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HISTÓRIA MULHER E GÊNERO

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História, Mulher e Gênero 
 
 
 
Gisele Ambrósio Gomes

 
 
 
 
Resumo: O presente artigo tem por objetivo apresentar uma breve discussão sobre os caminhos seguidos 
pela relação entre a questão do feminino e a história nas últimas décadas, que desembocaram nos 
estudos de gênero. 
Palavras-chave: Historiografia, História das Mulheres, Gênero. 
 
Abstract: This article aims to provide a brief discussion of the paths followed by the question of the 
relationship between the female and the history in recent decades that resulted in studies of gender. 
Key words: Historiography, Women’s History , Gender. 
 
 
 
 
 “Da História, muitas vezes a mulher é excluída”. 1 Essa afirmação, feita por 
Michelle Perrot, uma das mais renomadas historiadoras sobre as mulheres, reflete uma 
preocupação que há muito envolve os intelectuais. Podemos destacar, concentrando-nos 
ainda nas vozes do século XX, a figura da importante escritora inglesa Virginia Woolf, 
que se empenhou em militar a favor do sexo feminino, através de seus escritos. Na sua 
obra A romm of one’s owen (Um teto todo seu) de 1929, dedicada a refletir sobre a 
mulher e a literatura, deixou em evidência, entre outras opiniões, seu posicionamento 
sobre a prática historiográfica em relação às mulheres. Woolf acusou a tendência da 
historiografia existente de seguir uma postura parcial e insuficiente, deixando claro seu 
perfil eminentemente masculino e excludente. 
2
 
 Do lado francês, vinte anos depois, temos a presença da filósofa Simone de 
Beauvoir que, em sua obra O segundo sexo, reafirmou categoricamente a 
“incompletude” da história, pois, embora ela se pretendesse “Universal”, na realidade 
 

 Mestranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz 
de Fora. 
1
 PERROT, Michelle. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. 2ª ed. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1992. 
2
 SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: BURKE, Peter. (org.) A Escrita da História: novas 
perspectivas. 4 ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 1992, p. 75. 
desconsiderava uma metade da humanidade, as mulheres. Estas, em conseqüência, 
espoliadas de seu passado, não tinham o porquê de orgulharem-se de si mesmas. 
3
 
Vale notar que essas mulheres, de uma forma mais geral, estavam no bojo das 
críticas que insidiam sobre uma persistente tradição intelectual, de Aristóteles a Freud, 
passando pelos historiadores, que enfatizava a dicotomia homem/cultura e 
mulher/natureza marcada por estereótipos, preconceitos e uma hierarquia de valores. 
Essa bipolaridade era sustentada pela idéia da “desigualdade” entre os dois sexos, 
separando e opondo-os: o universo masculino relacionado à cultura, sinônimo de 
objetivo, de racional e de público, determinava a sua dita “superioridade” em relação ao 
universo feminino enquadrado à natureza “reveladora” de sua suposta propensão ao 
emocional, ao subjetivo e ao privado. Não era de se estranhar, portanto, a 
predominância na narrativa histórica de preocupações com o político e com o público, 
as quais entronizavam os homens em suas façanhas e heroicidade, excluindo 
duplamente, quase que por completo, as mulheres enquanto personagens e produtoras 
da história.
4
 
 O desmascaramento desse arcabouço intelectual e cultural assumiu um tom 
provocativo e subversivo, insuflador da proliferação de pesquisas sobre o sexo feminino 
nas décadas seguintes que favoreceram o surgimento da História das Mulheres. 
Segundo Joan Scott, o nascimento desse campo específico de pesquisa, na Europa e nos 
Estados Unidos, relacionou-se à política, mais precisamente à política feminista que 
atingiu seu ápice entre os anos de 1960 e 1970, 
5
 período no qual as mulheres 
assumiram o controle de sua vida reprodutiva, com a disseminação da pílula 
anticoncepcional, e ampliaram sua participação na educação, no mercado de trabalho e 
na política. 
6
 
