivos que possuem como objeto os valores fundamentals da pessoa, considerada in dividual ou socialmente. Trata-se de direitos intransmissiveis, irrenunciaveis, imprescritiveis, indisponiveis, impenhoravcis, ilimitados, absolutos e inexpropriaveis: • Intransmissiveis: nao podem ser transmitidos a esfera juridi ca de outra pessoa. • Irrenunciaveis: nao pode 0 seu titular renunciar ao direito da personalidade nem abandona-lo. • Imprescritiveis: nao se extinguem pelo uso ou pela mercia de seu titular nem pelo decurso de tempo. • Indispontveis: estao fora de cornercio, insuscetiveis de dispo sicao. No entanto, existem cxcecoes, como, por exemplo, no caso do direito aimagem de pessoas famosas, passivel de explo racao, ou na hip6tese de doacao de orgaos ou de partes separa das do corpo (art. 14 do CC). • Irnpenhoraveis: enquanto direitos que possuem como objeto os valores fundamentais da pessoa e dela sao inseparaveis, nao sao passiveis de penhora para a satisfacao de credores. Ha, con tudo, excecoes, como na hip6tese do direito autoral au do dire i to aimagem, que, como dito, sao suscctiveis de disposicao, com o seu uso sendo cedido para fins comerciais, casas em que serao passiveis de penhora. • Ilimitados: nao sao arrolados pelo legislador em urn rol taxativo, pela impossibilidade de se limitar 0 numero de direitos da per sonalidade. • Absolutos: sao oponiveis erga omnes, contendo, em si, urn de ver geral de abstencao. • Inexpropriaveis: nao podem ser retirados da pessoa. Cabe ressaltar que e licito exigir que cesse a arneaca ou a lesao a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuizo de ou tras sancocs previstas em lei, nos termos do art. 12 do C6digo Civil. 37 I 1 DIREITO CIVIL Por outro Iado, estabelece 0 art. 13 do C6digo Civil que e proibi da a disposic-r .10 proprio corpo quando importar em diminuicao pcr manente da integridade ftsica, salvo nos casos de exigencia medica, com preendcndo-sc, neste contexte, 0 direito a vida, a integridade ftsica, ao pr6prio corpo. 3 Admite-se, no entanto, a disposicao para a realizacao de trans plantes: «quando se tratar de orgaos duplos, de partes de orgaos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada nao impeca 0 organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e nao represente gra ve comprometimento de suas aptidoes vitais e saude mental e nao cause mutilacao ou deformacao inaceitavel, e corresponda a uma necessidade terapeutica comprovadamente indispensavel a pessoa receptora" (art. 9Q , § Q da Lei nQ 9.434/97). Outrossim, e valida, com objetivo cientifico ou altruistico, a dispo sicao gratuita do proprio corpo, no todo ou em parte, para depois da mor te, consoante estabe1ece 0 art. 14 do C6digo Civil. Por fim, e importante observar que a protecao dos direitos da per sonalidade pode ser estendida, tambem, as pessoas juridicas, no que cou ber, conforme dispoe 0 art. 52 de nosso C6digo Civil. 2.5. PESSOA JURIOICA As pessoas juridicas consistem em urn conjunto de pessoas ou de urn patrimonio, dotado de personalidade pe1a ordem juridica, corn aptidao para adquirir e exercer direitos e contrair obrigacoes. De acordo com 0 art. 40 do C6digo Civil as pessoas juridicas podem ser de direito publico, interno au externo, e de direito privado. Sao pessoas juridicas de direito publico interno (art. 41 CC): • a Uniao; • os Estados, 0 Distrito Federal e os Territories, • os Municipios; • as autarquias, inclusive as associacoes publicas, (redacao da Lei nQ 11.107/05) • as dernais entidades de carater publico criadas por lei. Sao pessoas juridicas de direito publico externo (art. 42 CC): • os Estados estrangeiros; 38 I • todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional publico. As pessoas juridicas de direito privado (art. 44 CC), por sua vez, sao: • as associacoes, • as sociedades; • as fundacoes: • as organizacoes religiosas; (Redacao da Lei nQ 10.825/03) • os partidos politicos. (Redacao da Lei nQ 10.825/03) 2.5.1. lnicio da personalidade Ensina Maria Helena Diniz" que as pessoas juridicas de direito publico "iniciam-se em razao de fatos historicos, de criacao constitucio nal, de lei especial e de tratados internacionais, se se tratar de pessoa juri dica de direito publico externo". Ja a cxistericia legal das pessoas juridicas de direito privado tern inicio com a inscricao do ato constitutivo no respectivo registro", nos termos do art. 45 do C6digo Civil. Entretanto, determinadas pessoas juridicas de direito privado necessitam, alern do registro, de autorizacao ou aprovacao do Poder Exe cutivo, como e0 caso, por exemplo, das cooperativas, das agencias de se guros, das caixas econornicas, das boisas de valores etc. 2.5.2. Pessoas[uridlcas de direito privado Como visto, as pessoas juridicas de direito privado sao as associacoes, as fundacoes, as sociedades, as entidades religiosas e os partidos politicos. Dispoe 0 art. 44 do C6digo civil, em seu § 1Q, que sao livres a criacao, a organizacao, a estruturacao interna e 0 funcionamento das organizacoes religiosas, sendo vedado ao poder publico ncgar-Ihes re conhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessaries ao seu funcionamento. 7 MARIA I!ELENA DINIZ. Curse de Direito Civil Brasileiro: 'Ieoria Geral do Diretto Civil, 18a cd., Sao Paulo, Saraiva, 2002, 1Q vol., p. 229. 8 Dccai em tres anos 0 direito de anular a constituicao daspessoas juridicas de direito privado, por defeito do ato respective, contado 0 prazo da publicacao de sua inscricao no rcgistro. 39 I DIREITO CIVIL I o mesmo art. 44 do C6digo Civil, em seu § 3Q , determina que lei espedfica (Lei nQ 9.096/95) regulamente a organizacao e 0 funcionamento dos partidos politicos, que possuem natureza de associacao civil, nos ter mos do art. 17, § 2Q da Constituicao Federal. Por essa razao, neste livro, procederemos ao estudo de alguns as pectos atinentes as associacoes, as fundacoes e as sociedades. 