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• .... o i I ,. o tJ : I V \, ;1 PERFORltÁ,.ICOS, PERFORltANCE & SOCIEDADE CÓPIAUMPA PUC- CA Ffl. S.P. b~ 263·0211 R.224 'I p\.Q :J ~ o PERFORMAIICE • A.os 00: CONSIDERAÇÕES SOBRE O ZEITGEIST CONTEMPORÂNEO RENATO COHEN "Modernity is the transitory, the fugitive, the contingent, the half of art, of which the other half is the eterna! and the immutable..." Les fleurs du mal Charles Baudelaire ' I - ARTE PERFORMANCE: Dos Novos PARADIGMAS À REITERAÇÃO DO PROJETO DA MODERNIDADE Aanálise da expressão artísticaperformance e de seus deslocamen-tos.' no contexto da contempo-raneidade (anos 1980-1990), inscreve-a como urna arte potente, reiterativa do projeto da modernidade e das vanguardas artísticas' e em consonância com os paradigmas emergentes da ciência e da linguagem que propõem novas leituras da realidade e da escala fenomenal. Potenàalizada por presença ao vivo (on- line), com atuação sensível e pensante do perforrner' e pela incorporação de linguagens de ponta (hierarquias de organização suporte- narrativa-ação), a arte da performance envereda por matrizes complexas que dão respostas a um ZeitgeisfS contemporâneo plural, fragmentário , ambíguo, possibilitando construções artísticas e leituras de fenômenos que incorporem a não causalidade (indeterminação), o ponto de vista relativístico e as recentes formulações da teoria quântica e geometria do caos e dos fractais ." 66 lRENATO CON'N, pesquisador, performer e diretor teatra l, desenvolve trebelhos de investigação no campo artístico, com desdobramentos teóricos e práticos. Graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Engenharia de Produção. Mestrado em "Performance como linguagem : cr iação de um tempo/espaço de experimentação", pela ECA! USp, 1987, Doutoramento em "Work in process: linguagens da criação. encenação e recepção na cena contemporãnea", pela ECA! USp, 1994, 1 • Citado em Matei Cati- nescau. The five faces of modernity, Carolina do Norte, Duke University Press. 1987. 2 • Ações performáticas diversas e uma série de traba- lhos com suportes múltiplos. incluindo videoarte, pantomima, instalação, cena multimidia, happenings, intervenções, dra- mas étnicos, teatro de fontes. trabalhos estes que têm em co- mum o acontecimento ao vivo, a atuação idiossincrática e as linguagens afrontadoras, inqui- ridoras, mobilizadoras da cons- ciência e da percepção. 3 • O movimento da perfor- mance desde as incursões futu- ristas "dad á" até os happenings e as apropriações da idéia da Gesamtkunstwerk (obra de arte total), nos anos 1960, inscreve- se pelo seu caráter transgressor, utopista, heróico, com busca teológica, como um projeto da Modemidade. Essas prem issas ficam antagonizadas, a meu ver, na releitura pós -modernista marca- da pelo parodismo, pela assi- m ilação, por posturas cín icas (cultura do iake) e presenteistas. Lyotard marca a passagem Modernidade/pós-modernidade po r "enfraquecimentos", entre outras razões , pela perda da noção do sublime (Jean François Lyotard, "Answering the question : wha t is po strno - dernisrn", Innovation / reno- vation : newperspectives on the human ities, Wiscos in, Universi ty of Wiscos in Press, 1982). 