Buscar

COHEN, Renato Performance anos 90

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

•
.... o
i I ,.
o tJ :
I V
\, ;1
PERFORltÁ,.ICOS,
PERFORltANCE
&
SOCIEDADE
CÓPIAUMPA
PUC- CA Ffl. S.P. b~
263·0211 R.224 'I
p\.Q :J ~
o
PERFORMAIICE • A.os 00:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O
ZEITGEIST CONTEMPORÂNEO
RENATO COHEN
"Modernity is the transitory, the fugitive, the
contingent,
the half of art, of which the other
half is the eterna! and the immutable..."
Les fleurs du mal
Charles Baudelaire '
I - ARTE PERFORMANCE: Dos Novos
PARADIGMAS À REITERAÇÃO DO PROJETO DA
MODERNIDADE
Aanálise da expressão artísticaperformance e de seus deslocamen-tos.' no contexto da contempo-raneidade (anos 1980-1990),
inscreve-a como urna arte potente, reiterativa
do projeto da modernidade e das vanguardas
artísticas' e em consonância com os paradigmas
emergentes da ciência e da linguagem que
propõem novas leituras da realidade e da escala
fenomenal.
Potenàalizada por presença ao vivo (on-
line), com atuação sensível e pensante do
perforrner' e pela incorporação de linguagens
de ponta (hierarquias de organização suporte-
narrativa-ação), a arte da performance
envereda por matrizes complexas que dão
respostas a um ZeitgeisfS contemporâneo plural,
fragmentário , ambíguo, possibilitando
construções artísticas e leituras de fenômenos
que incorporem a não causalidade
(indeterminação), o ponto de vista relativístico
e as recentes formulações da teoria quântica e
geometria do caos e dos fractais ."
66
lRENATO CON'N,
pesquisador, performer e
diretor teatra l, desenvolve
trebelhos de investigação no
campo artístico, com
desdobramentos teóricos e
práticos. Graduado pela Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo em Engenharia de
Produção. Mestrado em
"Performance como
linguagem : cr iação de um
tempo/espaço de
experimentação", pela ECA!
USp, 1987, Doutoramento em
"Work in process: linguagens
da criação. encenação e
recepção na cena
contemporãnea", pela ECA!
USp, 1994,
1 • Citado em Matei Cati-
nescau. The five faces of
modernity, Carolina do Norte,
Duke University Press. 1987.
2 • Ações performáticas
diversas e uma série de traba-
lhos com suportes múltiplos.
incluindo videoarte, pantomima,
instalação, cena multimidia,
happenings, intervenções, dra-
mas étnicos, teatro de fontes.
trabalhos estes que têm em co-
mum o acontecimento ao vivo,
a atuação idiossincrática e as
linguagens afrontadoras, inqui-
ridoras, mobilizadoras da cons-
ciência e da percepção.
3 • O movimento da perfor-
mance desde as incursões futu-
ristas "dad á" até os happenings
e as apropriações da idéia da
Gesamtkunstwerk (obra de arte
total), nos anos 1960, inscreve-
se pelo seu caráter transgressor,
utopista, heróico, com busca
teológica, como um projeto da
Modemidade.
Essas prem issas ficam
antagonizadas, a meu ver, na
releitura pós -modernista marca-
da pelo parodismo, pela assi-
m ilação, por posturas cín icas
(cultura do iake) e presenteistas.
Lyotard marca a passagem
Modernidade/pós-modernidade
po r "enfraquecimentos", entre
outras razões , pela perda da
noção do sublime (Jean
François Lyotard, "Answering the
question : wha t is po strno -
dernisrn", Innovation / reno-
vation : newperspectives on the
human ities, Wiscos in, Universi ty
of Wiscos in Press, 1982).
4 • Funcionando como arte
hibrida, int ermi di a, a perfor-
mance tem - na presença viva
e autor al do performer-
momentos de superação ao
teatro (submi sso à dramaturgia,
à representação, ao tempo
pretérito). e às artes plásticas
(inscrevend o dinamicidade,
transições cont ínuas processo-
produto e continência autor-
obra) ,
S - Esp ir ito de época . Em
1982, o enviroment do perfor-
mer alemão Joseph Beuys -
Blitzschag mit Lichtschein aui
Hirsch (Relám p ag o sobre
cabeça deveedo /958-/985) (ver
ilustraçãol - i naug ur a a
exposição Zeitçeist, na Martin
Gropius Bui ld ing , em Ber lim.