2.5.2.1. Associacoes As associacoes sao constituidas pela uniao de pessoas que se orga nizam para fins nao economicos (art. 53 CC). Portanto, as associacoes nao tern fins lucrativos. Possuem, porern, patrimoriio, formado por contribuicoes dos pr6prios associados e por eles administrado, podendo, inclusive, ser aumentado, sem que isso a descaracterize. Entre os associados nao existem direitos e obrigacoes redprocos, diferentemente do que ocorre nas sociedades. Por outro lado, estabelece 0 art. 55 do C6digo Civil que "os asso ciados devem ter iguais direitos, mas 0 estatuto podera instituir categorias com vantagens especiais". Cabe observar que a qualidade de associado eintransmissivel, sal vo se 0 estatuto dispuser 0 contrario. Por conseguinte, se 0 associado for titular de quota ou fracao ideal do patrimonio da associacao, a transfe rencia daquela nao importara, de per si, na atribuicao da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposicao diversa do esta tuto (art. 56 CC). Nenhum associado podera ser impedido de exercer dire ito ou fun cao que the tenha sido legitimamente conferido, a nao ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto. No que tange a exclusao do associado verifica-se que esta e admissivel havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (art. 57 CC) Dissolvida a associacao, 0 remanescente do seu patrimonio liqui do, depois de deduzidas, se for 0 caso, as quotas 08 h(~\(; ,_~ f''''1_ das no paragrafo unico do art. 56, sera destinado a entidade de fins <ldc 40 I econornicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberacao dos associados, a instituicao municipal, estadual ou federal, de fins identicos ou semelhantes. 2.5.2.2. Fundacoes As fundacoes sao as pessoas juridicas de direito privado constitui das por ato de seu instituidor, por escritura publica ou testamento, atraves da dotacao especial de bens livres, especificando 0 fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administra-la. Tambem possuem fins nao economicos, que somente poderao ser religiosos, morais, culturais ou de assistencia. Demandam necessariamente a existencia de urn patrimonio. As sim, quando os bens forem insuficientes para constituir a fundacao, serao incorporados em outra fundacao que se proponha a fim igual ou seme lhante, se de outro modo nao dispuser 0 instituidor. Constituida a furidacao por neg6cio juridico entre vivos, 0 instituidor e obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se nao 0 fizer, serao registrados, em nome dela, por mandado judicial. As fundacoes serao fiscalizadas pelo Ministerio Publico do Estado onde situadas. Se funcionarem no Distrito Federal ou em Territ6rio, cabe ra 0 encargo ao Ministerio Publico Federal. Se estenderem a atividade por mais de urn Estado, cabera 0 encargo, em cada urn deles, ao respectivo Ministerio Publico. Tornando-se ilicita, impossivcl ou inutil a finalidade a que visa a fundacao, ou vencido 0 prazo de sua existencia, 0 orgao do Ministerio Publico, ou qualquer interessado, the prornovera a extincao, incorpo rando-se 0 seu patrimonio, salvo dispo sicao em co ntrario no ato constitutivo ou no estatuto, em outra fundacao, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. 2.5.2.3. Sociedades Em seu Livro II, Titulo II, Capitulo Onico, da Parte Especial, 0 C6digo Civil trata da materia atinente as sociedades, suas diversas forrnas e aspectos. Por se tratar de materia afeita ao Direito de Empresa sera aborda da em nossa colecao no livro de Direito Cornercial. 41 I DIREITO CIVIL I Cabe aqui, apenas, ressalvar que as sociedades sao pessoas juridicas de direito privado com fins economicos e 0 objetivo de partilhar lucros. 2.5.2.4. Da desconsideracao da personalidade jurfdica Estabelece 0 C6digo Civil em seu art. 50 que: "em caso de abuso da personalidade juridica, caracterizado pelo desvio de[malidade, ou pela corfu sao patrimonial, pode 0 juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministe rio Publico quando the couber intetvir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relacoes de obtigacoes sejam estendidos aos bens patticulures dos administradores ou s6cios da pessoa juridica". Por outro lado, dispoe 0 art. 28 do C6digo de Defesa do Consumi dor que "0 juiz podera desconsiderar a personalidade juridica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, iniracao da lei, fato ou ato ilicito ou violacao dos estatutos ou contrato social. A desconsideracao tarnbem sera efetivada quando houver [alencia, es tado de insolvencta, encerramento ou inatividade da pessoa juridica provoca dos por ma administracao". Tambem podera ser desconsiderada a pessoa juridica sernpre que sua personalidade for, de alguma forma, obstaculo ao ressarcimento de prejuizos causados aos consumidores, consoante estabelece 0 § 5Q do art. 28 do CDC. Trata-se de hip6teses de desconsidcracao da personalidade jutidi ca, presentes em nosso ordenamento, que autorizam que os efeitos de certas e determinadas relacocs de obrigacoes sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou s6cios da pessoa juridica. 42 I 3 BENS Par Andre Borges de Carvalho Barros 3.1. CONCEITO No capitulo anterior estudamos as pessoas (fisicas e jundicas), assim consideradas como sujeitos de direitos e deveres. A partir de ago ra, passaremos ao estudo dos hens, assim entendidos como objetos de direitos. "Objeto (objeetum) e aquilo que se coloca adiante, fora do su jeito. 0 Objeto da relacao juridica e, assim, tudo aquilo que se pode submeter ao poder dos sujeitos do direito, como instrumento de seus interesses e finalidades'". 3.2. DISTINCAO: BEM X COISA Coisa e tudo aquilo que existe na natureza, com excecao do ser humano. Bern eespecie de coisa e se caracteriza pelo fato de poder ser objeto de relacoes juridicas. Portanto, para que a coisa possa ser classifica da como bern, tera que ser apreciavel (ter valor econornico) e ser apropriavel (que a pessoa possa torna-la para si). Urn born exemplo para ilustrar a diferenca e 0 seguinte: Ar atmosferico: e coisa, mas se for captado oxigenio da atmosfera e acondicionado ern urn cilindro, teremos bern. Renan Lotufo. C6digo Civil Comentado: Parte Ceral. Sao Paulo, Saraiva, 2003, v. I, p. 196. 43 1 DIREITO CIVIL Vale lembrar que alguns autores do quilate de Orlando Gomes eRenan Lotufo sustentam exatamente 0 contrario do que agora foi ex posto (consoante entendimento de Maria Helena Diniz, Silvio Venosa, Agostinho Alvim etc.) nao havendo consenso doutrinario ace rca do tema. 3.3. PATRIMONIO E 0 complexo de relacoes juridicas materiais (valoraveis econorni camente) de uma pessoa, abrangendo os direitos reais e obrigacionais. 