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AS FASES DE CONSTRUÇÃO DA SOCIOLOGIA

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1 
 
AS FASES DE CONSTRUÇÃO DA SOCIOLOGIA: 
DOS FILÓSOFOS SOCIAIS AOS SOCIÓLOGOS CLASSICOS 
 
 
 
 Dequex Araújo Silva Junior* 
 
 
Introdução 
 
Ao longo de pouco mais de um século, a Sociologia vem acumulando teorias e 
métodos que visam compreender a sociedade em sua totalidade e as interações sociais nos 
mais diversos espaços e grupos sociais. Sociologia, como ciência autônoma e específica, 
inicia a sua faze de observação sistemática dos fenômenos sociais particulares, objetivando 
formular generalizações sobre a vida social, a partir de meados do século XIX com a 
definição do objeto e a construção do método. 
Este artigo visa fazer uma síntese, a partir de algumas obras de renomados sociólogos 
contemporâneos como Anthony Giddens, Raymond Aron, T. B. Bottomore, Michel Lallement 
e outros, das fases do desenvolvimento da Sociologia entre os séculos XVIII e XIX. O 
objetivo é trazer à baia as concepções filosóficas de Montesquieu e Comte sobre os 
fenômenos sociais, bem como as construções teórico-metodológicas da Sociologia de Émile 
Durkheim e Max Weber, pais fundadores da ciência da sociedade. 
O artigo está divido em três partes: a primeira parte trata dos fatores históricos que 
impulsionaram a construção do pensamento sociológico; a segunda trata dos antecedentes 
filosóficos que lançaram as proposições para o surgimento da Sociologia; a terceira parte trata 
das teorias sociológicas fundadas por Émile Durkheim e Max Weber, considerados pais 
fundadores da Sociologia. 
 
 
 
 
*
 Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia. Professor de Gestão e Política de Segurança 
Pública, e Policia e Sociedade do Mestrado Profissional em Segurança Pública, Justiça e Cidadania da 
Universidade Federal da Bahia; professor de Filosofia, Filosofia Jurídica, Sociologia, Sociologia Jurídica, Ética e 
Estudos Sociais e Culturais da Faculdade Dom Pedro II. Pesquisador CNPq. 
2 
 
Fatores Históricos 
 
A Sociologia nasce no século XIX com a passagem da sociedade medieval à sociedade 
moderna, ou seja, da ordem socioeconômica feudal à ordem socioeconômica capitalista. A 
Revolução Industrial, iniciada a partir da segunda metade do século XVIII, é o marco dessa 
nova ordem socioeconômica, pois com o surgimento das fábricas houve, conforme 
Quintaneiro (2009), o aparecimento do proletariado e de uma nova forma de trabalho baseado 
no salário e em turnos diários de 12 a 16 horas. Este novo modelo acarretou modificações 
estruturais nas diversas instituições (família, moral, religião, jurídica etc.). A Revolução 
Industrial também provocou o processo de urbanização, ou seja, o êxodo rural. Com isso, 
destaca Quintaneiro, as “cidades, receptoras desses fluxos contínuos, foram crescendo 
acelerada e desordenadamente”. Elas além de receberem “pequenos produtores locais e 
mercadores estrangeiros”, recepcionavam “uma população de mendigos, desocupados, 
ladrões, saltimbancos, piratas de rios e cais, traficantes e aventureiros em busca de todo tipo 
de oportunidade”; além de acenar para uma série de possibilidades de ganhos, ocupação, 
proteção e liberdades, a cidade também criou um ambiente urbano desfavorável para os 
membros mais frágeis da sociedade (os excluídos do novo sistema socioeconômico) com “a 
pobreza, o alcoolismos, os nascimentos ilegítimos, a violência e a promiscuidade [...]”. 
Assim, 
Aglomeração, conjugada a outros fatores com as condições sanitárias, tinha 
outras consequências deletérias sobre a população urbana, especialmente 
sobre os mais miseráveis. A fome, a falta de esgotos e de água corrente nas 
casas, o lixo acumulado e as precárias regras de higiene contribuíram para a 
proliferação de doenças e a intensificação de epidemias que elevavam as 
taxas de mortalidade da população em geral, e dos pobres, das crianças e 
parturientes em particular (2009, p. 10). 
A Sociologia surge também dentro de um contexto impactado pela Revolução 
Francesa que cria uma nova ordem sociopolítica. As ideias liberais proporcionadas pelos 
iluministas criaram uma nova atmosfera política, onde a liberdade, a propriedade e a 
igualdade tornam-se valores absolutos. Como expressa Sell, a Revolução Francesa foi um 
acontecimento histórico de grande importância, pois significou “a queda da monarquia e a 
instauração do sufrágio eleitoral democrático, os direitos do homem e as noções de liberdade, 
igualdade e fraternidade [...]” (2010, p. 16). 
Destaca-se um terceiro fator histórico importante que foi o movimento Iluminista ou a 
chamada Revolução Cultural. Esse movimento, de cunho intelectual, buscava, conforme Sell, 
“entender e organizar a sociedade a partir da razão” (2010, p. 16). Para os iluministas, diz 
Quintaneiro, com o uso da razão “os seres humanos podiam melhorar sua condição”, a partir 
da adoção “de conhecimentos científicos e práticos” (2009, p. 15). Este movimento que fez 
florescer o conhecimento científico e a preponderância da razão sobre a fé resgatou o 
antropocentrismo em substituição ao teocentrismo. Com isso, como diz Aron (1999, p.8), “A 
sociologia do século XIX marca incontestavelmente um momento da reflexão dos homens 
3 
 
