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GÊNERO VERSUS MULHERES VERSUS MULHER

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GÊNERO VERSUS MULHERES VERSUS MULHER: AS ONDAS
DO FEMINISMO NO CONE SUL E A CONSTRUÇÃO
HISTORIOGRÁFICA DA HISTÓRIA DAS MULHERES
Ariana Mara da Silva (ariana.silva@unila.edu.br) 
Universidade Federal da Integração Latino Americana 
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão sobre a construção da história das mulheres sob
uma perspectiva diferente: as ondas do feminismo e suas terminologias. As disputas acadêmicas fazem parte de toda
área do conhecimento, inclusive da historiografia. Por essa razão esse escrito não pretende apresentar soluções para
as disputas existentes dentro da academia e entre essa e os movimentos sociais, mas sim apresentar como pontos de
vistas divergentes contribuem para o debate mesmo não sendo intencionalmente.
Palavras Chave: feminismo; mulheres; historiografia 
É sabido que a história oficial por muito tempo foi feita por homens e, em
consequência disso as mulheres foram jogadas para as margens da historiografia e
relegadas a invisibilidade. Essa situação sofre uma substancial alteração a partir das
lutas libertárias na década de 1960, lutas essas feitas por movimentos sociais, onde se
destacam eventos ocorridos no ano de 1968 (a greve de estudantes em Paris, a
primavera de Praga na Tchecoslováquia, os panteras negras e o movimento hippie
contra a guerra do Vietnã nos Estados Unidos, a luta contra as ditaduras militares na
América Latina, etc.). Esses movimentos libertários colocam em discussão a questão da
mulher, em especial porque durante esses eventos se percebe que a mulher não tem voz,
não alcança postos de liderança, não é chamada para falar em publico e a ela são
relegadas tarefas consideradas menos importantes como panfletagem, por exemplo. É
certo que muitas mulheres que participaram desses movimentos fazem parte dos corpos
das universidades, como estudantes ou docentes, tornando os questionamentos dos
movimentos sociais assuntos para a academia e buscando respostas para várias questões
que até então não tinham sido levantadas por conta da invisibilidade das mulheres. 
Uma dessas mulheres é a historiadora Michele Perrot, que inicia seus trabalhos
sobre o tema na década de 1970, na Universidade Paris VII. Essa universidade foi criada
após os eventos de maio de 1968 como produto das criticas levantada pelos movimentos
estudantis do período. Perrot, que lecionava na Souborne, participou ativamente das
manifestações e recebia constantes reclamações das estudantes sobre como elas eram
colocadas a margem do movimento. 
No período de sua formação Perrot tinha como orientador Ernest Labrousse,
um dos fundadores da Escola dos Annales. Labrousse estava iniciando suas pesquisas
sobre operários quando Perrot informou a ele, pela primeira vez, que queria trabalhar a
história das mulheres. O orientador sugeriu que ela trabalhasse a história dos operários e
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.39
a historiadora aceitou, pois esse era o tema que despertava seu interesse. Por influência
do Movimento de Libertação da Mulher – MLF (movimento feminista), após maio de
68, mais precisamente a partir de 1973, Michele Perrot e outras historiadoras da Paris
VII começam a propor cursos sobre a história das mulheres. A partir daí, as mulheres
ganham a dimensão de sujeitos históricos, pesquisas orientadas por Perrot e suas
colegas na academia são editadas como livros e influenciam a escrita da história das
mulheres por todo o mundo. 
Na historiografia esse é o momento em que a Revista dos Annales está indo
para sua terceira geração, ou seja, mudanças estão ocorrendo também no quadro da
revista que se propõe a construir uma nova história. A revista do Annales passou por
tantas mudanças durante os anos 1950 e 1960 que o grupo que dela fazia parte estava
realmente diversificado: a infância, o corpo, o sonho, o odor e outros assuntos antes
nem imaginados passam a fazer parte do cotidiano da revista. Dentre esses assuntos, a
revista é a primeira a incluir as mulheres, inicialmente dentro da história da família, mas
depois em outros campos como a história do trabalho e a própria história da mulher. 