Talvez seja uma das obras mais
instigantes da criação contem-
porânea: promove o encontro
significat ivo dos opostos -
suspensão do material denso,
matérico ; alusão românt ica ao
passado , materia l izada no
veado (stag), recriado, como
abst raç ão, i l u mi naç ão -r aio ,
in sc r ev end o dinamicidade ,
d r am ati ci d ad e, na cena
est átic a , pe tri ficada.
PERFORMATICOS, PERFORMANCE E SOCIEDADE
Nesse contexto são gerados trabalhos que
possibilitam a incorporação da narrativa
fragmentada/ da dissonância, do informe, do
assimetrismo, operações essas não pertencentes
à ordem euclidiana mas que na cena
contemporânea são legitimadas como discurso .
Na direção de um Zeitgeistcontemporâneo,
a produção inaugural, veiculada pela performance
e pelas artes de fronteira incorpora códigos
artísticos que utilizam narrativas superpostas-
a partir de emissões polifônicas e polissêmicas,
na ordem da sincronicidade e da pluralidade,
operando, nessa trama, linguagens que transitam
pelo texto/imagem,"pelas emissões subliminares,"
pelo texto/partitura (com vários leitmotiv e
hierarquias de significação) possibilitando fruição
e cognições arnbivalentes."
Nessa operação criativa, constitutiva de
novas linguagens e narrativas, são incorporados
procedimentos axiomáticos do happening e da
performance corno o uso de work in process, a
absorção do "erro" e do acaso, da caoticidade e
das vicissitudes cotidianas,da produção mutante
- que carrega o efêmero "elan vital"!' -
subvertendo a representação e o apriorismo
próprios do contexto teatral.
Essas construções cênicas, conceituais,
operam-se com deslocamentos do edi fício-teatro
e do edifício-museu."
Essa produção, de estrutura e narrativa
complexa, antes de instaurar a recepção caótica13
e a ininteligibilidade do discurso, busca promover
a pesquisa de novas semânticas a partir da criação
de sintaxes" e operações cênicas consonantes
com as leituras contemporâneas dos fenômenos.
Guto Lacaz e Francisco Janvier. Espetácu lo "Máquinas e motores,
última cena : metralhadora di spara 48 setas cont ra a pla téia ao som
de "Viva a sociedade alternati va"de Raul Seixas. Foto : Gal Ooido ,
6 • São significativas, no
campo da linguagem, as
contrib uições da escola pós.
estruturalista francesa (Derrida,
Baudrillard, Deleuze , entre
outros). Deleuze, em colabo-
ração com Gatlari (em Capita.
lisme et scbizophrenie, renti
Oedipe. Ed. Inuit , 1972). propõe
uma gramát ica de conceitos
como reterr itorialização . fluxos,
agenciamento, devir que norteia
cartografias de espaços físicos,
imaginários, pulsionais.
7 . Samuel Beckett, cuja
produção evolu i do teatro para
peças-performancesefêmeras em
videoteatro, fala de uma fractal
culture eda busca do fragmentário
em sua obra a part ir do
"reconhecim ento da desordeml
indet erm inação e natureza
processualdo universo.:"(Michael
Heuvet, Performing Drama/
Dramatizing Performance.
Michigan , The Un iversity of
Michigan Press, 1991.)
8 • Os detretores da co m-
pos içáo im ag ét ica na cena
procuram minimizar essa
produção atribuindo os jargões
teatro de imagens, c!ipp ing, etc .
J am es Hillm an, retomando
Jung, mostra que as aliterações
e as condensações imagéticas
trabalham cognições pro fundas
e expressam o logos da alma
(Psi cologia srquetipice , São
Paulo . Cult rix , 1988).
9 . Mi chael Heuve l, op. cito
no m ei a uma contemporary
con sciousn es s (c onsci ênci a
contemporãnea), múltip la, sin-
crô ni ca, operando recepções
encadeadas, sim ultãneas, com
çestetts preponderantes e outras
subliminares.
10 · Trabal hando no lim ite do
que Stanislav Grof nomeia como
trenspessoet com recepções
ambivalentes pelos hem isfér ios
esquerdo (lógico, racional) e
di reito (gestáltico) do cerébro.