3.4. DAS DIVERSAS CLASSIFICACOES DE BENS 3.4.1. De acordo com a tanqibilidade! • Materiais ou Corp6reos: sao aqueles que tern existencia material, podendo ser tocados, isto e, percebidos por nossos sen tidos, como, por exemplo, os autom6veis, animais e livros. • Imateriais ou Incorp6reos: possuem cxistencia abstrata, nao podendo ser tocados fisicamente pelos seres humanos. A exis tencia dos bens incorp6reos e fruto de determinacao juridica. Servem de exemplo os direitos de autor e as invencoes. Atencao: Essa distincao, embora nao esteja prevista no C6digo Civil, possui significativa importancia pelo fato de que somente os bens corp6reos podem ser objetos de usucapiao e tradicao. Alem disso, enquan to os bcns corp6reos sao alienados onerosamente por meio de compra e venda, os incorp6reos sao transferidos pela cessao (ex.: cessao de credito). 3.4.2. De acordo com a mobilidade • M6veis: sao aqueles que podem ser movidos de urn local para outro, por forca pr6pria (semoventes - animais) ou alheia (rno veis propriamente ditos - p. ex.: mercadorias), sem que seja alterada a sua substancia ou destinacao economico-social (art. 82 CC). as bens m6veis sao classificados em: • M6veis por natureza: aqueles que podem ser transpor tados de urn lugar a outro, sem que se destruam; 2 FtAVIO TARTUCE. Direito Civil- Lei deIntroducao e Patte Getal. z- cd., Sao Paulo, Ed. Metoda, 2006, p. 190. 44 i • M6veis por antecipacao: aqueles mobilizados pelos se res humanos em atencao a sua finalidade economica (ex.: fruta colhida, madeira cortada). • M6veis por deterrninacao legal: sao as energias que tenham valor economico; os direitos reais sobre objetos mo veis e as acoes correspondentes; e os direitos pessoais de carater patrimonial e respectivas acoes, • Im6veis: de acordo com a natureza, bens im6veis sao aqueles que nao podem ser transportados, sem destruicao, de urn lugar para outro. Ao definir imoveis, 0 C6digo Civil dispos tratar-se do solo e de tudo quanta the for incorporado de maneira natu ral ou artificial (art. 79 CC). Todavia, a doutrina costuma apon tar as seguintes hip6teses de bens im6veis: • im6veis por natureza: solo, arvores, frutos pendentes, espaco aereo, 0 sub solo; • im6veis por acessao fisica artificial: tudo aq uilo que for incorporado pelo homem, permanentemente, ao solo. P. ex.: semente lancada ao solo, edificio, construcocs. • im6veis par acessao fisica intelectual: aqueles que "0 proprietario mantiver, intencionalmente, empregados em sua exploracao industrial, aformoseamento ou comodidade'". • im6veis por determinacao legal: aqueles que sao consi derados im6veis para receber uma protecao juridica maior. E o caso dos direitos reais sobre im6veis e do direito asuces sao aberta (art. 80 CC). Nao se deve confundir com 0 caso dos navios e aeronaves, que sao bens moveis, embora sejam transmitidos da mesma forma que os imoveis e possam ser objeto de hipoteca. 3.4.3. Quanta afungibilidade • Fungiveis: sao os m6veis substituiveis por outros da me sma especie, qualidade e quantidade (ex.: cafe, arroz, milho etc.). • Infungiveis: sao aqueles insubstituiveis, ou seja, determina dos em razao de qualidades individuais, nao podendo ser substi 3 MARIA HELENA DINIZ, C6diga Civil Anotado. 9a ed, Sao Paulo, Saraiva, 2003, p. 95. 45 I DIREITO CIVIL I tuidos por outros. A infungibilidade ecaracteristica pr6pria dos bens irnoveis, mas tambem se encontra presente em alguns bens moveis, como os veiculos autornotores, podendo resultar da natureza ou da vontade das partes. Atencao: Essa classificacao tern importancia nos contratos de emprestirno, referindo-se 0 mutuo ao cmprestimo de bens fungtveis (ex.: dinheiro), e 0 comodato ao ernprestimo de bens infungiveis (ex.: casa, carro etc.). 3.4.4. Quanto aconsuntibilidade • Consumiveis: sao aqueles bens destinados a satisfacao de ne cessidades e interesses das pessoas, cujo uso importa destrui~aQ imediata da pr6pria substancia (consumiveis de fato - ex.: ali mento) e aqueles que sao destinados aalienacao (consumiveis de direito - ex.: livros em uma loja) (art. 86 CC). • Inconsumiveis: aqueles que podem ser usados de forma conti nua e reiterada, sem que isso importe na sua destruicao imediata. Os bens inconsumiveis possibilitam que the sejam retiradas to das as suas utilidades, sem que seja atingida sua integridade 4. Insta observar que 0 bern pode ser inconsumivel por vontade das partes, quando se tern 0 contrato de emprestimo adpompom vel ostentationis causam (ex.: uma garrafa de vinho raro cow blood apenas para exposicao). Atencao: Essa classificacao epr6xima daquela feita no C6digo de Defesa do Consumidor, em que se separam os bens duraveis dos nao-du raveis, Os primeiros nao desaparecem facilmente com 0 consume, ao con trario dos nao-duraveis (art. 26 CDC). 3.4.5. De acordo com a divisibilidade • Divisiveis: aqueles que podem ser fracionados sem alteracao da sua substancia, diminuicao consideravcl de valor ou prejuizo para 0 uso a que se destinam (art. 87 CC). Os naturalrnentc divisiveis podem tornar-se indivisiveis por determinacao regal ou por vontade das partes. 4. MARIA HELENA DINIZ. C6diga Civil Anotado. 9a ed, Sao Paulo, Saraiva, 2003, p. 102. 46 L_--------- ----- ----.-- • Indivisiveis: nao podem ser divididos, pois isso faria com que dei xassem de ser urn todo perfeito, gerando desvalorizacao ou perda de qualidades essenciais. A indivisibilidade de urn bern pode ser: • por sua natureza: quando 0 bern nao puder ser fracionado sem alteracao de sua substancia ou valor (ex: touro reprodutor); • por determinacao legal: aqueles considerados indivisiveis por forca de lei (ex.: heranca, servidao, modulo rural); • por vontade das partes: aqueles em que as partes esti pulam em contrato a sua indivisibilidade. 