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Andre Borges de Carvalho Barros Elementos do Direito Direito Civil

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1 
LEI DE INTRODuc;Ao AO CODIGO CIVIL 
Par loiio Ricardo Brandao Aguirre 
1.1. CONSIDERACOES GERAIS 
A Lei de Introducao ao C6digo Civil, Decreto-Lei nQ 4.657, de 4 de 
seternbro de 1942, constitui urn conjunto de normas que disciplinam a 
aplicacao e a interpretacao das pr6prias normas juridicas. 
Trata-se de legislacao autonoma ao C6digo Civil, pois se aplica a 
todos os ramos do direito e nao apenas ao direito privado, contendo prin­
cipios gerais sobre as normas. Urn conjunto de normas sobre normas. 
En1 seus dezenove artigos, a Lei de Introducao ao C6digo Civil «des­
creve as linhas basicas da ordem juridica, exercendo a funcao de lei gcml, 
por orientar a obrigatoriedade, a vigencia espacio-temporal, a interpreta­
~ao e a integracao da lei e por tracar as diretrizes das relacocs de direito 
internacional privado" como bern observa Maria Helena Diniz 1. 
Deste modo, a Lei de Introducao ao C6digo Civil regula a vigencia 
e a eficacia da lei no tempo e no espaco, orienta a sua obrigatoriedade, 
fornece criterios de interpretacao (hermeneutica) e de integracao de nor­
mas, alern de conter normas de direito internacional privado. 
1	 MARIA I IELENA DINIZ. Curse deDireito Civil Brasileiro: Teoria Geraldo Direito Civil, IRa cd., 
Sao Panlo, Saraiva, 2002, III vol., p. 58. 
23 
DIREITO CIVIL 
1.2. VIGENCIA DA LEI NO TEMPO 
Apos 0 proces:;o Iegrs.ativo que culmina com a sua prornulgacao c 
publ icacao, a norma juridica torna-se urn comando geral, disciplinando as 
situacocs juridicax q\1e ~c \.'L:ontram sob 0 seu imperio. 
Como bern observa Caio Mario da Silva Pereira', "C0111 a promulgacao, 
tem-se a lei autenticada e perfeita. Mas nao epossivel concebe-Ia como uma 
ordem geral, antes da difusao do seu texto que se realiza pela publicacao" 
COlTIO conseq lien cia, merecern especial atenc ao as q UCstCICS 
atinentes ao inicio da vigencia da lei, sua continuidade e 0 mornento em 
que CeSSalTI os seus efeitos. 
1.3. INICIO DA VIGENCIA DA LEI 
Dispoe 0 art. 1Q da Lei de Introducao ao C6digo Civil que "salvo 
disposicao contraria, a lei comeca a vigorar em todo 0 Pais 45 (quarenta e 
cinco dias) depots de oficialmente publicada". 
Dessa forma, e possivel verificar que a obrigatoriedade da lei 
nao se inicia com a sua publicacao, a menos que exista expressa dispo­
sicao nesse sentido. 
Tarnbem pode haver disposicao determinando 0 inicio da vigcncia 
da lei em prazo superior aos 45 dias de que trata 0 art. 1Q da Lei de I ntrodu­
cao ao C6digo Civil, como eo caso, por exemplo, do prazo de urn ano para 
a entrada ern vigor do C6digo Civil de 2002, consoante estabelecido em 
seu art. 2.044. 
Portanto, pode-se concluir que a lei tera vigencia imediata se 
houver expressa disposicao nesse sentido, hip6tese em que entrara ern vi­
gor na data de sua publicacao. 
Por outro lado, 0 legislador pode dcterrninar 0 terrno inicial de vi­
gencia da norma, fixando-o em urn momento posterior adata de sua pu­
bl icacao, toda vez que julgar conveniente ao interesse publico a existencia 
de urn perfodo para a sua divulgacao e a adaptacao aos ditames da nova lei. 
Na falta de disposicao expressa do legislador, a lei entrara ern vigor 
no prazo de 45 dias a contar de sua publicacao. 
Dcnomina-se vacatio legis 0 intervalo entre a data de publicacao 
da lei e a sua entrada em vigor. Trata-se do periodo de vacancia da lei. 
2	 CAlO MARIO DA SILVA PEREIRA. lnstituicoes deVir-eito Civil, 20" cd., Rio de [anciro, Forcusc, 
2004, vo1. 1, p. 115. 
24 
Cabe ressaltar que, se a lei brasileira for admitida no exterior, sua 
obrigatoriedade se inicia no prazo de tres meses ap6s oficialmente publicada 
(LICC, art. 1Q, § 1Q). 
Se, durante a vacatio legis, a lei sofrer uma correcao em seu texto, 
dando ensejo a nova publicacao, inicia-se a contagem do prazo para sua 
entrada em vigor a partir dessa nova publicacao, (LICC, art. 1Q, §3Q ) 
Por outro lado, se a mudanca no texto da lei for publicada ap6s a 
vacatio legis, devera ser considerada como lei nova, tornando-se obrigat6­
ria ap6s 0 decurso do prazo de 45 dias ou de tres meses ap6s a sua publica­
cao, salvo disposicao em contrario, (LICC, art. 1Q, § 4Q ) 
1.4. REVOGACAO DA LEI 
Em regra, a lei possui carater permanente, mantendo-se em vigor 
ate que seja revogada ou modificada por outra. 
Trata-se do principio da continuidade expresso pelo art. 2Q da 
Lei de Introducao ao C6digo Civil, que determina que a lei perrnanecera 
em vigor ate que outra a modifique ou revogue, salvo se estiver destinada a 
vigencia temporaria. 
Dessa forma, pode-se verificar que a lei tera vigencia por prazo 
indeterminado e deixara de produzir efeitos apenas se outra a modificar 
ou revogar. 
Todavia, sera de vigencia temporaria a norma juridica que apre­
sente um termo final de duracao fixado pelo legislador. 
Conc1ui-se, assim, que a norma em vigor perde eficacia com a sua 
revogacao ou com 0 advento do termo final de duracao, momenta em que 
deixa de ser obrigat6ria. 
A revogacao da lei apresenta duas especies: a ab-rogacao e a 
derrogacao. 
Ab-rogacao e a revogacao total de uma lei, enquanto a derrogacao 
consiste na revogacao parcial da norma anterior. 
Outrossim, a revogacao podera ser expressa ou tacita. 
Da-se a revogacao expressa quando a nova lei houver dec1arado 
extinta a norma antiga, em todos os seus dispositivos (ab-rogacao), Oll 
quando houver estabelecido quais os dispositivos que deixarao de produzir 
efeitos (derrogacao), 
25 
I 
I 
DIREITO CIVIL 
Neste sentido, estabelece a primeira parte do § }U- do art. 2Q da Lei 
de Introducao ao C6digo Civil que "a lei posterior revoga a anterior quan­
do expressamente 0 declare". 
2
A revogacao tacita, por sua vez, decorre de sua incornpatibilida­
de com a lei antiga, em virtude de regular inteira ou parcialmente a mate­
ria tratada pela norma anterior, nos termos da segunda parte do § 1Q do art. 
Q da Lei de Introducao ao C6digo Civil. 
Ressalte-se que, salvo disposicao expressa em contrario, a lei nao 
possui carater repristinatorio, ou seja, a lei revogada nao se restaura por 
ter a lei revogadora perdido a vigencia. 
Por outro lado, cabe ressaltar que, consoante dispoe 0 art. 6Q da 
LICC, a lei em vigor tera efeito imediato e geral, respeitados 0 ato juridico 
perfeito,o direito adquirido e a coisa julgada. 
.. , '.¢a qeds~()j}lgicialdequejan~<:>,~>: . 
~aiba·'t~~f~ot~·,~;~~~~:;{fr~~;1;.)i1,r~··N~(,~--:(~,· .' 
1.5. INTEGRA<;AO DE LEIS 
Quando a lei for omissa, 0 juiz decidira 0 caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os principios gerais de direito, e na aplicacao da 
lei devera atender aos fins sociais a que ela se dirige e as exigencias do 
bern comum. 
26
-
2 
DAS PESSOAS 
Par [oiio Ricardo Brandao Aguirre 
2.1. INTRODUCAO 
o Codigo Civil brasileiro disciplina as relacoes juridicas de direito 
privado, ou seja, regula as relacoes entre particulares, regulamentando os 
direitos e deveres de todas as pessoas e regendo suas relacoes obrigacionais, 
patrimoniais e familiares. 
Em sua Parte Ceral 0 Codigo Civil contern tres livros, que aprc­
sentam normas sobre as pessoas (Livro I - Das Pessoas), os bens (Livro 1I ­
Dos Bens) e os fatos juridicos (Livro HI - Dos Fatos Iuridicos). 
Neste capitulo procederemos ao estudo das normas atincntes a 
pessoa natural e apessoa jundica. Para tanto, faz-se necessaria a cornprc­
ensao do conceito de personalidade e sua abrangencia. 
2.2. PERSONALIDADE 
A personalidade consiste na aptidao generica para adquirir direi­
tos e contrair obrigacoes ou deveres na ordem civil. 
Toda pessoa edotada de personalidade, seja a pessoa natu ral (ser 
humane), seja a pessoa juridica (entidades morais). 
Deste 1110do, 0 ser humano, enquanto sujeito de relacocs juridicas, 
esta dotado de personalidade, assim como aqueles entes morais forrnados 
27DIAEITO CIVIL 
por agrupamentos de individuos que se associam para a realizacao de 
fins econornicos ou sociais (sociedades e associacocs) ou aqucles que sc 
constituem mediante a destinacao de urn patrimoriio para Lllll firn deter­
111 inado (fuudacoes) 1. 
2.3. PESSOA NATURAL 
Q Codigo Civil dispoe, em seu art. 1Q que "toda pessoa ecapnz de 
dtreitos e deveres lUI oidem civil". 
Neste contexte, a pessoa natural e0 ser humane, sujeito das rela­
cocs juridicas, COIn aptidao para adquirir direitos e contrair obrigacoes. 
2.3.1. Inicio da personalidade 
De acordo C0111 0 art. 2Q do C6digo Civil a personalidade civil se 
inicia COIn 0 nascimento com vida da pessoa natural. Porem, a lei pC)e a 
salvo os direitos do nascituro desde a sua concepcao. 
Ocorre 0 nascimento C0111 vida quando 0 feto eseparado do ventre 
rnaterno, inalando ar atmosferico, mesmo que por apenas alguns instantes. 
Assim sendo, para que se considere vivo e necessario que tenha 
respirado, C0111 a consequente entrada de ar em seus pulmoes. Au respirar, 
viveu - afirmando-se assim a sua personalidade civil. 
Rcssalvam-se, contudo, os direitos daquele ser ja concebido que 
ainda nan se separou do ventre materno, 0 nascituro. 
Existe em nosso ordenamento todo U111 sistema de protccao ao 
nascituro e ao resguardo de seus direitos, na hip6tese de vir a nascer com 
vida) tais como 0 direito avida, aintegridade fisica, a alimentos, alcm do 
dire ito de ser reconhecido como filho, de ser adotado, de ser conternplado 
e111 testamento ou de receber doacoes. 
Controvertida ea questao atinente apersonalidade do uascituro. 
Para a doutrina mais tradiciorial, antes al! L~",,<C; ._c., ..._._ .. .: .. _ 
nao ha personalidade (tcoria natalista ). Por conseguinte, 0 nasciruro send 
titular de direito eventual, condicionado ao nascimento C0111 vida. 
Outros entendem que a personalidade do nascituro nan t condi­
ciona1. Para os adeptos dessa correrne doutrinaria a personalidade inicia­
se com a concepcao (teoria conceptualista). 
I CAIO MARIO DASILVA PEREIRA. Institutcoes de Diteito Civil, 20"cd., Rio de lauciro, lo rcnsc, 
200J1, vol. 1, pp. 2U/214. 
-
28 
Existe, por fim, uma terceira vertente (teoria mista) que considera 
a existencia da personalidade juridica formal e daquela que e material. 
Neste sentido, ensina Maria Helena Diniz que "Poder-se-ia ate 
mesmo afirmar que na vida intra-uterina tern 0 nascituro e na vida extra­
uterina tern 0 ernbriao, concebido in vitro, personalidade juridica formal, 
no que atina aos direitos personalissimos, visto ter carga genetica diferen­
ciada desde a concepcao, seja ela in vivo ou in vitro (Recomendacao n. 
1.046/89, do Conselho da Europa), passando a ter personalidade juridica 
material, alcancando direitos patrimoniais, que se encontravam em estado 
potencial, somente com 0 nascimento com vida (CC, art. 1.808, §3 Q ) . Se 
nascer com vida adquire personalidade juridica material, mas se tal nao 
ocorrer nenhum direito patrimonial tera" 
2.3.2. Capacidade jurfdica 
Ia foi dito que toda pessoa possui aptidao generica para adquirir 
direitos ou contrair obrigacoes. No entanto,nem todos possuem capaci­
dade para a aquisicao desses direitos ou para 0 seu exercicio por si mes­
mos. Alguns precisam estar representados e outros assistidos para a prati ­
ca de determinados atos de seu interesse. 
Por essa razao, faz-se necessario perquirir se a pessoa e capaz de 
adquirir direitos e para exerce-los. Surge entao 0 conceito de capacidade, 
que e a medida da personalidade. 
Toda pessoa e dotada de capacidade de direito (ou de gozo), 
que consiste na capacidade para a aquisicao de direitos, reconhecida aos 
seres humanos, sem qualquer distincao, tendo inicio com 0 nascimento 
com vida. 
Porern, tambem existe a capacidade de fato (on de exercicio), 
consistente na aptidao para 0 exercicio dos direitos por si mesmo. 
A lei, com ° objetivo de proteger determinadas pessoas, estabelece 
restricoes quanta ao exercicio dos direitos, subtraindo-lhes a autodeter­
minacao e condicionando a pratica de determinados atos aintervencao de 
uma outra pes soa que os represente ou assista. 
Toda pessoa e capaz de direito, mas nem todas sao capazes de fato. 
2	 MARIA HELENA DINIZ. Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria Geraldo Direito Civil, 18a cd., 
Sao Paulo, Saraiva, 2002, 1Q vol., p. 180. 
29 
I
 