4 • Funcionando como arte hibrida, int ermi di a, a perfor- mance tem - na presença viva e autor al do performer- momentos de superação ao teatro (submi sso à dramaturgia, à representação, ao tempo pretérito). e às artes plásticas (inscrevend o dinamicidade, transições cont ínuas processo- produto e continência autor- obra) , S - Esp ir ito de época . Em 1982, o enviroment do perfor- mer alemão Joseph Beuys - Blitzschag mit Lichtschein aui Hirsch (Relám p ag o sobre cabeça deveedo /958-/985) (ver ilustraçãol - i naug ur a a exposição Zeitçeist, na Martin Gropius Bui ld ing , em Ber lim. Talvez seja uma das obras mais instigantes da criação contem- porânea: promove o encontro significat ivo dos opostos - suspensão do material denso, matérico ; alusão românt ica ao passado , materia l izada no veado (stag), recriado, como abst raç ão, i l u mi naç ão -r aio , in sc r ev end o dinamicidade , d r am ati ci d ad e, na cena est átic a , pe tri ficada. PERFORMATICOS, PERFORMANCE E SOCIEDADE Nesse contexto são gerados trabalhos que possibilitam a incorporação da narrativa fragmentada/ da dissonância, do informe, do assimetrismo, operações essas não pertencentes à ordem euclidiana mas que na cena contemporânea são legitimadas como discurso . Na direção de um Zeitgeistcontemporâneo, a produção inaugural, veiculada pela performance e pelas artes de fronteira incorpora códigos artísticos que utilizam narrativas superpostas- a partir de emissões polifônicas e polissêmicas, na ordem da sincronicidade e da pluralidade, operando, nessa trama, linguagens que transitam pelo texto/imagem,"pelas emissões subliminares," pelo texto/partitura (com vários leitmotiv e hierarquias de significação) possibilitando fruição e cognições arnbivalentes." Nessa operação criativa, constitutiva de novas linguagens e narrativas, são incorporados procedimentos axiomáticos do happening e da performance corno o uso de work in process, a absorção do "erro" e do acaso, da caoticidade e das vicissitudes cotidianas,da produção mutante - que carrega o efêmero "elan vital"!' - subvertendo a representação e o apriorismo próprios do contexto teatral. Essas construções cênicas, conceituais, operam-se com deslocamentos do edi fício-teatro e do edifício-museu." Essa produção, de estrutura e narrativa complexa, antes de instaurar a recepção caótica13 e a ininteligibilidade do discurso, busca promover a pesquisa de novas semânticas a partir da criação de sintaxes" e operações cênicas consonantes com as leituras contemporâneas dos fenômenos. Guto Lacaz e Francisco Janvier. Espetácu lo "Máquinas e motores, última cena : metralhadora di spara 48 setas cont ra a pla téia ao som de "Viva a sociedade alternati va"de Raul Seixas. Foto : Gal Ooido , 6 • São significativas, no campo da linguagem, as contrib uições da escola pós. estruturalista francesa (Derrida, Baudrillard, Deleuze , entre outros). Deleuze, em colabo- ração com Gatlari (em Capita. lisme et scbizophrenie, renti Oedipe. Ed. Inuit , 1972). propõe uma gramát ica de conceitos como reterr itorialização . fluxos, agenciamento, devir que norteia cartografias de espaços físicos, imaginários, pulsionais. 7 . Samuel Beckett, cuja produção evolu i do teatro para peças-performancesefêmeras em videoteatro, fala de uma fractal culture eda busca do fragmentário em sua obra a part ir do "reconhecim ento da desordeml indet erm inação e natureza processualdo universo.:"(Michael Heuvet, Performing Drama/ Dramatizing Performance. Michigan , The Un iversity of Michigan Press, 1991.) 8 • Os detretores da co m- pos içáo im ag ét ica na cena procuram minimizar essa produção atribuindo os jargões teatro de imagens, c!ipp ing, etc . J am es Hillm an, retomando Jung, mostra que as aliterações e as condensações imagéticas trabalham cognições pro fundas e expressam o logos da alma (Psi cologia srquetipice , São Paulo . Cult rix , 1988). 9 . Mi chael Heuve l, op. cito no m ei a uma contemporary con sciousn es s (c onsci ênci a contemporãnea), múltip la, sin- crô ni ca, operando recepções encadeadas, sim ultãneas, com çestetts preponderantes e outras subliminares. 10 · Trabal hando no lim ite do que Stanislav Grof nomeia como trenspessoet com recepções ambivalentes pelos hem isfér ios esquerdo (lógico, racional) e di reito (gestáltico) do cerébro. 