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PERSONAGENS SILENCIADAS AS MULHERES NOS CONTEÚDOS DE HISTÓRIA

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1 
 
 
 
 
 
PERSONAGENS SILENCIADAS: AS MULHERES NOS CONTEÚDOS DE 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO PARANÁ 
 
 
Sergio Roberto de Souza Buco 
Universidade Estadual do Centro-Oeste 
Guarapuava - Pr 
Professor Orientador: Dr. Edgar Avila Gandra 
 
RESUMO: Esta pesqu isa p rocura s itua r o lugar, as cond ições e as 
rep resen tações da m u lher na h is to riogra fia e no ens ino bás ico do Estado do 
Paraná e busca ress ign ifica r o pape l da m u lher que desde a m u ito tem po 
esteve subm ida na H is tó ria. In ic ia lm en te busca fundam entação em d iversos 
estud iosos do tem a. E v im os o p rocesso de s ilenc iam ento a té o m om ento que 
as m u lheres desencade iam um processo de libe rtação do m ando m ascu lino a té 
sua em ancipação . E fina lm en te fo i ao cam po dos p ro fiss iona is da H is tó ria , 
especia lm en te den tro do recorte espacia l do C o lég io estadua l San ta C la ra e 
C asa F am ilia r R ura l, em C andó i. Está c la ro o que está posto com o idea l em 
re lação à m u lher e o ens ino de H is tó ria , e o que se m ostra com o lim ite a ser 
superado a partir desta pesqu isa . 
 
 
ABSTRACT: T h is research seeks to s itua te our p lace , cond itions and 
rep resen ta tions o f w om en in h is to ry and educa tion a t the s ta te o f Parana and 
search res ign ified the ro le o f w om en w ho have been sub jected to a lo t o f tim e in 
h is to ry . In itia lly look ing a t various reasons scho la rs o f the sub ject. And w e saw 
the p rocess o f s ilenc ing so far tha t w om en trigger a process of libe ra tion from 
m a le to send the ir em ancipa tion . And fina lly w en t to the fie ld o f p ro fess iona l 
h is to ry , pa rticu larly w ith in the space o f the C o llege s ta te cu t San ta C la ra and 
R ura l F am ily H ouse , in C andó i. C lea rly w ha t is ca lled as idea l for the w om an 
and the teach ing o f h is to ry and w ha t is show n as be ing beyond the lim it from 
th is research . 
 
 
PALAVRAS CHAVE: H istó ria das M u lheres. C on teúdos de H is tó ria . Educação 
Básica . Lu tas das M u lheres. Em ancipação fem in ina . 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
2 
 
 
 Esse traba lho de pesqu isa justifica -se em d ife ren tes n íve is , tan to no 
aspecto acadêm ico com o na questão soc ia l. A fina l, reconstru ir a tra je tó ria 
h is tó rica de exposição sobre as m u lheres nos m ateria is de ens ino utilizados na 
rede púb lica estadua l paranaense lança luzes para um a com preensão e 
res ign ificação do pape l desse segm ento soc ia l, que por m u ito tem po teve suas 
ações s ilenc iadas e subsum idas na h is toriogra fia . É d igna de no ta tam bém , a 
inse rção c idadã que rea lizam os ao d iscutir com os su je itos envo ltos nesse 
cenário sobre sua própria cond ição, p roporc ionando re flexões que m udem seu 
m odo de v ida . 
 Esta pesqu isa busca d iscu tir qua is são o lugar e a função que cabem à 
m u lher na H is tória , a pa rtir da aná lise dos con teúdos de H is tória m in is trados no 
Ensino Básico no Estado do Paraná e dos su je itos que fazem parte da 
associação da C asa F am ilia r R ura l (C F R ) e do C o lég io Estadua l San ta C lara 
(Esco la Base), em C andó i/P r. D esve la r essa p rob lem ática sugere um a 
m udança de postu ra e de ação pedagóg ica para am p lia r a c idadan ia fem in ina , 
ress ign ificando con teúdos e p rá ticas de ens ino . 
 P rocura s itua r o lugar das m u lheres na h is to riog ra fia , suas represen tações, 
seus papé is na H is tó ria e com o o ens ino se ocupa dessa questão . E deste 
m odo traba lhou sobre a h is to riogra fia e os con teúdos de H is tó ria p lane jados 
nos D C Es do Paraná , a p resença e a partic ipação das m u lheres nos espaços 
de poder e produção h is tó rica . 
 Ana lisa o s ilênc io ou a ausência das m u lheres d ian te do g rand ioso 
m ovim ento que a hum an idade fez pa ra chegar aos nossos d ias. In te rve io no 
p rocesso de ens ino com novas poss ib ilidades nas re lações de gênero e de 
en tender a m u lher com o ser de d ire itos igua is , se ja na v ida fam ilia r, soc ia l e 
po lítica . 
M etodo log icam ente traba lham os com a m em ória reav ivada das 
m u lheres cando ianas se lec ionadas fren te à ap reensão dos con teúdos 
m in is trados na área de h is tó ria. Porque recorre r a H is tó ria O ra l é fundam enta l, 
dev ido à im portânc ia de traba lhar com depo im entos de educadoras/es da C F R 
e do C EST AC (C o l. Est. San ta C la ra ). Lem brando que as (os) Educadoras (es) 
tive ram seus nom es p reservados e substitu ídos por nom es fic tíc ios pa ra 
p reservar suas iden tidades. 
O va lo r da H is tó ria O ra l consis te em que “[...] p riv ileg ia a rea lização de 
3 
 
en trev is tas com pessoas que partic ipa ram de , ou testem unharam , 
acon tec im en tos, con jun tu ras, v isões de m undo , com o form a de se aprox im ar 
do ob je to de estudo” (M E IH Y , 199 6). F o i u tilizada a en trev is ta tem ática de fina l 
aberto , que consis te em d irec ioná-la para um tem a específico , m as encam inhá-
la pa ra um fina l aberto , poss ib ilitando ao en trev is tado um a d inâm ica m a is 
espon tânea de exposição . 
O u tro aspecto a observar, re fe re -se à esté ril d iscussão de cred ib ilidade 
ou não da fon te ora l enquan to docum entação h is tó rica . N este sen tido , 
segu im os as a firm ações de Aspásia C am argo : “[...] a h is tó ria ora l é leg ítim a 
com o fon te po rque não induz a m a is e rros do que ou tras fon tes docum enta is ” 
(C AM AR G O , 1995 : 10 ), ou se ja, o docum ento o ra l é po rtador de sub je tiv idade 
tan to quan to o escrito . É neste lim ite que se dá o traba lho do h is to riador. 
A H is tó ria O ra l m an ifesta um a p ro funda p reocupação com a 
reconstrução da m em ória dos esquecidos, tendo especia l in te resse em dar voz 
àque les que nunca tiveram vez na h is to riog ra fia . N este sen tido, a través de 
en trev is tas, buscam os desencadear o processo de m em ória reav ivada das 
m u lheres na CF R e no C EST AC , m em ória que poderá fo rnecer in form ações 
para a com preensão do co tid iano das m esm as e das m an ifestações de 
res is tênc ia que não inc lu ídas nos m ate ria is d idá ticos. 
N ão se desconhece , no en tan to , a ex is tênc ia de d is tinções en tre 
m em ória e h is tória , com o observa An tôn io T orres M ontenegro : 
 
[...] o v iv ido que g uardam os em nossas lem branças e qu e 
c ircunscreve ou funda o cam po da m em ória se d is tin gue da h is tória . 
E ntre tanto, se são d is tin tos, arriscaríam os afirm ar tam bém que são 
inseparáveis . A fina l, com preendem os a h is tória com o um a construção 
que, ao resgatar o passado (cam po tam bém da m em ória), aponta 
para form as de exp licação do presente e pro je ta o fu turo. E ste operar, 
próprio do fazer h is tórico na soc iedade, encontraria em cada 
ind iv íduo um processo in terior sem elhante (passado, presente e 
fu turo) a través da m em ória (M O NT E N EG R O , 1992: 17). 
 