A história das mulheres, inicialmente construída pelas militantes feministas, 
estava integrada à tentativa de acompanhar as novas “indagações” que essa realidade 
trazia para a vida das mulheres. 
7
 Nesse sentido, tornou-se imprescindível retirar o sexo 
feminino da clausura representada pela exclusão, pelo esquecimento e pelo privado, 
intenção favorecida pelos trabalhos dedicados a demonstrar que as mulheres também 
 
3
 HUFTON, Olvem. Mulheres/homens: uma questão subversiva. In: BOUTIER, Jean e JULIA, 
Dominique (Orgs). Passados recompostos: campos e canteiros da História. Rio de Janeiro: ED. UFRJ; 
Ed. FGV, 1998, p. 243. 
4
 GONÇALVES, Andréa Lisly. História & Gênero. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, p.48 e 49. 
5
 SCOTT, Joan. Op. cit., p. 63 e 64. 
6
 COSTA, Suely Gomes. Gênero e História. In: ABREU, Marta e SOIHET, Rachel. Ensino de História: 
conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, p. 190. 
7
 Idem, p. 191. 
faziam parte do processo histórico e que eram vítimas da injustiça e da exploração. 
8
 Em 
conseqüência, evocavam-se as “heroínas” dos séculos anteriores dadas a conhecer em 
suas “trajetórias similares aos congêneres masculinos, o que muitas vezes significava o 
mesmo que realçar-lhe a visibilidade através do reconhecimento de sua atuação na 
esfera pública, confirmando-lhes a excepcionalidade.” 9 Nas ruas e nos círculos 
acadêmicos, portanto, ocorreu todo um esforço de demonstrar a importância do papel e 
das ações das mulheres no contemporâneo e no passado.
10
 De acordo com Suely Costa, 
 
Muitas militantes feministas nessa época, ocupariam posições de 
destaque em importantes instituições políticas, criando acesso a 
várias fontes de financiamento de pesquisa, com inúmeras 
publicações de qualidade em circulação. 
11
 
 
 
Entretanto, no limite das universidades, nesse primeiro momento, os estudos 
sobre as mulheres eram vistos com grande desconfiança pela maioria dos historiadores, 
constituindo-se, na prática, como uma espécie de “adendo à história geral”, tarefa quase 
exclusiva das pesquisadoras, cujo estudo sobre seu próprio sexo era apenas “tolerado ou 
marginalizado”. 12 Joan Scott deixou bem claro essa dificuldade de penetração da 
história das mulheres, acusada de ideologismo, no círculo acadêmico estadunidense e 
como foi importante buscar “estratégias” para sua inserção. 
 
Ao defender novos cursos sobre as mulheres, diante um comitê 
curricular universitário em1975, argumentei como exemplo que 
a história das mulheres era uma área recente de pesquisa, assim 
como os estudos da região ou das relações internacionais. Em 
parte, esse foi um artifício tático (uma jogada política) que 
tentava, em um contexto específico, separar os estudos das 
mulheres daqueles intimamente associados ao movimento 
feminista. Em parte, resultou da crença de que o acúmulo de 
bastante informação sobre as mulheres no passado, 
inevitavelmente atingiria sua integração na história padrão. 
13
 
 
 
 
8
 DEL PRIORE, Mary. História das Mulheres: As vozes do silêncio. In: FREITAS, Marcos Cezar de 
(org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998, p. 220. 
9
 GONÇALVES, Andréa Lisly. Op. cit., p. 64. 
10
DEL PRIORE, Mary. Op. cit., p. 220. 
11
 COSTA, Suely Gomes. Op.cit., p. 191. 
12
 DEL PRIORE, Mary. Op. cit., p. 220 e 221. 
13
 SCOTT, Joan. Op. cit., p. 81. 
 O avanço da História das Mulheres deveu-se também aos novos rumos 
seguidos pelas tendências historiográficas, no exterior e no Brasil, que ganhavam força 
nesse período. Lembremosque até a década de 1970 predominavam as análises 
estruturalistas que se apoiavam nos recortes macrossociais, nas explicações 
globalizantes, nas conjunturas econômicas e nas categorias sociais em sua busca pela 
compreensão do passado histórico. Nesse processo, o “indivíduo” e as questões 
referentes ao âmbito privado eram ignorados, o que trazia em seu bojo, 
conseqüentemente, a invisibilidade das mulheres na história. 
14
 