sobre si mesmo, momento em que o social enquanto tal é tematizado [...]”. A sociologia 
também expressa, segundo o autor, 
[...] uma intenção [...] de conhecimento propriamente científico, segundo o 
modelo das ciências da natureza, e com igual objetividade: o conhecimento 
científico deveria dar aos homens o controle sobre a sua sociedade e sua 
história, assim como a física e a química lhes deram o controle das forças 
naturais. 
Em síntese, observa-se que a Sociologia nasceu dentro de um contexto de grande 
ebulição, pois se deu dentro da passagem de uma ordem social a outra bem distinta e 
denominada de moderna. Os três fatores históricos – Revolução Industrial, Revolução 
Francesa e Revolução Cultural (Iluminismo) – criaram, respectivamente, a ordem 
socioeconômica, sociopolítica e sociocultural moderna, burguesa e capitalista. Entretanto, a 
passagem de uma ordem à outra, ou seja, a passagem da ordem medieval à ordem moderna foi 
marcada por intensos conflitos e contradições por conta do surgimento de novos fenômenos 
sociais. Estes, por sua vez, necessitaram de uma ciência que pudesse interpretá-los com o 
rigor metodológico tal qual exigido pelas ciências naturais (Biologia, Física, Química), bem 
como legitimasse a própria ordem burguesa nascente com as três revoluções. Esta ciência foi 
a Sociologia. 
 
Os Antecedentes Filosóficos da Sociologia 
 
Os antecedentes intelectuais da Sociologia foram, segundo Bottomore (1967), a 
Filosofia Política, a Filosofia da História, as teorias biológicas da evolução e os movimentos 
para a reforma social e política. A Filosofia da História exerceu uma importante influência 
intelectual à sociologia, pois lhe deu alguns conceitos chaves como o de desenvolvimento, 
progresso, período histórico e tipos sociais. Foi a partir da Filosofia da História que se passou 
a discutir a natureza da sociedade, população, propriedade, governo, costumes, moralidade, 
direito, tratando a sociedade como um sistema de instituições correlatas. Desta forma, diz o 
autor, “a pré-história da Sociologia pode ser localizada num período de cerca de cem anos, 
mais ou menos entre 1750 e 1850”, ou melhor, “da publicação do Esprit des Lois, de 
Montesquieu, até o trabalho de Comte e os primeiros escritos de Spencer” (1967, p. 17). 
Montesquieu (1689-1755), em sua obra O Espírito das Leis, buscou identificar, 
segundo Aron, as causas explicativas dos acontecimentos vistos como aparentemente 
acidentais. Ou seja, Montesquieu buscou tornar inteligível o devenir através da apreensão das 
“causas profundas que determinam o andamento geral dos acontecimentos”.Ademais, buscou 
organizar de forma inteligível a diversidade “dentro de um pequeno número de tipos ou de 
conceitos” (1999, p. 19). 
O estudo de Montesquieu, de caráter sociológico, se inicia, diz Aron (1999), com uma 
análise da influencia geográfica (clima e solo) sobre o comportamento dos homens, 
4 
 
afirmando, por exemplo, que em países frios os homens têm menos sensibilidades para os 
prazeres do que em países temperados, onde há uma maior sensibilidade. Com isso, ele 
estabelece uma relação causal entre os fenômenos físicos e psicossociais. 
Montesquieu também faz referencia às causas sociais. A economia, por exemplo, 
conforme Aron, é ao mesmo tempo, regime de propriedade, comercio e moeda. A economia 
estabelece relações essenciais entre os homens dentro das coletividades ou entre 
coletividades. O estudo da população também foi alvo do filósofo francês, onde observou que 
a população reduzida ameaçava a sociedade como também o elevado povoamento além dos 
recursos disponíveis. 
Entretanto, o aspecto mais importante da análise de caráter sociológico de 
Montesquieu, segundo Aron, é “o conceito do espírito geral de uma nação” que corresponde a 
“um certo estilo de vida e de relações em comum, que é menos uma causa do que um efeito – 
resultado do conjunto das influências físicas e morais que, através do tempo, modelaram a 
coletividade”. Ou seja, “O espirito geral de uma nação é a maneira de ser, de agir, de pensar e 
de sentir de uma coletividade [...]” (1999, p. 39). 
Montesquieu em sua obra também faz uma análise das noções de lei que ele divide em 
duas: Há leis prescritas pelo legislador que são denominadas de lei-preceitos ou lei positivas 
que diferem dos costumes e dos hábitos pois estes não são codificadas e nem são elaboradas 
por uma autoridade, bem como as sanções não são do mesmo tipo. O outro tipo são as leis 
causais que estabelecem uma relação de causalidade entre causa e efeito: por exemplo, “se 
afirmamos que a escravidão é uma consequência necessária de um determinado clima, temos 
a lei causal que estabelece uma relação constante entre um meio geográfico de um tipo 
determinado e uma instituição particular, a escravidão” (1999, p. 41). 
O filosofo francês, em sua análise sócio-histórica, ao estabelecer uma articulação entre 
as leis positivas e as leis causais demonstra, conforme Lallement, que aquelas sofrem 
variações, pois “são em geral próprias das sociedades que as promulgaram”, onde “as leis 
positivas dependem, com efeito, de certos fatores determinantes: a forma de governo, a 
liberdade política, o clima, a natureza do terreno, os costumes, o comércio, as revoluções, a 
moeda, a demografia, a religião e a ordem das coisas sobre as quais estabelecem as leis (2003, 
p. 55). 
Outro filósofo francês precursor da sociologia foi Auguste Comte (1798-1857). 
Diferente de Montesquieu cujo pensamento sociológico enfatizava, conforme Aron (1999), a 
diversidade humana e social, bem como à concepção de que a ciência buscava por ordem num 
caos aparente, Comte desenvolveu a sua concepção sociológica a partir da ideia de unidade 
histórica da humanidade e social, onde toda a humanidade deveria chegar a um tipo de 
sociedade universalmente validade. Para Comte, a sociedade teológica e militar, que 
caracterizou a sociedade medieval, está sendo substituída pela sociedade científica e 
industrial. 
Comte, além de ter dado o nome à nova ciência social, é também o pai do positivismo 
que nega a metafísica e estabelece uma relação metodológica entre as ciências naturais e 
5 
 