 
A m até ria desta pesqu isa insere -se tam bém naqu ilo que os h is toriadores 
vêem cham ando de H is tória Im ed ia ta ou H is tó ria do T em po P resente . Esta 
co rren te “[...] não se lim ita a quere r a tuar com rap idez de re flexos; quer 
constru ir-se a partir de a rqu ivos v ivos que são os hom ens” (LACOUTRE, 1978: 
316). Através dosdepo im entos desses "a rqu ivos v ivos" loca lizados no 
con tem porâneo do p rocesso h is tó rico , haverá reconstrução, em parte , de suas 
4 
 
v idas d iá rias. O s depo im entos se rão transcritos com a m a io r fide lidade 
possíve l. A lém do respe ito às entrev is tados, ta l com o observa Verena A lberti 
“[...] a m anutenção do d iscurso ta l qua l p ro fe rido é m a is um dado para 
apreender o c lim a da en trev is ta e as especific idades dos estilos de cada 
en trev is tado” (ALBER T I, 1990 : 1 -2 ). 
N essa pesqu isa há a p reocupação de in te r-re lac ionar as in fo rm ações 
con tidas nos depo im entos com os docum entos escritos, no caso os con teúdos 
m in is trados. A fina l, 
 
“O s critérios que norte iam 1
 
1 Contrapomos a expressão “norteiam” com a correspondente “suleiam”, significando a valorização do 
hemisfério sul da Terra, como forma de dizer não ao império dos USA, como paradigma imposto ao Sul. 
 a se leção docum enta l são defin ido s 
h is toricam ente. C onstituem -se de e lem entos qualificad ores da cu ltura 
po lítica ; in form am sobre a entidade, a época na qual está inserida e a 
necess idade de legar testem unhos v ita is . O s docum entos não 
e lim inados sã o aqu eles qu e se configuram com o essências para a 
com preensão da própria soc iedade (LO P E Z , 1996: 24). 
 
 
Esta observação é pertinen te , po is as m u lheres m u itas vezes têm 
acesso a docum entos que ev idenciam a ação a tiva das m esm as na h is tó ria 
sem , con tudo , dar a dev ida im portânc ia aos m esm os. 
N este caso , é p rec iso te r cu idado para não fazer genera lizações sem 
base nem tom ar com o fa tos o que são apenas ind íc ios, tendências ou 
poss ib ilidades. 
Apesar dessa observação , conside ram os as p rá ticas de ens ino que 
dem onstrem o pape l a tivo das m u lheres na his tó ria um a form a de res is tênc ia e 
lu ta po r d ire itos, um tem a h is to riográ fico e soc ia lm en te s ign ificativo , de m odo a 
m erecer o m e lhor de nosso esfo rço para desenvo lvê -lo , m esm o nos lim ites que 
fica ram ev iden tes ao longo da pesqu isa . 
 Ass im , estudar a questão das m u lheres com o “personagens s ilenc iadas” 
é um a ten ta tiva de reconhecer a m u lher na h is tó ria com o ser hum ano que 
deveria esta r em igua ldade de cond ições m ate ria is e ju ríd icas com os hom ens. 
 A partir deste foco de pesqu isa , p rocuram os fundam enta r nosso traba lho 
na h is to riogra fia sobre a m u lher. N ão apenas ana lisando a m u lher em funções 
secundárias, m as observando-a den tro do seu pape l soc ia l, com o lem bra 
M iche lle Perrot (1998 : 167), ou se ja , a ação das m esm as na h is tória , no espaço 
po lítico , no espaço de “poder”, de dec isão . 
5 
 
 É neste con texto que Perro t a firm a em sua obra “O s exc lu ídos da 
h is tó ria ” (PER R O T , 1998 : 167): 
 
A s re lações das m ulheres com o poder inscrevem -se prim eiram ente 
no jogo de pa lavras. ‘P oder’, com o m uitos outros, é um term o 
po lissêm ico. N o s ingular, e le tem um a conotação po lítica e des igna 
bas icam ente a figura centra l, cardeal do E stado, que com um ente se 
supõe m asculina. N o p lura l e le se estilhaça em fragm entos m últip los, 
equiva lente a ‘in fluências ’ d ifusas e periféricas, onde a s m ulheres têm 
a sua grande parce la . 
 
 
 O nó está constru ído , de fo rm a in trincada . C abe a nós desfazê-lo pa ra 
que possam os en tender a dem anda por um lugar ao so l ou o reconhecim ento 
por equ iva lênc ia na re lação de gêneros. M as ex is te espaço da m u lher na 
h is tó ria , h is tó ria não som ente com o rea lidade m ate ria l, de fato , m as tam bém 
enquan to e laboração (m em ória ) do desenro la r da v ida hum ana sobre a te rra? 
É R . So ihe t que destaca a d ivers idade de cond ições da m u lher, com o a soc ia l, 
é tn ica , rac ia l, re lig iosa , sua tra je tória m arcada pe las d ife renças, justificando , 
po rtan to , a “h is tória das m u lheres” (SO IH ET , 1997 : 275). E o estudo da h is tó ria 
das m u lheres s itua-se no con texto da H is tória C u ltu ra l, e nesta , a pa rtir do 
estudo das tem áticas e dos g rupos soc ia is , onde as m u lheres são tra tadas 
com o ob je to e su je ito da h is tória . Sa i da h is tó ria escond ida na esfe ra privada 
para o espaço púb lico , à m ed ida “em que a m u lher asp ire à a tuação no âm b ito 
púb lico , usurpando papé is m ascu linos” (SO IH ET , 1997 : 275). Esta questão do 
m ando , do poder m ascu lino é assun to pa ra a seqüência . Por ho ra nos a tem os 
ao fio condu to r destas re ferênc ias. E é M iche lle Perro t que nos m ostra o que 
va i aos bastidores da h is tó ria m ascu lina, na soc iedade francesa do sécu lo X IX , 
fazendo parte do con jun to do poder, a inda que não aparen te , no tec ido soc ia l. 
D iz : 
 
S egundo um v ia jante ing lês, dos anos de 1 830, ‘em bora 
jurid icam ente as m ulheres ocupem um a posição em m uito in ferior ao s 
hom ens, e las constituem na prática o sexo superior. E las são o poder 
que se ocu lta por detrás do trono e, tanto na fam ília com o na s 
re lações de negócios, gozam incontestave lm ente de um a 
consideração m aior que as ing lesas (P E R R O T, 1998: 168). 
 
 
 E é possíve l v is lum bra r esse con texto a inda ho je nos m até rias de ens ino 
púb lico e na rea lidade paranaense . 
 N a rea lidade o que os h is to riadores e , com m a is p ropriedade , as 
6 
 
h is to riadoras têm buscado é supera r um a h istó ria sem qua lidade . C om o d iz M . 
Perro t, se “qu is substitu ir a represen tação dom inan te de um a dona de casa 
ins ign ifican te , neg ligenciada e neg ligenciável, op rim ida e hum ilhada , pe la de 
um a ‘m u lher popu la r e rebe lde ’, ativa e res is ten te , guard iã das subsis tênc ias, 
adm in is tradora do orçam ento fam ilia r, no centro do espaço u rbano” (PER R O T , 
1998 : 172). E a pa rtir deste poder reconhecido das m u lheres, resta saber o que 
e las re iv ind icam . O que, a liás, dada a busca de aná lise do poder das m u lheres, 
segundo Perro t, “é tam bém um jogo de poder” (PER R O T , 1998). 
 O s h is to riadores têm d ive rsas aná lises para o fa to das m u lheres 
perm anecerem s ilenc iadas ao longo da h is tória . A lguns a firm am a ex is tênc ia de 
m atria rcados que teriam desaparec ido, segundo os m arx is tas, dentre ou tros, 
com surg im en to da propriedade privada e com o casam ento burguês 
m onogâm ico , segundo Enge ls , c itado por Perro t (1998 : 173). E que te ria s ido 
com o m atria rcado que e las te riam institu ído o d ire ito com o fo rm a de 
p ro tegerem -se da “lub ric idade dos hom ens” (PER R O T , 1998 : 175). Por seu 
tu rno , a inda o m arx ism o, vê a so lução para esta con trad ição secundária com o 
fim da con trad ição p rinc ipa l e com “a instauração da soc iedade sem c lasses 
com a m udança do m odo de p rodução” (SO IH ET , 1997 : 276). 
 Em sua obra , “H om em e m u lher: im agens da esquerda”, H obsbaw m 
com eça sa lien tado o descon ten tam ento das m u lheres em re lação ao traba lho 
dos h is toriadores, inc lus ive os m arx is tas, que “ignoraram g rosse iram ente a 
ou tra m etade fem in ina da raça hum ana”. R econhece que é p rec iso co rrig ir esta 
de fic iênc ia , m as sem cria r “um ram o especia lizado da h is tó ria que tra te 
exc lus ivam ente das m u lheres,porque na soc iedade hum ana os do is sexos são 
inseparáve is” (H O BSBAW M , 1998 : 143). 
 U m fa tor dec is ivo pa ra a em ergência da H is tó ria das M u lheres fo i o 
m ovim ento fem in is ta que acontece a pa rtir dos anos 60 , nos EU A, e nos anos 
70 , na F rança , a partir das un ive rs idades em s in ton ia com os m ovim entos 
soc ia is , a través de cu rsos, pesqu isas, bo le tins e rev is tas ded icadas à tem ática 
das m u lheres. 
 D essa fo rm a, d iscu tim os e lem entos h is tó ricos do p rocesso de 
em ancipação da m u lher, na questão de re lação de gênero , na busca de 
libe rtação da cu ltu ra m ach is ta e da igua ldade de d ire itos em C andó i, em 
consonância com o con texto de o rgan ização e lu ta m und ia l da m u lher. 
Lem brando que “a em ergência da h is tó ria das m u lheres com o um cam po de 
7 
 