3.4.6. Quanto a individualidade • Singulares ou individuais: sao aqueles que embora reuni dos, consideram-se de per si independentemente dos dernais. E a regra, pois os bens somente serao considerados coletivos quando houver determinacao legal ou por determinacao das partes. • Coletivos ou universais: aqueles cujas partes heterogeneas sao "ligadas pelo engenho humano, hipotese em que se tern ob jetos independentes que se unem num so todo sem que desapa reca a condicao juridica de cada parte. Por exemplo, materiais de construcao que estao ligados a edificacao de uma casa'". A coletividade pode ser de duas especies: • universalidade de fato (universitas facti) - pluralidade de coisas homogeneas. Ex.: rebanho, biblioteca etc. • universalidade de direito (universitas iuris) - e 0 com plexo de relacocs juridicas de urna pessoa dotadas de valor economico. Ex.: heranca, patrimonio, massa falida etc. 3.4.7. De acordo com a reciprocidade ou dependencia • Principais: aqueles que tern sua existencia independente mente dos dernais, ou seja, existem sobre si, abstrata ou con cretamente. • Acess6rios: sao aqueles cuja existcncia supoe a do prin cipal. Ex.: juro s, frutos, benfeitorias (melhoramentos na coisa principal). Deve ser lembrado que, em regra, 0 acesso rio segue 0 principal. 5 MARIA HELENA DINIZ, Codigo CivilAnotado. 9' ed. Sao Paulo, Saraiva, 2003, p. 104. 47 DIREITO CIVil Especies de bens acess6rios: • Pertenca: sao os bens que, nao constituindo partes integran tes, destinam-se, de modo duradouro,ao usn, ao service ou ao aformcseamento de outro (ex.: trator em uma fazenda, carna, mesa ou armarios de uma casa etc.). As pertencas, apesar de serem bens acessorios, nao seguem 0 destino do principal, salvo se 0 contrario resultar da lei, da manifestacao de vontade, ou das circunstancias do caso. • Benfeitoria: e toda especic de obra (melhorarnento ) acresci do a urn bern, com 0 objetivo de evitar sua deterioracao (neces sarias), aumentar seu uso / valor (uteis), ou dar mais C01110di dade (voluptuarias). • Fruto: e a utilidade que a coisa produz de forma peri6dica e cuja percepcao mantern intacta a substancia do ben. :!~;. -. "'-. duziu. Podem ser: civis (rendimentos), naturais (os que se re novam periodicamente) ou industriais (intervencao do hornern sobre a natureza). Pode ser ainda: • Pendentes - aqueles ainda unidos a arvore que os produziu; • Percebidos - aqueles ja colhidos; • Estantes - aqueles armazenados ou acondicionados para venda; • Percipiendos - aque1es que deveriam ter sido colhidos, mas nao 0 foram; • Consumidos - aqueles ja inexistentes. 3.4.8. Com relacao atitularidade do dominio • Bens particulares: aqueles pertencentes as pessoas fisicas ou juridicas de direito privado; • Bens publicos: sao as bens de dorninio nacional, pertencentes as pessoas juridicas de direito publico interne, como os de pro priedade da Uniao, Estados e Municipios. • de usa comum do povo: mares, rios, estradas, ruas, pra~as. • de usa especial: predios e terrenos utili ")s pela admi nistracao publica. • dominicais: patrimonio da administracao, Atencao: Caractertstic.. dos bens publicos: • inalienabilidade. • imprescritibilidade. • impenhorabilidade. 48 IL..-_-- 4 Dos FATOS JURIDICOS Par Andre Borges de Carvalho Barros 4.1. TEORIA GERAL DO FATO JURIOICO o direito nasce dos fatos (ex facto oritur jus), mas nem todos os fatos geram efeitos juridicos, ou seja, nem todos os fatos tern relevancia para 0 direito. Somente os fatos juridicamente qualificados eque tern 0 poder de provocar mudancas na esfera juridica. No entender de Caio Mario da Silva Pereira, podem ser apontados dois fatores constitutivos presentes no fato juridico: urn, entendido como qualquer eventualidade que atue sobre 0 direito subjetivo; e outro, uma declaracao da norma juridica conferindo efeitos aquele fato. 4.2. FATO NAO JURfOICO Etodo fato desprovido de consequencia juridica, nao tendo qualquer relevancia para 0 mundo do direito (ex.: luz emitida por uma estrela). 4.3. FATO JURfOICO Para Renan Lotufo, 0 fato juridico (tambern chamado de fato juridico lata sensu) "seria todo e qualquer fato, de ordem fisica ou social, inserido em uma estrutura normativa. E todo e qualquer fato que, na vida social, venha a corresponder ao modelo de comportamento ou de 49 DIREITO CIVIL organizacao configurado por uma ou mais normas de Direito" 1. Assim, podemos afirmar que fato juridico e todo aquele que tern relevancia paLl o direito, produzindo efeitos, ainda que seja ilicito (ex.: acidente de tran sito, agressao fisica, enchente no estacionamento de urn supermercado etc.). De acordo com a origem do fato, podemos classifies-los em natu rais ou humanos. 4.3.1. Fato [uridlco natural Tambern conhecido como Fato Iurldico Stricto Sensu, e todo aeon tecimento que produz efeitos juridicos independentemente da vontade humana. Eurn fato nao volitivo. Se a vontade humana tiver participacao nao sera fato juridico natural, mas, sim, ato juridico. Pode ser classificado como ordinario ou extraordinario. 4.3.1.1. Fato jurfdico natural ordinario Etodo fato comum que aparece ao longo da vida do ser humano e tern 0 coridao de produzir efeitos juridicos, 0 simples decurso do tempo se encarrega de produzi-los (ex.: nascimento, maioridade, pres cricao etc.). 4.3.1.2. Fatojurfdico natura.l extraordinarto E todo fato que foge anormalidade e produz efeitos (em regra, prejuizos), podendo ser classificado em caso fortuito ou forca maior. Apre senta sempre dois requisitos: a) objetivo: a inevitabilidade do acontecimento; b) subjetivo: a ausencia de culpa na producao do evento. A importancia do estudo do fato juridico natural extraordinario eressaltada na materia de responsabilidade civil, por configurar (caso fortuito e forca maior) excludentes de ilicitude. Importante ressaltar que nao ha consenso dou trinario acerca da conceituacao do caso fortuito e cia forca maier em nossa doutrina, devendo, para muitos autores, ser tratados como sinoni mos. Dentre as diversas classificacoes propostas, preferimos a de Orlando Gomes, seguida por Segio Cavalieri Pilho-, para quem, caso fortuito e 0 evento totalmente imprevisivel e forca maior e0 evento previsivel, po rem inevitavel. 1 RENAN LOTUFO. C6digo Civil Comentado: Parte Geral. Sao Paulo, Saraiva, 2003, v. 1, I': 262. 2 SERGIO CAVALIERI FILHO. Progtama de Resptmsabilidade Civil. Sao Paulo, Malheiros, 2003, p. 84 50 4.3.2. Fato [undlconumano E toda acao humana que visa acriacao, extincao, modificacao ou conservacao de direitos e obrigacoes, E comumente denominado ato hu mana ou ato jurigeno, podendo ser licito ou ilicito. 4.3.2.1. Ato humane ilfcito E todo ato humano contrario ao ordenamento juridico. A impor tancia de seu estudo varia de acordo com a materia em que e estudado. No direito penal, a importancia do ato ilicito esta na caracterizacao do crime e sua punicao. No direito civil, a preocupacao do estudioso do direito esta na apuracao da responsabilidade civil pelos danos causados. De acordo com 0 art. 186 do C6digo Civil, aquele que, por acao ou ornissao voluntaria, ne gligencia ou imprudencia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilicito. 