I
 
-
DIREITO CIVIL 
Aqueles que possuem capacidade de dire ito e, tambem, de fato, sao 
considerad.is plenamente capazes. Ia os que sofrem Iimitacoes em sua ca­
pacidade de fate, sao considerados incapazes. 
2.3.2.1. Incapacidade 
Como vimos, a incapacidade e a restricao legal ao exerdcio dos 
atos da vida civil. Trata-se de excecao aregra, e, por isso, deve estar expres- . 
samente prevista em lei. 
Se a proibicao para 0 exercicio dos direitos do incapaz for total 
tem-se a incapacidade absoluta. Nesses casos, 0 incapaz devera ser re 
presentado, sob pena de nulidade do ato. 
Dispoe 0 art. 3-0 do C6digo Civil que: 
((Art. 3Q sao absolutamente incapazes de exercer pessoalmente as ato: 
da vida civil: 
I - as menores de dezesseis anos; 
II - as que, par enfermidade au deficiencia mental, nao tiverem a ne 
cessario discernimento para a pratica desses atos; r > 
III - as que, mesmo par causa transit6ria, nao puderem exprimir sur 
vontade." 
Por outro lado, na hip6tese de ser parcial a restricao para 0 exer 
cicio dos direitos do incapaz, caracteriza-se a incapacidade relativa 
Nesses casos, 0 incapaz devera ser assistido, sob pena de se gerar '. 
anulabilidade do ato. 
Contudo, existem atos que podem ser praticados pelo relativament 
incapaz, sem que se faca necessaria a intervencao de uma outra pesso 
para assisti-Io. Neste sentido, e valido, por exemplo, ° testamento do me 
nor relativamente incapaz (art. 1.860 CC), assim como a lei permite qu 
seja testemunha em atos juridicos (art. 228 CC). 
Estabelece 0 art. 4° do C6digo Civil que: 
"Art. 4Q sao incapazes, relativamente a certos atos, au amaneira a. 
as exercer: 
I - as maiores hi- dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - as ebrios habituais, as viciados em toxicos, eas que, par deficienc•. 
mental, tenham a discernimento reduzido; 
30 
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
 
IV - os pr6digos.
 
Paragrafo unico. A capacidade dos indios sera regulada por legisla~ao
 
especial." 
Ha que se ressaltar que os pr6digos nao poderao praticar pessoal­
mente atos que possam comprometer 0 seu patrimonio, ocasiao em que 
deverao ser assistidos por seu curador. Todavia, poderao praticar os demais 
atos da vida civil. 
Os indios, por sua vez, enquanto nao integrados acomunhao nacio­
nal, encontram-se sob regime tutelar, de acordo com os termos do Estatuto 
do Indio (Lei nQ 6.001/73). 
2.3.2.2. Cessacao da incapacidade 
Cessa a incapacidade quando cessarem as causas que the deram 
origem. Assim, p. ex., termina a incapacidade do pr6digo quando cessar a 
enfermidade que determina a restricao ao exercicio de seus direitos. 
Em se tratando do menor relativamente incapaz, a incapacidade 
termina com a maioridade ou com a emancipacao. 
A maioridade se da aos dezoito anos, momenta em que a pessoa 
se torna habilitada para a pratica de todos os atos da vida civil, nos termos 
do art. 5Q , caput, do C6digo Civil. 
3
Cabe ressalvar, entretanto, que a lei pode exigir uma idade limite 
para a pratica de determinados atos, como e0 caso, p. ex., da idade minima 
de trinta e cinco anos como condicao de elegibilidade do Presidente da 
Republica, consoante estabelece a Constituicao Federal em seu art. 14, § 
Q 
, alinea a. 
Por outro lado, epossivel adquirir-se a capacidade plena atraves da 
emancipacao, independentemente de se atingir a maioridade, nas hip6­
teses previstas no paragrafo unico do art. 5Q do C6digo Civil: 
((Art.5Q A menoridade cessa aos dezoito anos completes, quando a 
pessoa fica habilitada apratica de todos os atos da vida civil. 
Paragrajo unico. Cessara, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessao dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante 
instrumento publico, independentemente de homologacaojudicial, oupor 
sentenca do juiz, ouvido 0 tutor, se 0 menor tiver dezesseis anos completes; 
31
 
I
 
I
 
DIREITO CIVIL 
II - pelo casamento;
 
III - pelo exercicio de emprego publico efetivo;
 
IV - pela colacao de grau em curso de ensino superior;
 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, oupela existencia de rela­
cao de emprego, desde que, em [uncao deles, 0 menor com deze. 
anos completos tenha economia pr6pria." 
Dessa forma, pode-se c1assificar a emancipacao COlTIO: i) volunt 
ria; ii) judicial ou iii) legal. 
A emancipacao voluntaria ocorre pela concessao dos pais ou de 
apenas urn deles na falta do outro, por meio de instrumento publico. Pos­
sui, portanto, forma solene e dispensa hornologacao judicial. 
A emancipacao judicial e deferida por sentenca, ap6s ouvi­
dos 0 tutor e 0 Ministerio Publico. Resulta, pois, de procedimento judi­
cial, eis que so os menores sob 0 poder familiar podem ser emancipa­
dos voluntariamente. 
A emancipacao legal, por sua vez, decorre de determinados fates 
previstos ern lei: 0 casamento; 0 exercicio de emprego publico efetivo; a colacao 
de grau em curso de ensino superior; e 0 estabelecimento civil ou comercial, ou 
a existencia de relacao de emprego, desde que, em[uncao deles, 0 menor com 
dezesseis anos completos tenha economia pr6pria. 
Em todos os casos a ernancipacao eirrevogavel, podendo, porern, 
ser invalidada se 0 ato que a determinou for nulo ou anulavel, 
2.3.3. Indivlduahzacac da pessoa natural 
A pessoa natural se identifica pelo nome, pelo estado e pelo 
domidlio. 
2.3.3.1. Nome 
o nome e0 elemento pelo qual se individualiza e se designa a pesso: 
natural, identificando-a na sociedade e integrando a sua personalidade. t 
inalienavel, imprescritivel e juridicamente protegido, pois, alem do aspecto 
individual consistente no direito ao nome, existe, tambem, 0 interesse publi­
co de que as pessoas sejam corretamente identificadas na sociedade. 
Dispoe 0 C6digo Civil em seu art. 16 que "toda pessoa ten! ~>-')1t() ar 
nome, nele compreendidos 0 prenome e 0 sobrenome". 
32 
•
 
Prenome e 0 nome pr6prio da pessoa e serve para distinguir mem­
bros da mesma familia. Pode ser simples (Jose, Antonio, Maria) ou com­
posto (Luis Fernando, Ana Paula, ou, p. ex., Caroline Louise Marguerite ­
princesa de Monaco)", 
Sobrenome e 0 elemento do nome que identifica a procedencia 
da pessoa, caracteristico da familia e transmissivel hereditariamente. Tam­
bern denominado patronimico ou apelido de familia. Tambem pode 
ser simples (Silva, Souza) ou composto (Alcantara Machado, Mendes 
Campos). 
Existe, ainda, a alcunha, que consiste na designacao dada a al­
guem em virtude de alguma particularidade. Pode ser acrescentada ao nome 
da pessoa natural sob certas condicoes, como e 0 caso do presidente Lula. 
Ha tambern 0 agnorne, 0 sinal distintivo de pessoas da mesma es­
tirpe. Por exemplo: Junior, Neto, Sobrinho, Segundo, Terceiro. 
De acordo com a Lei dos Registros Publicos (Lei n~ 6.015/73) e suas 
posteriores alteracoes, 0 nome podera ser alterado nas seguintes hip6teses: 
•	 quando forem suscetiveis de expor a ridiculo os seus portado­
res, hip6tese em que 0 oficial do registro podera, inclusive, dei­
xar de registra-lo (arts. 55, paragrafo unico e 109) 
•	 quando 0 interessado assim requerer (pessoalmente ou por pro­
curador), no primeiro ana ap6s ter atingido a maioridade civil, 
desde que nao prejudique os apelidos de familia, averbando-se a 
alteracao que sera publicada pe1a imprensa (art. 56); 
•	 em razao da substituicao por apelidos publicos not6rios ou por 
sua inclusao (art. 58 )4; 
•	 em razao de fundada coacao ou ameaca decorrente da colabo­
racao com a apuracao de crime, por determinacao, em sentenca 
de juiz competenre, ouvido 0 Ministerio Publico (art. 58, para­
grafo unico)"; 
:'>	 CARLOS ROBERTO GONC;:ALVES. Direito Civil Brasileiro: Parte Geral, 1"cel., Siw Paulo, Sarai 
va, 20Cn, vol. 1, p. 121. 
'1 Rcdacao da Lei IlQ 9.708/98. 
) Rcdacao da Lei nQ 9.708/98. 
33
 