11 . Espaços de apar ição da epifania, tema recorrente mo- dem o, que remete ao que se desvela, a um topos de inter- dição e de intensa revelação. 12 . O trabalho da pertor- m ance é na sua gênese um trabalho de des locamento, de alter ação de contextos:des lo- cam ent os espaçc-rempcrais , como oor exemplo a ação dos performe rs iugoslavos Marina Abramovay e Ulay, que partem em direções opostas. (OrienteI Ocidente) e se encontr am, com aperto de mãos, na muralha da China; deslocamentos de atua- ção. criação e. principalmente, deslocamento da produção do mainstream , aparelhada pela mid ia e pe la recepç ão de mercado. 13 . A teo ria do caos , como linguagem. parte de uma visão 67 1 sistêmica apoiada numa funda- mentação ant ideterminista segundo a qual os fenômenos não se repetem e não há um todo organizado (James Gleick, Chaos making a new science. Nova York, Penguin Books , 1988) . 14 - Esses trabalhos têm , portanto, um outro alcance e se distinguem do que nos anos 1960, se nomeou "Est ética do sil êncio" (Susan Sontag. Styles of radical will), ou "Est ética do ru ído" . É im po rt ante retomar- mos John Cage, que, em Silence propõe, de forma zen, outras relações de sentido "v..is that it can turn its own tables and see meaninglessness as ultimate means.: " (· ...assim é possivel virar o feitiço contra o feiticeiro e ver o sem sent ido como signi fi cado definitivo ...") . 15 - O conceito de escul- turas sociais e arte inacabada. em processo. de Joseph Beuys. até ho je é co ntem p o r ân eo . Bruce Nauman, que constru iu performances de limi tes flsicos. é considerado um dos pr inc ipa is rea li zadores das úl t i mas d é- cadas. 16 - Vídeo-realizador ame- ricano. Seu último trabalho Site of th e un seen pr iv ileg ia o não im ediatamente visível . o ocu lto : .....ol hamos o mu ndo ao nos so redor e só vemos o que estamos condicionados a enxergar. Quero revelar a visão interior, a aura hum ana.. ." Ie ntrevi sta ao Ca- de rn o 2 1 OESP - 23.06 .94 ). 17 - Gary Hi ll trabalha tex turas de palavras-imagens, em supo rte eletrõnico. compon- do estruturas anagramilticas e ide og ram as que rein ventam a Jebb erwock Carroliana (ver "Gary Htll faz surte em ondas catód icas". Anton io Gonçalves Filho, Cade rno 2 /0ES? - 05.' 1.95). 18 . O teatro do Wooster Group e o de Foreman consteia uma l inguagem autõnoma . pol issêmica. fu nd ant e, com atuaçõ es performilt icas e particu lares . distinguindo-se do teatr o natural ista. das constru- ções aristoté licas (que se supor- tam em narrati v as ló g ic as, confl ito de per sonagens, cata r- ses ) e d o teatro do diver- tis s em ent. 19 - Numa produção bra- sil ei re podem os c it ar . entre outros, o teen-butoh de Maura Baioc h i , as p erformances- le atra is d o X PTO, as i n t e r- ve nç õ es plilst icas e v e rb ico - vi suais (reto m an d o o s con - cretistas) de Arnaldo A nt unes. Tunga e Nun o Ram o s. Lív io Tratemberg, A rt ur O rna r, Ja c Leirn er. W il son S ukorski . O tilvio Dona sc i . Lucila Meirelles e Gu IO t.ac az. co m RENATO C OHEN Nesse universo da-cena contemporânea, são significativos trabalhos corno as performances conceituais de Bruce Nauman e Joseph Beuys," as epifanias virtuais dos vídeos-realizadores Bill Viola" e Gary Híll," entre outros, o teatro de formas-linguagens autônomas do Wooster Group e de Richard Foreman," a poética minirnal de Robert Wilson, o formalismo de Tadeusz Kantor. São também relevantes, nesse contexto, trabalhos tão distintos" corno as representações espasmódicas do balé de Wupperthal, de Pina Bausch, o ritualismo do Fura deI Bauss, as intervenções radicais de Min Tanak.a e Sankai [uku - em per formances butoh - e um espec- tro mais amplo de emissões e interfer ências que vão desde os enviroments de Christo e