4.3.2.2. Ato humane llcito E toda acao humana que, estando de acordo com 0 ordenamento juridico, produz efeitos na 6rbita juridica. Etambern chamado de Ato Juri dico Lato Sensu e pode ser classificado em Ato Iurtdico Stricto Sensu, Neg6 cio Iuridico ou Ato-Fato Iundico. Ato jurldico stricto sensu Ea acao humana licita que gera consequencias juridicas previstas em lei, nao havendo composicao de vontades. Tern como objetivo a mera realizacao da vontade do titular de urn determinado direito. Ex.: pagan1en to, reconhecimento de filho, notificacao para constituicao em mora, fixa cao de domicilio etc. Neqocio jurfdico Segundo 0 mestre Miguel Reale, neg6cio juridico e"especie de ato juridico que, alem de se originar em urn ato de vontade, implica em decla racao expressa da vontade, instauradora de uma relacao entre dois ou mais sujeitos tendo em vista urn objeto protegido pelo ordenamento juridico". No neg6cio juridico temos a criacao de urn instituto juridico proprio volta do acomposicao do interesse das partes, que buscam alcancar urn objetivo (finalidade) perrnitido pela lei. Ex.: contratos. 3 MIGUEL REALE, Licoes Preliminares de Direito. 9' ed, Sao Paulo, Saraiva, 1981. v. 1. p. 206. 51 DIREITO CIVIL Ato-fato jurfdico Eo fato juridico qualificado por uma atuacao humana. No ato-fato juridico nao importa a intencao da pessoa que realizou 0 ato, tendo rele vancia apenas os efeitos que 0 ato produziu. Ex.: menor de idade com prando uma agua. 4.4. CLASSIFICA<;OES DO NEGOCIO JURIDICO OS neg6cios juridicos sao classificados de diversas formas pelos autores nacionais e estrangeiros, sendo relevante apontar, para efeitos de Exame de Ordem, as seguintes classificacoes: 4.4.1. Quanto ao nurnero de partes Unilaterais: quando apenas uma pessoa manifesta sua vontade (ex.: testamento, aceitacao da heranca). Podem ser RECEPTfcIOS (quando a outra parte precisa tomar conhecimento para que seja valido - ex.: revogacao do mandato), ou NAo RECEPTfcIOS (quan do 0conhecimento da declaracao de vontade pelo destinatario e irrelevante para que 0 neg6cio produza efeitos - ex.: testamento). Bilaterais: sao aqueles em que duas pessoas manifestam sua von tade com 0 mesmo intuito (ex.: contrato de compra e venda). 0 neg6cio juridico nao deixa de ser bilateral quando ha simples multiplicidade de pessoas no p610 passivo ou ativo (ex.: diversos compradores e diversos vendedores). Plurilaterais: quando tres ou mais pessoas voltam sua vontade para urn neg6cio na busca de interesses comuns (ex.: contrato de sociedade, contrato de incorporacao etc.). 4.4.2. Quanto as vantagens patrimoniais para os envolvidos Gratuitos: quando apenas uma das partes aufere beneficios, en quanta a outra suporta 0 onus, ficando caracterizada uma dimi nuicao patrimonial unilateral (ex.: doacao pura). Onerosos: sao os neg6cios em que ambas as partes auferem bencficios e suportam onus (ex.: compra e verida ). Deve ser lern brado que quando 0 neg6cio juridico e oneroso 0 patrrmorio (L ambas as partes e afetado. 52 -----"~-~ "~-~-_._. I Bifrontes: sao modalidades de neg6cios juridicos que podem ser tanto onerosos como, tambern, gratuitos. 0 melhor exemplo de neg6cio bifronte e 0 contrato de mutuo (ernprestimo de coisa "fungivel) que, dependendo da forma com que foi acertado, pode ser gratuito ou nao. N eutros: quando nao houver atribuicao patrimonial especifica no neg6cio juridico, nao podendo ser caracterizado nem como oneroso nem como gratuito (ex.: instituicao de bern de familia voluntario por meio de escritura publica). 4.4.3. Quanto ao momento em que produzirao efeitos Inter vivos: aqueles destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados (ex.: contrato). Mortis causa: aqueles voltados a produzir efeitos ap6s a morte de determinada pessoa (ex.: testamento, contrato de seguro de vida etc.) . 4.4.4. Quanto aforma Solenes: quando devem obedecer a forma ou solenidade prevista em lei para que sejam considerados validos (ad solemnitatem - ex.: escritura publica para compra de bens im6veis com valor superior a 30 salaries minimos), ou para que possam ser provados (ad probationem tantum - ex.: registro do casamento). Nao solenes: quando tern a forma livre, nao havendo qualquer prescricao legal. 4.4.5. Quanto aexlstencla ou autonomia Principais: aqueles que nao dependem de qualquer outro ncgo cio para que possam existir e ser validos. 0 classico exemplo e 0 contrato de locacao. Acess6rios: tern sua existencia e validade vinculada a urn outro neg6cio juridico considerado principal. Como exemplo temos ° contrato de fianca, que e acess6rio a urn contrato principal. 53 DIREITO CIVIL 4.5. ELEMENTOS DO NEGOCIO JURIOICO Para que 0 neg6cio luridico exista, seja valido e eficaz e nccessario que 0 estudioso do direito verifique determinados requisitos legais. Certo e, todavia, que nao existe consenso doutrinario em nosso pais acerca dos elementos que devem ser objeto deste estudo. De nossa parte, preferimos seguir os ensinamentos deixados pelo ilustre jurista Pontes de Miranda, que desenvolveu uma teoria simples e direta, batizada posteriormente de "escada pontiana". Para 0 mestre, todo e qualquer neg6cio juridico deve sempre ser analisado sob determinados pIanos (existencia, valida de e efi cacia). Para que 0 estudo seja considerado completo dentro da analise des ses planes devem ser verificados elementos essenciais, naturais e aciden tais. Seguindo orientacao de Maria Helena Diniz", temos que os elementos essenciais sao aqueles imprescindiveis aexistencia do ato negocial, por for marem a sua substancia, abrangendo tanto os requisitos de existencia (par tes, objeto, vontade e forma), como tambem os requisitos de valida de (par tes capazes e legitimadas; objeto licito, possivel, determinado ou determinavel: vontade ou consentimento livre; e forma prescrita ou nao defesa em lei). Ia os elementos naturais seriam os efeitos que decorrem naturalmente do neg6cio juridico sem que seja necessario a sua previsao, A pr6pria lei define os efeitos do ato (ex.: no contrato de compra e venda, a entrega do bern que eobjeto do contrato eurn efeito natural). Por fim, temos os elementos acidentais, presentes nas estipulacoes que sao acres centadas ao neg6cio juridico para modificar sua eficacia. A analise dos ele mentos acidentais efeita dentro do plano de eficacia. 