estudo não só acom panhou as cam panhas fem in is tas para a m e lhoria das 
cond ições p ro fiss iona is , com o envo lveu a expansão dos lim ites da h is tória ! 
(SO IH ET , 1997 : 277). É So ihe t que c ita S im one de Beauvo ir e sua obra O 
Segundo Sexo , e d iz que a m u lher “ao v ive r em função do ou tro , não tem 
p ro je to de v ida própria ; a tuando a se rv iço do pa tria rcado , su je itando-se ao 
p ro tagon is ta e agen te da h is tória : o hom em ” (SO IH ET , 1997 : 278). E é a 
m esm a au tora que faz um a rad iogra fia do que por longo tem po fo i cons ide rado 
com o a lgo instin tivo e , po rtan to , na tu ra l das m u lheres. F azendo refe rênc ia a 
h is to riadores norte -am ericanos, d iz que estes “en fatizam a va riedade de 
traba lhos essencia is e não rem unerados pe las m u lheres, ta is com o o traba lho 
dom éstico , a a tiv idade no cam po, costu ra , coz inha e a criação dos filhos. 
M u itas adap taram ao novo con texto u rbano estra tég ias rura is de acrésc im o à 
renda fam ilia r, “criando e vendendo ga linhas, ovos e vege ta is” (SO IH ET , 1997 : 
285). E ligado d ire tam ente às ativ idades exerc idas pe las m u lheres, está as 
d ificu ldades en fren tadas por e las ao ocuparem os espaços considerados de 
hom ens. N estes espaços so fre ram asséd io, hostilidade dos com panhe iros, 
im ped im ento para partic ipa r dos s ind icatos. E a inda se esperava de las o 
exem p lo de v ida , de v irtude , subm issão . Porém fo i esta s ituação que as levou a 
reag irem com o fo rm a de res is tênc ia e rebe lião . 
 
 
As mulheres e o mundo do trabalho contemporâneo 
 
 Em se tra tando do traba lho fem in ino , su rg iu a p reocupação dos 
h is to riadores de não separar o traba lho assa la riado do traba lho dom éstico . O 
lite ra to ho landês, W im D ie rckxsens, a través do personagem de Suzana (em 
“Suzana e o m undo do d inhe iro ”), questiona a desva lo rização do traba lho 
dom éstico que era a tribu ído às m u lheres. D iz : 
 
C om o S uzana estaria de fo lga, a m ãe lhe pediu a juda em a lgum as 
tarefas de casa. S uzana conhecia bem as o brigaçõe s de sua m ãe . 
A penas estranhava que os adultos não ch am assem isso de trabalho . 
P or um a questão de costum e, as m ães d iz iam que se dedicavam a 
cu idar do lar, enq uanto seus m aridos trabalhavam fora para trazer 
d inheiro para casa (D IE R C K XS E N S , 2007: 17). 
 
 
 Suzana escreveu a Vovoso . Este p rocurou responder aos seus 
8 
 
questionam entos. E d iz ia que ho je tudo está em função do d inhe iro . Vovoso 
fa la de do is m odos de ver o m undo . U m apenas pe lo lado do d inhe iro e ou tro 
pe lo lado prazeroso da v ida . D iz : 
 
O s antigos econom istas, no tem po que o d inheiro não era tão 
im portante com o hoje , conheciam m uito bem esses do is m odos de 
ver o m undo [...]. H oje , porém quem m anda é o d inheiro : tudo é 
d inheiro . Isso leva a econom ia a reconh ecer com o tra balho som ente 
aquele trabalho que gera d inheiro . Q ualquer trabalh o que não dá 
d inheiro nã o conta na econom ia m oderna. A ss im , por exem plo, se 
você a juda a su a m ãe em casa, isso não é consid erado trabalh o 
(D IE R C K XS E N S , 2007: 23). 
 
 
 Suzana p ro testa an te ta l consta tação : "M as com o não é traba lho!? O ra ! 
M e custa o m a io r esfo rço lava r os p ra tos, a rrum ar os quartos! exc lam ou 
Suzana , revo ltada , acrescen tando : E a m am ãe faz isso todos os d ias? !" 
(D IER C KXS EN S, 2007 : 23 ) 
 C om a revo lução industria l exacerbou-se a d iv isão soc ia l e sexua l do 
traba lho , en tre o traba lho dom éstico (não rem unerado) e o traba lho exte rno 
(rem unerado). E as m u lheres traba lhavam a té casarem -se , en tendendo que 
após o casam ento os hom ens deveriam ganhar o sufic ien te pa ra susten tar sua 
fam ília . M esm o ass im , era m u ito pequeno o núm ero de m u lheres que 
traba lhavam fo ra de casa a té a v irada do sécu lo X IX . N o entan to , com o 
nenhum dos do is tinha d ire itos po líticos garan tidos, as m u lheres tinham um 
peso s ign ifica tivo de partic ipação nas lu tas soc ia is . H obsbaw m , no en tan to, 
lem bra que , se por um lado , “os operá rios se apo iavam em um a ideo log ia de 
igua ldade e em ancipação sexua l, enquan to, na p rá tica , desencora java a rea l 
pa rtic ipação con jun ta de hom ens e m u lheres no p rocesso do traba lho enquan to 
traba lhadores” (H O BSB AW M , 1998 : 157). Em sín tese , o m ovim ento pro le tário , 
con tra riando suas in tenções, expressava a m ascu lin idade essencia l da lu ta , 
com o o e ra an terio rm ente à época das lu tas p lebé ias. D iz H obsbawm : “Poderia 
esta r c la ra agora a razão pe la qua l, pa radoxa lm ente , a m udança h is tó rica de 
um a era de m ovim entos p lebeus e dem ocrá ticos para um a era de m ovim entos 
p ro le tá rios e soc ia lis tas acarre tou , iconogra ficam ente , o dec lín io do pape l da 
m u lher” (H O BSBAW M , 1998 : 158). Com o e le se re fere an te riorm ente , “na 
iconogra fia da esquerda , a figu ra fem in ina se m anteve m a is com o um a im agem 
da u top ia : a deusa da libe rdade , o s ím bo lo da v itó ria , a figu ra que apontava 
para a soc iedade perfe ita do fu tu ro ” (H O BS B AW M , 1998 : 158). 
9 
 
E o caso de Suzana (m esm o sendo um a obra de ficção), se rve para 
ilustra r com o se dá este processo de d iv isão sexua l do traba lho . D e ce rta fe ita 
esta estava na esco la e pôs-se a observar o com portam ento dos m en inos, 
com o e ram arrogan tes e m etidos. E en tende que o m undo dos garo tos está “de 
pon ta cabeça”, com o costum ava a firm ar. Conclu i que ”e ram tre inados desde 
m u ito cedo , m en inos e m en inas, pa ra papé is com p lem entares v isando garan tir 
que tudo con tinuasse de pon ta-cabeça (D IER C KXSE N S, 2007 : 40 ). 
Suzana , sem pre em con flito com as questões do m undo , do traba lho e 
das m u lheres, recorria segu idam ente ao seu avô (econom ista que v iv ia em 
v iagens), a través de ca rtas. Por m e io destas chegavam em sua casa as 
exp licações: 
 
 V ovoso ia ad iante, exp licando que os antigos eco nom istas eram 
capazes de entender e associar o trabalho à v ida e à fe lic idade. T od o 
o trabalho qu e contribuía para dar fe lic id ade a o hom em era 
considerado parte da econom ia, a inda q ue nã o ho u vesse d inheiro 
envolv ido na sua execução. S egundo esse ponto de v is ta , quando 
você a juda a sua m ãe, querida S ussu, sem dúvida, rea liza um 
im portante trabalho, tão im portante quanto o trabalhoque o seu pa i 
rea liza em troca de d inhe iro . A d iferença consis te , justam ente, em ser 
o trabalho de seu pa i um trabalho pago, rem unerado, enquanto o d e 
sua m ãe e o se u, em casa, não ser rem unerad o, a firm ava o avô 
(D IE R C K XS E N S , 2007: 23-24). 
 