Walter de Maria." as imagens fi.lrnicas de Peter Greeneway, as operações parateatra is seletas de Grotowski, até as imagens "rap"criadas pela MTY, recorte este con sti tut ivo de uma paisa gem mediát ica contemporânea." Por outro lado, a ins taura ção de um toposda arte da per form ance e suas liminalidades, no contexto da cena contemporânea , cumpre função fundamental quer seja a reiteração de um espaço de atuação e espetacularização da experiência di st into d a idéia te at ro.f d e polarização e reverbe ração do legad o da avant-gard? e da arte da Poícsis. Zençeist - Joseph Beuys 68 t rabalhos multi -mediáticos. 20 - Wa lter de Maria num d o s trabalhos mais emble- m ilt icos da enviroment srt instala, no Novo México. seu Lighting field (1971-19nl, corpo de p ára -raios que cria e arti fic ial iza um embate com a natureza. (Descr ito em "A co ndição do deserto", Marco do Valle , Oc uiurn, 1993.) 21 - Michel Mafesolli lA conquis ta do presente , Ed, Graal , 19 85 ) nomeia uma paisagem mediat izada criadora de uma "realidade de contemo" constit ut iva do imaginário contemporãneo . Não estou incl ui n d o no recorte apre- sentado intervenções de artistas como M ad o n n a. M ichael Jackson. e mesmo MickJagger, que epesar de liminais com a arte da performance estão mais c ircunsc r itos ao campo do msss -medis e das operações de marketing. Da mesma forma. a etua ç ào oe po liticos que busca m o ndi culo Idio ssincrâtico, apesar de pert o rm áuce. diverge do fenô m eno performance como campo Inqui ridor. transgressivo. 22 - Cria-se em torno da arte da cerformence ou do que se tem nom eado ho je "t rabalho m ul t i m id i a· um esp aç o de re s ist ênc ia . A performance defin itiv amente escapa da id éia de teatro. marcado pe la repre- s ent a ç ê o, pe la organ ização narrativa ainda aristo tél ica . pe la suorn isséo à paiavra e pelos do is tempos cên ico s (personageml perfo rm er. ficç ão/presentação ). O que se obs erva na cena teatral co ntemporânea é uma "reto - m ada" tnunfal do texto drama- tú rg i co. d a re cupe ração do sent ido . do canes ianismo cê- ni co . Des respei tando -se todo um percurso da poética ertau- diana (e sua cena delirante. das uto pias oa dançe de Bal i) , as desconst ruçô es de linguagem de Pound. Becken e outros, do te atro d as vangua rdas de M ay ak ov ski , M ey e rh ol d e A poll ina ire e do s contempo - rân eo s Kant o r, Bob W ilson . Foreman. assist imos a um movi- mento cap itanaado pela Folha de S. Paulo que segue o reac io - narismo do The New York Times - co lo cando como g rande paradigm a cên ico Angels in Am erica. trabalho menor de teor broadw avniano. 23 - No parad o xo p ós - m o dern ist a. da constante (re)prooução do nov o , o projeto das vanguarda s é. hoje, por um lado am olam ente reassim ilad o e. por out ro . denegado, e mal acolhioo (em procedimentos cri ti ca s qu e " esc o n d em" as fo ntes oe certas idéias). 6 - Introduzindo palavras novas. trago um novo conteúdo, onde tudo começa a deslizar (deslocar-se) (...). 7 - Na arte podem estar dissonãncias não resolvidas - ·algo desagradável para o ouvido"- porque há uma disso- nãncia em nossa alma. Este material foi utilizado na montagem da ópera futurista Vitória sobre o Sol (Malévitch/ Krutchônikh). apresentado no Centro Cultural Sâo Paulo .1995, Grupo Orlando Furioso, direção Renato Cohen. 25 - Richar Schechner (By means of performance - in tercu ltural studies of theatre andritual, Cambridge University Press. 