sociais. O positivismo comtiano, conforme Giddens, “preservou o tema do progresso, mas 
questionou o radicalismo a que estava associada na filosofia iluminista. O ‘progresso’ e a 
‘ordem’ eram mais do que conciliáveis: um termo se tornava dependente do outro” (1998, p. 
172). Ou seja, o pensamento positivo substitui a filosofia negativa iluminista de destruição do 
passado para construir uma nova ordem. 
A ideia de progresso estabelecida por Comte está associada à sua teoria da lei dos três 
estados que indica, conforme Aron (1999), as três etapas em que o espirito humano passou 
(teológico, metafísico e positivo ou científico): 
Na primeira, o espirito humano explica os fenômenos atribuindo-os a seres, 
ou forças, comparáveis ao próprio homem. Na segunda, invoca entidades 
abstratas, como a natureza. Na terceira, o homem se limita a observar os 
fenômenos e a fixar relações regulares que podem existir entre eles, seja num 
momento dado, seja no curso do tempo; renuncia a descobrir as causas dos 
fatos e se contenta em estabelecer as leis que os governam (1999, p. 67). 
A lei dos três estados de Comte reflete a classificação hierárquica das ciências, onde a 
maneira de pensar positiva se iniciou, conforme Aron (1999), com a Matemática e se 
desenvolveu posteriormente com a Astronomia, Física, Química e Biologia. Esta última 
ciência, na filosofia positivista comtiana, é vistas como ciência sintética em comparação as 
demais que são concebidas como ciências analíticas. Estas buscam explicar e extrair leis entre 
fenômenos isolados, enquanto aquela estuda os fenômenos em sua totalidade, ou seja, busca 
compreender as partes a partir do todo. É a parir desta diferenciação que Comte cria a 
Sociologia e a coloca no mesmo patamar teórico-metodológico da Biologia, onde aquela deve 
estudar a sociedade ou a história da espécie humana de forma sintética assim como esta estuda 
o corpo humano. 
A Sociologia adotou os conceitos da Biologia (estrutura, função, órgão etc.), conceitos 
estes, segundo Giddens, “que estavam relacionados com as propriedades de totalidade 
complexas, mais do que com agregações de elementos tal como as ciências inferiores” (1998, 
p. 175). Ademais, a nova ciência tinha como sustentáculo metodológico: a observação, 
experimentação e comparação. Observa-se, como bem sintetiza Aron, 
A nova ciência social proposta por Auguste Comte é o estudo das leis do 
desenvolvimento histórico. Ela se fundamenta na observação e na 
comparação, portanto em métodos análogos aos empregados por outras 
ciências, notadamente na biologia (1999, p. 87). 
Uma outra contribuição comtiana importante para o desenvolvimento teórico-
metodológico da nova ciência social e que será seguido por um dos pais fundadores da 
Sociologia como ciência autônoma e específica, Émile Durkheim, é a divisão positivista: 
estática e dinâmica. A estática compreende o estudo da estrutura social, ou seja, dos 
elementos que permitem a estabilidade social, as relações duradouras entre indivíduos, os 
laços sociais. A estática, conforme Aron, “é o estudo do consenso”, que permite compreender 
“quais são os órgãos essências de toda sociedade”, bem como “descobrir os princípios que 
regem toda a ordem social”. Desta forma, 
6 
 
[...] a estática social, que começa como uma simples análise positiva da 
anatomia das diversas sociedades e os laços de solidariedade recíproca entre 
as instituições de uma coletividade particular, leva [...] ao estudo da ordem 
essencial de toda coletividade humana (1999, p. 87). 
A dinâmica, de forma contrária, busca estudar as etapas sucessivas e necessárias 
percorridas pelas sociedades. A dinâmica social dentro da filosofia positivista comtiana, 
segundo Aron, está subordinada à estática, pois é a partir da ordem ou da estática social que se 
pode compreender a história da humanidade e das sociedades. A estática corresponde à ordem 
e a dinâmica ao progresso, onde este é o desenvolvimento daquele. 
Esta breve exposição das concepções filosóficas de Montesquieu e Comte demonstra 
como se processou o início do itinerário da construção do pensamento sociológico e que vai 
alcançar o seu ápice como ciência autônoma e específica com Émile Durkheim e Max Weber 
no século XIX, respectivamente na França e na Alemanha. 
 