 
M a is ad ian te , após de fin ir m e lhor a sua análise sobre a fo rm ação das 
m u lheres para a v ida dom éstica , desva lorizada e de se rv iço aos hom ens, o 
com entaris ta da obra a firm a : 
 
A ju lgar p e la g eração d e seus pa is – em bora V ovosa fosse um a 
exceção na fam ília – a m aior ia esm agadora das m ulheres estava 
sem pre condenada aos trabalhos dom ésticos. M esm o entre suas 
co legas, percebia que p oucas se davam conta d isso, ou se insurg ia m 
contra esse pape l qu e tentavam lhes destinar (D IE R C K XS E N S , 2007: 
40). 
 
 
 A lexandra Ko lon ta i, em sua obra A nova m u lher e a m ora l sexua l, do 
in íc io do sécu lo XX , faz um confron to a respe ito do lugar destinado à m u lher de 
fo rm ação burguesa , com a m u lher de novo tipo , já den tro da soc iedade 
soc ia lis ta , da R ússia revo luc ionária . Ao ana lisa r o processo de ocupação dos 
espaços de traba lho , as m u lheres, destaca Ko lon ta i, estão nas file iras 
p ro le tá rias, a lém de terem p ro fissão e se ocupam da c iênc ia e da a rte . D iz : 
 
A s re lações de prod ução, que d urante tantos século s m antiveram a 
10 
 
m ulher trancada em casa e subm etida ao m arido, que a sustentava, 
são as m esm as que, ao arrancar as correntes enferru jadas que a 
apris ionavam , im pelem a m ulher frág il e inadaptada à lu ta do 
cotid iano e subm etem à dependê ncia econôm ica d o capita l (...). D á-
se conta, com assom bro, de toda inutilidade do equ ipam ento m ora l 
com que a educaram p ara percorrer o cam inh o da v ida. A s v irtudes 
fem in inas – pass iv ida de, subm issão, doçura – q ue lhe fora m 
incu lcadas d urante séculos, tornaram -se a gora com pletam ente 
supérfluos, inúte is e pre jud ic ia is . A dura rea lidad e ex ige o utras 
qualida des nas m ulheres trabalhadoras (K O LO NT A I, 2007: 17). 
 
 E com p le ta d izendo que estas v irtudes ex ig idas da m u lher são aque las 
que e ram conside radas com o p ropriedade dos hom ens, com o firm eza, dec isão 
e energ ia. Lem brando que as cond ições an te rio res da fam ília fo ram perd idas, 
“ao passar do aconchego do lar para a ba talha da v ida e da lu ta de c lasses ” 
(KO LO N T AI, 2007 : 17) e a M u lher deve a rm ar-se com as m esm as cond ições 
que seu com panhe iro já tinha há m u ito tem po. 
 Esta abordagem é m u ito s ign ificativa pa ra nos a judar en tender os 
p rocessos de subm issão e pe rca da ind iv idua lidade da m u lher ao longo do 
p rocesso h is tó rico e nos fo rnece subsíd ios pa ra um a tom ada de consc iênc ia 
fem in ina , na lu ta pe la v ida e à busca de seu lugar na H is tó ria . Podem os fechar 
esta re flexão a inda com Ko lon ta i: “A M u lher transfo rm a-se g rada tivam ente . E o 
ob je to da tragéd ia m ascu lina converte -se em su je ito de sua p rópria tragéd ia ” 
(KO LO N T AI, 2007 : 26). 
 A H is to riadora C e lene T one lla levan ta ou tra questão no vasto cam po 
h is to riog rá fico em p rocesso de construção . C onsta ta que no d ram a co tid iano 
de lu ta pe la sobrev ivência é possíve l iden tifica r rostos. Seu traba lho d iscu te , 
num a s ituação específica de pesqu isa , as m u lheres pobres enquan to a to res 
h is tó ricos. 
 A h is to riadora tra ta da re lação do pesqu isador e os su je itos 
pesqu isados, que no caso estão na ca tegoria de m inorias, com suas s ituações 
específicas de de term inan tes b io-cu ltu ra is . Sua pesqu isa é rea lizada a pa rtir de 
fichas cadastra is da C O H AB U n ião da V itó ria , de Londrina , Paraná . F oram 
observados dados com o esco la ridade , renda fam ilia r, p rocedência an te rio r, 
loca l de nasc im en to . E o núm ero de pessoas em cada fam ília. Vencida a 
ten tação de traba lhar os núm eros, a au to ra d iz : “T ive a sensib ilidade para 
perceber a ex is tênc ia de dram as hum anos por traz dos núm eros que as tabe las 
só se rv iriam para neu tra liza r” (T O N ELLA , 1994 : ...). 
U m a de suas opções de traba lho d iz respe ito a opção de p rocura r os 
11 
 
su je itos in fo rm es do anon im ato e da r-lhes algum a iden tidade , respe itando as 
lim itações dos docum entos. Lem bra que em um quadro de p ro funda m isé ria , 
aba ixo da linha de pobreza , onde todos os lim ites do razoáve l fo ram rom p idos, 
in te ressa saber com o é que são v ivenciados os papé is sexua is soc ia lm en te 
a tribu ídos aos ind iv íduos. 
 T ra ta tam bém da questão de che fe de fam ília , da m ascu lin idade e de 
com o as m u lheres se to rnam provedoras de seus filhos, m orm ente por 
abandono de seus m aridos. Ass im sendo , “o fa to da m u lher arca r soz inha com 
as responsab ilidades da fam ília e da casa é um a a titude ava liada soc ia lm en te 
com o de em ancipação” (T O N ELLA , 1994 : 201). U m a lis ta de m u lheres, idade , 
p ro fissão e filhos, dão con ta de inúm eras s ituações em que v ivem aque las 
fam ílias. E dá consta ta que aque las m u lheres com suas fam ílias não 
d ispunham , naque le con texto , com p ra ticam ente nenhum suporte soc ia l, com o 
creches e redes de saúde , para a liv ia r o fardo da lu ta pe la sobrev ivência . 
 U m ú ltim o aspecto é destacado neste quadro, quando a ato ra pe rgun ta : 
“Por que , m esm o em s ituações de extrem a carência , as m u lheres não 
abandonam seus filhos?” (T O N ELLA , 1994 : 202). E la evoca os cam pos da 
ps ico log ia e da b io log ia , m as destaca a teo ria de que “um a v ida m arcada por 
so frim en to in tenso faz com que ha ja um en fraquecim ento das fronte iras do eu 
que são substituídas pe las fron te iras do grupo” (T O N ELLA , 1994 : 202). E 
A lessandra Ko lon ta i vem com p le ta r este quadro quando d iz : “N ecess ita de 
com panhe iras com um a ind iv idua lidade capaz de p ro testar con tra toda 
se rv idão , que possam ser conside radas com o um m em bro a tivo , em p leno 
exercíc io de seus d ire itos, e , conseqüen tem ente , que s irvam à co letiv idade e à 
sua c lasse” (KO LO N T AI, 2007 : 23 ). A inda que para isso acon tecer, com o fo rm a 
de superação de sécu los de dom inação e sub jugação fem in inas, tenham que 
fazer o en fren tam ento , po is no d izer de Ko lonta i 
 
A força dos séculos é dem asiado grande e pesa sobre a m ulher do 
novo tipo. O s sentim entos atáv icos perturbam e debilitam as nova s 
sensações. A s ve lhas concepções da v ida prendem o espírito da 
m ulher que b usca a libertação. O antigo e o novo se encontram em 
contínua hostilidade na a lm a da m ulher (K O LO N T AI, 2007: 25). 
 