4.5.1. Plano de exlstencla e validade 4.5.1 .1. Partes - Devem ser Capazes: aquelas que tern pleno discernimento para assumir di reitos e deveres. Os absolutamente incapazes (menores de 16 anos; doentes ou deficientes mentais; e os que por causa transit6ria nao puderem exprimir a vontade) tern que ser representados pelo pai ou tutor (menor), ou pelo curador (Atenraa - obrigatoriedade de processo de interdicao ). Ia os relativamente incapazes devem ser assistidos pelo pai ou tutor (menores de 18 e maiores de 16), ou 4 MARIA HELENA DINIZ, Curse de Direito Civil Btu-iieiro. Sao Paulo, S,Hci,'vrt, 2004, voL 1, p, 423, 54 pelos curadores (demais casos). No caso de 0 neg6cio ser celebra do pelo incapaz sem ser representado ou assistido, 0 neg6cio sera nulo (inc. absoluta), ou anulavel (inc. relativa). Legitimadas: aquelas que sao titularesdosdireitos que pretendem negociar, ou que estao autorizadas para tanto. Ex.: s6 0 dono do im6vel pode vende-lo. Eproibida a venda a non domino (por aquele que nao e 0 dono) no nosso C6digo Civil. Da mesma forma, em regra a pessoa casada deve pedir autorizacao para alienar im6vel. 4.5.1 .2. Objeto - Deve ser Licito: 0 que nao contraria a lei, a moral, os bons costumes e a ordem publica. Possivel: essa possibilidade ea fisica. Ehumanamente possivel? A possibilidade do neg6cio juridico deve ser analisada de uma forma geral, isto e, em relacao a todas as pessoas, e nao em relacao aparte contratante e suas caracteristicas ou aptidoes pessoais. Determinado ou Determinavel: determinado e 0 objeto que esta individualizado, nao deixando duvidas. Deterrninavel e 0 que ainda sera individualizado, devendo, ao menos, ser certo (quanto a sua existencia) e determinado (valor/objeto). 4.5.1.3. Forma - Deve ser Prescrita ou nao proibida em lei: deve ser aquela prevista ou a nao defesa em lei. A ssim, se houver previsao legal impondo deter minado revestimento ao ato, sob pena de nao valer, diz-se que 0 neg6cio juridico e ad solemnitatem (ex.: necessidade de escritura publica para venda e compra de bens im6veis com valor acima de 30 salaries minimos - Art. 108 CC/02). 4.5.1.4. Vontade - Deve ser Livre: ou seja, nao podern as partes estar sob qualquer forma de arneaca ou pressao (coacao). 4.5.2. Plano de eflcacia (elementos acidentais) Procurando alterar ou regulamentar a producao dos efeitos dos ne g6cios juridicos, podem as partes inserir elemento acidental, estipulando as seguintes clausulas: condicao, termo, modo ou encargo. Sao chamados de 55 DIREITO CIVIL elementos acidentais, pois sao dispensaveis para a existencia e validade do neg6cio. Em regra, essas clausulas podem ser apostas em qualquer neg6cio juridico, mas em alguns eexpressamente vedada a sua utilizacao, como ocorre com 0 casamento e tambern com a aceitacao da heranca (art. 1.8(8). 4.5.2.1. Condicao Ea clausula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina 0 efeito do neg6cio juridico a urn evento futuro e incerto. Ocor rendo 0 implemento da condicao eproduzido 0 efeito desejado pelas par tes. Se se referir a fato passado ou presente nao pode ser considerada como condicao. Da mesma forma, se houver a certeza de que 0 evento ocorrera, nao sera condicao, mas, nesta hipotesc, termo. De acordo como nossa dou trina, a condicao pode ser classificada de diversas formas: De acordo com a licitude, a coridicaopode ser: • licita: quando nao contrariar a lei, a moral, a ordem pubiica e os bons costumes, ou • ilicita: quando contrariar a lei, a moral, a ordem publica e os bons costumes. Tambem econsiderada ilicita a condicao perplexa, assim considerada aque1a que priva de todo efeito 0 neg6cio juridico (ex.: vender urn carro com a condicao de 0 comprador nao utiliza-Io). De acordo com 0 modo de atuacao, a coridicao pode ser: • Suspensiva: quando subordina 0 inicio dos efeitos do neg6cio juridico ao implemento da condicao. Segundo SilvioVenosa: "Sob essa forma de condicao, portanto, 0 nascimento do direito fica em suspenso, a obrigacao nao existe durante 0 periodo de pen dencia da condicao" (ex.: se chover amanha, pode utilizar 0 meu carro); ou • Resolutiva: quando poe fim aos efeitos do neg6cio juridico. Nos termos do art. 127 do C6digo Civil: "Se for resolutiva a con dicao, enquanto esta nao se realizar, vigorcrii C) .;.~'C ",!!" podendo exercer-se desde a conclusao deste 0 direito por ele estabe lecido". Ex.: pode utilizar meu carro enquanto estiver chovendo. De acordo com a possibilidade, a condicao pode ser: • Possivel: quando puder ser cumprida tanto no aspecto fisico como tarnbern no aspecto juridico; ou 56 --.--lmp.ossivel: quando nao puder ser cumprida, por uma razao natural ou juridica. A condicao impossivel invalida 0 neg6cio juridico quando suspensiva. Se a condicao impossivel for aposta como resolutiva, e considerada inexistente. De acordo com a vontade das partes, a condicao pode ser: • Causal: quando subordinar 0 neg6cio juridico ao acaso, ou seja a urn fato alheio avontade das partes (ex.: emprestarei 0 carro se chover amanha). Euma especie de condicao valida: • Potestativa: subordina a eficacia do neg6cio juridico avontade de uma das partes. Pode ser: Puramente potestativa (mero arbitrium), se deixar a eficacia subordinada ao puro arbitrio de uma das partes (ex.: dou se quiser) ou Simplesmente ou mera mente potestativa (arbitrium bani viri), quando depender da pratica de algum ato ou de certa circunstancia e nao de urn mero capricho ou arbitrio de uma das partes (ex.: empresto 0 carro se voce der uma volta correndo no quarteirao). Vale lembrar que as condicoes simples ou meramente potestativas sao considera das licitas e, portanto, validas, Ja as condicces puramente potestativas sao vedadas; • Mista: depende, simultaneamente, de urn ato de vontade e de urn evento natural (ex.: pago-lhe uma quantia em dinheiro se efetuar uma apresentacao teatral e estiver chovendo). 