DIREITO CIVIL
 
•	 quando ocorrer evidente erro grafico, hip6tese em que sera ado­
id,_1 urn procedimento sumario no pr6prio cartorio para sua 
correcao (art. 110). 
Allin disso, 0 nome tambem podera ser alterado por adocao (c! ~> 
47, § 5Q do ECA e art. 1.627 do C6digo Civil) e em virtude do casamento 
(art. 1565, § 1Q do C6digo Civil), da separacao judicial ou do div6rcio (arts. 
1.571, § 2Q e 1.578 do C6digo Civil) e pela uniao estavel (art. 57, § 2° da Lei 
n'' 6.015/73). 
Por fim, tem-se admitido a alteracao do nome para solucionar pro­
blemas decorrentes de homonimia, quando se admite 0 acrescimo de mais 
um prenome ou sobrenorne.' 
2.3.3.2. Estado 
o estado consiste no complexo de qualidades que sao peculiares a 
pessoa natural, e pode ser classificado como individual, familiar e politico. 
o estado individual esta relacionado a idade (maior e menor), 
ao sexo (feminino e masculino) e asaude mental e fisica (sao de espirito, -~ 
alienado e surdo-mudo) da pessoa. 
o estado familiar indica a situacao da pessoa na familia. Pode ser 
determinado em razao do casamento (solteiro, casado, separado judicial­
mente, divorciado ou viuvo ) ou do vinculo de parentesco (consanguinco, 
por afinidade ou civil). 
o estado politico diz respeito a relacao da pessoa natural com 0 
Estado. Neste caso, temos 0 nacional (brasileiros natos ou naturalizados) e 
o estrangeiro. 
2.3.3.3. Domicflio 
o dornicilio ea sede da pessoa, 0 local em que concern. ,». JeL:>' 
pacoes habituais. Trata-se, em regra, do lugar em que a pessoa natural 
estabelece sua residencia com animo definitivo, nos termos do art. 70 do 
C6digo Civil. No entanto, se a pessoa natural tiver diversas residencias, 
onde alternadamente viva, 0 domicilic pode ser considerado qualquer uma 
delas (art. 71 CC). 
6	 CARLOS ROBERTO GON<.;=ALVES, Direito Civil Brasilein.: l, . Gera], La cd.. Sao PrWlll, 
Saraiva, 2003, Vol I, p. 130. 
34 
o mesmo ocorre com a profissao, pois 0 art. 72 do C6digo Civil esta­
belece que, tambem deve ser considerado domicilio da pessoa natural 0 local 
em que a sua profissao e exercida, no que tange as relacoes a ela concernentes. 
o dornicilio pode ser voluntario, legal (necessario) ou de eleicao. 
Entende-se por domicilio voluntario aquele escolhido livremente 
pela pessoa natural. 
Por domicilio legal ou necessaria deve ser entendido aquele 
que e determinado por lei. 
Estabelece 0 art. 76 do C6digo Civil que possuem dornicilio necessa­
rio 0 incapaz (domicilio de seu representante ou assistente): 0 setvidot 
publico (Iugar em que exercer permanentemente suas funcoes): 0 militar 
(onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronautica, a sede do comando a 
que se encontrar imediatamente subordinado); 0 maritima (onde 0 navio 
estiver matriculado); e 0 preso (0 lugar em que cumprir a sentenca). 
o domicilio de eleicao, por sua vez, esta previsto no art. 78 do 
C6digo Civil, que autoriza aos contratantes especificar 0 domicilio onde se 
exercitem e cumpram os direitos e obrigacoes resultantes do contrato por 
eles firmado. 
Cabe ressaltar que a pessoa natural que nao possua residencia ha­
bitual tera como domicilio 0 lugar onde for encontrada, por forca do dis­
posto no art. 73 do C6digo Civil. 
2.3.4. Fim da personalidade 
Por se tratar da aptidao generica do ser humano para adquirir di­
reitos e contrair obrigacoes, a personalidade 0 acompanha par toda a sua 
vida. Deste modo, nosso ordenamento juridico nao admite qualquer hip6­
tese de perdada personalidade em vida. 
Assim, a existencia da pessoa natural termina com a sua morte, 
momento em que cessa sua personalidade. 
Dessa forma, pode-se falar em morte real e morte presumida. 
A morte real esta caracterizada pelo termino da existencia da pessoa 
natural, momenta em que a personalidade encontra 0 seu fim, extinguin­
do-se a aptidao para adquirir direitos e contrair obrigacocs, nos termos da 
primeira parte do art. 6Q do C6digo Civil. 
A morte presumida, por sua vez, ocorre nos casos de ausencia, 
"em que a lei autoriza a abertura de sucessao definitiva", conforme dispoe a 
segunda parte de referido art. 6Q do CC. 
35 
I OlREITO CIVIL 
I Ausente e 0 desaparecido, a pessoa de quem nao se tern mais no­ticia. Qualquer interessado na sua sucessao, au 0 Ministerio Publico, po­
dera requerer ao juiz a declaracao de sua ausencia e a nomeacao de U111 
curador, conforme dispoe 0 art. 22 do C6digo Civil. 
Estabelece 0 art. 26 de nosso C6digo Civil que "decorrido um ano da 
ariecadacao dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procu 
dor, em se passando tres anos, poderao os interessados requerer que se decla., 
a ausencia e se abra provisoriamente a sucessao". 
A sentenca que declarar a ausencia e determinar a abertura da Sll­
cessao provis6ria s6 produzira efeitos 180 dias ap6s a data de sua publica­
cao (art. 28 CC). 
Passados dez anos do transite em julgado da sentenca que conce­
deu a abertura da sucessao provis6ria, sera declarada a morte presumida 
do ausente, desde que haja pedido de qualquer interessado. Neste mo­
mento a sucessao provisoria converter-se-a em definitiva (art. 37 do CC). 
Contudo, tambern epossivel requerer a declaracao da morte pre­
sumida e a consequente sucessao definitiva, provando-se que 0 ausente 
conta com, no minimo, oitenta anos de idade e que as suas ultimas noti- ­
cias datam de cinco anos (art. 38 do CC). 
Alern disso, epossivel presumir-se a morte de uma pessoa, sem de­
cretacao de ausencia, nas hip6teses previstas no art. 7Q do C6digo Civil: 
"Art. 7Q Pode ser declarada a morte presumida, sem decretacao de 
ausencia: 
I - se for extremamente provavel a morte de quem estava em perigo 
de vida; 
II - se alguem, desaparecido em campanha oufeito prisioneiro, mI0 for 
encontrado ate dois anos apes 0 termino da guerra. 
Paragrafo unico. A declaracao da morte presumida, nesses casos, 
somente podera ser requerida depois de esgotadas as buscas e averi­
guacoes, devendo a sentenca fixar a data piovavel do fr:l;":"!rTtn " 
Por outro lado, 0 art. 8Q de nosso C6digo Civil traz previsao expressa 
acerca da comoriencia, que consiste na morte simultanea de pessoas. De 
acordo com os termos de mencionado dispositivo legal, presume-se que duas 
ou mais pessoas morreram simultaneamente, se faleceram na mesma oca­
siao e nao for possivel averiguar se urn deles precedeu aos dernais. 
36 
I 
2.4. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE 
Os direitos da personalidade consistem nos direitos subjetivos que 
possuem como objeto os valores fundamentals da pessoa, considerada in­
dividual ou socialmente. 
Trata-se de direitos intransmissiveis, irrenunciaveis, imprescritiveis, 
indisponiveis, impenhoravcis, ilimitados, absolutos e inexpropriaveis: 
•	 Intransmissiveis: nao podem ser transmitidos a esfera juridi­
ca de outra pessoa. 
•	 Irrenunciaveis: nao pode 0 seu titular renunciar ao direito da 
personalidade nem abandona-lo. 
•	 Imprescritiveis: nao se extinguem pelo uso ou pela mercia de 
seu titular nem pelo decurso de tempo. 
•	 Indispontveis: estao fora de cornercio, insuscetiveis de dispo­
sicao. No entanto, existem cxcecoes, como, por exemplo, no 
caso do direito aimagem de pessoas famosas, passivel de explo­
racao, ou na hip6tese de doacao de orgaos ou de partes separa­
das do corpo (art. 14 do CC). 
•	 Irnpenhoraveis: enquanto direitos que possuem como objeto 
os valores fundamentais da pessoa e dela sao inseparaveis, nao 
sao passiveis de penhora para a satisfacao de credores. Ha, con­
tudo, excecoes, como na hip6tese do direito autoral au do dire i­
to aimagem, que, como dito, sao suscctiveis de disposicao, com 
o seu uso sendo cedido para fins comerciais, casas em que serao 
passiveis de penhora. 
•	 Ilimitados: nao sao arrolados pelo legislador em urn rol taxativo, 
pela impossibilidade de se limitar 0 numero de direitos da per­
sonalidade. 
•	 Absolutos: sao oponiveis erga omnes, contendo, em si, urn de­
ver geral de abstencao. 
•	 Inexpropriaveis: nao podem ser retirados da pessoa. 
Cabe ressaltar que e licito exigir que cesse a arneaca ou a lesao a 
direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuizo de ou­
tras sancocs previstas em lei, nos termos do art. 12 do C6digo Civil. 
37
 
I 
1 
DIREITO CIVIL 
Por outro Iado, estabelece 0 art. 13 do C6digo Civil que e proibi­
da a disposic-r .10 proprio corpo quando importar em diminuicao pcr­
manente da integridade ftsica, salvo nos casos de exigencia medica, com­
preendcndo-sc, neste contexte, 0 direito a vida, a integridade ftsica, ao 
pr6prio corpo. 
3
Admite-se, no entanto, a disposicao para a realizacao de trans­
plantes: «quando se tratar de orgaos duplos, de partes de orgaos, tecidos 
ou partes do corpo cuja retirada nao impeca 0 organismo do doador de 
continuar vivendo sem risco para a sua integridade e nao represente gra­
ve comprometimento de suas aptidoes vitais e saude mental e nao cause 
mutilacao ou deformacao inaceitavel, e corresponda a uma necessidade 
terapeutica comprovadamente indispensavel a pessoa receptora" (art. 9Q , § 
Q da Lei nQ 9.434/97). 
Outrossim, e valida, com objetivo cientifico ou altruistico, a dispo­
sicao gratuita do proprio corpo, no todo ou em parte, para depois da mor­
te, consoante estabe1ece 0 art. 14 do C6digo Civil. 
Por fim, e importante observar que a protecao dos direitos da per­
sonalidade pode ser estendida, tambem, as pessoas juridicas, no que cou­
ber, conforme dispoe 0 art. 52 de nosso C6digo Civil. 
2.5. PESSOA JURIOICA 
As pessoas juridicas consistem em urn conjunto de pessoas ou de 
urn patrimonio, dotado de personalidade pe1a ordem juridica, corn aptidao 
para adquirir e exercer direitos e contrair obrigacoes. 
De acordo com 0 art. 40 do C6digo Civil as pessoas juridicas podem 
ser de direito publico, interno au externo, e de direito privado. 
Sao pessoas juridicas de direito publico interno (art. 41 CC): 
• a Uniao;
 