 
 A fa la de A lessandra Ko lonta i pode se r ana lisada sob duas perspectivas. 
U m a faz re fe rênc ia à m a io r das revo luções burguesas, que fo i a revo lução 
industria l, que conseqüentem ente tirou a m u lher da v ida dom éstica pa ra o 
12 
 
m undo do traba lho . A ou tra se re fere especificam ente à revo lução russa de 
1917 , que por um s ign ifica tivo tem po traba lhou na perspectiva de libe rtação e 
em ancipação da M u lher. 
 As D ire trizes C urricu la res Estadua is do Ensino Básico do Paraná não 
têm um a ocupação deta lhada sobre a questão da H is tó ria das m u lheres. 
D iscu te sobre osfundam entos teó rico -m etodo lóg icos, as co rren tes 
h is to riog rá ficas, ap resen tando e ana lisando os lim ites e con tribu ições de cada 
um a. D iz o docum ento : 
 
A s correntes h istoriográficas N ova H is tória , N ova H istória C ultura l e 
N ova E squerda Ing lesa se desenvolveram , esp ecia lm ente, n a 
segunda m etade do século X X e propuseram , de u m a form a m ais 
rad ica l, a construção de um a nova rac ionalidade não-linear d o 
pensam ento h is tórico sem e lim inar as necessárias contribu ições d a 
antiga rac ionalid ade (D C E de H is tória , 2008). 
 
 
N o que tange à questão da tem ática ou da H is tó ria das m u lheres, os 
D C E do Estado do Paraná apenas apon tam para a questão de gênero e sexo , 
tendo com o p reocupação m ostra r o quê , com o e porque traba lhar na H is tó ria . 
D iz : 
 
C abe lem brar que as prob lem áticas do prese nte de vem buscar na 
H is tória os m ecanism os que constitu íram os processos h is tóricos 
atua is , ta is com o fom e, des igualdade e a exc lusão soc ia is , confrontos 
identitários (ind iv idual, soc ia l, é tn ica, sexual, de g ên ero, de idad e, 
reg ionais e n ac ionais). P ode-se esco lher conteú d os específicos 
c láss icos (com o a R evolução industria l n a Ing la terra n o século XV III, 
a form ação da R epública no B ras il, entre outros) e , a partir de les, 
se lec ionar tem as que perm itam co locar em d iscussão a s 
prob lem áticas contem porâneas. P or exem plo, no conteúd o 
R evolução Industria l, o professor poderá esco lher um recorte 
h is toriográfico m arcado pe la tem ática de gênero, ta l com o a proposta 
pe la h is toriadora francesa M ichelle P erro t (D C E de H istória , 2008). 
 
 
 Ao fina l os D C E são encerados com pa lavras que rea firm am a 
fina lidade do estudo da H is tó ria com o fe rram enta para os su je itos que de la se 
u tilizam em sua fo rm ação esco la r e na poss ib ilidade de inse rção a tiva na 
H is tó ria do tem po p resente . D iz : 
 
D eseja-se que ao fina l do trabalh o na D isc ip lina de H is tória , os a lunos 
tenham condições de ide ntificar processos h is tóricos, reconhecer 
criticam ente as re lações de poder ne les ex is tentes, bem com o que 
tenham recursos para in terv ir no m eio em que v ivem de m odo a se 
fazerem tam bém suje itos da própria H is tória (D C E, 2008). 
 
13 
 
 
F e itas estas ressa lvas, cabe apon tar o que está p roposto no estudo 
sobre as m u lheres na H is tó ria a partir dos con teúdos propostos ao Ensino 
F undam enta l e Ensino M éd io . 
 Por sua vez, os con teúdos propostos no Ensino Básico do Estado do 
Paraná , trazem d ive rsos m om entos e poss ib ilidade de traba lha r a H is tória das 
M u lheres, a pa rtir de d iferen tes con textos h is tó ricos. Porém e les aparecem 
com o apênd ices de con teúdos m a io res. 
 D este m odo podem os enum erar os segu in tes m om entos em que ta is 
poss ib ilidades acon tecem (C O N TE Ú D O S B ÁS IC O S – H IS TÓ R IA, 2008 ): 
• no segundo tem a da 5ª sé rie , “O s su je itos e sua re lação com o ou tro no 
tem po (a re lação com o m undo): as soc iedades com un itárias, as 
soc iedades m atriarca is , as soc iedades pa triarca is ”. 
• no do tem a da 6ª sé rie , “As re lações de propriedade : a fam ília e os 
espaços privados: a soc iedade pa tria rca l bras ile ira a constitu ição do 
la tifúnd io na Am érica portuguesa e no B ras il im peria l e repub licano”. 
• no quarto tem a da 6ª série , “Conflitos, res istênc ias e produção cu ltu ra l 
cam po/c idade : a h is tó ria das m u lheres orien tais , a fricanas e ou tras”. 
• no quarto tem a da 7ª série , “As res is tênc ias e as conqu is tas de d ire ito : o 
m ovim ento su frag is ta Fem in ino ” e “os ho m ens, as m u lheres e os 
hom ossexua is no B ras il e no Paraná”. 
• no te rce iro tem a da 8ª série , “G uerras e revo luções: os m ovim entos 
soc ia is : po líticos, cu ltu ra is e re lig iosos (...): os m ovim entos pe la 
redem ocra tização do B ras il (ca restia , fem in is tas, e tno rac ia is e 
estudan tis”. 
• no quarto tem a do Ensino m éd io , “O s su je itos, as revo ltas e as guerras: 
R e lações de dom inação e res is tênc ia nas soc iedades grega e rom ana 
na An tigu idade grega e rom ana : m u lheres, crianças, estrange iros e 
escravos” e “R e lações de dom inação e res is tênc ia na soc iedade 
m ed ieva l: cam poneses, a rtesãos, m u lheres, he reges e doen tes”. 
• no qu in to item do Ensino M éd io , “M ovim entos soc ia is , po líticos e 
cu ltu ra is e as guerras e revo luções: a m u lher e suas conqu is tas de 
d ire itos nas soc iedades con tem porâneas”. 
 
 F e ito este inven tá rio do que tem de con teúdos de H is tó ria re feren te às 
14 
 
m ulheres, fica a im pressão de que a H is tó ria tem um nom e fem in ino , m as seu 
con teúdo é quase todo m ascu lino . En tendem os que os dem a is con teúdos, no 
seu desenvo lv im en to , re tom am a tem ática em questão . P rec isam os saber o 
quan to e com o e la é tra tada . C om o ana lisa a pesqu isadora Ange la R ibe iro 
F erre ira em sua d isse rtação de m estrado : “É o caso da inc lusão da h is tó ria das 
m u lheres nos m ateria is d idá ticos, po is não se faz ob riga tório que os liv ros 
con tinuem trazendo um a h is tó ria com fio condu to r m ascu lino , a H is tó ria 
ens inada pode se r d iferen te desta que vem sendo ensinada há sécu los” 
(F ER R EIR A , U EPG : 2006). 
F ica , en tão , a poss ib ilidade de exam inarm os os “liv ros d idá ticos”, um a 
ta re fa bastante extensa , po rém possíve l e que gosta ríam os de rea liza r no 
segundo ano do PD E. 
 