4.5.2.2. Termo E0 momenta (dia, mes, ano) em que comeca ou termina a eficacia do neg6cio juridico. De acordo com San Tiago Dantas, "Termo e 0 mo mento que se determina no tempo em que os efeitos do neg6cio juridico devem cornecar ou devem cessar de produzir-se'". Podemos entao afirmar que 0 inicio ou 0 fim da eficacia do neg6cio juridico ficam vinculados a urn even to futuro e certo. De acordo com 0 modo de atuacao, 0 termo pode ser: • Suspensivo: tambern chamado de termo inicial (ou dies a quo), subordina 0 inicio de eficacia do neg6cio. Ex.: Darte-ei urn car ro quando voce completar 18 anos; ou 'i SAN TIACO DANTAS. Programa de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 20(H. 57 I I DIREITO CIVIL • Resolutivo: tambern chamado de termo final (ou dies ad quem). Ex.: Eu te empresto meu carro ate junho (termo resolutive). De acordo com a origem, 0 termo pode ser: • Legal: quando previsto em lei; ou • Convencional: quando previsto ern contrato, por meio de clausula. 4.5.2.3. Modo ou encargo Consiste num onus ou obrigacao imposto aparte que ebeneficia da em virtude de uma liberalidade praticada pelo agente. Em regra 0 modo ou encargo nao suspende nem interrompe a eficacia do negocio juridico. E comum em contratos de doacao e tarnbern em testamentos (ex.: Empresto minha casa para que cuide de minha sogra). Vale lembrar que se considera nao escrito 0 encargo ilicito ou im possivel, salvo se constituir 0 motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida 0 negocio juridico. 4.6. VICIOS OU DEFEITOS DO NEGOCIO JURIDICO 4.6.1. Vlcios da vontade ou do consentimento 4.6.1.1. Erro / ignorancia - Arts. 138 a 144 Segundo Silvio Venosa, erro ea "rnanifestacao de vontade em desa corda com a realidade, quer porque 0 dedarante a desconhece (ignoran cia), querporque tern representacao erronea dessa realidade (erro)'". Essa manifestacao de vontade nao pode ter sido provocada por outra pessoa; se o foi, ainda que por omissao, estaremos diante de "dolo" e nao de "erro" Nos termos do art. 138 do C6digo Civil, sao anulaveis os neg6cios juridicos quando as declaracoes de vontade emanarem de erro substanciai que poderia ser percebido por pessoa de diligencia normal. Especies de Erro: - Substancial: 1. Quando interessa anatureza do negocio, ao objeto principe, da declaracao, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II. Quando concerne aidentidade ou aqualidade essencial aa pe.: soa a quem se refira a declaracao de vontade, desde que tent influido nesta de modo relevante; G SILVIO DE SALVIO VENOSA. Direito Civil. Sao Paulo, Atlas, 2003, v. 1, p. 424. 581,- III. Quando sendo de direito e nao implicando recusa aaplicacao da lei, for motivo unico ou principal do neg6cio juridico. - Acidental: Quando recai sobre qualidade irrelevante da pessoa com quem se contrata au do objeto contratado. - Escusabilidade do Erro: Anteriormente, entendia-se que, para 0 neg6cio juridico ser anu lado por erro, deveria restar demonstrada a sua escusabilidade. Atualmen te, a doutrina vern entendendo que nao. N esse sentido, esta 0 Enunciado nQ 12 da I ]arnada do ST]: "Na sistematica do art. 138, e irrelevante ser au nao escusavel a erto, parque a dispositive adata a principia da coniianca". o erro pode acontecer com relacao a coisa, pessoa au direito, ge rando a anulabilidade do neg6cio juridico. - Erro de calculo: Havendo erro material em calculo, 0 C6digo Civil nao permite a anulacao do neg6cio jurldico, autorizando tao-somente a retificacao. 4.6.1.2. Dolo / lntencao de prejudicar - Arts. 145 a 150 E0 induzimento malicioso (artificio, artimanha, engodo, encena cao, astucia) que tern por objetivo viciar a vontade do agente num deter minado contexto. Na verdade, 0 dolo e0 erro induzido. Para que 0 dolo possa ser anulado, Washington Monteiro de Bar ros aponta os seguintes requisitos: I) intencao de induzir 0 declarante a praticar 0 ato juridico; II) utilizacao de recursos fraudulentos graves; III) que esses artificios sejam a causa determinante da declaracao de vontade; e IV) que procedam do outro contratante ou sejam por este conhecidos como procedentes de terceiro" - Especies de Dolo: Positivo: e aquele praticado por meio de uma conduta positiva (ato comissivo). Ex.: Quando 0 vendedor de uma televisao afirma que esta possui funcoes que sabe inexistentes apenas com 0 intui to de ludibriar 0 comprador. N egativo: consistente em urn ato omissivo. Nos neg6cios juridi cos bilaterais, 0 silencio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado constitui omis 59 DIREITQ CIVIL sao dolosa, provando-se que sem ela 0 neg6cio nao se teria celebra do. Ex.: Quando na compra e venda de um aparelho reprodutor de CD, 0 comerciante, indagado sobre 0 fato de 0 aparelho tambern ser gravador, afirma desconhecer tal informacao, embora tivesse ciencia inequivoca de que nao 0 fosse. Essencial (ou principal): E aquele que recai sobre uma caracte ristica relevante do neg6cio juridico. Se a parte tivesse conheci mento do fato, problema ou vicio, nao teria realizado 0 neg6cio. De acordo com 0 art. 145, CC, os neg6cios juridicos sao anul.iveispor dolo quando este for a sua causa. Acidental: E aquele em que a atuacao maliciosa da outra parte nao foi a razao determinante da celebracao do neg6cio jurtdico, embora tenha trazido prejuizo ao contratante. Se a parte conhe cesse 0 problema ornitido, teria praticado 0 neg6cio de outra for ma. Essa especie de dolo nao torna 0 ato anulavel, gerando apenas a obrigacao de indenizar. - Dolo do representante: Legal: so obriga 0 representado a responder civilmente ate a im portancia do proveito que teve. Convencional: 0 representado respondera solidariamente COIn ele por perdas e danos, aplicando-se 0 art. 932, inc. III, do CC. 4.6.1.3. Coacao - Arts. 151 a 155 Ea pressao ou arneaca, fisica ou moral, sobre uma das partes, que faz com que essa tenha sua vontade alterada, deixando de agir de acordo com suas intencoes e conviccoes, A coacao, para viciar a declaracao de vontade, ha de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano imi nentc e consideravel asua pessoa, asua familia ou aos seus bens. Se disser respeito a pessoa nao pertencente afamilia do paciente, a juiz, com base nas circunstancias, decidira se houve coacao. Ao apreciar a coacao, 0 juiz deve ter em conta 0 SeX(L a ic1~:\'~i: ? condicao, a saude, 0 temperamento do paciente e todas as demais circuns tancias que possam influir na gravidade dela. - Especie s de Coacao: Moral (au relativa - «vis cornpulsiva"): Na coacao moral a vontade do agente e tao-so cerceada, restrinzida, e nao totalmcnte exclufda, podendo deixar de praticar 0 ncg::"" 'C"" ~. por resistir ao mal prometido. • 60 Fisica (ou absoluta - "vis absoluta"): Nesta cspecie de coacao nao existe vontade. Segundo Silvio Venosa, coacao absoluta, e a "violencia fisica que nao da escolha ao coacto".Assim, se 0 individuo aponta arma a outrem ou conduz sua mao para conseguir sua assi natura em documento, nao hi vontade por parte do violentado. 