A revista dos Annales já tinha, inclusive, sofrido diversas críticas dos
movimentos feministas por não incluir as mulheres na história de forma integral, ainda
que de tempos em tempos mencionassem as mulheres de alguma forma. Mas a própria
revista era como uma confraria masculina onde se fazia poucas menções ao trabalho
gratuito feito pelas mulheres, muitas vezes esposas daqueles historiadores, que
frequentavam as universidades. 
De acordo com Matos (1998, p.67) 
[...]a expansão dos estudos de gênero na história localiza-se no quadro de
transformações por que vem passando a história nos últimos tempos, sendo
possível afirmar que, por razões internas e externas, esses estudos emergiram da
crise dos paradigmas tradicionais da escrita da história, da qual essa disciplina saiu
nitidamente revigorada. 
Dessa forma a discussão sobre mulher, mulheres ou gênero passou a fazer parte
da historiografia nesse período. Mas o que se discute aqui é de que forma isso ocorreu?
Quais as consequências dessa inclusão nos movimentos de mulheres1, e como isso se
reflete no Cone Sul? 
Mulher 
Quando se trata da historiografia esse é o termo mais comumente usado para se
referir a história das mulheres como um todo. A grande discussão em torno do termo
mulher é a implicância histórica que ele carrega, nos diversos aspectos da vida humana:
política, econômica e social. 
Mulher é o termo utilizado para enquadrar o ser humano dentro de uma
categoria, assim como o termo homem. Categoria essa que ao longo da história vem
sendo oprimida com base nas características biológica dos seres, ou seja, o sexo. A
partir do momento que o ser humano tende a normatizar as relações, e isso remete ao
surgimento da escrita no século VII quando as regras morais passam a ficar gravadas, o
homem com instinto caçador leva comida para dentro de casa e é sobrevalorizado por
isso em detrimento da mulher, o ser que dá a vida. 
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.40
Assim se inicia as relações de poder e dominação que conhecemos até hoje. A
categorização biológica do ser reprime a individuação não somente das mulheres, mas
também dos homens. As relações passam a ser normatizadas, ou seja, se tornam binárias
a partir de uma imposição social que se baseia nas características físicas dos seres.
Talvez por esses motivos o termo mulher é tão duramente banido do vocabulário
feminista, principalmente das feministas pós-modernas. 
De acordo com Pedro (2001), a chamada primeira onda feminista, que vai até
os anos 1970, torna mulher, no singular, o objeto central dos trabalhos. A principal
preocupação até esse momento era explicar as causas da opressão feminina, ou seja, a
subordinação da mulher na história do patriarcado. Segundo Conceição (2009, p.740)
“neste cenário era muito difícil o trabalho científico, porque a mulher enquanto objeto
ideal, só existe em nível de ideologia”. Já Matos (1998, p. 67) destaca que 
O processo de emergência do tema, nos anos 70, tanto na produção historiográfica
como em outras áreas, tinha como pressupostos reintegrar as mulheres à história e
restituir a elas sua história, nesse momento foi priorizado o tema do trabalho
feminino, em particular, o trabalho fabril. 
Após esse período ocorre uma mudança de enfoque nos estudos feministas: de
mulher para mulheres. Essa concepção parte da ideia de que não há um modelo de
mulher, ou seja, mesmo dentro dessa categorização ser mulher é diverso. 
Mulheres 
Como dito anteriormente, o termo mulheres passa a ser mais utilizado após a
década de 1970, principalmente pelo movimentofeminista. A pergunta a se fazer nesse
momento é: em que essa mudança de terminologia está baseada? Podemos dizer que o
feminismo antes da década de 1970 estava preocupado em discutir as causas universais
da opressão feminina. Procurar causas universais é incorrer no essencialismo, ou seja, é
colocar todas as mulheres dentro de um mesmo molde. 