 
As (os) educadoras (es) da história no CESTAC e na CFR 
 
 In ic ia lm en te os educadores e as educadoras fo ram questionados sobre 
os assun tos concernen tes à m u lher na H is tó ria , a m u lher com o su je ito ou com o 
agen te da H is tó ria . 
 En trev is tados, os (as) Educadores (as) responderam confo rm e seu g rau 
de experiênc ia , de consc iênc ia e /ou conhecim ento da questão , con form e o 
foco da pesqu isa . O P ro fessor A ri a firm ou que a “abordagem da M u lher é 
pouco traba lhada no Ensino de H is tó ria , no que d iz respe ito ao Ensino Básico . 
F a lta um apro fundam ento de questões re levan tes sobre a pa rtic ipação fem in ina 
na construção do p rocesso h is tórico (D epo im ento : 2008). 
 A P ro fessora Luc i d isse : “N em sem pre . N ão aparece nenhum conteúdo 
específico sobre a m u lher” (D epo im ento : 2008). 
 A P ro fessora E lis a firm ou : “Depende de com o pro fessor conduz sua 
au la , po is a inda ho je vem os que a questão da m u lher no ens ino de h is tória fica 
em segundo p lano” (D epo im ento : 2008). 
 O P ro fessor Leandro d isse : “G era lm en te , é p rocurado traba lha r na 
fo rm ação de nossa soc iedade (e de ou tras) a d iv isão por gênero . O pape l 
destinado a cada um e a conseqüen te subm issão do fem in ino ao m ascu lino ” 
(D epo im ento : 2008). 
15 
 
A P ro fessora M aria dos An jos fo i um pouco a lém , reve lando sua 
cam inhada, a experiênc ia e as cond ições de traba lho de educadores e 
educadoras. D isse : 
T rabalhada é, m as a inda de m aneira insufic iente. E ste trabalho va i 
depender d a form ação dos professores, do m ateria l d isponíve l o u 
se lec ionado, da aborda gem fe ita dos conteúdos e tam bém do 
contexto cu ltura l em que a “esco la” está inserida. Q uando no m aterial 
usado aparece o “hom em ” com o obje to de estudo d a d isc ip lina d e 
H is tória , os professores devem esc larecer que o term o hom em está 
re ferindo-se ao ser hum ano (hom em e m ulher), po is a té esta s im ples 
questão pode soar com o se estivesse se re ferindo ap enas aos sere s 
m asculinos para os a lunos (M . dos A njos, D epoim ento, 2008). 
 
N a seqüência a P rofessora M . dos An jos lem brou sobre a prim e ira vez 
que a lguém questionou o uso da pa lavra “hom em ” com o um a fo rm a genérica 
de se re fe rir a hom em e m u lher, na D eclaração de D ire itos de 1789 no sen tido 
de se r hum ano do sexo m ascu lino e não se re fe rindo à hum an idade em gera l. 
A firm ando ser “a escritora francesa O lym pe de G ouges e acabou gu ilho tinada 
em 1793” (D epo im ento , 2008). 
O P ro fessor G ilson a firm a que no âm b ito un ive rs itá rio cresce o in te resse 
pe la pesqu isa do m undo fem in ino . E le a tribu i o desperta r do in te resse por este 
tem a à Esco la dos AN N ALES que fo i um m arco de m udanças 
h is to riog rá ficas e de inc lusão de tem as a té en tão ignorados pe la H is tó ria . 
Lem bra que apesar dos avanços conqu is tados, “a questão da m u lher não é 
tra tada no Ensino da H is tó ria com o deveria , sendo pouco traba lhado , ficando 
apenas no in teresse de educadores autod ida tas e que se a fastam dos liv ros 
d idá ticos” (D epo im ento , 2008). D e acordo com a aná lise da Pro fessora 
an te rio r, o P ro fessor G ilson tam bém a tribu i a responsab ilidade ao educador, à 
sua fo rm ação e (o que ou tros não hav iam c itado) ao ‘au tod idatism o ’. 
O u tro questionam ento tratou sobre onde e com o aparece a M u lher nos 
con teúdos de H is tó ria do C urrícu lo Básico do Estado . O P r. O P ro fessor A ri 
a firm ou que “Há um a va lo rização consideráve l sobre a pa rtic ipação da M u lher 
[...] N o liv ro (F o lhas) p roduzido para o Ensino M éd io , tem os textos que 
abordam a partic ipação fem in ina com o su je ito na construção processo 
h is tó rico , e que superam outros liv ros, onde a abordagem é irre levan te 
(D epo im ento : 2008). 
A P ro fessora Lucí traz do is con textos h is tó ricos de re levância, um tanto 
16 
 
quan to nega tivas, no que se re fe re à m u lher com o parte da c lasse 
traba lhadora . E la cham a a a tenção da m em ória do is m om entos d is tintos e 
opostos do pon to de v is ta do Traba lho enquan to produção das cond ições de 
v ida , o da exp lo ração e o da escrav idão . D iz : “Poderíam os c ita r, na R evo lução 
Industria l, o traba lho da M u lher e da criança . N as re lações de traba lho 
escravocra ta , com o m ucam a e am a de le ite ” (D epo im ento : 2008). O que , a liás, 
é endossado por M arx quando ana lisa o processo da revo lução industria l: 
 
Q uanto m ais se desenvolve a indústria , tanto m ais o trabalho do 
hom em é substitu ído pe lo das m ulheres. D iferenças de idade e d e 
sexo não têm m ais va lidade d is tin tiva soc ia l p ara a c lasse 
trabalhadora. S ão todos instrum entos de traba lho, m ais ou m eno s 
caros, para serem usados de acordo com sua idade e sexo” (M A R X, 
2008: 21). 
 
 
 A P ro fessora E lís a firm a que a M u lher não aparece nos con teúdos de 
H is tó ria , po is “o estudo da m u lher com o um todo não cabe dentro dos 
con teúdos propostos nas esco las, e quando aparece em a lguns liv ros d idá ticos 
fo rnec idos pe lo governo , estão nos ú ltim os cap ítu los cam uflados em ou tros 
con teúdos, d itos m a is re levan tes” (D epo im ento : 2008). 
 O P ro fessor Leandro re ite ra a cond ição de ‘subm issão da m u lher’. D iz : 
“C om o v ivem os em um a soc iedade fixada sobre bases m ach is tas, a m u lher, 
ge ra lm en te , aparece em um pape l secundário , de subm issão ao m ascu lino ” 
(D epo im ento : 2008). 
 A P ro fessora M aria dos An jos m ostra que a M u lher aparece no con teúdo 
estru turan te ‘R e lação de Poder’ no Ensino M éd io . A firm a : “quando se sugere 
que se jam traba lhadas as re lações de dom inação e res is tênc ia das m u lheres 
na An tigu idade (g rega e rom ana) e no Período M ed ieva l” (D epo im ento : 2008). 
E acrescen ta que devem ser traba lhados os m ovim entos soc ia is das m inorias 
nos d ias a tua is , onde estão inse ridas as m u lheres. 
O P ro fessor G ilson fez um a le itura m a is acurada dos D C Es do Paraná . 
C om eçou destacando que as teo rias que m arcam os D C Es são a N ova 
Esquerda Ing lesa e a N ova H is tó ria C u ltu ra l, o que perm ite a 
in te rd isc ip lina ridade com outras á reas, o que poss ib ilita con ta tos com um a 
d ive rs idade de cu ltu ras, tem pos e espaços. Lem bra que a ‘H is tó ria v is ta de 
ba ixo ’ m ostra hom ens e m u lheres na re lação d ia lé tica com a p rodução 
m ate ria l. E com p le ta : 
17 
 
 
P ortanto, as d ire trizes d iscutem as d im ensões po lítico , econôm ica, 
soc ia l e cu ltura l dos su je itos ao lon go da h is tória no tem po e n o 
espaço. N este caso, o educador e o educando podem d iscutir as 
representações de h om ens e m u lheres ao lon go do processo 
h is tórico. Q uiçá, m uitos educadores não consig am por a in d a 
representarem a h is tória trad ic ional e pos itiv is ta , dem onstrando a fa lta 
de form ação prop ic ia da pe la S ecretaria de E ducação do E stado o u 
pe la fa lta de in teresse de ser autod idata e conhecer novas teorias e 
m etodolog ias (D epoim ento: 2008). 
 
 
 O p ro fessor G ilson im pu ta a responsab ilidade tan to à SEED com o ao 
educador, dado que a sua form ação não traba lhou a perspectiva da M u lher na 
H is tó ria . 
 