4.6.1.4. Estado de perigo - Art. 156 Ocorre quando alguern, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua familia, de grave dana conhecido pela outra parte, assume obrigacao excessivamente onerosa. Tarnbern e admissivel 0 reconhecimento do estado de perigo quando 0 prejudicado praticou 0 ato para salvar al guem nao pertencente a sua familia, devendo 0 juiz decidir nesses casos. Caso seja reconhecido que 0 agente praticou 0 ato em estado de perigo, 0 neg6cio juridico deve ser anulado. Ex.: caso de uma pessoa que tern urn familiar sequestrado, tendo sido fixado 0 valor de resgate em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Urn tercei ro, tendo conhecimento do fato, oferece tal quantia em troca de urn bern pertencente ao individuo, mas que na verdade possui valor real cinco vezes maior. Celebra-se a venda, em funcao da situacao de desespero da pessoa que quer salvar seu parente. 4.6.1.5. l.esao - Art. 157 Ocorre quando a pessoa, por premente necessidade, ou por inexperiencia, se obriga a prestacao manifestamente desproporcional ao valor da prestacao oposta. Essa desproporcao deve ser apreciada de acordo com os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado 0 neg6cio. Verificada a ocorrencia da lesao, 0 neg6cio juridico deve ser anulado. Diversamente do que ocorre no estado de perigo, na lesao a pessoa que requer a anulacao do neg6cio juridico nao precisa provar que a outra parte tinha conhecimento do estado de necessidade ou da inexperiencia do prejudicado. 4.6.2. Vicios sociais 4.6.2.1. Fraude contra credores - Arts. 158 a 165 A fraude contra credores (institute de Direito Civil) e caracteri zada quando 0 devedor insolvente, ou na iminencia de assim se tornar, pratica atos maliciosos no intuito de diminuir 0 seu patrimonio, redu 61 .= APR", w I J DIREITO CIVIL zindo, assim, a garantia que esse representa para 0 pagamento de suas dividas perante os credores. - Exemplos de atos fraudat6rios: • alienacao de bens (doacoes, vendas, permutas, dacoes em paga mento); • remissao de dividas; • constituicao de direitos reais; • pagamento antecipado a credor quirografario, • renuncia de heranca. Para que 0 neg6cio seja anulado, a parte prejudicada (credor) deve ingressar com _~~ao pauliana contra 0 adquirente desses bens. Entretanto, devera provar os seguintes requisitos: a) Consilium fraudis (conluio fraudulento) - E a rna-fe, 0 intuito deliberado de prejudicar, sendo suficiente que 0 devedor tenha consciencia de que de seu ato advirao prejuizos, b) Eventus damni (evento danoso) - E0 prejuizo causado ao ere- dor, que nao conseguira satisfazer 0 seu credito diante da insol vencia do devedor. c) Anterioridade do credito, Atencao: Nao confundir com fraude a execuciio - instituto de Direito Processual Civil. Na fraude aexecucao a alienacao econsidera da como ato inexistente, nao necessitando de processo para anula-la, basta simples despacho do juiz. Para caracterizacao da fraude aexecucao nao e exigida prova do conluio, entendendo a doutrina que ha presuncao abso luta de sua presen~a. 4.6.2.2. Sirnulacao - Art. 167 E a declaracao enganosa da voritade, com 0 objetivo de proaUZIr efeito diverso do ostensivamente indicado. As partes fingem praticar urn neg6cio, que na verdade nao desejam, para prejudicar urn terceiro. Vale lembrar que, atualmente, nao importa se a simulacao foi praticada com 0 intuito de lesar (simulacao maliciosa) ou nao (simulaca.. .dl) cente). De acordo com 0 Enunciado nQ 152 da III lornada do ST!, "toda simulacao, inclusive a inocente, i; involidante". • 62 A acao declarat6ria de nulidade pode ser proposta por qualquer intc ressado, ou mesmo pelo Ministerio Publico, quando the couber intervir. - Especies de simulacao: Absoluta: caracterizada quando as partes celeb ram urn neg6cio jundico falso sem a intencao de realiza-Io ou de realizar qualquer outro. Ha apenas 0 objetivo de lesar urn terceiro. Relativa: e aquela em que os contratantes realizam 0 neg6cio ju ndico sob determinada aparencia, desejando, na verdade, realizar neg6cio diverso. 4.7. INVALIDADE DO NEGOCIO JURIDICO o negocio juridicoe invalido(nulo ou anulavel) quando nao esta apto a produziros efeitos·p~tendidos.Toda vez que houver violacao de preceito de ordem publica 0 neg6cio sera nulo. Todavia, se a violacao atingiu apenas 0 interesse particular, 0 neg6cio sera passivel, somente, de anulabilidade. 4.7.1. Neg6cio nulo Segundo Silvio Venosa: "A funcao da nulidade etornar sem efeito 0 ato ou neg6cio juridico. A ideia e faze-lo desaparecer, como se nunca hou vesse existido. Os efeitos que the seriam pr6prios nao podem ocorrer. Tra ta-se, portanto, de vicio que impede 0 ato de ter existencia legal e produzir efeito, em razao de nao ter sido obedecido qualquer requisito essencial'". Quando falamos em ato nulo, estamos falando em nulidade absoluta, inte ressando asociedade que este nao gere efeitos. Assim, as nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do neg6cio juridico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, nao the sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. Hip6teses de neg6cio juridico nulo: _.·_·_···__·,-,_····_~·__w ¥._~_.---__••__,>_.__ 1. celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II. for ilicito, impossivel ou indeterminavcl 0 seu objeto; ~-_._-_ . III. 0 motivo determinante, cornum a ambas as partes, for ilicito; IV. nao revestir a forma prescrita em lei; V. for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade; SILVIO DE sALVIa VENOSA, Direito Civil. Sao Paulo, Atlas, 2003, v. 1, p. 570. 63 7 I DIREITO CIVIL I VI. tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII. quando a lei taxativamente declarar algum neg6cio nulo au proibir-lhe a pratica sem cominar sancao, 4.7.2. Neg6cio anulavel
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