• os Estados, 0 Distrito Federal e os Territories,
 
• os Municipios;
 
•	 as autarquias, inclusive as associacoes publicas, (redacao da Lei 
nQ 11.107/05) 
•	 as dernais entidades de carater publico criadas por lei. 
Sao pessoas juridicas de direito publico externo (art. 42 CC): 
• os Estados estrangeiros; 
38 
I 
•	 todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional 
publico. 
As pessoas juridicas de direito privado (art. 44 CC), por sua 
vez, sao: 
•	 as associacoes, 
•	 as sociedades; 
•	 as fundacoes: 
• as organizacoes religiosas; (Redacao da Lei nQ 10.825/03) 
• os partidos politicos. (Redacao da Lei nQ 10.825/03) 
2.5.1. lnicio da personalidade 
Ensina Maria Helena Diniz" que as pessoas juridicas de direito 
publico "iniciam-se em razao de fatos historicos, de criacao constitucio­
nal, de lei especial e de tratados internacionais, se se tratar de pessoa juri­
dica de direito publico externo". 
Ja a cxistericia legal das pessoas juridicas de direito privado 
tern inicio com a inscricao do ato constitutivo no respectivo registro", nos 
termos do art. 45 do C6digo Civil. 
Entretanto, determinadas pessoas juridicas de direito privado 
necessitam, alern do registro, de autorizacao ou aprovacao do Poder Exe­
cutivo, como e0 caso, por exemplo, das cooperativas, das agencias de se­
guros, das caixas econornicas, das boisas de valores etc. 
2.5.2. Pessoas[uridlcas de direito privado 
Como visto, as pessoas juridicas de direito privado sao as associacoes, 
as fundacoes, as sociedades, as entidades religiosas e os partidos politicos. 
Dispoe 0 art. 44 do C6digo civil, em seu § 1Q, que sao livres a 
criacao, a organizacao, a estruturacao interna e 0 funcionamento das 
organizacoes religiosas, sendo vedado ao poder publico ncgar-Ihes re­
conhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessaries ao seu 
funcionamento. 
7 MARIA I!ELENA DINIZ. Curse de Direito Civil Brasileiro: 'Ieoria Geral do Diretto Civil, 18a cd., 
Sao Paulo, Saraiva, 2002, 1Q vol., p. 229. 
8 Dccai em tres anos 0 direito de anular a constituicao daspessoas juridicas de direito privado, por 
defeito do ato respective, contado 0 prazo da publicacao de sua inscricao no rcgistro. 
39 
I DIREITO CIVIL 
I o mesmo art. 44 do C6digo Civil, em seu § 3Q , determina que lei espedfica (Lei nQ 9.096/95) regulamente a organizacao e 0 funcionamento 
dos partidos politicos, que possuem natureza de associacao civil, nos ter­
mos do art. 17, § 2Q da Constituicao Federal. 
Por essa razao, neste livro, procederemos ao estudo de alguns as­
pectos atinentes as associacoes, as fundacoes e as sociedades. 
2.5.2.1. Associacoes 
As associacoes sao constituidas pela uniao de pessoas que se orga­
nizam para fins nao economicos (art. 53 CC). 
Portanto, as associacoes nao tern fins lucrativos. Possuem, porern, 
patrimoriio, formado por contribuicoes dos pr6prios associados e por eles 
administrado, podendo, inclusive, ser aumentado, sem que isso a 
descaracterize. 
Entre os associados nao existem direitos e obrigacoes redprocos, 
diferentemente do que ocorre nas sociedades. 
Por outro lado, estabelece 0 art. 55 do C6digo Civil que "os asso­
ciados devem ter iguais direitos, mas 0 estatuto podera instituir categorias 
com vantagens especiais". 
Cabe observar que a qualidade de associado eintransmissivel, sal­
vo se 0 estatuto dispuser 0 contrario. Por conseguinte, se 0 associado for 
titular de quota ou fracao ideal do patrimonio da associacao, a transfe­
rencia daquela nao importara, de per si, na atribuicao da qualidade de 
associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposicao diversa do esta­
tuto (art. 56 CC). 
Nenhum associado podera ser impedido de exercer dire ito ou fun­
cao que the tenha sido legitimamente conferido, a nao ser nos casos e pela 
forma previstos na lei ou no estatuto. 
No que tange a exclusao do associado verifica-se que esta e 
admissivel havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que 
assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. 
(art. 57 CC) 
Dissolvida a associacao, 0 remanescente do seu patrimonio liqui­
do, depois de deduzidas, se for 0 caso, as quotas 08 h(~\(; ,_~ f''''1_ 
das no paragrafo unico do art. 56, sera destinado a entidade de fins <ldc 
40 
I 
econornicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberacao dos 
associados, a instituicao municipal, estadual ou federal, de fins identicos 
ou semelhantes. 
2.5.2.2. Fundacoes 
As fundacoes sao as pessoas juridicas de direito privado constitui­
das por ato de seu instituidor, por escritura publica ou testamento, atraves 
da dotacao especial de bens livres, especificando 0 fim a que se destina, e 
declarando, se quiser, a maneira de administra-la. 
Tambem possuem fins nao economicos, que somente poderao 
ser religiosos, morais, culturais ou de assistencia. 
Demandam necessariamente a existencia de urn patrimonio. As­
sim, quando os bens forem insuficientes para constituir a fundacao, serao 
incorporados em outra fundacao que se proponha a fim igual ou seme­
lhante, se de outro modo nao dispuser 0 instituidor. 
Constituida a furidacao por neg6cio juridico entre vivos, 0 
instituidor e obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito 
real, sobre os bens dotados, e, se nao 0 fizer, serao registrados, em nome 
dela, por mandado judicial. 
As fundacoes serao fiscalizadas pelo Ministerio Publico do Estado 
onde situadas. Se funcionarem no Distrito Federal ou em Territ6rio, cabe­
ra 0 encargo ao Ministerio Publico Federal. Se estenderem a atividade por 
mais de urn Estado, cabera 0 encargo, em cada urn deles, ao respectivo 
Ministerio Publico. 
Tornando-se ilicita, impossivcl ou inutil a finalidade a que visa a 
fundacao, ou vencido 0 prazo de sua existencia, 0 orgao do Ministerio 
Publico, ou qualquer interessado, the prornovera a extincao, incorpo­
rando-se 0 seu patrimonio, salvo dispo sicao em co ntrario no ato 
constitutivo ou no estatuto, em outra fundacao, designada pelo juiz, que 
se proponha a fim igual ou semelhante. 
2.5.2.3. Sociedades 
Em seu Livro II, Titulo II, Capitulo Onico, da Parte Especial, 0 
C6digo Civil trata da materia atinente as sociedades, suas diversas forrnas e 
aspectos. Por se tratar de materia afeita ao Direito de Empresa sera aborda­
da em nossa colecao no livro de Direito Cornercial. 
41 
I DIREITO CIVIL 
I Cabe aqui, apenas, ressalvar que as sociedades sao pessoas juridi­cas de direito privado com fins economicos e 0 objetivo de partilhar lucros. 
2.5.2.4. Da desconsideracao da personalidade jurfdica 
Estabelece 0 C6digo Civil em seu art. 50 que: "em caso de abuso da 
personalidade juridica, caracterizado pelo desvio de[malidade, ou pela corfu­
sao patrimonial, pode 0 juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministe­
rio Publico quando the couber intetvir no processo, que os efeitos de certas e 
determinadas relacoes de obtigacoes sejam estendidos aos bens patticulures 
dos administradores ou s6cios da pessoa juridica". 
Por outro lado, dispoe 0 art. 28 do C6digo de Defesa do Consumi­
dor que "0 juiz podera desconsiderar a personalidade juridica da sociedade 
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de 
poder, iniracao da lei, fato ou ato ilicito ou violacao dos estatutos ou contrato 
social. A desconsideracao tarnbem sera efetivada quando houver [alencia, es­
tado de insolvencta, encerramento ou inatividade da pessoa juridica provoca­
dos por ma administracao". 
Tambem podera ser desconsiderada a pessoa juridica sernpre que 
sua personalidade for, de alguma forma, obstaculo ao ressarcimento de 
prejuizos causados aos consumidores, consoante estabelece 0 § 5Q do art. 
28 do CDC. 
Trata-se de hip6teses de desconsidcracao da personalidade jutidi­
ca, presentes em nosso ordenamento, que autorizam que os efeitos de 
certas e determinadas relacocs de obrigacoes sejam estendidos aos bens 
particulares dos administradores ou s6cios da pessoa juridica. 
42
 
I 
3 
BENS 
Par Andre Borges de Carvalho Barros 
3.1. CONCEITO 
No capitulo anterior estudamos as pessoas (fisicas e jundicas), 
assim consideradas como sujeitos de direitos e deveres. A partir de ago­
ra, passaremos ao estudo dos hens, assim entendidos como objetos de 
direitos. "Objeto (objeetum) e aquilo que se coloca adiante, fora do su­
jeito. 0 Objeto da relacao juridica e, assim, tudo aquilo que se pode 
submeter ao poder dos sujeitos do direito, como instrumento de seus 
interesses e finalidades'". 
3.2. DISTINCAO: BEM X COISA 
Coisa e tudo aquilo que existe na natureza, com excecao do ser 
humano. Bern eespecie de coisa e se caracteriza pelo fato de poder ser 
objeto de relacoes juridicas. Portanto, para que a coisa possa ser classifica­
da como bern, tera que ser apreciavel (ter valor econornico) e ser apropriavel 
(que a pessoa possa torna-la para si). Urn born exemplo para ilustrar a 
diferenca e 0 seguinte: Ar atmosferico: e coisa, mas se for captado oxigenio 
da atmosfera e acondicionado ern urn cilindro, teremos bern. 
Renan Lotufo. C6digo Civil Comentado: Parte Ceral. Sao Paulo, Saraiva, 2003, v. I, p. 196. 
43
 