 
 Livros didáticos e a participação da Mulher no processo histórico 
 
N este item fo i questionado sobre a pa rtic ipação da M u lher no p rocesso 
h is tó rico ou se e la está subm ida e ignorada . D e com o e la está subm ida da 
H is tó ria . 
O P ro fessor A rí cons idera que a partic ipação da m u lher não é abordada 
de fo rm a conside ráve l. E la é ignorada . E acrescen ta : “N ão há um a va lo rização 
nos liv ros, apesar de d ive rsas pesqu isas p roduzidas sobre o tem a nas 
un ive rs idades” (D epo im ento : 2008). D e m odo sem e lhan te a P ro fessora Lucí d iz 
que a M u lher “é subm ida e ignorada”. 
A P ro fessora E lís a firm a que os liv ros d idá ticos não m ostram a 
partic ipação da M u lher no p rocesso h is tórico . Som ente em a lguns casos 
pon tua is . C om o por exem p lo , a P rincesa Isabe l que ass inou a Le i Áurea ; An ita 
G ariba ld i que partic ipou da R evo lução Farroup ilha ; M aria Bon ita jun tam ente 
com o cangace iro Lam p ião; porém todas e las apresen tadas de form a 
superfic ia l, aparecendo sem pre à som bra de um personagem h is tórico 
m ascu lino da época . E lís fa la : “Penso que a m u lher a inda está ganhando 
espaço no m undo m ach is ta em que v ivem os. C om o sabem os que tudo tem um 
fundo ideo lóg ico , o ens ino prec isa se desprender de ta is ideo log ias e tom ar um 
novo rum o em re lação à educação nas esco las ” (D epo im ento : 2008). 
O P ro fessor Leandro re ite ra que os liv ros d idá ticos p rocuram apresen ta r 
a m u lher com o um a questão de gênero a pa rtir de d ife ren tes tem as, 
18 
 
destacando o pape l de subm issão da m u lher. N ão de ixando m u ito c laro com o 
is to se dá . C oncordando com a fa la do p ro fessor quea p recede , a P ro fessora 
M aria dos An jos d iz que a m a ioria dos livros ap resen ta a subm issão da M u lher 
no p rocesso h is tó rico . E conclu i: “E vez ou ou tra quando são m ostradas 
s ituações de m u lheres partic ipando de m ane ira m a is a tuan te e a rro jada , isso é 
co locado com o ‘estudo de caso ’ ou ‘caso exó tico ” (D epo im ento : 2008). 
O P ro fessor G ilson não destoa das fa las an te rio res. D estaca a 
abordagem trad ic iona lis ta , as poucas represen tações da M u lher, m u itas vezes 
são m ín im as e estão ligadas aos papé is dom ésticos, de pouco s ign ificado para 
a H is tó ria da hum an idade , aparecem com o coad juvan tes. “Portanto , aparece 
de fo rm a subm issa e num a fa tia m u ito g rande da h is tória é ignorada” 
(D epo im ento : 2008). 
 
 
 Apresentação e imagem da mulher nos livros de História 
 
 D e a lgum m odo a m u lher aparece com o ser hum ano subm isso ao 
m acho , m u itas vezes este com d ire ito de v ida e m orte sobre aque la, com o um 
apênd ice do hom em ou um com p lem ento para sua h is tória . 
 O P ro fessor A rí d iz : “A inda aparece um a im agem da M u lher subm issa , 
apesar de a lguns avanços, há livros que nem sequer traba lham a questão 
fem in ina ” (D epo im ento : 2008). E com o que exp lic itando a fa la an te rior, a 
P ro fessora Lucí acrescen ta : “R epresentada com o in fe rior ao hom em , em 
cono tação secundária ” (D epo im ento : 2008). M as é a P ro fessora E lís que 
esc la rece de form a p rá tica a im agem que se tem da M u lher no p rocesso de 
ens ino da H is tória : 
 
Q uando a m ulher aparece (s i é que aparece) e la é v is ta com o a m ãe 
que educa os filhos, a don a da casa, qu e lava, passa, é v is ta com o 
um a pessoa pass iva, com o serva do m arido. P orque quem cu ida d a 
casa, dos filhos lava, passa, coz inha, in fe lizm ente para m uitas 
pessoas, isso é co isa de m ulher, po is sabem os que até nos liv ros 
d idáticos, quem os e lab ora deve ser m uito trad ic ionalis ta e 
conservador, ou não qu erem que os a lunos apre n dem a lgo novo 
(D epoim ento: 2008). 
 
19 
 
A P ro fessora M aria dos An jos ap resen ta ou tras im agens m a is v ivas da 
M u lher, ou pe lo m enos fo i m a is m etód ica em sua fo rm a de e labora r sua 
resposta . D iz : 
R efle tindo um pouco sobre o q ue se i da H is tória do B ras il, lem bre i-m e 
de a lgum as im agens que são apresentadas: 
- a sensualidade das indígenas e das m ulatas, com o Chica da S ilva; 
- a substituta do re i, a filha P rincesa Isabel, ass inando a Le i Á urea; 
- a am ante M arquesa de S antos e a esposa D o na Leopold ina n o 
processo da Independência do B ras il; 
- as esposas dos m ilitares bordando a bandeira bras ile ira após a 
P roc lam ação da R epública; 
- a va lentia de M aria B onita v ivendo no sertão com Lam pião. 
E ntão conclu í que as m ulheres sem pre são m ostradas em papé is 
secundários, nunca com o protagonis tas (D epoim ento: 2008). 
 
 
 O P ro fessor G ilson d iz que “N as represen tações dos livros d idá ticos de 
H is tó ria , o p reconce ito e a d iscrim inação con tra a m u lher são ev iden tes” 
(D epo im ento : 2008). N ão tem m a io r s ignificação para a construção do 
p rocesso h is tó rico . 
 Se o p ro tagon ism o da H is tória é um a obra da m ascu lin idade , quem 
escreve a H is tó ria, quem apresen ta os reg is tros da m em ória h is to riog rá fica são 
tam bém os hom ens. A inda que a pa rtir da m etade do sécu lo XX m u itas 
m u lheres tenham se destacado na h is to riog ra fia , m as com o lem brou o 
P ro fessor A rí que m u itas pesqu isas fe itas não são d ivu lgadas ou, d iríam os nós, 
não são apropriadas por quem e labora as fe rram entas d idá ticas para os 
educandos. 
 O P ro fessor A rí m ostra a H is tória com o um a construção do m ascu lino e 
rea firm a o descom passo en tre a pesqu isa acadêm ica e o ens ino . E com p le ta : 
“O p rob lem a é que o ens ino de h is tó ria (...) m u itas vezes se p rende a um 
ensino trad ic iona lis ta e não acom panha as transfo rm ações soc ia is , por 
exem p lo , dos d iversos traba lhos no cam po da pesqu isa e que não são 
“ap rove itados” (D epo im ento : 2008). E a P ro fessora Lucí apenas rea firm a a 
pos ição de predom ín io da m ascu lin idade na his to riog rafia . C om o que concorda 
a p ro fessora E lís . E acrescen ta de form a ilustra tiva o que an tes fo i d ito: 
 
Q uando ocorre um evento h istórico, sem pre estará a figura m asculin a 
no centro das atenções. Levando a h is tória por um v iés pos itiv is ta . 
U m exem plo é a questões dos heró is , a m aioria de les são sem pre 
hom ens fortes, capazes de grandes conquis tas. N o caso das 
descobertas, sem pre a figura m asculina está estam pa da, e a m ulhe r 
por m ais im portante que se ja , ou fo i, não tem tanta repercussão, 
20 
 
salvo se for a lgum escândalo (D epoim ento: 2008). 
 
 
 D e acordo com os dem a is, o P ro fessor Leandro acrescenta : “O s 
m ovim entos fem in is tas e conqu is tas de d ire itos fem in inos (com o o vo to ...) são 
recen tes (séc. XX ). A construção de nossa soc iedade é fundam entada sobre 
um a v isão m ascu lina (m ach is ta e pa triarca l)” (D epo im ento : 2008). Sem 
d isco rdar dos dem a is, a P ro fessora M aria dos An jos acrescen ta : 
D a B íb lia a té nossos d ias. A m aioria das obras c láss icas que lem o s 
fo i escrita por hom ens (m asculinos). A o a nalisarm os a ocupação do s 
cargos po líticos (m unic ipa is , estaduais , nac ionais e m undia is) fica 
v is íve l a predom inância m asculin a. N o m ercado de trabalho a s 
esta tísticas com provam que as m ulheres estudam m ais e m esm o 
ass im recebem m enos e ocupam cargos in feriores. N a Igre ja C ató lica 
a m ulher é im pedida de exercer vários m in is térios (D epoim ento: 
2008). 
 E o P ro fessor G ilson ava lia que a tec itu ra da H is tó ria é m ascu lina . E 
expõe um percen tua l de 90% de dom ín io m ascu lino . 
 