11 . Espaços de apar ição da
epifania, tema recorrente mo-
dem o, que remete ao que se
desvela, a um topos de inter-
dição e de intensa revelação.
12 . O trabalho da pertor-
m ance é na sua gênese um
trabalho de des locamento, de
alter ação de contextos:des lo-
cam ent os espaçc-rempcrais ,
como oor exemplo a ação dos
performe rs iugoslavos Marina
Abramovay e Ulay, que partem
em direções opostas. (OrienteI
Ocidente) e se encontr am, com
aperto de mãos, na muralha da
China; deslocamentos de atua-
ção. criação e. principalmente,
deslocamento da produção do
mainstream , aparelhada pela
mid ia e pe la recepç ão de
mercado.
13 . A teo ria do caos , como
linguagem. parte de uma visão
67
1
sistêmica apoiada numa funda-
mentação ant ideterminista
segundo a qual os fenômenos
não se repetem e não há um
todo organizado (James Gleick,
Chaos making a new science.
Nova York, Penguin Books ,
1988) .
14 - Esses trabalhos têm ,
portanto, um outro alcance e se
distinguem do que nos anos
1960, se nomeou "Est ética do
sil êncio" (Susan Sontag. Styles
of radical will), ou "Est ética do
ru ído" . É im po rt ante retomar-
mos John Cage, que, em Silence
propõe, de forma zen, outras
relações de sentido "v..is that it
can turn its own tables and see
meaninglessness as ultimate
means.: " (· ...assim é possivel
virar o feitiço contra o feiticeiro
e ver o sem sent ido como
signi fi cado definitivo ...") .
15 - O conceito de escul-
turas sociais e arte inacabada.
em processo. de Joseph Beuys.
até ho je é co ntem p o r ân eo .
Bruce Nauman, que constru iu
performances de limi tes flsicos.
é considerado um dos pr inc ipa is
rea li zadores das úl t i mas d é-
cadas.
16 - Vídeo-realizador ame-
ricano. Seu último trabalho Site of
th e un seen pr iv ileg ia o não
im ediatamente visível . o ocu lto :
.....ol hamos o mu ndo ao nos so
redor e só vemos o que estamos
condicionados a enxergar. Quero
revelar a visão interior, a aura
hum ana.. ." Ie ntrevi sta ao Ca-
de rn o 2 1 OESP - 23.06 .94 ).
17 - Gary Hi ll trabalha
tex turas de palavras-imagens,
em supo rte eletrõnico. compon-
do estruturas anagramilticas e
ide og ram as que rein ventam a
Jebb erwock Carroliana (ver "Gary
Htll faz surte em ondas catód icas".
Anton io Gonçalves Filho, Cade rno
2 /0ES? - 05.' 1.95).
18 . O teatro do Wooster
Group e o de Foreman consteia
uma l inguagem autõnoma .
pol issêmica. fu nd ant e, com
atuaçõ es performilt icas e
particu lares . distinguindo-se do
teatr o natural ista. das constru-
ções aristoté licas (que se supor-
tam em narrati v as ló g ic as,
confl ito de per sonagens, cata r-
ses ) e d o teatro do diver-
tis s em ent.
19 - Numa produção bra-
sil ei re podem os c it ar . entre
outros, o teen-butoh de Maura
Baioc h i , as p erformances-
le atra is d o X PTO, as i n t e r-
ve nç õ es plilst icas e v e rb ico -
vi suais (reto m an d o o s con -
cretistas) de Arnaldo A nt unes.
Tunga e Nun o Ram o s. Lív io
Tratemberg, A rt ur O rna r, Ja c
Leirn er. W il son S ukorski .
O tilvio Dona sc i . Lucila
Meirelles e Gu IO t.ac az. co m
RENATO C OHEN
Nesse universo da-cena contemporânea, são
significativos trabalhos corno as performances
conceituais de Bruce Nauman e Joseph Beuys,"
as epifanias virtuais dos vídeos-realizadores Bill
Viola" e Gary Híll," entre outros, o teatro de
formas-linguagens autônomas do Wooster
Group e de Richard Foreman," a poética minirnal
de Robert Wilson, o formalismo de Tadeusz
Kantor.