A Sociologiacomo ciência autônoma e específica 
 
O período de formação da Sociologia como ciência específica ocorre na segunda 
metade do século XIX, onde adquiriu nos seus primórdios, segundo Bottomore, três 
características: “Em primeiro lugar, era enciclopédica”, pois “ocupava-se da totalidade da 
vida social do homem e da totalidade da história”. Em segundo, era evolucionista, pois, sob a 
influência da Filosofia da História e das teorias da evolução, buscava “identificar as principais 
fases da evolução social”. Por fim, era uma ciência positiva, pois, buscava adotar os métodos 
das ciências naturais, em especial à Biologia. Assim, a Sociologia em seus primórdios 
preocupava-se “com a evolução social, e com a concepção, amplamente aceita, da sociedade 
como organismo” (1967, p. 17-18). 
Émile Durkheim (1858-1917) dá continuidade ao projeto comtiano de transformar a 
Sociologia em uma ciência autônoma e específica. Durkheim foi influenciado por Comte e 
pelo filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903). Para Turner, na esteira de Spencer, 
“Durkheim (1895) defendeu a pesquisa por leis sociológicas”, mas, adotou, de forma 
contrária, “a posição comtiana de que o conhecimento sociológico poderia ser usado para 
construir uma sociedade melhor”; seguindo Spencer, enfatizou que “a questão central da 
sociologia era propor explicações para a integração da sociedade quando esta se torna maior e 
mais complexa”, mas, de forma contrária, “manteve-se fiel à herança francesa e enfatizou a 
importância das ideias comuns como força unificadora [consciência coletiva]”; adotou, 
seguindo o filósofo inglês, “uma postura funcionalista, argumentando que as explicações 
sociológicas devem procurar descobrir como um elemento do mundo social cumpre uma 
necessidade da sociedade”, mas, deferentemente de Spencer, Durkheim “enfatizou apenas 
uma necessidade – a necessidade de integrar os membros da sociedade num todo coerente” 
(1999, p. 7). 
7 
 
Para Giddens (1999), Durkheim não adotou a hierarquia das ciências comtiana, mas 
endossou a autonomia da Sociologia como um campo de conhecimento distinto. Endossou 
também a concepção comtiana de estabelecer uma analogia entre os fenômenos sociais e os 
fenômenos naturais, tratando os fatos sociais como coisas. Durkheim desenvolveu o seu 
método funcionalista a partir de Spencer e adotou separadamente a explicação funcional da 
estática social e a explicação histórica da dinâmica social de Comte. 
Diferentemente dos seus antecessores (Montesquieu, Comte e Spencer), Durkheim 
desenvolveu um método específico para a Sociologia e nessa busca pelo método próprio ele 
definiu o objeto dessa ciência social. A sociologia tem como objeto de estudo os fatos sociais. 
Segundo Aron, 
A concepção da sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato 
social. Seu objetivo é demonstrar que pode e deve existir uma sociologia 
objetiva e científica, conforme o modelo de outras ciências, tendo por objeto 
o fato social (1999, p. 325). 
A partir dessa definição do objeto, observa-se, conforme Aron, na construção 
metodológica de Durkheim duas coisas: 
[...] que seu objeto seja específico, distinguindo-se do objeto das outras 
ciências, e que possa ser observado e explicado de modo semelhante ao que 
acontece com os fatos observados e explicados pelas ciências (1999, p. 325). 
Com o estabelecimento do objeto próprio à Sociologia, Durkheim define o fato social 
como “toda maneira de fazer, suscetível de exercer uma coerção externa sobre o indivíduo” 
(apud ARON, 1999, p. 327) Esta definição estabeleceu duas proposições que, segundo Aron, 
“servem de fundamento para a metodologia de Durkheim: observar os fatos sociais como 
coisas e reconhecê-los pela coerção que exercem sobre os indivíduos”, onde se considera 
como coisa “toda a realidade observável do exterior, e cuja natureza não conhecemos 
imediatamente” (1999, p. 327) e como coerção “apenas como a aparência externa que permite 
reconhece-los [os fatos sociais]” (1999, p. 328). 
Ainda a partir da especificidade do objeto, Durkheim define a Sociologia, ressalta 
Quintaneiro, como “ciência ‘das instituições, da sua gênese e do seu funcionamento’, ou seja, 
de ‘toda crença, todo comportamento instituído pela coletividade” (2009, p. 68). Isto é, a 
Sociologia, ao estudar os fatos sociais que constituem uma sociedade, estuda as maneiras de 
agir e de ser dos grupos sociais, as representações coletivas, os valores e todos os fenômenos 
que estruturam a vida social. A Sociologia foca-se ao estudar, por exemplo: as maneiras de 
agir, nas correntes sociais, nos movimentos coletivos e nas opiniões coletivas; as maneiras de 
ser, nas regras jurídicas e morais, nos dogmas religiosos, nos vestimentos e nas formas de 
comunicação de um povo; as representações sócias, nas maneiras como a sociedade se vê e 
como vê o mundo circundante, “suas lendas, mitos, concepções religiosas, ideias de bondade 
ou beleza, crenças morais etc.” (2009, p. 70-71). 
Durkheim estabelece duas formas de explicação para a análise dos fatos sociais, a 
saber: a explicação causal e a explicação funcional. A partir da explicação causal, ele diz que 
se deve buscar a explicação de um fenômeno social por meio da sua causa eficiente, 
8 
 