 
 Ações da mulher no contexto da educação escolar 
 
 Aqu i há um a aparen te con trovérs ia . Po is enquan to um dos 
en trev is tados acha que a m u lher está ausen te da educação dos filhos e da 
esco la , po r con ta das dem andas pro fiss iona is pe la sobrev ivência , ou tras 
assum em sozinhas as responsab ilidades pe los filhos. 
 O P ro fessor A rí cons ide ra que p reva lece a ind ife rença . Q ue a esco la 
não apresen ta pro je tos que m otivem as fam ílias à pa rtic ipação e as fam ílias se 
m ostram desinte ressadas. A firm a que “A M ulher, h is to ricam ente tem buscado 
(com justiça) sua independência e na m ed ida em que is to fo i oco rrendo, a 
responsab ilidade de educar fo i transferida quase que exc lus ivam ente para a 
esco la , po is a M u lher ded ica m a ior tem po ao traba lho ” (D epo im ento: 2008). 
 A P ro fessora Lucí acred ita que o g rau de partic ipação da M u lher na 
educação de seus filhos é de p rim e ira g randeza em re lação aos dem a is 
m em bros da fam ília . E com p le ta : “Po is a M u lher ocupa a inda (sécu lo XX I) a 
pos ição de m ãe e de dona de casa na m a io ria das vezes” (D epo im ento: 2008). 
 A P ro fessora E lís ava lia que a fam ília não consegue dar con ta da 
p rim e ira fase educação de seus filhos. C on fia à esco la , m as esta não consegue 
21 
 
suprir as ca rências fam iliares. C om o a escola é um re flexo da soc iedade, o 
p rocesso fica sem o resu ltado dese jado ou esperado pe los do is lados. 
Paradoxa lm ente o P ro fessor Leandro a firm a que “G era lm en te , a m u lher tem 
um pape l m u ito m a is p róx im o na educação dos filhos do que o hom em ” 
(D epo im ento : 2008). E le a tribu i, a m en ta lidade m ach is ta à in fluência fem in ina , 
po r con ta do m a io r tem po que as m ães ded icam à educação dos filhos. 
 A P ro fessora M aria dos An jos en tende que as m ães partic ipam m u ito 
m a is do que os hom ens no p rocesso educaciona l dos filhos. “Em bora na 
m a io ria das vezes se ja m a is para cum prir aque la que é co locada com o sua 
função princ ipa l: cu ida r dos filhos, do que por com prom etim en to no seu 
aprend izado” (D epo im ento : 2008). N a seqüência e la rea firm a a cond ição da 
m u lher no aspecto sóc io -p ro fiss iona l: 
 
A abertura para a m ulher no m ercado de trabalho, m ais do que 
igua lda de de gêneros, é dupla jornada de trabalh o. A gora, a lém de 
todas as obrig ações qu e e la já tinha com o m ãe, espo sa e “ra in ha d o 
lar”, tam bém deve a ju dar a prover o lar. D essa form a foram d iv id ida s 
as responsabilidad es econôm icas, m as raram ente as 
responsabilid ades dom ésticas. 
 
 
 O P ro fessor G ilson acha paradoxa l, ao se conside rar a rea lidade que 
a inda pesa sobre a m u lher. D iz : “A té pa rece con trad itó rio, m as as m u lheres 
estão m u ito m a is a ten tas na v ivência esco la r dos filhos (as) do que os pa is . 
C om certeza 80% de partic ipação” (D epo im ento : 2008). 
 O s (as) d iferen tes Educadores (as) que partic ipa ram desta pesqu isa 
apresen tam posições às vezes con trad itórias. M as suas fa las têm lugares 
d ive rsos. Se ja o tem po de fo rm ação , se ja a fo rm ação con tinuada , se ja a 
experiênc ia , se ja o esp írito de pesqu isa e abertu ra à busca de dem andas por 
conhecim ento h is tórico , com o o tem a das cham adas ‘m inorias ’, que no caso da 
M u lher não tem nada de m inoria . Po is a fina l, a M u lher constitu i pe lo m enos a 
m etade da popu lação . Acresça-se a is to o fato de que nem todos os 
Educadores e as Educadoras têm a m esm a cam inhada e /ou partic iparam do 
m esm o con texto de a tuação pro fiss iona l. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
22 
 
 O tem a da M u lher na h is to riogra fia e nas esco las paranaenses, do 
Ensino F undam enta l e M éd io , fo i traba lhado den tro de de te rm inados lim ites. 
C onstitu i apenas o in íc io de um a trilha que p rec isa ser m e lhorada durante a 
cam inhada. Buscam os re fe rênc ias da construção h isto riográ fica 
con tem porânea , destacando a lguns e lem entos possíve is ao p rim e iro m om ento 
da pesqu isa , desde com o rea lizar a pesqu isa em h is tó ria o ra l, com o tam bém 
u tilizam os e lem entos da H is tó ria das M u lheres, tendo con ta to e conhecim ento 
de fa rto m ateria l p roduzido , porém pouco conhecido no m e io esco lar, dado que 
o resu ltado de ta is p roduções h is toriog rá ficas não faz pa rte dos cu rrícu los 
educaciona is e da p rodução d idá tica , e que os parâm etros pa ra a e laboração 
de liv ros d idáticos a inda segue um a p rá tica trad ic iona l. 
 Por ou tro lado o quadro de Educadores da rede estadua l de educação , 
não m ostra um a un idade de conhecim ento e p rá tica pedagóg ica . M as todos 
são de acordo em d iversos pontos de d iscussão : 
- a m u lher e sua questão não aparecem ou se aparecem estão em ú ltim o 
p lano , são pouco traba lhadas, dependendo da fo rm ação do pro fessor, do lugar 
onde está a esco la e do m ate ria l que tiver d ispon íve l; 
- nos liv ros a m u lher aparece pon tua lm ente , sua abordagem é irre levan te ; é um 
tem a que não cabe den tro em suas pág inas e aparece de fo rm a cam uflada e 
is to se dá por con ta da cu ltu ra m ach is ta e de subm issão da m u lher ao hom em ; 
- quan to à partic ipação da m u lher na H is tó ria , não é m ostrada , apesar de 
inúm eras pesqu isas que ex is tem no m e io acadêm ico ; 
- a h is to riogra fia m ostra a pa rtic ipação da m u lher a inda de fo rm a m u ito pon tua l, 
com um a im agem de subm issão à von tade m ascu lina , m as está conqu is tando 
o que é de d ire ito seu na lu ta , na le i e na ação ; 
- a tec itu ra da H is tó ria , enquan to even tos, m em órias e reg is tros, a inda são 
m u ito m ascu linos, pe lo m enos no espaço pedagóg ico ; predom ina um a v isão 
trad ic iona l e pos itiv is ta ; a cu ltu ra , as o rganizações, as funções po líticas de 
governo e os postos de traba lho a inda são dom inados pe lo e lem ento 
m ascu lino ; 
- a m u lher a inda abarca a responsab ilidade com os cu idados da casa , da 
educação dos filhos e , m esm o tendo sa ído de casa para a judar no susten to da 
fam ília , tem que responder pe lo co tid iano de seus filhos na esco la . E neste 
caso a esco la que não dá con ta nem da educação enquan to conhecim ento 
c ien tífico , a inda recebe o encargo da educação dos filhos. 
23 
 
 Este traba lho é instigan te . E para o p róx im o ano o fe rece um a 
perspectiva de traba lho tan to com Educadores (as) quan to com Educandos 
(as) a partir de rica b ib liog rafia produzida por pesqu isadores, m as a inda pouca 
conhecida no co tid iano da educação . A abordagem rea lizada , den tro dos 
lim ites desta p roposta de traba lho , a inda carece de ou tras le itu ras da H is tória , 
ta is com o ‘a educação fem in ina ’, a m u lher e a sexua lidade ’, ap ro fundam ento 
das ‘rep resen tações do fem in ino ’, e ‘a m u lher da c lasse popu lar e a 
res is tênc ia ’. O p rim e iro passo fo i dado ... A cam inhada con tinua ! 
 
 
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trizes/d ire trizes/d ire trizesh is to ria72008 .pd f> . C onsu ltado em 27 .07 .2008 .

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