1 
DIREITO CIVIL
 
Vale lembrar que alguns autores do quilate de Orlando Gomes eRenan Lotufo sustentam exatamente 0 contrario do que agora foi ex­
posto (consoante entendimento de Maria Helena Diniz, Silvio Venosa, 
Agostinho Alvim etc.) nao havendo consenso doutrinario ace rca do 
tema. 
3.3. PATRIMONIO 
E 0 complexo de relacoes juridicas materiais (valoraveis econorni­
camente) de uma pessoa, abrangendo os direitos reais e obrigacionais. 
3.4. DAS DIVERSAS CLASSIFICACOES DE BENS 
3.4.1. De acordo com a tanqibilidade! 
•	 Materiais ou Corp6reos: sao aqueles que tern existencia 
material, podendo ser tocados, isto e, percebidos por nossos sen­
tidos, como, por exemplo, os autom6veis, animais e livros. 
•	 Imateriais ou Incorp6reos: possuem cxistencia abstrata, nao 
podendo ser tocados fisicamente pelos seres humanos. A exis­
tencia dos bens incorp6reos e fruto de determinacao juridica. 
Servem de exemplo os direitos de autor e as invencoes. 
Atencao: Essa distincao, embora nao esteja prevista no C6digo 
Civil, possui significativa importancia pelo fato de que somente os bens 
corp6reos podem ser objetos de usucapiao e tradicao. Alem disso, enquan­
to os bcns corp6reos sao alienados onerosamente por meio de compra e 
venda, os incorp6reos sao transferidos pela cessao (ex.: cessao de credito). 
3.4.2. De acordo com a mobilidade 
•	 M6veis: sao aqueles que podem ser movidos de urn local para 
outro, por forca pr6pria (semoventes - animais) ou alheia (rno­
veis propriamente ditos - p. ex.: mercadorias), sem que seja 
alterada a sua substancia ou destinacao economico-social (art. 
82 CC). as bens m6veis sao classificados em: 
•	 M6veis por natureza: aqueles que podem ser transpor­
tados de urn lugar a outro, sem que se destruam; 
2	 FtAVIO TARTUCE. Direito Civil- Lei deIntroducao e Patte Getal. z- cd., Sao Paulo, Ed. Metoda, 
2006, p. 190. 
44 
i 
• M6veis por antecipacao: aqueles mobilizados pelos se­
res humanos em atencao a sua finalidade economica (ex.: 
fruta colhida, madeira cortada). 
• M6veis por deterrninacao legal: sao as energias que 
tenham valor economico; os direitos reais sobre objetos mo­
veis e as acoes correspondentes; e os direitos pessoais de 
carater patrimonial e respectivas acoes, 
•	 Im6veis: de acordo com a natureza, bens im6veis sao aqueles 
que nao podem ser transportados, sem destruicao, de urn lugar 
para outro. Ao definir imoveis, 0 C6digo Civil dispos tratar-se 
do solo e de tudo quanta the for incorporado de maneira natu­
ral ou artificial (art. 79 CC). Todavia, a doutrina costuma apon­
tar as seguintes hip6teses de bens im6veis: 
•	 im6veis por natureza: solo, arvores, frutos pendentes, 
espaco aereo, 0 sub solo; 
•	 im6veis por acessao fisica artificial: tudo aq uilo que 
for incorporado pelo homem, permanentemente, ao solo. 
P.	 ex.: semente lancada ao solo, edificio, construcocs. 
•	 im6veis par acessao fisica intelectual: aqueles que "0 
proprietario mantiver, intencionalmente, empregados em sua 
exploracao industrial, aformoseamento ou comodidade'". 
•	 im6veis por determinacao legal: aqueles que sao consi­
derados im6veis para receber uma protecao juridica maior. E 
o caso dos direitos reais sobre im6veis e do direito asuces­
sao aberta (art. 80 CC). Nao se deve confundir com 0 caso 
dos navios e aeronaves, que sao bens moveis, embora sejam 
transmitidos da mesma forma que os imoveis e possam ser 
objeto de hipoteca. 
3.4.3. Quanta afungibilidade 
•	 Fungiveis: sao os m6veis substituiveis por outros da me sma 
especie, qualidade e quantidade (ex.: cafe, arroz, milho etc.). 
•	 Infungiveis: sao aqueles insubstituiveis, ou seja, determina­
dos em razao de qualidades individuais, nao podendo ser substi­
3 MARIA HELENA DINIZ, C6diga Civil Anotado. 9a ed, Sao Paulo, Saraiva, 2003, p. 95. 
45
 
I	 DIREITO CIVIL 
I tuidos por outros. A infungibilidade ecaracteristica pr6pria dos bens irnoveis, mas tambem se encontra presente em alguns bens 
moveis, como os veiculos autornotores, podendo resultar da 
natureza ou da vontade das partes. 
Atencao: Essa classificacao tern importancia nos contratos de 
emprestirno, referindo-se 0 mutuo ao cmprestimo de bens fungtveis 
(ex.: dinheiro), e 0 comodato ao ernprestimo de bens infungiveis (ex.: 
casa, carro etc.). 
3.4.4. Quanto aconsuntibilidade 
•	 Consumiveis: sao aqueles bens destinados a satisfacao de ne­
cessidades e interesses das pessoas, cujo uso importa destrui~aQ 
imediata da pr6pria substancia (consumiveis de fato - ex.: ali­
mento) e aqueles que sao destinados aalienacao (consumiveis 
de direito - ex.: livros em uma loja) (art. 86 CC). 
•	 Inconsumiveis: aqueles que podem ser usados de forma conti­
nua e reiterada, sem que isso importe na sua destruicao imediata. 
Os bens inconsumiveis possibilitam que the sejam retiradas to­
das as suas utilidades, sem que seja atingida sua integridade 4. 
Insta observar que 0 bern pode ser inconsumivel por vontade 
das partes, quando se tern 0 contrato de emprestimo adpompom 
vel ostentationis causam (ex.: uma garrafa de vinho raro cow blood 
apenas para exposicao). 
Atencao: Essa classificacao epr6xima daquela feita no C6digo de 
Defesa do Consumidor, em que se separam os bens duraveis dos nao-du­
raveis, Os primeiros nao desaparecem facilmente com 0 consume, ao con­
trario dos nao-duraveis (art. 26 CDC). 
3.4.5. De acordo com a divisibilidade 
•	 Divisiveis: aqueles que podem ser fracionados sem alteracao 
da sua substancia, diminuicao consideravcl de valor ou prejuizo 
para 0 uso a que se destinam (art. 87 CC). Os naturalrnentc 
divisiveis podem tornar-se indivisiveis por determinacao regal 
ou por vontade das partes. 
4.	 MARIA HELENA DINIZ. C6diga Civil Anotado. 9a ed, Sao Paulo, Saraiva, 2003, p. 102. 
46
 
L_--------- ----- ----.--­
•	 Indivisiveis: nao podem ser divididos, pois isso faria com que dei­
xassem de ser urn todo perfeito, gerando desvalorizacao ou perda 
de qualidades essenciais. A indivisibilidade de urn bern pode ser: 
•	 por sua natureza: quando 0 bern nao puder ser fracionado 
sem alteracao de sua substancia ou valor (ex: touro reprodutor); 
•	 por determinacao legal: aqueles considerados indivisiveis 
por forca de lei (ex.: heranca, servidao, modulo rural); 
•	 por vontade das partes: aqueles em que as partes esti­
pulam em contrato a sua indivisibilidade. 
3.4.6. Quanto a individualidade 
•	 Singulares ou individuais: sao aqueles que embora reuni­
dos, consideram-se de per si independentemente dos dernais. E 
a regra, pois os bens somente serao considerados coletivos quando 
houver determinacao legal ou por determinacao das partes. 
•	 Coletivos ou universais: aqueles cujas partes heterogeneas 
sao "ligadas pelo engenho humano, hipotese em que se tern ob­
jetos independentes que se unem num so todo sem que desapa­
reca a condicao juridica de cada parte. Por exemplo, materiais 
de construcao que estao ligados a edificacao de uma casa'". A 
coletividade pode ser de duas especies: 
•	 universalidade de fato (universitas facti) - pluralidade 
de coisas homogeneas. Ex.: rebanho, biblioteca etc. 
•	 universalidade de direito (universitas iuris) - e 0 com­
plexo de relacocs juridicas de urna pessoa dotadas de valor 
economico. Ex.: heranca, patrimonio, massa falida etc. 
3.4.7. De acordo com a reciprocidade ou dependencia 
•	 Principais: aqueles que tern sua existencia independente­
mente dos dernais, ou seja, existem sobre si, abstrata ou con­
cretamente. 
•	 Acess6rios: sao aqueles cuja existcncia supoe a do prin­
cipal. Ex.: juro s, frutos, benfeitorias (melhoramentos na 
coisa principal). Deve ser lembrado que, em regra, 0 acesso­
rio segue 0 principal. 
5	 MARIA HELENA DINIZ, Codigo CivilAnotado. 9' ed. Sao Paulo, Saraiva, 2003, p. 104. 
47
 
DIREITO CIVil 
Especies de bens acess6rios: 
•	 Pertenca: sao os bens que, nao constituindo partes integran­
tes, destinam-se, de modo duradouro,ao usn, ao service ou ao 
aformcseamento de outro (ex.: trator em uma fazenda, carna, 
mesa ou armarios de uma casa etc.). As pertencas, apesar de 
serem bens acessorios, nao seguem 0 destino do principal, salvo 
se 0 contrario resultar da lei, da manifestacao de vontade, ou 
das circunstancias do caso. 
•	 Benfeitoria: e toda especic de obra (melhorarnento ) acresci­
do a urn bern, com 0 objetivo de evitar sua deterioracao (neces 
sarias), aumentar seu uso / valor (uteis), ou dar mais C01110di­
dade (voluptuarias). 
•	 Fruto: e a utilidade que a coisa produz de forma peri6dica e 
cuja percepcao mantern intacta a substancia do ben. :!~;. -. "'-. 
duziu. Podem ser: civis (rendimentos), naturais (os que se re­
novam periodicamente) ou industriais (intervencao do hornern 
sobre a natureza). Pode ser ainda: 
•	 Pendentes - aqueles ainda unidos a arvore que os produziu; 
•	 Percebidos - aqueles ja colhidos; 
•	 Estantes - aqueles armazenados ou acondicionados para 
venda; 
•	 Percipiendos - aque1es que deveriam ter sido colhidos, 
mas nao 0 foram; 
•	 Consumidos - aqueles ja inexistentes. 
3.4.8. Com relacao atitularidade do dominio 
•	 Bens particulares: aqueles pertencentes as pessoas fisicas ou 
juridicas de direito privado; 
•	 Bens publicos: sao as bens de dorninio nacional, pertencentes 
as pessoas juridicas de direito publico interne, como os de pro­
priedade da Uniao, Estados e Municipios. 
•	 de usa comum do povo: mares, rios, estradas, ruas, pra~as. 
•	 de usa especial: predios e terrenos utili ")s pela admi­
nistracao publica. 
• dominicais: patrimonio da administracao, 
Atencao: Caractertstic.. dos bens publicos: 
•	 inalienabilidade. 
•	 imprescritibilidade. 
•	 impenhorabilidade. 
48 
IL..-_--­
4 
Dos FATOS JURIDICOS 
Par Andre Borges de Carvalho Barros 
4.1. TEORIA GERAL DO FATO JURIOICO 
o direito nasce dos fatos (ex facto oritur jus), mas nem todos os 
fatos geram efeitos juridicos, ou seja, nem todos os fatos tern relevancia 
para 0 direito. Somente os fatos juridicamente qualificados eque tern 0 
poder de provocar mudancas na esfera juridica. No entender de Caio 
Mario da Silva Pereira, podem ser apontados dois fatores constitutivos 
presentes no fato juridico: urn, entendido como qualquer eventualidade 
que atue sobre 0 direito subjetivo; e outro, uma declaracao da norma 
juridica conferindo efeitos aquele fato. 
4.2. FATO NAO JURfOICO 
Etodo fato desprovido de consequencia juridica, nao tendo qualquer 
relevancia para 0 mundo do direito (ex.: luz emitida por uma estrela). 
4.3. FATO JURfOICO 
Para Renan Lotufo, 0 fato juridico (tambern chamado de fato 
juridico lata sensu) "seria todo e qualquer fato, de ordem fisica ou social, 
inserido em uma estrutura normativa. E todo e qualquer fato que, na 
vida social, venha a corresponder ao modelo de comportamento ou de 
49
 