identificando o fenômeno antecedente. A explicação causal, como alerta Sell, “consiste em 
remontar às origens dos fatos sociais, buscando entender como eles surgiram e de formaram” 
(2010, p.86). Para a explicação causal deve-se adotar, como ressaltam Aron (1999) e 
Lallement (2003), o método das variações concomitantes que se apresenta como prova de 
explicação causal entre dois fenômenos, ou seja, da comparação das variações respectivas das 
variáveis estudadas, explicando os fatos sociais por meio dos fatos sociais precedentes. Com 
isso, verifica-se que a causa do fenômeno social deve ser procurada no próprio meio social. 
Para Aron, a explicação dos fatos sociais através do meio social “se opõe à explicação 
histórica segundo a qual a causa de fenômeno deveria ser procurada no passado, isto é, no 
estado anterior da sociedade”, pois para Durkheim “a explicação histórica não é uma 
verdadeira explicação científica” (1999, p. 331-332). Assim, conclui Aron, 
[...] a causalidade eficiente do meio social representa, para Durkheim, a 
condição da existência da sociologia científica. Esta consiste em estudar os 
fatos do exterior, em definir rigorosamente conceitos graças aos quais é 
possível isolar categorias de fenômenos, classificar as sociedades em 
gêneros e espécies e, por fim, dentro de uma dada sociedade, explicar um 
fato particular pelos meio social (1999, p. 332). 
O suicídio é tomando como exemplo por Durkheim de explicação causal mostrando-
nos que tal fenômeno aparentemente individua resulta de fatores sociais que ele denominou de 
“correntes suicidogêneas” que estimulam os indivíduos a buscarem a própria morte. 
Recorrendo à estatista, Durkheim analisou esse fenômeno em vários países da Europa. Antes 
de analisar propriamente os fatores causais do suicídio, Durkheim definiu objetivamente esse 
fato social como “todo caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo 
ou negativo praticado pela própria vítima” (apud QUINTANEIRO, 2009, p. 83). Depois da 
definição, passou, conforme Quintaneiro, “a considerá-lo como fenômeno coletivo, tomando 
como dados relativos às sociedades onde ocorrem para encontrar regularidades e construir 
uma taxa específica para cada uma delas” (2009, p. 83). Depois destes dois atos, Durkheim 
estabeleceu uma tipologia dos suicidas, indicando que cada “grupo social tem uma disposição 
coletiva para o suicídio, e desta derivam as inclinações individuais” (2009, p. 83). 
Durkheim classificou os suicídios de: egoísta, altruísta e anômico. O suicídio egoísta é 
causado pela desintegração social que gera, por exemplo, depressão, melancolia, sensaçãode 
desamparo moral; o altruísta, de forma inversa, tem como causa o elevado nível de integração 
social e, por conseguinte, pela pressão social das instituições (família, religião, moral, etc.), 
onde em determinadas sociedades as viúvas se suicidam quando da morte do marido, 
suicídios de servidores após o falecimento do seu chefe, ou seja, ressalta Quintaneiro, o 
“suicídio é visto então como um dever que, se não for cumprido, é punido pela desonra, perda 
da estima pública ou por castigos religiosos” (2009, p. 85); por fim, o suicídio anômico tem 
como causa o desregramento social devido à ausência ou perda do respeito às normas, 
deixando a sociedade não só de estar presente na vida dos indivíduos, mas também regulando 
suas paixões individuais. 
Após identificar a causa eficiente, deve-se então buscar, através da explicação 
funcional, a função do fenômeno social e sua utilidade para a sociedade. Essa explicação 
9 
 