Com a crise do estruturalismo, a história procurou novos parceiros disciplinares 
para colocar em cena os distintos atores que compunham a trama social, em suas 
experiências cotidianas, em suas relações entre si e com o poder. Temos, por exemplo, a 
relação entre historiadores e antropólogos que favoreceu novas perspectivas ao enfatizar 
investigações sobre as “pessoas comuns”, os valores, o simbólico, os rituais, os 
comportamentos e as crenças. Nesse contexto de tentativa de aprimorar os instrumentos 
conceituais das análises incluíram-se nas pesquisas as dimensões do privado e as 
relações entre homens e mulheres trazendo o outro lado da realidade histórica 
desnudada em sua complexidade. 
15
 
 
[...] temas da intimidade mostram sua face política, sistemas de 
poder e subordinação ganham relevância, tudo isso sem perder 
de vista a dialética de curta e longa duração histórica na 
construção desses mesmos processos. 
16
 
 
 
As mulheres, agora protagonistas ao lado dos homens, foram pouco a pouco 
reveladas tanto na esfera pública (motins, organizações políticas, mercado de 
trabalho...) como em aspectos privados até então relegados (família, maternidade, lar...). 
Surgiam enquanto “rebeldes” e “amotinadas”, “donas-de-casa” e “trabalhadoras”, nas 
praças e nas casas, transformando e sendo transformadas nas teias do poder e das 
resistências. 
17
 
 Vale frisar que as “mulheres”, nesse momento, seriam uma categoria 
homogênea, consideradas como “uma categoria social fixa”, ou seja, “pessoas 
 
14
 COSTA, Suely Gomes. Op.cit., p. 188. 
15
 Idem, p. 188 e 189. 
16
 Idem, ibidem. 
17
 Ver os trabalhos de PERROT, Michelle. Os excluídos da História: operários, mulheres e 
prisioneiros. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992 e THOMPSON, Edward P. Costumes em comum. 
São Paulo: Companhia das letras, 1998. 
biologicamente femininas que se moviam dentro e fora de contextos e papéis diferentes, 
[..] mas cuja essência - enquanto mulher - não se alterava”.18 Esse posicionamento 
solidificou a oposição homem/mulher, importantíssima para uma mobilização política 
feminista.
19
 
 A historiografia brasileira, como já foi indicado, não ficou neutra diante de tais 
mudanças. Em um primeiro momento, a mulher foi vista como o resultado das 
condições sócio-econômicas e como vítima, despida de qualquer consciência e atuação 
histórica. Já na década de 1980 as pesquisas, ainda focadas na “condição feminina” 
(sempre em contraste e separada da experiência masculina), tentaram preencher este 
vazio e passaram a investigar as mulheres enquanto sujeitos históricos, analisando seu 
cotidiano a partir das idéias de resistência e da transformação da sua realidade. 
Simultaneamente, este foi o período de efervescência também de trabalhos inseridos na 
forte tendência dos estudos “das mentalidades” ganhando destaque as temáticas que 
auxiliavam as análises do feminino (a sexualidade, o amor, o corpo, o pecado, o medo, a 
morte, os desvios...) e as relações entre o público e o privado. Assim, as mulheres 
tornavam-se sujeitos sociais que engendravam a História, que lutavam contra as 
declarações de poder e produziam percepções e experiências próprias. 
20
 