1990) nomeia um campo da performance de atuação ritual ist ica e curativa abran- gendo prát icas interculturais de d iversas fontes - com med iação do perfo rmer - como o kathakali , o xarnanismo, cerimôn ias y aquis. trabalhos lim inais diversos nutridores da cena contemporânea . Edward Edinger (Anatomia da psique. Cultri x, 1990), citado em "Do estranho ao numinoso : processos de criaç áo/atuaç êo". Renato Cohen (tese de doutoramento ECAlSPj. fala em estados de perticip etion mvsuaue entre o atuante e o obj eto expressivo . ubechchtchur · '0 24 - O projeto dos poetas Khlébnikove KrutchÔnikh é o da criação de uma língua encan- tat ória, não racional. de sintaxes fônicas. objetivando a paro/e in liberté futurista; reproduze,a seguir. pela sua importância e contemporaneidade. trechos do manifesto transmental. segundo sua forma e organização e do poema divinatório "Di r Sul Chtchil" (Marjorie Perloff. O momento futurista: svent- garde. svent-querre e a linguagem da rupture, Edusp. 1993). 4 - Pensamento e linqua- gem não podem alcançar a experiência emocional de alguém inspirado; portanto. o artista é livre para se expressar não apenas na linguagem comum (conceitos). mas tam- bém numa individual (um criador é individual). assim como numa linguagem que não tem um significado definido (não congelado). que é trsnsrscionst, Uma linguagem comum é amarrada; uma linguagem livre permite uma expressão mais completa (...). 5- As palavras morrem, o mundo penmanece jovem para sempre. Um art ista vé o mundo de uma nova maneira e, como Adâo, ele dá os seus próprios nomes a tudo. Um Iirio é belo, mas a palavra Iirio está mano chada por dedos e saqueada. Por essa razão . chamo um Iirio eui, a pureza original é resta- belecida (...l . 3 - É melhor trocar por uma palavra semelhante em som do que por uma semelhan- te em idéia (...). 2 • A nova forma verbal cria um novo conteúdo e náo vi· co-verse. PERFORMÁncos . PERFORMANCE E SOCIEDADE Resgata-se nessa via o braço heróico da arte, das transposições não mim éticas da realidade, da busca de outras aproximações com a ordem fenomenal, da exacerbação das situações paradoxais e superação da vivência ordinária. São axiomáticos, e ainda hoje contempo- râneos, percursos como a construção de um vocabulário mágico, transmental futurista (zaum),24 a tentativa desesperada de Malévitch de superação do objeto de representação e busca da emoção pura (suprematismo), a criação da super-realidade de Bréton, realidade esta transfiguradora onde se equiparam o onirismo, o maravilhamento, o mistério, a superstição - potências do imaginário - recôndito do espírito - ao ordinário cotidiano. Essa recusa ao ordinarismo prossegue, em décadas subseqüentes, em obras como a (des)sintaxe mallarmeana, a engenharia conceitual de Duchamp (construindo seu "castelo da pureza", nas palavras de Otávio Paz), na Ocurrence art de [ohn Cage, no ritualismo da Body ari, nas manifestações viscerais, lúdicas, iluministas do happening e da performance e, contemporaneamente, na cena virtual, mini- malista, numinosa, trabalhos estes vivificadores e materializadores do informe. do esgar epifânico, contrapartes ao transitório fugidio poetizado por Baudelaire. 2 • LIIIGUAGE" • SUPORYE • A"uAllu: O DEYlR PERFOIUtÁ'I'IC. A construção da performance está apoiada numa tríade: linguagem (texto, narrativa), suporte (mídia) e atuação. Dessas inter-relações se apontam caminhos onde se delineia, de um lado, uma revolução de suportes e linguagens (am plificad oras do potencial sensível e mobilizador dos novos mídia ) e, de outro um a extensão da função do performer que passa de artista-conceituador-interventor à dimensão de ritualizador, xamanista, catalisador de experi- ências e situaçôes exponenciais ." Dentro do leque de intervenções e manifestações da arte-performance que abrange desde trabalhos de presença, em real time , no contato direto com o prato fenômeno (na dir vi bul skum so chtchil bu êz .. C> • 26 - Charles Peirce (Con- ferência li, parágrafo I, Obras completas, s.r.d .) acentua a importância da experiência da primeiridade: "Temos que abrir os olhos do espírito e olhar bem os fenômenos". 