DIREITO CIVIL 
organizacao configurado por uma ou mais normas de Direito" 1. Assim, 
podemos afirmar que fato juridico e todo aquele que tern relevancia paLl 
o direito, produzindo efeitos, ainda que seja ilicito (ex.: acidente de tran­
sito, agressao fisica, enchente no estacionamento de urn supermercado 
etc.). De acordo com a origem do fato, podemos classifies-los em natu­
rais ou humanos. 
4.3.1. Fato [uridlco natural 
Tambern conhecido como Fato Iurldico Stricto Sensu, e todo aeon­
tecimento que produz efeitos juridicos independentemente da vontade 
humana. Eurn fato nao volitivo. Se a vontade humana tiver participacao 
nao sera fato juridico natural, mas, sim, ato juridico. Pode ser classificado 
como ordinario ou extraordinario. 
4.3.1.1. Fato jurfdico natural ordinario 
Etodo fato comum que aparece ao longo da vida do ser humano 
e tern 0 coridao de produzir efeitos juridicos, 0 simples decurso do 
tempo se encarrega de produzi-los (ex.: nascimento, maioridade, pres­
cricao etc.). 
4.3.1.2. Fatojurfdico natura.l extraordinarto 
E todo fato que foge anormalidade e produz efeitos (em regra, 
prejuizos), podendo ser classificado em caso fortuito ou forca maior. Apre­
senta sempre dois requisitos: a) objetivo: a inevitabilidade do acontecimento; 
b) subjetivo: a ausencia de culpa na producao do evento. A importancia do 
estudo do fato juridico natural extraordinario eressaltada na materia de 
responsabilidade civil, por configurar (caso fortuito e forca maior) 
excludentes de ilicitude. Importante ressaltar que nao ha consenso dou­
trinario acerca da conceituacao do caso fortuito e cia forca maier em 
nossa doutrina, devendo, para muitos autores, ser tratados como sinoni­
mos. Dentre as diversas classificacoes propostas, preferimos a de Orlando 
Gomes, seguida por Segio Cavalieri Pilho-, para quem, caso fortuito e 0 
evento totalmente imprevisivel e forca maior e0 evento previsivel, po­
rem inevitavel. 
1 RENAN LOTUFO. C6digo Civil Comentado: Parte Geral. Sao Paulo, Saraiva, 2003, v. 1, I': 262. 
2 SERGIO CAVALIERI FILHO. Progtama de Resptmsabilidade Civil. Sao Paulo, Malheiros, 2003, p. 84 
50
 
4.3.2. Fato [undlconumano 
E toda acao humana que visa acriacao, extincao, modificacao ou 
conservacao de direitos e obrigacoes, E comumente denominado ato hu­
mana ou ato jurigeno, podendo ser licito ou ilicito. 
4.3.2.1. Ato humane ilfcito 
E todo ato humano contrario ao ordenamento juridico. A impor­
tancia de seu estudo varia de acordo com a materia em que e estudado. No 
direito penal, a importancia do ato ilicito esta na caracterizacao do crime e 
sua punicao. No direito civil, a preocupacao do estudioso do direito esta na 
apuracao da responsabilidade civil pelos danos causados. De acordo com 0 
art. 186 do C6digo Civil, aquele que, por acao ou ornissao voluntaria, ne­
gligencia ou imprudencia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilicito. 
4.3.2.2. Ato humane llcito 
E toda acao humana que, estando de acordo com 0 ordenamento 
juridico, produz efeitos na 6rbita juridica. Etambern chamado de Ato Juri­
dico Lato Sensu e pode ser classificado em Ato Iurtdico Stricto Sensu, Neg6­
cio Iuridico ou Ato-Fato Iundico. 
Ato jurldico stricto sensu 
Ea acao humana licita que gera consequencias juridicas previstas 
em lei, nao havendo composicao de vontades. Tern como objetivo a mera 
realizacao da vontade do titular de urn determinado direito. Ex.: pagan1en­
to, reconhecimento de filho, notificacao para constituicao em mora, fixa­
cao de domicilio etc. 
Neqocio jurfdico 
Segundo 0 mestre Miguel Reale, neg6cio juridico e"especie de ato 
juridico que, alem de se originar em urn ato de vontade, implica em decla­
racao expressa da vontade, instauradora de uma relacao entre dois ou mais 
sujeitos tendo em vista urn objeto protegido pelo ordenamento juridico". 
No neg6cio juridico temos a criacao de urn instituto juridico proprio volta­
do acomposicao do interesse das partes, que buscam alcancar urn objetivo 
(finalidade) perrnitido pela lei. Ex.: contratos. 
3 MIGUEL REALE, Licoes Preliminares de Direito. 9' ed, Sao Paulo, Saraiva, 1981. v. 1. p. 206. 
51
 
DIREITO CIVIL 
Ato-fato jurfdico 
Eo fato juridico qualificado por uma atuacao humana. No ato-fato 
juridico nao importa a intencao da pessoa que realizou 0 ato, tendo rele­
vancia apenas os efeitos que 0 ato produziu. Ex.: menor de idade com­
prando uma agua. 
4.4. CLASSIFICA<;OES DO NEGOCIO JURIDICO 
OS neg6cios juridicos sao classificados de diversas formas pelos 
autores nacionais e estrangeiros, sendo relevante apontar, para efeitos de 
Exame de Ordem, as seguintes classificacoes: 
4.4.1. Quanto ao nurnero de partes 
Unilaterais: quando apenas uma pessoa manifesta sua vontade 
(ex.: testamento, aceitacao da heranca). Podem ser RECEPTfcIOS 
(quando a outra parte precisa tomar conhecimento para que seja 
valido - ex.: revogacao do mandato), ou NAo RECEPTfcIOS (quan­
do 0conhecimento da declaracao de vontade pelo destinatario e 
irrelevante para que 0 neg6cio produza efeitos - ex.: testamento). 
Bilaterais: sao aqueles em que duas pessoas manifestam sua von­
tade com 0 mesmo intuito (ex.: contrato de compra e venda). 0 
neg6cio juridico nao deixa de ser bilateral quando ha simples 
multiplicidade de pessoas no p610 passivo ou ativo (ex.: diversos 
compradores e diversos vendedores). 
Plurilaterais: quando tres ou mais pessoas voltam sua vontade 
para urn neg6cio na busca de interesses comuns (ex.: contrato de 
sociedade, contrato de incorporacao etc.). 
4.4.2. Quanto as vantagens patrimoniais para os envolvidos 
Gratuitos: quando apenas uma das partes aufere beneficios, en­
quanta a outra suporta 0 onus, ficando caracterizada uma dimi­
nuicao patrimonial unilateral (ex.: doacao pura). 
Onerosos: sao os neg6cios em que ambas as partes auferem 
bencficios e suportam onus (ex.: compra e verida ). Deve ser lern­
brado que quando 0 neg6cio juridico e oneroso 0 patrrmorio (L 
ambas as partes e afetado. 
52 
-----"~-~ "~-~-_._. 
I 
Bifrontes: sao modalidades de neg6cios juridicos que podem ser 
tanto onerosos como, tambern, gratuitos. 0 melhor exemplo de 
neg6cio bifronte e 0 contrato de mutuo (ernprestimo de coisa 
"fungivel) que, dependendo da forma com que foi acertado, pode 
ser gratuito ou nao. 
N eutros: quando nao houver atribuicao patrimonial especifica 
no neg6cio juridico, nao podendo ser caracterizado nem como 
oneroso nem como gratuito (ex.: instituicao de bern de familia 
voluntario por meio de escritura publica). 
4.4.3. Quanto ao momento em que produzirao efeitos 
Inter vivos: aqueles destinados a produzir efeitos durante a vida 
dos interessados (ex.: contrato). 
Mortis causa: aqueles voltados a produzir efeitos ap6s a morte de 
determinada pessoa (ex.: testamento, contrato de seguro de vida 
etc.) . 
4.4.4. Quanto aforma 
Solenes: quando devem obedecer a forma ou solenidade prevista 
em lei para que sejam considerados validos (ad solemnitatem - ex.: 
escritura publica para compra de bens im6veis com valor superior 
a 30 salaries minimos), ou para que possam ser provados (ad 
probationem tantum - ex.: registro do casamento). 
Nao solenes: quando tern a forma livre, nao havendo qualquer 
prescricao legal. 
4.4.5. Quanto aexlstencla ou autonomia 
Principais: aqueles que nao dependem de qualquer outro ncgo­
cio para que possam existir e ser validos. 0 classico exemplo e 0 
contrato de locacao. 
Acess6rios: tern sua existencia e validade vinculada a urn outro 
neg6cio juridico considerado principal. Como exemplo temos ° 
contrato de fianca, que e acess6rio a urn contrato principal. 
53 
DIREITO CIVIL 
4.5. ELEMENTOS DO NEGOCIO JURIOICO 
Para que 0 neg6cio luridico exista, seja valido e eficaz e nccessario 
que 0 estudioso do direito verifique determinados requisitos legais. Certo 
e, todavia, que nao existe consenso doutrinario em nosso pais acerca dos 
elementos que devem ser objeto deste estudo. De nossa parte, preferimos 
seguir os ensinamentos deixados pelo ilustre jurista Pontes de Miranda, 
que desenvolveu uma teoria simples e direta, batizada posteriormente de 
"escada pontiana". Para 0 mestre, todo e qualquer neg6cio juridico deve 
sempre ser analisado sob determinados pIanos (existencia, valida de e efi­
cacia). Para que 0 estudo seja considerado completo dentro da analise des­
ses planes devem ser verificados elementos essenciais, naturais e aciden­
tais. Seguindo orientacao de Maria Helena Diniz", temos que os elementos 
essenciais sao aqueles imprescindiveis aexistencia do ato negocial, por for­
marem a sua substancia, abrangendo tanto os requisitos de existencia (par­
tes, objeto, vontade e forma), como tambem os requisitos de valida de (par­
tes capazes e legitimadas; objeto licito, possivel, determinado ou 
determinavel: vontade ou consentimento livre; e forma prescrita ou nao 
defesa em lei). Ia os elementos naturais seriam os efeitos que decorrem 
naturalmente do neg6cio juridico sem que seja necessario a sua previsao, 
A pr6pria lei define os efeitos do ato (ex.: no contrato de compra e venda, 
a entrega do bern que eobjeto do contrato eurn efeito natural). Por fim, 
temos os elementos acidentais, presentes nas estipulacoes que sao acres­
centadas ao neg6cio juridico para modificar sua eficacia. A analise dos ele­
mentos acidentais efeita dentro do plano de eficacia. 
4.5.1. Plano de exlstencla e validade 
4.5.1 .1. Partes - Devem ser 
Capazes: aquelas que tern pleno discernimento para assumir di­
reitos e deveres. Os absolutamente incapazes (menores de 16 anos; 
doentes ou deficientes mentais; e os que por causa transit6ria nao 
puderem exprimir a vontade) tern que ser representados pelo pai 
ou tutor (menor), ou pelo curador (Atenraa - obrigatoriedade de 
processo de interdicao ). Ia os relativamente incapazes devem ser 
assistidos pelo pai ou tutor (menores de 18 e maiores de 16), ou 
4 MARIA HELENA DINIZ, Curse de Direito Civil Btu-iieiro. Sao Paulo, S,Hci,'vrt, 2004, voL 1, p, 423, 
54
 