 Assim, nos rumos da historiografia no Brasil
21
 as mulheres foram reintegradas 
ao passado que, embora nebuloso, encontrava-se repleto de vestígios de seus anseios, de 
suas articulações, de suas lutas e de suas transgressões. Analisadas através da inovação 
e releitura das fontes (processos eclesiásticos e civis, obras literárias, tratados médicos e 
morais, imprensa, literatura de viagem...) figuravam nas mais variadas abordagens 
temáticas tais como: sexualidade, família, moralidade, maternidade, feminismo e 
construção de estereótipos femininos.
22
 
 
18
 SCOTT, Joan. Op. cit., p. 82. 
19
 Idem, p. 83. 
20
 RAGO, Margareth. As Mulheres na Historiografia Brasileira. In: SILVA, Zélia Lopes da (org.). 
Cultura Histórica em Debate. São Paulo: Editora da Unesp, 1995, p. 82, 83 e 85. 
21
 Não temos a pretensão de oferecer um detalhamento minucioso da produção historiográfica brasileira 
referente à mulher uma vez que, a nosso ver, o assunto é por demais vasto para abarcarmos neste trabalho. 
Sendo assim, optamos por estabelecer uma breve reflexão sobre a produção historiográfica através do 
pontuamento de alguns trabalhos publicados que se tornaram referenciais, em nossa perspectiva, nos 
estudos das mulheres no Brasil a partir das tendências citadas no corpo do texto. 
22
 ABREU, Martha. Meninas perdidas: o cotidiano do amor na Belle Époque. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1989; ALGRANTI, Leila Mezan. Honradas e devotas: mulheres na colônia. Condição feminina 
nos conventos e recolhimentos do Sudeste do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, Brasília, EDUNB, 
1993; ALMEIDA, Ângela Mendes. O gosto do pecado. Rio de Janeiro: Rocco, 1992; BELLINI, Lígia. A 
coisa obscura, mulher, sodomia e inquisição no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense, 1989; 
CUNHA, Maria Clementina Pereira da. Loucura, gênero feminino: as mulheres de Juquery na São Paulo 
do início do século XVIII. Revista Brasileira de História, v.9, n.18, ago/set, 1989; DEL PRIORE, Mary. 
Os anos de 1980 também foram o cenário no qual a escrita histórica sobre a 
mulher em diversos países, sobretudo nos EUA, começou a ser repensada e criticada 
pelos seus produtores. Em tal contexto refletia-se sobre quais foram as contribuições 
dos estudos sobre a mulher no tocante as inovações epistemológicas e metodológicas da 
história em seu âmbito geral. 
23
 A resposta a essa questão foi desanimadora: percebeu-se 
que a História das Mulheres continuava sendo um “anexo”, pois ela padecia “[d]a falta 
de reflexão sobre a especificidade do objeto e [d]a aplicação de categorias de 
pensamento que não eram egressas da história das mulheres, mas da história 
„tradicional‟”.24 
É inegável que as décadas de 1970 e 1980 foram de grande valia para a 
incorporação das mulheres na produção historiográfica ao colocar em discussão a visão 
monolítica do “Homem Universal.” Entretanto, essas abordagens não romperam 
totalmente com o “silêncio” que teimava em rodear os estudos sobre as mulheres. De 
acordo com Mary Del Priore, essas personagens subiam ao palco apenas quando 
tentavam desequilibrar o predomínio masculino ou quando eram inseridas nos estudos 
sobre as minorias. 
25
 Então, tornaram-se necessárias novas interrogações e outro olhar 
sobre as fontes investigando não mais a divisão binária homem/mulher ou a 
 