São também relevantes, nesse contexto,
trabalhos tão distintos" corno as representações
espasmódicas do balé de Wupperthal, de Pina
Bausch, o ritualismo do Fura deI Bauss, as
intervenções radicais de Min Tanak.a e Sankai
[uku - em per formances butoh - e um espec-
tro mais amplo de emissões e interfer ências que
vão desde os enviroments de Christo e Walter de
Maria." as imagens fi.lrnicas de Peter Greeneway,
as operações parateatra is seletas de Grotowski,
até as imagens "rap"criadas pela MTY, recorte este
con sti tut ivo de uma paisa gem mediát ica
contemporânea."
Por outro lado, a ins taura ção de um toposda
arte da per form ance e suas liminalidades, no
contexto da cena contemporânea , cumpre função
fundamental quer seja a reiteração de um espaço
de atuação e espetacularização da experiência
di st into d a idéia te at ro.f d e polarização e
reverbe ração do legad o da avant-gard? e da arte
da Poícsis.
Zençeist - Joseph Beuys
68
t rabalhos multi -mediáticos.
20 - Wa lter de Maria num
d o s trabalhos mais emble-
m ilt icos da enviroment srt
instala, no Novo México. seu
Lighting field (1971-19nl, corpo
de p ára -raios que cria e
arti fic ial iza um embate com a
natureza. (Descr ito em "A
co ndição do deserto", Marco do
Valle , Oc uiurn, 1993.)
21 - Michel Mafesolli lA
conquis ta do presente , Ed,
Graal , 19 85 ) nomeia uma
paisagem mediat izada criadora
de uma "realidade de contemo"
constit ut iva do imaginário
contemporãneo . Não estou
incl ui n d o no recorte apre-
sentado intervenções de artistas
como M ad o n n a. M ichael
Jackson. e mesmo MickJagger,
que epesar de liminais com a
arte da performance estão mais
c ircunsc r itos ao campo do
msss -medis e das operações de
marketing. Da mesma forma. a
etua ç ào oe po liticos que busca m
o ndi culo Idio ssincrâtico, apesar
de pert o rm áuce. diverge do
fenô m eno performance como
campo Inqui ridor. transgressivo.
22 - Cria-se em torno da
arte da cerformence ou do que
se tem nom eado ho je "t rabalho
m ul t i m id i a· um esp aç o de
re s ist ênc ia . A performance
defin itiv amente escapa da id éia
de teatro. marcado pe la repre-
s ent a ç ê o, pe la organ ização
narrativa ainda aristo tél ica . pe la
suorn isséo à paiavra e pelos do is
tempos cên ico s (personageml
perfo rm er. ficç ão/presentação ).
O que se obs erva na cena teatral
co ntemporânea é uma "reto -
m ada" tnunfal do texto drama-
tú rg i co. d a re cupe ração do
sent ido . do canes ianismo cê-
ni co . Des respei tando -se todo
um percurso da poética ertau-
diana (e sua cena delirante. das
uto pias oa dançe de Bal i) , as
desconst ruçô es de linguagem
de Pound. Becken e outros, do
te atro d as vangua rdas de
M ay ak ov ski , M ey e rh ol d e
A poll ina ire e do s contempo -
rân eo s Kant o r, Bob W ilson .
Foreman. assist imos a um movi-
mento cap itanaado pela Folha
de S. Paulo que segue o reac io -
narismo do The New York Times
- co lo cando como g rande
paradigm a cên ico Angels in
Am erica. trabalho menor de teor
broadw avniano.
23 - No parad o xo p ós -
m o dern ist a. da constante
(re)prooução do nov o , o projeto
das vanguarda s é. hoje, por um
lado am olam ente reassim ilad o
e. por out ro . denegado, e mal
acolhioo (em procedimentos
cri ti ca s qu e " esc o n d em" as
fo ntes oe certas idéias).
6 - Introduzindo palavras
novas. trago um novo conteúdo,
onde tudo começa a deslizar
(deslocar-se) (...).
7 - Na arte podem estar
dissonãncias não resolvidas -
·algo desagradável para o
ouvido"- porque há uma disso-
nãncia em nossa alma.
Este material foi utilizado
na montagem da ópera futurista
Vitória sobre o Sol (Malévitch/
Krutchônikh). apresentado no
Centro Cultural Sâo Paulo .1995,
Grupo Orlando Furioso, direção
Renato Cohen.