Podemos citar um exemplo que ilustra essa situação, para um melhor
entendimento dessa tese: mulheres negras dentro do feminismo. O movimento feminista
das décadas de 1970 e 1980 pretende dar resposta às demandas de mulheres brancas e
de classe média. Mesmo porque o movimento é formado dentro da academia, e as
mulheres negras nesse momento quase não tem acesso à educação básica de qualidade,
quem dirá universitária. Ainda assim essas mulheres encontram no feminismo um jeito
de dar vazão aos seus anseios como mulheres, mas esses anseios não são iguais aos das
mulheres brancas de classe média. A mulher negra além da opressão por ser mulher
sofre por pertencer a uma raça considerada inferior por diversos discursos. Isso traz uma
série de acumulações que geram desigualdades sociais como: falta de acesso à
educação, empregos de baixa renda, moradias marginais e em condições precárias, etc.
Logo as preocupações imediatas da mulher negra são com a creche, com a condução,
com a enchente e não com a conquista de salários iguais ou o direito ao aborto, apesar
de serem reivindicações do cotidiano destas também. 
Nessa mesma lógica, dentro do movimento feminista, se encontram as
mulheres indígenas (ainda que em menor número), as mulheres lésbicas, as mulheres
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.41
pobres, moradoras de periferias, operárias e assim por diante. Não à toa o movimento
feminista começa a utilizar o termo mulheres, no plural, pois essas são plurais, são
sujeitos diferentes, com demandas e intersecções diferentes e em níveis diversos. Nas
décadas de 1980 e 1990 o termo gênero ganha popularidade trazendo uma significação
mais ampla e uma discussão ainda mais acirrada sobre a opressão feminina. 
Algumas obras e autoras desse período se destacam por terem se tornado
referência, como: June Hahner com diversos livros e artigos, principalmente a partir de
1978, María Del Carmen Feijó La mujer, el desarrollo, y las tendencias de población
em América Latina: Bibliografía comentada (1980), Maria Cristina Bruschini e Fuvia
Rosemberg Trabalhadoras do Brasil (1982), Maria Odila Leite da Silva Dias Cotidiano
e Poder em São Paulo (1984), Mary Del Priore História das Mulheres no Brasil (1997),
dentre tantas outras. 
Gênero 
A palavra gênero, atualmente, é utilizada por diversos estudiosos,
principalmente, em análises que visam avaliar o impacto dos acontecimentos em
homens e mulheres e perceber a origem das fontes, o tratamento que essas fontes
recebem e como fazer a critica destas. Mesmo assim, a historiografia é a área que mais
apresenta resistência a utilizar o termo. 
Há uma discussão de que o termo gênero é utilizado por quem faz uma história
militante e não uma história acadêmica, mesmo porque são os movimentos feministas,
gays, lésbicos e de mulheres que tem contribuído para a inserção da discussão sobre
gênero na academia. Esse argumento perde o sentido se analisar a contribuição dos
movimentos sociais na inserção de questões como raça e etnia, geração e classe nas
discussões acadêmicas sem que isso levante esse tipo de desconfiança. 
De qualquer forma o emprego do termo gênero é um avanço nas discussões
sobre categorias. Inicialmente utilizado como sinônimo para definir sexo (masculino ou
feminino), com o avanço das discussões a palavra foi ganhando novas implicações e
junto delas novas significações. As especificidades históricas e culturais passam a ser
trabalhadas juntamente com as tendências universais de masculino e feminino. É dessa
forma que o gênero contribui para a desconstrução e desnaturalização do binarismo
masculino x feminino. O foco sai da relação mulher e homem e passa a significar
também a relação entre mulheres e entre homens e, nessas relações o gênero também se
constituiria. 
A categoria gênero passa tanto pela heteronormatividade como pela
homonormatividade ou lesbonormatividade, ou seja, o questionamento dos binarismos
engessantes da sociedade patriarcal entra em discussão o tempo todo, trazendo novas
reflexões e produzindo a desconstrução do que anteriormente havia sido definido por
essa mesma sociedade. 
As mudanças dos termos empregados nos diversos estudos feministas desde a
década de 1970 estão intimamente relacionadas às chamadas ondas feministas. Até esse
período a chamada primeira onda feminista estava concentrada em tratar do assunto
mulher, universalizando, dessa forma, o ser mulher. A partir da década de 1980, segunda
onda do feminismo, o objeto passou a ser mulheres, com a intenção de dar voz a
pluralidade de mulheres existentes no mundo, uma demanda das mulheres negras e de
Terceiro Mundo. A partir da década de 1990 o movimento feminista passa a trabalhar
com as relações de gênero, a partir da virada linguística produzida pela crítica ao pós-
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.42
estruturalismo. 