pelos curadores (demais casos). No caso de 0 neg6cio ser celebra­
do pelo incapaz sem ser representado ou assistido, 0 neg6cio sera 
nulo (inc. absoluta), ou anulavel (inc. relativa). 
Legitimadas: aquelas que sao titularesdosdireitos que pretendem 
negociar, ou que estao autorizadas para tanto. Ex.: s6 0 dono do 
im6vel pode vende-lo. Eproibida a venda a non domino (por aquele 
que nao e 0 dono) no nosso C6digo Civil. Da mesma forma, em 
regra a pessoa casada deve pedir autorizacao para alienar im6vel. 
4.5.1 .2. Objeto - Deve ser 
Licito: 0 que nao contraria a lei, a moral, os bons costumes e a 
ordem publica. 
Possivel: essa possibilidade ea fisica. Ehumanamente possivel? A 
possibilidade do neg6cio juridico deve ser analisada de uma forma 
geral, isto e, em relacao a todas as pessoas, e nao em relacao aparte 
contratante e suas caracteristicas ou aptidoes pessoais. 
Determinado ou Determinavel: determinado e 0 objeto que 
esta individualizado, nao deixando duvidas. Deterrninavel e 0 que 
ainda sera individualizado, devendo, ao menos, ser certo (quanto a 
sua existencia) e determinado (valor/objeto). 
4.5.1.3. Forma - Deve ser 
Prescrita ou nao proibida em lei: deve ser aquela prevista ou a 
nao defesa em lei. A ssim, se houver previsao legal impondo deter­
minado revestimento ao ato, sob pena de nao valer, diz-se que 0 
neg6cio juridico e ad solemnitatem (ex.: necessidade de escritura 
publica para venda e compra de bens im6veis com valor acima de 
30 salaries minimos - Art. 108 CC/02). 
4.5.1.4. Vontade - Deve ser 
Livre: ou seja, nao podern as partes estar sob qualquer forma de 
arneaca ou pressao (coacao). 
4.5.2. Plano de eflcacia (elementos acidentais) 
Procurando alterar ou regulamentar a producao dos efeitos dos ne­
g6cios juridicos, podem as partes inserir elemento acidental, estipulando as 
seguintes clausulas: condicao, termo, modo ou encargo. Sao chamados de 
55
 
DIREITO CIVIL 
elementos acidentais, pois sao dispensaveis para a existencia e validade do 
neg6cio. Em regra, essas clausulas podem ser apostas em qualquer neg6cio 
juridico, mas em alguns eexpressamente vedada a sua utilizacao, como ocorre 
com 0 casamento e tambern com a aceitacao da heranca (art. 1.8(8). 
4.5.2.1. Condicao 
Ea clausula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, 
subordina 0 efeito do neg6cio juridico a urn evento futuro e incerto. Ocor­
rendo 0 implemento da condicao eproduzido 0 efeito desejado pelas par­
tes. Se se referir a fato passado ou presente nao pode ser considerada como 
condicao. Da mesma forma, se houver a certeza de que 0 evento ocorrera, 
nao sera condicao, mas, nesta hipotesc, termo. De acordo como nossa dou­
trina, a condicao pode ser classificada de diversas formas: 
De acordo com a licitude, a coridicaopode ser: 
•	 licita: quando nao contrariar a lei, a moral, a ordem pubiica e 
os bons costumes, ou 
•	 ilicita: quando contrariar a lei, a moral, a ordem publica e os bons 
costumes. Tambem econsiderada ilicita a condicao perplexa, assim 
considerada aque1a que priva de todo efeito 0 neg6cio juridico (ex.: 
vender urn carro com a condicao de 0 comprador nao utiliza-Io). 
De acordo com 0 modo de atuacao, a coridicao pode ser: 
•	 Suspensiva: quando subordina 0 inicio dos efeitos do neg6cio 
juridico ao implemento da condicao. Segundo SilvioVenosa: "Sob 
essa forma de condicao, portanto, 0 nascimento do direito fica 
em suspenso, a obrigacao nao existe durante 0 periodo de pen­
dencia da condicao" (ex.: se chover amanha, pode utilizar 0 meu 
carro); ou 
•	 Resolutiva: quando poe fim aos efeitos do neg6cio juridico. 
Nos termos do art. 127 do C6digo Civil: "Se for resolutiva a con­
dicao, enquanto esta nao se realizar, vigorcrii C) .;.~'C ",!!" 
podendo exercer-se desde a conclusao deste 0 direito por ele estabe­
lecido". Ex.: pode utilizar meu carro enquanto estiver chovendo. 
De acordo com a possibilidade, a condicao pode ser: 
•	 Possivel: quando puder ser cumprida tanto no aspecto fisico 
como tarnbern no aspecto juridico; ou 
56 
--.--lmp.ossivel: quando nao puder ser cumprida, por uma razao 
natural ou juridica. A condicao impossivel invalida 0 neg6cio 
juridico quando suspensiva. Se a condicao impossivel for aposta 
como resolutiva, e considerada inexistente. 
De acordo com a vontade das partes, a condicao pode ser: 
•	 Causal: quando subordinar 0 neg6cio juridico ao acaso, ou seja 
a urn fato alheio avontade das partes (ex.: emprestarei 0 carro se 
chover amanha). Euma especie de condicao valida: 
•	 Potestativa: subordina a eficacia do neg6cio juridico avontade 
de uma das partes. Pode ser: Puramente potestativa (mero 
arbitrium), se deixar a eficacia subordinada ao puro arbitrio de 
uma das partes (ex.: dou se quiser) ou Simplesmente ou mera­
mente potestativa (arbitrium bani viri), quando depender da 
pratica de algum ato ou de certa circunstancia e nao de urn mero 
capricho ou arbitrio de uma das partes (ex.: empresto 0 carro se 
voce der uma volta correndo no quarteirao). Vale lembrar que 
as condicoes simples ou meramente potestativas sao considera­
das licitas e, portanto, validas, Ja as condicces puramente 
potestativas sao vedadas; 
•	 Mista: depende, simultaneamente, de urn ato de vontade e de 
urn evento natural (ex.: pago-lhe uma quantia em dinheiro se 
efetuar uma apresentacao teatral e estiver chovendo). 
4.5.2.2. Termo 
E0 momenta (dia, mes, ano) em que comeca ou termina a eficacia 
do neg6cio juridico. De acordo com San Tiago Dantas, "Termo e 0 mo­
mento que se determina no tempo em que os efeitos do neg6cio juridico 
devem cornecar ou devem cessar de produzir-se'". Podemos entao afirmar 
que 0 inicio ou 0 fim da eficacia do neg6cio juridico ficam vinculados a urn 
even to futuro e certo. 
De acordo com 0 modo de atuacao, 0 termo pode ser: 
•	 Suspensivo: tambern chamado de termo inicial (ou dies a quo), 
subordina 0 inicio de eficacia do neg6cio. Ex.: Darte-ei urn car­
ro quando voce completar 18 anos; ou 
'i	 SAN TIACO DANTAS. Programa de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 20(H. 
57 
I 
I 
DIREITO CIVIL
 
•	 Resolutivo: tambern chamado de termo final (ou dies ad quem). 
Ex.: Eu te empresto meu carro ate junho (termo resolutive). 
De	 acordo com a origem, 0 termo pode ser: 
•	 Legal: quando previsto em lei; ou 
•	 Convencional: quando previsto ern contrato, por meio de 
clausula. 
4.5.2.3. Modo ou encargo 
Consiste num onus ou obrigacao imposto aparte que ebeneficia­
da em virtude de uma liberalidade praticada pelo agente. Em regra 0 modo 
ou encargo nao suspende nem interrompe a eficacia do negocio juridico. E 
comum em contratos de doacao e tarnbern em testamentos (ex.: Empresto 
minha casa para que cuide de minha sogra). 
Vale lembrar que se considera nao escrito 0 encargo ilicito ou im­
possivel, salvo se constituir 0 motivo determinante da liberalidade, caso 
em que se invalida 0 negocio juridico. 
4.6. VICIOS OU DEFEITOS DO NEGOCIO JURIDICO 
4.6.1. Vlcios da vontade ou do consentimento 
4.6.1.1. Erro / ignorancia - Arts. 138 a 144 
Segundo Silvio Venosa, erro ea "rnanifestacao de vontade em desa­
corda com a realidade, quer porque 0 dedarante a desconhece (ignoran­
cia), querporque tern representacao erronea dessa realidade (erro)'". Essa 
manifestacao de vontade nao pode ter sido provocada por outra pessoa; se 
o foi, ainda que por omissao, estaremos diante de "dolo" e nao de "erro" 
Nos termos do art. 138 do C6digo Civil, sao anulaveis os neg6cios 
juridicos quando as declaracoes de vontade emanarem de erro substanciai 
que poderia ser percebido por pessoa de diligencia normal. 
Especies de Erro: 
-	 Substancial: 
1.	 Quando interessa anatureza do negocio, ao objeto principe, 
da declaracao, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; 
II.	 Quando concerne aidentidade ou aqualidade essencial aa pe.: 
soa a quem se refira a declaracao de vontade, desde que tent­
influido nesta de modo relevante; 
G	 SILVIO DE SALVIO VENOSA. Direito Civil. Sao Paulo, Atlas, 2003, v. 1, p. 424. 
581,-­
III.	 Quando sendo de direito e nao implicando recusa aaplicacao 
da lei, for motivo unico ou principal do neg6cio juridico. 
- Acidental: 
Quando recai sobre qualidade irrelevante da pessoa com quem se 
contrata au do objeto contratado. 
- Escusabilidade do Erro: 
Anteriormente, entendia-se que, para 0 neg6cio juridico ser anu­
lado por erro, deveria restar demonstrada a sua escusabilidade. Atualmen­
te, a doutrina vern entendendo que nao. N esse sentido, esta 0 Enunciado 
nQ 12 da I ]arnada do ST]: "Na sistematica do art. 138, e irrelevante ser au 
nao escusavel a erto, parque a dispositive adata a principia da coniianca". 
o erro pode acontecer com relacao a coisa, pessoa au direito, ge­
rando a anulabilidade do neg6cio juridico. 
- Erro de calculo: 
Havendo erro material em calculo, 0 C6digo Civil nao permite a 
anulacao do neg6cio jurldico, autorizando tao-somente a retificacao. 
4.6.1.2. Dolo / lntencao de prejudicar -	 Arts. 145 a 150 
E0 induzimento malicioso (artificio, artimanha, engodo, encena­
cao, astucia) que tern por objetivo viciar a vontade do agente num deter­
minado contexto. Na verdade, 0 dolo e0 erro induzido. 
Para que 0 dolo possa ser anulado, Washington Monteiro de Bar­
ros aponta os seguintes requisitos: I) intencao de induzir 0 declarante a 
praticar 0 ato juridico; II) utilizacao de recursos fraudulentos graves; III) 
que esses artificios sejam a causa determinante da declaracao de vontade; e 
IV) que procedam do outro contratante ou sejam por este conhecidos como 
procedentes de terceiro" 
- Especies de Dolo: 
Positivo: e aquele praticado por meio de uma conduta positiva 
(ato comissivo). Ex.: Quando 0 vendedor de uma televisao afirma 
que esta possui funcoes que sabe inexistentes apenas com 0 intui­
to de ludibriar 0 comprador. 
N egativo: consistente em urn ato omissivo. Nos neg6cios juridi­
cos bilaterais, 0 silencio intencional de uma das partes a respeito de 
fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado constitui omis­
59
 