25 - Richar Schechner (By
means of performance -
in tercu ltural studies of theatre
andritual, Cambridge University
Press. 1990) nomeia um campo
da performance de atuação
ritual ist ica e curativa abran-
gendo prát icas interculturais de
d iversas fontes - com
med iação do perfo rmer -
como o kathakali , o xarnanismo,
cerimôn ias y aquis. trabalhos
lim inais diversos nutridores da
cena contemporânea . Edward
Edinger (Anatomia da psique.
Cultri x, 1990), citado em "Do
estranho ao numinoso :
processos de criaç áo/atuaç êo".
Renato Cohen (tese de
doutoramento ECAlSPj. fala em
estados de perticip etion
mvsuaue entre o atuante e o
obj eto expressivo .
ubechchtchur
· '0
24 - O projeto dos poetas
Khlébnikove KrutchÔnikh é o da
criação de uma língua encan-
tat ória, não racional. de sintaxes
fônicas. objetivando a paro/e in
liberté futurista; reproduze,a
seguir. pela sua importância e
contemporaneidade. trechos do
manifesto transmental. segundo
sua forma e organização e do
poema divinatório "Di r Sul
Chtchil" (Marjorie Perloff. O
momento futurista: svent-
garde. svent-querre e a
linguagem da rupture, Edusp.
1993).
4 - Pensamento e linqua-
gem não podem alcançar a
experiência emocional de
alguém inspirado; portanto. o
artista é livre para se expressar
não apenas na linguagem
comum (conceitos). mas tam-
bém numa individual (um
criador é individual). assim como
numa linguagem que não tem
um significado definido (não
congelado). que é trsnsrscionst,
Uma linguagem comum é
amarrada; uma linguagem livre
permite uma expressão mais
completa (...).
5- As palavras morrem,
o mundo penmanece jovem para
sempre. Um art ista vé o mundo
de uma nova maneira e, como
Adâo, ele dá os seus próprios
nomes a tudo. Um Iirio é belo,
mas a palavra Iirio está mano
chada por dedos e saqueada.
Por essa razão . chamo um Iirio
eui, a pureza original é resta-
belecida (...l .
3 - É melhor trocar por
uma palavra semelhante em
som do que por uma semelhan-
te em idéia (...).
2 • A nova forma verbal
cria um novo conteúdo e náo vi·
co-verse.
PERFORMÁncos . PERFORMANCE E SOCIEDADE
Resgata-se nessa via o braço heróico da arte,
das transposições não mim éticas da realidade,
da busca de outras aproximações com a ordem
fenomenal, da exacerbação das situações
paradoxais e superação da vivência ordinária.
São axiomáticos, e ainda hoje contempo-
râneos, percursos como a construção de um
vocabulário mágico, transmental futurista
(zaum),24 a tentativa desesperada de Malévitch
de superação do objeto de representação e busca
da emoção pura (suprematismo), a criação da
super-realidade de Bréton, realidade esta
transfiguradora onde se equiparam o onirismo,
o maravilhamento, o mistério, a superstição -
potências do imaginário - recôndito do espírito
- ao ordinário cotidiano.
Essa recusa ao ordinarismo prossegue, em
décadas subseqüentes, em obras como a
(des)sintaxe mallarmeana, a engenharia
conceitual de Duchamp (construindo seu
"castelo da pureza", nas palavras de Otávio Paz),
na Ocurrence art de [ohn Cage, no ritualismo da
Body ari, nas manifestações viscerais, lúdicas,
iluministas do happening e da performance e,
contemporaneamente, na cena virtual, mini-
malista, numinosa, trabalhos estes vivificadores
e materializadores do informe. do esgar
epifânico, contrapartes ao transitório fugidio
poetizado por Baudelaire.
2 • LIIIGUAGE" • SUPORYE • A"uAllu:
O DEYlR PERFOIUtÁ'I'IC.
A construção da performance está apoiada
numa tríade: linguagem (texto, narrativa),
suporte (mídia) e atuação. Dessas inter-relações
se apontam caminhos onde se delineia, de um
lado, uma revolução de suportes e linguagens
(am plificad oras do potencial sensível e
mobilizador dos novos mídia ) e, de outro um a
extensão da função do performer que passa de
artista-conceituador-interventor à dimensão de
ritualizador, xamanista, catalisador de experi-
ências e situaçôes exponenciais ."
Dentro do leque de intervenções e
manifestações da arte-performance que abrange
desde trabalhos de presença, em real time , no
contato direto com o prato fenômeno (na
dir
vi
bul
skum
so
chtchil
bu
êz
..