Ao sul do corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil colônia. Rio de Janeiro: José 
Olympio, Brasília, EDUNB, 1993; DIAS, Maria Odila Silva. Cotidiano e poder em São Paulo no século 
XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984; D‟INCAO, Maria Angela (org). Amor e família no Brasil. São 
Paulo: Contexto, 1989; ENGEl, Magali. Meretrizes e doutores, saber médico e prostituição no Rio de 
Janeiro (1840-1890). São Paulo: Brasiliense, 1989; FIGUEIREDO, Luciano. O avesso da memória: 
cotidiano e trabalhoda mulher em Minas gerais no século XVIII. José Olympio, Brasília, EDUNB, 
1993; LEITE, Miriam L. Moreira. Outra face do feminismo. Maria Lacerda de Moura. São Paulo: 
Ática, 1984; LIMA, Lana Lage da Gama.(org). Mulheres, adúlteros e padres. Rio de Janeiro: Dois 
pontos, 1987; MENEZES, Lená Medeiros de. Os estrangeiros e o comércio do prazer nas ruas do Rio 
(1890-1930). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992; MOTT, Luiz. O lesbianismo no Brasil. Porto 
Alegre: Mercado Aberto, 1987 e O sexo proibido, virgens, gays e escravos nas garras da Inquisição. 
Campinas: Papyrus, 1988 e Rosa Egipciáca, uma santa africana no Brasil. Rio de Janeiro: José 
Olympio, Brasília, EDUNB, 1993; PEDRO, Joana Maria. Mulheres honestas, mulheres faladas: uma 
questão de classe. Florianópolis, EDUSFC, 1994; PENA, Maria Valéria Junho. Mulheres e 
trabalhadoras. Presença feminina na constituição do sistema fabril. Rio de Janeiro: Paz e terra. 1981; 
QUINTANEIRO, Tania. Retratos de mulher: o cotidiano feminino no Brasil sob o olhar dos viajeiros do 
século XIX. Petrópolis: Vozes, 1996; RAGO, Margareth. Os prazeres da noite, prostituição e códigos 
da sexualidade feminina. Campinas: Unicamp, 1990 e Do cabaré ao lar. A utopia da cidade 
disciplinar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985; ROSA, Alice. Condições de trabalho na indústria têxtil 
paulista (1870-1930). São Paulo Hucitec/Unicamp, 1988; SAMARA, Eni Mesquita. As mulheres, o 
poder e a família. São Paulo: Marco Zero, 1989; SOARES, Luiz Carlos. Rameiras, ilhoas, e polacas... 
A prostituição no Rio de janeiro do século XIX. São Paulo: Ática, 1992; SOIHET, Raquel. Condição 
feminina e formas de violência: mulheres pobres e ordem urbana 1890-1910. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 1989; SOUZA, Laura de Mello e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo, 
Companhia das Letras, 1986; VAINFAS, Ronaldo. Trópicos dos pecados. Rio de Janeiro: Campus, 
1989. 
23
DEL PRIORE, Mary. Op. cit., p. 222. 
24
 Idem, p. 223. 
25
 DEL PRIORE, Mary. Op. cit, p. 224. 
compreensão de um universo feminino paralelo, 
26
 mas sim o masculino e o feminino 
em suas interações sociais “buscando nas atitudes e sensibilidades coletivas, nos fatos e 
práticas cotidianas, os espaços onde se abrigava a relação homem-mulher.” 27 Nesse 
percurso, as problemáticas fizeram-se muito mais complexas, tais como: descobrir por 
quais mecanismos pautavam-se as supostas “superioridade” e “dominação” 
masculinas;
28
 estabelecer a desconstrução das “identidades globalizantes” e redefinir as 
relações de poder e subordinação entre os dois sexos. 
29
 
Os novos métodos e abordagens nas últimas décadas da História Cultural muito 
contribuíram na tentativa de encontrar respostas para os questionamentos provenientes 
dessas outras problemáticas que passavam a instigar os pesquisadores. De um lado, a 
discussão ganhou força com o auxílio da interdisciplinaridade (literatura, antropologia, 
psicanálise...) que permitia entender o feminino em vários aspectos, ou seja, entre 
outros, no imaginário social, nas representações, na subjetividade, e nas práticas. Por 
outro lado, a categoria gênero ampliou o seu espaço na produção historiográfica 
trazendo a dimensão analítica do sexo para as experiências sociais em detrimento do 
determinismo “biológico” e “natural” que supostamente regia as distinções e relações 
entre homens e mulheres. 
30
 A partir de então, 
 