segue a abordagem funcionalista que critica, conforme Bottomore, “os métodos e pretensões 
dos evolucionistas”, critica os usos, “ingênuo e superficiais, do método comparativo, e dos 
métodos de ‘história conjetural’ que empregavam dados não-verificados e não-sistemáticos 
sobre sociedade primitivas contemporâneas para reconstruir os primeiros estágios da vida 
social humana”, por fim, critica a “intenção, ou a pretensão, dos evolucionais, de dar uma 
explicação científica de toda a história social da humanidade” (1967, p. 55). Tomando como 
referencia a noção de função social formulada por Herbert Spencer, que estabelece uma 
analogia entre sociedade e um organismo, Durkheim, conforme o autor, “definiu a função de 
uma instituição social como a correspondência entre ela a as necessidades do organismo 
social” (1967, p. 56), bem como mostrou “que em cada sociedade, as diferentes atividades 
sociais estão interligadas” (1967, p. 57). 
Em Da divisão do trabalho social, Durkheim desenvolveu uma explicação funcional 
da pena, onde antes, seguindo o seu método, a definiu como uma “reação passional, de 
intensidade graduada, que a sociedade exerce por intermédio de um corpo constituído contra 
aqueles de seus membros que violam certas regras de conduta” (1999, p. 68). Dentro da 
explicação causal, a pena deriva da reação da consciência coletiva à infração, ou nas palavras 
do autor: “é bem a natureza dos sentimentos coletivos que explica a pena e, por conseguinte, o 
crime” (1999, p. 77). Depois de definir e explicar a causa da pena, ele passa a explicá-la 
funcionalmente e diz que a função da pena é “manter intacta a coesão social, mantendo toda a 
vitalidade da consciência comum” (1999, p. 81). Assim, a pena tem a função útil de proteger a 
sociedade através da expiação. 
A contribuição da teoria sociológica de Durkheim é ainda de grande valia para o 
desenvolvimento das pesquisas sociológicas atuais. A partir de Durkheim, as pesquisas 
sociológicas reconheceram, conforme Turner, a importância dos sistemas de símbolos 
culturais (valores, crenças, dogmas religiosos, ideologias, etc.) como “base importante para a 
integração da sociedade” (1999, p. 7). O seu método funcionalista, apesar de seu otimismo em 
ver “as sociedades como demasiadamente integradas e organizadas”, ainda sim, permite “ver 
o universo social, ou qualquer parte dele, como um todo sistêmico cujos elementos 
constitutivos funcionam em conjunto”; isto é, “o funcionamento de cada elemento tem 
consequências sobre o funcionamento do todo” (1999, p. 21). Outra importante contribuição à 
Sociologia é a aplicação do método comparativo, iniciado pelos evolucionistas, mas que foi 
adotado por Durkheim para estudar as relações causais entre dois fenômenos. Para Bottomore, 
“as comparações sistemáticas são esclarecedoras, na medida em que mostram a associação 
frequente de certos fenômenos entre si, ou sua ocorrência frequente numa ordem de sucessão 
regular” (1967, p. 52). 
O outro expoente fundador da Sociologia como ciência autônoma e específica foi o 
alemão Max Weber (1864-1920). Diferentemente do evolucionismo de Comte e Spencer, bem 
como do funcionalismo de Durkheim, Weber questionava, conforme Turner, “quaisquer 
alegações de que a sociologia poderia ser como as ciências naturais e formular ‘leis’ 
universais e eternas da organização social humana”. Para Weber, o “objetivo da sociologia é 
descrever e entender como e por que nascem as regras da organização social e como elas 
funcionam [...]”. Ademais, a Sociologia para Weber deve “sempre buscar entender os 
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fenômenos ‘no nível do significado’ dos atores sociais”, sem desconsiderar o exame do 
“contexto cultural criado quando os atores interagem”, ou seja, “seu sistema de valores e 
crenças”. Assim, a Sociologia weberiana, busca compreender, “de um lado, as experiências 
dos atores e, de outro, os sistemas culturais e sociais nos quais os atores estão em inseridos” 
(1999, p. 10). 
Weber se distingue dos seus antecessores (Comte, Durkheim, Marx etc.), conforme 
Lallement, “pela sua constante recusa a integrar os fenômenos sociais no quadro de filosofias 
teleológicas ou deterministas”, onde tais filosofias têm como características “encarar a 
história universal, ou como o desdobramento de uma logica própria ou como simples 
resultante de um elemento determinante (economia, religião...)” (2003, p. 258). Weber está 
incluído na tradição da corrente histórica alemã que se afasta das filosofias abstratas, mas não 
desconsidera a importância de uma formalização abstrata para compreender melhor o mundo 
social como, por exemplo, fará com o seu instrumento conceitual chamado por ele de tipo 
ideal para analisar as ações sociais. Weber entende que, 
Para analisar as ações sociais, o sociólogo pode criar categorias, quadros 
mentais que não são representações exatas do mundo mas que, para as 
necessidades da pesquisa, acentuam deliberadamente certos traços. O tipo 
ideal não reflete o real mas facilita a análise dos seus componentes. Essa 
imagem mental é um meio de elaborar hipóteses, de tornar a linguagem mais 
clara. É um instrumento de pesquisa puramente lógico, não um fim em si 
(LALLEMENT, 2003, p. 270-271). 
Weber foi fortemente influenciado pelo filósofo Wilhelm Dilthey. Este filósofo 
alemão se opunha ao positivismo entendendo, conforme Sell, “que a diferença entre as 
ciências do espírito e as ciências da natureza residia no fato de que os seus objetos de estudo 
são distintos”: se “as ciências naturais têm como objeto a natureza, as ciências sociais 
estudam a experiência vivida (Erlebnis) e o mundo social como criação do espírito humana”. 
Para cada uma dessas ciências há uma forma distinta de estabelecer uma relação sujeito e 
objeto: “Enquanto nas ciências da natureza o objeto de estudo é algo exterior ao homem, nas 
ciências sociais o homem é o sujeito e o objeto ao mesmo tempo” (2010, p 108). Assim, para 
Dilthey: “as ciências naturais fazem uso do princípio da ‘explicação’ (Erklären)” e “as 
ciências sociais se articulam em torno do princípio da ‘compreensão’ (Verstehen)”. Se nas 
ciências naturais “a explicação consiste na busca das leis causais”, nas ciências sociais “a 
compreensão implica em um mergulho no espírito dos agentes históricos em busca do sentido 
de sua ação” (2010, p 108-109). 
Weber, apesar de se alinhar à filosofia hermenêutica e historicista de Dilthey, 
aceitando, conforme Sell, “o postulado de que as ciências sociais são essencialmente 
hermenêuticas e marcadas pela relação com as ideias de valor” (2010, p. 109), entendia que 
não poderia ser descartado das ciências sociais “a ideia de causalidade e os procedimentos 
explicativos (métodos generalizantes), que são centrais nas ciências naturais”, pois “também 
são um recurso essencial para o entendimento dos fenômenos sociais”. Ou seja, para “Weber, 