C> •
26 - Charles Peirce (Con-
ferência li, parágrafo I, Obras
completas, s.r.d .) acentua a
importância da experiência da
primeiridade: "Temos que abrir
os olhos do espírito e olhar bem
os fenômenos".
27 - A mediação consiste
no uso do "medium" e aparatos
tecno lógicos - vozes em of{. o
vocoder de Laurie Anderson,
uso de projeçóes e simul-
taneidades, criando interfe-
rências e discursos paralelos
entre o performer e o especta -
dor, descaracterizando o aqui-
agora da cena convencional. A
disjunção (mecanismo recor-
rente da cena trash contem-
porânea) corresponde à sepa -
ração, ao não junto, ao não
simultâneo, a um "delay cênico".
Flora Sussekind ( "A imaginação
monológica", Revista da USP.
julho 1992) comentando a cena
de Gerald Thomas e Bia Lessa
fala em "corpos sem vozes" .
"vozes sem corpos".
28 - Citado por Arlindo
Machado, Revista Epiphanéia .
Milão, s.r.d.
RENATO C OHEN
experiência da primeiridade" sem metalingua-
gem excessiva), numa trajetória onde se incluem
trabalhos de Gina Pane, transgressões Andy
Warholianas, as ações diretas de Beuys, o
gestualismo improvisado de Butoh, até as
elaboradas construções sígnicas que implicam
mediação, disjunção," deslocamento, observa-
mos um redirecionamento dos trabalhos no
contexto comunicacional contemporâneo.
Pierre Levy" aponta transições entre a época
da oralidade (apoiada em memória, narrativa),
da palavra impressa (desencadeando interpreta-
ção, análise) ao uso contemporâneo de compu-
tação e redes (implicando operação, simulação,
interferência) .
O eixo investigativo da performance que
partiu de suportes que tinham o corp o como
entorno e significação (body art, happening), para
explorações do matérico e dá coUage de objetos
(os Merz Blau dadaístas, o trabalho com
env iroment s e instal ações) se desloca par a
experimentações qu e incluem o uso de outros
entornes," a desmaterialização do objeto." a
cr iação da cen a vi rtu ali zad a (combinand o
imagem, presença, fugacidade) e trabalhos com
suportes e míd ias di versas , qu e inclu em a
telemática , a arte-satélite, os siste mas 3d, a
halografia e o uso de rede s comunicacionais
(Intern et).
A pesquisa de supor tes e mídia direciona-se
para trabalhos de interatividade" - prom ovendo
relações mais abruptas entre o objeto expressivo
(performance, videoperformance, cen a multi-
mídia) e o receptor que se torna um (re)cons-
truto r ativo das na rrati vas, de simulação
(virtu aliza çâo)," e de experiências d e super-
posição e sincronia do objeto expressivo possibili-
tando ações em tempos/espaços distintos e
interações entre protagonizações ao vivo e
respostas previamente editadas.
Por último, podemos observar que o avanço
vertiginoso da tecnologia e a velocidade dos
novos mídia adensa os paroxismos da arte no
contraponto entre corporeidade e fugacidade,
presença e efemeridade, me tafor izando, em
câmera rápida, o próprio ciclo da vida marcado
pela irnperrnanêncía.
70
29 - Por exemplo em
trabalho s que têm a cidade
como medium (ver Ane cidade 1-
11 -111 . São Paul o. cu rad o ria
Nelson Brissac Peixoto) .
30 - Tema da Bienal de São
Paulo - 1996. curadoria Nelson
Aguillar. buscando extrapolaçóes
de forma e de continente. O
tr abalho da perf ormance .
conceitual desde a sua gênese .
das partituras sem música de
Cag e, do não mo vimento de
Merce Cunn inghan, da irnobili-
dade da performance de Beuys
(Talking with a dead hare) teve
sem pre essa meta.
31 - Os man ifestos Fluxus
e os trabalh o s divers o s do
h ap p enin 9 / pe rf o r m a n c e
sempre ti veram a dim ensão
inte rativ a, sup rimindo. mu itas
ve zes. a relaç ão esoe cta oor/
atuante.
32 - Podem os falar em
níveis de v irtual izsç ào: a própria
exp ressão pertcrrnat ica. f is ica-
lizada num rernoo.es paço dis -
tint o do cotidiano. e uma expe-
riência de v irt u ali zaç áo .

Outros materiais