A solução foi mudar a abordagem. Tornava urgente abraçar o 
campo histórico como um todo, sem restringi-lo ao território do 
feminino. Era preciso interrogar as fontes documentais sobre as 
mulheres de outra maneira. Doravante, a divisão sexual dos 
papéis é que seria sublinhada. 
31
 
 
 
 A História cultural que busca compreender como o homem organiza, pensa e lê 
sua realidade - emaranhando-se no simbólico, na construção dos sentidos e das 
interpretações, nas representações e na linguagem
32
 - muito se beneficiou da emergência 
da gender history (História do Gênero) uma vez que esta “se interessa pelo processo de 
definição tanto do masculino como do feminino numa sociedade particular [...]”. 33 O 
 
26
 Idem, p. 224 e 225. 
27
 Idem, p. 225. 
28
 Idem, ibidem. 
29
 COSTA, Suely Gomes. Op.cit., p. 192 
30
 SOIHET, Rachel. História das Mulheres. In: CARDOSO, Ciro F. S. e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). 
Domínios da História: ensaios da teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997, p. 276 e 279. 
31
 DEL PRIORE, Mary. Op. cit, p. 224. 
32
 Ver CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: DIFEL, 1988. 
33
 HUFTON, Olvem. Op. cit., p. 246 e 247. 
“gênero” enquanto instrumento analítico tem por objetivo principal demonstrar que o 
“masculino” e o “feminino” são formulados em suas relações e interações num 
determinado tempo e espaço, ou seja, são construções socioculturais e, portanto, 
históricas.
34
 
 Esse instrumento analítico também foi salutar ao trazer à tona a questão da 
“diferença” em noções que focalizavam a idéia de unicidade nas categorias masculino e 
feminino no seio da História. 
35
 Não podemos esquecer que uma das queixas aos 
tradicionais estudos sobre as mulheres era “a utilização da categoria “mulher” como 
entidade social e empírica fixa, numa perspectiva essencialista que perde as 
multiplicidades de sujeitos subsumidos em tal categoria.”36 Desta forma, são 
privilegiadas as suas múltiplas identidades que passam a ser encaradas em prismas 
diversificados, tais como: classe, raça, etnia e sexualidade. 
37
 Nas palavras de Andréa 
Gonçalves, a partir da categoria gênero, mesmo esta não negando por completo o “sexo 
biológico” como um “fator de identidade” em seu sentido coletivo ou individual,38 
 
[...] estaria consumada a superação de noções universais, fossem 
de homens, fossem de mulheres. A introdução da categoria 
gênero, relacionada ao contexto social, portanto, levou á 
consideração da “diferença na diferença”. Não cabia assim a 
utilização do termo mulher sem adjetivá-lo: mulheres mestiças, 
negras, judias, trabalhadoras, camponesas, operárias, 
homossexuais. 
39
 
 
Percebe-se que novos posicionamentos referentes às concepções de “diferença e 
semelhança” e “igualdade e desigualdade” sobem no palco das pesquisas. Passa-se a 
considerar a diversidade humana não apenas em sua porção biológica, mas também em 
outras diferenças que produzem e legitimam os sistemas de poder e as desigualdades 
sociais entre opostos (como nas relações entre homens e mulheres) ou entre os 
 