Fato relevante é que a existência de ondas supõe a irradiação do conhecimento
do centro para as margens. E nesse caso, o centro seria mais uma vez a Europa, com
seus ideais de feminino, feminismo, de mulher, mulheres e gênero. Enquanto a América
Latina, mais uma vez, fica as margens desse processo, recebendo passivamente o que é
vindo do mundo “civilizado”. Mas como veremos adiante, isso não é uma realidade. 
As implicações terminológicas no Cone Sul 
Esse capítulo do trabalho, especificamente, é baseado em um estudo da autora
Joana Maria Pedro, Relações de gênero como categoria transversal na historiografia
contemporânea, onde ela faz um levantamento do que foi produzido no Cone Sul e mais
particularmente o Seminário Internacional Fazendo Gênero 9, realizado em 2010. 
Segundo a autora, no Cone Sul há uma relação entre gênero e pós-
colonialismo, onde o conhecimento é produzido das margens para o centro e não o
contrário disso. É um processo de descolonização do conhecimento que visa recuperar a
história a partir dos colonizados, trazer à tona as vozes baixas da história, a fim de
demonstrar que há outras formas de conhecimento, que não o ocidental. As mulheres do
Cone Sul passaram a debater se o questionamento da opressão de gênero seria uma
invenção europeia, mesmo porque se são as mulheres não brancas que sofrem opressão
diariamente, elas teriam condições de adquirir consciência da sociedade patriarcal em
que vivem e desenvolver formas de resistência próprias. 
Nesse movimento do Cone Sul, há uma romantização do que teria sido o
período pré-colonial. Baseadas na existência de deusas femininas para cada
correspondente masculino, as feministas dessa vertente, acreditam que a igualdade de
gênero existia no período pré-colonial e que a opressão teria sido trazida ao continente
pelos colonizadores europeus. Mas essa abordagem é muito fértil nas discussões de
gênero, principalmente, por dialogar com a antropologia e sociologia e trabalhar as
interseções gênero, etnia/raça e classe. 
Pedro (2011, p.273) aponta que existe uma divisão internacional onde a teoria
seria criada no Norte e os estudos de casos seriam feitos no Sul. A autora cita que no
Brasil esse processo também acontece, em relação aos grandes centros produtivos e
industriais, já que nas décadas de 1970 e 1980 houve uma concentração da produção de
estudos sobre mulher, mulheres e relações de gênero no eixo Rio- São Paulo e que a
partir da década de 1990 essa produção se desloca para outrascidades, como
Florianópolis e Salvador. Para ilustrar a relação do feminismo com os termos gênero,
mulher e mulheres a Pedro (2011) passa a analisar os números do Seminário
Internacional Fazendo o Gênero 9. O seminário ocorre de dois em dois anos, desde
1994, no ano de 2010 foi realizada sua nona edição e esse evento tem como
característica a interdisciplinaridade: [...] o evento contou com 4.033 inscritos, dos quais
apenas 807 (20% do total) eram homens, portanto, um evento significativamente
feminino. Dos 1.875 trabalhos apresentados nos 96 Simpósios Temáticos, 260 eram de
História, representando, portanto, apenas 13,86% do total. (PEDRO, 2011, p. 276).
Esses dados mostram como a produção historiográfica relacionada a gênero
ainda é pequena em relação a outras ciências humanas, o que coloca o tema num gueto,
especialmente se considerarmos que a grande maioria das pessoas que produzem algo
sobre gênero é mulher. 
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.43
Nos títulos desses trabalhos historiográficos, apresentados no Fazendo Gênero
9, 17 deles traziam a palavra “mulher”; 56 traziam a categoria “mulheres”; 86
mencionavam “gênero”; e 12, a palavra “feminismo”. Das temáticas discutidas, mídia,
etnia/raça, memória e corpo foram as mais frequentes. (PEDRO, 2011, p.277) 
Agora os dados apontam como as ondas feministas não seguiram o caminho
esperado, pode ser pelo fato das autoras simplesmente ignorarem as discussões
realizadas desde a década de 1970, mas o que realmente importa é que se as ondas
feministas realmente fizessem sentido o termo mulher não apareceria mais nos títulos. 