o sociólogo deve saber integrar estes dois métodos (individualizante/compreensivo e 
generalizante/explicativo)nas suas pesquisas”. Por meio do “método individualizante, o 
cientista social seleciona os dados da realidade que deseja pesquisar, destacando a 
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singularidade e os traços que definem seu objeto”, ou seja, “os caracteres qualitativos e 
singulares da realidade”. O método generalizante, a partir do princípio da causalidade, “busca 
estabelecer relações entre os fenômenos, evidenciando que determinados eventos podem ser 
explicados a parir de determinadas causas que gerem este mesmo fenômeno (causa eficiente)” 
(2010, p. 110). 
Entretanto, alerta Aron, que “todo o pensamento causal da Max Weber se exprime em 
termos de probabilidade ou de oportunidades” Ou seja, todas as “proposições relativas à 
determinação de um elemento da sociedade por outro [exemplo, o elemento econômico e o 
elemento político] devem, segundo Max Weber, ser expressas em termos de probabilidade”. 
Weber concebe também “as relações causais da sociologia como relações parciais e prováveis 
[...] no sentido de que um fragmento dado da realidade tornar provável ou improvável um 
outro fragmento” (1999, p. 463). Aron declara ainda que a teoria da causalidade parcial e 
analítica weberiana “é, e pretende ser, uma refutação da interpretação vulgar do materialismo 
histórico [de Karl Marx]”, excluindo “a possibilidade de que um elemento da realidade seja 
considerado como determinante dos outros aspectos da realidade, sem ser também 
influenciado por eles”. Essa teoria também “proíbe prever em detalhes o que será a sociedade 
capitalista do futuro ou o que será a sociedade pós-capitalista” (1999, p. 464). 
Weber, diferentemente de Durkheim, onde o fundamento lógico da Sociologia é a 
sociedade, estabeleceu que o fundamento lógico da Sociologia é o indivíduo, pois a 
constituição da sociedade se dá por meio da ação e da interação recíproca dos atores sociais. 
Para o pai fundador da Sociologia alemã, conforme Sell, “a possibilidade de entender a 
sociedade e suas instituições passa pela análise do comportamento dos indivíduos”. Com isso, 
Weber define a Sociologia como sendo “uma ciência que pretende compreender 
interpretativamente a ação social e assim explica-la em seu curso e seus efeitos” (WEBER, 
1994, p. 03 apud SELL, 2010, p. 113). 
Ressalta-se, então, conforme Sell, que “a unidade básica da análise sociológica” é “a 
ação social e os seus tipos básicos”, onde Weber mostrar que por meio das relações sociais 
(formas de organização das ações sociais) “podemos compreender os elementos coletivos da 
vida social, como grupos e organizações sociais” (2010, p. 115), onde Weber define relações 
sociais como sendo “o comportamento reciprocamente referido quanto a seu conteúdo de 
sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa referência” (WEBER, 1991, 
p. 16 apud SELL, 2010, p. 115). Ou seja, a relação social se dá, segundo Sell, “quando o 
sentido da ação social é mutuamente referido, como é o caso da amizade, da luta, piedade, 
troca no mercado, cumprimento ou violação de acordos etc.” (2010, p. 115-116), onde “tais 
relações sociais podem ser efêmeras e transitórias, mas também podem adquirir um aspecto 
regular e permanente”, sendo as ações sociais regulares “objetos essenciais da sociologia”, 
devendo ser “explicadas pela vigilância de uma ordem legítima, que está ligada à crença na 
validade moral daquelas condutas ou mesmo a uma trama de interesses garantidos pela 
convenção [...] e pelo direito” (2010, p. 116), onde a primeira implica desaprovação social e a 
segunda penalidade jurídica. 
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Assim como Durkheim, que buscou definir o objeto da sociologia para diferenciá-la de 
outras ciências, Weber definiu a ação social como objeto de estudo da Sociologia, entendida 
como “uma ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou pelos agentes, se refere ao 
comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso” (WEBER, 1994, p. 03 apud 
SELL, 2010, p. 114). A sociologia weberiana, conforme Quintaneiro, “busca compreender e 
interpretar o sentido, o desenvolvimento e os efeitos da conduta de um ou mais indivíduos 
referida a outro ou outros”, através da observância “das regularidades [das ações sociais] as 
quais se expressam na forma de usos, costumes ou situações de interesse [...]” (2009, p. 114). 
Utilizando o seu construto teórico do tipo ideal, entendido como instrumento 
metodológico principal da compreensão, Weber dividiu a ação social em quatro tipos: ação 
tradicional; ação afetiva; ação racional com relação a um valor; e ação racional com 
relação a um objetivo. A ação tradicional diz respeito “aquela ditada pelos hábitos, costumes, 
e crenças, transformada numa segunda natureza”, onde o ator “obedece simplesmente a 
reflexos enraizados por longa prática” (ARON, 1999, p. 449). A ação afetiva é aquela “ditada 
imediatamente pelo estado de consciência ou humor do sujeito”, ou seja, é uma ação “definida 
por uma reação emocional do ator, em determinadas circunstâncias e não em relação a um 
objeto ou a um sistema de valores” (ARON, 1999, p. 448-449). A ação racional com relação a 
um valor é aquela onde o ator age a parir de suas convicções valorativas pessoais. A ação 
racional com relação a um objetivo é aquela onde “o ator concebe claramente seu objetivo e 
combina os meios disponíveis para atingi-lo”, onde a “racionalidade com relação a um 
objetivo é definida com base nos conhecimentos do ator [...]” (ARON, 1999, p. 448), 
exemplo, a ação do engenheiro para construir uma edificação, a ação do general para ganhar 
uma batalha. 
Após esta breve descrição do pensamento sociológico de Weber, podemos destacar 
algumas contribuições significativas do pai da Sociologia Compreensiva às pesquisas 
sociológicas. Primeiro, Weber vai inaugurar a chamada Sociologia compreensiva ao 
estabelecer o primado do sujeito sobre o objeto, contrariando, assim, a teoria sociológica de 
Durkheim que estabelece o primado do objeto (SELL, 2010). Segundo, vai influenciar as 
pesquisas sociológicas no que tange ao isolamento de um determinado fenômeno social para 
compreender a dinâmica das sociedades modernas – Capitalismo, Estado, Burocracia, Direito 
Religião etc. (TURNER, 1999). A Sociologia weberiana, seguindo Dilthey, é uma ciência 
compreensiva, mas é também, seguindo os postulados do positivismo, explicativa ao perceber 
aos efeitos de uma ação A sobre uma ação B (LALLEMENT, 2003). Weber, juntamente 
como Marx, foi o mentor das chamadas teorias do conflito que buscam enfatizar que a vida 
social é cheia de tensões e de contradições geradas pelas desigualdades de recursos, de 
dinheiro, de poder, de prestígio etc. (TURNER, 1999). 
 