27 - A mediação consiste no uso do "medium" e aparatos tecno lógicos - vozes em of{. o vocoder de Laurie Anderson, uso de projeçóes e simul- taneidades, criando interfe- rências e discursos paralelos entre o performer e o especta - dor, descaracterizando o aqui- agora da cena convencional. A disjunção (mecanismo recor- rente da cena trash contem- porânea) corresponde à sepa - ração, ao não junto, ao não simultâneo, a um "delay cênico". Flora Sussekind ( "A imaginação monológica", Revista da USP. julho 1992) comentando a cena de Gerald Thomas e Bia Lessa fala em "corpos sem vozes" . "vozes sem corpos". 28 - Citado por Arlindo Machado, Revista Epiphanéia . Milão, s.r.d. RENATO C OHEN experiência da primeiridade" sem metalingua- gem excessiva), numa trajetória onde se incluem trabalhos de Gina Pane, transgressões Andy Warholianas, as ações diretas de Beuys, o gestualismo improvisado de Butoh, até as elaboradas construções sígnicas que implicam mediação, disjunção," deslocamento, observa- mos um redirecionamento dos trabalhos no contexto comunicacional contemporâneo. Pierre Levy" aponta transições entre a época da oralidade (apoiada em memória, narrativa), da palavra impressa (desencadeando interpreta- ção, análise) ao uso contemporâneo de compu- tação e redes (implicando operação, simulação, interferência) . O eixo investigativo da performance que partiu de suportes que tinham o corp o como entorno e significação (body art, happening), para explorações do matérico e dá coUage de objetos (os Merz Blau dadaístas, o trabalho com env iroment s e instal ações) se desloca par a experimentações qu e incluem o uso de outros entornes," a desmaterialização do objeto." a cr iação da cen a vi rtu ali zad a (combinand o imagem, presença, fugacidade) e trabalhos com suportes e míd ias di versas , qu e inclu em a telemática , a arte-satélite, os siste mas 3d, a halografia e o uso de rede s comunicacionais (Intern et). A pesquisa de supor tes e mídia direciona-se para trabalhos de interatividade" - prom ovendo relações mais abruptas entre o objeto expressivo (performance, videoperformance, cen a multi- mídia) e o receptor que se torna um (re)cons- truto r ativo das na rrati vas, de simulação (virtu aliza çâo)," e de experiências d e super- posição e sincronia do objeto expressivo possibili- tando ações em tempos/espaços distintos e interações entre protagonizações ao vivo e respostas previamente editadas. Por último, podemos observar que o avanço vertiginoso da tecnologia e a velocidade dos novos mídia adensa os paroxismos da arte no contraponto entre corporeidade e fugacidade, presença e efemeridade, me tafor izando, em câmera rápida, o próprio ciclo da vida marcado pela irnperrnanêncía. 70 29 - Por exemplo em trabalho s que têm a cidade como medium (ver Ane cidade 1- 11 -111 . São Paul o. cu rad o ria Nelson Brissac Peixoto) . 30 - Tema da Bienal de São Paulo - 1996. curadoria Nelson Aguillar. buscando extrapolaçóes de forma e de continente. O tr abalho da perf ormance . conceitual desde a sua gênese . das partituras sem música de Cag e, do não mo vimento de Merce Cunn inghan, da irnobili- dade da performance de Beuys (Talking with a dead hare) teve sem pre essa meta. 31 - Os man ifestos Fluxus e os trabalh o s divers o s do h ap p enin 9 / pe rf o r m a n c e sempre ti veram a dim ensão inte rativ a, sup rimindo. mu itas ve zes. a relaç ão esoe cta oor/ atuante. 32 - Podem os falar em níveis de v irtual izsç ào: a própria exp ressão pertcrrnat ica. f is ica- lizada num rernoo.es paço dis - tint o do cotidiano. e uma expe- riência de v irt u ali zaç áo .
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