34
 GONÇALVES, Andréa Lisly. Op. cit., p. 74. 
35
Idem, ibidem. 
36
 RAGO, Margareth. Op. cit., p. 86 e 87. 
37
 SCOTT, Joan. Op. cit., p. 87. 
38
 GONÇALVES, Andréa Lisly. Op. cit.,p. 74. 
39
 Idem, p. 74 e 75. Dentre essas preocupações de obscurecer as visões de “sujeitos universais” surgem na 
historiografia e em outros campos do saber (antropologia, sociologia, psicanálise...) os estudos sobre os 
“homens” em sua pluralidade e sobre as construções da masculinidade. Ver, por exemplo, JÚNIOR, 
Durval Muniz de Albuquerque. Nordestino: uma invenção do falo - uma história do gênero masculino 
(Nordeste 1920/1940). Maceió: Edições Catavento, 2003 e MATOS, Maria Izilda Santos de. Por uma 
história das sensibilidades: em foco - a masculinidade. In: História: Questões & Debates, ano 18, n.34, 
jan/junho, 2001, p. 45-63. 
indivíduos, por exemplo, “do mesmo sexo, da mesma classe, de mesma etnia”. 40 Em 
outras palavras, 
 
Tal pluralidade de experiências indicaria que as práticas sociais 
presentes nos sistemas de poder e subordinação e as 
desigualdades sociaispodem conter outras, de 
complementaridades e de consentimentos, situações transversas, 
o tempo todo de mão dupla, dialéticas, enfim. 
41
 
 
 
 A partir desse momento emergia os estudos cuja preocupação era ir além da 
dicotomia vítima/rebelde traçada para as mulheres até então. O enfoque passava a ser a 
atuação feminina em toda a sua complexidade abrindo caminho para novas concepções 
de poder muito bem representadas e enriquecidas, por exemplo, nas reflexões de Michel 
Foucault.
42
 Em suas teses, Foucault defendeu que o poder possui uma natureza 
fragmentada na vida cotidiana, redimensionando assim as análises de suas práticas que 
não se restringem apenas ao âmbito da política formal. Logo, as mulheres aparecem 
enquanto sujeitos históricos atuantes no tecido social exercendo seus “poderes” 
informais. 
43
 
As suas contribuições para os estudos das mulheres não param por aí. Segundo 
Margareth Rago, esse pesquisador deixou em evidência sua crítica severa aos estudos 
que enfatizavam as análises das “identidades prontas” e aos que marginalizavam “as 
construções simbólicas e culturais dos agentes em suas experiências de vida”.44 No 
interior de sua proposta da desnaturalização dos sujeitos e dos objetos históricos e da 
concepção dos discursos como práticas instituintes de “realidades”, tem-se a 
necessidade de entender os indivíduos em suas facetas de “produtores” e “produtos” das 
construções sociais e culturais. Desse modo, historiza-se as identidades sexuais e o 
feminino passa a ser pensado como uma construção das relações sociais, das práticas 
disciplinadoras e dos saberes (discursos) instituintes.
45
 
Nos últimos anos, portanto, são perceptíveis os ganhos obtidos pela 
historiografia com a simbiose entre História Cultural e a categoria gênero. Ampliam-se 
as condições para se “trabalhar com relações e perceber por meio de que procedimentos 
 
40
 COSTA, Suely Gomes. Op.cit., p. 196 e 197. 
41
 Idem,p. 197. 
42
 SOIHET, Rachel. Op.cit., p. 278. 
43
 GONÇALVES, Andréa Lisly. Op. cit., p. 60. 
44
 RAGO, Margareth. Op. cit., p. 86. 
45
 Idem, p. 87 e 88. 
simbólicos, jogos de significação, cruzamentos de conceitos e relações de poder nossas 
referencias culturais são sexualmente construídas”,46 afastando-se das dicotomias 
entendidas enquanto fixas e naturais. 
47
 
 
 
46
 Idem, p. 89. 
47
 Idem, p. 88 e 89. Ver os trabalhos de MATOS, Maria Izilda e Faria, Fernando. Lupicinio Rodrigues, o 
feminino e o masculino em suas relações. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996; BASSANEZI, Carla. 
Virando as paginas, revendo as mulheres: revistas femininas e relações homem-mulher 1945-1964. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996 e o artigo de ENGEL, Magali Gouvêa. Paixão, crime e relações 
de gênero (Rio de Janeiro, 1890-1930). Topoi, Revista de História do PPGH da UFRJ, Rio de Janeiro, n. 
1, p. 153-177, 2000.

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