 
 
 
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Considerações Finais 
 
Observou no percurso da construção do pensamento sociológico a grande influência 
dos ideais iluministas que colocam a ciência como o meio de conhecer e interpretar o mundo. 
Esse movimento intelectual lançou as bases para a passagem da sociedade medieval à 
sociedade moderna a partir das três grandes revoluções: Revolução Industrial, Revolução 
Francesa e Revolução Cultural. A Sociologia, como ciência que estuda as interações sociais e 
as organizações humanas o comportamento social, torna-se, dentro do turbilhão de mudanças 
provocadas pelas revoluções, uma forma de conhecimento importante não só para 
compreender a nova ordem, mas também para legitimá-la. 
Montesquieu e Comte iniciaram o processo para a construção do pensamento 
sociológico, buscando, o primeiro, mostrar os fatores causais (clima, solo, economia, 
população, religião) que influenciam na organização social de uma determinada sociedade; o 
segundo, além de batizar a ciência da sociedade de Sociologia, ofereceu a partir dos 
pressupostos do positivismo o arcabouço teórico-metodológico para a formação da 
Sociologia. 
Coube a Durkheim e a Weber dar o caráter científico à Sociologia com a definição do 
objeto:o primeiro diz que o objeto é o fato social; segundo diz que é a ação social; o primeiro 
ressalta a externalidade da sociedade e estabelece o primado do objeto (objetivismo); o 
segundo dá ênfase aos significados, às intenções e às interpretações dos atores sociais, 
estabelecendo o primado do sujeito (subjetivismo). Com relação ao método, Durkheim, 
juntamente com a sua escola, traz à Sociologia as proposições do positivismo da observação 
sistemática de um fenômeno social específico com o intuito de criar generalizações e o 
método funcionalista, que observa a sociedade como um sistema complexo organizado de 
atividades; Weber trouxe o método compreensivo, que busca entender os fatos sociais a partir 
dos próprios atores sociais dentro da realidade social, onde o pesquisador participa, bem como 
o método tipológico, que busca, através de abstrações, compreender casos concretos. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. Tradução Sérgio Bath. 5ª ed. – 
São Paulo: Martins Fontes, 1999. 
BOTTOMORE, T.B. Introdução à Sociologia. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: 
ZAHAR EDITORES, 1967. 
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Tradução Eduardo Brandão. 2ª ed. – 
São Paulo: Martins fontes, 1999. 
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GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria social: encontros com o pensamento social 
clássico e contemporâneo. Tradução Cibel Saliba Rizak – São Paulo: Fundação Editora da 
UNESP, 1998. 
LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber. 
Tradução Ephraim F. Alves. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. 
QUINTANEIRO, Tania. Um toque de clássico: Marx, Durkheim e Weber. 2ª ed. revista e 
atualizada. – Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. 
SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber. 2ª. Ed. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 2010. 
TURNER, Jonathan. Sociologia: Conceitos e Aplicações. Tradução Márcia Marques Gomes 
Navas; revisão técnica João Clemente de Souza Neto. São Paulo: MAKBON books, 1999.

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