DIREITQ CIVIL 
sao dolosa, provando-se que sem ela 0 neg6cio nao se teria celebra­
do. Ex.: Quando na compra e venda de um aparelho reprodutor de 
CD, 0 comerciante, indagado sobre 0 fato de 0 aparelho tambern 
ser gravador, afirma desconhecer tal informacao, embora tivesse 
ciencia inequivoca de que nao 0 fosse. 
Essencial (ou principal): E aquele que recai sobre uma caracte­
ristica relevante do neg6cio juridico. Se a parte tivesse conheci­
mento do fato, problema ou vicio, nao teria realizado 0 neg6cio. 
De acordo com 0 art. 145, CC, os neg6cios juridicos sao anul.iveispor dolo quando este for a sua causa. 
Acidental: E aquele em que a atuacao maliciosa da outra parte 
nao foi a razao determinante da celebracao do neg6cio jurtdico, 
embora tenha trazido prejuizo ao contratante. Se a parte conhe­
cesse 0 problema ornitido, teria praticado 0 neg6cio de outra for­
ma. Essa especie de dolo nao torna 0 ato anulavel, gerando apenas 
a obrigacao de indenizar. 
- Dolo do representante: 
Legal: so obriga 0 representado a responder civilmente ate a im­
portancia do proveito que teve.
 
Convencional: 0 representado respondera solidariamente COIn
 
ele por perdas e danos, aplicando-se 0 art. 932, inc. III, do CC. 
4.6.1.3. Coacao - Arts. 151 a 155 
Ea pressao ou arneaca, fisica ou moral, sobre uma das partes, que 
faz com que essa tenha sua vontade alterada, deixando de agir de acordo 
com suas intencoes e conviccoes, A coacao, para viciar a declaracao de 
vontade, ha de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano imi­
nentc e consideravel asua pessoa, asua familia ou aos seus bens. Se disser 
respeito a pessoa nao pertencente afamilia do paciente, a juiz, com base 
nas circunstancias, decidira se houve coacao. 
Ao apreciar a coacao, 0 juiz deve ter em conta 0 SeX(L a ic1~:\'~i: ? 
condicao, a saude, 0 temperamento do paciente e todas as demais circuns­
tancias que possam influir na gravidade dela. 
- Especie s de Coacao:
 
Moral (au relativa - «vis cornpulsiva"): Na coacao moral a
 
vontade do agente e tao-so cerceada, restrinzida, e nao totalmcnte
 
exclufda, podendo deixar de praticar 0 ncg::""
 'C"" ~. 
por resistir ao mal prometido. 
• 
60 
Fisica (ou absoluta - "vis absoluta"): Nesta cspecie de coacao 
nao existe vontade. Segundo Silvio Venosa, coacao absoluta, e a 
"violencia fisica que nao da escolha ao coacto".Assim, se 0 individuo 
aponta arma a outrem ou conduz sua mao para conseguir sua assi­
natura em documento, nao hi vontade por parte do violentado. 
4.6.1.4. Estado de perigo - Art. 156 
Ocorre quando alguern, premido da necessidade de salvar-se, ou a 
pessoa de sua familia, de grave dana conhecido pela outra parte, assume 
obrigacao excessivamente onerosa. Tarnbern e admissivel 0 reconhecimento 
do estado de perigo quando 0 prejudicado praticou 0 ato para salvar al­
guem nao pertencente a sua familia, devendo 0 juiz decidir nesses casos. 
Caso seja reconhecido que 0 agente praticou 0 ato em estado de perigo, 0 
neg6cio juridico deve ser anulado. 
Ex.: caso de uma pessoa que tern urn familiar sequestrado, tendo 
sido fixado 0 valor de resgate em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Urn tercei­
ro, tendo conhecimento do fato, oferece tal quantia em troca de urn bern 
pertencente ao individuo, mas que na verdade possui valor real cinco vezes 
maior. Celebra-se a venda, em funcao da situacao de desespero da pessoa 
que quer salvar seu parente. 
4.6.1.5. l.esao - Art. 157 
Ocorre quando a pessoa, por premente necessidade, ou por 
inexperiencia, se obriga a prestacao manifestamente desproporcional ao 
valor da prestacao oposta. Essa desproporcao deve ser apreciada de acordo 
com os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado 0 neg6cio. Verificada 
a ocorrencia da lesao, 0 neg6cio juridico deve ser anulado. 
Diversamente do que ocorre no estado de perigo, na lesao a pessoa 
que requer a anulacao do neg6cio juridico nao precisa provar que a outra 
parte tinha conhecimento do estado de necessidade ou da inexperiencia 
do prejudicado. 
4.6.2. Vicios sociais 
4.6.2.1. Fraude contra credores - Arts. 158 a 165 
A fraude contra credores (institute de Direito Civil) e caracteri­
zada quando 0 devedor insolvente, ou na iminencia de assim se tornar, 
pratica atos maliciosos no intuito de diminuir 0 seu patrimonio, redu­
61
 
.= APR", w 
I 
J	 DIREITO CIVIL 
zindo, assim, a garantia que esse representa para 0 pagamento de suas 
dividas perante os credores. 
-	 Exemplos de atos fraudat6rios: 
•	 alienacao de bens (doacoes, vendas, permutas, dacoes em paga­
mento); 
•	 remissao de dividas; 
•	 constituicao de direitos reais; 
•	 pagamento antecipado a credor quirografario, 
•	 renuncia de heranca. 
Para que 0 neg6cio seja anulado, a parte prejudicada (credor) deve 
ingressar com _~~ao pauliana contra 0 adquirente desses bens. Entretanto, 
devera provar os seguintes requisitos: 
a)	 Consilium fraudis (conluio fraudulento) - E a rna-fe, 0 intuito 
deliberado de prejudicar, sendo suficiente que 0 devedor tenha 
consciencia de que de seu ato advirao prejuizos, 
b)	 Eventus damni (evento danoso) - E0 prejuizo causado ao ere- ­
dor, que nao conseguira satisfazer 0 seu credito diante da insol­
vencia do devedor. 
c)	 Anterioridade do credito, 
Atencao: Nao confundir com fraude a execuciio - instituto 
de Direito Processual Civil. Na fraude aexecucao a alienacao econsidera­
da como ato inexistente, nao necessitando de processo para anula-la, basta 
simples despacho do juiz. Para caracterizacao da fraude aexecucao nao e 
exigida prova do conluio, entendendo a doutrina que ha presuncao abso­
luta de sua presen~a. 
4.6.2.2. Sirnulacao - Art. 167 
E a declaracao enganosa da voritade, com 0 objetivo de proaUZIr 
efeito diverso do ostensivamente indicado. As partes fingem praticar 
urn neg6cio, que na verdade nao desejam, para prejudicar urn terceiro. 
Vale lembrar que, atualmente, nao importa se a simulacao foi praticada 
com 0 intuito de lesar (simulacao maliciosa) ou nao (simulaca.. .dl) ­
cente). De acordo com 0 Enunciado nQ 152 da III lornada do ST!, "toda 
simulacao, inclusive a inocente, i; involidante". 
•	 
62 
A acao declarat6ria de nulidade pode ser proposta por qualquer intc­
ressado, ou mesmo pelo Ministerio Publico, quando the couber intervir. 
- Especies de simulacao:
 
Absoluta: caracterizada quando as partes celeb ram urn neg6cio
 
jundico falso sem a intencao de realiza-Io ou de realizar qualquer 
outro. Ha apenas 0 objetivo de lesar urn terceiro. 
Relativa: e aquela em que os contratantes realizam 0 neg6cio ju­
ndico sob determinada aparencia, desejando, na verdade, realizar 
neg6cio diverso. 
4.7. INVALIDADE DO NEGOCIO JURIDICO 
o negocio juridicoe invalido(nulo ou anulavel) quando nao esta apto 
a produziros efeitos·p~tendidos.Toda vez que houver violacao de preceito de 
ordem publica 0 neg6cio sera nulo. Todavia, se a violacao atingiu apenas 0 
interesse particular, 0 neg6cio sera passivel, somente, de anulabilidade. 
4.7.1. Neg6cio nulo 
Segundo Silvio Venosa: "A funcao da nulidade etornar sem efeito 0 
ato ou neg6cio juridico. A ideia e faze-lo desaparecer, como se nunca hou­
vesse existido. Os efeitos que the seriam pr6prios nao podem ocorrer. Tra­
ta-se, portanto, de vicio que impede 0 ato de ter existencia legal e produzir 
efeito, em razao de nao ter sido obedecido qualquer requisito essencial'". 
Quando falamos em ato nulo, estamos falando em nulidade absoluta, inte­
ressando asociedade que este nao gere efeitos. Assim, as nulidades devem 
ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do neg6cio juridico ou dos 
seus efeitos e as encontrar provadas, nao the sendo permitido supri-las, 
ainda que a requerimento das partes. 
Hip6teses de neg6cio juridico nulo: 
_.·_·_···__·,-,_····_~·__w ¥._~_.---__••__,>_.__
1.	 celebrado por pessoa absolutamente incapaz; 
II.	 for ilicito, impossivel ou indeterminavcl 0 seu objeto; 
~-_._-_ . 
III.	 0 motivo determinante, cornum a ambas as partes, for ilicito; 
IV.	 nao revestir a forma prescrita em lei; 
V.	 for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial 
para sua validade; 
SILVIO DE sALVIa VENOSA, Direito Civil. Sao Paulo, Atlas, 2003, v. 1, p. 570. 
63 
7 
I	 DIREITO CIVIL 
I
 VI. tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
 VII. quando a lei taxativamente declarar algum neg6cio nulo au 
proibir-lhe a pratica sem cominar sancao, 
4.7.2. Neg6cio anulavel

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