Caminhando para a conclusão, podemos inferir que os estudos de gênero,
independente do termo ou categoria utilizada, estão aos poucos tentando se colocar na
historiografia e os autores procuram tornar as categorias cada vez mais comuns para
quem pesquisa. E que as ondas do feminismo não funcionaram como o esperado no
Cone Sul porque a existência de uma nova categoria não fez com que as anteriores
desaparecessem das produções. 
Ainda assim a produção na área da história cultural que trabalha com mulher,
mulheres e gênero é crescente. Infelizmente é ainda um campo de discussão de
mulheres, mas temos que nos ater ao fato de que as mulheres durante muito tempo
discutiram assuntos dos homens, então pode ser que chegou a hora de os homens
passarem a discutir a história das mulheres também. 
Ao invés de concluir, desconstruir 
A inserção de questões relacionadas a gênero na historiografia está diretamente
ligada a fundação da Escola/Revista doa Annales. É Braudel, Le Goff e companhia que
promovem a reforma na história e ela passa a abarcar temas mais transversais. É uma
ligação direta com as proposições dos autores da chamada Nova Escola. 
Pensemos a questão da interdisciplinaridade, por exemplo. Antes da Escola dos
Annales a história não reivindicava uma historiografia construída em parceria com as
outras ciências humanas, o conhecimento era construído de forma isolada e assim
ficava. Temas que antes não eram considerados parte da história passam a ser discutidos
pela escola que está surgindo com vontade de não mais se focar na historiografia
política. É a partir desse momento que passa a importar a história que ainda não foi
contada, a história dos vencidos (a história de baixo). Essa é uma das principais
características e perspectivas dos autores dos Annales, ver um pouco mais do que o
relatado oficialmente. 
Esse trabalho só é possível se for feito juntamente com os movimentos sociais
e outras ciências humanas como a antropologia, a sociologia, a demografia e a
geografia. São ciências que trabalham como auxiliares da história e que permitem
também ser auxiliadas pela história. 
A história das mulheres é, claramente, a própria história da opressão. De que
outra forma então essa história seria contada se não houvesse uma escola que
pretendesse ver a história de baixo? É importante ressaltar que no momento da fundação
dos Annales apesar do surgimento da categoria culturas como sinônimo de civilizações
(no plural porque não há somente uma cultura ou civilização) os próprios historiadores
não conseguem romper completamente com a ideia de pensar a Europa como modelo de
civilização, como ainda ocorre atualmente. Mas é somente a partir dos Annales que
podemos pensar uma história cultural, uma história oral (pois inclusive os métodos
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.44
passam por modificações), uma história das mentalidades, uma história das ideias, etc.
Ocorre a ampliação do campo historiográfico que anteriormente só enxergava a história
politica, ou seja, uma visão positivista da história. 
Referências 
BRAUDEL, F. Escritos sobre a História. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
CONCEIÇÃO, A.C.L. da. Teorias feministas: da “questão da mulher” ao enfoque de 
gênero. In: Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 8, n. 24. 2009. pp. 738-757. 
PEDRO, J.M. Relações de gênero como categoria transversal na historiografia 
contemporânea. In: Revista Topói, v. 12, n. 22, jan.-jun. 2011, pp. 270-283. Disponível 
em: «http://www.revistatopoi.org/numero_atual/topoi22/topoi%2022%20-%20artigo
%2015.pdf». Acesso em: 22 mar. 2013. 
GONÇALVES, A.L. Gênero e história das mulheres na Historiografia. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2006.
MATOS, M.I.S. Estudos de Gênero: percursos e possibilidades na historiografia 
contemporânea. In: Cadernos Pagu, v.11, p.67-75, set. 1998.
PRIORE, M. Del. (org.); PINSKY, C.B. (orgs.) História das Mulheres no Brasil. 10.ed. 
São Paulo: Contexto, 2011.
Anais do Colóquio Nacional de Estudos de Gênero e História – LHAG/UNICENTRO, p.45

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